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Sumário. Texto Integral. Supremo Tribunal de Justiça Processo nº 02A3653

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Supremo Tribunal de Justiça Processo nº 02A3653

Relator: REIS FIGUEIRA Sessão: 12 Dezembro 2002 Número: SJ200212120036531 Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: REVISTA.

Sumário

Texto Integral

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça

A, intentou contra:

a) B b) e, C

Acção com processo sumário para efectivação da responsabilidade civil por acidentes de viação, pedindo a condenação solidária das Rés a pagarem-lhe:

a) a quantia de 11.577.370 escudos, como indemnização pelos danos patrimoniais

b) a quantia de 3.000.000 escudos, como indemnização pelos danos morais e estéticos

c) a quantia a liquidar em execução de sentença como indemnização pelos danos descritos nos nºs 31, 32, 34 e 84 da petição

d) e juros à taxa de 10% desde a citação.

Na primeira instância decidiu-se:

a) absolver-se a Ré C do pedido

b) condenar a Ré B a pagar à Autora a quantia de 16.528.250 escudos,

acrescida de juros de mora, vencidos e vincendos, à taxa legal nos moldes que indica

c) e bem assim a quantia que se liquidar em execução de sentença, destinada ao pagamento da enfermeira contratada por esta pelo período de cinco

semanas.

Mediante recurso de apelação da Ré B, a Relação do Porto alterou em parte a

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sentença em recorrida, no tocante à indemnização pelos danos patrimoniais, que fixou em 7.000.000 escudos (34.915,85 Euros), mantendo a sentença no mais

Do acórdão da relação apresentaram-se a recorrer de revista, tanto a Ré B, como a Autora. No entanto, o recurso da Ré B foi julgado deserto por falta de alegações, motivo por que cabe conhecer apenas do recurso da Autora.

A Autora terminou as suas alegações com as seguintes conclusões:

1) A indemnização pela IPP é manifestamente insuficiente para ressarcir a Autora pela perda da capacidade de ganho de que ficou a padecer.

2) O Tribunal recorrido não levou em conta a progressão na carreira, a taxa de inflação e o aumento de produtividade.

3) A Relação socorreu-se de uma taxa de juro de 5%, que, face à realidade económica nacional, actual e previsível para o futuro, é exagerada, devendo cifrar-se em 2 ou 3%.

4) Esqueceu o Tribunal recorrido que a recorrente ficou impossibilitada de fazer passagem de modelos, actividade que lhe rendia cerca de 600 contos/

ano, e que, se é certo que a mesma não iria ser exercida até ao final da sua vida activa, sempre seria previsível que se exercesse até aos seus 30 anos, ou seja, por mais 8 anos.

5) Levando em conta a mais recente jurisprudência, e a fórmula matemática constante do acórdão do STJ de 05/05/94 (CJ/STJ, ano II, tomo II, 87), e

ajustada nos termos referidos no acórdão da RC de 04/05/95 (CJ, ano XX, tomo II, 23), e aplicando uma taxa de juro nominal líquida de 2%, mais adequada à realidade actual, encontramos um valor de indemnização em muito superior ao fixado pela Relação, e mesmo do que o determinado em primeira instância.

6) Aliás, ainda que se subtraia ¼ a esse valor indemnizatório, em virtude do seu recebimento de uma só vez (operação esta, diz, com que não concorda), sempre teríamos um valor superior ao fixado em primeira instância a título de IPP.

7) O valor atribuído em primeira instância é correcto, pelo que deve ser reposto.

8) Foram violados os art. 562, 564 e 566, do CC.

A Ré contra-alegou em apoio do decidido.

A única questão posta é a da indemnização pela perda de capacidade de ganho (IPP)

Vejamos os factos provados nas instâncias.

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No dia 10-07-1994, cerca das 00H30, ocorreu um acidente de viação na EN 109, ao KM 8,1 em que foram intervenientes os veículos de matriculas VC..., propriedade de D e na altura conduzido por E, OM...., propriedade da F e na altura conduzido por G, RG.... propriedade de H e conduzido pelo próprio e ....

BU conduzido por I - alínea A) da especificação.

2 - A Autora era transportada gratuitamente neste último veículo - alínea B) da especificação.

3 - Os primeiros dois veículos circulavam na EN 109 no sentido Espinho Porto, ao passo que os dois últimos circulavam em sentido inverso - alínea C) da especificação.

4 - Destes, o veículo BU circulava à frente e o RG atrás - alínea D) da especificação.

5 - A via, para quem circula no sentido Espinho Porto tem duas faixas de rodagem, que, a cerca de 70 metros antes do local do embate, se incorporam numa única fila de trânsito - alínea E) da especificação.

6 - Mais se encontra assinalada na fila de trânsito da direita sinalização horizontal, com triângulo indicador de perda de prioridade para quem

circulasse nessa fila e tivesse que passar a circular na fila da esquerda - alínea F) da especificação.

7 - O OM circulava pela via da direita e o VC seguia pela via da esquerda - alínea G) da especificação

8 - O veículo VC... tinha a responsabilidade decorrente da sua circulação transferida para a Ré B através de contrato de seguro titulado pela apólice com o nº 90020366 ao passo que o veículo OM.... a tinha transferido para a Ré C através de contrato de seguro titulado pela apólice com o nº 43-111640 - alínea H) da especificação.

9 - O BU era propriedade do I - resposta dada ao quesito 1º.

10 - Quer o BU quer o RG circulavam a velocidade inferior a 60 KM/H - resposta dada ao quesito 3º

11 - Pela hemifaixa da direita, atento o seu sentido de marcha - resposta dada ao quesito 4º

12 - O VC por sua vez circulava a uma velocidade superior a 100 KM/H - resposta dada ao quesito 5º.

13 - O VC atravessou a faixa central zebrada e veio embater no BU - resposta dada ao quesito 8º.

14 - Após o embate no BU, que fez rodopiar deixando-o virado no sentido Norte Sul, foi embater no veículo RG - resposta dada ao quesito 9º

15 - A Autora foi socorrida no Hospital de Vila Nova de Gaia, onde entrou politraumatizada, com mazelas e escoriações por todo o corpo - resposta dada

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ao quesito 17º

16 - Foi de seguida transferida para o Hospital S.João no Porto - resposta dada ao quesito 18º.

17 - Aí foi-lhe diagnosticada fractura da bacia na mandíbula esquerda - resposta dada ao quesito 19º.

18 - Em 18-7-1994 foi transferida para o Hospital da Prelada - resposta dada ao quesito 20º.

19 - Quando deu entrada no Hospital da Prelada foi-lhe diagnosticado a nível dos 05505 da face fractura tripla da mandíbula, fractura sagital do palato com hemi Le Forte 1 à esquerda, fractura Le Fort III, com fractura do malar

esquerdo,, e fractura alveolar dos maxilares superiores com perda de dentes - resposta dada ao quesito 21º.

20 - Foi-lhe ainda diagnosticada fractura dos ossos da bacia e sequelas agudas de hemotórax à esquerda - resposta dada ao quesito 22º.

21 - Em 18-7-1994 foi operada, tendo-lhe sido aplicado: colocação de arco de Erich aos maxilares superiores e fixação com fio de aço, abordagem endobucal vestibular, dos traços de fractura da mandíbula, curetagem dos traços de

fractura da mandíbula, sua redução e imobilização com placas e parafusos, abordagem externa das apófises frontais com colocação de fios de aço para suspensão interna crânio facial, levantamento do osso malar, colocação do arco de Erich à mandíbula com fios de aço e bloqueio intermaxilar com tracção elástica e suspensão crânio facial - resposta dada ao quesito 23º.

22 - A fractura da bacia foi tratada conservadoramente - resposta dada ao quesito 24º.

23 - Teve alta para tratamento ambulatório em 25-7-1994 mas teve de se manter em repouso no leito por um período de 5 semanas - resposta dada ao quesito 25º.

24 - Foi-lhe recomendado pelo médico assistente a assistência de enfermagem ao domicilio - resposta dada ao quesito 26º.

25 - Em virtude da Autora não poder comer ou mastigar, mexer as mandíbulas, deitar-se ou movimentar-se - resposta dada ao quesito 27º.

26 - A Autora contratou os serviços de uma enfermeira pelo período de 5 semanas - resposta dada ao quesito 28º.

27 - Em 22-8-1994 a Autora procedeu à remoção dos elásticos que lhe bloqueavam a boca resposta dada ao quesito 2º.

28 - Em 14-9-1994 é novamente internada e aplicada a anestesia para

proceder à remoção do material aplicado e descrito no ponto 21 da matéria de facto - resposta dada ao quesito 30º.

29 - Em 22-4-1994 foi-lhe removido o material de sutura - resposta dada ao quesito 31º.

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30 - A Autora apresente assimetria da mandíbula esquerda, motivada pela presença das placas de osteossíntese e parafusos - resposta dada ao quesito 32º.

31 - O que a desfeia e lhe causa embaraços quando se ri - resposta dada ao quesito 33º.

32 - A Autora tem de repor e corrigir os dentes danificados no acidente - reposta dada ao quesito 34º.

33 - O que importa em 795.000$00 resposta dada ao quesito 35º,

34 - A Autora esteve de baixa até 18-4-1995 - resposta dada ao quesito 36º, 35 - A mesma na altura do acidente era estudante trabalhadora - resposta dada ao quesito 37º.

36 - Trabalhava como vendedora nas Galerias ... - resposta dada ao quesito 38º;

37 - E frequentava a Escola Superior de Educação ...., onde frequentava o ultimo ano de Educadoras de Infância - resposta dada ao quesito 39º, 38 - A Autora ganhava 73.200$00 por mês - resposta dada ao quesito 40º.

39 - A Autora fazia passagens de modelos em demonstração de roupas para alguns estabelecimentos do ramo - resposta dada ao quesito 42º.

40 - Fruto da lesão da cara, que lhe provoca assimetria, e da lesão na anca, que não lhe permite muitos movimentos, A Autora deixou de poder exercer tal profissão - resposta dada ao quesito 43º.

41 - A Autora não necessitava de comprar roupa dado que esta lhe era

oferecida pelas marcas e lojas para quem fazia passagens - resposta dada ao quesito 44º.

42 - Entre valores recebidos e roupa oferecida a Autora tinha um rendimento anual proveniente de tal actividade de cerca de 600.000$00 - resposta dada ao quesito 45º.

43 - Mercê das lesões sofridas a Autora ficou afectada com uma IPP de 20% - resposta dada ao quesito 46º.

44 - A Autora ficou, por causa do acidente, com uma camisola e um par de botins danificados - resposta dada ao quesito 47º.

45 - Os mesmos tinham um valor de 15.000$00 - resposta dada ao quesito 47º.

45 - Os mesmos tinham um valor de 15.000$00 - resposta dada ao quesito 45º.

46 - Também ficou com um relógio danificado - resposta dada ao quesito 49º 47 - O mesmo tinha sido comprado há um ano atrás por 45.300$00 - resposta dada ao quesito 50º.

48 - A Autora despendeu em despesas médicas e medicamentosas a quantia de 7.930$00 - resposta dada ao quesito 52º.

49 - A Autora despendeu em transportes para o Hospital da Prelada e para o S.João, para consultas e tratamentos a quantia de 30.000$00 -resposta dada

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ao quesito 53º.

50 - A Autora sofreu dores enormes quer no momento do acidente, quer nas operações, quer no tratamento - resposta dada ao quesito 56º.

51 - A mesma esteve cerca de uma hora retida no interior do veículo até ser retirada pelos bombeiros - resposta dada ai quesito 57º.

52 - Durante estes momentos a Autora sofreu, pensando que ia morrer - resposta dada ao quesito 58º.

53 - A Autora deixou de poder praticar desporto, o que fazia - resposta dada ao quesito 59º.

54 - O facto de não poder exercer a profissão de manequim entristece a Autora - resposta dada ao quesito 60º.

55 - A Autora sentiu vergonha pelo facto de ter quase perdido um ano lectivo por falta de pagamento de mensalidades - resposta dada ao quesito 61º.

56 - Teve de se deslocar de muletas e de aparelho na boca à escola - resposta dada ao quesito 62º.

57 - A Autora nasceu em 20-9-1973 - alínea 1) da especificação.

Questão posta

A única questão posta é a de saber se a indemnização pela perda da

capacidade de ganho foi bem determinada. Na primeira instância fixou-se tal indemnização em 9.000 contos, quantia que a Relação baixou para 7.000 contos.

A questão é apenas esta.

Os factos relevantes são:

a) o acidente ocorreu em 10/07/94;

b) a Autora nasceu em 20/09/73, pelo que na data do acidente tinha 20 anos e dez meses, portanto praticamente 21 anos.

c) Ficou afectada de uma IPP de 20%

d) Era trabalhadora estudante, trabalhando como vendedora, actividade em que ganhava 73.2000 escudos por mês, e era aluna do último ano de um curso de educadores de infância (curso que, a avaliar pela fundamentação das

respostas aos quesitos: fls. 281, já terminou, estando a exercer essa profissão).

e) Fazia também passagens de modelos, actividade em que auferia 600 contos por ano, actividade que não pode mais exercer em consequência das sequelas físicas com que ficou (assimetria do rosto, lesão na anca).

A indemnização por danos patrimoniais visa primordialmente a reconstituição natural; não sendo esta possível (como é aqui o caso), é fixada em dinheiro, tendo como medida a diferença entre a situação patrimonial do lesado, na data mais recente que puder ser atendida pelo Tribunal, e a que teria nessa

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data se não existissem danos. Se não puder ser averiguado o valor exacto dos danos, o Tribunal julgará equitativamente, dentro dos limites que tiver por provados: art. 566 do CC.

Na fixação da indemnização, pode o Tribunal atender aos danos futuros, desde que sejam previsíveis: art. 564, nº2 do CC.

Tem sido sempre acentuado que os danos decorrentes de uma IPP, sendo sem dúvida indemnizáveis, no entanto a fixação do montante indemnizatório é sempre aleatória, porque em parte depende de factores cuja evolução no futuro se desconhece.

O método de determinação mais corrente na nossa jurisprudência é o que atende às chamadas tabelas financeiras: atribuir como indemnização um capital produtor de um rendimento mensal equivalente ao que mensalmente se deixa de ganhar, de modo que o capital se tenha esgotado no fim do

período.

Este é, no entanto, um critério de partida, uma necessidade de objectividade, porquanto a indemnização é uma exigência de justiça: se não puder ser

averiguado o valor exacto dos danos, o tribunal julgará equitativamente, dentro dos limites que tiver por provados: art. 566, nº3 do CC.

Portanto, não sendo possível determinar o valor exacto dos danos (como sem dúvida não é, porque há variáveis que não conhecemos), a indemnização há-de sempre determinar-se por meio da equidade.

Ora, temos a distinguir duas fontes de rendimento da Autora:

a) os rendimentos do trabalho como vendedora: 73.200 escudos por mês, o que corresponde a 1.024.800 escudos por ano (14 meses)

b) os rendimentos do trabalho como passadora de modelos: 600 contos por ano.

Aqui começa logo a primeira variável que não dominamos: a Autora era

finalista do curso de educadores de infância, estando já a exercer tal profissão.

Por outro lado, ela não iria passar modelos durante toda a vida, mas nunca para além dos 25-30 anos.

Escapando-nos os dados precisos destas duas variáveis, no entanto temos por correcto pensar que a Autora deixaria de passar modelos grosso modo quando iniciasse a profissão de educadora de infância.

Daí que, dentro sempre do mesmo espírito de busca de uma solução

equitativa, em que o método matemático é apenas um elemento de trabalho, consideremos o rendimentos do trabalho da Autora (vendedora e modelo; e depois só educadora de infância) de 1.624.800 escudos por ano.

Como a IPP é de 20%, a Autora perde (deixa de ganhar, ou ganha, mas com maior esforço) 324.960 escudos por ano.

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Como lhe restavam 44 anos de vida activa, o índice fornecido pelas tais tabelas é de 10,860475.

O que nos dá um valor de capital de 3.529.219,9 escudos.

Note-se que este é um resultado matemático e nós procuramos um resultado equitativo.

Como as tabelas utilizadas têm em conta uma taxa de juro anual de 9%, hoje totalmente irrealista, sendo mais sensato considerar uma taxa de metade ou pouco menos de metade daquela (por exemplo, acórdão deste STJ de 16/03/99, na CJ/STJ, ano VII, tomo I, 167), alcançaremos um resultado semelhante

àquele a que se chegou na Relação.

O que quer dizer que, por critérios de equidade, não chegamos a resultado diferente daquele a que chegou a Relação.

Não foram violados, mas sim devidamente aplicados, os art. 562, 564 e 566 do CC.

Decisão.

Pelo exposto, acordam em negar a revista, condenando a recorrente nas custas.

Lisboa, 12 de Dezembro de 2002 Reis Figueira

Barros Caldeira Faria Antunes

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