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A declaração de venda de um veículo automóvel não serve de título executivo para entrega dos documentos da viatura.

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 0524082

Relator: EMÍDIO COSTA Sessão: 27 Setembro 2005 Número: RP200509270524082 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: AGRAVO.

Decisão: NEGADO PROVIMENTO.

TÍTULO EXECUTIVO DOCUMENTO PARTICULAR

Sumário

A declaração de venda de um veículo automóvel não serve de título executivo para entrega dos documentos da viatura.

Texto Integral

Acordam no Tribunal da Relação do Porto:

RELATÓRIO

B... intentou, no Tribunal Judicial de Vila Nova de Gaia, a presente execução para entrega de coisa certa contra:

- C..., pedindo que se proceda à citação da executada para proceder à entrega dos documentos referentes à viatura de matrícula UB-..-.. .

Alegou, para tanto, em resumo, que comprou à executada a viatura com a referida matrícula, conforme consta da declaração de venda que junta, que constitui o título dado à execução, mas que aquela não procedeu à entrega dos documentos necessários à circulação da viatura.

Conclusos os autos, veio neles a ser vertido despacho que considerou ser inexequível o título dado à execução, pelo que indeferiu liminarmente o requerimento inicial.

Inconformado com o assim decidido, interpôs o exequente recurso para este Tribunal, o qual foi admitido como de agravo e efeito suspensivo.

Alegou, oportunamente, o agravante, o qual finalizou a sua alegação com as seguintes conclusões:

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1.ª - “O alegante e o executado celebraram um contrato de compra e venda;

2.ª - O objecto de tal contrato foi um veículo que foi entregue ao alegante;

3.ª - Os seus documentos são parte integrante da coisa e são abrangidos pelos efeitos do contrato;

4.ª - A obrigação da sua entrega decorre da lei;

5.ª - O título é um documento particular assinado pelo obrigado e encontra-se previsto na alínea c) do artigo 46 do C.P.C., tanto mais que se trata de uma obrigação que importa na entrega de coisas móveis e, simultaneamente, de prestação de facto”.

Contra-alegou a agravada, pugnando pela manutenção do julgado.

O M.º Juiz do Tribunal “a quo” sustentou o despacho recorrido, mantendo-o integralmente.

As conclusões dos recorrentes delimitam o âmbito do recurso, conforme se extrai do disposto nos artºs 684º, n.º 3, e 690º, n.º 1, do C. de Proc. Civil.

De acordo com as apresentadas conclusões, a questão a decidir por este Tribunal é apenas a de saber se constitui título executivo uma mera

declaração de venda de um veículo automóvel subscrita apenas pelo pretenso vendedor.

Foram colhidos os vistos legais.

Cumpre decidir.

OS FACTOS E O DIREITO

Os factos a ter em consideração para a decisão do agravo são essencialmente os que emergem do relatório supra, para os quais se remete.

Para além deles, pode colher-se nos autos que o título dado à execução é uma

“declaração” em papel com o timbre de C..., com data de 13 de Novembro de 1998, e no qual se diz (fls. 13):

“Declaramos para os devidos efeitos e em especial para fazer fé perante as Autoridades de trânsito, que vendemos nesta data, ao Sr. B..., residente na ..., ....-....ºDto, 4430 Oliveira do Douro, a viatura com as seguintes características:

Matrícula --- UB-..-..

Marca --- Ford

Modelo --- Transit 100 Cilindrada --- 2.496 c. c.

Combustível --- Gasóleo

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Lugares --- 3 na cabine P. Bruto --- 2.600 Kgs.

Tara --- 1.440 Kgs.

Côr --- Branco Outra Ano --- 1989”.

Segue-se uma assinatura ilegível, sob um carimbo da “D...” C... .

A questão a decidir é, como supra ficou dito, a de saber se a referida

“declaração” constitui um título executivo para entrega de coisa certa, ou seja, os documentos da viatura em causa.

O processo executivo baseia-se num título executivo, o qual constitui a base da execução, por ele se determinando “o fim e os limites da acção executiva (art.º 45.º do C. P. C.).

O título executivo é o documento «do qual consta a exequibilidade de uma pretensão» e, consequentemente, a possibilidade de realização coactiva da correspondente prestação através de uma acção executiva.

Ele cumpre uma função constitutiva, atribuindo a exequibilidade a uma pretensão e «possibilitando que a correspondente prestação seja realizada através de medidas coactivas impostas ao executado pelo tribunal».

A exequibilidade extrínseca da pretensão é conferida pela incorporação da pretensão num título executivo, ou seja, num documento que formaliza, por via legal «a faculdade da realização coactiva da prestação não cumprida»

(Miguel Teixeira de Sousa, Acção Executiva Singular, 1998, págs. 13, 14, 29, 63 e 64, e Ac. do S.T.J. de 29/2/00, B.M.J. n.º 494.º, 333).

A reforma processual operada pelo Dec. Lei n.º 329.º-A/95, de 12/12, veio, para além do mais, dizer (art.º 46.º, al. c), do C. de Proc. Civil) que à execução podem servir de base “os documentos particulares assinados pelo devedor, que importem constituição ou reconhecimento de obrigações pecuniárias, cujo montante seja determinado ou determinável nos termos do artigo 805.º, ou de obrigação de entrega de coisas móveis ou de prestação de facto”.

Segundo se pode ler no Relatório daquele Dec. Lei n.º 329-A/95, “este regime – que se adita ao processo de injunção já em vigor – irá contribuir

significativamente para a diminuição do número de acções declaratórias de condenação propostas, evitando-se a desnecessária propositura de acções tendentes a reconhecer um direito do credor sobre o qual não recai verdadeira controvérsia, visando apenas facultar ao autor o, até agora, indispensável título executivo judicial”.

De acordo com a referida al. c), para que o escrito particular possa servir de base à execução torna-se necessário que ele importe a constituição ou

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reconhecimento de obrigações pecuniárias, isto é, torna-se forçoso que dele conste a obrigação de pagamento de quantia determinada ou de obrigação de entrega de coisas móveis ou de prestação de facto.

Mas será que o documento que serve de base à presente execução pode ser considerado título executivo, à luz do citado art.º 46.º, al. c)?

O agravante argumenta que celebrou com a agravada um contrato de compra e venda que teve por objecto o veículo aludido, derivando a obrigação de entrega dos documentos referentes ao mesmo veículo desse mesmo contrato (art.º 882.º, n.º 2, do C.C.).

Porém, salvo o devido respeito, da declaração de fls. 13 (título dado à execução) não pode concluir-se pela celebração de um tal contrato entre o agravante e a agravada.

Segundo o art.º 874.º do C. Civil, compra e venda é o contrato pelo qual se transmite a propriedade de uma coisa, ou outro direito, mediante um preço.

Da própria definição dada por este preceito resultam as características

fundamentais da compra e venda, que é um contrato oneroso (cfr., a propósito, o art.º 612.º), bilateral (art.ºs 428.º e segs.), com prestações recíprocas (cfr.

art.º 424.º) e dotado de eficácia real ou translativa (v. Pires de Lima e Antunes Varela, C.C. Anotado, vol. 2.º, 3.ª ed., 167).

Como escreveu também Baptista Lopes (Compra e Venda, 12), o contrato de compra e venda é um contrato translativo, oneroso, sinalagmático perfeito, em geral comutativo e causal.

Ora, o título dado à execução nestes autos não passa de uma mera

“declaração” unilateral da executada em que esta afirma, “para os devidos efeitos e em especial para fazer fé perante as Autoridades de trânsito”, ter vendido ao ora agravante o veículo de matrícula UB-..-.. .

Tal declaração não contém qualquer manifestação de vontade do exequente/

agravante no sentido de querer comprar o veículo em causa, sendo certo que o mesmo nem sequer assinou tal documento. Não se refere nele também o preço acordado pela venda do veículo, o que constitui elemento essencial para a existência do referido contrato.

Deste modo, tal como concluiu o despacho recorrido, entendemos que do título dado à execução não emerge para a executada a obrigação de entrega ao exequente do veículo em causa nem tão pouco dos documentos a ele respeitantes, já que aquele não consubstancia um verdadeiro contrato de compra e venda.

Não satisfaz, assim, a “declaração” junta pelo ora agravante a exigência constante da al. c) do citado art.º 46.º, pelo que não pode servir, ao invés do que o agravante pretende, de base à instaurada execução.

Improcedem, assim, sem necessidade de mais longas considerações, as

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conclusões da alegação do agravante, pelo que o despacho recorrido tem de manter-se.

DECISÃO

Nos termos expostos, decide-se negar provimento ao agravo e, em consequência, confirma-se a douta decisão recorrida.

Custas pelo agravante.

Porto, 27 de Setembro de 2005 Emídio José da Costa

Henrique Luís de Brito Araújo Alziro Antunes Cardoso

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