Daniel Rocha Ferreira, Victtor Hudson A. Arantes
Instituto de F´ısica, Universidade Federal de Goi´as Curso de F´ısica - Licenciatura
Resumo
As micro-ondas, como todas ondas eletromagn´eticas, s˜ao ondas transversais e tˆem, portanto dois graus de liberdade em rela¸c˜ao `a dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao. Essa caracter´ıstica intr´ınseca das ondas faz com que seja poss´ıvel realizar numerosas experiˆencias, dentre as quais destaca-se a interferˆencia e polariza¸c˜ao das micro-ondas. O trabalho que se segue est´a dividido em trˆes partes: medir o comprimento de onda de micro-ondas refletidas por uma placa met´alica, medir o comprimento de onda de micro-ondas por meio de um interferˆometro de Michelson e por ´ultimo verificar o estado de polariza¸c˜ao da micro-onda analisado nas duas primeiras partes.
1 Introdu¸c˜ ao
Este experimento possui a capacidade de observar v´arios aspectos da ´optica geom´etrica da luz, nesse sentido investigou-se os fenˆomenos de polariza¸c˜ao e de interferˆencia. O espectro eletromagn´etico cobre uma ampla gama de frequˆencias. Sabendo que a luz vis´ıvel tem uma frequˆencia da ordem de 400 T Hz a 750 T Hz, e comprimentos de onda entre 400 e 700 nm (1nm = 10−9 m). Outras pe¸cas bem conhecidas do espectro incluem ondas de r´adio (com frequˆencias pr´oximas 3kHz a 300GHz) e micro-ondas (com frequˆencias de cerca de 0,3GHz a 300GHze comprimentos de onda de alguns cent´ımetros). As micro-ondas podem ser geradas facilmente e s˜ao particularmente adequadas para investiga¸c˜oes de laborat´orio.
As equa¸c˜oes fundamentais dos campos eletromagn´eticos produzidos pelas densidades de carga-fonte e de corrente, s˜ao as conhecidas equa¸c˜oes de Maxwell. Elas representam as gene- raliza¸c˜oes de observa¸c˜oes experimentais que s˜ao descritas pelas leis de Amp`ere, de Faraday, de Gauss e do fato de que monopolos magn´eticos nunca foram encontrados. Para o campo el´etrico temos duas equa¸c˜oes, que s˜ao suficientes para descreve-lo completamente, s˜ao elas:
∇·D=ρ (1)
∇ ×E =−∂B
∂t (2)
Manipulando as equa¸c˜oes pode-se obter a seguinte equa¸c˜ao de onda para o campo el´etrico em um meio n˜ao condutor, onde ω=kc:
∇2E−εµ∂2E
= 0 (3)
E=Eeˆ i(kr−ωt) (4) A equa¸c˜ao 3 admite superposi¸c˜ao linear de solu¸c˜oes, considerando uma onda unidimensional que ´e refletida por um anteparo met´alico, tem-se superposi¸c˜ao da onda incidente com a mesma que foi refletida, o que resulta em uma onda estacion´aria que tem sua amplitude dependente do tempo, assim como mostra as equa¸c˜oes abaixo:
E(x, t) =Acos
ω
t− x c
+Acos
ω
t+ x c
(5)
E(x, t) = 2Acos(ωt) cos
ωx
c
(6)
|E(x, t)|2= 2A2cos2(ωt)
1 + cos
2ωx
c
(7) A equa¸c˜ao 7 fornece o comportamento do sinal que pode ser detectado por qualquer dis- positivo eletrˆonico, pois esses detectam a intensidade I da radia¸c˜ao eletromagn´etica, e I ∝ | E(x, t)|2. Analisando essa equa¸c˜ao, nota-se que o comprimento de onda da onda estacion´aria de intensidade (λI) corresponde `a metade do comprimento de onda da micro-onda (λI) , ou seja, λI = λI
2
1.1 Polariza¸c˜ ao
O estado de polariza¸c˜ao da onda eletromagn´etica ´e caracterizado pelo vetor complexo E,ˆ que pode ser descrito como a combina¸c˜ao linear de dois vetores p e s, assim como mostra a equa¸c˜ao 8. Esses vetores s˜ao escolhidos de forma quep,seksejam ortogonais entre si. A onda
´e dita linearmente polarizada quando os coeficientes complexos ˆEp e ˆEs, que acompanham os vetores p es, tˆem defasagem nula, ou quando um deles ´e nulo.
Eˆ = ˆEpp+ ˆEss (8)
1.2 Interferˆ encia
Quando duas ondas separadas ocupam a mesma regi˜ao do espa¸co, elas combinam-se. De acordo com o princ´ıpio da sobreposi¸c˜ao, o deslocamento da onda resultante ´e igual `a soma dos deslocamentos individuais das ondas. Se as cristas das ondas individuais coincidem um com o outro, em seguida, a amplitude da onda resultante ´e um m´aximo, e as ondas s˜ao constru´ıdas por meio da interferˆencia construtiva. Por outro lado, se a crista de uma onda coincide com o vale de outra, em seguida, a amplitude da onda resultante ´e igual a zero em todos os seus pontos, essas ondas ent˜ao sofrem uma interferˆencia destrutiva. Assim, chega-se `a conclus˜ao de que ondas que interferem construtivamente ”somam-se suas amplitudes”e tem uma intensidade
m´axima, enquanto que aqueles que interferem destrutivamente ”anulam-se mutuamente”e tˆem uma intensidade m´ınima.
Segundo a teoria da interferˆencia, se uma onda ´e refletida por uma superf´ıcie perpendicu- lar `a sua dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao, ambas as ondas incidentes e refletidas se interferem, e esta interferˆencia pode ser descrita de acordo com a rela¸c˜ao:
E =Asinω(t− x
c)−Asinω(t+x
c) (9)
A onda resultante pode ent˜ao ser dada por:
E = 2Asin(ωt)sin(ωx
c) (10)
onde ω ´e a frequˆencia e c a velocidade da luz. Haver´a ent˜ao interferˆencia destrutiva se:
x= nλ
2 (11)
onde n= 0,1,2,3, ....
1.3 O interferˆ ometro de Michelson
O interferˆometro de Michelson ´e o tipo mais fundamental de interferˆometro de dois feixes.
Ele pode ser utilizado para medir comprimentos de onda com grande precis˜ao. Este aparelho foi originalmente constru´ıdo por Albert Abraham Michelson em 1881 e visava comprovar a existˆencia do ´eter, o meio no qual se supunha na ´epoca deveria se propagar a luz. O experimento, como se sabe, n˜ao foi “bem sucedido” e anos mais tarde, em 1905, A. Einstein publicou o seu famoso trabalho intitulado “Sobre a eletrodinˆamica dos corpos em movimento” rejeitando definitivamente a existˆencia do ´eter.
2 Objetivos
O experimento realizado foi dividido em trˆes partes: as duas primeiras visando `a deter- mina¸c˜ao do comprimento de onda da micro-onda, e a terceira tendo como prop´osito a deter- mina¸c˜ao da polariza¸c˜ao da micro-onda.
3 Procedimento Experimental
3.1 Medida do Comprimento de Onda com uma Placa Refletora
O aparato experimental usado nesta parte do experimento consiste de uma placa refletora, uma fonte de micro-ondas, um diodo detector, uma r´egua e um oscilosc´opio conforme a Figura 1.
Figura 1: Interferˆencia de micro-ondas utilizando uma placa refletora.
Primeiramente posicionamos o diodo detector na altura da “boca” da fonte de micro-ondas, ligamos a fonte e o oscilosc´opio. Posteriormente colocamos a fonte e a placa refletora ao lado da r´egua (encostada nesta) e separadas por uns 60 cm, colocando a base do detector em cima da r´egua.
Observando na tela do oscilosc´opio uma onda quadrada, ajustando os comandos do osci- losc´opio para que a onda ficasse parada. Movimentando o detector em cima da r´egua procu- ramos os m´aximos (1) e m´ınimos (zeros) da onda quadrada observada no oscilosc´opio, assim tomamos nota das posi¸c˜oes em que eles ocorrem, fazendo cerca de 30 medidas.
3.2 Medida do Comprimento de Onda com o Arranjo de Michelson
O aparato experimental utilizado nesta parte do experimento consiste de duas placas refle- toras, uma fonte de micro-ondas, um diodo detector, duas r´eguas e um oscilosc´opio, conforme esquematizado na Figura 2.
O experimento foi montando conforme o esquema da figura 2, com a placa semitransparente P mantida numa posi¸c˜ao angular de 45o. Assim sendo, o detector foi colocado atr´as desta placa semitransparente e as outras duasP1 eP2 sobre as r´eguas. Aqui mantivemos fixos o detector e a placa refletoraP2, movimentamos a placaP1 procurando os m´aximos e os m´ınimos, anotando as posi¸c˜oes em que eles ocorreram.
Figura 2: Arranjo de Michelson.
4 Resultados e Discuss˜ oes
Com as medidas das posi¸c˜oes dos m´aximos e m´ınimos da intensidade da micro-ondas calculou-se o comprimento de onda λ que separa as cristas (1) n˜ao-consecutivas e os vales (0) n˜ao-consecutivos, pois sabe-se que o comprimento de onda da micro-onda vale o dobro da onda de intensidade el´etrica. Nas tabelas 1 e 2 constam os resultados obtidos para o arranjo de placa refletora e para o arranjo de Michelson.
Analisando a tabela 1, referente ao experimento com somente uma placa (placa refletora), nota-se que o comprimento de ondaλapresentou varia¸c˜ao durante as medidas, o que ´e evidente pelo valor calculado do desvio percentual σ%= (14,77) e pelo desvio padr˜ao σp = (0,8547)cm, com base no valor esperado de (3,18 cm). O resultado encontrado para a primeira parte do experimento foi λ = (3,65± 0,85) cm. A representa¸c˜ao gr´afica do dados da tabela 1 s˜ao mostrados na figura 3. Essa diferen¸ca de 14,77% deve-se principalmente a sensibilidade do experimento, pois a fixa¸c˜ao da placa refletora n˜ao oferecia total estabilidade durante a realiza¸c˜ao das medidas.
M´ax/M´ın Posi¸c˜ao (cm) λ (cm)
0 22,5 -
1 23,3 -
0 24,0 -
1 24,8 -
0 25,7 3,2
1 26,0 2,7
0 28,8 4,8
1 29,8 5,0
0 30,6 4,9
1 31,2 5,2
0 32,5 3,7
1 33,0 3,2
0 33,7 3,1
1 34,5 3,3
0 35,2 2,7
1 35,9 2,9
0 36,8 3,1
1 37,5 3,0
0 38,6 3,4
1 40,0 4,1
0 41,8 5,0
1 42,1 4,6
0 42,6 4,0
1 43,5 3,5
0 44,4 2,6
1 45,3 3,2
0 46,1 3,5
1 47,6 2,1
0 48,6 4,2
1 49,2 3,9
Tabela 1: Medidas usando uma placa refletora.
Com rela¸c˜ao a tabela 2, referente ao experimento com o arranjo de Michelson, as me- didas apresentaram valores pr´oximos daqueles do experimento anterior, por´em, houve me- nor flutua¸c˜ao, o que resultou no desvio percentual de σ% = (2,20) e um desvio padr˜ao de σp = (0,3982)cm, usando como referˆencia o valor de 3,18 cm[1]. O valor do comprimento de onda da micro-ondas para esse caso foi de λ = (3,25±0,39) cm. A representa¸c˜ao gr´afica do dados da tabela 2 s˜ao mostrados na figura 4.
Como terceira parte do experimento usamos uma grade met´alica onde procuramos investigar o estado de polariza¸c˜ao da onda emitida pela fonte de micro-ondas, observamos que quando a grade era colocada horizontalmente na frente da fonte, a mesma n˜ao interferiu na intensidade do sinal gerado pelo diodo detector, e quando foi usado a grade na vertical, o sinal detector era nulo. Isso indica que o estado de polariza¸c˜ao da micro-onda era horizontal, pois quando a
0 0.5 1
20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52
U (V)
x (cm)
Configuração: Placa Refletora
Figura 3: Distribui¸c˜ao das intensidades na reflex˜ao de micro-ondas em fun¸c˜ao da distˆancia para o arranjo de uma placa refletora.
dire¸c˜ao de oscila¸c˜ao do campo el´etrico coincide com a dire¸c˜ao da grade, s˜ao geradas correntes el´etricas no metal que dissipam parte da energia da onda por efeito Joule, e a outra parte
´e refletida, como sabe-se da teoria eletromagn´etica. O uso da grade met´alica mostrou que ´e poss´ıvel bloquear a micro-onda combinando a posi¸c˜ao da grade hora horizontal e hora vertical.
M´ax/M´ın Posi¸c˜ao (cm) λ (cm)
0 4,0 -
1 6,7 -
0 7,5 -
1 8,5 -
0 9,0 5,0
1 9,7 3,0
0 10,7 3,2
1 11,3 2,8
0 12,2 3,2
1 13,0 3,3
0 13,8 3,1
1 14,7 3,4
0 15,5 3,3
1 16,3 3,3
0 17,3 3,5
1 17,9 3,2
0 18,9 3,4
1 19,7 3,4
0 20,3 3,0
1 21,0 3,1
0 21,8 2,9
1 22,8 3,1
0 23,2 2,9
1 24,2 3,2
0 25,1 3,3
1 26,0 3,2
0 26,6 3,4
1 27,5 3,3
0 28,2 3,1
1 29,0 3,0
Tabela 2: Medidas usando o arranjo de Michelson.
0 0.5 1
4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30
U (mV)
x (cm)
Configuração: Michelson
Figura 4: Distribui¸c˜ao das intensidades na reflex˜ao de micro-ondas em fun¸c˜ao da distˆancia para o arranjo de Michelson.
5 Conclus˜ ao
Os dois experimentos realizados permitiram calcular o comprimento de onda da micro-ondas geradas pela fonte. De forma anal´ıtica, a precis˜ao dos resultados foi satisfat´oria em ambos os casos, apresentando desvios percentuais inferiores a 15,00% embora a dificuldade de manter o arranjo experimental corretamente posicionado tenha interferido negativamente nas medidas do primeiro experimento (arranjo de placa refletora), foi ainda poss´ıvel verificar com facilidade a polariza¸c˜ao das ondas com uso das grades met´alicas. Tamb´em observamos perfeitamente como podemos relacionar o comprimento de onda com o n´umero de m´aximos ou m´ınimos e a distˆancia entre os refletores utilizados nesse experimento. Por sua vez, vimos de forma pr´atica a caracteriza¸c˜ao de uma onda eletromagn´etica polarizada por meio da conserva¸c˜ao do vetor campo el´etrico no plano de polariza¸c˜ao (plano de oscila¸c˜ao) que evidenciou o comportamento das micro-ondas quando estas passam entre planos que n˜ao est˜ao na mesma dire¸c˜ao que do vetor campo el´etrico.
Referˆ encias
[1] Carvalho, J. F; Santana, R. C. F´ısica Experimental V (Experimentos de F´ısica Mo- derna). Goiˆania, 2016. (Apostila).
[2] Griffiths, David J. ”Eletrodinˆamica; 3➟Edi¸c˜ao.”(2011).
[3] J.R. Reitz, F.J. Milford, and R.W. Christy. Fundamentos da teoria eletromagn´etica. Edi- tora Campus, 1982.
[4] NUSSENZVEIG, HM, and Curso de F´ısica B´asica. ”Vol. 1, 2.”Editora Edgard Bl¨ucher Ltda., S˜ao Paulo (2008).
[5] SEARS, Francis Weston, Hugh D. YOUNG, and Mark W. ZENANSKY. ”F´ısica 2:
mecˆanica dos fluidos, calor e movimento ondulat´orio.”Rio de Janeiro: Livros (1984).