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4º SEMINÁRIO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS 27 E 28 DE SETEMBRO/ UNILA- FOZ DO IGUAÇU

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4º SEMINÁRIO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS 27 E 28 DE SETEMBRO/ UNILA- FOZ DO IGUAÇU

Área temática: História das Relações Internacionais e da Política Externa

Título do trabalho: A POLÍTICA EXTERNA SOVIÉTICA PARA OS SATÉLITES: O CASO DA TCHECOSLOVÁQUIA.

Autoras: Rosiane Martins dos Santos (PEPI-UFRJ)

Nikola Parizkova (PEPI-UFRJ)

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar a atuação da União Soviética nos seus satélites da Europa Oriental durante a Guerra Fria, tratando de forma específica o caso da Tchecoslováquia. Entre 1945 e 1991, países desta região foram subordinados politicamente e economicamente à União Soviética que, por meio de vários instrumentos, mantinha forte influência em seus aspectos internos. Isso foi dado em grande parte pela natureza bipolar do conflito da Guerra Fria e quanto pela necessidade dos soviéticos em estabelecer uma zona de segurança na região em que a Tchecoslováquia está inserida. Assim, a fim de contrabalançar o espaço ocidental crescente, a URSS conseguiu criar um espaço vasto de vários países, unindo-os sob instituições como Comecon e Pacto de Varsóvia, além das práticas quotidianas de subordinação, visando manter seu controle na região.

Tendo por objetivo analisar principalmente questões da dependência econômica e segurança, o trabalho trata o caso da Tchecoslováquia como um dos satélites que aderiu à dominação soviética mais ou menos voluntariamente. Mas que também foi país com grau de revolta contra esta ordem, como mostra, por exemplo, o movimento de Primavera de Praga. Assim, nosso objetivo é analisar e refletir a política externa soviética para a Tchecoslováquia, sobretudo em questões como funcionamento da economia tchecoslovaca, grau da autonomia em relação a URSS, bem como o papel do governo soviético nas instituições tchecoslovacas.

Os países da região da Europa Centro-Oriental possuem das características geopolíticas que os fazem vulneráveis à influência externa permanente. A experiência vem mostrando a presença contínua, sob formas diferentes, dos atores externos. Para a Tchecoslováquia, este período foi marcado pela dominação soviética. Portanto, o trabalho objetiva analisar, nesse casso, a atuação soviética na Tchecoslováquia, analisando criticamente a sua influência e política externa desde o início da Guerra Fria até a dissolução do bloco soviético.

Palavras-chave: URSS, política externa, Tchecoslováquia.

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Introdução

Durante a Guerra Fria, a União Soviética ocupou países da Europa Oriental, que assim desempenharam papel de satélites econômicos, políticos e militares. O funcionamento da economia na União Soviética foi inspirado pelas experiências de desenvolvimento dos países com semelhanças geopolíticas como Alemanha e Japão, no entanto, havia diferenças radicais devido às suas condições específicas. Depois de 1945, a URSS implementou seu modelo econômico em diversos países, inclusive na Tchecoslováquia. Esta, como outros países da região, ficou depois da Segunda Guerra Mundial devastada e foi a relação com a URSS que passou a nortear seu desenvolvimento e a influenciar de forma bastante substancial seus aspectos políticos e econômicos.

Tal realidade de desenvolveu tanto pela primazia da URSS, mas também pela própria cooperação dos governos dos países que sofreram ingerências. No “Golpe de Fevereiro“, em 1948, os comunistas ganharam o monopólio do poder na Tchecoslováquia como o último país da Europa Central a ser conquistado, incorporando-o dentro da esfera de influência da União Soviética. A partir deste momento, os comunistas começaram a introduzir uma cópia fiel de ditadura totalitária do tipo stalinista e a economia constituiu uma das suas maiores prioridades. Já em meados dos anos cinquenta, o sistema funcionou plenamente sob a visão baseada no pensamento “importado” da URSS, o chamado Marxismo-leninismo.

O texto seguinte apresenta elementos do mecanismo de funcionamento da economia socialista na Tchecoslováquia entre 1948 e 1989, concentrando-se especificamente em elementos da dependência da União Soviética. O objetivo desse trabalho é, assim, esclarecer o papel e influência da União Soviética no território tchecoslovaco neste período, tanto em seus aspectos econômicos, políticos e sociais.

1.1 Teorias socialistas e marxismo

O desenvolvimento industrial da sociedade no século XVIII e XIX gerou as consequências que deram origem às várias teorias tratando os efeitos negativos do capitalismo emergente. Estas consideram o sistema capitalista injusto e apelam à sua substituição por um sistema novo. A crítica

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do sistema econômico atual é baseada na opinião de que, para esse sistema econômico equitativo seria inevitável estabelecer a propriedade coletiva.

As “teorias socialistas” não constituem uma escola de pensamento homogênica1. Para nosso trabalho, no entanto, fundamental será compreender o Marxismo-leninismo, cuja formação mais importante que deu sua origem é a de Karl H. Marx (1818-1883). Sua doutrina chamada de

“socialismo científico” constituiu uma marca importante no desenvolvimento das teorias socialistas2. A obra de Karl Marx que é a referência para o posterior aparecimento do Marxismo-leninismo, é constituída pelo Manifesto Comunista (1848) e O Capital (1867, 1885, 1894). Aqui é importante notar que o pensamento de Marx foi indispensavelmente influenciado por seu colaborador próximo Friedrich Engels (1820-1895), que o apoiou financeiramente e sem a qual a obra O Capital seria dificilmente criada. O marxismo foi depois desenvolvido por autores diferentes como Karl Kautsky, Eduard Bernstein, Rosa Luxemburgo e por Vladimir I. Lenin. Seus sucessores criaram uma corrente dogmática e ortodoxa dentro do marxismo, um pensamento depois chamado de Marxismo-leninismo.

Este vai ser elaborado seguidamente.

O marxismo constitui tanto uma teoria econômica, política e social quanto uma prática. Definir então o que é “marxismo” daria assunto para muitas disputas. No entanto, há o consenso de que a maioria dos desdobramentos do marxismo tem três características fundamentais: 1) materialismo histórico (a base econômica determina a superestrutura política e ideológica); 2) a sociedade baseada na propriedade comum dos meios de produção para impedir a exploração de uma classe por outra; 3) a questão da transição do capitalismo para o socialismo (e consequentemente para o comunismo).

1Aqui devemos esclarecer que os efeitos indesejáveis do capitalismo eram tratados já antes pelos economistas clássicos como J.S.Mill e J. Sismondi. A denominação em si veio da palavra “Socialis”, utilizada primeiro por Pierre Lereux (1797 -1871) no seu artigo „De ĺIndustrialisme et du socialisme“ de 1832. (Gide, 1928, pp.354) A definição padrão divide teorias socialistas em três “grupos” fundamentais: socialismo utópico, socialismo pequeno burguês e a teoria econômica do Karl Marx, ou seja, o socialismo científico. (Holman, 2005) Além disso, distinguimos uma ampla gama de outros caminhos de pensamento socialistico. Por exemplo, Ch. Gide (1928) fala sobre socialismo cooperativo e socialismo de Estado, onde o socialismo cooperativo baseia-se em uma associação voluntária de cooperativas e, o socialismo de Estado por sua vez, é baseado em reformas sociais de Estado. Na Franca, por sua vez, podemos distinguir sob o conjunto de socialismo utópico o saint- simonismo e o associacionismo. É aqui onde também aparece o anarquismo. Surgiram, seguidamente, ainda outras direções como o de socialismo Ricardiano, o de socialismo Fabiano, dentre outras.

2Como já conhecido, Marx no seu pensamento crítico interligou várias direções. De economia clássica, por exemplo, assumiu a teoria do valor-trabalho de D. Ricardo, que, mais tarde, constituiu uma base de teoria da exploração. De socialistas franceses como Ch. Fourier e H. De Saint-Simon, por sua vez, assumiu a abordagem normativa. (Fuchs e Lisy, 2003) Outros autores afirmam a influência por filosofia Hegeliana, ou seja, da escola histórica alemã de onde Marx assumiu sua dialética. (Hayek, 1948, p. 127)

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Para objetivo do nosso trabalho, é importante mencionar princípios fundamentais na visão de Marx, que foram seguidamente utilizados na doutrina implementada na Tchecoslováquia, sendo eles:

 Expropriação da propriedade da terra e uso de renda da terra para os gastos do Estado

 Imposto fortemente progressivo

 Concentração de crédito nas mãos do Estado

 Confisco de bens de emigrantes e “traidores”

 Expansão do setor estatal

 Revogação da lei sucessória

 Obrigação de trabalhar

 Esforços para equilibrar as diferenças entre a cidade e o campo

 Concentração dos transportes nas mãos do Estado

 Educação pública e gratuita

1.2 Economia da União Soviética e Marxismo-leninismo como base para funcionamento da sociedade

O conjunto conhecido como “Marxismo-leninismo” com a base nas obras teóricas de K. Marx, F. Engels e V. I. Lenin era o único pensamento aceito na teoria econômica da economia socialista durante a Guerra Fria, inclusive a tchecoslovaca3.

O Marxismo-Leninismo tem suas raízes no início do século XX, na Rússia capitalista emergente do feudalismo. Aqui aparece um elemento fundamental, que diz respeito à caminho em que a União Soviética seguiu seu desenvolvimento no século XX. Conforme assinalado por Fiori, a União Soviética aderiu ao processo de desenvolvimento, que responde diretamente às suas particulares tradições e experiências no sistema interestatal até o fim do século XIX. (Fiori, 2014)

A história moderna russa começa no século XVI, depois de dois séculos da dominação mongol. Aqui encontramos as raízes da sua natureza expansionista que vem se repetindo, na direção da Ásia, do Báltico e de outras regiões. Foi Pedro, o Grande, que devido às suas tendências pró- ocidentais modernizou e começou o caminho de industrialização e militarização acelerada da Rússia(Fernandes, 1999, pp. 252). Vale notar que a Rússia, nesta época, sofria com um atraso político e econômico que foi dado pela sua estrutura social, muito diferente dos países europeus.

Assim, havia um sentimento de vulnerabilidade em relação às potências ocidentais, que a levou a

3 A palavra “socialista” foi oficialmente definida na Constituição de 1960 onde foi definido o nome República Socialista da Tchecoslováquia. Aqui, esse termo era ligado a “conclusão do socialismo”. Essa denominação, no entanto, é frequentemente utilizada mesmo para época anterior.

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"trajetória nacionalista e militarizada do seu desenvolvimento econômico" (Fiori, 2014, pp. 80).

Inclusive, conforme assinalado por Fernandes (1999), esse sentimento de inferioridade industrial e tecnológica em relação às potências ocidentais acabou por deflagrar um surto modernizante no país em meados do século XIX, após a derrota militar para a França e a Inglaterra na Guerra da Crimeia (1854-1855).

Neste contexto, Fiori menciona a similaridade com o caso da Alemanha. Segundo ele, Alemanha passou por um processo único de formação de teoria e estratégia nacionalista consistente e de desenvolvimento econômico no século XIX que, seguidamente, transformou-se no paradigma de referência do nacionalismo econômico em todo mundo. No caso da Alemanha, foi exatamente este sentimento de atraso econômico e político que deu impulso ao processo de desenvolvimento, além do cerco e pressão externa, que podemos também identificar no caso da Rússia e do Japão, devido às suas semelhanças geopolíticas.

Como consequência, podemos observar no desenvolvimento russo a permanente preocupação defensivo-expansionista com estratégias econômicas nacionalistas que se projetam nos grandes ciclos de intenso crescimento econômico desde século XIX e, seguidamente, entre 1950 e 19914 (Fiori, 2014, pp.77-81). E que ressurge no início do XXI após a chegada de Vladmir Putin ao poder e o esforço empreendido na reconstrução da economia depois da liberalização dos anos 1990, bem como o ressurgimento da Rússia como um importante ator no sistema internacional, como foi ao longo do século XX.

Em outras palavras, observamos no caso destes países repetidamente a situação da ameaça externa, que tem como resposta a estratégia nacionalista de mobilização de recursos e de desenvolvimento econômico. Como consequência, todos eles mostraram sucessos industriais e tecnológicos, no entanto, nunca uma centralidade monetária e financeira internacional. Por causa disso, foi sempre complicado alcançar o poder estrutural que permitiria controlar grandes fluxos econômicos internacionais e universalizar seus princípios.

Voltando para a questão central, logo após a morte de Lenin em 1924, a teoria e prática dos defensores do marxismo foram transformadas no conjunto definido como Marxismo-leninismo, que era considerado uma evolução geral do marxismo na "era da revolução proletária"5. Ainda assim,

4Aqui vale notar que no começo do XIX, estes países de novo seguem estratégias econômicas nacionalistas com objetivos de defesa e hegemonia regional. (idem)

5O Marxismo-Leninismo, como a própria ideologia, foi primeiro formulado por Joseph V. Stalin no livro “Sobre os Fundamentos do Leninismo” (1939). Stalin neste livro afirma que o leninismo começou em 1903, e nessa época era idêntico ao bolchevismo. "Leninismo é o marxismo na era do imperialismo e da revolução proletária.

Para ser mais exato, o leninismo é a teoria e a tática da revolução proletária em geral, a teoria e a tática da

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Marxismo-leninismo é considerado como ensino marxista transformado em uma única ideologia do Estado, do partido oficial da URSS (o Partido Comunista da União Soviética) e de partidos comunistas em todos outros países socialistas do bloco soviético, como a Tchecoslováquia. Esta ideologia constituiu um pensamento fundamental para a “construção do comunismo” onde a economia era vista como uma grande empresa pertencente ao povo.

Segundo Stalin (1939), a teoria Marxista-leninista diz que a revolução socialista só poderia ser realizada pelo Partido Comunista de uma nação particular, ou seja, pela vanguarda da classe trabalhadora, sendo este seu organizador e líder. Após a revolução socialista, essa vanguarda atuaria como o único representante da classe trabalhadora. Embora seja o produto direto da visão de Lenin sobre a Rússia, o Maxismo-leninismo também ganhou as novas abordagens. Lenin acreditava, por exemplo, que o socialismo só poderia existir em escala internacional. Em contrapartida, o próprio Marxismo-leninismo, como o conhecemos, apoia a teoria de Stalin do "socialismo em um só país".

Dito em outras palavras, Stalin vê o Marxismo-leninismo como “internacional” no sentido de seus princípios e práticas a serem aplicadas ao mundo inteiro.

Desta forma, o Marxismo-leninismo tornou-se a única teoria e prática do marxismo no século XX, afirmando que uma revolução socialista não poderia ser alcançada sem aderir à esta teoria. Esta afirmação foi parcialmente baseada em um dos fundamentos do pensamento materialista dialético de que a prática constitui o critério da verdade. Stalin explicou que Lenin tinha mostrado, através de sua prática, uma forma particular de estabelecer um governo socialista na Rússia e foi essa prática no país do início do século XX que comprovou a sua teoria como verdadeira. Nesse sentido, proclamaram-se as condições de prática da Rússia no início do século XX como válidos para todos os outros países do mundo.

Seguidamente, após a morte do Stalin, em 1953, a teoria do Marxismo-leninismo foi implementada por Nikita S. Khrushchev (1894-1971). Khrushchev, por sua vez, afirmou que a guerra mundial entre trabalhadores e capitalistas não era mais necessária. Ele viu o ideal na convivência pacífica inerente à luta de classes. O novo governo soviético explicava ainda que, enquanto o Marxismo-leninismo foi criado pela teoria e prática de ditadura do proletariado, ele seguidamente evoluiu para a teoria de um "estado do povo”6.

ditadura do proletariado em particular." (Stalin, 1939, pp. 23)

6Isso foi em relação a teoria do Estado de Marx, Engels e Lenin, que afirmaram que o Estado age sempre em favor dos interesses de uma classe determinada e quando não há mais classes, o Estado para de existir.

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2 Economia da Tchecoslováquia e sua dependência entre 1948 e 1989

Quando os comunistas ganharam o monopólio do poder na Tchecoslováquia em fevereiro de 1948, imediatamente começaram a implementar no país, sob assim chamado “socialismo real”, a visão soviética do funcionamento da economia com os princípios do Marxismo-leninismo. Estas decisões foram apresentadas na sociedade como inevitáveis7. Desde então, havia uma dependência central no que diz respeito ao funcionamento próprio da economia, pois foram levados princípios proclamados pela URSS como necessários para todos os países pertentes ao bloco soviético.

"A URSS reagiu à política de "contenção", usando sua influência política, militar e econômica para respaldar a rápida transição ao socialismo dos países da Europa Central e do Leste que haviam se libertado da ocupação nazista através da intervenção direta do Exército Vermelho (...). Esta compreensão levava a URSS a adotar políticas econômicas externas distintas com os países capitalistas e os países socialistas. Com estes, a política oficial era desenvolver ao máximo relações de

"cooperação" e "assistência econômica mútua" que auxiliassem a rápida industrialização dos parceiros socialistas. Para tal, foi fundado, em 1949, o Conselho de Assistência Econômica Mútua (Came), integrado, inicialmente, pela própria União Soviética, a Bulgária, a Tchecoslováquia, a Hungria, a Polônia e a Romênia - e reforçado, em seguida, pela Albânia e pela República Democrática Alemã (Alemanha Oriental). Todos estes países, além da China e da Coréia do Norte, passarem a se referenciar no "modelo soviético" como paradigma para os seus próprios processos de industrialização socialista, embora as condições internas e externas enfrentadas por estes fossem diferentes das enfrentadas pela URSS nos anos 20 e 30 (...).

(Fernandes, 1999, pp. 275)

Assim, economia da Tchecoslováquia funcionou até 1989 com base no planejamento centralizado e na propriedade estatal dos meios de produção. Durante essa época, o sistema foi monopolizado, sem setor privado e praticamente fechado aos países fora do bloco soviético. Todas as empresas privadas e pequenas foram logo depois de 1948 nacionalizadas8. Uma das maiores tendências seguiu a própria ideia de Marx da revolução socialista seguida por transição para a propriedade coletiva dos meios de produção, com objetivo de resolver o conflito cada vez maior entre o caráter social da produção e a forma capitalista de apropriação dos resultados do trabalho. A forma final dessa ordem transitória deveria ser o comunismo como uma sociedade e economia sem moeda,

7 Veja, por exemplo, na imprensa partidária do Partido Comunista da Tchecoslováquia “Rudé Právo”, que foi o jornal com preponderância total na sociedade. (Pařízková, 2013)

8 Na Alemanha Oriental ou na Hungria, por exemplo, não era tão stricto, pois existiam empresas que pertenciam de alguma forma ao capital privado.

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produzindo a abundância dos bens materiais distribuídos conforme as necessidades. (Faltus &

Průcha, 2004, s.21).

Como consequência do planejamento na economia, poderiam intensificar-se esforços na fabricação de produtos que fossem mais necessários em termos das necessidades estatais, que era o oposto do capitalismo. No começo, este sistema gerou resultados positivos para a Tchecoslováquia e seu desenvolvimento, no entanto, como veremos, no longo prazo falhou por causa dos aspectos negativos do planejamento ligados à demanda. Nesse conjunto, o desenvolvimento da produção foi o resultado do planejamento central e não pelo mecanismo de mercado.

No contexto das ideias mencionadas acima, constituíam-se vários dogmas que caracterizam a concepção de economia socialista ao longo de sua existência. Segundo Šik (1990) 9, esses pontos de partida teóricos consistem nas seguintes proposições: 1) As instalações de produção não podem ser de propriedade privada e sim de ser propriedade estatal e, até certo ponto, de propriedade cooperativa sempre sob a gestão do Estado; 2) O desenvolvimento da produção não pode ser determinado pelo mecanismo de mercado. Em vez disso, deve ser determinado pelo planejamento central, isto é, na base de atribuição obrigatória de cada empresa no campo de produção e investimento; 3) Os preços são mantidos só para servir ao propósito do planejamento e ao cálculo formal. Estes, no entanto, devem ser estabelecidos pela autoridade do governo central e não podem estar em consonância com as condições de mercado ou alteradas por empresas; 4) Entre as empresas não pode existir nenhum tipo de concorrência, por ser esta um elemento de capitalismo.

Por isso, a produção deve ser organizada de tal maneira que cada campo da indústria esteja unificado em um único monopólio gigante com a administração padronizada; 5) A distribuição e utilização da renda de forma monetária não é mais responsabilidade da empresa, mas é determinada pelo planejamento estatal. Isto é, o desenvolvimento de renda não pode depender do mercado, mas deve ser estabelecido pelo plano; 6) Liderança e gestão das próprias empresas não pode ser eleita pela equipe de trabalho. Em contrário, deve ser nomeado pela administração do Estado. Esta é a única maneira de garantir a decisão por unanimidade central.

9Ota Šik (1919-2004) foi um economista e político tcheco reconhecido, especialista em reformas econômicas.

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2.1 Funcionamento da economia tchecoslovaca e sua dependência

Foi essa linha de ideias descrita acima que deveria ser seguida desde o governo de Stalin, ou seja, pelo governo tchecoslovaco liderado pelo Partido Comunista da Tchecoslováquia10. Vale notar que este tinha ligação direta com a União Soviética, sendo que todos os funcionários públicos foram apontados ou pelo menos aprovados pela administração da URSS e mantidos sob controle permanente. No mesmo sentido, todos os processos do Estado foram direcionados pelo mesmo, sob formas diferentes de diretivas e regulamentos, com controle posterior. Assim, o desenvolvimento na Tchecoslováquia era determinado por meio do “Comitê Central do Partido Comunista” (CCPC), onde o poder executivo e governamental era controlado pela autoridade central da União Soviética. No campo econômico, a sociedade era dirigida por Diretivas para o Desenvolvimento Econômico e Social, sempre adotadas nos congressos de CCPC.

A partir das diretivas, desenrolavam-se também os planos econômicos, sob o conjunto do conceito da economia centralmente planificada. Esses planos de cinco anos, ou seja, quinquenais (chamados “Pětiletky“), constituíam as leis econômicas básicas de todos os países do sistema socialista. O desenvolvimento central da economia era organizado com base nesses planos. Eles tinham por objetivo equilibrar a alocação de recursos do orçamento do Estado em nível tanto macroeconômico quanto microeconômico. Os planos também controlavam a produção e vendas de produtos individuais. Assim era definido pela lei onde e o que seria produzido, a que preço, qual o valor dos salários e quantos trabalhadores iriam ser alocados em cada empresa.

Os objetivos do primeiro “Pětiletka” foram a industrialização, coletivização das aldeias (do campo), criação das cooperativas e a construção da indústria pesada, o que, no entanto, terminou com a morte do Stalin em 195311. Já que a reconstrução estrutural de propriedade na economia foi parte inevitável do primeiro plano quinquenal, o setor capitalista foi em primeiros cinco anos do regime quase completamente removido. A grande maioria das empresas privadas desapareceu e o governo decidiu fazer a primeira fase da coletivização da agricultura. O setor socialista nessa época participava na produção industrial em um patamar de quase 99%.

10 O presidente nessa época foi Gustav Husák cuja posição, no entanto, não lhe deu muitos privilégios ou autoridade.

11Nesta parte nos baseamos em grande parte no livro “A história econômica e social da Tchecoslováquia 1918- 1992” (Průcha, 2009) editado pelo Vaclav Průcha, autor tcheco concentrando-se na história econômica da Tchecoslováquia.

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Nesta época, a economia tchecoslovaca encontrou-se numa situação difícil12. Em concordância com governo soviético, foi implementada a reforma monetária, cujo objetivo foi reduzir a moeda, a fim da renda e da poupança entrarem em linha com o mercado, ou seja, com a oferta limitada ao mercado de consumo. A reforma gerou grandes tumultos e repressões mesmo com os impactos externos. Logo surgiu a restrição de moedas necessárias para trocas comerciais com países capitalistas.

Aqui vale mencionar que o sistema financeiro na Tchecoslováquia funcionava entre 1948 e 1989 com base na gestão cambial. Sua moeda, -a coroa tchecoslovaca - não era oficialmente conversível13. A coroa foi limitadamente conversível em países do bloco socialista, mesmo que sob taxa de câmbio extremamente desfavorável. No entanto, não foi possível livremente converter a quantidade de dinheiro desejada, mas sempre somente em quantidade necessária para “uso pessoal”

(o que deveria ser comprovado). Ainda assim, as transações de capital não eram permitidas.

Conjuntamente com a propriedade pública dos meios de produção, foi necessário que os sistemas financeiros estivessem isolados do bloco capitalista. O isolacionismo do Estado manifestava-se principalmente no comércio exterior, que foi basicamente fechado aos ambientes internacionais, com exceção do bloco soviético14. O intercâmbio comercial era compatibilizado pelos planos quinquenais e preços adotados neste intercâmbio foram fixados bilateralmente, a fim de romper com a “troca desigual” (Fernandes, 1999).

O privilégio de transações de comércio externo era responsabilidade do Comecon ("Rada Vzájemné Hospodářské Pomoci"). Dentro do Comecon, havia a possibilidade de fazer comércio relativamente livre. Na prática, as empresas vendiam os produtos utilizando o marco alemão oriental e da mesma maneira compravam outras mercadorias. Os fluxos de comércio foram essencialmente bilaterais e o foco era principalmente a indústria pesada.

Aqui vale destacar, conforme anteriormente mencionado, a presença da Tchecoslováquia no Conselho de Assistência Econômica Mútua – a organização de comércio para os Estados socialistas

12Como a concepção da economia na Tchecoslováquia não era o resultado do desenvolvimento natural, mas uma consequência de várias condições na sociedade, a ênfase na indústria gerou muitas dificuldades, particularmente a ênfase na quantidade por causa da dificuldade de implementar o avanço tecnológico e existência longa da baixa produtividade de trabalho, entre outras. Com base nesta confiança irracional na indústria pesada, a indústria leve e a agricultura continuamente diminuíam, ou até estagnavam.

13Na teoria, havia três taxas de câmbio – taxa oficial, taxa turística e taxa não oficial, ou seja, de mercado, chamada também de “taxa preta”. A última foi a única que teve um valor preditivo relevante, devido ao fato de que foi uma taxa do potencial econômico dos países individuais na direção dos países do bloco socialista.

14Isso foi de acordo com próprio funcionamento na URSS, que adotou já em 1918 a medida sobre as operações econômicas externas que, desde assim, sejam elas importações, exportações ou fluxos de pagamentos, foram conduzidas por organismos estatais específicos. (Fernandes, 1999)

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do bloco soviético. Esta era uma ferramenta poderosa de controle central da economia dos estados socialistas da União Soviética e funcionou como uma espécie de contrapartida soviética ao Plano Marshall e mais tarde à CEE (Comunidade Econômica Europeia).

Para os devidos fins, foram criadas as Empresas de Comércio Exterior e que possuíam o monopólio sobre os fluxos do comércio internacional. Tais empresas foram patrocinadas por determinados setores econômicos na sociedade e se dividiam em dois principais tipos: empresas de vendas mercadorias e empresas de troca. As empresas de mercadorias concentravam-se em negociações sobre commodities15. As empresas de troca, baseadas em trade-off, não foram vinculadas a uma mercadoria específica.

Dentro do plano de câmbio feito pelo governo, o banco central (Banco do Estado da Tchecoslováquia) estava em registo de moeda e com base nos os planos quinquenais (e sub-planos anuais). Havia alocação de câmbio para empresas individuais para que elas pudessem promover o comércio com o exterior. Devido ao fato de que o sistema de planejamento foi muito rígido e incapaz de responder de forma flexível às necessidades, surgiram enormes prejuízos à economia nacional. A fim de melhorar as condições, foram criadas subsequentemente as “empresas de transação”

(compensação), o que permitiu às empresas exportar produtos com que o governo não contava dentro dos planos. Isso funcionava com base na regulamentação cambial16.

A troca de governo em 1953 marcou o desanuviamento no campo político. A nova liderança soviética de Nikita Khrushev criticou vários aspectos do desenvolvimento econômico na Tchecoslováquia, particularmente a centralização da economia e a desproporção na economia e na esfera social17. Por isso, decidiu-se não lançar o segundo plano de cinco anos em 1954, mas

15Os produtores de alimentos e os agricultores, por exemplo, tiveram o Koospol (para setor socialista) e o Unicoop (para setor cooperativo). Para material técnico, automóveis, e assim por diante, foi o Motokos. Para máquinas industriais serviu o Strojeksport e Strojimport. Uma vez que a Tchecoslováquia era a superpotência de vidro, particularmente importante para comércio externo foi o Skloexport. Para jóias foi o Jablonex, etc. O regime estabeleceu uma nova empresa de comércio exterior chamado de “Tuzex” que funcionou até o fim do totalitarismo em 1989. Nesta „empresa foram vendidas as mercadorias não disponíveis no mercado interno. As mercadorias foram vendidas por moedas ocidentais conversíveis ou pelos “cupons de Tuzex” - unidades de ordem de pagamento obtidas no banco do Estado em troca de moeda ocidental conversível. A parte eslovaca da Tchecoslováquia tinha suas próprias empresas de natureza semelhante.

16Esta foi, por exemplo, a empresa chamada de Transakta. Na prática, as empresas podiam através Transakra exportar mercadorias que foram demandadas de fora, mas os planos não contavam com elas.

Subsequentemente, as empresas cobraram certa percentagem de moeda estrangeira - divisas (geralmente em torno de 60%) e com elas fizeram importações. Isso gerou mais flexibilidade, uma vez que assim, as empresas acumularam certa quantidade de câmbio e podiam manipulá-lo. Muitas vezes houve negoçiações sobre o câmbio entre próprias empresas (por um suborno).

17Depois da morte de Stalin em 1953, a penetração soviética declinou. Porém, a URSS ainda organizava sua política de forma a tornar difícil para os estados vassalos se tornarem independentes das forças militares e influência soviéticas. Uma das características principais desta era era a ameaça incessante de intervenção

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substituí-lo por dois planos anuais. Seguidamente, durante o segundo e terceiro plano de cinco anos (1956-1960 e 1961-1965), o governo continuava aplicar uma estratégia parecida à anterior. Embora ele tentasse revitalizar o mercado interno por meio de aumento de consumo pessoal e do aumento de padrões de vida, a preferência pela engenharia pesada, química e outras, impediam a eficiência da economia.

A indústria pesada observou um aumento em dois terços de sua produção, no entanto, governo não possuía recursos financeiros para a indústria leve e alimentar. Na agricultura esperava- se o crescimento e o aumento da produtividade. O sistema precisava de uma reforma econômica e foi Ota Šik que a lançou em 1959. O terceiro Pětiletka em 1961 foi cancelado e a economia foi de novo mantida pelos planos operativos anuais. Os anos 1963 e 1964 resultaram em um declínio absoluto na renda nacional e também uma falha do plano de produção industrial.

A ineficiência dos planos de cinco anos mostrou que o sistema precisava de uma reforma maior. Essa foi finalmente formulada por Ota Šik e aceita em 1965 pela CCPC18. O que foi, no entanto, mais importante, é o fato de que todos esses passos exigiram ao mesmo tempo uma liberalização de sistema político. Havia pressões gerais nesta época sobre a liberação e tensões na sociedade em direção a uma maior independência em relação à União Soviética. Como o partido queria manter a posição chave na gestão da economia, a proposta de Šik foi refutada. No entanto, esta mesma foi aceita após a mudança da liderança política de Partido Comunista da Tchecoslováquia em janeiro de 1968, quando Alexander Dubček tornou-se Primeiro Secretário do Comitê Central do Partido.

Este período entre 1967 e 1968 é conhecido como Primavera de Praga. Foi um período de distensão política marcado pela crise de legitimidade do regime que foi acompanhado por várias reformas visando democratizar a Tchecoslováquia. Este movimento tem suas raízes ainda nos anos 1950. A morte de Stálin em 1953 (no mesmo ano morreu também o presidente da Tchecoslováquia Klement Gotwald) foi seguida por uma crise econômica ainda mais profunda e pelo relaxamento da

militar soviética, ao lado da proclamada igualdade de soberania entre os estados, afirmada depois da rebelião na Hungria. (Krasner, 1999, pp. 217).

18Aqui, a intenção era adicionar o mercado aos planos, ou seja, substituir os regulamentos por instrumentos econômicos. Outro princípio dessa reforma foi fortalecer a independência das empresas que, assim, seriam mais responsáveis pela sua gestão. A medida de sucesso de uma empresa não deveria ser mais o cumprimento do plano, mas a renda bruta de qual dependeriam também os salários. A reforma buscava promover os princípios de negócios, de eficiência econômica da produção e dos serviços e criar as condições para a concorrência. Assim seria necessário melhorar e racionalizar a produção e investir de forma racional em áreas onde haveria um retorno econômico real. Como essa era uma reforma socialista, os reformadores reconheceram o papel de Estado como regulador de mecanismo do mercado para impedir os conflitos potenciais.

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influência soviética dentro da Tchecoslováquia. Esforços de “desestalinização” foram feitos para melhorar a situação econômica e avançar na democratização da sociedade. Da perspectiva global, foi um período de détente nas tensões entre Oriente e Ocidente19. A Tchecoslováquia começou a se abrir para o mundo. Relações diplomáticas foram estabelecidas com vários atores externos para além do bloco soviético.

Como consequência, foi aprovado em abril de 1968 pelo Comitê Central do PCT o “Programa de Ação do Partido Comunista”. O papel de liderança do Partido Comunista, de acordo com o Programa, deveria ser mantido. Seus principais objetivos eram a democratização e liberalização, com ênfase na transformação das relações econômicas. As reformas deveriam ser executadas em dois ou três anos. Mais importante, o Programa estava baseado em condições específicas e se distanciava do socialismo tradicional da URSS e da relação de vassalagem até então existente. No que diz respeito à sua natureza ideológica, o programa mantinha a defesa do marxismo-leninismo original20. É importante ressaltar que o Programa buscou promover o movimento comunista internacional.

Todavia, ele também proclamou interesses nacionais e a necessidade da soberania estatal. Ele era anti-capitalista, mas clamava pela abertura de relações com estados fora do bloco soviético.

(Programa de Ação, 1968).

Todas essas mudanças não foram bem aceitas na União Soviética. Conservadores

“ortodoxos” perceberam o socialismo democrático na Tchecoslováquia como um perigoso revisionismo do establishment. Já no início de 1968, a liderança do PCT era percebida pelo governo soviético como “hostil” e “anti-socialista” (Bischof, Karner, Ruggenthaler, 2010, pp. 108). Deste modo, Leonid Brezhnev e a liderança dos países do Pacto de Varsóvia estavam preocupados com os eventos em torno das reformas de Dubček e temendo o enfraquecimento do Bloco Oriental no contexto da Guerra Fria (Prot. No. 38, 1968). A União Soviética expressou claramente sua intenção de intervir em quaisquer países do Pacto de Varsóvia onde o “sistema burguês” de alguns partidos políticos começasse a apoiar diferentes frações da classe capitalista. Posteriormente, foi realizada em agosto de 1968 a intervenção militar e o estabelecimento de Doutrina Brezhnev21.

19As críticas ao estalinismo e pressões para mudar a política do PCT se deram paralelamente ao desenvolvimento com o sistema internacional como um todo. Depois do fim da “Crise dos Mísseis” em 1962, o mundo assistiu à tendência de redução das tensões entre Leste e Oeste. Na Tchecoslováquia, isso se refletiu na crescente distinção entre as esferas pública e privada, entre outros fatores.

20Ele retirou sua inspiração da tradição humanista de T. G. Masaryk durante a Primeira República Tchecoslovaca e reivindicou seguir a tradição do socialismo de 1945-48.

21Os representantes da União Soviética, Alemanha Oriental, Polônia, Hungria, Bulgária e Tchecoslováquia se encontraram em 3 de agosto de 1968 em Bratislava, assinando acordo que confirmou a fidelidade “inabalável”

ao marxismo-leninismo e internacionalismo proletário e declarou um confronto implacável contra a ideologia burguesa e todos os elementos anti-socialistas. (Declaração de Bratislava, 1968) Durante a noite do dia 20 para

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A sociedade dessa época foi caracterizada por um desenvolvimento econômico e social favorável. No entanto, isso tornou-se dificilmente sustentável e, aos poucos, todos os elementos da reforma de 1968 foram removidos da economia. Deste modo, em abril de 1969, Alexander Dubček foi substituído por Gustav Husák e começou o período conhecido como “normalização”. Foi anunciado de imediato um programa econômico de consolidação, ou seja, o plano de dois anos para 1971, preparando-se para quinto Pětiletka. Os objetivos foram particularmente restaurar a economia centralmente controlada e continuar com a tendência positiva por meio da política anti-inflacionária, além de melhorar o comércio exterior e aumentar construção de moradias.

Posteriormente, o governo nos anos setenta tentou implementar a mesma estratégia anterior à Primavera de Praga. O sistema passava pela desaceleração dos índices de crescimento de economia e da produtividade do trabalho (Fernandes, 1999). A época de normalização era muito dura e com regime inflexível. Sendo assim, a economia gradualmente declinava. Bem no começo dos anos oitenta, a profunda decadência econômica, social e cultural (tendo raízes nos anos setenta) ficou ainda mais visível. Embora a industrialização fosse elevada e a taxa de desemprego oficialmente zero, a eficiência da produção era muito baixa. A paisagem e o meio ambiente se tornaram totalmente devastados. Em termos de matérias-primas, o país dependia de fornecimento da URSS que ao mesmo tempo se constituía como um dos seus maiores parceiros comerciais.

2.3 Queda do regime

Dadas as insuficiências e rigidez do sistema econômico que desde os anos oitenta foram cada vez mais óbvias, o sistema gradualmente começou a declinar. Como destaca Fernandes (1999), as características centrais do modelo soviético que foram válidas e eficientes anteriormente perderam sucesso relativo (que criou condições bem diferentes) e sua relevância. O próprio sistema começou a usar meios capitalistas anteriormente recusados a fim de corrigir as deficiências. Este processo eclodiu de forma muito dinâmica e rápida. Assim, a Tchecoslováquia logo retornou ao ponto do capitalismo a partir do qual surgiu após a Segunda Guerra Mundial. Há um proverbio que diz que o socialismo era na Tchecoslováquia o desvio mais longo na estrada do capitalismo para o capitalismo.

21 de agosto de 1968, as tropas dos países do Pacto de Varsóvia entraram na Tchecoslováquia. Isso também ficou conhecido como a “Operação Danúbio”. Iugoslávia, Romênia, China e os partidos comunistas dos países da Europa Ocidental protestaram intensamente contra a invasão (Gaddis, 2006). A política intransponível do governo socialista sobre os seus estados satélites depois da intervenção e a consciência do fato de que problemas políticos num Estado poderiam se transformar num problema para outros países do Bloco Oriental tornou-se conhecida como a Doutrina Brezhnev. A Doutrina de soberania limitada guiou a política externa soviética de 1968 até a Perestroika. De acordo com essa Doutrina, havia a ameaça de que certa sociedade socialista se movesse do socialismo para o capitalismo, o que tornaria-se um problema não apenas para aquele país, mas também para todos os demais estados socialistas.

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Como se sabe, foi sob governo de Gorbatchev o início do processo de liberalização da URSS.

Foram elementos como Perestrojka que, na segunda metade dos anos oitenta, criaram as condições favoráveis para que a própria liderança do Partido Comunista da Tchecoslováquia buscasse o novo caminho. Assim, após a Revolução de Veludo em 1989, todos os objetivos econômicos fundamentais começaram a mudar em uma velocidade proporcional ao desejo da sociedade de se mover para a liberalização política e econômica e assim transformar radicalmente as relações socio-econômicas, a fim de se opôr ao socialismo que nas devidas condições falhou.

Com a Revolução de Veludo em novembro de 1989 ocorreu a transformação total das relações econômicas, que vem se formando até hoje. A transição da economia planificada para uma economia de mercado deve ser vista como uma parte integrante da transformação da sociedade tcheca após a Revolução, que desempenhou uma ruptura total com o regime anterior e levou ao poder indivíduos com forte comprometimento com a democratização política e liberalização econômica. Um dos maiores princípios que se refletem na sociedade dessa região até hoje foi a separação da influência soviética e, assim, implementação dos princípios opostos do socialismo real como confirmação da quebra com regime que durou mais de 40 anos.

Conclusão

Faz-se interessante observar a linha de pensamento que nasceu na Alemanha com as ideias de Karl Marx e outros defensores das teorias socialistas e que influenciou os intelectuais russos no fim do século XIX e acabou por se transformar gradualmente na primeira metade de século XX em doutrina tão influente. Esta mesmo, logo após a II Guerra Mundial, tornou-se um padrão de funcionamento da economia de uma parte do mundo, implementado pela União Soviética em todo bloco soviético. Isto, no entanto, aconteceu sem considerar as condições particulares dos de cada um dos Estados.

O trabalho buscou observar este fenômeno no caso da Tchecoslováquia entre 1948 e 1989.

Neste país, a influência soviética ocorreu depois de fim da Segunda Guerra Mundial parcialmente de forma voluntaria. Foram implementadas regras da economia do “socialismo real”, sob controle e direcionamento direto e indireto o governo soviético. A economia da Tchecoslováquia funcionou através de planejamentos definidos pelo Comitê Central do Partido Comunista, controlados do exterior. Foram lançadas constantemente as diretivas que definiam o funcionamento da economia no país e estas se desenrolavam sob os planos quinquenais, com objetivos estabelecidos por período determinado.

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Mesmo com algumas tentativas de reforma e maior liberação da relação de dominação exterior, a dominação política e econômica dos soviéticos durou por 41 anos. As características fundamentais estavam presentes durante todo o período e foram essas características e a incapacidade de reagir às tendências atuais e complexas que levou a relação de vassalagem ao seu fim. Basta perguntar, se com este momento, a Tchecoslováquia livrou-se de fato de dependência econômica externa e se isso pode, devido às suas condições geopolíticas e geoeconômicas particulares um dia acontecer

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