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Secretaria de Estado da Saúde Coordenadoria de Controle de Doenças. Instituto Adolfo Lutz

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Secretaria de Estado da Saúde Coordenadoria de Controle de Doenças

Instituto Adolfo Lutz

Curso de Especialização

Vigilância Laboratorial em Saúde Pública

Nathasha Radmila Freitas

CIRCULAÇÃO RECENTE DE ARBOVIROSES ASSOCIADAS À AEDINI

NO ESTADO DE SÃO PAULO

São Paulo 2019

(2)

Nathasha Radmila Freitas

CIRCULAÇÃO RECENTE DE ARBOVIROSES ASSOCIADAS A AEDINI

NO ESTADO DE SÃO PAULO

Trabalho de conclusão de curso de especialização apresentado ao Instituto Adolfo Lutz- Unidade do Centro de Formação de Recursos Humanos para o SUS/SP-Doutor Antônio Guilherme de Souza como requisito parcial para obtenção do titulo de Especialista em Vigilância Laboratorial em Saúde Pública Orientador: Dr Renato Pereira da Silva

São Paulo 2019

(3)

3

FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pelo Centro de Documentação – Coordenadoria de Controle de Doenças/SES-SP

©reprodução autorizada pelo autor, desde que citada a fonte

Freitas, Nathasha Radmila

Circulação recente de Arboviroses associada a Aedini no Estado de São Paulo/ Nathasha Radmila Freitas– São Paulo, 2019.

46 f. il

Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização-Vigilância Laboratorial em Saúde Pública)-Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, CEFOR/SUS-SP, Instituto Adolfo Lutz, São Paulo, 2019.

Área de concentração: Eco-epidemiologia de Zoonoses Virais e Ricketsioses

Orientação: Prof. Dr. Renato Pereira de Souza

1-Ecologia de Vetores; 2- Culicidae; 3-Arbovirus;

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RESUMO

O Estado de São Paulo desde a década de 80 tem sofrido epidemias cíclicas de dengue, em 2014 passou a notificar casos autóctones de Chikungunya e Zika e enfrenta desde 2017 uma epidemia de febre amarela, que passou a ser considerada endêmica pela Organização Mundial da Saúde. Diversas espécies de mosquitos da tribo Aedini atuam como vetores desses importantes agravos. Compreender a biologia e o ciclo de vida destes insetos, sobretudo na fase reprodutiva, é crucial para compreender seu papel epidemiológico na circulação destas arboviroses, para que seja possível tomar medidas adequadas de controle vetorial e vigilância em saúde. O objetivo deste trabalho foi compor uma revisão sobre as características ecológicas dos aedinis e inferir a relação da sua biologia com a epidemiologia e circulação recente das arboviroses mais importantes no Estado de São Paulo, no período de 2013 a 2018. Foi realizado levantamento bibliográfico sobre as arboviroses, a ecologia e biologia dos principais mosquitos vetores baseado em palavras-chave obtidas e/ou Descritores em Ciências da Saúde (BIREME) nas bases de dados BVS, PubMed, Scopus, Scielo, no levantamento de dados secundários do (1) Ministério da Saúde, (2) através do SINAN e nos (3) Boletins Epidemiológicos do site do Centro de Vigilância Epidemiológica . A busca resultou em 181 documentos, dos quais 57 foram selecionados como referencial teórico e fontes de dados secundários. Sugerimos que as variáveis ambientais, principalmente a média de temperatura e índices pluviométricos podem ter interferido na circulação e na transmissão de dengue, zika, chikungunya e febre amarela silvestre no estado.

Acreditamos que a queda nos casos de dengue, a emergência e subsequente queda de casos de Zika e Chikungunya e a reemergência da Febre Amarela se relacionam com a dispersão e distribuição geográfica dos mosquitos na região, sua adaptação e estabelecimento de habitats em ambientes urbanos ou em áreas antropizadas que sofreram degradação ambiental.

Palavras-chave: Ecologia de Vetores, Culicidae, Arbovirus, Flaviviridae, Togaviridae

(5)

5 ABSTRACT

São Paulo State has suffered cyclical epidemics of dengue fever affecting the population, in 2014 Chikungunya and Zika emerged and, since 2017, Yellow Fever re-emerged leading World Health Organization to consider the state as an endemic area. Several species of mosquitos from Aedini tribe acts as vectors of infectious diseases, including these public health hazards. Understand the biology and life cycle of this insects, mainly its reproduction, is crucial to understand the epidemiology and the circulation patterns of arboviruses to became possible provides proper vector control and epidemiological surveillance. The aim of this study was review the ecology of aedinis and assess how the ecoepidemiology of this species can be related to the recent circulation of DENV, CHIKV, ZIKAV and YFV arboviruses during the period of 2013 to 2018 in São Paulo State. The bibliographical survey was conducted on the four arboviruses and ecology and biology of the major mosquito vectors based on keywords and DeCS descriptors (BIREME) at the databases BVS, PubMed, Scopus, Scielo. Research also was based in public access reports from (1)the Ministry of Health, datasets from (2) the Information System on Diseases of Compulsory Declaration (SINAN) and the Epidemiological Bulletins from the Epidemiological Surveillance Center website (CVE). The research results in 181 documents, of which 57 were selected as theoretical reference and secondary data sources. Its possible that the environmental factors, mainly the average temperature and rainfall indices may have interfered in the circulation and transmission of dengue, zika, chikungunya and sylvan yellow fever in the state. We suggest that the decline in dengue cases, the emergence and subsequent fall of Zika and Chikungunya cases and the re-emergence of Yellow Fever are related to dispersion, geographical distribution of mosquitoes in the region, vector adaptation and establishment of habitats in urban environments or areas suffering environmental degradation.

Keywords: Disease Vectors, Culicidae, Arboviruses, Flaviviridae, Togaviridae

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Dedico esse trabalho à minha rede de apoio, que me recebeu em São Paulo, acolheu, apoiou nos momentos de fraqueza ou dúvida e incentivou a realização desse projeto até o final.

Mãe (Maria Regina), Ágata , Rafaela ,

Dênis (tio) e Caio , muito obrigada <3.

(7)

7 AGRADECIMENTOS

Um dia, quando olhar para trás, verás que os dias de luta foram os mais bonitos

Sigmund Freud

Agradeço em primeiro a Deus, meus guias e minha família, que deram o apoio que sempre precisei.

O retorno à São Paulo teria sido mais duro e desafiador se não fossem os amigos queridos que estão aqui há mais de uma década e são minha segunda família para todos os momentos. Moradia, alimentação, diversão, desabafos, conselhos, incenso e compreensão. Muito obrigada Agata, Thaís, Rafaela, Thiago, Lívia, Pam*.

À Brisa Rosketa, minha veterana de UNESP Jaboticabal e ô lá em casete que também encontrou o rumo de São Paulo, que me deixou mais perto de “casa” que formamos em Jaboticabal e Nayara Micela e Lala que seja por Whats App ou em poucos momentos ao vivo, sempre estiveram aqui.

Douglas, Monique, Paulinha e companheiros do Grupo ETCO, com quem dividi conselhos profissionais sobre nosso amor maior dentro do mundo científico-acadêmico: a Etologia.

Denis e Rosana e Carol, que me receberam em sua “casa” e empresa e deram todo suporte que precisei, obrigada pelo auxilio e pela confiança, espero ter sido à altura.

Aos colegas da primeira turma de Lato Sensu do PAP do Instituto Adolfo Lutz e as Coordenadoras do CEIAL, Cristiane, Elaine e Leiva, agradeço pela oportunidade de aprendizado, pelo aprimoramento e pelos bons momentos. Sobretudo a Wender, Michellin Rosiane, Fulvia, que foram cias de trabalho e colegas mais próximos.

Aos pesquisadores e servidores do NDTV e do NDR – Lab de Riquetsioses, muito obrigada pelos conhecimentos e confiança. Foi uma honra integrar um laboratório de Referencia tão importante e que faz tanto com tão pouco. Agradeço especialmente aos colegas Giovana, Fernando, Iray, Leandro, Jefferson, Dra Fabiana e Nilcéia, cujo trabalho acompanhei de forma mais próxima e com quem pude compartilhar muitos aprendizados e também desafios profissionais que me fizeram amadurecer a nível profissional e pessoal.

Por fim, mas nunca menos importante, agradeço ao meu orientador neste trabalho, Dr Renato Pereira de Souza, pelos momentos de troca científica, pelo apoio e pela visão humana. Por toda paciência com minhas limitações físicas e emocionais e pelo incentivo a continuar com o trabalho. E Caio, uma das melhores surpresas que a vida boemia nos bares da Augusta poderia oferecer.

Obrigada pela insistência e pela ajuda madrugada adentro com todo esse trabalho.

Solange e Silene, obrigada pelo suporte dentro do IAL nos momentos difíceis.

Mãe, espero ter feito jus ao legado que você construiu dentro do Instituto, você estava certa: foi uma experiência ímpar.

(8)

“(...) Bréton estabeleceu, ainda, uma nítida relação entre a derrubada de árvores e a doença, ao registrar que „ à medida que cortavam os bosques, a terra arrojava seu veneno’ .”

em A História da Febre Amarela, 1969.

(9)

9 LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Distribuição de casos autóctones de Febre Amarela Silvestre (FAS) segundo município de infecção. Estado de São Paulo, Janeiro a Novembro de 2018………...

39 40

(10)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Casos prováveis e incidência de Dengue durante o período

de 2013-2018 no Brasil e no

ESP………...……… 34 Tabela 2 - Casos prováveis e incidência de febre de Chikungunya durante o período de 2013-2018 no Brasil e no ESP…………....………..

35

Tabela 3 - Casos prováveis e incidência de infecção por Zika durante o período de 2013 - 2018 no Brasil e no ESP………...…… 36 Tabela 4 - Casos prováveis e incidência de Febre Amarela Silvestre (FAS) durante o período de 2013-2018 no ESP………...…………

38

(11)

11 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

DENV – vírus da Dengue YFV – vírus da Febre Amarela ZIKAV – vírus Zika

CHIKV – vírus Chikungunya ESP – Estado de São Paulo

CVE – Centro de Vigilância Epidemiológica CCD –Controladoria de Controle de Doenças

SES-SP – Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo FAS – Febre amarela silvestre

FAU – Febre amarela Urbana

OMS – Organização Mundial da Saúde

SINAN – Sistema Informação de Agravos de Notificação ELISA – Ensaio de Imunoabsorção Enzimática

MAC-ELISA – Ensaio Imunoenzimático para captura de anticorpos IgM RT- PCR – Reação em Cadeira da Polimerase em tempo real

PNH /PHNs – Primata Não-Humano / Primatas Não-Humanos SV/MS – Secretaria de Vigilância do Ministério da Saúde SUS – Sistema Único de Saúde

DeCS – Descritores em Ciências da Saúde ACRV – Área de recomendação de vacinação LPI – Local Provável de Infecção.

GVE – Grupos de Vigilância Epidemiológica

(12)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 13

2. OBJETIVOS ... 15

2.1 Objetivo Geral ... 15

2.2 Objetivos Específicos ... 15

3. REFERENCIAL TEÓRICO ... 15

3.1 Os Arbovírus ... 15

3.2 Arboviroses associadas a culicídeos no Estado de São Paulo ... 18

3.2.1 Dengue (DENV) ... 18

3.2.2 Chikungunya (CHIKV) ... 20

3.2.3 Zika (ZIKV) ... 21

3.2.4 Febre Amarela (YFV) ... 21

3.3 Aedinos: Vetores das Arboviroses ... 24

3.3.1 Gênero Aedes ... 26

3.3.2. Gênero Haemagogus ... 30

3.3.3 Gênero Psorophora ... 31

4. DESENVOLVIMENTO ... 32

5. METODOLOGIA ... 32

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 33

6.1 Circulação de Arboviroses Urbanas associadas a Aedini no estado de São Paulo no período de 2013 – 2018 ... 33

6.1.1 Dengue ... 33

6.1.2 Chikungunya ... 34

6.1.3 Zika ... 35

6.2 Reemergência da Febre Amarela Silvestre no Estado de São Paulo ... 37

7. CONCLUSÃO ... 40

REFERÊNCIAS ... 41

(13)

13

1. INTRODUÇÃO

O termo “Arbovírus” refere-se a um grupo de vírus que compartilham características ecológicas importantes por seu ciclo epidemiológico envolver a transmissão entre um vetor artrópode e um hospedeiro vertebrado. Ao se alimentar de um indivíduo infectado em viremia, a fêmea hematófaga se infecta e pode estabelecer o ciclo ao transmitir o vírus para outro hospedeiro vertebrado. Para a transmissão ser eficiente, numerosos fatores desde a susceptibilidade dos hospedeiros vertebrados, características das espécies de hospedeiros/vetores invertebrados, sorotipos e até mutações do vírus precisam convergir de forma ideal.

(VEGA-RÚA et al, 2014; LOPES et al, 2014; LIRA-VIEIRA et al, 2016;

TABACHNICK, 2016; GOULD et al, 2017 e PIOVEZAN et al, 2017)

As arboviroses estão distribuídas em todos os continentes. No Brasil já foram isolados mais de 200 espécies de arbovírus, dentre as quais 40 são patógenos de humanos (LORENZ et al, 2017). As principais arboviroses atualmente estão entre os mais importantes agravos para a saúde pública no país, dado o grande impacto social e econômico que causam, são os vírus Dengue (DENV), Zika (ZIKV), Febre Amarela (YFV) todos da família Flaviviridae, gênero Flavivirus e o vírus Chikungunya (CHIKV), da família Togaviridae, gênero Alphavirus (LOPES et al, 2014). A maioria dos arbovírus são de origem zoonótica, tem ciclos epidemiológicos bem estabelecidos que raramente ameacem a sobrevivência dos hospedeiros, no qual o homem costuma ser um hospedeiro acidental (GOULD et al, 2017).

O Estado de São Paulo (ESP) possui 645 municípios na região sudeste do Brasil, desde a década de 80 tem sofrido epidemias cíclicas de dengue com grande impacto para a população, em 2014 passou a notificar casos autóctones de Chikungunya e Zika, inclusive em suas manifestações neurológicas (SÃO PAULO, 2014; 2015; 2016 e 2017). E, desde 2017 enfrenta uma epidemia de febre amarela com casos autóctones, que fez com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) voltasse a considerar a região como endêmica e de vacinação obrigatória para a Febre Amarela (FERREIRA et al, 2018). Todas essas arboviroses são consideradas de notificação compulsória, As condições climáticas, extensas áreas de florestas, alta biodiversidade, aspectos socioeconômicos favorecem a emergência e quadros epidêmicos de arboviroses no Brasil (FIGUEIREDO, 2017; GOULD et al, 2017).

(14)

14 Os mosquitos da família Aedini possuem grande importância médica por atuarem como vetores de arboviroses que causam grande impacto na saúde pública no Brasil e em São Paulo (FRANCO; 1969; NEVES; SILVA, 1989; FORATTINI, 2002; LOPES et al, 2014; e FIGUEIREDO, 2016). A epidemiologia das doenças assume características regionais bem definidas, pois se correlacionam com as características ecológicas e comportamentais de vetores e os fatores ecológicos que se relacionam com seu ciclo de vida e população. Entre esses fatores, podemos listar variações climáticas, sobretudo temperatura e índices pluviométricos e a disponibilidade de alimento para as fêmeas hematófagas realizarem o repasto sanguíneo em hospedeiros vertebrados silvestres e na população humana (LOPES et al, 2014; VASCONCELOS et al, 2001; 2015, LORENZ et al, 2017). Quanto aos vírus, o tropismo por diferentes tecidos, a interação com o sistema imunológico do hospedeiro e a cepa viral que determinam entre diversos sintomas o tipo de manifestação apresentada quando a doença ocorre (LOPES et al, 2014).

A domiciliação do hábitat e da preferência alimentar do vetor por humanos é a principal diferença entre o ciclo epidemiológico urbano, que e requer vigilância e permite medidas de manejo do vetor, e o silvestre, em que não é possível realizar manejos diretos com os hospedeiros e vetores (TAUIL, 2001; PEREIRA et al, 2013;

e ELMEC; BATAIERO; CRUZ, 2016). No ciclo silvestre os vetores invertebrados infectados transmitem para um hospedeiro vertebrado não-humano, como aves ou primatas, que amplificam o vírus eventualmente infectando um humano que penetre em áreas silvestres (VASCONCELOS et al, 2001; MORENO et al, 2013).

Os mosquitos aedini adultos, em grande parte, tem atividade diurna e crepuscular, e durante seu desenvolvimento apresentam uma fase aquática no período larval e terrestre/aérea durante a vida adulta. Além disso, os ovos resistem à dessecação, apresentando diapausa e com eclosão das larvas após o contato com água (FORATTINI, 2002).

A época de reprodução de diversas espécies antecede ou ocorre durante a temporada de chuvas e de maiores temperaturas. O ciclo de vida desses insetos, sobretudo na fase reprodutiva, o habitat em que ocupam e aspectos da sua ecologia, tais como preferência alimentar, habitat, interação com hospedeiros vertebrados, densidade populacional de vetores e hospedeiros são fundamentais para compreender seu papel epidemiológico, mas o ponto central é o vírus encontrar seu

(15)

15 principal vetor ou adaptar-se aos possíveis vetores que se encontrem presentes, permitindo sua circulação e amplificação no ambiente em que se encontra (ZANOTTO et al, 1996; FORATTINI, 2002; BRYANT et al, 2007; GOULD et al, 2017). Nessa trabalho adotou-se a taxonomia proposta por Forattini (2002) e a nomenclatura proposta por Wilkinson et al (2015).

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Compor um trabalho de revisão sobre a circulação recente de arboviroses associadas aos aedinis no Estado de São Paulo, incluindo avaliação crítica sobre a situação eco-epidemiológica de 2013 a 2018.

2.2 Objetivos Específicos

1) Revisar os aspectos ecológicos dos vetores relacionados com a transmissão das arboviroses de maior incidência no Estado de São Paulo no período de 2013 – 2018.

2) Discutir como tais fatores ecológicos influenciaram no perfil epidemiológico de dengue, febre amarela, zika e chikungunya durante o período.

3. REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 Os Arbovírus

Os arbovírus são um grupo de vírus RNA que, mesmo taxonomicamente distintos, compartilham características ecológicas importantes por seu ciclo epidemiológico complexo envolver a transmissão entre um vetor artrópode e um hospedeiro vertebrado. Parte do ciclo de replicação viral ocorre obrigatoriamente no organismo do vetor e isso caracteriza esse tipo de ciclo epidemiológico de tal forma que o próprio termo “arbovírus”, origina-se da expressão inglesa “arthropod-borne virus”, traduzida como “vírus carregado/transportado por artrópode” (FIGUEIREDO, 2007; LOPES et al, 2014; TABACHNICK, 2016).

Esses vírus são transmitidos por artrópodes hematófagos para hospedeiros vertebrados susceptíveis que se tornam amplificadores e fontes de infecção para

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16 outros vetores (FIGUEIREDO, 2007; LORENZ et al, 2017). A transmissão vetor- vertebrado ocorre pela picada da fêmea e usualmente os vertebrados susceptíveis desenvolvem fase de viremia, em que novos vetores se infectam ao realizar repasto sanguíneo, também pode ocorrer transmissão viral entre artrópodes por meio da via transovariana ou venérea e, uma vez infectados, assim permanecem pelo resto da vida (FIGUEIREDO, 2007; SILVA et al, 2011; LOPES et al, 2014).

As arboviroses apresentam distribuição geográfica em todos os continentes, a epidemiologia das doenças assume características regionais bem definidas que se correlacionam com as características ecológicas e comportamentais de vetores, hospedeiros, da população humana e das variáveis ambientais, sobretudo a temperatura e precipitação (LOPES et al, 2014 e LORENZ et al, 2017). Para a transmissão ser eficiente, numerosos fatores em relação aos hospedeiros invertebrados, vertebrados, o vírus e as condições ambientais precisam convergir de forma ideal (VEGA-RÚA et al, 2014; LOPES et al, 2014 e GOULD et al, 2017). A co- infecção de um indivíduo por mais de um arbovírus, em especial se o vetor possuir aptidão para abarcar os dois agentes, é possível e pode implicar em maior viremia e alterações imunológicas que influenciam as manifestações clínicas apresentadas pelo hospedeiro (MONDINI, 2007; VASCONCELOS et al, 2001).

O ponto central é o vírus encontrar seu principal vetor ou adaptar-se às espécies de artrópodes que se encontrem presentes, permitindo a circulação e amplificação viral em diferentes regiões (ZANOTTO et al, 1996 e FORATTINI, 2002).

Os quadros de epidemia, endemia, pandemia ou ocorrência esporádica de doenças causadas por arbovírus igualmente dependem de múltiplos fatores, que incluem: a presença e densidade populacional de vetores, a susceptibilidade da população de hospedeiros vertebrados; a virulência do vírus e do sorotipo, a competência vetorial dos artrópodes, entre outros (LOPES et al, 2014; LORENZ et al, 2017; GOULD et al, 2017). Epidemias geralmente ocorrem quando o vírus ou um novo sorotipo passa a circular em uma região nova, em que há indivíduos susceptíveis. Porém quadro da doença pode mudar de acordo com o comportamento dos hospedeiros (TAUIL, 2001).

Deve-se considerar que um vírus tornou-se endêmico em uma localidade quando ocorre durante todo ano, sem introdução de novos sorotipos (FERREIRA et al, 2018). Esse é um dos fatores que favorece a circulação contínua dos arbovírus e

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17 indica a manutenção do mesmo no ambiente e indica um ciclo bem estabelecido (GOULD et al, 2018; FERREIRA et al, 2018). A distribuição geográfica dos arbovírus compreende, potencialmente todas as localidades em que os seus vetores estejam presentes.

Cerca de 500 arbovírus conhecidos distribuem-se entre as famílias Flaviviridae, Bunyaviridae, Reoviridae, Togaviridae e Rhabdoviridae, dentre os quais estima-se que 150 pode infectar e produzir quadros de doença em humanos (LOPES et al, 2014; TABACHNICK, 2016). Essas doenças, denominadas arboviroses, são consideradas sérios agravos de saúde pela Organização Mundial da Saúde, dado ao número crescente de manifestações clínicas, aumento na diversidade de arbovírus, na sua circulação, alterações ambientais e ecológicas que aumentam a complexidade do ciclo epidemiológico e dificultam as ações de prevenção e controle (TAUIL, 2001; BRASIL, 2018; VASCONCELOS et al, 2001).

O genoma constituído de RNA dos arbovírus relaciona-se com o sucesso destes agentes na adaptação aos ciclos complexos envolvendo hospedeiros vertebrados e vetores invertebrados, pois propicia a plasticidade genômica e facilidade de replicação nos dois organismos. De modo geral, as mudanças no genoma podem resultar em rearranjos de segmentos ou eventos intramoleculares, aumentando a diversidade de genótipos e a favorecendo a adaptação desses agentes a várias espécies (ZANOTTO et al, 1996; TABACHNICK, 2016).

As diferenças de tropismo característica pelos órgãos do hospedeiro definem as diferentes manifestações clínicas apresentadas pelas arboviroses (LOPES et al, 2014, LIMA-CAMARA et al, 2017), sendo que esse processo ocorre também nos tecidos do inseto vetor (ZANOTTO et al, 1996).

As manifestações clínicas causadas pelas arboviroses apresentam altos indíces de morbidade e mortalidade e podem se apresentar de forma assintomática, com sintomas indiferenciados, encefalites agudas, meningites, febres hemorrágicas, hepáticas, artralgia e manifestações cutâneas em vertebrados (LOPES et al, 2014).

Os índices de mortalidade e morbidade que incidem sobre populações humanas, geralmente o hospedeiro acidental, raramente ocorrem nos ciclos silváticos, com exceção de epizootias como a Febre Amarela Silvestre (FAS) em primatas não- humanos (PNHs) nas Américas (BRASIL, 2014; GOULD et al, 2017).

(18)

18 As condições climáticas, extensas áreas de florestas, alta biodiversidade, aspectos socioeconômicos favorecem a emergência e quadros epidêmicos de arboviroses no Brasil (FIGUEIREDO, 2017), sendo que mais de 200 espécies foram isoladas no país, dentre as quais 40 são patógenos de humanos (LORENZ et al, 2017). As principais arboviroses emergentes no Brasil atualmente, tornando-se os mais importantes agravos para a saúde pública dado ao grande impacto social e econômico que causam, são os vírus Dengue (DENV), Zika (ZIKV), Febre Amarela (YFV) todos da família Flaviviridae, gênero Flavivirus e o vírus Chikungunya (CHIKV), da família Togaviridae, gênero Alphavirus (Lopes et al, 2015; LIMA- CAMARA et al, 2017; LORENZ et al, 2017), cujos vetores mais são diversas espécies de mosquitos.

Essas arboviroses são consideradas de notificação compulsória, sendo a Dengue Zika e Chikungunya contemplados na Portaria do Ministério da Saúde nº 204 e a Febre Amarela é contemplada pela Portaria do Ministério da Saúde nº 104.

A vigilância epidemiológica desses agravos no ESP é realizada pelo Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) e pela Controladoria de Controle de Doenças (CCD), coordenados pela Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo (SES-SP) (SÃO PAULO, 2018).

3.2 Arboviroses associadas a culicídeos no Estado de São Paulo 3.2.1 Dengue (DENV)

Dengue é a principal arbovirose no mundo, apresentando hiperendemicidade em algumas regiões do estado e causando impacto na saúde pública desde sua reemergência na década de 1980, devido às epidemias associadas com a introdução de novos sorotipos (TAUIL, 2001; ELMEC; BATAIERO; CRUZ, 2016). O DENV possui características antigênicas nas proteínas do envelope que o diferenciam os quatro sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4 (LOPES et al, 2014). Agrupado na família Flaviviridae gênero Flavivirus, é uma partícula esférica com material genético composto por RNA sentido positivo. Desde a década de 1980, quando os vetores foram identificados novamente no país, tem sido um dos principais problemas de saúde pública do Brasil devido à dispersão do seu principal vetor, o mosquito Aedes aegypti em áreas urbanas e periurbanas das regiões

(19)

19 tropicais e subtropicais, favorecendo a circulação dos sorotipos e sua ampla distribuição (TAUIL, 2001; SÃO PAULO, 2013).

A Dengue tem produzido epidemias sucessivas com altos índices de morbidade e mortalidade, sendo considerada doença de notificação obrigatória, através do Sistema Informação de Agravos de Notificação (SINAN), é alvo de programas de vigilância e controle, como “As Diretrizes para Prevenção e Controle das Arboviroses Urbanas no Estado de São Paulo”, cujos focos de atuação são o combate ao mosquito vetor e na conscientização da população focada na prevenção da doença através da eliminação de possíveis criadouros (FERREIRA et al, 2018).

No Brasil, o ciclo é composto por humano em viremia-fêmeas hematófagas de Ae.

aegypti - humano susceptível. Ao picar um indivíduo infectado em viremia, o vírus se aloja e se replica nas glândulas salivares da fêmea depois de um período de incubação. A partir desse momento, a fêmea do mosquito é capaz de transmitir a doença até o final de sua vida (entre 6 a 8 semanas) sempre que se alimentar (TAUIL, 2001).

Se caracteriza como uma doença que pode apresentar formas assintomáticas e sintomáticas, clinicamente se manifestando como doença febril aguda (febre dengue clássica) ou como febre hemorrágica em casos mais graves.

Entre os sintomas constam: febre alta, exantema, náuseas, vômitos, mialgia, artralgia, cefaleia, dor retro-orbital. Desde 2014, a nova classificação para os casos, seguindo a recomendação da OMS é: dengue, dengue com sinais de alarme e dengue grave (BRASIL, 2015; GOULD et al, 2017; FERREIRA et al, 2018). A imunidade adquirida para o sorotipo dura a vida toda, ocorre imunidade cruzada entre os sorotipos durante período de 3 – 6 meses, mas a infecção prévia por um sorotipo causa predisposição para casos graves (BRASIL, 2008; FERREIRA et al, 2018).

O diagnóstico pode ser realizado a partir do 6º dia de manifestação dos sintomas através de Ensaio Imunoenzimático para captura de anticorpos IgM (MAC- ELISA) in house, que é a técnica padrão-ouro, ou utilizando kits comerciais. O diagnóstico molecular é realizado pela Reação em Cadeira da Polimerase em Tempo Real (RT-PCR), método quantitativo específico que permite diferenciar entre os sorotipos, sendo importante ferramenta em estudos epidemiológicos de vigilância

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20 dos sorotipos e utilizar materiais como sangue, soro e tecidos (BRASIL, 2016). A vigilância epidemiológica deste agravo é realizado no Instituto Adolfo Lutz.

3.2.2 Chikungunya (CHIKV)

A febre Chikungunya é uma arbovirose emergente no Brasil de origem africana, transmitida e disseminada recentemente pela picada dos mosquitos Ae.

aegypti e Ae. albopictus. Pertence à família Togaviridae, gênero Alphavirus com genôma composto por RNA sentido positivo e tem semelhança ecológica com os flavivirus cujos vetores são os mosquitos do gênero Aedes (GOULD et al, 2017).

A Registrado pela primeira vez na Tanzânia, em 1952, emergiu em 2004- 2005 causando uma epidemia na ilha La Reunion, no litoral da Índia, e daí se disseminando para as Américas através do Caribe. O primeiro caso autóctone no Brasil foi identificado em 2014 (NUNES et al, 2015). As manifestações clínicas mais brandas se assemelham aos sintomas de dengu, inclui: febre aguda, cefaléia e artralgia e nas formas mais graves da doença a artralgia é intensa e pode permanecer por meses após a recuperação, limitando os movimentos do paciente e comprometendo sua capacidade laboral (NUNES et al, 2015)

Foram identificadas três linhagens ou genótipos geográficas de CHIKV: West African, East/Central/South African, que apresentam ciclo zoonótico, e a linhagem Asiática. As duas últimas foram identificadas circulando no Brasil (NUNES et al, 2015; GOULD et al, 2017).

As duas espécies de vetores apresentam alta susceptibilidade aos três genótipos do vírus e elevada capacidade vetorial, elevando o risco de ocorrer uma epidemia (VEGA-RÚA et al, 2014). LOURENÇO-DE-OLIVEIRA e FAILLOUX (2017) também observaram que espécies como Haemagogus leucocelaenus são susceptíveis ao CHIKV, demonstrando a possibilidade de se estabelecer um ciclo silvestre de trasmissão da doença no Brasil, enfatizando que é necessário monitorar a circulação viral.

A principal técnica utilizada para diagnóstico e para a vigilância epidemiológica de CHIKV é o RT-PCR, realizado nos laboratórios referência do Sistema Único de Saúde (SUS). Também é feito o diagnóstico sorológico realizado por Ensaio de Imunoabsorção Enzimática (ELISA). Assim como para DENV, não existe vacina para CHIKV e diagnósticos errôneos ainda são uma realidade no caso

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21 desse agravo. Casos suspeitos também são notificados através do SINAN (SÃO PAULO; 2018).

3.2.3 Zika (ZIKV)

O ZIKV é um flavivirus filogeneticamente próximo de YFV e DENV, de genoma composto por RNA sentido positivo, que também é transmitido através da picada de mosquitos do gênero Aedes tanto no continente africano, em que é endêmico, quanto em outras partes do mundo sendo disseminado por Ae. aegypt e por Ae. albopictus no ciclo urbano (ZANLUCA et al, 2015; CHOUIN-CARNEIRO et al, 2016).

Em relação às manifestações clínicas, por muito tempo não foi considerado patogênico para humanos até a recente epidemia nas Ilhas da Polinésia Francesa registrar 10.000 casos suspeitos e casos graves que evoluíram para complicações neurológicas, incluindo respostas autoimunes e manifestação da síndrome de Guillain-Barré. Desse ponto o vírus espalhou-se para outras ilhas até atingir as Américas. Nas formas mais brandas apresenta sintomatologia muito parecida com a dengue, incluindo conjutivite, mialgia, artralgia e febre baixa e rash maculopapular (ZANLUCA et al, 2015). Esse fator também dificulta o diagnóstico adequado da doença.

Outra complicação, diagnosticada após a pandemia que se iniciou no Brasil e atingiu 26 países da América do Sul em 2015, foi a má-formação de recém-nascidos decorrente da infecção em mulheres grávidas, apresentando microcefalia entre outros sinais. Também se evidenciou a transmissão do vírus pela via sexual e transplacentária (SÃO PAULO, 2015; CHOUIN-CARNEIRO et al, 2016; GOULD et al, 2017). A doença é autolimitada e não há vacina ou medicação específica (SÃO PAULO, 2015), o diagnóstico sorológico é realizado através de ELISA e o molecular através de RT-PCR (SÃO PAULO, 2015).

3.2.4 Febre Amarela (YFV)

O YFV é o holotipo da família Flaviviridae e o primeiro arbovírus com o ciclo epidemiológico atríbuido a um artrópode por Carlos Finlay. Originário da África, onde ainda ocorrem tanto o ciclo urbano quanto silvestre (GOULD et al, 2017), o YFV espalhou-se pelas Américas através do tráfico negreiro, trazendo espécimens de Ae.

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22 aegypti nos navios (BRYANT et al, 2007). Tanto a espécie de mosquito quanto o vírus se espalharam pelo continente.

O mosquito circulou em regiões urbanas, densamente povoadas, estabelecendo o ciclo urbano da doença, a Febre Amarela Urbana (FAU), em que o mosquito transmite a doença para o homem e se infecta em outro humano virêmico (VASCONCELOS et al, 2001; GOULD et al, 2017). O YFV adaptou-se a novos reservatórios em mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, em diversas espécies de primatas não-humanos (PNHs) da fauna nativa, em especial os macacos bugio (Allouata spp.) que são extremamente susceptíveis à doença e estabeleceu a Febre Amarela Silvestre (FAS) (MORENO et al, 2013; BRASIL, 2014).

No ciclo silvestre os mosquitos infectados transmitem o YFV para um vertebrado silvestre, geralmente um PNH e se reinfectam ao picar um indivíduo virêmico, amplificando o vírus e, eventualmente infectando um humano que frequente áreas silvestres (VASCONCELOS et al, 2001; BRASIL, 2014). Por isso a FAS é caracterizada como uma epizootia. O YFV apresenta as duas formas no continente africano, porém não apresenta uma ameaça às populações de primatas como ocorre no Brasil pelo ciclo silvestre ser bem estabelecido e as espécies de PNH adaptadas (BRASIL, 2014).

O YFV tornou-se endêmico na região Amazônica do Brasil e manifesta-se de maneira cíclica e irregular, em que ocorrem epidemias em áreas não endêmicas, alternadas por períodos interepidêmicos, em que há casos esporádicos nas áreas endêmicas (MORENO et al, 2013; BRASIL, 2014; BRASIL, 2015). Os mosquitos também são reservatório e podem transmitir o YFV entre si através das vias sexual e transovariana (VASCONCELOS et al, 2001). Apresenta padrão temporal de ocorrência sazonal com a maior parte dos casos incidindo entre Dezembro e Maio, com picos em Janeiro a circulação de YFV, pois as condições ambientais são favoráveis e ocorre o ínicio da época reprodutiva dos mosquitos aedinos em geral e outros fatores favoráreis para a transmissão e multiplicação do próprio vírus. A doença se apresenta em surtos que ocorrem com periodicidade irregular (BRASIL, 2015 e 2016).

É uma doença febril aguda, de curta duração, que afeta o fígado e pode apresentar uma grande variedade de quadros clínicos sendo assintomática até quadros febris acompanhados de icterícia e hemorragia. Tem alto grau de letalidade

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23 em comparação com outras viroses e dissemina-se rapidamente (entre 5 – 10%). em 2007 a 2009 o vírus reemergiu na região Sudeste e desde 2016 o ESP tem sofrido a maior epidemia recente da doença, ainda no ciclo Silvestre (VASCONCELOS et al, 2001; BRASIL, 2015; 2016; SÃO PAULO, 2017).

No Brasil, o último caso de FAU foi registrado em 1945, como resultado de uma campanha bem-sucedida de extermínio do Ae, aegypti e desde então infecções humanas têm ocorrido pelo envolvimento no ciclo silvestre na região amazônica (VASCONCELOS et al, 2001; FIGUEIREDO, 2007; BRASIL, 2014). Porém, a possibilidade da reemergência da FAU torna-se maior, conforme o registro da reemergência de YFV em regiões que estiveram silenciosas por cerca de 50 anos, como o interior do ESP, também em função da diminuição da imunidade da população à infecção, da colonização e degradação de ambientes silvestres, dos movimentos migratórios da população e das mudanças climáticas que favorecem a multiplicação de vetores (MASCHERETTI et al, 2015; TABACHNICK, 2016; BRASIL, 2015; GOULD et al, 2017). Historicamente, os grupos mais atingidos pelo YFV são homens em atividade laboral em regiões endêmicas que possuem coberturas florestais e matas bem preservadas, viajantes e/ou praticantes de ecoturismo e esportes ao ar livre que transitam sem ter se vacinado (VASCONCELOS et al, 2001;

BRASIL, 2017).

A forma mais eficiente de prevenção para a infecção por YFV é a vacinação (VASCONCELOS et al, 2001; BRASIL, 2015), que é oferecida pelo Ministério da Saúde gratuitamente. Tanto a definição das áreas recomendadas para vacinação quanto o acompanhamento da circulação viral baseiam-se na vigilância epidemiológica, que utiliza a notificação de PNHs mortos de forma suspeita e na notificação de casos clínicos suspeitos através do SINAN, utilizando as mortes de PNHs como sentinelas da circulação viral em determinada região (BRASIL, 2014).

O diagnóstico clínico é realizado com base nas manifestações clínicas e em exames sorológicos como ELISA, isolamento viral em culturas célulares de mosquito (C6/36) e por RT-PCR empregados por laborátórios de referência como o Instituto Carlos Chagas e o Instituto Adolfo Lutz. Essas ferramentas também são utilizadas para a vigilância epidemiológica (BRASIL, 2014; SÃO PAULO; 2015).

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24 3.3 Aedinos: Vetores das Arboviroses

Os insetos da ordem Diptera, conhecidos como mosquitos, pernilongos e muriçocas são de grande importância para a saúde pública por atuarem como vetores de importantes agravos (FORATTINI, 2002; MULLER et al, 2010, GOULD et al, 2017). Segundo o Código Internacional de Nomenclatura Zoológica (CHAIRMAN et al, 1999), a família Culicidae agrupa as subfamílias Anophelinae e Culicinae, que inclui as tribos Aedini e Sabethini. Dentre os gêneros incluídos na tribo Aedini há espécies de vetores bem estudados como Aedes (Meigen 1818). Reinert et al (2009) revisaram a monofilia dos gêneros que constituem a tribo Aedini, baseando-se em caracteres morfológicos, promovendo cerca de 44 subgêneros para gêneros, porém Wilkinson et al (2015) restauraram o status da maioria. Os autores mantiveram a monofilia proposta por Reinert et al (2009), mas consideraram aspectos ecológicos relevantes para o agrupamento das espécies em gêneros e subgêneros, visando aplicar a sistemática de forma mais funcional pare compreender as relações evolutivas entre grupos.

Os aedinis compreendem 9 gêneros, sendo 3 encontrados na região neotropical com destacada importância médica: Aedes, Psorophora e Haemagogus (FORATTINI, 2002). Diversas espécies muito estudadas pela Entomologia Médica pertencem a esses três gêneros.

O ciclo de vida desses insetos, sobretudo na fase reprodutiva, o habitat em que ocupam e aspectos da sua ecologia, tais como preferência alimentar, habitat, interação com hospedeiros vertebrados, densidade populacional de vetores e hospedeiros são fundamentais para compreender seu papel epidemiológico como vetores na circulação de arboviroses e para que seja possível tomar medidas adequadas de controle vetorial e vigilância em saúde (LOPES et al, 2014;

KRAEMER et al, 2015b; ELMEC, BATAIERO, CRUZ, 2016 e PIOVEZAN et al, 2017)

Os mosquitos aedinis, em grande parte, tem atividade diurna e crepuscular, que pode ser dividido em fase aquática no período larval e terrestre/aérea durante a vida adulta, ovos que resistem à dessecação apresentando diapausa e com eclosão das larvas após posterior contato com água (FORATTINI, 2002). A época de reprodução de diversas espécies antecede ou ocorre durante a temporada de

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25 chuvas e de maiores temperaturas, época em que há aumento no índice das picadas das fêmeas hematófagas para permitir a oogenese e realização da oviposição, que não é feita diretamente em meio aquoso. São vorazes e tem atividade predominantemente diurna, sendo animais resistentes, com grande poder de vôo que permitem de deslocar a grandes distâncias (FORATTINI; GOMES, 1988;

NEVES; SILVA,1989; NEVES, 1999; VASCONCELOS et al, 2001; FORATTINI, 2002; LIRA-VIEIRA, 2013). Os ovos resistem a períodos prolongados de ausência de água e condições climáticas favoráveis. Nesse contexto, a diapausa representa um mecanismo que favorece a sobrevivência em longo prazo, permitindo à população que habite regiões com períodos de estiagem seguidos de precipitação atmosférica (FORATTINI, 2002).

Os impactos ambientais decorrentes de atividades humanas, crescimento urbano e demográfico desorganizados, migrações e deslocamento, mudanças climáticas, transformação dos ambientes naturais em artificiais de degradação ambiental tem favorecido a domiciliação dos mosquitos, tornando as populações humanas susceptíveis ao contato com diferentes espécies de mosquitos. Com isso é favorecida a emergência de arboviroses e outros patógenos mantidos em ciclos silvestres para o ciclo urbano (BRASIL, 2014; TABACHNICK, 2016; GOULD ET AL, 2017). O aumento da temperatura no ambiente, além de favorecer a cópula e oviposição, afeta positivamente a multiplicação e sobrevivência dos vírus nos insetos, diminuindo o período de incubação extrínseca e aumentando a susceptibilidade do vetor aos vírus (LORENZ ET AL, 2017).

Variações climáticas das estações com períodos de chuvas mais longos e intensos, que acompanham aumento da temperatura e umidade relativa do ar são condições que favorecem o surgimento de criadouros que possam albergar as larvas e o desenvolvimento das mesmas, em especial em recipientes naturais como ocos de árvores, bromélias, internódios de bambus, poças ou buracos no chão ou em recipientes artificiais (LOPES et al, 1993; LORENZ et al, 2017, FERREIRA et al, 2018; SILVA et al, 2018). O tipo de criadouro terá relação com as preferências de habitat e de alimentação dos mosquitos, variando entre espécies que transitam entre ambientes urbanos, periurbanos, rurais ou silvestres (TAUIL, 2001).

A distribuição geográfica e a capacidade de dispersão dos vetores são fatores importantes para determinar a circulação dos arbovírus em uma localidade.

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26 Nesse contexto, a adaptação a ambientes urbanos e periurbanos por diferentes espécies tem papel importante na propagação de arboviroses (GOMES et al, 2010;

FARES et al, 2015 KRAEMER et al, 2015b; PIOVEZAN, 2017).

Nesse contexto, as arboviroses transmitidas por mosquitos entre diferentes hospedeiros vertebrados, no qual o homem costuma ser um hospedeiro acidental no ciclo são denominadas de arboviroses com ciclo silvestre, enquanto o ciclo epidemiológico em que o mosquito se infecta em um humano e transmite para outro humano é chamada de arbovirose urbana. A domiciliação do hábitat e da preferência alimentar do vetor por humanos é a principal diferença entre o ciclo epidemiológico urbano, que e requer vigilância e permite medidas de manejo do vetor, e o silvestre, em que não é possível realizar manejos diretos com os hospedeiros e vetores (TAUIL, 2001; PEREIRA et al, 2013; SÃO PAULO, 2018; GOULD et al, 2018).

Todas as espécies de aedinis apresentadas já foram identificadas tanto nas áreas urbanas, parques e reservas naturais do ESP, sendo considerados potenciais vetores para ao menos um dos quatro agravos estudados nesse trabalho.

3.3.1 Gênero Aedes

Aedes compreende 900 espécies divididas em 44 subgêneros cuja taxonomia tem sido revista e revalidada utilizando também ferramentas moleculares, questionando-se quais caracteres representam grupos naturais válidos (FORATTINI, 2002). Estudos taxonômicos, genética de populações auxiliam a compreender aspectos como a relação e a capacidade vetorial das espécies para abarcar agentes causadores de arbovíroses, orientam estratégias de controle dos vetores e a compreender a relação evolutiva entre os vírus e vetores hematófagos (KRAEMER et al, 2015a; WILKERSON et al, 2015)

As espécies dessa família apresentam distribuição mundial, com 9 subgêneros naturais da região neotropical, a maior parte das espécies dividem-se entre Ochlerotatus, Howardina e Protomacleaya. O subgênero Stegomyia tem origem africana, porém o desenvolvimento de meios de transporte artificiais permitiu a inserção de duas espécies vetoras de grande importância epidemiológica, por sua elevada capacidade de adaptação ao ambiente antrópico: Aedes (Stegomyia) aegypti e Aedes (Stegomiya) albopictus. Estas espécies possuem grande

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27 capacidade adaptativa ao ambiente antropizado e a população é em regiões periurbanas e florestadas (FORATTINI, 2002; PIOVEZAN et al, 2017).

Os aedinis, em geral, apresentam diapausa sucedendo o desenvolvimento embrionário e antecedendo a eclosão das larvas. Os adultos são resistentes, com grande capacidade de vôo que favorece a dispersão de vetor e vírus, uma vez que as fêmeas são hematófagas com atividade diurna intensa. A oviposição não ocorre diretamente em meio líquido e sim em locais com capacidade potencial de se tornarem criadouros (NATAL, 2002; FORATTINI, 2002; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA et al, 2004). Diferentes espécies são hospedeiros naturais de diversas arboviroses e apresentam competência vetorial para abarcar outras, com foco especial nas arboviroses urbanas causadas pelos sorotipos de DENV, CHIKV e ZIKV e pela YFV que é transmitida no ciclo silvestre (PAHO/OMS, 2018).

Ae. Stegomiya aegypti

Podem ser infectados com os vírus da DENV dos sorotipos 1 – 4, Zika e Chikungunya e historicamente o vetor da Febre Amarela Urbana (FAU) até a erradicação em 1945, sendo uma das espécies mais estudadas da Entomologia Médica dada a sua importância. É um mosquito com distribuição cosmopolita, encontrado em regiões tropicais e subtropicais que dispersou-se por quase todos os continentes nas últimas décadas. Compartilha o hábito de oviposição dos aedinis, tem hábito extremamente ligados a áreas urbanas, sendo altamente antropofílico e domesticado. A adaptabilidade do vetor a regiões antropizadas com condições precárias de saneamento básico e crescimento urbano descontrolado, altas temperaturas e índices de chuva e, também, o processo de diapausa dos ovos, que permanecem viáveis por meses até que as condições ambientais sejam favoráveis, são alguns fatores ecológicos que favorecem a expansão do vetor, consequentemente, favorecendo a disseminação do vírus. (FRANCO, 1969; NATAL, 2002; FORATTINI, 2002; GOULD et al, 2018)..

O Ae. aegypti é reconhecido como a espécie de culicídeo mais associada ao homem, são encontrados em maior quantidade e frequência no intradomicílio e utilizam, apresentando maior dependência, recipientes artificiais como criadouros (NATAL, 2002) O ambiente parece exercer forte influência nas populações dessa espécie, que apresenta grande variabilidade genética como pode ser observado

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28 pelas diferenças entre a subespécie antropofílica e sinantrópica e o tipo ancestral silvestre, Ae aegypti formosus que ainda mantém as características silvestres e morfologia diferenciada (FORATTINI, 2002). Essa plasticidade genética pode explicar porque existe diferença na competência vetorial para os vírus que a espécie abarca de acordo com a população, podendo explicar a circulação de um vírus em detrimento de outro (LOURENÇO-DE-OLIVEIRA et al, 2004).

A importância desse vetor para compreender a emergência e reemergência da DENV, CHIKV, ZIKAV e de YFV no Brasil e, logo a sua circulação no ESP, é fundamental. A alta competência vetorial do mosquito para esses patógenos e sua dispersão até as Américas seguiu padrões parecidos, possivelmente graças às características ecológicas do vetor e seu deslocamento, moldando os ciclos epidemiológicos e o estabelecimento desses arbovírus (BRYANT et al, 2007;

FIGUEIREDO, 2017; GOULD et al, 2017).

Ae. Stegomiya albopictus

Conhecido.como "tiger mosquito", foi descrito na Índia e espalhou-se pelo mundo todo através do transporte intercontinental, sendo uma espécie invasora muito bem sucedida em vários países, ocorre do em todo Brasil, com presença relatada nas matas de diferentes biomas nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste (JULIANO E LOUNIBUS, 2005; BRASIL, 2014). Tem plasticidade comportamental para adaptar-se a diferentes ambientes, em áreas urbanas, periurbanas e rurais e não possui antropofilia acentuada, o que torna o controle vetorial dessa espécie ainda mais desafiador (TAUIL, 2001). Foi detectado no Brasil pela primeira vez em Minas Gerais, em 1986 (FORATTINI; GOMES, 1988). Alimentam-se preferencialmente de primatas, sejam PNHs ou humanos, com atividade diurna distribuída entre duas faixas de horário: 14 às 15 h e das 17 h às 18h, as fêmeas são fecundadas após a hematofagia. Tem preferência por criadouros à sombra, sejam ocos em árvores ou internódios de bambu ou recipientes artificiais (NEVES ; SILVA, 1989). Competição em recipientes para criadouros e alteração no número populacional na interação em locais em que há coabitação de populações de Ae.

aegypti e Ae albopictus já foi relatada (JULIANO; LOUNIBUS, 2005; PIOVEZAN et al, 2017).

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29 Por sua valência ecológica, é considerado com importância epidemiológica como um possível elo entre as áreas silvestres e urbanas por sua simpatria com o Ae aegypti que poderia desencadear um novo ciclo urbano de YFV (MARCONDES;

ALENCAR, 2010; BRASIL, 2014). Também apresenta competência vetorial para abarcar os vírus ZIKAV e CHIKV (CHOUIN-CARNERO et al, 2016; LOURENÇO-DE- OLIVEIRA et al, 2017).

Ae. Ochlerotatus scapularis

Maior atividade de picadas em períodos crepusculares, com pico entre as 17 e as 20 horas, no período de Julho a Agosto, época mais fria que antecede o período de chuvas e a eclosão dos ovos. Distribui-se no Sudeste do Brasil, incluindo o ESP. Ocupam áreas florestais e rurais, realizando oviposição na borda de buracos no chão, apresentam diapausa e ovos resistentes a dessecação. Tem o ciclo de vida relacionado com as chuvas, com densidade populacional maior nesse período.

São crepusculares, com maior atividade de picadas entre 17 horas e 20 horas, com picos as 18h, sobretudo nos meses mais frios, entre Junho e Agosto.

Essa atividade é similar em diferentes habitats, mas aumenta nos períodos que antecedem a estação chuvosa, para potencializar a ingestão de sangue e produção de ovos.

Apresentam maior densidade populacional em ambientes degradados e antropizados e menor em ambientes florestais preservados, em que a riqueza de espécies é maior. Por essa adaptabilidade, sua presença em regiões endêmicas com as quatro arboviroses tem aumentado. Tem competência vetorial para transmitir a FAS (FORATTINI; GOMES, 1988; DEGALLIER et al, 1993; GOMES et al, 2010;

LIRA-VIEIRA et al, 2013).

Ae. Ochlerotatus serratus

Distribui-se por todo Brasil. Naturalmente infectado com YFV, é considerado um potencial vetor no ciclo silvestre da doença (GOMES et al, 2013).

Ae Protomacleaya terrens

Com características ecológicas semelhantes ao Ae serratus, ocupando áreas florestais, mesmo em regiões urbanas, foi identificado como possível vetor

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30 para CHIKV e suspeita-se que possa abarcar YFV (ALENCAR et al, 2016;

LOURENÇO-DE-OLIVEIRA E FAILLOUX; 2017) 3.3.2. Gênero Haemagogus

Mosquitos de escamas coloridas e com tons metálicos cujo habitat são áreas de mata preservada e ambientes florestais. De hábito acrodedrófilo, ovipõem em buracos no dossel das árvores e, por isso as fêmeas realizam repasto muitas vezes em primatas, mesmo realizando hematofagia em diferentes espécies de vertebrados (MARCONDES, ALENCAR, 2010; GOMES et al, 2010). Entre as arboviroses são os grandes amplificadores do YFV, integrando o ciclo silvestre da doença (VASCONCELOS, 2001; GOULD et al, 2017).

Hg (Haemagogus) janthinomys

Considerado o principal vetor da Febre amarela silvestre (VASCONCELOS, 2001; MARCONDES; ALENCAR; 2010 e LIRA-VIEIRA et al, 2013). Encontrados quase exclusivamente em florestas tropicais primárias e ocupando o dossel das matas, ovipõem em diferentes alturas, em linha vertical e raramente descem ao nível do chão para picar, e apenas quando a floresta torna-se degradada (VASCONCELOS, 2001; LIRA-VIEIRA et al, 2013). Reproduz-se em buracos em árvores, entretanto as vezes é capturado em armadilhas de oviposição em bambus.

Também pode ser considerado reservatório pois foi observada a transmissão horizontal vetor-vetor por via sexual e transovariana GOMES et al, 2010). Isso pode contribuir para a manutenção do vírus em uma região dada a alta morbidade que PNHs na America sofrem. Distribui-se por boa parte do território brasileiro, especialmente na região Amazônica até Minas Gerais, ocupando florestas pluviais da região amazônica e limitada pela Mata Atlântica na região Sudeste. Também ocorre ao Norte da Argentina, Colômbia, Bolívia, Equador, Guianas, Peru, Suriname.

O maior período de atividade é durante o dia, no período da tarde (VASCONCELOS et al, 2001; GOMES et al, 2010; BRASIL, 2014)

Hg (Conopostegus) leucocelaenus

Vetor secundário do YFV no Brasil, mas muito presente no ESP, distribui-se pelo Brasil, Argentina e Paraguai. Em regiões em que não há presença de Hg

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31 janthinomys, na região Sul, ou quando há simpatria, no Nordeste, é a principal espécie vetora do vírus amarílico (BRASIL, 2014).

Possui hábitos comuns com Hg janthinomys, porém tem mais aptidão para ocupar ambientes sob condições adversas de uso do solo. Isso favorece a coabitação e interações com Ae aegypti e, principalmente Ae albopictus, possibilitando iniciar novamente o ciclo urbano da febre amarela. Tem atividade alimentar diurna, com picos entre 12 e 17 horas, com picos de atividade hematofágica nos meses de Outono e Primavera. Tem alimentação eclética, apresentando zoofilia e antropofilia, com preferência alimentar por primatas. Sua ecologia é ligada ao dossel florestal e o solo, utilizam diferentes alturas para se alimentar e realizar postura dos ovos em ocos de árvores em diferentes alturas entre, As fêmeas podem ainda se deslocar para locais distantes para se alimentar, penetrando em áreas periurbanas e rurais. Sua reprodução também depende do período chuvoso, com a eclosão ocorrendo em Janeiro e aumentando gradualmente com picos em Abril (MARCONDES; ALENCAR, 2010; GOMES et al, 2010;

ALENCAR et al, 2016; MUCCI et al, 2016 e TÁTILA-FERREIRA et al, 2016).

Hg (Haemagogus) capricornii

Ocorre da Bahia, ao Rio Grande do Sul e predomina na região Sudeste, acompanhando as formações de Mata Atlântica do Planalto (BRASIL, 2014). É quase indistinguível diferenciar as fêmeas de Hg capriicornii das Hg janthinomys, a diferenciação depende da genitália masculina (MARCONDES; ALENCAR, 2010).

Compartilham as características ecológicas das demais espécies apresentadas e a espécie pode também ocorrer em matas residuais, como as características do Cerrado (FORATTINI, 2002). A espécie é considerada potencial vetora de YFV e é simpátrica a Hg. janthinomys (MARCONDES; ALENCAR, 2010; BRASIL, 2014).

3.3.3 Gênero Psorophora

Vetores de diferentes arbovírus, nenhuma espécie foi confirmada como vetor no ciclo epidemiológico de nenhum dos quatro arbovírus, mas por compatilharem nichos e serem naturalmente infectadas com outros arbovírus, considera-se potenciais vetores (BRASIL, 2014).

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Psorophora Janthinosoma ferox

São considerados vetores potenciais por apresentarem infecção por YFV em locais com epizootias (GOMES et al, 2010) e são indicados como prováveis vetores do vírus Rocio (LOPES et al, 2014). O desenvolvimento das larvas ocorre em poças temporárias originárias de água de chuva, particularmente em áreas com matas, em poças transbordando ao longo de córregos e ocasionalmente em buracos nos leitos de riachos após chuvas, realizando oviposição e repasto sanguíneo no solo (LIRA- VIEIRA et al, 2013).

4. DESENVOLVIMENTO 5. METODOLOGIA

Esse trabalho é uma revisão bibliográfica, que pode ser qualificada como um estudo secundário que utiliza métodos abrangentes de revisão de literatura científica que possui como requisitos fundamentais a descrição detalhada dos métodos e dos critérios de seleção dos documentos incluídos, evidenciando a estratégia de busca.

Deve haver avaliação dos vieses na identificação e seleção dos estudos. A questão de pesquisa deve ser objetiva, com delimitação do tema e justificativa (BRASIL, 2018).

Foi realizado levantamento bibliográfico sobre as arboviroses consideradas como os agravos mais importantes no estado de São Paulo no período de 2013 – 2018 (dengue, febre de chikungunya, febre pelo vírus zika e febre amarela) e sobre a ecologia e biologia dos principais mosquitos vetores desses arbovírus. Utilizou-se os operadores booleanos (and e or) e os Descritores em Ciências em Saúde (DeCS): “Vetores Artrópodes”, “Insetos Vetores”, “Culicidae”, “Mosquitos”, “Aedes”,

“Arbovirus”, “Alphavirus”, “Febre Amarela”, “Zika vírus”, “Infecção por zika vírus”,

“Flaviviridae”, “Aedes aegypti”, “Vírus Chikungunya”. As palavras-chave selecionadas para a busca, a partir dos DecS foram: “Ecologia de Vetores”;

“Culicidae”; “Arbovirus”; “Flaviviridae” e “Togaviridae”.

A busca para o referencial teórico foi realizada nas bases de dados BVS - BIREME, PubMed, Scopus, Scielo, plataforma Google Scholar e também em informativos, boletins e relatórios disponibilizados online pelo Ministério da Saúde e OMS. A análise da circulação viral das quatro arboviroses foi realizada com levantamento de dados secundários dos casos confirmados de DENV, YFV, CHIKV

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33 E ZIKAV no estado no período descrito, obtidos no SINAN e também nos Boletins Epidemiológicos editados pelo CVE/CCD/SES/SP. Fichamento e análise dos textos pré-selecionados. O critério de exclusão foi que o assunto principal remetesse à eco- epidemiologia dos vetores e/ou descrição das características das arboviroses estudadas. Uso do gerenciador de referências bibliográficas Mendeley como ferramenta para edição das referências bibliográficas.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A busca resultou em 181 documentos, dos quais 57 foram selecionados como referencial teórico e fontes de dados secundários (n = 19). Discutiu-se como perfil epidemiológico de dengue, febre amarela, zika e chikungunya durante o período foi influenciado pelas características eco-epidemiológicas dos vetores e das condições climáticas.

6.1 Circulação de Arboviroses Urbanas associadas a Aedini no estado de São Paulo no período de 2013 – 2018

A circulação do sorotipos de DENV, de CHIKV e ZIKV está correlacionada à população e ao ciclo reprodutivo de Ae aegypti, que prolifera em ambientes urbanos e como consequência disso, a circulação desses três arbovírus no Brasil é predomina no ciclo urbano humano-vetor-humano e serão consideradas arboviroses urbanas, conforme a classificação adotada no Plano de Contingência do Estado de São Paulo (2018).

6.1.1 Dengue

Em 2014, o Brasil adotou a nova classificação de casos da Organização Mundial da Saúde para identificação e diagnóstico de DENV: Dengue, Dengue com Sinais de Alarme e Dengue Grave. Em 2015 foi registrado no Brasil o maior número de casos prováveis de Dengue, com o Sudeste apresentando o maior número de casos. O ESP foi o estado mais impactado pela circulação de DENV nesse ano: foi a UF com maior incidência geral, todos os municípios que apresentaram maior incidência por estrato populacional se localizam no estado e teve o maior número de casos graves (n=625/15.000) e de óbitos (n=504/986) (BRASIL, 2015).

(34)

34 Durante o ano de 2016, o país registrou discreta queda no númeto de casos e óbitos (n=642). A região Sudeste em conjunto com o Centro-Oeste registrou as maiores taxas de incidência. O ESP teve redução nos casos notificados e no número de óbitos, 104, em relação a 2015. Em 2017, DENV reduziu sua circulação no país e ESP acompanhou essa tendência, com queda de casos notificados e óbitos (n = 5).

Em contrapartida, em 2018 houve um surto no ESP, registrando quase o dobro de casos do ano anterior, conforme-se na Tabela 1.

Na Tabela 1 pode-se observar a flutuação da circulação e da incidência de DENV no Brasil e no ESP, nos anos 2013 até 2018.

Tabela 1 - Casos prováveis e incidência de Dengue durante o período de 2013-2018 no Brasil e no ESP

Legenda: SE - última Semana Epidemiológica com registro de casos

Fonte: Próprio autor, a partir dos dados obtidos via SVS/MS, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018.

6.1.2 Chikungunya

O monitoramento iniciou-se em 2013 após o primeiro caso autóctone no Brasil ser registrado. Foram confirmados 2196 casos autóctones no país e nenhum em ESP. Em 2014, a circulação de CHIKV predominou no Nordeste, expandindo-se para o Centro-Oeste, com óbitos registrados entre idosos (entre 75 – 85 anos).

Durante o ano 2015, essa tendência foi mantida e casos autóctones foram registrados no ESP. Em 2016 CHIKV se dispersou pelo país, casos foram registrados em todos os estados, a taxa de incidência maior continuou na região nordeste. Porém, nos últimos dois anos (2017 e 2018) houve queda no número de casos em todo país, mas a taxa de incidência maior passou a ocorrer no Sudeste, no RJ, os dados estão apresentados na Tabela 2.

ANO SE

Brasil São Paulo

2013 53 1.452.489 716,2 220.921 501,7

2014 53 591.080 291,5 226.040 513,3

2015 52 1.688.688 826 745.622 1679,5

2016 52 1.500.535 733,4 202.896 459,1

2017 52 232.372 111,5 8.490 18,6

2018 48 241.664 115,9 17.157 37,7

Casos Prováveis

Incidência (100.000 hab.)

Casos Prováveis

Incidência (100.000 hab.)

(35)

35 Tabela 2 - Casos prováveis e incidência de febre de Chikungunya durante o período de 2013-2018 no Brasil e no ESP.

Legenda: SE - última Semana Epidemiológica com registro de casos

Fonte: Próprio autor, a partir dos dados obtidos via SVS/MS, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018.

6.1.3 Zika

A detecção autóctone confirmada de ZIKAV no Brasil ocorreu em Abril/2015, incluindo casos no ESP. Entre a SE 45/2015 e 52/2017, no estado foram confirmados 155 casos do total de 3071 casos no resto do país. O vírus se deslocou do Nordeste para a região Sudeste, onde tem apresentado maior número de casos em SP e RJ, em 2016 e 2017. Atualmente as maiores incidências de casos de infecção por ZIKAV permanecem nessas regiões, ainda que tenha apresentado queda desde 2017. Em relação a casos suspeitos, atualmente sendo investigados, o ESP está entre os estados que apresentaram maior incidência: recém-nascidos e crianças (12,6% de 2574 casos no Brasil); fetos, abortos espontâneos e natimortos (68 de 316 casos); e 36 óbitos neonatais, fetais e infantis (BRASIL, 2015; 2017;

2018).

ANO SE

Brasil São Paulo

2013 - - - - -

2014 48 15.819 - 0 0

2015 50 36.259 17,7 310 0,7

2016 50 276.821 134,3 4.710 10,5

2017 50 184.344 88,4 532 1,2

2018 48 84.294 40,4 796 1,7

Casos Prováveis

Incidência (100.000 hab.)

Casos Prováveis

Incidência (100.000 hab.)

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