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Reciclar é preciso Contra toda forma de preconceito. Editorial

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Academic year: 2022

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Alexandre Pag.1

Aperiódico OUT/2010

Editorial

Um lugar para contos, crônicas, textos, resenhas, artigos, entrevistas, poesias, fotografias, vídeos, músicas... Tudo que

vier na cabeça e o que passar pelo campo dos sentidos, trazendo reflexão e transformação. Um ambiente plural, a

favor da variedade e da diversidade de pensamentos.

Liberdade de expressão sempre, em todas as suas formas, cores e sabores.

www.rebococaido.blogspot.com

fsb1975@yahoo.com.br CX POSTAL: 100050, Niterói, RJ, Brasil, CEP

24020-971

C o n t a t o s :

Contra toda forma de preconceito

R E B O C O C A Í D O

Reciclar

é preciso

(3)

Pag.2

Aperiódico

Ao amanhecer, Everton já sabia quais eram as suas obrigações: Arrumar a cama, varrer a casa, cuidar dos irmãos, fazer comida, tomar banho e ir pra escola. O pai foi assassinado em uma emboscada, ar- mada por policiais para prender tra- ficantes. O infeliz, ferido por engano, se tornou traficante depois de morto.

Quando estava quase acabando os afazeres, Everton ouviu um barulho no telhado. Colocou a cabeça do lado de fora.

Apressado, fechou tudo. Estavam invadin- do o morro. Já era a segunda vez essa sema- na. Mandou os irmãos ficarem quietos no quarto. “Merda”! Zequinha estava na rua.

O barulho de fogos, misturado ao de tiros... O caveirão já vinha subindo. De- veria ser rápido em encontrar o irmão caçula. Ao descer as escadas do barraco, pode avistar de longe a figura franzina de Zequinha, segurando uma pipa e correndo em direção a sua casa pelo beco.

Zequinha foi ao chão... A pipa subiu aos céus... Everton viu sua vida mudar.... Nunca mais iria sonhar...

FIM

Um homem, depois de muito cambalear pelo centro de Niterói, caiu perto de uma rampa para deficientes físicos. Ficou por ali a falar

com o céu, até que adormeceu. Qual seu nome? Não perguntei. Mas, também, ninguém perguntou. Foi apenas mais uma

cena rotineira na cidade grande. Nada de mais.

Os mass media dirigem-se a um pú- blico heterogêneo, tendo de basearse em médias de gosto, evitando soluções origi- nais com a difusão do que já foi assimilado, trabalhando opiniões comuns e difundin- do uma cultura de tipo homogêneo. Ca- racterísticas culturais de diversos grupos são destruídas com a hogeneinização das culturas. Impondo mitos e símbolos de fá- cil universalidade, criam tipos, reduzindo ao mínimo a individualidade e o caráter concreto das experiências e das imagens.

O livro “Apocalípticos e Integra-

dos”, de Umberto Eco, destaca que “os mass media expõem as emoções já confeccionadas ao invés de as sugerirem”. O exemplo dado é a música, que serve mais como estímulos sen- soriais, que uma forma contemplável.

Ao seguir uma lei baseada no consu- mo, sustentada pela ação persuasiva da publi- cidade, os mass media sugerem ao público o que eles devem desejar. Todos os produtos são difundidos, nivelados e condensados a fim de não provocarem nenhum esforço por parte do fruidor, resumindo o pensamento em fórmulas e desencorajando a pesquisa de novas experiências. Isso reforça sua utilidade apenas como entretenimento e lazer, em- penhando apenas o nível superficial de nossa atenção e viciando nossa atitude.

Encorajando uma imensa corrente de informações, os mass media entorpecem a consciência. Mesmo ao assumirem modos exteriores de cultura popular, não crescem es- pontaneamente de baixo para cima, mas são impostos de cima para baixo.

Por: Fabio da Silva Barbosa

APOCALÍPTICOS VIDAS MORTAS

Por: Evandro Santos Pinheiro e Fabio da Silva Barbosa

Por: Fabio da Silva Barbosa

INDIFERENÇA

Mais uma cena rotineira da cidade grande

R E B O C O C A Í D O N° 1

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Pag.3 OUT/2010

Por: Fabio da Silva Barbosa

Sem apoio e sem espaço

Niterói (RJ) há muito tempo é conhecido por ter grande expressão artística. Nomes consagrados, como Baby do Brasil e Bia Bedran, nasceram na cidade e con-seguiram conquistar o país. Mas esse território tem se mostrado mais fértil do que se pensa. Nos diversos campos da arte, encontram-se pessoas empenhadas em fazer sua criatividade ultrapassar todas as barreiras, se transformando em um verdadeiro hino de resistência. Resistência a falta de espaço, de apoio e de tudo o que se possa precisar para um movimento cultural florescer.

Paulo Roberto Chumbinho, mo- rador de Niterói há quinze anos e ex integrante da banda Vitória Régia, define bem a situação: “São tantas as di- ficuldades que fica até difícil saber por onde começar. Espaço legal para tocar é uma dificuldade. Quando tem espaço, o cachê é inexpressivo. Às vezes a casa não tem equipamento e gera outro problema, que é o transporte para o equipamento.

Eu não tenho carro. Aí tenho de alugar um táxi ou uma kombi. Por aí vai.”

Outro exemplo desta resistência é Cris Saman. Escultor, dono de uma técnica única de dar forma ao barro, expõe atualmente suas obras no Bar Cobreloa, no Centro de Niterói, onde trabalha.

Saman explica que a falta de espaço para exposição é apenas uma das inúmeras dificuldades que encontra para fazer seu trabalho caminhar. De acordo com ele, o certo seria levar suas esculturas a um forno específico para o material que trabalha.

Como não tem acesso a isso, elas acabam quebrando quando há necessidade de transportá-las. Saman está fazendo parte de um vídeo chamado “Vida de Escultor”,

que pode ser encontrado no youtube e foi realizado por iniciativa de estudantes de comunicação social.

Um nome de peso, que também vem buscando sobreviver no meio, é o Ministro do Baião Zé de Mohura. Com muita luta e ajuda de Amigos, como Severino, ele pro- move eventos que buscam fortalecer a cultura nordestina na cidade. Durante o ano de 2007 e 2008 promoveu animadas “Do- mingueiras” no Bar do Paulinho, em Santa Rosa e em comunidades carentes da região.

Nesses eventos, além do tradicional Café da Manhã Nordestino, o sanfoneiro, Cigano do Forró, animava o final de semana dos que apreciam essa cultura. Seu livro de literatura de cordel, “Aquarela do Nordeste” já está na segunda edição e é distribuído pelo Próprio Mohura em seus eventos.

Falando em literatura, não poderíamos deixar de destacar Winter Bastos, autor de vários contos e textos, que teve seu primeiro livro publicado pela Editora Achiamé. “Malandragem, Revolta e Anarquia”, conta a história de três grandes nomes da literatura nacional que não se curvaram a formatos pré-estabelecidos e por isso foram jogados a marginalidade. Ele acredita que Niterói poderia valorizar mais seus artistas, mas argumenta que apesar de todo obstáculo, vale a pena escrever.

No cinema, um nome que não pode ser deixado de lado é o de Francisco Bra- gança, que produziu e lançou seu primeiro filme, “Beber, conversar e se der cantar”, de forma completamente independente. Quan- do perguntado sobre apoio e espaço para arte, a resposta é direta: “Você pode me responder quantos anos a Prefeitura e a Secretaria de Cultura passou sem lançar um edital de fomento para o audiovisual, para o teatro, para as artes visuais e plásticas?

R E B O C O C A Í D O Aperiódico

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Pag.4

Alexandre Mendes é outro que sofre com a falta de uma base sólida que apóie os artistas. Desenhista, Chargista e Cartunista, busca veículos alternativos e inde- pendentes para expor seu trabalho. Já produziu alguns projetos culturais, mas o excesso de burocracia torna inviável a

Dia desses, estava comentando com um amigo sobre aquela crônica do Luiz Fer- nando Veríssimo, chamada “O Nariz”. A es- tória é ótima e demonstra muito bem o que vivemos. Falta de personalidade e um culto ao “igual”. Nada pode deixar de estar pa- dronizado. Quem não conhece vale a pena correr atrás e conhecer, pois o que irei fazer não é uma resenha. Esse papo que estava tendo, foi apenas o início.

Bem... Aí, quando comentei sobre “O Nariz”, ele quis saber mais. Expliquei que era sobre um cara comum, que vê sua vida virar um inferno apenas por gostar de um nariz de borracha (uma daquelas máscaras que vem uns óculos, nariz e bigode junto) que viu em uma loja. Desse momento em diante, resolveu usar o adereço todo o tempo. Meu amigo não entendeu e achou que o cara estava querendo ser escroto.

Disse que isso era ridículo. Perguntou, ainda, o que o personagem poderia esperar.

Tentei explicar e sugeri que talvez fosse melhor que ele lesse o texto, mas ele não quis saber. Achou simplesmente impossível alguém gostar de usar um nariz de borracha só porque ele não conhecia ninguém que, se quer, achasse a idéia simpática.

Larguei-o mergulhado em suas certezas. Daquelas certezas que fazem parte de um mundo sem horizontes. Onde só o que existe é pobreza (interior) e repetição.

Como ele poderia ter acabado assim? Do mesmo modo que as pessoas que rodeavam

o cara descrito por Luiz Fernando. Depois de muito pensar, cheguei à conclusão de que não era culpa dele. Na verdade, fora enganado. Desde criança, nossos pais nos enganam. Tudo começa com Papai Noel e Coelhinho da Páscoa. Eles dizem ser impor- tante esse tipo de fantasia. A maioria aceita isso e repete para seus filhos e seus filhos para seus netos... Uma corrente de mentiras que é justificada por ser importante alimentar essas fantasias, que um dia, nós mesmos desmentiremos. Para que inventar coisas? Só para depois dizer que é mentira?

Com o crescimento, as mentiras vão se tornando um estilo de vida norteada por regras, criadas pelos mesmos que inven- taram Noés e Coelhinhos. Todos estão se esforçando para se enquadrar. As coisas têm de ser assim porque é assim que os outros fazem. Até os que se dizem diferen- tes, pertencem a um diferente padronizado.

Nada mais pode fugir a regra escrita ou dita (não se sabe por quem). Essa é a regra mor.

Criam-se religiões para lançar os infiéis ao inferno e modas para lançar quem prefere algo mais criativo ao ridículo. “Vamos ver como os outros fizeram para fazermos também e ver como eles se vestem para nos vestir do mesmo modo”

Certa vez, uma parenta estava feliz da vida com um paninho sobre a mesa, até chegar uma amiga, “pessoa de muito bom gosto”: “Usando esse tipo de paninho em cima desse tipo de mesa?” O paninho não teve chance. Sumiu e nunca mais foi visto

.

POR: FABIO DA SILVA BARBOSA

concretização destes. Em meio a tantas dificuldades, ele reflete sobre o papel de suas ilustrações neste cenário: “O desenho é pensado na forma de um livro aberto, buscando conscientizar as pessoas de pa- râmetros aceitos por nós desde a infância.

Esses nem sempre são corretos ou justos”.

ESTÃO ENGANANDO VOCÊS

R E B O C O C A Í D O N° 1

Aperiódico

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Pag. 5 OUT/2010

Diego EL

R E B O C O C A Í D O

“Meu nome é Diego El Khouri. Nasci em 21/03/ 1986. Descendente de libanês, filho da exclusão. Antes mesmo de andar, já esboçava vários desenhos e passei minha vida sonhando e respirando arte. Uma cri- ança excluída na infância e pré adolescência tanto na escola, quanto por alguns pa- rentes de “dinheiro”. Apanhava direto na escola por ser um moleque instrospectivo.

Nos meus desenhos e textos me vingava dos carrascos. Eu era o palhaço sem graça, que tinha taras estranhas e as escondia com um temor grande. Volta e meia as revelava na minha arte. Meu primeiro livro (não publicado) foi aos 8 anos de idade. Um livro de 100 páginas chamado REI VERGONHA, onde revelo meu ego, minhas inquietações e revoltas, além do desejo de amor e paz reinando em todo planeta. Uma visão idílica da sociedade.” Diego EL Khouri

Vamos começar por um assunto crítico:

Guerra. Fale sobre o Líbano, a região de onde originou sua família.

Meu avô, Jamil Hanna El Khouri, teve que abandonar seu país de origem, pois seu irmão mais velho, o então ministro do Líbano, Ibrahim Hanna El Khouri, que lutava pela unificação dos países árabes, foi considerado pelo partido de oposição como facista. Meu avô, depois de rodar o mundo todo, foi parar na cidade de Orizona (Goiás), em 1951. Se apaixonou por Zélia de Castro e se casaram. Tive outros parentes que também fugiram da guerra e vieram parar no Brasil. A cultura árabe é rica e digna. Respira arte e ale- gria, apesar de tudo. A guerra é apenas um lixo político que ainda sustenta suas paredes. Sempre vi a guerra como um lixo.

Ela tolhe os membros e destrói a beleza.

Mas a cadeia do mundo ocidental fere muito mais e é essa que eu vivo e que não tem mais cura.Minha essência está completamente ligada a exclusão, desde a minha infância, quando esboçava os primeiros desenhos. Minha vida é uma cadeia de loucos.Minha família sempre foi unida e desunida ao mesmo tempo. Ela é um dos alicerces de

minha arte; a minha dor, minha raiva, minha revolta.

Quando você escreve uma mensagem, em algum momento pensa no receptor?

Escrevo apenas para lavar minha alma, exorcizar minha dor e dizer que respiro.

Apesar de tudo, ainda respiro.

A verdade existe?

Hoje, pra mim, o que existe é a busca pelo

equilíbrio que a vida e alguns astros ne- gros me impedem de alcançar.

A vida tem sentido?

“As convicções são cárceres” como dizia o filósofo do martelo, grande Nietzsche, meu guru espiritual. Vivo sem os braços e pernas, totalmente mutilado. Anjo desnudo tragando a morte. Como um profeta bêbado, bebo vinho e saboreio o nada.

Prefiro ser esse ser pedante e demodé, totalmente sem graça. Às vezes caio numas e me vem um desespero brutal e cuspo na vida o pior que há em mim, minha vã

‘lucid nome

vers estro

nausea

bun tatura (Die Kh

“Tudo mor arruin .Sou um

frio pecad

de subalt se caralho.H

morto embria

.(Dieg Kho

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Pag. 6

EL Khouri

N° 1

Aperiódico

melancolia. Se a existência é sem sentido ou uma causa perdida, não me interessa mais. Prefiro dançar e abandonar correntes que me impossibilitam de caminhar.

Uma solução final.

Uma noite de extrema volúpia e poesia...

O sofrimento passado foi importante?

Importante para ter a clara noção que tudo passa rápido e temos que buscar aquilo que os gregos sonhavam:

Transformar a vida numa obra de arte.

Mesmo sendo um milagre vivo da ciên- cia, vi a Morte de per- to e ouvi dos médicos

“fim de linha”. Vi no rosto de familiares o prazer de me ver fra- quejar. Mesmo assim, me sinto em ação. A dor me leva à poesia e a arte, e eu a abraço sem medo. Sentindo as vezes repulsa e desespero, mas entre um sonho e uma punheta, tudo continua em total harmonia com os clowns do universo, os deuses de barbas e metralhadoras nos dentes.

A poesia para você:

A única capaz de não me levar ao suicídio.

Fale sobre sua pintura.

É uma continuação de minha poesia. Gosto de encarar a arte como uma espécie de laboratório. Experimento tudo. Todas as

técnicas. Até desenho com sangue próprio já fiz. Este, inclusive, expus no Teatro Basileu, França, nesse ano. O resultado, às vezes, soa estranho... Às vezes indiges- to... Bebi na fonte de mestres como Modigliani e Frida Kahlo as cores de mi- nha própria carecterística.Também encaro a pintura com uma salvação.

Os fanzines:

Uma noite de bebedeira e pronto. Criei o fanzine chamado Vertigem, com algus amigos. Empolgado e com a ajuda da internet, divulguei no Brasil todo. Mas, percebi o descaso dos membos. Queriam que o negócio rendesse, mas não corriam atrás. Depois de um tempo, saí do projeto e sem mim ele morreu. Entrei em outro.

Uma bosta! E nada! Foi um longo perío- do. Entrei em projetos de pintura que não renderam nada. Aprendi a trabalhar só.

Como sou leigo em computador, dependia dos outros. Passaram os dias e fui dese- nhando, escrevendo e tal. Chegou um mo- mento que resolvi comprar, no susto, um computador e lancei o zine CAMA SURTA, o “folhetim coprofágico filosófico desim- portante” como costumo dizer. Foi num período de críticas e reflexão. É um zine que pretende combater a arte extrema- mente racional dos dias atuais. Uma volta à um certo parnasianismo. Um parna- sianismo corcunda e sem graça.

Projetos:

Continuar editando meu zine e publicar meu primeiro livro de poesias em 2011.

Fui!!!

Tenho problema terrível com o fim. Sempre me corta a alma. Melhor abrir uma cerveja e ver no que vai dar.

cidez sem e erso sem

o câncer seabundo

unda de rana’

iego EL Khouri)

udo tudo orto - uinado -

um anjo io sem cado.Um

deus alterno e

sem ho.Homem

to torto e riagado”

iego EL houri)

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OUT/2010 Pag 7

Severino acordou cedo. Depois de tanto tempo desempregado, conseguiu um quebra galho para comprar o leite das crianças.

O primo do amigo que conhece o candidato X, arrumou para ele ficar carregando uma pla- ca com a foto do candidato pela cidade. Che- gou na hora marcada e pegou a placa.

O dia passava enjoado. A esquina, on- de devia ficar, não era das melhores. Nenhuma marquise ou proteção. Apenas o Sol na cabeça e aquela placa a lhe olhar. Era uma cara di- ferente da sua. Uma cara bem tratada, com to- dos os dentes na boca... Parecia outro bicho.

Até a camisa era bonita... Dava para ver só a gola e o botão de cima. Do que será que ele ria? Severino deu a volta na placa.

- Tá rindo di que? É di mim?

A cara continuava olhando. Sorriso matreiro, cabelo delicadamente esculpido...

- Ta rindo di que? Mi responde! Sô sujeito homi! Mi respeita!

Severino percebeu que aquele olhar, aparentemente amigo, escondia certo ar de superioridade. Coçou a cara magra e barbuda, olhando a pele lisa. O filho da puta não tinha uma marca ou cicatriz. Como ele fazia para deixar o rosto tão lisinho? E se a carranca era assim, imagina a mão...

- Você nunca pegô em cabo de inchada, né, o vagabundo? Nunca levô sova di vara nas pernas quando criança... Nunca levô sova da polícia depois di homi.. O pé deve se a merma merda. Tudo fininho. Nunca andou dis- calço em rua di chão, pulando vala pra chegar em casa. E lumbriga? Nunca deve te tido tam- bém. Se teve, nunca contô pra ninguém, né?

Tinha alguma coisa naquele sorriso que estava irritando Severino. Ele não parava de rodear a placa.

- Para di ri, filho da égua! Para di ri!!!

Não percebeu as pessoas que paravam para apreciar a cena, nem os

Mais um dia de campanha

Por: Fabio da Silva Barbosa motoristas que passavam de vagar, olhan- do. Tirou a faca que levou para descascar laranja durante a descida do morro.

- Vô ensiná a não caçoá dum homi.

Severino avançou com toda a raiva que tinha daquele monstro caçoador, que ficava rindo não só dele, mas de todos que acordavam cedo e não tinham hora para dormir. De todos que mais traba- lhavam e menos tinham direitos.

- Toma...

Gritava descendo a faca, chu- tando, socando e espatifando tudo.

- Calma...

Gritou um pedestre, tentando segurar Severino.

- Mi solta.

Babou Severino passando a faca na mão do pedestre.

- O filho da puta me cortou.

- Chama a polícia....

- Ele deve estar bêbado...

- Ele tá é drogado...

Severino girava, olhando para aquele mar de gente. Ele estava bêbado, mas era de raiva. Não era de álcool, não.

- Ninguém encosta em mim!!!

Um cara grandão, que estava atrás dele, pulou em suas costas, conseguindo controlar a fera. Os demais aproveitaram e partiram para cima.

- Pega...

- Bate...

- Mata...

- O que tá acontecendo aí? Que merda é essa?

O policial chegou empurrando todo mundo. Quando alcançou Severino, viu apenas o corpo no chão, a faca na barriga e os dedos mexendo bem devagar. Um leve sorriso despontava no rosto de Severino.

Ao menos ensinara uma boa lição ao safado. Podia ir em paz.

R E B O C O C A Í D O Aperiódico

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Pag. 8

Como Nasrudim criou a verdade

Contos Sufi de Nasrudin .

Estas leis não tornam melhores as pessoas”, disse Nasrudin ao Rei; “elas devem praticar certas coisas de forma a sintonizarem-se com a verdade interior, que se assemelha apenas levemente à verdade aparente.”

O Rei decidiu que poderia fazer que as pessoas observassem a verdade – e o faria. Ele poderia fazê-las praticar a autenticidade. O acesso a sua cidade era feito por uma ponte, sobre a qual o Rei ordenou que fosse construída uma forca.

Quando os portões foram abertos ao alvorecer do dia seguinte, o Capitão da Guarda estava postado à frente de um pelotão para averiguar todos os que ali entrassem. Um édito foi proclamado:

“Todos serão interrogados. Aquele que falar a verdade terá seu ingresso permitido.

Se mentir, será enforcado.”

Nasrudin deu um passo à frente.

“Aonde vai?”

“Estou a caminho da forca”, respondeu Nasrudin calmamente.

“Não acreditamos em você!”

“Muito bem, se estiver mentindo, enforquem-me!”

“Mas se o enforcarmos por mentir, faremos com que aquilo que disse seja verdade!”

”Isso mesmo: agora sabem o que é a verdade: a sua verdade!”

BALADA

ESSA LETRA É PARA SE OUVIR ACOMPANHADA DE UMA VOZ ÉBRIA E UMA VIOLA DESAFINADA.

Por: Fabio da Silva Barbosa Escuto sons estridentes Parece um terremoto

Me agito pensando que é um novo som underground,

mas são só bombas lançadas pelo império .A vida vai passando através dessa vitrine

Rodando nas calotas dos carros Quero apenas resistir

por mais alguns segundos.

As cidades estão decadentes No campo a violência explode Estou apenas caminhando

Observando alguns corpos sem vida.

A vida vai passando através dessa vitrine Rodando nas calotas dos carros

Quero apenas resistir por mais alguns segundos.

O ser humano parasitando o planeta Parecem vírus devastadores Não me resta mais nada a fazer, além de repetir esse refrão.

A vida vai passando através dessa vitrine Rodando nas calotas dos carros

Quero apenas resistir por mais alguns segundos

R E B O C O C A Í D O N° 1

Aperiódico

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Pag 9 OUT/2010

Por: Fabio da Silva Barbosa

Rabiscando

A gramática se tornou mais uma forma de controle. Quem não escreve segundo seus mandamentos, está fora do circulo dos inteligentes. Lembrando que a língua serve para se comunicar e o povo não precisa da gramática para tal, então deixo a gramática de lado, escrevo como bem entender e uso a língua para fazer careta (careta de colocar língua para fora, porque a arte de careta, no sentido de caretice, deixo para os inteligentes).

Gente tida como inteligente me parece cada vez mais sacal e limitada. Tenho preferido a inteligência dos tidos como ignorantes.

A hierarquia é a base da desordem.

Afinal, ela dificulta

quem está em baixo criticar quem está em cima.

Logicamente, então, quem está em cima fará o que quiser sem se preocupar tanto.

A lógica social e de convivência me impulsiona cada vez mais em direção a falta

de sentido. O sem sentido tem sido muito mais compreensível que

toda essa organização desorganizada.

A política partidária tem se infiltrado em todos os meios, sufocando a verdadeira política, até conseguir matá-la de asfixia. Precisamos de jardineiros, com urgência, para eliminar essa erva daninha.

A moda é a prova cabal de que a sociedade manipula o individuo, roubando dele toda característica que pode ser chamada de própria. O Ser deixa o campo subjetivo para se tornar mais um produto na prateleira, ao ponto de os que estão na contramão seguirem a moda apropriada para os da contramão.

R E B O C O C A Í D O Aperiódico

(11)

Pag 10

Por: Fabio da Silva Barbosa

- Políticos Partidários:

Com profundos conhecimentos de ilusio- nismo e teatralidade eles conseguem tudo o que querem. Provam que 2+2=5, que água é sólido, que a política partidária é a forma mais eficaz de política e que Deus está sempre do lado de quem vai vencer.

Doutrina: “Faço só o que me der voto!”

Vida em grupo: Se reúnem em partidos.

De acordo com a conveniência fazem pactos com outros partidos, mesmo não sendo compatíveis com o que dizem pen- sar. Existem tipos migratórios neste grupo.

- Alienados:

Esse grupo humano pode ser identificado principalmente por usar seu cérebro ape- nas como recheio do crânio. Pensar é sem- pre algo doloroso. Qualquer forma de ra- ciocínio se compara ao sofrimento eterno.

São presas fáceis para os Políticos Partidá- rios e outros grupos que não serão trata- dos nesse trabalho, como os Publicitários e os Apresentadores de Televisão. Pode- mos dizer que vieram ao mundo e perde- ram viagem. Costumam ser chatos e cansativos.

Doutrina: “Ddddddããããããããããããããããããã Vida em grupo: Passam os dias entre a perda de tempo e a conversa fiada.

- Fanáticos:

Existem diversos tipos de fanáticos.

A BIZARRA FAUNA HUMANA

Dos animais mais bizarros encontrados na fauna de nosso planeta, com certeza, o de maior destaque é o ser humano. Ele se divide em vários grupos e subgrupos. Veremos aqui alguns exemplos desse ser para termos uma visão geral de como se comporta tal criatura.

Talvez seja o grupo que apresente maiores variações. As duas maiores variações de fanáticos são os Religiosos e os Ideológicos.

De acordo com o grau de fanatismo do grupo eles podem se tornar extremamente violentos e até letais. Uma coisa é certa: Se você ver um fanático, saia de perto, pois mesmo os amistosos conseguem ser mais chatos e cansativos que os Alienados.

Doutrina: “Eu estou certo”

Vida em grupo: Vivem exclusivamente para seu grupo. O horizonte nunca vai além dele.

- Competidores:

Compete com tudo e com todos. Quer sempre ser o melhor. Se existe algo que não possa fazer, mostra o desdém para justificar sua ausência no primeiro lugar.

Doutrina: “Eu sei! Eu tenho! Eu sou o melhor!”

Vida em grupo: Loucura total. Muito difícil conviver com essa espécie.

- Acumulador:

Esse tipo tem como principal característica acumular tudo que puder. Ele precisa ter. Ter é o ato mais importante de sua existência. A própria razão da vida. Ter ao máximo de tudo que possa existir.

Doutrina: “Existe... Logo... Quero ter!”

Vida em grupo: Ele quer sempre ter tanto quanto, ou mais que, seus companheiros.

É um subgrupo derivado dos competidores.

R E B O C O C A Í D O N° 1

Aperiódico

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Este livro é o registro da produção anual do fanzine O Berro, fruto do esforço comum de três amigos que acreditaram num meio de comunicação inovador, plural, crítico e participativo. Surgido em Niterói (RJ), o veículo alcançou diversas partes do país via correio, mostrando a vitalidade da mídia impressa underground, mesmo numa época de aparente onipotência da internet.

Ao longo do ano, a publicação continuou independente e mensal, apesar de todas as dificuldades de se manter um meio de comunicação alternativo. Continuou produzida por Fabio da Silva Barbosa, Alexandre Mendes e Winter Bastos, mas teve como colaboradores: Aline Naue, Anita Rink, Eduardo Marinho, Francisco Bragança, Renata Machado Seti Rodrigues e Tânia Ribeiro Roxo. E, graças a todos, continua firme e forte.

Nas 264 páginas, o leitor encontra charges, crônicas, entrevistas exclusivas, contos e poesias que visam expressar idéias da cultura alternativa. Com par- ticipações inéditas de personalidades da música, do cinema e da literatuta nas entrevistas (como o cantor Kid Vinil, o cartunista Latuff, o cineasta Cacá Diegues, o escritor Glauco Matoso, as bandas de Rock Os Replicantes, Cólera, etc), o fanzine O Berro se destacou pela irreverência e originalidade.

Foram 12 números de revolta, arte, crítica, poesia, política, cinema, literatura, vida: 365 dias de furor, fibra e fúria, agora reunidos em um livro com acabamento primoroso da Editora Independente (Brasília/DF) num lançamento ousado, repleto de experimentalismo e perso- nalidade.

Um ano de Berro é cultura alternativa por escrito, ao alcance de todos que o desejam

conhecer. Portanto abram as páginas des- ses 365 dias de fúria, assim como as portas e as possibilidades de sua mente. Estranho é apenas aquilo que você ainda desconhece.

Para adquirir o seu exemplar, basta acessar o site da Editora Independente:

www.editoraindependente.com.br

Autor: BARBOSA, Fabio da Silva;

VASCONCELLOS, Alexandre Mendes de;

GUEDES JÚNIOR, Winter Bastos.

Editora: Editora Independente ISBN: 9788590967132

Ano da Edição: 2010 Edição: 1ª

Formato: 14 x 21 Páginas: 264

Acabamento: Brochura Costurada

UM ANO DE BERRO - 365 dias de fúria

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