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Processo 3476/2007-2

Data do documento 31 de maio de 2007

Relator Sousa Pinto

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Alegações > Notificação

SUMÁRIO

A notificação das alegações à contraparte deverá ser efectuada pela secretaria do tribunal, pois que tal peça processual não se enquadra na previsão do art.º 229.º-A, n.º 1, do Código de Processo Civil, uma vez que não se trata de articulado ou requerimento autónomo, de que fala o preceito.

(J.P.)

TEXTO INTEGRAL

Acordam neste Tribunal da Relação de Lisboa,

I – RELATÓRIO

T – F A C, intentou acção declarativa de condenação sob a forma de processo sumário contra C C A C, sendo que na mesma veio a ser proferida decisão com a qual a A. não se conformou, tendo dela recorrido.

O recurso foi recebido e a recorrente apresentou as suas alegações.

Por despacho 08/06/2005, o Senhor Juiz determinou que se notificasse a recorrente para juntar documento comprovativo da data da notificação à parte contrária da apresentação da alegação.

A A. discordando desse despacho veio dele recorrer, sendo esse o recurso que ora temos em apreciação.

No âmbito do mesmo apresentou a agravante as seguintes conclusões:

1) O artigo 229º-A, nº 1, do Código de Processo Civil impõe apenas a notificação, pelo mandatário judicial da apresentante ao mandatário judicial da contraparte dos articulados posteriores à contestação e dos requerimentos autónomos;

2) O artigo 151º do Código de Processo Civil define articulado como as peças em que as partes expõe os fundamentos da acção e de defesa e formulam os pedidos correspondentes e, assim, apenas são

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articulados a petição, a contestação, a réplica, a tréplica, a resposta à contestação e o articulado superveniente;

3) As alegações nos recursos são as peças forenses em que as partes, recorrentes e recorridos, sustentam os seus pontos de vista, são as peças forenses em que recorrente e recorrido consignam os fundamentos da pretendida confirmação ou não confirmação da decisão impugnada;

4) As alegações no recurso não são nem articulados nem requerimentos autónomos;

5) As alegações de recurso não estão incluídas no nº 1 do artigo 229º-A do Código de Processo Civil

6 ) O artigo 229º-A, nº 1, do Código de Processo Civil deve e tem que ser interpretado nos termos e de harmonia com o disposto no artigo 9º do Código Civil, designadamente não podendo ser considerado pelo interprete o pensamento legislativo que não tenha na letra da lei um mínimo de correspondência verbal, ainda que imperfeitamente expresso;

7) Aliás, o requerimento de interposição de tal recurso foi apresentado nos autos aos 15 de Março de 2005 e as respectivas alegações de recurso de apelação foram apresentadas nos autos pela ora agravante, aos 13 de Maio de 2005;

8 ) A Revogação/renúncia ao mandato por parte dos mandatários judiciais dos RR, ora recorridos, foi notificada ao mandatário da A, ora recorrente, e passou a produzir os seus efeitos a partir de 22 de Janeiro de 2005;

9) Assim, ainda que se entendesse que as alegações de recurso estão sujeitas à regra do nº 1 do artigo 229º-A do Código de Processo Civil, o que se refere a titulo meramente académico e por mero dever de patrocínio, sempre não havia que notificar qualquer mandatário, pois que os mandatários dos RR, haviam renunciado já, há muito, ao mandato que lhes havia sido conferido pelos RR., ora recorridos, e não há que notificar ex-mandatários.

10) A decisão recorrida, ou seja o despacho de fls. , violou, pois, frontalmente o disposto no artigo 229º-A, nº 1, do Código de Processo Civil, o disposto também nos artigos 39º e 151º, ambos do mesmo diploma legal e, igualmente, o disposto no artigo 9º do Código Civil, donde impor-se a sua revogação e a sua substituição por despacho que reconheça que as alegações de recurso não têm que ser notificadas, pelo mandatário judicial da apresentante ao mandatário judicial da contraparte e muito menos nos presentes autos atenta a revogação/renúncia pelos mandatários dos RR, ora recorridos, ao mandato que por estes lhes fora concedido, assim se fazendo JUSTIÇA.

Não foram apresentadas contra-alegações.

O Ex.mo Senhor Juiz do Tribunal de 1.ª instância proferiu despacho de sustentação.

Foram colhidos os vistos legais.

II – DELIMITAÇÃO DO OBJECTO DO RECURSO

O objecto do recurso acha-se delimitado pelas conclusões das respectivas alegações, nos termos dos artigos 660º, nº 2, 664º, 684º, nºs 3 e 4 e 690º, nº 1, ex vi do artigo 749º, todos do Código de Processo Civil (CPC).

Está em causa no presente agravo saber se a expressão “articulados e requerimentos autónomos” a que

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alude o art.º 229.º-A, n.º 1, do Código de Processo Civil[1], engloba ou não as alegações e contra- alegações, isto é, se obriga a que tenham de ser as partes a efectuar entre si as respectivas notificações de apresentação das mesmas.

Subsidiariamente, suscita ainda a agravante a questão de não haver que notificar qualquer mandatário, pois que os mandatários dos RR, haviam renunciado já, há muito, ao mandato que lhes havia sido conferido pelos RR., ora recorridos, e não há que notificar ex-mandatários.

III – FUNDAMENTOS

A questão principal a decidir (e como veremos não se revelará necessária a apreciação da subsidiária) é de direito, sendo que a factualidade que interessa ter em consideração é a que resulta do relatório.

Como referimos supra, importa saber qual a melhor interpretação a dar ao n.º 1 do art.º 229.º-A, mormente na questão de saber se a expressão “articulados e requerimentos autónomos” de que aí se fala, engloba ou não as alegações e contra-alegações.

Vejamos.

O Dec.-Lei 183-A/2000 de 10 de Agosto aditou ao C. P. Civil as seguintes disposições:

Art. 229.º-A:

“1- Nos processos em que as partes tenham constituído mandatário judicial, todos os articulados e requerimentos autónomos que sejam apresentados após a notificação ao autor da contestação do réu, serão notificados pelo mandatário judicial do apresentante ao mandatário judicial da contraparte, no respectivo domicílio profissional, nos termos do art. 260.º-A.”

Art.º 260.º-A:

“1- As notificações entre os mandatários judiciais das partes, nos termos do art. 229.º-A, são realizadas por todos os meios legalmente admissíveis para a prática dos actos processuais, aplicando-se o disposto nos artigos 150.º e 152.º”.

Como referimos, coloca-se hoje a questão de saber se a notificação das alegações à contraparte deverá ser feita entre mandatários, ou se deverá ser realizada pela secretaria do tribunal.

A questão coloca-se, na medida em que o apontado art.º 229.º-A não prevê expressamente que tais peças processuais devam ser notificados pelo mandatário do recorrente ao mandatário do recorrido.

Uma parte da jurisprudência tem defendido que essa notificação deve ser feita entre os mandatários das partes, por genericamente considerarem que o legislador, nas alterações legislativas que efectuou - através do Dec.-Lei n.º 183-A/2000 - pretendeu desonerar os tribunais da prática de actos de expediente que possam ser praticados pelas partes e visou criar mecanismos de uma maior celeridade processual.

Tendo em vista tal desiderato, terá pretendido englobar as alegações e contra-alegações no âmbito da previsão do citado n.º 1 do art.º 229.º-A, entendendo que se tratam de peças processuais equiparadas a articulados e requerimentos autónomos. Justificam a omissão da referência expressa a essas peças, com a circunstância do legislador seguir “… muito de perto, no seu pensamento e na sua expressão, o carácter declarativista do Código, o que significa que têm mais presente a disciplina dos articulados, da discussão e do julgamento, deixando de fora a fase do recurso, menos frequente nos processos.” (Ac. da Rel. de

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Coimbra de 12/04/2005, em que foi relator o Senhor Desembargador, Dr. Rui Barreiros, in www.dgsi.pt ).

Como defensores da tese de que as alegações e contra-alegações deverão ser notificadas entre os mandatários das partes, encontramos, entre outros, o Acórdão do STJ, de 13 de Julho de 2004 relatado pelo Senhor Conselheiro, Dr. Quirino Soares, in www.dgsi.pt, que, por sua vez, seguiu a posição do Acórdão do mesmo Tribunal de 26 de Fevereiro de 2004, recurso de agravo 3134/03, da 2ª secção; e também a seguida pelos Acórdãos da Relação de Coimbra de 21 e 22 de Junho de 2004, relatados pelo Senhor Desembargador, Dr. Isaías Pádua e de 22 de Maio de 2002 relatado pelo Senhor Desembargador, Dr.

Custódio Costa.

Consideramos no entanto não ser essa a melhor interpretação a fazer do apontado n.º 1 do art.º 229.º-A, do CPC.

Com efeito, entendemos ser forçado considerar que alegações e contra- -alegações possam ser equiparadas aos articulados ou requerimentos autónomos de que fala aquele preceito.

Como se refere no acórdão da Relação de Coimbra de 10/05/2005 [em que foi relator o Senhor Desembargador, Dr. Garcia Calejo - in www.dgsi.pt], também nós consideramos “… que as alegações e contra-alegações não são requerimentos autónomos. Também não podem ser englobadas na terminologia de articulados. Isto, em primeiro lugar, porque processualmente (e portanto rigorosamente) articulados são, como se sabe, as peças processuais em que as partes expõem os fundamentos da acção e da defesa e formulam os pedidos correspondentes (art. 151.º n.º 1 do C. P. Civil) e, nesta conformidade, as alegações e contra-alegações não podem ser aí abrangidas. Além disso, ainda que se queira entender como articulados todas as peças processuais elaboradas obrigatoriamente em artigos, mesmo assim as alegações e contra- - alegações não podem ser assim consideradas, visto que elas não necessitam de ser realizadas articuladamente (art.º 690.º do mesmo Código).”

Para além deste argumento de ordem literal, dois outros surgem que quanto a nós assumem particular importância.

Um, tem a ver com os princípios inerentes à interpretação da lei. Com efeito, nos termos do disposto no art.º 9.º do Código Civil, o intérprete deve presumir que o legislador soube exprimir o seu pensamento em termos adequados, sendo por isso algo abusivo sustentar que o legislador ao fazer referência a articulados e requerimentos autónomos, terá pretendido neles englobar as peças processuais alegações e contra- alegações.

Trata-se com efeito de realidades que em técnica jurídica têm natureza distinta, sendo que o legislador noutro normativo quando quis falar em alegações e contra-alegações, fê-lo expressamente, autonomizando-as dos articulados. Reportamo-nos ao n.º 1, do art.º 150.º do CPC (na redacção do mesmo Dec.-Lei 183/2000 que esteve na base do art.º 229.º-A que aqui se discute). Se o fez aí porque razão não o faria também neste último normativo?

Outro argumento colhe-se do facto de, nem tudo o que provém dos escritórios dos advogados ser por eles notificado à contra-parte.

Com efeito, quer as petições iniciais, quer as contestações, são notificadas pela secretaria.

Ora, se é certo que quanto à petição inicial sempre se poderá dizer que a parte não poderia notificar o advogado da contraparte porque o mesmo não está então ainda constituído, já o mesmo se não poderá

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dizer da contestação, pois que aí já se conhece o subscritor da petição inicial.

É curial pensar que o legislador para as peças processuais mais relevantes e que podem ter efeitos mais significativos para as partes, pretendeu que as notificações das respectivas apresentações fossem realizadas pelo próprio tribunal, dando assim mais garantias de segurança aos litigantes.

Ora, na esteira deste entendimento, dada a reconhecida importância que assumem as alegações no seio do processo, será legítimo pensar que o legislador quis dar o mesmo tratamento a tais peças processuais que deu à petição inicial e à contestação.

Uma última questão de ordem prática pode ainda ser colocada; prende- -se esta com o facto das alegações apresentadas poderem ser extemporâneas ou não chegarem sequer a ser entregues. Nessas circunstâncias, a ser notificada tal peça directamente entre mandatários, levaria a que a contra-parte tivesse de apresentar as suas contra-alegações, o que se traduziria num ónus desnecessário.

Caso a notificação seja feita pelo tribunal, tal não ocorrerá pois que haverá despacho prévio julgando o recurso deserto.

No sentido da posição por nós defendida poderão ver-se os Acórdãos do STJ de 28 de Outubro de 2003, relatado pelo Senhor Conselheiro, Dr. Afonso de Melo, de 19 de Fevereiro de 2004, relatado pelo Senhor Conselheiro, Dr. Ponce de Leão., os Acds. da Relação de Coimbra de 29/05/2001, em que foi relator o Senhor Desembargador, Dr. Serra Baptista e de 10/05/2005, supra citado e ainda da Relação de Lisboa de 13/12/2001, em que foi relator o Senhor Desembargador, Dr. Ilídio Sacarrão Martins. Doutrinariamente perfilham este entendimento os Drs. Miguel Teixeira de Sousa e Lebre de Freitas.

Do que se deixa dito há quanto a nós que concluir que nada na lei impõe à parte, a notificação à contra- parte, das alegações e contra-alegações, nos termos do disposto no art.º 229.º-A e 260.º-A, do CPC, sendo que tal deverá, sim, ser efectuado pela secretaria do tribunal.

Desta forma, teremos que entender que estipulando a lei que a notificação das alegações deve ser efectuada pela secretaria, há que revogar o despacho recorrido e determinar que o mesmo seja substituído por outro que determine que a secretaria proceda à indicada notificação.

Há pois que concluir que o recurso terá de proceder, ficando precludida a apreciação da questão subsidiária suscitada pela recorrente.

IV – DECISÃO

Assim, acorda-se em dar provimento ao recurso e, nessa conformidade, revoga-se o despacho que determinou que a notificação das alegações à contra-parte fosse efectuada pela recorrente, devendo o mesmo ser substituído por outro que ordene que tal notificação seja efectuada pela secretaria do tribunal.

Sem custas.

Lisboa, 31/05/07

(José Maria Sousa Pinto) (Maria da Graça Mira)

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(João Vaz Gomes)

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[1] Diploma a que nos referiremos de ora em diante, sempre que expressamente não indicarmos outro.

Fonte: http://www.dgsi.pt

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