• Nenhum resultado encontrado

ESTRATÉGIAS DE REFERENCIAÇÃO EM TEXTOS DA OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA ESCREVENDO O FUTURO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "ESTRATÉGIAS DE REFERENCIAÇÃO EM TEXTOS DA OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA ESCREVENDO O FUTURO"

Copied!
109
0
0

Texto

(1)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

HELENA CORRÊA DA SILVA

ESTRATÉGIAS DE REFERENCIAÇÃO EM TEXTOS DA OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA ESCREVENDO O FUTURO

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

SÃO PAULO

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

HELENA CORRÊA DA SILVA

ESTRATÉGIAS DE REFERENCIAÇÃO EM TEXTOS DA OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA ESCREVENDO O FUTURO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Língua Portuguesa, sob a orientação da Profa. Dra. Vanda Maria da Silva Elias.

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

(3)

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________

______________________________________________

(4)

DEDICATÓRIA

Aos meus filhos Lucas Corrêa e Ana Carolina Corrêa que souberam compreender a necessidade de minha ausência para a construção de meus conhecimentos e de minha área profissional, em especial, no Estado do Amapá. A vocês dedico esta pesquisa por também terem compartilhado silêncio nos momentos de necessidade e compreensão quando precisei mesmo junto de vocês negligenciar meu papel de mãe.

Ao meu Pai André da Silva Corrêa por ser um referencial forte de vida e por ter sido meu primeiro provocador de oralidade, leitura e escrita.

À minha Mãe Antônia Quaresma Corrêa por ter sempre me motivado para esta conquista.

(5)

AGRADECIMENTOS

A Deus, por iluminar meu caminho. Sempre.

À CAPES, pela bolsa de estudos concedida a esta pesquisa.

À minha orientadora Professora Doutora Vanda Maria da Silva Elias, por estar presente em momentos cruciais de minha pesquisa, orientando-me continuamente que a pesquisa exige comprometimento e rigor, sem, contudo, prescindir do respeito ao meu aprendizado.

Às Professoras Doutoras Leonor Lopes Fávero e Ana Lúcia Tinoco Cabral, pelas sugestões no Exame de Qualificação.

Ao CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária) e à Coordenação do Programa da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendoo Futuro, pela cessão do corpus e demais materiais.

Aos Professores do Programa de Pós-Graduação em Língua Portuguesa, pelo aprimoramento de minha formação acadêmica.

Aos colegas do curso de mestrado que, em nossas interações, propiciaram relevantes contribuições para esta pesquisa.

Aos meus irmãos Iracema, Joana, Sandra, André e Alexandre Corrêa, aos meus cunhados Fernando e Júnior, minhas sobrinhas Andréa e Adriane e sobrinhos Pedro, Luiz Claudio, João Marcelo e Davi pela oportunidade de aprendizado em família.

Aos Professores Leonil Amanajás, Ana Delsa e Mariângela, pelo compartilhamento de ideias que me fizeram descobrir novas formas de pensar o mundo.

(6)

A todos os professores e alunos da Terra, em especial, aos professores e alunos do Estado do Amapá pelo apoio para a concretização desta pesquisa.

À Professora Mariléa, pela responsabilidade e colaboração com nossa área profissional.

Aos amigos Doutor Rassy e família, Lélia e família e Sérgio e Solange Salomão e família pelos valiosos ensinamentos e solidariedade em momentos difíceis de minha vida.

Às Irmãs da Instituição da Caridade e à Doutora Larissa pela grande colaboração em minha chegada em São Paulo.

(7)

RESUMO

Esta dissertação tem como tema a referenciação na escrita de alunos e objetiva analisar estratégias de referenciação em textos classificados na Olimpíada de Língua

Portuguesa Escrevendo o Futuro produzidos por alunos do ensino médio da rede

pública do Estado do Amapá. A pesquisa tem como fundamentação teórica estudos do texto em perspectiva sociocognitiva e interacional desenvolvidos na Linguística Textual. Nessa perspectiva, a referenciação é entendida como uma atividade que promove a ativação e reativação de referentes no e pelo discurso. A análise do corpus indica que os alunos recorrem a variadas estratégias de (re)ativação de referentes revelando a compreensão da escrita como uma atividade de interação. O estudo contribui para o ensino de Língua Portuguesa, em especial, para o ensino da escrita, considerando-se o texto como uma construção que envolve, além dos linguísticos, aspectos cognitivos, sociais, culturais, históricos e interacionais.

Palavras-chave: referenciação, produção escrita, ensino de língua portuguesa

 

(8)

ABSTRACT

The theme of this dissertation is the reference in written production and has the objective of analyze reference strategies in texts classified in “Olimpiada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro” produced by public high school students the state of Amapá. The research has as theoretical background, studies of the text in socio-cognitive and interactive perspective developed in Textual Linguistic. On this perspective, the reference is understood as an activity that promotes the activation and re-activation of references in and by the speech. The corpus analysis indicates that the students appeal to diverse re-(activation) strategies of the references evidencing the writing comprehension as an interaction activity. The study may contribute to teaching Portuguese Language, in special to writing teaching, considering the text as an construction that involves, beside the linguistics, cognitive aspects, social, cultural, historic and interactional.

(9)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

  CAPÍTULO 1 – O CORPUS DA PESQUISA ... 13

1.1. A Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro ... 13

1.1.1. O Concurso ... 16

1.2. Apresentação do corpus... 17

CAPÍTULO 2 – CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS ... 27

2.1. A referenciação como atividade discursiva ... 27

2.2. Princípios de referenciação ... 30

2.2.1. Estratégias de progressão referencial ... 32

2.3. O processo anafórico ... 36

2.3.1. Anáforas diretas ... 37

2.3.2. Anáforas indiretas... 37

2.4. Funções de expressões nominais referenciais ... 40

2.4.1. Encapsulamento e rotulação ... 40

2.4.2. Orientação argumentativa ... 44

2.5. Linguagem, texto e interação ... 44

CAPÍTULO 3 – REFERENCIAÇÃO EM TEXTOS DA OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA: UMA ANÁLISE... 46

3.1. Texto 1 - Aproveitamento Hidrelétrico Ferreira Gomes: contrastes sociais, ambientais e políticos ... 46

3.2. Texto 2 - Crianças que geram bebês ... 48

3.3. Texto 3 - O descanso eterno ... 52

3.4. Texto 4 - Pátria amada Brasil ... 55

3.5. Texto 5 - Calçoene e suas diversidades ... 60

3.6. Texto 6 - Uma cidade por consequência ... 62

3.7. Texto 7 - Grito de repúdio ... 64

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 70

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 72

(10)

INTRODUÇÃO

Esta dissertação insere-se na linha de pesquisa Leitura, Escrita e Ensino de

Língua Portuguesa do Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP e tem como objeto de estudo a referenciação em textos classificados no concurso do Programa da Olimpíada de Língua

Portuguesa Escrevendo o Futuro.

Originada em nosso trabalho docente, no âmbito do ensino de língua portuguesa no contexto da Olimpíada, a pesquisa objetiva investigar a referenciação em textos escritos de alunos do ensino médio da rede pública do Amapá. A questão que orienta a investigação é a seguinte: De que estratégias de referenciação se valem os alunos participantes da Olimpíada na produção de seus textos?

A fim de responder a essa questão, selecionamos os sete textos classificados na

Olimpíada 2010 no Estado do Amapá e recorremos a estudos sobre o texto e a

referenciação realizados na Linguística Textual. Nesse campo, o texto vem sendo entendido como uma atividade de interação humana que mobiliza conhecimento de ordem linguística, discursiva, pragmática e sociocognitiva.

Em nossas atividades interacionais, instituímos objetos sobre os quais falamos e que se mantêm em evidência no movimento do discurso. Isso significa dizer que os sujeitos constroem e reconstroem objetos a que fazem referência, à medida que o discurso progride e que a referenciação é uma “atividade discursiva” (Mondada e Dubois, 2003), ou como afirmam Koch e Marcuschi (1998, p. 73): um processo realizado negociadamente no discurso e que resulta na construção de referentes

(11)

Também podemos citar pesquisas que, se voltando para a referenciação, analisam textos produzidos no contexto escolar como, por exemplo, a realizada por Gasperini (2010), cujo corpus é composto por produções de narrativas feitas por alunos do ensino fundamental II da rede pública do Estado de São Paulo.

A presente pesquisa que realizamos se aproxima do trabalho de Gasperini por eleger como foco a referenciação em textos produzidos por alunos da escola pública e dele se diferencia por selecionar textos de alunos do ensino médio da rede pública do Estado do Amapá produzidos na situação do concurso promovido pelo Programa da

Olimpíada de Língua Portuguesa.

Conforme as orientações da Olimpíada 2010, os alunos do ensino médio foram solicitados a produzir textos expressando a sua opinião ou um olhar crítico sobre o lugar onde vivem, à maneira do que fazem aqueles que produzem artigos de opinião publicados em jornais ou revistas. Em outras palavras, as produções escritas dos alunos deveriam ser feitas com base em gêneros textuais que circulam socialmente, no caso específico do ensino médio, do gênero artigo de opinião.

Em um estudo realizado sobre produções escritas na escola, Marcuschi e Marianne (2005) afirmam que

essas produções, por serem desenvolvidas à “maneira de” determinado texto, são categorizadas como miméticas, pois imitam gêneros de circulação social, sem todavia conseguirem preservar a função sócio-comunicativa do espaço de circulação original, que é substituída pela função pedagógica.

Ainda, na visão das autoras, essas produções assim desenvolvidas incorporam propriedades de textos desenvolvidos da e para a escola com características de determinado gênero de outros contextos sociais, ocasionando um movimento de aproximação do texto escolar e, portanto, também do aluno, das funções discursivas da produção escrita.

(12)

 

Essas considerações indicam a relevância da pesquisa que por ora desenvolvemos, visto que, de modo geral, contribui para a compreensão do uso da língua na modalidade escrita, em especial no tocante às estratégias de referenciação, bem como para o ensino de língua portuguesa no ensino médio, em um cenário brasileiro atual marcado por baixo desempenho desses alunos, conforme recentes indicadores educacionais do governo federal.

Organizamos a dissertação em três capítulos, além da introdução, considerações finais, referências bibliográficas e anexos.

No primeiro capítulo, apresentamos o corpus da pesquisa, descrevendo, antes, o contexto que deu origem aos textos selecionados para a análise.

No segundo capítulo, dedicamo-nos às considerações teóricas que embasam a análise da referenciação nos textos. No desenvolvimento do capítulo, tratamos do conceito de referenciação e de estratégias requeridas nessa atividade; do processo de reativação de referentes de forma direta ou indireta, bem como das funções referenciais, finalizando com a explicitação da concepção de linguagem e de texto em perspectiva sociocognitiva e interacional, que orienta toda a pesquisa.

(13)

CAPÍTULO 1 – O CORPUS DA PESQUISA

Considerando que o objetivo desta dissertação é analisar a referenciação na produção escrita de alunos do ensino médio, este capítulo será dedicado à apresentação do corpus da pesquisa composto por um conjunto de textos classificados no concurso da

Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, ano 2010.

O desenvolvimento do capítulo ocorrerá em duas partes: na primeira, a fim de contextualizar os dados selecionados, será feita uma descrição do programa da

Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro e, na segunda, será apresentado o corpus da pesquisa.

1.1. A Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro

A Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro é um programa

financiado pelo Ministério da Educação – MEC, em parceria com a Fundação Itaú Social e apoio da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME, Conselho Nacional de Secretários de Educação - CONSED e Canal Futura, com a coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária – CENPEC1.

O Programa, implantado em 2002, tem por objetivo aprimorar as capacidades de oralidade, leitura e escrita dos alunos da educação básica das escolas públicas brasileiras, pressupondo a realização de um concurso que estimula o exercício do uso da língua em práticas sociais. Nessa proposta, são oferecidas oficinas de Língua Portuguesa que têm como foco a articulação teoria e prática, com objetivos relacionados ao contexto da vida cotidiana do aluno.

       1 

(14)

Objetivando desenvolver suas ações no contexto de uma rede de ancoragem, a

Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro envolve professores, alunos e

outros profissionais da educação básica de escola pública em parceria com as universidades públicas e profissionais, em especial, da área de ensino e pesquisa em Língua Portuguesa. Essa composição possibilita o ensino de língua, visando a um desenvolvimento humano, sociocognitivo e afetivo dos alunos nos aspectos da oralidade, leitura e escrita, ganhando maior enfoque nesse processo a produção de textos. No Caderno de Orientação para o Professor (CENPEC, 2010), a questão apresenta-se assim:

A Olimpíada não está em busca de talentos, mas tem o firme propósito de contribuir para a melhoria da escrita de todos. O importante é que os seus alunos cheguem ao final de uma sequência didática tendo aprendido a se comunicar com competência no gênero estudado. Isso contribuirá para que se tornem cidadãos mais bem preparados. E é você, professor, quem pode proporcionar essa conquista. (Carta ao Professor, 2010, p. 5. CENPEC, 2010).

Para a realização do Programa, está prevista a formação de professores, bem como o concurso de textos como estratégia de mobilização para dar visibilidade e sentido ao conhecimento construído pelos diferentes públicos envolvidos nesse processo, em especial da educação básica da escola pública, a partir de uma abordagem teórico-metodológica em sintonia com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).

A Olimpíada realiza a formação de professores em caráter bienal de forma

presencial e a distância denominada “formação em serviço”. Nesse quadro de ações, as atividades planejadas são desenvolvidas de modo a que sejam cumpridos os prazos previstos pelo planejamento proposto.

Assim, a formação presencial desenvolve-se em duas etapas: na primeira, as atividades são mediadas por um docente de universidade pública dos respectivos Estados. Na segunda, os participantes da primeira é que irão atuar como formadores no ensino da língua portuguesa em suas respectivas redes, consolidando os conhecimentos adquiridos com seus pares nos respectivos contextos de aprendizagem.

(15)

ancoragem” da Olimpíada, que colabora com a divulgação das ações e ampliação do programa.

O processo das atividades de formação sustenta-se nos princípios que orientam os parâmetros curriculares, em conjunto com o material teórico-metodológico desenvolvido pelo programa. O material didático da Olimpíada para formação de professor é organizado em cadernos de orientação para o professor, relatos de prática, almanaques, jogo QP Brasil, comunidade virtual, canal Futura, mídias (cds, dvds), seminários e publicações.

Para Sônia Madi, coordenadora pedagógica da Olimpíada, os encontros presenciais “são espaços de reflexão e ampliação do conhecimento que alimentam a função do formador e retroalimentam a Olimpíada, já que possibilitam o contato com professores e técnicos nas diversas realidades dos municípios brasileiros”2. Madi também destaca a importância de fazer parceria com as universidades que, por meio de especialistas em língua portuguesa, têm participado desde a primeira edição da

Olimpíada, em 2008: “As universidades têm, como uma de suas principais funções,

realizar pesquisas, produzir e disseminar o conhecimento”3.

Nesse contexto de formação é relevante ressaltar o desenvolvimento dos seminários realizados continuamente pela Olimpíada de Língua Portuguesa, e respectivas parcerias que impulsionam a reflexão e o debate sobre as possibilidades do ensino de língua, assim como intensificam a relação entre práticas docentes, ações de formação e saberes acadêmicos, dando-lhes visibilidade.

Em particular, reflete-se nessas apresentações e interações que o acesso à língua escrita é um bem que ainda não foi igualmente distribuído entre as classes sociais dos estudantes da educação básica, principalmente aqueles da escola pública.

No programa da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, destacam-se, portanto, o planejamento quanto às ações de formação continuada dos docentes nos formatos presencial e a distância, o concurso de produção de textos que premia as categorias de acordo com o seu público (alunos da educação básica de escolas públicas), a publicação de materiais didáticos e a questão teórico-metodológica adotada,

      

2

Disponível em: <www.escrevendoofuturo.org.br>.

3

(16)

que orienta a aprendizagem no ensino de língua na perspectiva de gêneros textuais, associado a procedimentos de leitura, escrita e oralidade.

Esse procedimento, baseado em Dolz e Schneuwly (2004), se desenvolve em etapas, por meio de sequências didáticas que possibilitam impulsionar o aluno para uma compreensão e apropriação da escrita com mais sentido e reconhecimento de si mesmo, de seu contexto, do outro e do mundo local e global. Nesse sentido, os objetivos do ensino, em geral, são relacionados à realidade e ao contexto do aluno. Na edição de 2010, a Olimpíada teve como tema “O lugar onde vivo”, que orientou a produção de variados gêneros textuais por alunos da educação básica, como será explicado mais adiante.

Também há materiais disponíveis em outros formatos que permitem ampliar as possibilidades de trabalho do professor associadas a resultados relevantes de práticas pedagógicas, como a Comunidade Virtual (CV) da Olimpíada. Nesse espaço podem-se fazer inserções porque há muitas informações teórico-metodológicas, dicas, compartilhamento de práticas docentes, enfim, é um outro lugar de interação, pesquisa e aprendizagem da língua portuguesa e do trabalho com textos variados.

1.1.1 O concurso

A Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro realiza um concurso

de textos de alunos em período bienal (anos pares) baseado em um tema. O tema da edição de 2010 foi “O lugar onde vivo” e as categorias de gênero textual foram organizadas da seguinte forma: poesia (5º e 6º anos (4ª e 5ª séries) do ensino fundamental), memórias literárias (7º e 8º anos (6ª e 7ª séries) do ensino fundamental), crônica (9º ano (8ª série) do ensino fundamental e 1º ano do ensino médio) e artigo de opinião (2º e 3º anos do ensino médio).

(17)

critérios de cada etapa. Na primeira etapa (a escolar), a comunidade escolar seleciona um texto de cada gênero para representar a escola. Esses textos são enviados para a comissão julgadora municipal (segunda etapa), que escolhe os melhores do município, com um critério de proporcionalidade em relação ao número de escolas inscritas.

Os textos selecionados no município participam da etapa estadual (terceira etapa), na qual são escolhidos, também proporcionalmente ao número de inscrições, os representantes de cada estado. Os vencedores, denominados semifinalistas, passam para a etapa regional (quarta etapa). Nessa última etapa, os alunos produzem novos textos, que serão avaliados junto com o texto produzido originalmente, para a seleção dos finalistas (etapa final-nacional).

A Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro orienta para que,

desde o momento da formação, os professores registrem suas experiências de ensino e pesquisa por meio da escrita de um “relato de prática”.

No período do concurso de textos dos alunos, os professores de alunos semifinalistas (4ª. etapa - regional) concorrem com seus relatos, sendo submetidos a uma comissão julgadora organizada e coordenada pelo CENPEC que seleciona um relato de prática por polo e por categoria.

Nessa avaliação, é considerada, além das experiências de ensino e pesquisa, a de autoria indicada em observações, reformulações e reflexões sobre contextos sociais, culturais e históricos dos envolvidos na interação da situação de comunicação e aprendizagem.

1.2. Apresentação do corpus

O corpus desta pesquisa é composto por sete textos produzidos por alunos do ensino médio de escola pública do Estado do Amapá e classificados na edição de 2010

da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. No programa dessa

Olimpíada, o tema “O lugar onde vivo” serviu de motivação para a produção de

(18)

Os textos Aproveitamento hidrelétrico Ferreira Gomes: contrastes sociais,

ambientais e políticos, Crianças que geram bebês, Descanso eterno, Pátria amada Brasil, Calçoene e suas diversidades, Uma cidade por consequência e Grito de repúdio

foram vencedores no concurso da edição de 2010 promovido pela Olimpíada.

Dos sete textos selecionados para o corpus desta pesquisa, o texto Grito de

repúdio chegou até a quarta etapa (semifinalista), sendo seu autor premiado com a

medalha de bronze. Os demais (seis) chegaram somente à segunda etapa (municipal).

A seguir, serão apresentados os textos que compõem o nosso corpus. A fim de garantir a legibilidade, apresentaremos uma transcrição dos textos, sem qualquer alteração ou correção na produção dos alunos. Os originais encontram-se no anexo 2.

Texto 1 - Aproveitamento hidrelétrico Ferreira Gomes: contrastes sociais, ambientais e políticos.

Transcrição do Texto 1

Aproveitamento Hidrelétrico Ferreira Gomes: contrastes sociais, ambientais e políticos

Ao que tudo indica Aproveitamento Hidrelétrico Ferreira Gomes, nome dado ao projeto que criará uma nova usina no estado, resultará na geração de centenas de novos empregos no decorrer da construção. Entretanto, pode-se afirmar que os desastres ambientais, ou que as águas irão causar, são incalculáveis. Exemplo disso é o que resultará na perda de terras de agricultores que hão de deixar de produzir mantimentos para consumo da população da sede, peixes que sobem o rio Araguari vão morrer, pois não poderão fazer a desova visto que as águas da usina os impedirão de fazê-la e consequentemente a diminuição e até mesmo a extinção das espécies de peixes, entre outras consequências que aparecerão no decorrer do tempo.

Essa construção trará “desenvolvimento” ao município, o que não quer dizer que a educação vai melhorar, a saúde, a segurança. A renda de empresários aumentará gradativamente, pois com a vinda de pessoas de fora, crescerá o lucro do comércio local. Mas, sabe-se que, com o desenvolvimento surgirão problemas sociais, tais como: aumento do índice de gravidez precoce, uma vez de mais de 90% da composição da empresa será de homens, riscos de contaminação por DST, o crescimento da população incidirá nos casos de violência, tendo em vista que bandidos estarão à margem da sociedade, onde esta última terá temor à ações de marginais.

(19)

Texto 2 - Crianças que geram bebês

Transcrição do Texto 2

Crianças que geram bebês

Tartarugalzinho, uma cidade pequena com aproximadamente 13.769 mil habitantes;

O grande índice de natalidade do meu município vem aumentando, e grande parte desse fator deve-se a adolescentes entre 12 e 17 anos, que estão dando a luz à crianças, deixando assim sua adolescência passar sem que seja aproveitada de forma sadia.

Hoje já houve casos de crianças de 11 anos, estarem dando a luz a outras. Agora me pergunto: como? Por que? Quais os motivos que levam essas adolescentes a colaborarem para que esse índice seja tão alto? Seria a falta de preservativos? (o que não deixa de ter nos postos de saúde) ou seria a omissão de diálogos dos pais? Ou até mesmo o descaso no acompanhamento do crescimento de seus filhos? Creio que sim, tais fatores parecem que são determinantes para essa infeliz realidade.

Em meados de 2004 à 2005, foi exibida uma reportagem no programa televisivo “Fantástico”, que falava sobre o lugar mais fértil do Brasil, fato que surpreendeu muitas pessoas. Neste momento nossa cidade torna-se notícia por um motivo bastante preocupante, pois grande parte dessa fertilidade vinha de um perfil que teria que estar vivendo outra realidade – a adolescência.

Foram mostrados os mais variados meios de prevenção, que pelo visto não é muito utilizado pela população, em especial pelos adolescentes.

Com este índice, aumentam as desigualdades, o sofrimento, pois a maioria das adolescentes não possuem uma estrutura financeira estabilizada, por isso vemos muitos casos de crianças sendo maltratadas, se envolvendo em drogas, prostituição, entre outros absurdos.

No meu ponto de vista se aqui existissem mais projetos sociais, palestras e acompanhamento dos pais, esses números não seriam tão elevados, vejo isso como possíveis soluções.

Portanto, vamos lutar para que algo de concreto seja feito e que a juventude e a adolescência não passem por despercebida pela vida de uma criança.

(20)

Texto 3 - Descanso eterno

Transcrição do Texto 3

O descanso eterno

O lugar onde vivo é uma cidade do interior do Amapá chamado Oiapoque. É uma cidade muito amistosa, tem diversidades e também adversidades. Recebe seus visitantes de maneira hospitaleira.

Hoje me sinto como se estivesse nascido aqui. Em toda cidade existem problemas e o problema aqui refere-se ao lugar onde jaz os habitantes. Pode até ser um assunto um pouco mórbido, talvez seja por isso que poucas pessoas falam sobre isso, às vezes é lembrado quando infelizmente falece alguém, pois as pessoas que aqui habitam não estão tendo o direito de serem sepultadas na cidade onde dedicaram suas vidas, tiveram filhos.

Devido o cemitério possuir 20.000 m² aproximadamente e ter mais de meio século de existência, não há mais espaço para sepultamentos. Há quase dez anos, as pessoas estão sendo enterradas em cima de covas abandonadas. Com a ausência de manutenção de familiares torna-se possível ocupar estorna-ses lugares o que é de fato lamentável.

Uma vila militar próxima ao município cedeu 50 covas para que o problema fosse resolvido, mas infelizmente até agora não foi. Para agravar mais a situação, a cota se esgotou e as pessoas voltaram a ser enterradas no precário cemitério da cidade, uma por cima da outra.

Cabe às nossas autoridades competentes, tomar alguma providência em relação a esse problema. Pensando nisso, deveriam contratar uma empresa que fizessem um levantamento em busca de outro local na cidade e construíssem um cemitério digno.

Apesar disso, somos um povo alegre, sempre buscando uma vida melhor na esperança da cidade prosperar para que nossos filhos e netos possam ter orgulho daqui.

(21)

Texto 4 - Pátria amada Brasil

Transcrição do texto 4

Pátria amada Brasil

"Todos juntos pra frente Brasil, Brasil salve A seleção...", "Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor...". Embalados por este ritmo frenético que só o brasileiro possui, nós estamos aqui outra vez, parados e vivendo a emoção de torcer pela seleção canarinho. Nossa criatividade não tem limites para demonstrar o amor à pátria; os problemas sociais no país, na cidade ou no bairro já não existem mais, e se existem são esquecidos, tamanha é a euforia gerada pelo campeonato mundial de futebol.

Em Macapá, capital do Amapá, não é diferente. A cidade se transforma, as cores verde e amarela tomam conta das ruas, avenidas, conversas de esquina, as escolas têm seus horários adaptados aos jogos da seleção, o comércio é invadido por um exército de formiguinhas vorazes a procura de algum "suvenir" para fazer parte de suas armaduras de torcedores. Tudo gira em torno de uma única preocupação: a seleção do Brasil. A rotina de um país é alterada por alguns pares de chuteiras nacionais. Diante de tal entusiasmo gerado pela expectativa de mais uma conquista mundial, o hexa campeonato de futebol, a Prefeitura Municipal promoveu um concurso para incentivar os moradores de cada bairro a ornamentarem a rua ou avenida, onde vivem, com o tema da copa. Os três primeiros colocados seriam premiados com uma quantia em dinheiro, o 1º lugar receberia R$ 5.000,00, o 2º ficaria com R$2.000,00 e o 3º com 1.000,00. A notícia do concurso se espalhou feito rastilho de pólvora na cidade e a polêmica também, pois muitos eram a favor do concurso, outros contra.

(22)

Mas, essa magia ficou mais evidente para mim, quando percebi que mesmo as pessoas mais humildes da periferia de minha cidade, e que moram em palafitas construídas de forma desordenada sobre as áreas de ressaca, pequenos lagos, que formam um dos ecossistemas da Amazônia, inscreveram-se também no concurso promovido pela prefeitura. Durante o dia todo fiquei me perguntando o porquê daquela atitude, que segundo eles mesmo diziam "patriota". Inicialmente me questionei: o que leva uma comunidade desprovida de qualquer assistência do poder público, salvo no período das eleições a tal devaneio? E, que têm além disso as pontes feitas de madeira como as ruas e avenidas de seus conformados casebres? É provável que muitas dessas pessoas tenham tirado o último tostão de seus bolsos para demonstrar a sua devoção ao lugar onde vivem e à Pátria. Não... definitivamente isso não é normal e ademais isso não é patriotismo, é falta de sensatez, talvez proveniente dos encantos de Baco, deus do vinho e da tão contagiante alegria. É a única explicação sensata que encontro para tal loucura.

(23)

Texto 5 – Calçoene e suas diversidades

Transcrição do Texto 5

Calçoene e suas diversidades

Vivo num lugar chamado Calçoene, é tranquilo, mas por trás de toda essa tranquilidade há prostituição, corrupção, fome, mortes sem soluções que causam sofrimento e dor. Ele é bem explorado pelos habitantes e pelos turistas, pois é repleto de festividades e pontos turísticos.

A cada ano que passa o município está cada vez mais estruturado com prédios novos. A oferta de emprego se propõe através de concursos, gerando oportunidades aos munícipes de concluírem o nível superior em faculdades particulares com um preço acessível.

Nem tudo é perfeito, pois no município também existe pontos negativos como a escola em que estudo, a reforma está parada, falta professor não tem a quantidade adequada de ventiladores para atender a demanda de alunos; isso gera desconforto e prejudica a aprendizagem.

Outro ponto negativo é a prostituição infantil. Algumas meninas com menos de 14 anos já são mães ou já contraíram algum tipo de DSTs. A política aqui não difere dos outros locais, há políticos com promessas concluídas, outros cheios de ambições com um único objetivo: desviar dinheiro público deixando a população revoltada.

Mesmo cheio de problemas o povo calçoenense sempre foi guerreiro, de força para superar os obstáculos que a vida propõe.

Texto 6 – Uma cidade por consequência

Transcrição do Texto 6

Uma cidade por consequência

O lugar onde vivo é um município do estado do Amapá chamado Laranjal do Jarí, localiza-se à margem esquerda do Rio Jarí que separa o estado do Pará do estado do Amapá. Laranjal parece ser uma cidade bem comum, mas não é bem assim, a diferença se dá através de sua história. Originou-se a partir do povoado “beiradão”, cujo nascimento deve-se ao Projeto Jarí no estado do Pará, bem como sua expansão e desenvolvimento.

(24)

vieram a procura de trabalho ultrapassou a que fora designada para moradia desses trabalhadores. Então, eles começaram a migrar para Laranjal e foram constituindo famílias sem darem conta das futuras consequências.

Os primeiros moradores foram construindo suas casas sob palafitas, sem saneamento básico, sujeitos a inundações periódicas e ainda expostos a vários tipos de doenças, mas a necessidade prevaleceu. A habitação por aqui era difícil, a violência era constante, e também era muito comum ver meninas menores de idade e até mulheres entrando na prostituição. Pessoas tinham medo de sair de suas casas depois que anoitecia porque era muito perigoso, o medo tomava os trabalhadores, enquanto os marginais se apoderavam da cidade.

Mas aí apareceu um homem que é para mim o herói desta história Reginaldo Brito de Miranda, ou o “Tenente Miranda” que é como todos o chamavam, um homem que pode até não ter solucionado todos os problemas do município, mas certamente teve uma grande contribuição para as melhorias. Arriscou diversas vezes sua vida tentando negociar digamos que um tratado de paz com os desordeiros e, assim conseguiu. Foram criados então projetos como o “Gangs da Paz”, onde cada matriculado recebia uma determinada quantia em dinheiro, para praticar esportes, participarem de gincanas e estudar e, foram também escolhidos vigilantes em vários bairros e graças a essas ideias a segurança melhorou muito as crianças também foram envolvidas em projetos e hoje são mais voltadas para educação. Certo que ainda temos muito a melhorar, mas isso quem sabe vem com o tempo.

Na minha opinião, se as empresas abrissem mão de suas margens de lucro e se preocupassem um pouco mais com seus trabalhadores, poderiam entrar em parceria com a Prefeitura de Laranjal, e juntos desenvolverem projetos que incentivassem a coleta de lixo, variedades esportivas, uma boa alimentação, entre outros.

Assim, dando um passo de cada vez, procurando melhoras ainda que pequenas, visando o progresso, nós laranjalenses vamos seguindo na esperança que as pessoas enxerguem mais do que a si próprias, mas vejam todo um coletivo que têm necessidades e precisa ter uma boa qualidade de vida em sua cidade.

Texto 7 – Grito de repúdio

Transcrição do Texto 7

Grito de repúdio

(25)

Amapá é uma abstração, uma figura de ficção, uma alucinação...”. É inadmissível fazer esse tipo declaração, pois nossa terra é real e tem inúmeras belezas. Certamente o jornalista foi infeliz ao escrever sua crônica.

O Amapá é a porta de entrada a partir do Hemisfério Norte. Nele está situado o maior parque de floresta tropical do planeta, o Parque Nacional das montanhas de Tumucumaque. Contém a maior fauna e flora do mundo, pois faz parte da Floresta Amazônica e tem a maioria do seu território preservado. É cortado pela Linha do Equador, banhado pelo inesgotável Rio Amazonas. É palco do Equinócio e Solstício, sobretudo abençoado por ser cenário da Pororoca, maior fenômeno natural que acontece próximo ao Oiapoque que o cronista ignorantemente diz não saber o que é.

Falar desse Estado e não comentar sua cultura, como o Marabaixo, gênero musical trazido pelos negros que se refugiavam no quilombo do Curiaú; Os artistas como Zé Miguel e Amadeu Cavalcante, que juntamente com os outros formam a Música Popular Amapaense – MPA. E a Fortaleza de São José, uma das sete maravilhas do Brasil, que se encontra aqui, na ilha de “Lost”, como o jornalista intitula o Amapá, será um ato de inexorabilidade.

O mesmo fala que a rede globo nunca fez minissérie do Amapá e ainda deixa uma interrogação no ar: “Se nem a rede globo chegou lá, quem chega?...” Respondo essa pergunta afirmando que ela chegou sim, pois o Globo Repórter já fez reportagens de nossas belezas, de nossos fenômenos encantadores que trazem turistas de todas as partes, de nossas raras espécies, como o Beija-Flor. Já foi alvo no esporte como nosso belíssimo Futlama que acontece na deslumbrante Beira Rio. Teve participação da macapaense Auricélia por duas vezes no Soletrando.

Vale ressaltar ainda o que lembra muito bem José Vitor, comentarista de um fórum na internet onde se discutia a existência de nosso Estado, que no carnaval de 2008 a escola de samba Beija-Flor foi campeã, trazendo como enredo Equinócio Solar-Macapaba: Viagem Fantástica ao Meio do Mundo. Isso prova que minha terra tem uma história, um passado, um presente e ela existe, pois faz parte da sociedade.

Além disso, moro em Santana, município do Amapá. A minha cidade é a porta de entrada e saída do Estado. No porto de Santana, desembarca e embarca os mais variados tipos de produtos, como ouro e manganês da antiga mmx, em que o dono Eike Batista, é um dos maiores empresários do mundo, como afirma o jornalista amapaense Silvio Carneiro. Diante disso, penso que o cronista mais uma vez equivocou-se ao relatar que jamais ouviu falar de um produto exportado daqui.

(26)
(27)

CAPÍTULO 2 – CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

Neste capítulo será apresentada a base teórica que dá sustentação a esta pesquisa. Organizado em duas partes, o capítulo aborda na primeira parte como, em recentes estudos situados na Linguística Textual, vem sendo compreendido o fenômeno da referenciação, quais as estratégias de referenciação e que funções as expressões referenciais assumem no texto. Na segunda parte, será explicitada a concepção de linguagem e texto pressuposta na noção de referenciação como atividade discursiva.

2.1. A referenciação como atividade discursiva

Nos recentes estudos realizados no campo da Linguística Textual têm merecido atenção dos estudiosos a referenciação, entendida como uma “atividade discursiva” (Mondada e Dubois, 2003) por meio da qual os sujeitos constroem e reconstroem objetos a que fazem referência à medida que o discurso progride.

Trata-se, portanto, de um processo realizado negociadamente no discurso e que

resulta na construção de referentes (Koch e Marcuschi, 1998, p. 73), o que, em outras palavras, significa dizer que as coisas ditas não estão no mundo da maneira como as

dizemos aos outros, uma vez que o mundo comunicado é sempre fruto de um agir

comunicativo ou de uma ação discursiva e não de uma identificação de realidades discretas, objetivas e estáveis. (Marcuschi, 2007, p. 89-90)

Assim, a questão atualmente formulada pelos estudiosos gira em torno do modo pelo qual as atividades humanas, cognitivas e linguísticas são estruturadas e dão um sentido ao mundo, razão pela qual ganha destaque a noção de referenciação. Para Mondada e Dubois (2003, p.20) essa atitude teórica põe em evidencia que “o problema não é mais, então, de se perguntar como a informação é transmitida ou como os estados do mundo são representados de modo adequado, mas de se buscar como as atividades humanas, cognitivas e linguísticas estruturam e dão um sentido ao mundo”.

(28)

cuja estabilidade está relacionada a discursos e procedimentos sociais, culturais e históricos.

De um ponto de vista linguístico, Mondada e Dubois afirmam que a variação e a concorrência categorial podem ocorrer, quando, por exemplo, uma cena é vista de diferentes perspectivas, exigindo competência do locutor para nomear uma variedade de novos objetos em situações novas, numa clássica demonstração de que o discurso aponta explicitamente para a não-correspondência entre as palavras e as coisas.

Nesse processo, existe um ajustamento das palavras, porém esse ajuste não se faz diretamente em relação ao referente dentro do mundo, mas, sim, em relação ao quadro contextual, a fim de construir o objeto de discurso ao curso do próprio processo de referenciação. Retomando as palavras de Mondada e Dubois (2003, p. 33-34):

não se pode mais considerar nem que a palavra ou a categoria adequada é decidida a priori no mundo, anteriormente a sua enunciação, nem que o locutor é um locutor ideal que está simplesmente tentando buscar a palavra adequada dentro de um estoque lexical. Ao contrário, o processo de produção das seqüências de descritores em tempo real ajusta constantemente as seleções lexicais a um mundo contínuo, que não preexiste como tal, mas cujos objetos emergem enquanto entidades discretas ao longo do tempo de enunciação em que fazem a referência. O ato de enunciação representa o contexto e as versões intersubjetivas do mundo adequadas a este contexto.

Alinhada aessa concepção de referenciação, Koch (2009, p. 56-57) afirma:

(...) a língua não existe fora dos sujeitos sociais que a falam e fora dos eventos discursivos nos quais eles intervêm e nos quais mobilizam suas percepções, seus saberes quer de ordem lingüística, quer de ordem sócio-cognitiva, ou seja, seus modelos de mundo. Estes, todavia, não são estáticos, (re)constroem-se tanto sincrônica como diacronicamente, dentro das diversas cenas enunciativas, de modo que, no momento em que se passa da língua ao discurso, torna-se necessário invocar conhecimentos – socialmente compartilhados e discursivamente (re)construídos -, situar-se dentro das contingências históricas, para que se possa proceder aos encadeamentos discursivos

(29)

de fato a apreensão da realidade em si, mas uma percepção-cognitiva desta que torna possível o evento semântico/discursivo.

Considerando a instabilidade, negociação e circunstâncias referentes à constituição da língua, Blikstein (2003) assegura que os sujeitos são motivados a desenvolver mecanismos de diferenciação e de identificação a respeito da “realidade empírica”. Os sujeitos traçam diferenciais com os quais se tornam capazes de reconhecer e selecionar cores, formas, funções, atividades, entre outros. Por esse meio perceptivo/cognitivo, os traços adquirem valores positivos (meliorativos) em oposição a valores negativos (pejorativos), adequando-se às práticas ou vivências sociais instauradas nos contextos de interação, constituindo-se nesse processo as percepções ideológicas.

Assim, no processo de referenciação como atividade discursiva, os objetos de discurso podem ser categorizados e recategorizados em contextos de interação. Por essa razão, Koch (2009) salienta que a leitura que fazemos da realidade é uma versão de nossa percepção cultural e representação de mundo construída num processo de condicionamento a um contexto sistematizado por uma rede de estereótipos culturais, onde circula o conhecimento regulado pela atividade discursiva entre os interlocutores no processo de interação social.

Nesse processo, os sujeitos constroem os referentes no e pelo discurso à medida que o discurso progride, bem como os objetos do discurso, uma vez introduzidos, podem ser modificados, desativados, reativados, recategorizados, construindo-se e reconstruindo-se no curso da progressão textual. (Apothelóz e Reichler-Béguelin, 1995)

Ainda, é importante dizer que é por meio de práticas referenciais que os sujeitos, intersubjetivamente, constroem e reconstroem objetos cognitivos e discursivos, levando em conta o contexto como conjunto de suposições baseadas nos saberes dos interlocutores, mobilizadas para a interpretação de um texto, como explicam Koch e Elias (2006, p. 64).

(30)

todos os tipos de conhecimentos arquivados na memória dos sujeitos sociais Koch (2002).

Tendo-se em vista o caráter dinâmico dos objetos de discurso, enfatizamos, como o faz Koch (2002), que os referentes se constituem discursivamente por meio dos princípios de ativação, que consiste na introdução de um referente textual de forma ancorada ou não ancorada; reativação, que consiste na retomada do referente textual por meio de uma nova forma referencial, mantendo, contudo, a focalização; e desativação, que consiste no deslocamento da atenção para um outro referente textual, deixando o anterior em stand by.

2.2. Princípios de referenciação

A construção de um modelo textual envolve operações básicas que se constituem nos seguintes princípios de referenciação: introdução, retomada e desfocalização de referentes (cf. KOCH, 2002, 2004).

Pela estratégia da introdução, introduz-se um novo referente que até então não havia sido apresentado no texto. Esse processo pode ocorrer de forma ancorada ou não

ancorada, segundo Koch (2002, 2004).

A introdução será não ancorada quando um referente totalmente novo é apresentado no texto sem uma âncora para a sua introdução. No exemplo a seguir o referente em destaque foi introduzido de forma não ancorada:

O Ministério da Educação prepara um novo currículo do ensino médio em que as atuais 13 disciplinas

sejam distribuídas em apenas quatro áreas (ciências humanas, ciências da natureza, linguagem e matemática).

A mudança prevê que alunos de escolas públicas e privadas passem a ter, em vez de aulas específicas de biologia, física e química, atividades que integrem estes conteúdos (em ciências da natureza).

Fonte: Folha de S. Paulo, 16 ago.2012. Cotidiano

(31)

no contexto sociocognitivo, de acordo com Koch e Elias (2006). Um exemplo de introdução ancorada encontra-se marcado no texto:

O Ministério da Educação prepara um novo currículo do ensino médio em que as atuais 13 disciplinas sejam distribuídas em apenas quatro áreas (ciências humanas, ciências da natureza, linguagem e matemática).

A mudança prevê que alunos de escolas públicas e privadas passem a ter, em vez de aulas específicas de

biologia, física e química, atividades que integrem estes conteúdos (em ciências da natureza).

Fonte: Folha de S. Paulo, 16 ago.2012. Cotidiano

Por sua vez, a estratégia de retomada refere-se ao processo de manutenção do objeto de discurso, isto é, reativa-se um referente já apresentado no texto por meio de uma forma, de maneira que o referente permaneça em foco, conforme Koch (2002, 2004). No exemplo a seguir, o referente O Enem é retomado de forma retrospectiva ou anaforicamente por meio da expressão O exame nacional e do pronome ele.

O Enem terá ainda mais importância no ensino médio, disse ontem à Folha o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.

O exame nacional será o modelo para o novo currículo (a prova organiza suas questões entre as quatro

grandes áreas).

Além disso, ele passará a ser a avaliação oficial da qualidade de ensino dessa etapa da educação.

Fonte: Folha de S. Paulo, 16 ago.2012. Cotidiano

Quanto à desfocalização, trata-se da introdução de um novo referente, criando uma nova focalização. Nesse caso, para Koch (2002, 2004), o referente que sai de foco permanece em estado de ativação parcial (stand by), ou seja, ele continua disponível para utilização imediata sempre que necessário.

(32)

Alta costura

Carla Lamarca 1,80 m, está de volta à televisão. Ela estava afastada das telas há dois anos, quando

deixou a MTV para trabalhar em uma gravadora de rock independente em Paris e estudar marketing musical em Londres. Agora, a paulistana de 26 anos vai comandar um programa sobre moda. A atração

se chama “FTD MAG” e tem estreia prevista para o fim de novembro, no Canal Fashion TV, exibido pelas operadoras pagas SKY e Net.

Fonte: BERGAMO,Mônica. Alta costura. Folha de S. Paulo, 3 nov. 2008.

No exemplo, ocorre a introdução do referente Carla Lamarca que foi retomado por meio do pronome ela e da expressão nominal definidaa paulistana de 26 anos. A desfocalização se dá com a introdução do referente a atração. Essas estratégias de referenciação contribuem para a progressão referencial e a construção de sentido do texto.

Como explicado, as operações de referenciação envolvem fenômenos linguísticos, sociocognitivos e culturais que registram a categorização da realidade sob o filtro das percepções humanas em práticas discursivas sociais e interativas. Nesse processo, as estratégias de referenciação contribuem para a progressão temática e textual, à medida que introduzem, retomam e desfocalizam os referentes no processo discursivo do texto.

2.2.1. Estratégias de progressão referencial

Koch (2002, 2004) indica formas linguísticas referenciais que promovem a progressão referencial do texto. Esses recursos podem ser de ordem gramatical (pronomes, elipses, numerais, advérbios, etc.) ou de ordem lexical (reiteração de itens lexicais, sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos, expressões nominais, etc.). A autora aponta três formas linguísticas de progressão referencial textual:

a) uso de pronomes ou elipses (pronome nulo);

(33)

c) uso de expressões nominais indefinidas.

As expressões nominais referenciais definidas se constituem linguisticamente de um determinante (definido ou demonstrativo), seguido de um nome. Essa seleção realiza-se em função da orientação argumentativa pretendida pelo produtor do texto. Isso implica dizer que a escolha das expressões nominais revela opiniões e ideologia.

São as seguintes as configurações que podem assumir as expressões nominais referenciais definidas, conforme Koch (2004, p. 68):

Det. + Nome

Det. + Modificador(es) + Nome + Modificador(es) Det. Artigo definido

Demonstrativo

Adjetivo Modificadores SP

Oração relativa

Ainda, as expressões nominais podem constituir-se de um determinante (artigo definido e indefinido, pronomes demonstrativos e possessivos), de um nome-núcleo (genérico, metafórico, meronímico e/ou metonímico, metadiscursivo, etc.) e de um modificador (adjetivo com valor positivo ou negativo, oração relativa, etc.), sendo, no entanto, a configuração básica: o determinante e o nome-núcleo.

Isso quer dizer que as expressões referenciais se (re)constroem em práticas discursivas de acordo com o projeto de dizer dos interlocutores. Desse modo, assinala-se que esassinala-se processo assinala-se estabelece a partir de escolhas em práticas discursivas que garantem a progressão temática e indicam para uma dada orientação argumentativa do texto (Koch, 2004). No exemplo a seguir são destacadas expressões nominais definidas

O município de Araxá (MG), com 94,7 mil habitantes, virou o queridinho de gigantes do setor de mineração do Brasil, como Vale e CBMM, e da canadense Mbac, que começaram a ver possibilidades

de novos lucros na cidade.

(34)

No exemplo, o referente O município de Araxá (MG) é categorizado como o queridinho de gigantes do setor de mineração do Brasil. A escolha de descrição definida sinaliza para o leitor informações importantes sobre a opinião, crenças e atitudes do produtor do texto.

Quanto às expressões nominais indefinidas, os estudos atuais vêm destacando a função dessas expressões de retomar referentes e não apenas de introduzi-los. Nas palavras de Koch (2002, p. 104):

As expressões nominais introduzidas por artigo indefinido não são normalmente adequadas para a retomada de referentes já introduzidos no texto. Contudo, como foi destacado anteriormente, elas podem, em certas circunstâncias, desempenhar tal função.

Ainda, Koch (2000, p. 59-60) indica os três principais casos em que as expressões nominais indefinidas podem funcionar na reativação de referentes:

1) quando se seleciona um referente no interior de um conjunto já mencionado:

Exemplo: Um grupo de colegiais entrou na sala.

2) quando se nomeiam partes de um referente previamente mencionado ou, então, conscientemente, não se especifica melhor o referente, para criar um efeito de suspense.

Exemplo: Preciso consertar o telhado. Uma telha está quebrada.

3) quando a expressão anafórica focaliza mais fortemente a informação que veicula do que o prosseguimento da cadeia coesiva:

Exemplo: A velha senhora desaba sobre a cadeira da cozinha. E quando sua amiga chega, não encontra a avozinha, mas um montinho de infelicidade, uma coisinha danificada e confusa (adaptado de Schwarz, 2000, p 59).

(35)

Ao contrário do que se costuma supor, o descobrimento do Brasil foi bem documentado e aparece descrito em várias fontes primárias. Essas fontes podem ser divididas em três grandes grupos. O primeiro deles reúne as cartas escritas por membros da expedição de Cabral. No segundo, incluem-se as cartas redigidas pelos banqueiros ou mercadores que financiaram a armação da esquadra. O terceiro grupo de

documentos originais é constituído pelas crônicas escritas na segunda metade do século XVI pelos historiadores oficiais do reino de Portugal.

BUENO. Eduardo. A viagem do descobrimento: a verdadeira história da expedição de Cabral. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998 In:

KOCH, Ingedore V. ; ELIAS, Vanda M. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo, Contexto, 2009.

“Acabei de vir de Belo Horizonte. Lá tinha fila, mas essa aqui é incomparável", disse o engenheiro Celso

Barcelos, 32, que pegaria um voo para Detroit (Estados Unidos). À frente dele havia mais de mil pessoas, de acordo com um funcionário da Infraero.

Fonte: Folha de S. Paulo, 17 ago. 2012.

Talvez você nunca tenha ouvido falar da Orquestra Sinfônica Jovem de Vassouras, no Rio de Janeiro. Ou da Orquestra Criança Cidadã dos Meninos do Coque, em Recife.

Elas constituem apenas dois dos 92 projetos sociais que ensinam instrumentos sinfônicos no Brasil, que atendem mais de 100 mil alunos. Os dados constam no dossiê publicado em julho pelo anuário Viva Música! 2012

.

Fonte: Folha de S. Paulo, 20 ago. 2012. Ilustrada.

A pronominalização pode ocorrer com ou sem um referente cotextual explícito. No último caso, a identificação do referente é possível por meio do processo de inferência, como indica o exemplo

No nordeste, eles têm as mais belas praias do mundo. (Koch, 2002, p. 86)

Especificamente sobre a função anafórica dos pronomes possessivos e demonstrativos, Castilho e Elias (2012, p. 106) afirmam que o possessivo se aplica a

(36)

podem também trazer de volta uma informação expressa anteriormente, contribuindo para a coesão do texto, visto que assinalam a progressão do texto.

Quanto aos demonstrativos, segundo os autores, além da função de retomada de referentes, eles funcionam como operadores de verificação, indicando que o referente expresso pelo substantivo é de nosso conhecimento (Castilho e Elias, p. 112).

Quanto à elipse, Koch (1989, p.41) define como omissão de um item lexical que em suas predicações pode ser recuperado pelo contexto e apresenta como um exemplo:

Os convidados chegaram atrasados.() Tinham errado o caminho e custaram a encontrar alguém que os

orientasse.

2.3. O processo anafórico

A progressão textual – que não se caracteriza de forma linear – ocorre pela oscilação de vários elementos, os quais têm como base: o que já foi dito (anáfora), o que será dito (catáfora) e que é sugerido (fusões, alusões etc.). Esse movimento foi definido por Koch (2011) como “co-determinação progressiva”.

Segundo Schwarz-Friesel (2000), na visão tradicional da Linguística do Texto, a anáfora é usada para continuar uma referência pré-estabelecida no texto, que aponta para um antecedente específico, geralmente uma expressão referencial já introduzida e, assim, manter o foco atual.

No entanto, em estudos atuais do texto, o termo anáfora também se aplica a casos em que a expressão definida, sem ter antecedente explícito no texto, está ligada via processo cognitivo a algum elemento anterior, que funciona como uma espécie de âncora para a interpretação.

(37)

2.3.1. Anáforas diretas

Como dito anteriormente, as anáforas diretas, em sentido geral, retomam (reativam) referentes previamente introduzidos no texto de forma pelo menos parcial, estabelecendo uma relação de correferência entre o elemento anafórico e seu antecedente. A definição de Marcuschi (2001, p. 219) para essa questão é a seguinte:

Em geral, postula-se que as (AD) retomam referentes previamente introduzidos, ou seja, estabeleceriam uma relação de correferência entre o elemento anafórico e seu antecedente. Parece haver uma equivalência semântica e sobretudo uma identidade referencial entre a anáfora e seu antecedente. Na realidade, a anáfora direta seria uma espécie de substituto do elemento por ela retomado. A noção de correferencialidade é nesse caso crucial, embora não se dê sempre de modo estrito. Seguramente, aspectos gramaticais tais como concordâncias de gênero e número serão decisivos em muitos casos, especialmente quando houver mais um candidato antecedente referencial.

Um exemplo de anáfora direta pode ser observado no texto a seguir:

Dados como os divulgados anteontem pelo governo federal sobre o grau de conhecimento dos nossos estudantes são inconcebíveis, muito mais do que os resultados esportivos. A nota do estudante do ensino médio é de apenas 3,7, para se ter uma ideia.Se até 2016 o Brasil conseguir melhorar significativamente

os indicadores educacionais, aí sim teremos algum motivo para comemorar. GENTILE, Rogério. Jamaica ou

Finlândia. Folha de S. Paulo, 16 ago 2012. Opinião.

2.3.2. Anáforas indiretas

(38)

Partindo da premissa de que as referências textuais são construídas no processo discursivo e de que muitos referentes são objetos de discurso construídos no modelo textual, Marcuschi (2005, p. 54) analisa casos de progressão referencial multilinear e

não direta, pois, para o autor, mesmo inexistindo um vínculo de retomada direta entre

uma AI e o cotexto, persiste um vínculo coerente na continuidade temática que não

compromete a compreensão.

Marcuschi (2005, p.61- 67) apresenta a seguinte tipologia de anáforas indiretas com respectivos exemplos:

1) AI baseadas em papéis temáticos dos verbos

Exemplo: Eu queria fechar a porta quando Moretti saltou dos arbustos. Com o susto deixei cair as

chaves.

2) AI baseadas em relações semânticas inscritas nos SNs definidos

Exemplo: Alfonso Clein encontrou um Mercedes azul... Parecia-lhe que o motorista estava caído sobre o

volante... [parte integrante] Constatou, porém, de imediato que o homem estava morto. As faces [parte

integrante] estavam trespassadas por um tiro.

3) AI baseadas em esquemas cognitivos e modelos mentais

Exemplo: Nos últimos dias de agosto... a menina Rita Seidel acorda num minúsculo quarto de hospital...

A enfermeira chega até a cama.

4) AI baseadas em inferências ancoradas no modelo do mundo textual

(39)

5) AI baseadas em elementos textuais ativados por nominalizações

Exemplo: O Náutico não fez uma exibição primorosa, mas jogou o suficiente para se impor diante da fraca Tuna Luso com um placar de 3x0, ontem à tarde, nos Aflitos. Foi a primeira vitória alvirrubra na Segunda Divisão do Brasileiro, depois de quatro jogos, e serviu para levantar o moral do time que subiu para cinco pontos no grupo A. Lêniton, Mael e Lopeu marcaram os gols alvirrubros.

6) AI esquemáticas realizadas por pronomes introdutores de referentes

Exemplo: Estamos pescando há mais de duas horas e nada, porque eles simplesmente não mordem a isca.

Schwarz-Friesel (2000) ressalta que todos os tipos de anáfora indireta têm de ser vistos como entidades “dadas e novas”. Por sua vez, Sanford e Garrod (1985) distinguem anáfora direta e indireta, com ajuda de foco implícito e explícito. Foco

explícito é “o foco atual da ação”, a parte em evidência no espaço de trabalho onde a informação dada é temporariamente mantida na memória de curto prazo que contém a representação de entidades evocadas implicitamente, que fazem parte de uma estrutura recuperada da memória. Enquanto os referentes da anáfora direta são acessíveis em foco explícito, as referências de anáfora indireta estão disponíveis em foco implícito, ou seja, como valores padrão de um frame ou script.

Baseado nesses estudos, Marcuschi (2005, p.80-81) afirma que ao continuum das anáforas indiretas estão vinculados os conhecimentos semânticos, com papéis temáticos inscritos no léxico; conhecimentos conceituais, como modelos cognitivos do mundo textual, com inferenciações textuais, práticas culturais, representados pelos papéis temáticos, sintagmas nominais definidos, esquemas cognitivos, conhecimentos textuais, nominalizações e pronomes.

(40)

2.4. Funções de expressões nominais referenciais

As formas ou expressões nominais referenciais desempenham uma série de funções cognitivo-discursivas que contribuem para a construção dos sentidos na produção textual. Dentre essas funções, destacam-se nesta pesquisa o encapsulamento/ rotulação e a orientação argumentativa.

2.4.1. Encapsulamento e rotulação

A concepção de encapsulamento é assim apresentada por Conte (2003, p.178):

O encapsulamento anafórico pode ser definido no seguinte modo: é um recurso coesivo pelo qual um sintagma nominal funciona como uma paráfrase resumidora para uma porção precedente do texto. Esta porção de texto (ou segmento) pode ser de extensão e complexidade variada (um parágrafo inteiro ou apenas uma sentença).

Para a autora, o encapsulamento anafórico é um recurso coesivo muito importante, especialmente em textos argumentativos escritos, uma vez que se refere a uma anáfora lexical enquadrada na arquitetura do texto com nome geral-avaliativo ou axiológico, e tal procedimento coesivo se efetiva a partir de uma paráfrase resumidora de um fragmento precedente do texto. Um novo referente discursivo é criado sob a base de uma informação velha, transformando-se em argumento de predicações posteriores. Esse mecanismo permite ao interlocutor informação e interpretação tanto do aspecto linguístico – a escolha do léxico adequada para encapsular - quanto do segmento retomado.

(41)

significa que o encapsulamento depende do contexto e que, nessa condição, opera tanto com informação dada quanto com informação nova.

Pela operação de encapsulamento, reativa-se na memória do interlocutor informações anteriormente apresentadas, sinalizando novos valores (positivos ou negativos) aos fatos mencionados, imprimindo função avaliativa/persuasiva sobre o referente que possibilitará a orientação argumentativa pretendida pela proposta enunciativa do produtor. Em relação a essas formulações, Koch (2005) assinala que se trata de formas híbridas – ao mesmo tempo referenciadoras e predicativas permitindo ao interlocutor tanto a informação dada, quanto a informação nova.

Ainda, Conte (2003) defende que o encapsulamento anafórico é um meio essencial para a organização da estrutura discursiva: a nova expressão referencial – o sintagma nominal encapsulador - emerge com alta relevância como integração semântica. Em geral, a ocorrência deste fenômeno é a sumarização discursiva precedente no início de parágrafo ou como subtítulo marcador do parágrafo precedente e posterior.

Além dessas funções, a autora aponta para a função da expressão encapsuladora de sinalizar mudanças de percurso quanto aos detalhes em direção à generalização, bem como quanto à descrição dos eventos, considerados pontos essenciais na/para construção do argumento. Nessa instância, o encapsulamento realiza-se na atividade discursiva não só como recurso coesivo, mas também como princípio organizador do texto.

Também estudioso do assunto, Gil Francis (2003) explica que o encapsulamento anafórico é primariamente uma categorização dos conteúdos do cotexto precedente. Nessa abordagem, a categorização promove a avaliação dos estados de coisa por meio de nomes avaliativos (ou em sintagmas nominais com um adjetivo avaliativo como modificador). Em seus estudos, o autor pressupõe a função prospectiva e a

retrospectiva que se realizam por meio do uso de expressões nominais, sob a forma de rótulos, para conectar e organizar o discurso.

(42)

Em linhas gerais, as expressões rotuladoras condensam o discurso latente no texto e cotexto e engendram seu lugar na rede discursiva argumentativa do texto. Com vistas às suas realizações, os rótulos definem-se como prospectivos, retrospectivos e

metalinguísticos (cf. FRANCIS, 2003).

Nos rótulos prospectivos, pelo fato de a motivação para seu uso não ter sido ainda fornecida, a lexicalização passa a ter função altamente produtiva na progressão temática e referencial do texto, como se observa a seguir:

Primeiro aparece bem pequeno no canto dos jornais, como piada, mas rapidamente vêm as supostas comprovações e em poucos dias a notícia toma as manchetes: "Formigas são forma de vida inteligente,

afirmam cientistas húngaros".

Fonte: PRATA, Antonio Prata. Quem diria. Folha de S. Paulo, 15ago2012. Cotidiano

Já nos rótulos retrospectivos há um caminho diferente, pois o rótulo já foi lexicalizado. Assim, conforme afirma a autora: “esse rótulo é apresentado como

equivalente à oração ou orações que ele substitui, embora nomeando-as pela primeira vez” (FRANCIS, 2003, p.195, grifos do autor).

Desse modo, caracterizam-se também por seguir sua lexicalização, por sumarizar, encapsular e rotular enunciações do cotexto precedente, orientando as expectativas dos interlocutores, como se observa no exemplo

BRASÍLIA - O governo do Equador está reticente. Deve decidir nesta semana se concede ou não asilo

político ao ciberativista Julian Assange, o criador do site WikiLeaks.

O caso ainda vai se arrastar. Se obtiver o asilo, Assange dependerá de um salvo-conduto do Reino Unido

para ir até o aeroporto, pois está refugiado na embaixada equatoriana em Londres. É um desfecho melancólico para o voluntarismo quase épico mostrado pelo grupo liderado pelo australiano.

Fonte: RODRIGUES, Fernando. O esgotamento do WikiLeaks. Folha de S. Paulo, 15 ago2012. Opinião.

(43)

Os rótulos compostos por nomes ilocucionários são nominalizações de processos verbais, geralmente atos de comunicação com características de verbos ilocucionários cognatos. São exemplos de nomes “ilocucionários ”: ordem, promessa, conselho,

advertência, afirmação, asserção, crítica, proposta, alegação, cumprimento etc. (cf.:

KOCH, 2002, p. 96)

Os rótulos compostos por nomes de atividades linguageiras reportam-se a alguns tipos ou resultados de atividade linguageira. São idênticos aos nomes ilocucionários, mas, nessas circunstâncias de modo geral, não são cognatos de verbos. São exemplos de nomes de atividades linguageiras: descrição, explicação, relato, esclarecimento,

resumo, história, debate, exemplo, ilustração, definição, denominação etc. (cf.: KOCH, 2002, p. 97).

Os rótulos compostos por nomes de processos mentais relacionam-se aos estados ou aos processos cognitivos. São exemplos de nomes de processos mentais:

análise,suposição, atitude, opinião, conceito, convicção, avaliação, constatação etc.:

Os rótulos compostos por nomes de textos referem-se à estrutura textual formal do discurso. São exemplos de nomes de textos: frase, pergunta, questão, sentença,

palavra, termo, parágrafo etc.:

Assim sendo, do ponto de vista da rotulação, os nomes nucleares distribuem-se em cotextos enunciativos de circunstâncias verbais, de resultados e nos procedimentos de organização textual na trajetória do discurso em questão.

De modo geral, o uso de expressões nominais referenciais – descrições, nominalizações, encapsulamentos, rotulações – corresponde a escolhas do interlocutor para efeito de sentido em sua prática discursiva. Koch (2001, p.81) afirma que essa escolha sinalizará a orientação argumentativa no processo discursivo, visto que “entre as possibilidades de atribuições a um referente, o sujeito faz escolhas significativas ou, até mesmo, estratégicas, tendo em vista seu projeto de dizer”.

Referências

Documentos relacionados

A grande questão é que as mídias sociais têm uma participação cada vez mais expressiva nesses resultados, portanto, é fundamental reavaliar a postura da sua empresa e começar

Para grande parte dos caracteres avaliados, pode-se observar que a L6 foi a linhagem que contribuiu negativamente para o aumento no teor de açúcares, minerais e

Assim, entrevistas estruturadas foram realizadas para: descrever o perfil dos pescadores que interagem com o boto; testar a hipótese de que os pescadores reconhecem os

Para melhor compreensão do estágio de hibridização entre comunicação de marca e entretenimento no que concerne à visibilidade propiciada às marcas, ao engajamento do público e

INTRODUÇÃO: A obesidade está associada com crescente fator de risco cardiovascular em todas as classes sociais e a cirurgia bariátrica (CB) tem sido muito utilizada para

Neste estudo são usadas duas abordagens de recolha e tratamento de dados: i, uma de carácter objetivo, com a recolha de dados termohigrométricos, sendo a identificação do padrão

EXECUÇÃO AUTÔNOMA (LIVRO II, CPC) Só pode ocorrer na forma definitiva (não pode ser provisória). Serve para a satisfação dos títulos executivos extrajudiciais. Exceções: Sempre

The aim of this research was to assess the effects of exposure to heat cycles on thyroidal hormones, histology of the thyroid, performance, feathering and temperatures of