Maria
Jos Conde
Artiaga
Barreiros
A
DISCIPLINA
DE
CANTO CORAL NO
PERODO
DO
ESTADO
NOVO
Contributo para
aHistria
do
Ensino da
Educago
Musica
em
Portugal
Dissertago
de
mestrado
emCincias Musicais
(Especialidade
de
Cincias Musicais
Histr
icas)
Universidade Nova de Lisboa
Faculdade de
Cincias Sociais
eHumanas
__
de citicids
sc:;... _ .umh _BIBLIOTECA
539?!
- 1999. Maria Jos Conde
Artiaga
BarreirosAGRADECIMENTOS
0 trabalho que
implica
umadissertago
de
mestrado
precisa, segundo
penso,
de
umaenergia,
atengo,
capacidade
de
mobilizago
constanteque
nos leva adiferentes
lugares
epessoas
embusca
de toda
ainformago
necessria.
Sem
acolaborago
dessas
pessoas
que
nosabrem
asportas,
que
revelam interesse
pelo
que
fazemos,
que
nosmotivam
em momentosde
desnimo,
que
durante
os seusafazeres
conseguem
arranjar
tempo
para
ajudar,
esclarecendo dvidas
cedendo
materiais
julgo
que seria difcil
seno muitas
vezesimpossvel
cumprir
osobjectivos
propostos.
Gostaria de
agradecer
a essaspessoas
que
ajudaram
acumprir
aminha
tarefa.
Ao Professor Doutor Manuel
Carlos
de
Brito,
meuorientador,
a constantedisponibilidade,
pacincia,
interesse,
criticismo
etoda
acolaborago
que
prestou
aolongo
do
trabalho.
Professora Doutora Luisa
Cymbron
oauxlio
providencial
que
nasalturas mais difceis achou
que
devia
prestar.
Ao
responsvel
pela
unidade
de
investigago
do
CESEM
(Centro
de
Estudos
deSociologia
eEsttica
Musical),
Professor
Doutor
Mrio Vieira
de
Carvalho,
pelo
estmulo
econfianga
emmim
depositados
que
proporcionou,
e -re outrosapoios,
a minhaparticipago
noColquio
realizado
emWeimar,
nombi.o
do
projecto
apoiado
pea
Praxis XXI.
Ao
Joo
Vieira
Catas por
todos
osconselhos
eacompanhamento
permanente
no meutrabalho.
Ao
meucolega Joaquim
Carmelo Rosa
pelo apoio,
interesse,
nimo
emotivago
que
medeu
emtodos
osmomentos.
Aos
professores
Rui Barral
eIsabel Carneiro por
todos
osmateriais
einformages
valiosas
que
comigo
pa
rtilharam.
s
professoras
Elisa
Lamas eMaria Luisa
Gomes
dos
Santos
pela
disponibiiidade
einformages
prestadas.
Ao meu
colega
Jorge
Alexandre Costa
pela
cedncia generosa
de
vrios
materiais.
NDICE
Int
rodugo
1 .
0 Estado
Novo
no contextoeuropeu
1
2.
A
situago
musical
nosregimes
da
Alemanha,
Itlia,
Espanha
ePortugal
6
3.
O
ensino nocontextototalitrio
do
regime
25
3.
1.Antecedentes
da
Regenerago
aofim
do
perodo
republicano
26
3.2. 0 Estado Novo
30
3.3.
Concluso
46
4.
0
cantocoral
e o seuvalor
educativo
naEuropa
dos
finais
do
sculo XIX
eprincpio
do
sculo XX
49
5
Aprogressiva institucionalizago
do
cantocoral
nosLiceus
58
5
1C
cantocoral
e aMocidade
Portuguesa
73
5.2.
Da
seleccgo
eformago
dos
professores
de
CantoCoral
82
6.
O
reportrio
e aactividade
coral
noliceu
101
Concluses
127
Anexos
I
Sinopse
da
principal
legislago
referente
aoCanto
Coral
entre
1906
e1960
130
II
Exames de
Estado
132
III
Relago
dos
professores
de Canto Coral
aprovados
emExame de Estado
noLiceu Normal de
Lisboa
(Pedro
Nunes)
entre
I934e 1948
147V
Programago
da "Hora
de Arte"
noLiceu
Rodngues
Lobo
de
Leina
no anolectivo de
1937-1938
152
Fontes
eBibliografia:
I
Arquivose
Bibliotecas
154
II
Peridicos
154
INTRODUQO
Diversos factores contriburam
para
aescolha
do
objecto
de
estudo.
Quando
se ouvemtestemunhos
das
gerages
que tiveram
Canto
Coral.
surgem
de
imediato
observages
depreciativas
que,
por
seremdescontextualizadas,
parcas
edispersas,
no
tm contribudo para
anecessria
clareza
ecompreenso
da vida
da
disciplina
naprimeira
metade
do
sculo
XX. A
associago
inevitvel
Mocidade
Portuguesa
mencionada
como se oCanto
Coral
sempre tivesse existido sob
a suadependncia.
Estas
observages,
portanto,
no
explicam
asrazes que levaram
incluso da
disciplina
do
Canto
Coral
apartir
de
1918
nocurrculo
do ensino
liceal,
nem oque levou
suaapropriago
pelo
Estado
Novo.
O
ensinoartstico
oudas
disciplinas
artsticas ainda no
mereceu anecessria
atengo
nasreas
da
investigago
histnca
ouda
educago,
para
que
sepossa
perceber qual
tem
sido
o seupapel
noensino
formal
ouinformal
de forma
aque
opassado
leve
areflectir melhor
opresente.
0
mesmo temacontecido
nodomnio da
musicologia
histrica
de onde
ainvestigago
do
ensino vocacional
eno vocacional da
msica
tm andado arredados.
Esta
constatago
leva
aconsiderar que
aHistria
da
Educago
ficar
incompleta
enquanto
no
abranger
oestudo
de todas
asdisciplinas
que
formaram
eformam
o seucurriculum,
acontecendo o mesmo com aMusicologJa
Histrica
seno
tomar
em conta a sua vertenteeducativa.
Para
acompreenso
do
objecto
de
estudo havia que
proceder
identificago
dos
factores que contriburam para
a suaprodugo
e ombito
emque
seefectuou
a suaintervengo.
Tomando
comoreferncia
Pierre
Bourdieu,
quando
diz que
"o limite
de
umcampo
olimite
dos
seusefeitos"1,
houve
que
proceder
no
s
identificago
do
espago
fsico
-temporal
do
objecto
de
estudo,
comodos diversos
agentes
que
nele
intervieram.
Apartir
da foi
possvel tragar algumas
linhas
deforga
e tentarexplorar
as suasformas
de
relacionamento.
Na
abordagem
do
temaforam
-secolocando
questes
relacionadas
com apoca
emque
surgiu
oCanto
Coral,
com omeio
social
emque
seinseriu,
coma(s)
esttica(s)
que Ihe
estiveram
associadas,
asfunges
que
desempenhou,
asinstituiges
aque
esteveligado,
os seusprincipais
porta-vozes.
Entre os
vrios
elementos
que
interagiram
naorganizago
doCanto
Coral incluem-se
osalunos,
osprofessores,
asinstituiges,
osprogramas,
apolitica
oficial
e a suaretonca,
ascondicionantes histnco-sociais
e as correntesmusicais.
Houve que
partir
para
adefinigo
do
contextotendo
emconta
ainter-relago
das vnascomponentes.
Assimprocedeu-se
diviso
do trabalho emseis
captulos.
No
primeiro,
intitulado "0 Estado Novo
nocontexto
europeu",
pretendeu-se
perceber
oque
contnbuiupara
oaparecimento
das
ditaduras nops-guerra,
oque
pde
singularizar Portugal
nocontexto
europeu,
que factores
foram
determinantes para
aescolha do
perodo
que
vai de 1930
a1960.
Com
esses
elementos
poder
-se-
verificar
emque
medida osacontecimentos
serepercutiram
nocampo
educativo,
que
tipo
de
ocorrncias
sederam que
pudessem
tertido
implicages
noCanto Coral.
No
segundo,
intitulado
"Asituago
musical
nosregimes
daAlemanha,
Itlia,
Espanha
ePortugal".
quis-se
encontrar linhas
de
forga
que
pudessem
assemelhar-se
oudiferenciar-se
emquatro
pases
aAlemanha
e aItlia,
enquanto
parad/gmas
de
regimes
maisradicais,
Portugal
e aEspanha,
comorepresentantes
de
regimes
ditatoriais,
com as suassemelhangas
edistinges
para
que
sepreendeu
chamar
aatengo
noprimeiro captulo.
0 que foi
comum e oque
foi
particular
acada
umdeles serviu para
melhor
conhecer
o contextomusical
A
dificuldade de
acessobibliografia especfica,
sobretudo
nodomnio
do
Canto
Coral
nessespases,
limitou
aanlise
comparativa
que
sepretendia
fazer. Esta
dificuidade foi
parcialmente
contornada
com aparticipago
no16
Congresso
da
Sociedade Internacional de
Musicologia,
que
serealizou
emLondres
emAgosto
de
1997,
noColquio
subordinado
ao tema "La viemusicale
enFrance
pendant
la
Seconde Guerre mondiale"
realizado
emParis
emJaneiro
de
1999,
ouainda
noColquio
realizado
emWeimar,
emJunho de
1999,
sobre
o tema"Der Fall Weimar. Moderne
und
Antimoderne
imSpannungsfeld
des
20. Jahrhunderts". que
enriqueceram
areflexo
sobre
os temasdeste
estudo.
0
conhecimento do meio musical
portugus
do
perodo
em causa teriapara
estainvestigago
umaimportncia
muitoparticular,
nosentido
deajudar
aidentificar
seteria
havido ouno
umapoltica
para
amsica
e as correntes dopensamento
musical
predominantes cujos
reflexos
pudessem
tertido
influncia
nocontexto
educativo
musical.
Mas apouca
investigago
realizada
sobre
aactividade
musical da
primeira
metade do sculo
XX
no
permitiu
chegar
aresultados
maissubstanciais,
como sepretendia.
No
que
se refere aoterceiro
captulo,
"O
ensino no contextototalitno
doregime",
existem
j
vrios
trabalhosde
investigago
que
permitem
ter umaperspectiva
sobrealgumas
das
problemticas
respeitantes,
por
exemplo,
mbito
liceal.
aorganizago
da
Mocidade
Portuguesa
e a outros sectores mai?.mdirecta.mente
liqa.dos
com estetrabalho. 0 Curso de Ver.o "0 sistema.
de
Ensino
emPortugal
-Sculo
XIX
eXX",
realizado
emSetembro
de1996.
para alm
dainformago
que
proporcionou,
chamou
aatengo
para
questes
relacionadas
com afalta
de
distanciago
histrica sobre
umperodo
que
ainda
se encontracronologicamente
prximo
eque
exige
umcuidado muito
especial
no tratamento dos dadospara
melhorcompreenso
dos factos.
Ainda
nodomnio
da
educago,
umapublicago
que
serevelou
particularmente
til
para
oconhecimento
do
pensamento
musical
naimprensa
pedaggica
foi adingida
por
Antonio
Nvoa,
AImprensa
de
Educaco
eEnsino.
Reportrio
Analiico
(sculos
XIX-XX
Mas tambm
nestarea
escasseiam
osestudos sobre
umadas
componentes
do
ensinoque
aeducago
artistica.
No
quarto
captulo,
intitulado "0
cantocoral
e o seuva.lor
educativo
naEuropa
dos
finais
do
sculo
XIX
eprincpio
do
sculo
XX",
pretendeu-se
chamar aatenpo
para
aimportncia
do
canto em coro nocontexto
europeu,
pa.ra.
avalorizago
da
componente
pedaggica
nomovimento cora!
epara
a suadirecta
repercusso
emPortugal.
Este
captulo
servepraticamente
de
introdugo
aocaptulo seguinte
"Aprogressiva
institucionalizago
do cantocoral
nosLiceus".
No
quinto
captulo
pretendia-se,
para alm
da
descrigo
dos factos que
do
a conhecer ainstitucionalizago
dadisciplina,
obter
umaviso
criticados
professores
enquanto
seusintervenientes. Para
alm dos
annimos que
expressam
os seusanseios
efrustrages,
revelando
umaviso
crtica
perante
osacontecimentos, h
figuras
que
foram determinantespara
opensamento
musical
nocampo
da
educago,
comoToms
Borba,
Luis de Freitas
Bra.nco,
Hermnio do
Nascimento,
Armando
Lega,
Mrio
de
Sampayo
Ribeiro,
entre outros. MesmoFemando
Lopes-Graga,
fora
dosistema,
no
deixou de sepronunciar
sobre
opapel
do
Canto
Coral
nasEscolas.
No
-timo
captulo,
osexto,
tenta-sechegar
omais
perto
possvel
da
prtica
educativaatravs,
essencialmente,
dos manuais utilizados
edas
festaseducativas que
se realizavam nosLiceus.
Enquanto
osmanuais
mostram otipo
de
reportrio
proposto,
asfestas confirmam
ouno
a suautilizago
pelos
professores
assim
como outrasopges
tomadaspor
estesAtravs de
ambos
pode-se
esclarecer
oque separa
odiscurso dos
professores
da suaprtica,
assim
como a suaresposta
aosobjectivos
definidos
pelos
documentoslegais.
ex-estagiano
do
Liceu Normal de Lisboaque
realizou
oExame de Estado
em1936.
eIsabel Carneiro
que
realizou
provas
pblicas
em1961
0 corpus documental que serviu
de base
a estainvestigago
constituido
pelos
Dirios
deGoverno
da ISrie,
que contm
alegislago
referente .s reformas do
ensino,
s finalidades
da
Instrugo
Secundria,
qualificago
dos
professores,
ao seurecrutamento, s
disposiges
gerais
referentes
asdisciplinas
e aosprogramas.
No levantamento
dalegislago
encontrou-se
oprimeiro
obstculo
namedida
emque,
apesar
da
recolha dos
principais
decretos
que regeram
aacgo
educativa
j
tersido feita por vrios
investigadores,
no
h conhecimentode
que
setenha
procedido
suapublicago
exaustiva. Assim
osdiplomas
referentes
aoCanto
Corai
nemsempre
acompanham
osdas
outrasdisciplinas.
Surgem
muitas
vezesisolados
nosDinos do
Governo
da
ISrie,
obngando
a umaprocura
exausiva Tal facto pareceu
j
constituir
umponto
de
reflexo,
denunciando,
possivelmente.
ocarcter
de
"excepgo"
do
Canto Coral
nocurrculo.
No
tocante aarquivos
ebibliotecas,
aTorre do Tombo constituiu
umdos
locais
principais
de
pesquisa
por
guardar
osArquivos particulares
da
Mocidade
Portuguesa,
nomeadamente
noque
diz
respeito
aoCanto Coral.
Contudo
ocorpo
documentalreferente
aoperodo
entre1936/37-1950
encontra-se,
segundo
ostcnicos, danificado,
no
podendo,
por
essarazo,
serconsultado.
A
acessibilidade
ao restantematerial
nemsempre foi
fcil,
dadoque
umaparte
aindano foi
expurgada,
oque provocou
demora
na suaconsulta
Outros
arquivos impo
rtantespara
estainvestigago
foram
oArquivo
Histrico
do
Ministno
da
Educago
e o do Liceu Pedro Nunes.Da.s Biblioecas consultadas
asmais
importantes
para
este
estudo
foram
a
Bibiioteca
Nacional,
aBiblioteca
da Faculdade de
Cincias Sociais
e Humanas da UniversidadeNova,
aBiblioteca do Instituto de
Inovago
Educacional.
Da
bibliografia
para
estetrabalho,
aestrangeira
s muito
raramente se encontra nas Bibliotecas. Adespesa
necessria
suaaquisigo
ou orpido
acesso aoscatlogos
provocam obstculos
edificuldades
bvias. 0
factode
alguns esplios
importantes
para
otrabalho
ainda
se encontrarem naposse
de tamiliares ou outros herdeirosdificultou
epor
vezesimpossibilitou
o acesso.Pelo que
seacabou de
enunciar
venfica-se
que
a consulta dasfontes
produziu alguns
entraves, que
sereflectiram,
sobretudo,
nacalendanzago
do
trabalho
Deve-se referir ainda que,
em certos casos, otempo
de
pesquisa
particulares
daMocidade
Portuguesa),
foi
desproporcionado
relativamente
qua.ntida.de
de
informaco que foi
possvel
deles
extrair.
Contudo,
seria
importante
proceder
ainda
a umlevantamento
mais
exaustivode
alguns
matenais como,por
exemplo,
osrelatnos anuais dos
reitores dosliceus
que
fica.ram por
analisar,
osrelatrios da.
inspecgo
edos
professores
da.
disciplina
que
se encontram noArquivo
Histrico
do Ministrio da
Educago
Nacional.
0
levantamento dos
Dirios
deGoverno
da
IISne
tena
possibilitado
aidentificago
dos autores das
normas eprogramas
do
Ca.nto
Coral. No que
respeita
aosalunos,
haveria que obter
mais
testemunhos orais
que
narrassemexpenncias
educativas.
1.
0
ESTADO NOVO NO CONTEXTO
EUROPEU
Durante
osprimeiros cinquenta
anosdeste sculo assistiu-se
a umaprogressiva
decadncia
dos valores liberais herdados
da
burguesia
do
sc.
XIX,
emparticular
das
suasinstituiges polticas1,
enquanto
que
adireita
poltica,
apoiada
naclasse
mdia,
no parou de
crescer.Nas
vsperas
da
Pnmeira Guerra Mundial
j
sepodia
detectar
aformago
de
umpensar
ientopotico
europeu ansiando por governos
autoritnos,
capazes de defender
aordem
econmica
esocial
comcarcter
'intervencionista"
e"disciplinador"
2. Os
anos20 viram assim
surgir
vrias
ditaduras
(precedidas
da "ditadura
precoce"
de Sidonio Pais
emPortugaL
em1917):
asditaduras
da
Bulgria
eda
Polnia,
respectivamente
em1919
e1920,
oregime
de
Primo de Rivera
emEspanha,
em1923,
avitria
eleitoral
dosfascistas
italianos,
em1924,
asditadurasdo
general Panglos
naGrcia
e ogolpe
militar
emPortugal,
em1926.
A
"Grande
Depresso", provocada
pela queda
da Bolsa de Nova
lorque
em em29
de
Outubro
de
1929 trouxe,
comoconsequncia,
ocolapso
da
economia do mundo
capitalista
com umdesemprego macigo
e umacrise
social
aque
agrande
maioria
dos
pases
europeus no
soube
dar
umaresposta pronta
eeficaz.
Os sindicatos sofreram
umaforte
desmobilizago.
Aesquerda
encontrava-seenfraquecida
eincapaz
de seopr
direita mais
radical.
ltraia-se
de umadireita]
simultaneamente 'anti-sociaksta/bolchevista eanti-liberal/capitalista'
que encontra em verses vrias docorporativismo
a orma desujeitar
os 'interessesparticulares
e degrupo'
aopoder
irrestrito do Estado e dochefecansmtico,
intrpretes
do supremo interessenacional3
O
aparecimento
de sucessivos
regimes
fascizantes
naEuropa
dos
anostrinta
o"Estado
Novo"
apartir
de
19304,
ogolpe
de
Estado
naustria que
levou
ditadura
"austro-fascista"
de
Dollfuss,
em1933,
oregime
do
general
Metaxas
naGrcia
em1936,
aRomnia,
em1938
e oregime franquista
a1 "Em 1918-20 assembleias
legislativas
foram dissolvidasou tornaram-se ineficazes em dois estados europeus. nos anos 20 em seis, nos anos30 em nove, enquanto aocupaco
alem destrua o
poder
constitucional em outros cinco durante aSegunda
GuerraMundial."
(ERIC
HOBSBAWM, A Era dos Exremos. 1996, p.117).
2 FERNANDO ROSAS,
Introduco",
inJOEL SERROeA. H DE OLIVEIRA MARQUES(dir.),
Nova Hisria dePortugal: Portugal
eoEstado Novo(1930-1960).
1992, p. 9. 3 Idem, p. 12.4 "Oanode 1930
(...)
defineo encerrardashesitages
no interior da Ditadura Militar quanto natureza doregime
queIhe haveria de suceder e o incio da construco, sob a direccoefectivade Oliveira Salazar, dos fundamentos do Estado Novo."
(CSAR
DE OLIVEIRA. "A Evoluco Poltica", inJOEL SERROeA. H. DEOLIVEIRA MARQUES(dir.),
op. cit.. ppartir
de
1939,
vai
ter as suasverses mais radicais
nofascismo italiano
comMussolini
e nonacional-socialismo
alemo
apartir
de
1933
com aascenso
de Hitler
aopoder.
A
distingo
ousemelhanga
que
caracterizou
estes e outrosregimes
no
tem
sido
um assuntopacfico
entre oshistoriadores. Para
Stanley
G.
Payne5
osregimes
fascistas diferenciavam-se dos
restantespelos
seus nveis demobilizaQo
poltica
epelo
desenvolvimento de uma vastapanplia
deinstituiges
paralelas
eauxiliares.[...]
Deigual
modoimportante
anfase dada
pelos
regimes fascistas ao militarismo. a novaspolticas
internacionais agressivas eimperialistas.
aprogramas de modemizaco econmica etecnolgica.
aoprincpic
delideranga
carismtica. a uma mobilidade das lites e a umarevolugo
culturalnova e radical
Particularmente
preponderantes
nosregimes
fascistas foram
asteorias
desenvolvidas
apartir
do
que
sedesigna
comumente
por "darwinismo
social",
isto
. de que
asociedade
se encontradividida
em seresmais fortes
emais
fracos
eque
cabe
aosprimeiros
vencer ossegundos,
considerados
racialmente
"impuros".
Foi
o caso,por
exemplo,
dos
alemes
emrelago
aosjudeus,
dos
italianos
emrelago
aosabissnios
emais tarde
aosjudeus.
Uma nova
elite
recrutada
nascamadas
burguesas
epequeno-burguesas
surgiu
aapoiar
estesregimes
e,associada
ala de burocratas do
sistema,
aosmilitares
e"paramilitares
partidrios",
contribuiu para
reforgar
opoder
institudo.
Os hisoriadores tambm no so unnimes
nacaracterizago
do
salazarismo
edo
franquismo.
No
que
respeita
aoEstado
Novo,
Joo
Formosinho6
refere
asvrias
designages
que
diferentes
autores,
namaioria
portugueses,
utilizaram para
oqualificar
simplesmente
fascista,
"fascista
qualificado",
"pequeno
fascismo"
enquanto
outros,
preferencialmente
no
portugueses,
oconsideram
no-fascista. O
autorcoloca
ainda
algumas
reservass
designages
dos
autoresportugueses
devido
influncia que
as suasorigens
culturais
podem
terexercido
naformulago
das
suasopinies.
Para Javier
Tusell7
existe
"um
consenso entre osinvestigadores,
que
consderam
que
osregimes espanhol
eportugus
no
merecem aquaiificago
defascistas". Em
Portugal
eEspanha,
apesar
do contomofascista de
algumas
das
suasorganizages
iniciais
(Legio
Portuguesa
emilcias
juvenis),
osregimes no
seconseguiram impr
por
viaeleitoral
devido
a umdesenvolvimento ainda atrofiado da
poltica
de
massasO
poder
5 "Ataxonomia comparativadoautoritansmo" in AAW, O Estado Novo. Das
Ongens
ao FimdaAutarcia
(1926-1959).
1vol., 1987. pp. 23-29.6
Educating
forPassivity.
Ph. Thesis, London, 1987.7
"Franquismo
e Salazansmo" in AAW, O Estado Novo. DasOrigens
ao Fim da Autarcia(1926-1959),
1vol., 1987, p. 34.apoiou-se,
conforme
a suatradigo,
naIgreja,
noExrcito,
nospropnetnos
dasterras As
economiasdesses
pases
eramdas
mais
pobres
da
Europa.
A
oposigo,
embora
fortemente
repnmida,
no foi sumariamente exterminada.
A maior semelhanca entre a
Espanha
ePortugal produziu-se
noperodo
entre 1945 e 1956. noqual
alinguagem
com que o regime[espanhol]
se definiu a si mesmofoiadecorporativismo
catlico: era, no entanto. muitomenos sinceramente sentidoepraticado
queemPortugal8
O
regime
portugus
preferiu
optar
pela
designago
"democracia
orgnica".
O
poder
poltico
exercido
aps
ogolpe
militar
de 28 de Maio
de 1926.
sustentado
aprincpio
por
umconjunto
de
forgas
diversas,
comegou
adefinir-se a
partir
de
1930.
Com
ogeneral Domingos
de
Oliveira
apresidir
um novogoverno
e oreforgo
de
Salazar
napasta
das
Finangas,
estavamcriadas
ascondiges
para
aimplementago
do Estado Novo. Em 1930 deu-se
acriago
dopartido
nico
Unio
Nacional9
-e
promulgou-se
oActo
Colonial.
Aoposigo
encontrava-sedebilitada
e aalta
burguesia
no
estava emcondiges
de
impr
umapoltica
econmica. O Estado no
encontrouopositores,
antessurgiu
comonico
interventor
"disciplinando
arbitral
eautoritariamente"
avida
economica
esocial.
Entre 1930
e1932,
ano emque Salazar assumiu
apresidncia
do
Conselho,
assistir-se-
a umconjunto
de medidas
que
iro contribuir para
atotal
institucionalizago
do Estado
Novo
regulado
naConstituigo
de
1933.
Este
anoir
sermarcado
pela
publ/capo
de
umasrie
de leis
como aque
regulamentou
a censuraprvia,
oEstatuto do
Trabalho
Nacional,
acnago
dos
Grmios
obrigatrios,
dos
Sindicatos Nacionais
(que
estabeleceu
oregime
da
unicidade
sindical
corporativa),
das
Casas do
Povo,
do
Secretariado
de
Propaganda
Nacional
(SPN),
que serviro
aSalazar para
oexerccio
de
uma"ditadura
pessoal".
As
grandes
linhas que orientaro
apoltica
externasero enunciadas
em1935.
Segundo
Csar
de
Oliveira,
elas
resumem-se na"recusa
emparticipar
nosconflitos
produzidos
naEuropa,
[na]
vocago
atlntica de
Portugal, [na]
amizade
comEspanha
eaproximago
aoBrasi,
[na]
defesa da
Alianga
Luso-Britnica
edefesa
do
imprio
colonial".10
Ainda
neste ano deu-se areviso
daConstituigo, conseguindo
aIgreja
quebrar
aseparago
com oEstado
efazer
reconhecer
areligio
emora!
8 JAVIER TUSELL. op. cit, p 34.
9 que "nunca foi um
partido
'revolucionrio',vanguardista,
tendente destruico ousubverso do Estado e
imposico
de uma estrutura depoder partidarizada
firmementeideologizada.
recorrendo ao terror massivo para estabelecer oimprio
exclusivo da suaconcepco
do mundo"(FERNANDO
ROSAS "Asgrandes
linhas da evoluco institucional" Idem. p.139).
10 CSAR DE
OLIVEIRA,
/ctem,
p. 76.catlica
comointegrantes
da
tradigo
do
pas,
oque
teveconsequncias
imediatas
noensino.
Entre
1936/39,
esob
ainfluncia
da
guerra
civil de
Espanha,
assistiu-se
a um"endurecimento" mais acentuado
do
regime
procurando
estecriar
alguns
organismos
de
modelo fascista. Foi
o casoda
Legio
eda
Mocidade
Portuguesa.
Entre
outrasmedidas,
imps-se
ainda
aobrigatoriedade
"a todos
oscandidatos
afuncionrios
pblicos
ouadministrativos do
repdio
formal do
comunismo
eda
aceitago
da 'ordem social
estabelecida
pela
Constituigo
Polticade 1933'"11
Com
ofinal da
Segunda
Guerra
Mundial,
Salazar procurou
manter oequilbrio
difcil
entre oregime
que liderava
e asdemocracias
ocidentais
anunciando
arealizago
de
"eleiges
to
livres
como nalivre
Inglaterra"12,
integrando,
em1949,
oconjunto
de
Nages
que
dariam
origem
Organizaco
do
Atlntico Norte
(NATO)
erecebendo
no mesmo ano umauxlio financeiro da
ordem
dos
51,3
milhes de
dlares
provenientes
do
plano
MarshalJ.
Entretanto
comegaram
a sercada
vezmais evidentes
ossinais
de
dissidncia
quer
dentro do
regime,
com osopositores
aSantos Costa
reunidos
em tornode Marcelo
Caetano,
quer
nasForgas
Armadas onde
secomegaram
adesenhar
alguns
projectos
de
complot.
.Animada
pelos
sinais de descontentamento que
secomegaram
adesenhar,
aoposico
conseguiu
finalmente
unir-se,
vindo
aganhar
umforte
impulso
com acandidatura do
general
Humberto
Delgado
presidncia
da
Repblica
em1958.
A
reacgo
em massaque
seveio
averificar
emmais
umsimulacro
de
eleigo
consentido
pelo
regime,
deu
incio
aossinais
de
falncia
com
que
osalazarismo
viria
a marcar a suaactuago
noperodo
seguinte.
Esses sinais
acentuar-se-iam
com ocomego
da
guerra
nascolonias
portuguesas.
Pode mesmo afirmar-se que a
questo
colonialportuguesa
oi o cerne dosproblemas
paracuja
resoluco o Estado Novo se revelou crescentementeimpotente.13
[...]
A 18 de Marco de 1945, ao discursar perante a Assembleia Nacional, older do Estado Novotinhaj
aconscinciadessasmesmasdificuldades: 'Enraizadosaqui
e em frica, emlargas
costasdoAtlntico, para onde por fatalidade das circunstncias se vai mudar o centro degravidade
dapoltica
do Ocidente,temos bem
garantido
o nossolugar,
e o nicoproblema
que se nospe
saber se nosmanteremos alturadasresponsabilidades...'14
1 1 FERNANDO ROSAS, "As
grandes
linhas daevolugo
insttucionar, Idem, p. 130.12 CSAR DEOLIVEIRA, Idem. p. 57. 13 Idem. p. 69.
Assim,
oabalo
provocado pela campanha
em tornode Humberto
Deigado.
assucessivas
agitages
laborais.
asmanifestages
estudantis de
1961-62,
ainsurreigo
dos
militares
emBeja
em1962,
conjugado
comvulnerabilidades
estruturais evidentes
e,finalmente,
odesgaste
semfim
aque
aguerra
colonial
obrigou,
foram
provocando
lentas
masprofundas
crises
das
quais
oregime
nuncamais
serestabeleceria.
2.
A
SITUAQO
MUSICAL NOS
REGIMES
DA
ALEMANHA,
ITLIA,
ESPANHA E
PORTUGAL
Para falar
da
situago
musical
nosregimes
da
Alemanha,
Itlia,
Espanha
ePortugal
entre
asduas
guerras
utilizou-se
essencialmente
umabibliografia
bsica que
no
s
necessariamente limitada.
dado
ocarcter
meramente
contextual
do
presente
captulo,
comoreflecte
igualmente
umainvestigago
ainda
insuficiente e/ou
mal
divulgada, nalguns
pases,
nodomnio da msica deste
perodo
e,muito
particularmente,
nodo ensino
musical.
No 16
Congresso
da
Sociedade Internacional de
Musicologia,
que
serealizou
emLondres
emAgosto
de
1997,
dizia
amusicloga
francesa
do
C.N.R.S.,
Myriam Chimnes,
apropsito
da
situago
musical
emFranga
noperodo
de
Vichy;
"The cultural life of les annes noires
has
given
rise
overthe
last 15
years
or so tovarious
historical
studies centred
mainly
onliterature,
the
pJastic
arts,the
theatre and the cinema. Music has remained
curiously
absent from this field of
research,
providing
from time
to
time
mereanecdotal
material."1
Para falar
da
msica
nocontexto
de
pases
totalitrios
centrou-se
a suaabordagem
nospases
europeus
acima
descritos
-a
Itlia
e aAlemanha
pefa
radicalidade dos
seusregimes,
Portugal
eEspanha
por
comparago
com os
pnmeiros
e entre s/.A
Alemanha
Na
Alemanha,
onde
ofascismo
seproduziu
de
forma
mais
radical,
operodo
da
Repblica
de
Weimar
(1919-1933),
com as suasconturbages
poltico-sociais,
assistiu
s
primeiras reacges
nocampo
da
msica
premonitrias
do
que
sepassaria
noperodo seguinte.
No
primeiro quartel
do
sculo
XX
Berlim rivalizava
musicalmente
eculturalmente
comParis.
Em Berlim encontravam-seBusoni,
Franz
Schrecker,
Arnold
Schoenberg,
Paul
Hindemith,
Kurt
Weill,
Hanns
Eisler,
Ernst Toch
eErnst
Krenek,
entre outros.Em
Berlimouviam-se
obras
decompositores
to
fundamentais do
sculo XX
comoBartk,
Stravinsky,
Ravel,
Prokofiev
e tantosmais. Em
Berlim
estavamsediadas
algumas
dasinstituiges
musicais mais
clebres
da
Europa
de
ento
como a sualn texto de
apresentago
da comunicaco subordinada ao tema "Musical Life underVichy".
Orquestra
Filarmnica
e os seusmaestros
Arthur Nikisch
e,depois,
Wilhelm
Furtwngler.
Outros
encontravam-sefrente dos
teatrosde
pera
comoErich
Kleiber
naStaatsoper,
Bruno Walter
naStdtische
Oper
eOtto
Kiemperer
naKroll
Oper.
Mas
apartir
dos
anos20 comegaram
asurgir
vozesconservadoras
como a de
Franz
Pfizner
emdefesa da "honra
germnica"
eda
"identidade
nacional". Para
este
compositor
a"decadncia
musical",
associada
ao"caos
atonal",
no
eramais do que
umreflexo da
"desintegrago
nacionaL'. No
sopara
Pfizner
comopara
outrospolemistas
acultura
alem
encontrava-seameagada pelo judaismo
internacional
(corporizado
emSchoenberg).
Em 1924
areabertura
do Festival de
Bayreuth
serviu
de
panegrico
aoesprito
nacional-socialista,
acabando
apera
Die
Meistersinger
por
despertar.
nofinal.
umexacerbamento
nacionalista
com aentoago
pelo
pblico
do hino Deutschland uber alles
.A
partir
de 1925
aImprensa
fez
ecodo
chauvinismo nacional dando
destaque
s obras
dos
compositores
mais
retrgados, queles
que mais
seopunham
aomodemismo
musical,
msica
estrangeira,
emparticular
aojazz,
sobretudo
quando
este sefez
ouvir
naopera,
como naobra de
Kurt
Weill
Apera
dos trs
vintns,
estreada
emAgosto
de 1928.
Rosenberg,
editor
do
jornal
de
propaganda
nazi Vllkischer
Beobachter
efundador da KfdK
(Kampfbund
fr
deutsche
Kultur)2,
antecipando-se
poltica
cultural do
governo nazi,
declarar
em27 de
Fevereiro
de
1929,
no seujorna,
c,ue
"oKfdK
'informar
opovo alemo
sobre
arelago
arte,
raga,
conhecimento
evalores
morais."3
AJis
adcada de 20 ver
umaumento
da
campanha
difamatoria
relativamente
msica
considerada
moderna
e, napassagem
de
1929 para
1930, assistir- se-
a umasbita
dimmuigo
de
pegas
eperas
escritas
por
compositores contemporneos,
de 57%
para 14%.4
A
partir
de
1933,
com aascenso de Hitler
aopoder,
muitos
dos mais
importantes
intelectuais
alemes abandonaro
opas.
Ser
o caso, namsica,
de
Schoenberg,
Kurt
Weill,
Hanns
Eisler,
Toch,
mais tarde
Hindemith
e os maestrosHermann Scherchen
eOtto
Klemperer,
entre outros.S
em1935 Goebbels
organizar
a estruturacultural do
regime
emtodas
as suas vertentes.Quando trs
anosmais tarde
pronuncia
o seudiscurso
noFestival
deMsica
deDsseldorf
5,
festival
esteligado
exposigo
daMsica
Degenerada,
refere-se
extremanecessidade
que
o2
Liga
Combatente em ProldaCultura Alem. 3 ERIK LEVI, Music in the ThirdReich,
Londres, p. 9. 4Idem,
pp. 10-11.
regime
tevede
utrapassar
o"declnio
da vida
espiritual
eartstica alem"
referente
aoperodo
entre1918
e1933. O
"estado
desesperado"
emque
seencontrava a
vida musical
alem,
devido
"dissolugo"
dos
valores
maisprofundos,
supresso
da
"arte tonal
alem" por "elementos
flagrantemente
comerciais da
judiaria
internacional",
s tinha
podido
sersuperado pelo
"cultivo
sistemtico de todas
asforgas
vlidas
da
msica
alem". S ento
sepodia
dizer
que
amsica alem tinha
sido
finalmente
"expurgada"
dos
ltimos
"produtos
patolgicos
do
intelectualismo musical
judeu."
Finalmente
opovo alemo
podia
voltar
aouvir
os seusgeniais
clssicos
e oscompositores
podiam
encontrar nessafonte
inspir
ago
para
o seupoder
criativo.
Como
j
sepde
observar,
umdos
primeiros
objectivos
do
regime
nazi
foi
"expurgar"
amsica alem
(quer
acriago
como ainterpretago)
de
qualquer
associago
judaica,
por mais
tnue
que ela
fosse,
comochegou
a acontecer com amsica
sacracatlica
devido
ao seuelo
com amsica
da
sinagoga,
deongem
judaica.
Tambm
qualquer
msica
de cunho modernista
se tornou
proibitiva
comoficou
bem
patente
no s
emperseguiges
aoscompositores
como naj
referida
exposigo
de
Msica
degenerada.
"0 movimento atonal
namsica
contra osangue
e aalma
do povo
alemo"
declarou
Rosenberg
em1935.
Para
outroscrticos atonalismo
erasinnimo
de
subverso,
de
bolchevismo.
Como resultado
de
umacrtica
entusistica que fez
quando
da estreia da Lulu de Alban
Berg,
Hans-Heinz
Stuckenschmidt foi
expulso
da
Associago
de
Crticos Alemes
etambm ele
foi
obrigado
aemigrar.6
0 jazz
comoj
sefez
referncia,
por
se tratarde
umamsica
estrangeira
eracialmente
"impura",
apelando
aosinstintos
mais
primitivos
dos
sereshumanos,
segundo
os seusdetractores,
foi
tambm
perseguido
apesar
do
seuxito
nalgumas
camadas sociais alems Mas
para
agradar
a estas oregime
nazi
limitou-se
asubstituir
osmsicos negros
e/ou
estrangeiros
por alemes.
Ainda
relativamente
composigo
de
origem
no-ariana
asreacges
foram
dspares.
Amsica
de
Stravinsky,
por
exemplo,
no
foi condenada
enquanto
perdurou
opacto
de
no
agresso
entreHitler
eEstaline.
Mas mal
sequebrou
opacto,
onmero
de
audiges
das
suasobras
baixou drasticamente. O
mesmo aconteceu com amsica italiana
enquanto
durou opacto
entreHitler
eMussolini.
No
discurso
proferido
por
Goebbels,
emRegensburg,
por
altura
do
40
aniversrio
da
morte deAnton Bruckner
e napresenga
de
Hitier
edas
principais figuras
dosregime,
Goebbels
sintetizou,
nahomenagem
aocompositor austraco,
alguns
dos
eixosque
deviamorientar
amsica alem.
Idem, p. 104.
Gilliam7 considera,
na suaanlise,
que
na"afinidade
mstica" que
Bruckner estabelece
com a natureza oregime
nazi
veria
ateoria do
Blut
undBoden6:
no seutrabalho
comoprofessor
estaria
representada
aimagem
"do
professor
nacional socialista"
aquele
que
tem comomisso "moldar
apersonalidade"
dos
seusalunos
segundo
omodelo
rcico
ariano9;
e,sobretudo.
narelago
einfluncia
que
Wagner
exercera nocompositor
austriaco
estaria
representado,
naspalavras
de
Goebbels,
o autorde
umamsica
absoluta,
semrelago
com apalavra
divina,
o"Wagner
sinfonista"
umexemplo
maor
da
msica
alem,10
Esta
nogo
de
uma arteacima da
religio,
nogo
essaherdada do
sc.
XIX,
considera
Gilliam
terservido
propaganda
nazi:
The 1937
Regensburg
ceremonyplaced
Bruckner as agod
in theholy
temple
of Valhalla. His music would be the sacredlanguage
and Nazism themystical
religion.11
Bruckner
surge
assim
ao mesmonvel
de
Bach, Haendel,
Mozart
eBeethoven. Estes
eWagner
deveriam
no
s
servir de modelo
aosjovens
compositores
alemes
comodeveriam
representar
agrande
euniversal
cultura
alem
junto
do
pblico
internacional.
Igualmente
smbolo
da pureza
rcica ariana devero
ser asmsicas
de
tradigo popular.12
As
tcnicas
autilizar deveriam sempre
simples,
claras, i.e.,
preferencialmente
meldicas
ebaseadas
nosistema
diatnico.
A Itlia
0 panorama musical
emItlia
napoca
de
Mussolini
bastante
diferente
doda
Alemanha.
Vrios
factores,
unsanteriores
7 "The Annexation of Anton Bruckner: Nazi Revisionism and the Politics of
Appropnation",
The Musical
Ouarterly,
Vol. 78. no. 3. pp. 584-604.[sangue
eterra]
'was one of the most fundamental
propaganda
formulas of the Reichwhereby
ahealthy
state is based upon the foundation of a unified Volk , a raciaiunity
createdby
two factors:common blood and acommon,indigenous
soil."{Idem,
p602).
"inoeed, an entire issueof Der Deutsche Erzieher[The
GermanEducator]
was dedicatedto Bruckner"
(Idem.
p.592).
10 "To the extent that this is meant to
say that Bruckner's artistic
development
would be unthmkable withoutWagner,
no one canobject
to it[...]
Thisexperience
had an almostrevolutionary
effectonthesonority
of his musicallanguage [die klangische
Gestalt seinerTonsprachej,
whichonly
then assumed that character that werecognize
as the true 6. -Ckr _rstyle.
From that moment onwards the church musician at once retreats almostentirely,
andoutof him emerges the distinctivesymphonist
"(Idem,
"Joseph
Goebbels's Bruckner Address inRegensburg
(6
June1937)",
p.607).
11 "The Annexation of Anton Bruckner: Nazi Revisionism and the Politics of
Appropriation"
(Idem..
p.595).
12
Chega-se
mesmo a estabelecer umahierarquia
no querespeita
msicapopular
ouerudita deoutros povos. Anrdica aparece em
primeiro lugar
mas nuncaosprodutos
dos eslavos. dos magiares eoutros(ERIK
LEVI, Idem, p.183).
institucionalizago
do
regime,
outrosdecorrentes
deste.
contriburam para
isso.
Mussolini no s defendeu
atradigo.
comoquis.
igualmente,
mostrar-se um
defensor da modemidade. No
que
respeita
pnmeira incentivou,
tal
como na
Alemanha,
oretorno
s
glrias
do
passado.
Mussolini
apresentou-se como um
conhecedor
egrande apreciador
de
Palestrina,
evnos
nomesconhecidos do meio
musical
apelaram
audigo
dos
antigos
mestres.Por
exemplo,
noque
respeita
aoensino dos
conservatrios,
Luigi Perrachio,
compositor, pedagogo
ecrtico,
defendeu
naRassegna
musicale,
em1929,
asubstituigo
de
alguns
manuais
estrangeiros,
como osRiemanns,
Dubois.
Pischnas,
etc, por
manuais
italianos,
devendo
o mesmoaplicar-se
aoscompositores
[
.] alongside
Bach and Beethoven there should be notonly
Scarlatti and Clementi but also Monteverdi andMichelangelo
Rossi. Azzolino della Ciaia and Durante,Porpora
and Locatelli and Leonardo Leo[
...]13
Relativamene
modernidade
ogrande objectivo
foi difundir
aideia de
que
aideologia
fascista
erasinnimo
de
progresso.
Segundo Harvey
Sachs:
Respighi's
palatable
modernism, hisbriiliantly
atractive orchestral spectrum andthe ethnocentr
icity
of hispopular tone-poems
werejust
what the regime needed to demonstrate that progressivism and fascism were natural alliesConsequently,
the fascistsopened
the doors forRespighi
before he knocked 14Mas
Respighi
no foi
onico
protegido
doregime.
Agrande
maioria
dos
compositores
itaJ/anos foi aceite
pe/o poder.
Mussolini
chegou
aelogiar
publicamente
alguns.
como,por
exemplo,
Malipiero.
Se
bemque
houvesse
quem defendesse que
arazo
pela
qual
oregime
tinha
esteposicionamento
sedevia
sua"falta
de
competncia"
noassunto15,
ofacto
que
amsica
moderna foi
apoiada
institucionalmente.
0
prprio
governo
seencarregou
de encomendar
obras,
emespecial
peras,
aos
compositores
mais
conhecidos,
no
s
aosde
tendncia
mais
conservadora
comoAlfano, Lualdi,
Wolf-Ferrari,
comotambm
aosde
orientago
diversa
comoCasella,
Ghedini
eMalipiero.
Tambm
nasequncia
desta
poltica,
para
dentro efora de
portas,
cnaram-sedois festivais
importantes:
oFestivale internazionale
di musica de
Veneza
e oMaggio
Musicale
emFlorenga.
O
primeiro
existiu
durante
cercade
doze
anos.Iniciado
em1930,
nele
seouviram
compositores
comoBartk,
3 Cit. por HARVEY SACHS inMusic in Fascist
Italy
1987,
p. 37.
4
ldem,p.
132.15 MASSIMO MILA naentrevistaquedeu a HARVEY SACHSna obra anteriormente referida