A CAMPANHA DE DEDETIZACAO NO ESTADO DO RIO, BRASIL
Pelo Dr. HEITOR P. FRÓES
Diretor Geral, Departamento Nacional de Saúde Brasil
0 valor e a eficiência do DDT.-Como Diretor do Departamento Nacional de Saúde cabe-me informar que a partir de 1946 vem sendo regularmente utilizado o DDT por alguns dentre os Servicos subordina- dos a êste Departamento, tais como o de Malária, o de Peste, e o de Febre Amarela, bem assim pelo Servico Especial de Saúde Pública. 0 DDT, tal qual o Gamexane, outro inseticida polivalente a que é particu- larmente sensfvel o transmissor da Doenca de Chagas, está dando lugar a tal transformar$o em nosso sistema de combate aos insetos veicula- dores de doencas que o Dr. Fred L. Soper, atual Diretor da Reparticão Sanitária Panamericana, ja aventou espirituosamente a idéia de divi- dirmos a história da luta do homem contra a malária em dois períodos, a saber: ADDT e DDDT, isto é: Antes do DDT e Depois do DDT! No particular da malária B o Brasil, provàvelmente, o mais experi- mentado dentre os pafses do continente, pois, já em 1944 era entre nós ensaiado o DDT pelo ServiGo Nacional de Malária como larvicida e meses após como inseticida, passando-se a empregá-lo este ano, em larga escala, na zona do Sao Francisco, onde, em companhia do Dr. Mário Pinotti, dinâmico Diretor do Servico, apreciei a boa vontade e a con- fianca com que a populacão local acolhia as turmas de dedetiza@ío. Em data mais recente tive oportunidade de testemunhas, no Norte da Argentina, durante urna excursão científica realizada a convite do respectivo Govêrno, o entusiasmo com que, sob a direcão do jovem sani- tarista Dr. Carlos Alberto Alvarado, ali se iniciava urna ampla campanha anti-malárica baseada essencialmente no emprêgo do referido inseticida. As excelentes contribuicões apresentadas por ocasião do 6” Congresso Brasileiro de Higiene foram, ademais, inteiramente favoráveis ao DDT, desde que aplicado na ocasiao oportuna, em concentracão suficiente e com a técnica adequada.
A flnalidade desta companha.-A finalidade especifica da campanha Q a destruicão dos mosquitos veiculadores da malária ; como os anofelinos alf existentes têm hábitos essencialmente domésticos, tudo indica que após urna série reduzida de dedetizaqões periódicas as condicões atuais se modificarão bastante, com urna queda muito sensivel do fndice de transmissão. Um dos motivos que mais têm contribufdo para a baa aceita@0 da medida, pelas classes mais pobres e ignorantes, é que ao DDT sáo igualmente sensfveis outros insetos veiculadores de doenca ou simplesmente molestos para o homem, tais como moscas, pialhos,
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pulgas e percevejos, promovendo-se assim verdadeira desinsetizacáo, de que resultam alívio e conforto para os habitantes.
Dados estatisticos e
a área
a ser tratada.-A área a ser protegida atinge perto de trinta mil quilbmetros quadrados e beneficiara cêrca de setecentas mil pessôas; mais de cento e quarenta mil predios seráo dedetizados, por pessoa1 devidamente adestrado e sob a direcáo de médi- cos especializados. Calcula-se que seráo utilizadas nada menos de ses- senta e cinco toneladas de DDT em pó, atingindo a dois milhões de litros o volume total do liquido inseticida a ser borrifado nas paredes e no teto das habitacões. Trinta e ummunicfpios serão assim beneficiados, devendo ser trabalhada urna Brea equivalente a mais de 60% do Estado. Acardo estabelecido para a execucao dos trabalhos.-A campanha realizar-se-á dentro do mesmo espfrito de coopera@ío que vem sendo observado pelo Ministerio, tanto no setor educativo quanto no de saúde pública ; as despesas totais foram calculadas aproximadamente em cinco milhóes de cruzeiros, e náo teria sido possivel iniciar os trabalhos ainda no corrente exercício se náo tivessemos contado com a contribui@o íinanceira imediata de metade daquela vultosa importância, patriòtica- mente concedida pelo esclarecido Govêrno do Estado do Rio.A
técnica
e a dura@0 da primeira dedetiza@o.-0 DDT será utili- zado, conforme as indicacões técnicas e de ac&do principalmente com o tipo das habitacóes, sob a forma de solu@o(em querozene), de emulsáo ou de suspensáo. A eficiência da acáo residual, de que depende o êxito da aplicacáo, será devidamente aferida por processo biológico (anofelinos postos em contato com superfícies dedetizadas para observa@o do tempo de sôbrevivência dos mesmos), tendo sido idealizado por técnicos do Servico Nacional de Malária um dispositivo prático adequado a essa finalidade. 0 primeiro ciclo de dedetizacáo poderá ser realizado num prazo de cincoenta dias, aproximadamente, tal qual foi programado, mas náo haverá inconveniente em prolongá-Io por mais vinte ou trinta dias, em vista das eondi@es meteriológicas das últimas semanas, que retarda- ráo fatalmente, na regiáo em aprêco, o infcio da época de transmissão da malaria.956 OFICINA SANITARIA PANAMERICANA [Nbre.-Dbre. 1947 seringais de Mato Grosso e bem assim para o vale do Mearim e &eas malafigenas da baixada maranhense. No Sáo Francisco vai ser em breve iniciado o segundo ciclo de dedetizacáo, em proporcóes naturalmente mais amplas, interessando cêrca de cem mil predios. Ainda uma vez será complementada a aplica@0 do inseticida pela medica@0 dos pacien- tes, medida essa que se me afigura realmente indispensável, nem só por urna questáo de humanidade, como porque ela assegurará a pronta recupera@0 de grande número de indivíduos que sem o tratamento especifico continuariam, durante muitos dias ainda, absolutamente inaptos para o trabalho. Para isso contamos, atuahnente, com novos produtos sintéticos de grande eficiência, cuja facilidade de ministracáo, em dose única, os torna particularmente adequados a campanhas de tal natureza, tais sáo o Comoquina(CAM-AQl), a cloroquina e oxicloro- quina, todos ja experimentados no Brasil, valendo referir que o Serviso Nacional de Malária, do Departamento Nacional de Saúde, tem empre- gado em alta escala, com resultados bem animadores, o segundo dêsses medicamentos, a cloroquina, mais conhecida pelo nome comercial de ara&. Pessoalmente ainda náo tenho opiniáo firmada sabre o valor comparativo dos mencionados preparados, parecendo-me prematuro exprimir a respeito um paracer definitivo. Ao visitar, em outubro último, a Clínica Experimental del Paludismo da cidade de Güemes, na República Argentina, ah se estavam realizando interessantes estudos a respeito, mas também os nossos colegas portenhos ainda não se considera- vam suficientemente documentados para estabelecer conclusóes. De qualquer modo devemo-nos sentir animados e satisfeitos, pois é incon- testável que entramos num período verdadeiramente promissor na luta contra 0 milti-secular e quasi universal flagelo da malaria.
