LUIZ ANTONIO TROTTA MIRANDA
DETERMINANTES ECONÔMICAS DO
CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA NO ESTADO DO
CEARÁ
Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre no Curso de Pós-Graduação em Economia, Área de concentração em Economia de Empresas, da Universidade Federal do Ceará -CAEN
LUIZ ANTONIO TROTTA MIRANDA
DETERMINANTES ECONÔMICAS DO
CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA NO ESTADO DO
CEARÁ
Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre no Curso de Pós-Graduação em Economia, Área de concentração em Economia de Empresas, da Universidade Federal do Ceará -CAEN
Aprovada em 16 de abril de 2004.
Banca Examinadora
_______________________________________________ Professor Dr. Ronaldo de Albuquerque e Arraes – Orientador
Universidade Federal do Ceará – UFC.
_______________________________________________ Dr.Ricardo Régis Saunders Duarte
Consultor da SESA – Secretaria de Saúde do Estado do CE
_______________________________________________ Professora Dra.Rosemeiry Melo Carvalho
“Não concordo com uma só de
vossas palavras, mas defenderei até
a morte o direito que tendes de
proferi-las.”
Ao meu pai, José Luiz, minha mãe,
Lucilia, ao meu irmão, José Luiz e
AGRADECIMENTOS
Muitos foram os que contribuíram direta ou indiretamente com esse
trabalho, e a eles devo minha gratidão.
Agradeço a Deus, que sempre iluminou meus caminhos. Carregou-me
nas tempestades e andou ao meu lado nas calmarias.
Meu orientador, Prof. Ronaldo, que apesar do pouco tempo em que
estivemos juntos demonstrou total empenho e interesse nesse trabalho.
Agradeço-lhe pela solitude com que me orientou nessa dissertação.
A todos da coordenação e secretaria do CAEN, especialmente ao Bibi,
que se demonstrou um verdadeiro colega em todas as fases desse trabalho. Aos
que me ajudaram na coleta de dados e informações, em especial ao Caminha e a
Gláucia, da Coelce e ao experiente Assis Sales. A todos os colegas do curso, com
os quais muito aprendi.
A meus pais, José Luiz e Maria Lucilia, meu irmão, José Luiz e minha
cunhada Carolina, que além de me terem dado todo o apoio moral necessário
durante essa jornada, incentivaram-me nos momentos de dúvida, mostrando-me
caminhos que simplesmente não conseguia enxergar.
A minha namorada, Camila, que soube pacientemente abdicar de vários
momentos para que pudesse me dedicar a esse trabalho. A você um carinho
especial.
A Tia Regina, Tio Luciano, Tia Fatima, Tio Newton, Cassiano, Bianca,
Luciano Filho e Daniel, pelo apoio e incentivo constantes. E a todos que, mesmo não
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS ... viii
LISTA DE GRÁFICOS... viii
LISTA DE TABELAS... ix
RESUMO... x
ABSTRACT... xi
INTRODUÇÃO... 12
CAPÍTULO I... 15
História da Energia Elétrica no Brasil ... 15
1.1 O Regime Militar e o Setor ... 19
1.2 O Início da Crise no Setor ... 21
1.3 O Modelo Inglês ... 24
1.4 Caso Brasileiro ... 27
1.5 O Racionamento de 2001... 30
1.6 As Privatizações do Setor Elétrico Brasileiro... 32
CAPÍTULO II... 35
Mercado de Energia Elétrica no Brasil ... 35
2.1 Fontes de Energia ... 37
2.2 Análise do Consumo de Energia por Setores e Regiões ... 38
2.2.1 Setor Industrial ... 38
2.2.2 Setor Residencial ... 39
2.2.3 Outros Setores ... 42
2.2.4 Análise Regional ... 42
CAPÍTULO III... 47
Mercado de Energia Elétrica no Estado do Ceará ... 47
3.1 Análise da Classe Residencial ... 48
3.2 Análise da Classe Industrial ... 50
3.3 Análise das Classes Comercial / Rural / Outros ... 53
3.4 Análise da utilização da lenha como fonte de energia no Estado do Ceará... 54
3.5 Capacidade de geração de Energia Elétrica no Estado do Ceará ... 55
3.5.1 Energia Eólica ... 56
CAPÍTULO IV... 58
4.1 Modelo de Energia Elétrica no Ceará... 61
4.1.2 Fontes de Informações... 62
4.1.3 Metodologia... 72
4.2 Modelos de Equação Única... 73
4.2.1 Modelo 1... 74
4.2.2 Modelo 2... 78
4.2.3 Modelo 3... 80
4.2.4 Modelo 4... 82
4.2.5 Modelo 5... 84
4.2.6 Modelo 6... 86
4.2.7 Modelo 7... 88
4.2.8 Modelo 8... 90
4.3 Modelo de Consumo de Energia Elétrica para o Brasil ... 92
4.3.1 Metodologia... 93
4.3.2 Estimativas do Modelo ... 94
CONCLUSÃO... 98
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 101
LISTA DE QUADROS
QUADRO 01...59
QUADRO 02...66
QUADRO 03...67
LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 01 ...19
GRÁFICO 02 ...25
GRÁFICO 03 ...35
GRÁFICO 04 ...36
GRÁFICO 05 ...37
GRÁFICO 06 ...39
GRÁFICO 07 ...40
GRÁFICO 08 ...41
GRÁFICO 09 ...42
GRÁFICO 10 ...43
GRÁFICO 11 ...43
GRÁFICO 12 ...44
GRÁFICO 13 ...45
GRÁFICO 14 ...47
GRÁFICO 15 ...48
GRÁFICO 16 ...49
GRÁFICO 17 ...50
GRÁFICO 18 ...51
GRÁFICO 19 ...52
GRÁFICO 20 ...61
GRÁFICO 21 ...76
GRÁFICO 22 ...78
GRÁFICO 23 ...80
GRÁFICO 24 ...82
GRÁFICO 25 ...86
GRÁFICO 26 ...88
GRÁFICO 27 ...90
LISTA DE TABELAS
TABELA 01... 22
TABELA 02... 24
TABELA 03... 26
TABELA 04... 27
TABELA 05... 33
TABELA 06... 52
TABELA 07... 55
TABELA 08... 56
TABELA 09... 68
TABELA 10... 70
TABELA 11... 72
TABELA 12... 74
TABELA 13... 75
TABELA 14... 77
TABELA 15... 79
TABELA 16... 79
TABELA 17... 81
TABELA 18... 81
TABELA 19... 83
TABELA 20... 83
TABELA 21... 85
TABELA 22... 85
TABELA 23... 87
TABELA 24... 87
RESUMO
O aumento do consumo de energia elétrica é considerado uma das condições básicas para o desenvolvimento econômico de um país. O Brasil, nos últimos anos, tem apresentado significativos aumentos em seu consumo de energia elétrica, e o Governo Federal não dispõe de recursos para investir adequadamente no setor. Assim sendo, o país está passando por profundas modificações em sua estrutura energética, buscando adequar-se para garantir o futuro do adequar-setor. Conhecer bem a demanda de energia elétrica, através de análises econométricas, é de fundamental importância para possibilitar que investidores privados supram a deficiência de investimentos do setor público. Esse trabalho utilizará modelos econométricos, pelo método dos mínimos quadrados e pelo método dos mínimos quadrados em dois estágios para sugerir modelos que expliquem o consumo de energia elétrica no Estado do Ceará.
Para as análises, foram considerados como variáveis independentes o número de domicílios do Estado do Ceará, o PIB do Estado do Ceará e do Brasil, a tarifa média de energia brasileira, o consumo de energia elétrica do Brasil e uma variável qualitativa dummy. Foram feitos 07 diferentes modelos utilizando o Método dos Mínimos Quadrados e 02 modelos utilizando o Método dos Mínimos Quadrados em Dois Estágios. Cada modelo foi analisado individualmente. Algumas variáveis que inicialmente acreditava-se terem alta representatividade no consumo de energia elétrica, como por exemplo a tarifa de energia elétrica, demonstraram-se pouco significativas em diversos modelos, enquanto que outras, como por exemplo o número de domicílios, apresentaram alta significância nos modelos. Por esse motivo, optou-se por fazer diversos modelos, permitindo com isso analisar a interação das diversas variáveis. Para o método dos mínimos quadrados em dois estágios, considerou-se como endógenas as variáveis PIB do Estado do Ceará e o Consumo de Energia Elétrica do Estado do Ceará.
ABSTRACT
The increase of electric power consumption is considered one of the basic conditions for the economic growth of any country. Brazil, in the last years, has presented significant increases in its supply/demand of electric power, in spite of the Federal Government having lack of financial resources to invest adequately in this sector. Nevertheless, the country has experienced sharp modifications in its energy structure, trying to adjust itself to guarantee the future of the sector and sustain the country growth. To properly know how to estimate the demand for electric power, through econometrical analyses, it is to be considered of high importance to a country or a region development. It allows private investor to supply the deficiency of investments of the public sector. This work will use several econometrical models, by the method of the least square and the method of the two stages least square to suggest models that explain the consumption path of electric power in the State of the Ceará
The econometric analyses considered, as independent variables: the number of domiciles of the State of Ceará, the GGP of the State of Ceará and Brazil, the average Brazilian energy tariffs, the Brazilian electric power consumption, and a qualitative dummy variable. It was done 07 different models using the least square method and 02 models using the two stages least square method. Each model was then individually analyzed. Some variables that initially were given credit to have high representation in the power consumption of the state, as for example the tariffs of electric power, had been demonstrated during the work little significance in many models, while others, such as the number of domiciles, had showed high significance in the models. That’s the main reason why it was opted to make a large variety of models, allowing to analyze the interaction of all the variables. For the method of the two stages least square, it was considered as endogenous variables the GGP of the State of the Ceará and consumption de electric power of the State of Ceará.
INTRODUÇÃO
O suprimento eficiente de energia elétrica é considerado uma das
condições básicas para o desenvolvimento econômico de um país, portanto, é
esperado que a questão energética, juntamente com outros setores de
infra-estrutura como o transporte e as telecomunicações façam parte de uma agenda
estratégica, sobre a qual os planejadores podem e devem atuar para moldar o estilo
de crescimento econômico pretendido.
Estimular o investimento em infra-estrutura pode ser uma estratégia
eficiente para promover o investimento privado e a retomada do crescimento
econômico sustentado de um país. A literatura recente mostra que há fortes
complementaridades entre o investimento em infra-estrutura e o investimento
privado e, consequentemente, entre o investimento em infra-estrutura e o
crescimento econômico. (RIGOLON, 1997, p. 07).
As necessidades crescentes de energia elétrica e os altos custos
provenientes do não suprimento desta energia, podendo-se citar como exemplo os
efeitos do racionamento brasileiro em 2001, colocam o Brasil diante da opção de
aumentar a oferta de energia elétrica mediante a construção de novas fontes de
geração e a obras de transmissão / distribuição correspondentes, e de promover um
melhor aproveitamento dos recursos já disponíveis.
Empreendimentos em energia elétrica, entretanto, esbarram em restrições
de ordem financeiras, ambientais e sociais. De ordem financeira face aos altos
volumes de investimentos necessários para a ampliação de um sistema existente,
juntamente com a falta de regulação e disputa de financiamentos internacionais por
parte dos países emergentes.
Do lado ambiental, as grandes obras de geração e transmissão,
necessárias face às imposições de economia de escala, resultam na utilização de
grandes extensões territoriais para gerar e transmitir a energia elétrica. No lado das
necessidade de deslocamento de populações ribeirinhas para a formação do
reservatório da usina.
O fato do setor energético estar operando com possibilidades de déficit de
fornecimento, torna os investimentos preementes para permitir um crescimento
sustentado brasileiro, aliado a custos viáveis de remuneração do capital investido e
a tarifas justas para a sociedade. A nova organização institucional do setor elétrico
brasileiro não contempla grandes investimentos federais na construção de
mega-projetos, como os que marcaram as décadas de 70 e 80.
Novos projetos de expansão do parque gerador instalado só receberão
financiamentos se houver perspectiva de expansão do consumo e rentabilidade,
capazes de remunerar o capital investido. Nesse contexto, o estudo da demanda de
energia elétrica se tornou ainda mais importante para os planos de investimentos no
setor.
Esse trabalho supre parte dessa necessidade. Será feito um estudo
buscando entender o perfil de consumo de energia elétrica no Estado do Ceará,
através de uma modelagem de demanda de energia elétrica no Estado, gerando o
conhecimento dos fatores que impactam a demanda e a magnitude da influência de
cada um. Ao mesmo tempo em que se fará um estudo simultâneo do impacto da
expansão desse setor sobre o crescimento da economia cearense, através da
diferenciação do PIB estadual, o PIB nacional, o número de domicílios estadual, as
tarifas médias nacionais e o consumo de energia elétrica nacional.
Para um melhor entendimento sobre o setor de energia elétrica, far-se-á
no primeiro capítulo uma descrição do histórico desse setor no Brasil, desde sua
criação até as atuais modificações regulatórias no sistema energético nacional.
No segundo capítulo será feita uma análise do consumo de energia
elétrica no Brasil, investigando o consumo de energia por setores e regiões do País.
No capítulo três será feita uma análise semelhante, entretanto, restrita ao Estado do
No capítulo 4 serão descritos possíveis modelos conceituais e
econométricos utilizados nesse trabalho. Em uma análise preliminar foram
consideradas diversas variáveis e dois métodos de estimação, o Método dos
Mínimos Quadrados Ordinários, para analisar o impacto dessas variáveis no
consumo de energia elétrica do Estado do Ceará e o Método dos Mínimos
Quadrados em Dois Estágios, para analisar os dados e variáveis nacionais. Os
resultados das regressões serão comentados no próprio capítulo.
Finalmente, o último capítulo trará as considerações finais desse trabalho
CAPÍTULO I
História da Energia Elétrica no Brasil
A história da energia elétrica no Brasil está relacionada com a visita do
imperador D. Pedro II a uma feira industrial nos Estados Unidos em 1876. Três anos
depois foi inaugurada na então capital do país, Rio de Janeiro, a iluminação pública
da estação da Estrada de Ferro D. Pedro II, hoje a Central do Brasil. Quatro anos
depois foi inaugurado o serviço de iluminação por energia elétrica na cidade de
Campos (RJ), sendo a primeira cidade da América Latina com esse recurso,
devendo-se ressaltar, entretanto, que tratava-se de um sistema bastante
simplificado, onde o mesmo era movido por uma pequena máquina motriz a vapor,
contando com três dínamos e 39 lâmpadas.
Porto Alegre foi a primeira cidade brasileira a contar com um sistema de
iluminação pública consistente, através de uma usina térmica de propriedade da
Companhia Fiat Lux, em 1887. Dois anos depois, São Paulo também recebeu seu
sistema de iluminação pública através da Usina Térmica Água Branca.
A primeira usina hidráulica, hoje principal fonte de energia, foi inaugurada
em 1883, localizada em Diamantina, Minas Gerais, tendo como objetivo exclusivo a
mineração de uma mina de diamantes. Seis anos depois, foi inaugurada a segunda
usina hidráulica, também em Minas Gerais, objetivando o abastecimento de uma
fábrica têxtil e a iluminação de Juiz de Fora. Até o final da década de 20, o Brasil
dispunha de poucas usinas, com uma potência total instalada de apenas 12 Mw,
sendo que todas estavam sob o controle dos estados ou de investidores nacionais.
Conforme destaca Filho (2003 p.44) , “O início do novo século coincide
também com a chegada de uma empresa que iria dominar a maioria dos
investimentos de eletricidade do Brasil nas suas primeiras cinco décadas”. O autor
se refere a empresa Light, de capital anglo-canadense, bem capitalizada, que
iniciou suas atividades no país demonstrando muito empreendedorismo, comprando
a Companhia Viação Paulista, que atendia a cidade com serviços de bondes de
Água e Luz do Estado de São Paulo, responsável pelo precário sistema de
iluminação pública da capital. A empresa acreditava no potencial da cidade de São
Paulo, impulsionada, à época, pela economia cafeeira e sua rápida urbanização.
Alguns anos depois a Light expandiu-se para o Rio de Janeiro, então capital da
república, consolidando seu predomínio no eixo Rio – São Paulo.
Deve-se destacar, conforme aborda Filho (2003, p. 44), que nesse
período surgia no Nordeste “um dos mais criativos empresários brasileiros do
começo do século e, sem sombra de dúvidas, o mais brilhante dentre os
Nordestinos”. O autor refere-se ao Cearense Delmiro Gouveia, empresário que
atuou no ramo têxtil entre os Estados de Alagoas, Bahia e Pernambuco, sendo o
primeiro brasileiro a perceber o enorme potencial hidroelétrico do rio São Francisco
e, em 1913, implantou uma das primeiras hidroelétricas do Nordeste, na altura de
Paulo Afonso.
O setor elétrico ficou, até quase a metade do século, dividido por duas
empresas estrangeiras, a Light com atuação no Rio de Janeiro e São Paulo, e a
Amforp (American and Foreign Power Company), atuando no interior paulista e em
algumas cidades do Nordeste. Em 1930, entretanto, com a revolução que levou
Getúlio Vargas ao poder, buscou-se uma perda de autonomia especialmente das
empresas estrangeiras, vislumbrando a construção de uma nação moderna e
industrializada, com forte intervenção do Estado.
A constituição de 1934, no Capítulo da Ordem Econômica e Social (pela
primeira vez presente num texto constitucional), introduziu o conceito da intervenção
estatal na exploração de riquezas naturais como minas e quedas d’água, através da
criação do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM). Este fato marcava
uma vitória das forças nacionalistas em defesa de uma política restritiva às ações
do capital estrangeiro. Em 1934 o presidente Getúlio Vargas, através do decreto
26.234, promulgou o Código de Águas, regulamentando o setor de águas e energia
elétrica (BORENSTEIN, CAMARGO, 1997, p. 70).
O Código estabelecia a propriedade da União para todas as fontes de
para a geração de energia, passou a depender de concessão do Presidente da
República, por um prazo de 30 anos, podendo chegar a 50 anos em casos de
investimentos de grande vulto.
O Código atribuía ao poder público o controle sobre as concessionárias
de energia elétrica, determinando a fiscalização técnica, financeira e contábil destas
empresas. Esta cláusula visava, conforme dito, atingir as empresas estrangeiras
atuando no Brasil, em especial a LIGHT, acusada de auferir grandes lucros, via
tarifa, além de transferir capitais ao exterior.
Em 1945, através do Decreto Lei 8.031, criou-se a CHESF, Companhia
Hidroelétrica do São Francisco, com o objetivo de construir uma grande usina
hidroelétrica para aproveitamento da cachoeira de Paulo Afonso, no rio São
Francisco, entre Alagoas e Bahia.
Durante o primeiro governo de Vargas, houve um considerável aumento
na demanda energética brasileira e as empresas do setor passaram a ter
dificuldades de atender às exigências do desenvolvimento nacional. Houve um
incremento da urbanização, acréscimo de demanda de eletrodomésticos e
equipamentos industriais. Somando-se o fato de que no período pós 2a Guerra
Mundial, tornou-se muito difícil a importação de equipamentos, dificultando a
expansão de nosso parque instalado. Nesse período, o País enfrentou um discreto
racionamento.
Já em seu governo constitucional, Getúlio Vargas (1951-1954),
encaminhou ao Congresso Nacional o Plano Nacional de Eletrificação.
Anteriormente, já haviam sido encaminhados outros dois projetos, criando o Imposto
Único sobre a Energia Elétrica (IUEE), que visava financiar a expansão do sistema.
Além disso, definia os critérios para a divisão dos recursos entre os estados. O
Plano Nacional de Eletrificação previa:
a) a unificação da freqüência em 60 Hz;
b) a interligação dos sistemas;
d) a mobilização de recursos extra-setoriais, sob a coordenação do estado,
para fazer face aos investimentos necessários.
Estimulados pela criação da CHESF e cientes da incapacidade do Estado
de prover os recursos energéticos para o desenvolvimento do País, alguns estados
mais desenvolvidos resolveram desenvolver iniciativas próprias para a produção
energética, através de estatais locais. Minas Gerais, cujo governador era Juscelino
Kubitschek, inaugurou em 1952 a CEMIG, cujo objetivo era aproveitar os recursos
hídricos da região, inclusive inaugurando a usina de Três Marias no Rio São
Francisco, hoje de vital importância no suprimento de energia elétrica para a região
Nordeste. Atitude semelhante foi adotado pelo governo de São Paulo, com a criação
da CESP.
A criação da Eletrobrás (Empresa Centrais Elétricas do Brasil S.A.),
holding do setor, cujo projeto de criação foi enviado ao Congresso Nacional por
Vargas, encontrou forte oposição dos grupos estrangeiros que aqui estavam, assim
como de setores nacionais desejosos na cooperação com os mesmos e parte
considerável da imprensa. Graças a essa enorme pressão, a aprovação do projeto
somente se deu no governo Jânio Quadros em 1961.
Segundo Borenstein (apud Rodrigues 1994)
Com a constituição da Eletrobrás, ficava definida a estrutura organizacional do setor elétrico brasileiro, praticamente sem alterações até hoje. Além de exercer suas funções de coordenação do planejamento da expansão e da operação do sistema elétrico, da gestão financeira e empresarial e a articulação do setor com a indústria, a Eletrobrás controla ainda quatro empresas geradoras de âmbito regional, que, juntas, cobrem todo o território nacional: Eletronorte (fundada em 1972), Chesf (fundada em 1945), Furnas (Fundada em 1957) e Eletrosul (Fundada em 1968). Tem ainda duas controlada de âmbito estadual: A Light, cujo controle adquiriu em 1978, e a Escelsa – Espírito Santo Centrais Elétricas S.A.
O processo de evolução na matriz energética brasileira ganhou diversos
investimentos durante o governo de Juscelino, o qual tinha consciência da
importância desse setor para o desenvolvimento do país. Fato semelhante ele já
instalar em Minas Gerais. Juscelino sabia que se fosse atrair grandes indústrias
estrangeiras, tais como a indústria automobilística, precisaria de um parque
energético viável e sustentável.
Segundo Santos (apud Lima, 1995), com relação aos investimentos em
infra estrutura no governo JK, energia e transporte respondiam por 73% dos
investimentos programados, 20,4% destinavam-se às indústrias de base e 6,6% à
alimentação e educação. O Plano de Metas contemplava uma significativa
expansão na capacidade instalada de geração elétrica no Brasil, conforme exposto
no gráfico 01.
GRÁFICO 01. Capacidade de geração, 1956 – 1965, Brasil (Gw)
Fonte: Tania Santos, apud Plano de Desenvolvimento Econômico – Energia, Presidência da República – Conselho de desenvolvimento.
1.1 O Regime Militar e o Setor
Segundo Borenstein, (1997, p. 75), o primeiro governo militar (1964 –
1967), do presidente Castelo Branco, procurou fortalecer o sistema financeiro
nacional, através de diversas medidas contidas no Plano de Ação Econômica do
Governo (PAEG), proposto pelo então ministro do Planejamento e Coordenação
Econômica, Roberto Campos, onde se propunha uma recessão controlada
buscando o controle da inflação. Assim sendo, nesse período os investimentos no
setor elétrico foram significativamente reduzidos e, como principal medida, a
aquisição da Amforp e de mais onze empresas estrangeiras pela Eletrobrás. Capacidade Instalada (GW)
0 2 4 6 8 10
O segundo governo militar, a partir de 1967, teve um entendimento
diferente sobre a causa da inflação, imputando-a como sendo proveniente de
custos. Assim sendo, procurou-se estimular a demanda através de um programa
arrojado de investimentos públicos, inclusive no setor elétrico. Principalmente nesse
período, houve praticamente uma duplicação na capacidade instalada de geração
elétrica. No período de 1964 a 1972 a capacidade foi praticamente dobrada, e entre
1972 a 1980 foi mais do que duplicada.
As crises do petróleo onde o preço do barril passou de US$ 2,9 para US$
11,65 em 1973 e de US$ 13,00 para US$ 34,00 em 1979 atingiram diretamente os
planos no setor energético do governo federal, do então presidente Ernesto Geisel
(1974 – 1979), onde o mesmo antes de assumir a presidência, tinha adquirido
grande experiência como presidente da Petrobrás, no período de 1969 a 1973. Em
1973, o Brasil importava 76% do petróleo que consumia, e o petróleo exercia um
papel estratégico como fonte de energia para o desenvolvimento do país.
Segundo explicado por João Alves Filho (2003, p. 79), o raciocínio de
Geisel foi agir de maneira tal que o Brasil procurasse alternativas internas para
substituir nossa notória deficiência de petróleo. Concentrou-se em algumas medidas
básicas: aumentar maciçamente o investimento em novas hidroelétricas a fim de
que aumentando a geração de eletricidade, pudesse trocar, no máximo possível, o
uso do consumo dos derivados do petróleo por eletricidade, ou seja, substituir
equipamentos que consumiam óleo diesel ou gás por aqueles que utilizavam
eletricidade.
Foi também em seu governo que se deu o projeto de construção da Usina
de Itaipú, o incentivo a exploração de petróleo off-shore em águas profundas,
aumentando significativamente nossa produção, a criação do Pró – Álcool e a
instalação das Usinas Nucleares.
Deve-se ressaltar, entretanto, que durante as crises do petróleo, ao invés
do governo aproveitar para reajustar as tarifas vigentes como uma forma de
financiar a acelerada expansão do sistema elétrico, necessária à substituição
preferiu-se a restrição das tarifas visando principalmente o controle da inflação e o
financiamento do sistema através de empréstimos no exterior. Conforme alerta
Borenstein (1997, p. 77 e 78), considerando-se a tarifa média de 1975 como base,
em 1979 ela correspondia por 76% do seu valor de 1975. Em 1997, através do
decreto 79.706/77, é retirada do setor o poder de definir tarifas, transferindo-o para
a área econômica do governo.
Sobre essa época, Borenstein (apud Medeiros 1994) afirma que:
A partir de 1974, a economia brasileira começa a sofrer transformações que repercutiram profundamente no setor elétrico. A euforia do crescimento acelerado do período do milagre (1968 – 1973) começou a ceder lugar a muitas inquietações sobre as variáveis do mundo econômico. Após cinco anos de extraordinária performance, o boom começou a apresentar sintomas evidentes de perda de vitalidade, e a economia acabou desembocando na chamada crise do milagre.
1.2 O Início da Crise no Setor
Conforme citado, o sistema energético brasileiro apresentou grandes
avanços ao longo principalmente de duas gerações. Conseguiu-se construir uma
matriz energética baseada em uma fonte limpa, renovável e uma das menos
poluentes do planeta.
Entretanto, ao final da década de 70 com o segundo choque do Petróleo e
o aumento das taxas de juros internacionais, onde a taxa PRIME de 1981 chegou a
mais de 20% a.a., complicou-se a saúde financeira das empresas do setor, cujo
crescimento estava vinculado a empréstimos externos. O retorno financeiro oriundo
da venda de energia não era suficiente para remunerar os empréstimos
internacionais. O financiamento que vinha de bancos de fomento, tais como BID –
Banco Interamericano de Desenvolvimento, BIRD – Banco Internacional de
Reconstrução e Desenvolvimento, Banco Mundial entre outros tornaram-se
escassos, e as condições de financiamento externas tornaram-se desfavoráveis,
com juros flutuantes e altos, carências menores e maiores exigências dos
Outra fonte de financiamento foi o setor financeiro doméstico, cujo
objetivo era pagar o serviço da dívida e terminar as obras inconclusas. As tarifas
continuaram contidas, agravando ainda mais a situação. As obras em andamento
sofreram atrasos, levando, como conseqüência, ao pagamento de juros por esse
atraso, aumentando os custos o que muitas vezes impedia a continuação do
empreendimento.
Tabela 1
Comparação entre o orçamento original e o custo de algumas obras do setor elétrico.
OBRA EMPRESA (1) (2) SITUAÇÃO
ROSANA CESP 100 230 07/91
TAQUARAÇU CESP 100 170 07/91
P. PRIMAVERA CESP 100 173 07/91
N. PONTE CEMIG 100 138 12/88
SAMUEL ELETRONORTE 100 173 12/88
ITAPARICA CHESF 100 156 12/88
BALBINA ELETRONORTE 100 144 CONCLUÍDA
Fonte: Borenstein (apud Medeiros, 1993)
(1) Orçamento original da obra em base 100; (2) Custo real na data considerada.
Deve-se ressaltar ainda as inúmeras obras que tiveram seus projetos
paralisados e que já consumiram grandes volumes de investimentos.
Com o aumento gradativo da inflação, os formuladores da política
econômica utilizaram-se da tarifa de energia como uma forma de camuflar os
índices inflacionários, contribuindo ainda mais para a falta de capitalização do setor.
Segundo Borenstein (1997, p. 82), a dívida do setor elétrico em 1986 atingia a cifra
de US$ 24 bilhões de dólares, sendo que 80% em moeda estrangeira. Nessa
ocasião, o serviço da dívida já ultrapassava e muito o nível de investimento.
Outro fator que contribuiu para o agravamento financeiro e desequilíbrio
do sistema energético foram os altos investimentos realizados em duas obras
Brasileiro. A crise nas finanças públicas levou o governo a investir menos no setor
enquanto evoluía o processo de endividamento do país.
Além da crise financeira, com a criação pela Eletrobrás da Reserva Geral
de Garantia (RGG), a qual se constituía num fundo com depósitos de todas as
concessionárias visando permitir a manutenção legal daquelas concessionárias com
custos maiores, criou-se também uma crise institucional, onde de um lado estava a
Eletrobrás e do outro as concessionárias estaduais.
Até 1993, as tarifas eram equalizadas em todo o país, fazendo com que
empresas superavitárias e deficitárias compensassem, mediante transferências, os
ganhos e perdas provenientes do esforço individual de cada uma delas. (PIRES,
2002).
As concessionárias estaduais, alegando insolvência financeira, não
efetuavam os depósitos devidos a Eletrobrás, e com o crescimento do poder político
dos governos estaduais nessas empresas na década de 80, a influência das
concessionárias estaduais aumentou, facilitando o desrespeito à legislação
existente e pela disputa das escassas verbas disponíveis.
Entre 1985 e 1990, foram criados dois planos visando a reestruturação do
setor elétrico, respectivamente o PRS, plano de Recuperação do Setor de Energia
Elétrica, o qual foi abandonado com a persistência da crise fiscal e o congelamento
tarifário do Plano Cruzado; e o REVISE, Revisão Institucional do Setor Elétrico, o
qual era formado por diversos segmentos da sociedade, porém não recebeu a
devida atenção por parte do governo Federal.
Deve-se salientar que a constituição de 1988 extinguiu o IUEE, Imposto
Único sobre a Energia Elétrica, criado por Vargas, provocando também alterações
na alíquota de Imposto de Renda pago pelas empresas do setor. A constituição
também transferiu grande parcela dos recursos aos estados e municípios, não
deixando, porém, claras as responsabilidades dos governos quanto a expansão da
Face ao processo de globalização da economia, o Brasil foi adotando
outros possíveis cenários em sua composição energética, com a adoção de novas
regras e novos agentes. Com o esgotamento do modelo de financiamento vigente e
buscando dar solução à crise, foi proposta uma nova estrutura para o setor elétrico,
o que resultou no processo de privatização.
A quebra dos monopólios estatais se iniciou na década de 70 nos Estados
Unidos, quando começaram a surgir os primeiros produtores independentes de
energia (PIEs). Na década de 80 e 90 o Chile e a Inglaterra também verificaram
substanciais alterações em suas estruturas produtivas, sendo o modelo inglês fonte
inspiradora para o modelo brasileiro.
1.3 O modelo inglês
Até o início da década de 90, o carvão representava na Inglaterra mais de
80% do total dos insumos para a geração de eletricidade, sendo a empresa British
Coal responsável por grande parte desse fornecimento, juntamente com um atuante
e inflexível sindicato. Buscando uma mudança em sua matriz energética, o governo
inglês estimulou o uso de centrais à gás de ciclo combinado (Combined Cycle Gas
Turbines – CCGT), incentivando o uso da co-geração nos grandes consumidores
(Combined Heat and Power – CHP), processo ainda incipiente no Brasil.
Com essas medidas, o governo inglês consegui reduzir a participação do
carvão em sua matriz energética de 82,6% em 1990 para 60,7% em 1994, enquanto
que a do gás natural passou de negligível para 15,4% no mesmo período, conforme
mostrado no tabela 02.
Tabela 02
Combustíveis usados na Geração de Eletricidade na Inglaterra, 1990 a 1994, em %.
Combustível 1990 1991 1992 1993 1994
Carvão 82,6 82,0 77,0 64,1 60,7
Óleo 11,6 9,9 8,4 7,4 6,1
Gás - - 1,7 10,5 15,4
O consumo de energia elétrica na Inglaterra cresceu em torno de 65% no
período de 1970 a 2002, passando de 208,7 Twh para 343,8 Twh em 2002, sendo
que o setor residencial juntamente com o residencial representam juntos
aproximadamente 67% do consumo total de energia elétrica, conforme demonstrado
no gráfico 02.
Consumo de Energia Elétrica em Twh - Inglaterra
Gráfico 02: Consumo de energia elétrica na Inglaterra, em Twh. Fonte: UK Energy in Brief, july 2003
Os principais pontos da reestruturação inglesa foram: promover uma
vertical separação entre geração, transmissão, distribuição; liberalização do
mercado de geração; separação horizontal e regional das empresas de distribuição;
e estabelecimento de um cronograma gradual de liberalização do fornecimento.
Deve-se ressaltar também que essa reforma permitiu a transição da rota tecnológica
de geração elétrica da ineficiente dupla carvão – nuclear para o gás. (ROSA, 1998,
p. 56)
Alguns objetivos foram atingidos, tais como redução de custos e aumento
da produtividade com a mudança da matriz energética, entretanto, a maior parte das
hipóteses de formação de um mercado concorrencial não se verificaram, conforme
- As duas maiores empresas de geração antes da reestruturação continuam sócias ou mesmo proprietárias dos novos empreendimentos, não havendo
estímulo a concorrência;
- Apesar de haver redução de tarifas, foi abaixo das expectativas, apesar do melhor desempenho do capital privado;
- Houve transferência de grande parte dos lucros para os acionistas em
detrimento a reinvestimentos ou subsídios a programas alternativos;
- Manutenção do monopólio na distribuição, haja visto que apenas 47% do
total de consumidores que demandam acima de 1 Mw trocaram de
fornecedores;
- O mercado livre continuou sendo dominado pelo Duopólio.
Luiz Pinguelli Rosa (1998, p. 60) afirma que os grandes beneficiários da
reforma inglesa foram, além dos empresários, os executivos de consultoria e, os
perdedores as centenas de empregados demitidos.
A redução das tarifas, descrito por Rosa, pode ser melhor visualizado
nas tabelas abaixo, que mostra a evolução dos valores cobrados de energia
elétrica e outras fontes de energia para o período de 1970 a 2000, de forma
decenal, e 2001 e 2002.
Tabela 03
Evolução das tarifas para a Indústria - Inglaterra
Fonte de Energia 1970 1980 1990 2000 2001 2002 Eletricidade 114,1 127 100 67,7 64,1 60,7 Gás 158,9 166,8 100 58,6 80,6 76,6 Óleo Pesado 91,1 245,4 100 122,5 119,7 121,4 Carvão 108,1 154,5 100 60,1 67,9 66,1 Fonte: UK Energy in Brief, 2003.
A tabela 03 assume o ano de 1990 como ano base, onde pode-se
observar que todos os insumos, com exceção do óleo pesado, tiveram redução nas
tarifas industriais no período analisado. Considerando-se o setor residencial, tem-se
que a redução nas tarifas não foi diferente do setor industrial, conforme demontrado
Tabela 04
Evolução das tarifas de energia elétrica no setor residencial - Inglaterra Fonte de Energia 1970 1980 1990 2000 2001 2002 Carvão e combustíveis não
poluentes
89,2 109,3 100 94,6 96,9 98,8
Gás 129,2 86,4 100 77,1 77,5 79,8
Eletricidade 84,9 104,3 100 78 75,6 73,6
Óleos para aquecimento 61,9 109,7 100 93,6 89,1 81,5 Fonte: UK Energy in Brief, 2003.
Pode-se observar pela tabela 04 que as tarifas de energia elétrica no
setor residencial também sofreram reduções, conquanto menores quando
comparadas ao setor industrial.
1.4 Caso Brasileiro
Para promover a reestruturação do setor energético brasileiro, foi
contratada uma empresa de consultoria inglesa, Coopers & Lybrand, a qual teve
significativa participação na reforma inglesa. São várias as críticas pelo fato de se
contratar uma firma especializada em termoelétricas para apresentar um plano de
remodelagem do setor energético de um país cuja matriz energética é dependente
da energia hidráulica.
Os objetivos estabelecidos pelo processo de reestruturação e privatização
do setor elétrico segundo relatório da Coopers & Lybrand (1997) foram os
seguintes:
- Garantir a continuidade da oferta de eletricidade aos consumidores
brasileiros;
- Manter e melhorar a eficiência, criando uma estrutura que estimule a
concorrência; e
- Reduzir os gastos públicos e saldar a dívida pública.
Um dos marcos do processo de reestruturação do setor energético foi a
criação da ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica, incumbida de, entre
independente. Essa busca pelo mercado competitivo favoreceu a entrada de novos
agentes no mercado, podendo-se citar: PIEs – Produtores Independentes de
Energia, aqueles que vendem energia para a rede; os auto-produtores, que podem
vender seus excedentes para a concessionária; e os consumidores livres, que não
tem contrato assinado com nenhuma concessionária.
O governo federal buscou, com esse novo modelo, tratar a questão
energética não como uma questão de interesse coletivo e primário para a garantia
do crescimento do país, mas como uma commodity qualquer, onde o mercado
decidiria de quem comprar.
Acreditava-se que com a abertura do mercado para novos produtores e
com o novo perfil do consumidor, a iniciativa privada iria gerar recursos suficientes
para a expansão do sistema. Dessa forma, a energia elétrica passaria a ser
baseada na lei da oferta e demanda, onde a estratégia comercial passaria a ser
decisiva na manutenção e expansão da carteira de clientes. A energia excedente
deveria ser negociada no Mercado Aberto de Energia, MAE, onde os consumidores
poderiam comprar ou vender seus estoques.
Nesse cenário, foram criados os seguintes instrumentos como forma de
regulamentar e controlar o sistema elétrico Nacional(Alves Filho, 2003, p. 90):
1) ONS: Operador Nacional do Sistema. Órgão criado em 1988 com a finalidade de
operar o Sistema Integrado Nacional (SIN), além de administrar toda a rede de
transmissão brasileira. Tem como principais atribuições:
- Cuidar do planejamento, a programação da operação e o despacho
centralizado da geração de energia;
- Fazer a supervisão e o controle operacional dos sistemas eletroenergéticos
nacionais e suas interligações com outros países;
- A contratação e a administração dos serviços de transmissão, do acesso à
rede básica e dos serviços auxiliares;
- A supervisão e a coordenação dos centros de operação dos sistemas
- A proposição das ampliações e reforços da rede básica de transmissão;
- A definição de regras para a operação da rede básica de transmissão.
2) ANEEL: Agência Nacional de Energia Elétrica. Agência criada em 1997,
vinculada ao Ministério das Minas e Energia, tendo como finalidade regular e
fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia
elétrica no país. Tem como uma de suas metas o estabelecimento das tarifas,
compatibilizando os interesses dos agentes e da indústria.
3) MAE: Mercado Atacadista de Energia Elétrica. Associação civil de direito
privado, sem fins lucrativos, criada em 2002. Tem como objetivo a viabilização
de compra e venda de energia elétrica, negociando sobras de contratos
bilaterais ou energia não contratada bilateralmente. Basicamente, a
contabilização do MAE leva em consideração toda a energia contratada por
parte dos agentes e toda a energia efetivamente verificada, seja consumida ou
gerada.
As empresas geradoras, distribuidoras e comercializadoras de energia
elétrica registram no MAE os montantes de energia contratada juntamente com os
dados de medições, para que se possa dessa forma determinar as diferenças entre
o que foi produzido e o que foi consumido. A diferença encontrada é liquidada no
MAE mensalmente, com formação semanal de preços, formando o mercado spot de
energia elétrica.
Os preços de energia elétrica negociados no MAE, são calculados
através de modelos de otimização para obtenção do custo marginal de operação,
fazendo-se a inter-relação entre os dados utilizados pelo ONS para otimização da
operação do sistema e os dados informados pelos agentes. O modelo
computacional utilizado para cálculo de preços pelo MAE é o Newave, desenvolvido
pelo Cepel, Centro de Pesquisa de Energia Elétrica, órgão vinculado a Eletrobrás,e
tem como um de seus principais resultados determinar custos futuros
Conforme já citado, o setor de energia elétrica tem passado por
constantes mudanças no governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Parte
dessas mudanças inclui a substituição do MAE pela CCEE, Câmara de
Comercialização de Energia Elétrica, que ainda está em fase de definições de
responsabilidades e funções.
Pelo modelo proposto, seriam esses os órgãos que ditariam o sistema
elétrico nacional, deixando para o Ministério das Minas e Energia a função de
avaliar e controlar cada um desses órgão de forma independente.
1.5 O Racionamento de 2001
As características do setor elétrico brasileiro são bastante peculiares em
termos internacionais. A geração de eletricidade no Brasil é eminente hidráulica,
fazendo com que os setores de geração, distribuição e consumo final tenham que
trabalhar em perfeita sintonia para evitar riscos de déficit de fornecimento de
energia.
A crise energética brasileira de 2001, culminando com um racionamento
de energia elétrica, deu-se principalmente pela insuficiência da capacidade instalada
disponível no país para atender às demandas do mercado consumidor. Deve-se
ressaltar que essa crise não foi surpresa para os governantes, que já vinham sendo
alertados da necessidades de investimentos no setor. É esperado que um
crescimento no consumo acima da capacidade instalada reduza a capacidade de
armazenamento dos reservatórios.
Conforme destaca Filho (2003, p. 24), diversas autoridades do setor de
energia elétrica entregaram, em audiência ao então vice-presidente Marco Maciel,
em 1995, um alentado relatório ao presidente Fernando Henrique Cardoso
detalhando os riscos de curto e médio prazos que o país corria, caso a trajetória
seguida pela política estratégica do governo não sofresse uma acentuada
modificação. Alertavam que as necessidades prementes do Brasil estava na área de
geração e transmissão, e que deveriam exigir que as empresas privatizadas
O racionamento de energia elétrica teve início em 01 de junho de 2001 e
vigorou até 28 de fevereiro de 2002 nas regiões Sudeste, Centro Oeste e Nordeste.
Na região Norte, o racionamento iniciou em 15 de agosto de 2001 e durou até
primeiro de janeiro de 2002. O órgão responsável em administrar a crise energética,
GCE, Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica, foi criado através de Medida
Provisória e a ele foram atribuídos poderes extraordinários, inclusive de caráter
imediato, de temas cuja competência eram do Poder Executivo.
Dentre as várias atribuições da GCE, pode-se citar: regulamentar e
gerenciar o programa de racionamento; acompanhar e avaliar as conseqüências da
crise energética; estabelecer limites de uso e fornecimento de energia elétrica;
estabelecer medidas compulsórias para garantir a redução de consumo; propor
alterações de tributos, dentre vários outros pontos. O responsável pela coordenação
da GCE foi o então chefe da Casa Civil, Ministro Pedro Parente.
Com exceção dos consumidores residenciais de até 100 Kw/h por mês,
todos os demais consumidores ficaram sujeitos a uma restrição no consumo de
20%, tendo como base os meses de dezembro de 2000, janeiro e fevereiro de 2001.
No primeiro descumprimento da meta, o consumidor além de pagar a sobretaxa
imposta pelo governo, que variava de acordo com o consumo, recebia uma
advertência por parte da concessionária. Na segunda ocasião o fornecimento de
energia era suspenso por até três dias, já na reincidência, o corte era de no mínimo
quatro e de no máximo seis dias consecutivos.
Outra medida adota pela GCE foi a contratação de usinas emergenciais,
buscando aumentar no curto prazo a oferta nacional de energia elétrica, utilizando
usinas térmicas, de rápida instalação, comissionamento e acesso a rede de
distribuição. O programa de energia emergencial foi utilizado como um seguro pelo
Operador Nacional do Sistema, e durante a crise de 2001 não foi necessário sua
utilização. A GCE criou uma nova empresa, controlada pela união, chamada de
CBEE, Comercializadora Brasileira de Energia Emergencial, cujo objetivo é de
contratar e administrar todos os contratos das usinas emergenciais. Parte dos
contratos das usinas emergenciais encerram-se no final de 2004 e parte no final de
despachar energia no início de 2004 para complementar a carga no sistema devido
aos baixos níveis dos reservatórios registrados nesse período.
1.6 As Privatizações do Setor Elétrico Brasileiro
O Programa Nacional de Desestatização – PND, foi instituído em 1990,
através do decreto lei nr. 8.031, cujo principal objetivo era a venda das estatais
produtivas, pertencentes a setores estratégicos, incluindo empresas petroquímicas,
siderúrgicas, e de fertilizantes. A partir de 1995, entretanto, com o governo do
Presidente Fernando Henrique Cardoso, foi conferida maior prioridade aos
processos de privatizações, inclusive com a criação do CND, Conselho Nacional de
Desestatização, onde foram incluídos no processo de privatização setores como o
elétrico, financeiro, e concessões nas áreas de transporte, rodovias, saneamento,
portos e telecomunicações (BNDES, 2002) .
Das empresas privatizadas, a participação do capital estrangeiro foi
bastante expressivo no período de Fernando Henrique Cardoso, atingindo 53% do
total arrecadado com todas as desestatizações do país. As empresas nacionais
responderam por 26% da receita federal, o setor financeiro nacional por 7%,
pessoas físicas compreenderam por 8%, e finalmente as entidades de previdência
privada com 6% do total. (BNDES, 2002).
O processo de desestatização na área de energia elétrica iniciou-se, no
âmbito federal, com a venda da Espírito Santo Centrais Elétricas S.A. – Escelsa,
empresa concessionária de serviço público de geração, transmissão e distribuição
de energia elétrica. Posteriormente foram privatizadas a Light Serviços de
Eletricidade S.A., e a Gerasul, empresa de geração de energia elétrica oriunda da
cisão da Eletrosul.
No âmbito estadual, foram privatizadas 20 empresas do setor elétrico,
sendo 17 distribuidoras e três geradoras. A tabela 05 mostra a relação de empresas
federais e estaduais privatizadas no setor de energia elétrica, incluídas no programa
Tabela 05
Privatizações do Setor Elétrico Brasileiro
Empresa Data da oferta Valor da Receita (milhões US$) Escelsa * 11/07/1995 519 Light * 21/05/1996 2.509 Gerasul * 15/09/1998 880 Cacheira Dourada ** 05/09/1997 714 CESP Paranapanema ** 28/07/1999 682 CESP Tietê** 27/10/1999 472 Cerj 10/11/1996 587 Coelba 31/07/1997 1.598 CEEE - Norte – NE 21/10/1997 1.486 CEEE - Centro Oeste 21/07/1997 1.372 CPFL 05/11/1997 2.731 Enersul 19/11/1997 565 Cemat 27/11/1997 353 Energipe 03/12/1997 520 Cosern 12/12/1997 606 Coelce 02/04/1998 868 Eletropaulo Metropolitana 15/04/1998 1.777 Celpa 09/07/1998 388 Elektro 16/07/1998 1.273 EBE 17/09/1998 860 Celpe 17/02/2000 1.004 Cemar 15/06/2000 289 Saelpa 30/11/2000 185 Fonte: BNDES, 2002.
* Empresas federais
** Empresas estaduais de geração
Conforme demonstrado na tabela 05, no período de 1995 a 2000, o
governo federal transferiu parte da geração e grande parte da distribuição de
energia elétrica do Brasil a empresas privadas. Os valores das receitas expressos
são em milhões de dólares, a preços correntes. As empresas que mais receitas
geraram para o governo foram, conforme o esperado, as localizadas na região
sudeste do país.
A Companhia de Eletricidade do Estado do Ceará – Coelce, atualmente é
controlada pela companhia Investluz S.A., que detêm 56,59% do capital da
companhia, sendo esta formada pela Endesa Espanha, com 37,55%, Cerj (empresa
15,61% e finalmente a Chilectra (empresa pertencente a Enersis), com 10,41%. Os
outros principais sócios da Coelce são os investidores privados, que representam
CAPÍTULO II
Mercado de Energia Elétrica no Brasil
Assim como em outros países, o consumo de energia elétrica no Brasil
tem apresentado significativo crescimento nas últimas décadas, em taxas superiores
ao crescimento da população e ao crescimento do PIB. Nas décadas de 70 e 80,
enquanto o consumo médio de energia elétrica cresceu a uma média de 8,5% a.a, o
crescimento médio da população foi em média de 2,5% a.a., e o crescimento do PIB
em torno de 4% a.a.
O consumo per capita passou de 0,46 Mw/h em 1970 para mais de 1,80
Mw/h em 2000. O crescimento do consumo per capita de energia elétrica pode ser
atribuído a diversos fatores estruturais e conjunturais, tais como aumento da taxa de
urbanização, mudança nos hábitos de consumo, ampliação da área atendida,
modernização de equipamentos industriais, dentre outros. A evolução do consumo
de Energia Elétrica e o crescimento da população, para o período de 1971 a 2002,
pode ser vista no gráfico 03
GRÁFICO 03- Evolução do consumo de energia elétrica no Brasil em Tw/h e População. Fonte: Eletrobrás, 2003.
Historicamente, o crescimento no consumo de energia elétrica está
diretamente relacionado com o crescimento do PIB. Deve-se ressaltar, entretanto,
que analisando séries históricas, a taxa de crescimento no consumo de energia
Consumo de Energia Elétrica x População
0 50 100 150 200
1971197319751977197919811983198519871989199119931995199719992001
População (em milhões
)
0 50 100 150 200 250 300 350
Consumo de Energi
a
Elétrica (Tw/h)
elétrica é superior, em termos percentuais, ao crescimento do PIB. Essa informação
pode ser melhor visualizada no gráfico 04, que mostra o crescimento do PIB, em
bilhões de reais, de 2002, e o consumo de energia elétrica em Tw/h no mesmo
período.
GRÁFICO 04- Comparação entre consumo de Energia elétrica em Tw/h e PIB em R$.
Fonte: Eletrobrás, 2003
No período de 1971 a 2002, enquanto o crescimento médio do PIB foi de
4% a.a., o crescimento de energia elétrica foi de 6% a.a. Se o racionamento de 2001
for desconsiderado da análise, onde o consumo nesse ano caiu mais de 8% quando
comparado ao ano anterior, o percentual médio de crescimento passaria a ser de 7%
a.a no período. Considerando apenas a década de 90, o consumo de energia
elétrica cresceu 4% a.a. enquanto que o crescimento do PIB foi de 2% a.a. no
mesmo período.
O setor de maior representatividade no consumo nacional de energia
elétrica é o setor industrial, representando 44% do consumo total, conquanto esse
consumo já chegou a representar mais de 50% durante grande parte das décadas
de 70 e 80.
O setor residencial é o segundo maior consumidor de energia elétrica do
país, inclusive, apresentando crescimento significativo nas últimas três décadas,
passando de 20% do consumo total em 1970 para 25% em 2002. Enquanto o Consum o EE (Tw/h) x PIB (em bilhões R$)
0 50 100 150 200 250 300 350 197 1
1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 199 1
199 3
1995 1997 1999
C
onsumo EE (
T w /h) 0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 PIB ( b ilhões R $ )
aumento de consumo no setor industrial está relacionado diretamente com a
instalação e existência de empresas eletrointensivas, o setor residencial pode ser
melhor estimado por séries históricas, por políticas governamentais, como por
exemplo a ampliação da rede instalada e por fatores como aumento da renda
disponível, preço de eletrodomésticos, etc.
Entre os demais setores, deve-se destacar também o aumento na
categoria comércio, cujo aumento é explicado principalmente pela expansão de
setores como bancários e shopping centers. O gráfico 05 mostra o consumo de
energia elétrica por setor no Brasil, no período de 1971 a 2002.
GRÁFICO 05- Consumo de energia elétrica no Brasil por classes de consumo, em Gw/h. Fonte: Eletrobrás, 2003
2.1 Fontes de Energia
Existem várias fontes de energia, onde a elétrica, objeto desse estudo, é
apenas uma delas. A energia é caracterizada como sendo de fontes primárias ou
secundárias.
Entende-se por fonte primária de energia aquelas que são providas pela
natureza de forma direta, como o petróleo, gás natural, carvão mineral, energia
hidráulica, lenha, etc. A maior parte dessa energia é convertida em energia
secundária através de centros de transformação, tais como refinarias de petróleo,
Consumo BR (Gw/h)
0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000 350.000
1971 197 3
1975 197 7
1979 1981 198 3
usinas hidrelétricas, plantas de gás natural, etc. O resultado dessa transformação
gera a energia secundária, como por exemplo o óleo diesel, gasolina, eletricidade,
etc.
A maior parte da energia secundária produzida destina-se ao consumo
final, entretanto, parte dela também irá para centros de transformação onde será
convertida em novas formas de energia secundária. Deve-se ressaltar que a energia
primária também pode ser destinada ao consumo final como, por exemplo, o
consumo de lenha para aquecer caldeiras industriais.
2.2 Análise do Consumo de Energia Por Setores e Regiões
Conforme já citado anteriormente, os principais setores consumidores de
energia elétrica são o industrial e o residencial, representando juntos
aproximadamente 70% do consumo total. Cada setor específico, bem como as
diversas regiões do país, apresentam especificidades de consumo que devem ser
analisadas individualmente.
2.2.1 Setor Industrial
Segundo o Balanço Energético Nacional (2001, p.53), a eletricidade é a
principal fonte energética no setor industrial, representando 47% da participação do
consumo desse setor no Brasil, entretanto, outras fontes de energia apresentam
significativa representatividade no consumo industrial, podendo-se citar o bagaço de
cana, com 8,9%, o óleo combustível, com 8,3% e o coque do carvão mineral, com
7% do consumo total.
O gráfico 06 mostra a participação das principais fontes de energia no
GRÁFICO 06- Participação das fontes energéticas na Indústria.- Brasil.
Fonte: Balanço Energético Nacional, 2002
O gráfico mostra que, apesar da alta participação da eletricidade no
consumo energético nacional, outras fontes também contribuem para a formação do
sistema energético industrial. O gás natural, por exemplo, teve um aumento em sua
participação de 1% em 1985 para 4,7% em 2000. Grande parte da utilização do gás
natural está relacionada com a geração de calor.
Outras fontes de energia utilizadas nesse setor são: Carvão Mineral,
Nafta, Querosene, Carvão Natural que, juntas, representam em torno de 15% de
todo o consumo energético industrial no Brasil.
2.2.2 Setor Residencial
Conforme já citado, o setor residencial tem ganho representatividade no
cenário nacional, passando de 20% em 1970 para 25% do consumo total de energia
elétrica em 2002, onde o gráfico 07 mostra a evolução desse consumo no Brasil. Consumo energetico industrial (%)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999
OUTRAS
ELETRICIDADE
CARVÃO
ÓLEO COMBUSTÍVEL
BAGAÇO DE CANA
LENHA
GRÁFICO 07- Consumo de Energia Elétrica Residencial, em Twh Fonte: Eletrobrás, 2003
A partir de 1994, com a implantação do real, a classe residencial passou a
ter um crescimento mais significativo no consumo, graças a estabilidade da moeda e
melhoria no poder de compra da população de menor renda. Em 1999 fatores como
a desvalorização cambial, combinados com aumentos expressivos nas tarifas, e o
racionamento de 2001/2002 contribuíram para a queda de consumo.
Para se estudar o consumo de energia elétrica tem-se que considerar que
a energia elétrica não é um bem consumido diretamente, mas por intermédio de
máquinas e equipamentos elétricos. Assim sendo, para uma modelagem no curto
prazo no setor residencial, diversos autores consideram não apenas a utilização e
preços de equipamentos eletrodomésticos como também o próprio estoque desses
equipamentos, uma vez que no curto prazo praticamente não há variações
significativas, mas no longo prazo sempre haverá a aquisição de equipamentos
novos e de melhor tecnologia, substituindo os existentes ou mesmo sendo
adicionado aos atuais.
O setor mais prejudicado com a evolução das tarifas de energia elétrica
foi o residencial onde, no período de 1995 a 2002, as tarifas residenciais sofreram
reajustes de 182,6% enquanto o IPC da FIPE registrou, no mesmo período, inflação
de 58,68%, (Sauer 2002, pp. 01), conforme ilustrado no gráfico 08. A variação do
dólar no período analisado foi maior do que os reajustes tarifários e a inflação devido Consumo EE Residencial BR (Tw/h)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
1971 197 3
1975 1977 1979 198 1
1983 1985 1987 1989 199 1
1993 1995 1997 199 9
a desvalorização cambial do Real frente ao Dólar em 1999, onde nesse específico
ano o dólar sofre uma valorização de 56% frente ao Real.
Evolução das Tarifas de Eletricidade (1995 a 2002)
130,3 130,1
110,2
58,68
218,35 182,6
0 50 100 150 200 250
Residencial Industrial Comercial Rural IPC da FIPE
Dólar
GRÁFICO 08: Evolução das Tarifas de Eletricidade – Brasil – 1995 a 2002. Em % Fonte: Aneel e Fipe, 2002.
Sauer (2002 p. 01) também afirma que os aumentos nas tarifas, especialmente residenciais, favoreceram a ampliação da exclusão social, uma vez que não houve a universalização do serviço e, apesar de aumentos superiores aos da inflação, os investimentos necessários para a expansão e manutenção dos sistemas não foram feitos, não gerando nenhum benefício ao consumidor final.
GRÁFICO 09: Participação das fontes energéticas no consumo residencial – Brasil - (%) Fonte: Balanço Energético Nacional, 2001.
Percebe-se pelo gráfico 09 a significativa participação da lenha no
consumo energético residencial. O consumo dessa fonte de energia, além de ser
ecologicamente incorreta, causando desmatamentos e poluição, é uma fonte de
baixo rendimento energético quando comparado a energia elétrica. Em 1985, a
lenha representava mais de 40% de todo o consumo energético residencial, mas
conforme já citado, com a modernização principalmente dos aparelhos
eletrodomésticos, essa matriz tende a mudar gradualmente.
2.2.3 Outros setores
A participação da energia elétrica nos demais classes de consumo, com
exceção do setor de transportes, é muito alta quando comparada às demais fontes.
No setor comercial, por exemplo, a energia elétrica representa quase 95% de todo o
consumo enquanto que no setor público representa 91%. Deve-se ressaltar que o
consumo de energia elétrica no setor rural tem apresentado significativo crescimento
nos últimos anos, passando de 19% em 1985 para 40% em 2000.
2.2.4 Análise Regional
Analisando o consumo brasileiro em termos regionais, tem-se que a
região Sudeste, apesar de representar apenas 11% do território nacional, é a região
com maior consumo de energia elétrica do Brasil, representando em 2002 mais de
Consumo energetico Residencial (%)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
OUTROS
ELETRICIDADE
58% de todo o consumo nacional e, também, a região com o maior número de
consumidores, representando 48% do total de consumidores brasileiros.
Em seguida tem-se a região Sul, com participação no consumo de
aproximadamente 20%, seguida da região Nordeste com 13%, a região Centro
Oeste com aproximadamente 6% e finalmente a região Norte, com uma
representatividade de aproximadamente 4% do consumo nacional, conforme
demonstrado nos gráfico 11, que mostra regionalmente o consumo brasileiro de
energia elétrica em Gw/h. Deve-se ressaltar, entretanto, que o consumo expresso no
gráfico não é específico, ou seja, contempla o consumo geral da região, englobando
todos os setores.
GRÁFICO 10: Consumidores de Energia Elétrica por região do Brasil (%) Fonte: Abradee – Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica.
GRÁFICO 11: Consumo em % por região do Brasil
Fonte: Abradee – Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica
Consumo por regiões Brasil (Gwh)
6% 4%
13%
19% 58%
Centro-oeste Norte Nordeste Sul Sudeste
Consumidores por região (QTD)
7% 5%
24%
16% 48%
Conforme observado no gráfico 10, a região Sudeste também apresenta a
maior população consumidora de energia elétrica, representando 48% de todos os
consumidores nacionais, seguida das regiões Nordeste, com aproximadamente 24%
do consumo total, a região Sul, com 16%, Centro Oeste com 7%, e finalmente a
região Norte, com um consumo aproximado de 5%.
Conforme já citado, o setor industrial é o mais representativo em termos
de consumo de energia elétrica no Brasil. Entretanto, regionalmente, a distribuição
de consumo varia sensivelmente devido, principalmente, as características sócio
econômicas da região, conforme demonstrado no gráfico 12.
GRÁFICO 12- Divisão entre classes de consumo por região Fonte: Eletrobrás, 2003
Regiões como Sul e Sudeste, por exemplo, possuem um alto consumo
industrial quando comparado com as demais regiões, chegando esse setor a
representar quase 45% de todo o consumo dessas regiões. A razão dessa alta
representatividade industrial é o fato de nessas regiões haver uma grande
população de indústrias eletrointensivas, especialmente no ramo metalúrgico, com
ênfase nos produtos extrativos e semi acabados oriundos de Minas Gerais, bem
como estados de grande representatividade na economia nacional, como São Paulo,
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Deve-se ressaltar que regiões que possuem altos consumos industriais,
permitem com que as concessionárias locais tenham melhores condições de Divisão por classes consumo por regiões - Brasil - (%)
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 100,00%
Sudeste Sul Centro Oeste Nordeste Norte
negociação com os clientes e menor vulnerabilidade a medidas sociais do governo,
como por exemplo tarifas especiais para consumidores de baixa renda.
Nas regiões Norte, Centro Oeste e Nordeste, o consumo residencial é
maior do que o consumo industrial. Nessas regiões, além de possuir um parque
industrial instalado menor, as indústrias dessas regiões não são eletrointensivas.
Deve-se destacar que o consumo comercial na região Norte é muito similar ao
consumo Industrial.
A região Norte tem características únicas quando comparada as demais
regiões, principalmente pela dificuldade de acesso a diversas áreas. Com altos
custos de transmissão, a fonte principal de energia em diversas cidades se dá
através de usinas termelétricas movidas a óleo diesel ou a gás natural. Deve-se
ressaltar que a região Norte também não faz parte do Sistema Interligado Nacional,
controlado pelo ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico, e o órgão que
administra a geração e os despachos de energia elétrica na região é a Eletronorte.
Fazendo uma análise do consumo per capita, tem-se que a região com
maior consumo é a região Sudeste, cujo consumo de energia elétrica é de 2,08
Mw/h por habitante. A região com menor consumo per capita é a região Nordeste
juntamente com a região Norte, cujo consumo é de 0,71 Mw/h por habitante em
ambas.
GRÁFICO 13: Consumo per capita por região do Brasil Fonte: Eletrobrás, 2003.
Consumo per capita p/região
0 0,5 1 1,5 2 2,5
Nessa análise trabalhou-se com a população de 2000 e com o consumo
em Gw/h de 2002, e foi possível de ser feita haja vista que o consumo médio
brasileiro pós racionamento está nos mesmos patamares do consumo, em Gw/h de
2000, e por não estarem disponibilizados dados regionais para o período de 2000.
O governo Federal tem atualmente três principais projetos sociais
voltados para a área de energia: O Projeto Luz no Campo, cujo objetivo principal é a
eletrificação rural; o Procel, que visa a redução do desperdício de energia elétrica; e
o programa Reluz, que é o Programa Nacional de Iluminação Pública Eficiente. O
primeiro projeto visa a universalização do setor, enquanto os dois últimos buscam a