Valor nutricional de alimentos alternativos para tambaqui (Colossoma macropomum)
Soares, K.J.A.; Ribeiro, F.B.
@; Bomfim, M.A.D. e Marchão, R.S.
Centro de Ciências Agrárias e Ambientais. Universidade Federal do Maranhão (CCAA/UFMA). Chapadinha. MA. Brasil.
P
alavras-
chaveadicionaisDigestibilidade.
Energia.
Nutrição de peixes.
Piscicultura.
Proteína.
resUMo
O experimento foi conduzido com o objetivo de determinar a composição química e os coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca (CDAMS), proteína bruta (CDAPB), extrato etéreo (CDAEE) e da energia bruta (CDAEB) de alimentos alternativos para o tambaqui.
No experimento foram utilizados 108 tambaquis com peso médio de 165,3 ± 15,6 g, em seis tratamentos e três repetições, sendo seis peixes por parcela experimental. Foram confeccionadas seis rações experimentais, sendo uma ração referência, baseada de farelo de soja e milho, e, as demais contendo 70% da ração referência, e 30% dos alimentos testados (farelo de arroz integral (FAI), farinha do feno da folha da leucena (FFL), farinha do feno da folha da mandioca (FFM), raspa da raiz integral da mandioca (RRIM) e a torta de babaçu (TB)). Para avaliar a digestibi- lidade aparente dos nutrientes, utilizou-se o método indireto de coleta de fezes por decantação e dióxido de titânio como indicador inerte adicionado à dieta em uma concentração de 0,1 %.
Dentre os alimentos avaliados, a FFM, FFL e da TB contêm elevados teores de fibras, o que reduz os coeficientes de digestibilidade dos referidos alimentos. O FAI e a RRIM apresentam os maiores CDAMS, CDAPB, CDAEE e CDAEB, indicando que podem ser alimentos com potencial no uso em rações para tambaqui.
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nforMationCronología del artículo.
Recibido/Received: 27.05.2016 Aceptado/Accepted: 07.10.2017 On-line: 15.10.2017
Correspondencia a los autores/Contact e-mail:
felipebribeiro@yahoo.com
Nutritional value of alternative food for tambaqui (Colossoma macropomum) sUMMarY
The experiment was conducted in order to determine the chemical composition and apparent digestibility coefficients (ADC) of dry matter (ADCDM), crude protein (ADCCP), ether extract (AD- CEE) and gross energy (ADCGE) of alternative foods for tambaqui. In the experiment were used 108 tambaquis with average weight of 165.3 ± 15.6 g, in six treatments and three replicates, being six fish per experimental plot. Six experimental rations were made, being a reference ration, based on soybean meal and corn, and the others containing 70% of the reference ration, and 30% of the foods tested (whole rice bran (WRB), hay meal of leucaena leaf (MLL), hay meal of cassava leaf (MCL), integral scrapings from cassava root (ISCR) and babassu meal (BM)). In order to evaluate the apparent digestibility of nutrients, the indirect method of collecting feces by decanting was used, using titanium dioxide as an inert indicator added to the diet in a con- centration of 0.1%. Among the evaluated foods, the MLL, MCL and BM containing high levels of fiber, which reduces the food digestibility coefficients. Among the evaluated foods, WRB and ISCR showed higher ADCDM, ADCCP, ADCEE and ADCGE values, indicating that they could be used in tambaqui rations.
a
dditionalkeYwordsDigestibility.
Energy.
Fish nutrition.
Pisciculture.
Protein.
Archivos de Zootecnia
Journal website: https://www.uco.es/ucopress/az/index.php/az/
INTRODUÇÃO
O aumento populacional mundial, a depleção nos estoques pesqueiros naturais e a busca por proteína de qualidade e saudável, acelerou o crescimento na deman- da mundial por pescado. O Brasil dispõe de imenso po- tencial para a piscicultura em virtude de condições natu- rais muito favoráveis, por ser rico em recursos hídricos com muitas propriedades rurais de áreas inundáveis, ter espécies nativas com grande potencial para produção, ter clima propício, ter diversidade de espécies, além de ser grande produtor de grãos (Rocha et al., 2013).
Entre as espécies aquáticas criadas no Brasil, o tamba- qui destaca-se como a espécie nativa mais cultivada re- presentado 19,87% da aquicultura Brasileira, com produ- ção de 135,86 mil toneladas no ano de 2015 (IBGE, 2015).
O interesse crescente da produção de tambaqui é devi-
do ao grande potencial para a criação, carne de excelente
qualidade, rápido crescimento, resistência a baixos níveis
de oxigênio dissolvido, hábito alimentar diversificado,
rusticidade, adaptação ao confinamento e arraçoamento
(Pereira Junior et al., 2013).
A piscicultura tem conquistado grandes avanços na qualidade da produção, e na eficiência do manejo, visan- do sempre máxima produtividade, requerendo a utiliza- ção de dietas que atendam às exigências nutricionais por meio do uso adequado de rações balanceadas.
A formulação de rações para peixes é baseada princi- palmente em milho e farelo de soja, os quais, em função de grande variabilidade de preço, dependendo da oferta no decorrer do ano e da dificuldade de transporte para as regiões não produtoras desses alimentos, pode tornar muitas vezes a produção de peixes inviável (Santos et al., 2008). Assim, a busca constante de alimentos alternativos que possam substituir os alimentos tradicionalmente uti- lizados no país, de forma a reduzir custos e manter, ou até mesmo melhorar o desempenho dos animais, é um gran- de desafio para os nutricionistas (Pascoal et al., 2006a).
Para viabilizar a utilização de um alimento na formu- lação de rações, há a necessidade da determinação da composição química e da determinação dos coeficientes de digestibilidade da energia e de nutrientes. A determi- nação do coeficiente de digestibilidade é de grande im- portância, uma vez que expressa a quantidade de energia e/ou nutrientes digestíveis dos alimentos potencialmente disponíveis para a espécie. Como consequência, promove aumento na eficiência de utilização dos nutrientes, me- lhora a qualidade do pescado e minimiza a excreção de resíduos fecais e metabólicos (Pezzato et al., 2002).
Ainda são escassas as pesquisas que abordam a utili- zação de alimentos alternativos, principalmente da região Nordeste do Brasil, para o tambaqui. Também são insufi- cientes as informações acerca da composição química e da digestibilidade dos resíduos originados da agroindústria, sendo que muitos desses alimentos não convencionais são desprezados quanto ao seu uso (Santos et al., 2008).
O presente trabalho objetiva determinar a composição química e os coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo e energia bruta do farelo de arroz integral, farinha do feno da folha da leucena, farinha do feno da folha da mandioca, raspa da raiz integral da mandioca e torta de babaçu para tamba- qui na fase de crescimento.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi aprovado pela comissão de éti- ca em experimentação animal com protocolo de nº:
23115.007034/2014-47 e conduzido no Laboratório de Nutrição e Alimentação de Organismos Aquáticos do Maranhão, no Centro de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Federal do Maranhão, Chapadinha-MA, com duração de 14 dias. O método utilizado para ava- liação da digestibilidade aparente foi o indireto de coletas de fezes utilizando 0,1% de dióxido de titânio (TiO
2) como indicador inerte.
A raspa da raiz integral da mandioca foi obtida das raízes, que depois de colhidas no campo, foram lavadas com água, picadas manualmente, espalhadas sobre uma lona plástica, e seca a sombra por cinco dias. Posterior- mente, foi triturada em forrageira tipo martelo com pe- neira de 1 mm.
As farinhas do feno da folha da leucena e do feno da folha da mandioca foram obtidas após a retirada manual- mente das folhas dos galhos, sendo em seguida secas em estufa de circulação forçada por 24 horas a uma tempera- tura de 40ºC. Posteriormente, foram moídas em moinho tipo faca, com peneira de 1 mm.
A torta do babaçu foi obtida após a extração do óleo por meio de prensagem das amêndoas do babaçu, já o farelo de arroz integral foi obtido após a brunição e poli- mento do grão de arroz sem casca.
Logo após o processamento dos alimentos, foi retirada uma amostra para realização das análises químicas, em seguida foram armazenados em sacos plásticos e conge- lados a -18 ºC em freezer.
As seis rações experimentais foram confeccionadas a base de farelo de soja e milho (tabela I), sendo uma referência e as demais contendo 70% da ração referência e 30% dos alimentos testados (farelo de arroz integral, farinha do feno da folha da leucena, farinha do feno da folha da mandioca, raspa da raiz integral da mandioca e a torta de babaçu). Posteriormente as rações experimentais foram peletizadas.
Os 108 tambaquis com peso médio de 165,3 ± 15,6 g foram distribuídos em 18 gaiolas em formato cilíndrico (seis tratamentos com três repetições e seis peixes por parcela experimental). Cada gaiola ficava dentro de caixa de polietileno com volume de 1000 L, dotadas de sistemas individuais de aeração, abastecimento e escoamento de água. A temperatura da agua foi monitorada duas vezes ao dia (08:00 h e 16:00 h). Os controles do pH e do teor de oxigênio dissolvido e da amônia na água foram aferidos a cada 3 dias, respectivamente, por intermédio de um potenciômetro, oxímetro e kit comercial para teste de amônia tóxica.
Durante o dia, os peixes receberam nas gaiolas as die- tas testes fornecidas duas vezes pela manhã e duas vezes a tarde, até a saciedade aparente.
Para a coleta de fezes, as gaiolas com os peixes foram transferidas às 18:0 0h para os aquários de coleta (incu- badoras em formato cônico confeccionados em fibra de vidro) com volume de 250 L. Utilizou-se para a coleta de fezes um tubo (mamadeiras) acoplado no fundo dos aquários de coleta, onde se sedimentavam as excretas por decantação (método de Guelph modificado), de acordo com Abimorad e Carneiro (2004). Para evitar fermenta- ção das fezes, as mamadeiras foram colocadas em caixas térmicas com gelo durante todo o período de coleta que ocorria em intervalos de duas horas, iniciando as 20:00 h e tendo como último horário de coleta as 06:00 h. Antes das gaiolas com os peixes serem devolvidos para as caixas de polietileno de 1000 L, os tanques foram limpos, retirando restos de ração e fezes. Após cada coleta, as fezes foram colocadas em placa de petri, em seguida levada para es- tufa de circulação fechada, para secagem a 55 ºC durante 72 horas para fins de análises laboratoriais.
As análises químicas de matéria seca (MS), proteína
bruta (PB), extrato etéreo (EE), matéria mineral (MM),
fibra bruta (FB), fibra detergente neutra (FDN), fibra de-
tergente acido (FDA) e energia bruta (EB) dos alimentos
testados e das fezes, foram realizados no Laboratório de
Nutrição Animal da Universidade Federal do Maranhão-
UFMA, de acordo com metodologias descritas por Silva e Queiroz (2002). A energia bruta (EB) foi determinada em bomba calorimétrica modelo Cal2K. A digestibilidade aparente da matéria seca, proteína bruta, energia bruta e extrato etéreo da ração referência e das cinco rações con- tendo 30% dos alimentos estudados foram calculados por meio da equação proposta por Nose (1960).
As digestibilidades aparentes da MS, PB, EB e EE ex- clusivamente dos alimentos testados foram calculados de acordo com a metodologia de Pezzato et al. (2004).
Em que: CDa (alim)= coeficiente de digestibilidade aparente do alimento; CD (rt)= coeficiente de digestibi- lidade aparente da ração com o alimento teste; CD (rb)=
coeficiente de digestibilidade aparente da ração basal; b=
percentagem da ração basal; a= percentagem do alimento teste.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores observados durante o período de tempe- ratura foram de 27,6 ± 0,5 °C pela manhã e 28,1 ± 0,3 °C a tarde, pH de 6,96 ± 0,56, oxigênio dissolvido de 8,87 ± 0,5 mg/L e a amônia tóxica variou na faixa de 0,1 a 0,3 mg/L. Souza (2004) relata que os níveis recomentados de amônia tóxica são de até 1,0 mg/L.
A proteína bruta do farelo de arroz integral de 15,12%
(tabela II), está entre os valores encontrados na literatura de 8,5% (Pezzato et al., 2002) a 15,66% (Novoa, 2009), assim como o valor da matéria mineral de 6,75%, com valores em estudos variando de 1,14% (Pezzato et al., 2002) a 8,5% (Gonçalves e Carneiro, 2003).
A energia bruta de 4867,78 kcal/kg observada é se- melhante ao descrito por Rostagno et al. (2011) de 4852,24 kcal/kg e superior aos resultados expostos por Pezzato et al. (2002) de 3940,0 kcal/kg com extrato etéreo de 1,1%
inferior ao encontrada no presente estudo de 12,37%. A composição química do FAI depende de fatores associa- dos à variedade genética do arroz, condições ambientais de cultivo, a constituição do grão ou processo de bene- ficiamento, como brunição e polimento, que afetam o conteúdo de carboidratos e fibra alimentar (Santos, 2006).
O FAI pode ser contaminado por falta de condições sanitárias de recolhimento ou contaminação desse farelo no processamento pelo endosperma que altera o teor de amido, ou com resíduos de casca que afeta o valor de fi- bras (Lacerda et al., 2010). Estes mesmos autores estudan- do diferentes variedades de FAI concluíram que a fibra alimentar presente no FAI é constituída basicamente por hemicelulose, com alta capacidade de retenção de àgua e por lignina, que é indigestível. Devido a ausência de padronização no processamento, a composição química do farelo de arroz integral pode apresentar grande varia- bilidade de resultados (Vieira et al., 2007).
O valor de 25,48% de proteína bruta do FFL, corres- ponde aos resultados médios obtidos na literatura, entre 19,53% (Campeche et al., 2011) a 32,6% (Pezzato et al., 2004). O teor de extrato etéreo, 3,86%, foi semelhante ao encontrado por Pereira Junior et al. (2013) de 3,5%. O teor de energia bruta de 5348,24 kcal/kg da FFL apresentou um valor elevado comparado a outros trabalhos como o de Campeche et al. (2011) com 3340,0 kcal/kg e Araújo et al. (2012), que descreveram 4856,89 kcal/kg, com extrato etéreo de 3,2%, inferior ao encontrado no presente estudo.
O valor nutritivo da folha da leucena tende a ser in- fluenciado pela adequada frequência da desfolha, propi- ciando uma preponderância de folhas mais jovens com maior valor nutritivo em comparação às folhagens mais maduras. A amplitude das variações de proteína e fibra é determinada pelas condições edafoclimáticas que a planta está sujeita ou com a idade do material vegetativo (Pereira et al., 1995).
A composição química da FFM quanto aos valores de MS (92,03%), MM (6,41%), PB (20,97%), FDN (38,07%) e FDA (21,26%), apresentou resultados semelhantes aos encontrados por Braga et al. (2010), que verificaram teo- Tabela I. Composição percentual e química da ra-
çao referencia a base de farelo de soja e milho (Per- centage composition chemistry of basal diet the basis of soybean meal and corn).
Alimentos Ração referência
Soja farelo 45% 54,55
Milho grão 34,87
Óleo de soja 5,21
Fosfato bicalcio 4,04
Sal comum 0,43
Premix mineral e vitamínico
10,50
DL-metionina 0,14
L – treonina 0,11
Dióxido de titânio 0,10
BHT 0,02
Total 100,00
Composição calculada
Proteína bruta 28,00%
Energia digestível 3,2 Mcal/Kg
Fósforo disponível 0,88%
Cálcio 1,88%
Sódio 0,22%
Lisina total 1,60%
Metionina + Cistina total 0,96%
Metionina total 0,55%
Treonina total 1,20%
Triptofano total 0,37%
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