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O FALAR CARIOCA, PAULISTA E CAIPIRA: ANÁLISE FONÉTICA E FONOLÓGICA

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Academic year: 2021

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O FALAR CARIOCA, PAULISTA E CAIPIRA:

ANÁLISE FONÉTICA E FONOLÓGICA

Ana Flávia Dias Alvim Barbara Rodrigues Carolina Rezende de Oliveira Cíntia de Oliveira Dias Mariana Queiroz Lourenzoni

(G- CLCA-UENP/CJ) Vera Maria Ramos Pinto (Orientadora- CLCA- UENP/CJ)

INTRODUÇÃO

Existe uma grande variedade nos modos de falar uma língua, que pode ser verificada em todos os níveis: fonético-fonológico, morfológico, sintático, semântico, lexical, estilístico e pragmático.

Estas variações são chamadas de regras variáveis ou variantes, o que implica dizer que uma variável linguística é um elemento da língua, alguma regra que se realiza de maneiras diferentes, conforme a variedade linguística avaliada.

Neste trabalho, visamos analisar a variável /r/ e /s/, no português brasileiro em contexto medial e no final de vocábulos. Para nossa análise, selecionamos músicas cantadas por falantes de várias regiões: o carioca, o caipira e o paulista.

Fundamentação teórica

A Sociolinguística é uma das subáreas da linguística que estuda a língua falada em uso no contexto social. Seu objeto de estudo é a variação linguística, definida como a língua em seu estado permanente de transformação, de fluidez, de instabilidade, fato que comprova a sua heterogeneidade.

Bagno (2008, p. 40) afirma que um dos postulados básicos da Sociolinguística é o de que a variação não é aleatória, fortuita, caótica – muito pelo contrário, ela é estruturada, organizada, condicionada por diferentes fatores extralinguísticos como: a origem geográfica, o status socioeconômico, o grau de escolarização, a idade, o sexo, o mercado de trabalho e as redes sociais.

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Desse modo, não existe falante de estilo único, pois todo e qualquer indivíduo varia a sua maneira de falar, independente de seu grau de instrução, classe social, faixa etária etc.

Assim existe uma grande variedade nos modos de falar uma língua, que pode ser verificada em todos os níveis: fonético – fonológico, morfológico, sintático, semântico, lexical, estilístico e pragmático.

De acordo com o autor, as variedades linguísticas costumam ser designadas por nomes particulares: dialeto, socioleto, cronoleto e idioleto.

Dialeto designa o modo característico do uso da língua num determinado lugar, região, província etc. Muitos linguistas empregam o termo dialeto para designar o que a Sociolinguística prefere chamar de variedade.

O estudo do dialeto surgiu no século XIX, em uma disciplina chamada Dialetologia, considerada a precursora da Sociolinguística moderna. A diferença entre as duas disciplinas é que a Dialetologia se interessava sobretudo em descrever os falares rurais, isolados, considerados na época como mais “puros” e “autênticos”, não influenciados pelas modas e corrupções da vida moderna.

A Sociolinguística abandonou essa visão romântica e passou a se interessar também pelos modos de falar das aglomerações urbanas, socialmente complexas, do mundo contemporâneo.

Já socioleto designa a variedade linguística própria de um grupo de falantes que compartilham as mesmas características socioculturais.

Cronoleto diz respeito à variedade própria de determinada faixa etária, de uma mesma geração de falantes.

E idioleto designa o modo de falar característico de um indivíduo, suas preferências vocabulares, seu modo próprio de pronunciar as palavras, de construir as sentenças etc.

Bagno (2008, p. 50), assevera, portanto, que variável é algum elemento da língua que se realiza de maneiras diferentes conforme a variedade linguística analisada. Variante é cada uma das formas diferentes de se dizer a mesma coisa.

Análise das variantes ‘r’ e ‘s’ nas músicas

Variante (R)

A variante “r” é entendida como as várias maneiras de se dizer ‘porta’. O falante do dialeto caipira (norte do Paraná, interior do estado de São Paulo) pronuncia o ‘r’ vibrante retroflexo [poJta] em:

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a) final de sílaba no meio de palavras (coJta, goJda);

b) final de palavra (maJ);

Já o carioca pronuncia o ‘r’ [poXta] fricativa velar: [maX].

A variável seria estas maneiras de pronunciar o (r). A variável é o resultado da variante.

Variante (S)

O mesmo caso acontece com a pronúncia do ‘s’:

a) no meio de palavras: (mescla);

b) e no final de palavras: (mais, duas) o som do ‘s’ é implosivo; já o carioca o ‘s’ é chiante.

Exemplo:

(duas ['dua ]; esmola [e 'm la])

ANÁLISE DAS MÚSICAS

Análise da música “Deixa disso”, cantada por Felipe Dylon.

Felipe Priolli Dylong nasceu no Rio de Janeiro, no dia 23 de julho de 1987; é cantor e ator brasileiro. Começou sua carreira aos 15 anos, e em 2007, com 20 anos, já havia gravado 3 CDs e um DVD. Filho do surfista, shaper e diretor do concurso ‘Miss Angola’ Luiz Felipe Dylong e da bailarina e atriz Maria Lúcia Priolli.

“Deixa disso – Felipe Dylon”

"Foi numa segunda de verão Que eu a vi pela primeira vez Foi a sua primeira aparição O [bastante] pra me [convencer]

A [partir] daquele dia então Eu sempre tava lá

Na [mesma] hora e no [mesmo] [lugar]

Só pra [poder] te [encontrar] (2 x) Sempre que sentava no sofá

Começava a [imaginar]

O que [fazer], onde você está Eu contava as horas pra te [ver]

Mas não [respondia] ao meu [olhar]...”

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Refrão

Ô menina deixa disso Quero te [conhecer]

Vê se me da uma chance, tô afim de você Ô menina deixa disso

Quero te [conhecer]

Vê se me da uma chance Tô afim de você...

Eu fico o dia inteiro Só pensando em você Na minha cama no chuveiro

Conto as horas pra te[ ver]

Espero que um dia Você possa me [notar]

Eu sou um cara maneiro Vê se para de [esnobar]

Sempre que sentava no sofá Começava a [imaginar]

O que [fazer], onde você está Eu contava as horas pra te [ver]

Mas não [respondia] o meu [olhar]...

Refrão

Ô menina deixa disso Quero te [conhecer]

Vê se me da uma chance, tô afim de você Ô menina deixa disso

Quero te [conhecer]

Vê se me da uma chance Tô afim de você...

Lembrando que o que iremos analisar são as variantes fonológicas do /r/ e do /s/.

Nessa música, observamos o sotaque carioca do cantor no fonema /r/ = fricativa velar /X/ e no fonema /s/ chiante. O /s/ é pronunciado chiado //, comum no falar carioca.

Os falantes cariocas têm esse sotaque por influência de seus colonizadores europeus, sobretudo, os franceses.

Análise da música “O menino da porteira”, cantada por Sérgio Reis.

Sérgio Basini, mais conhecido como Sérgio Reis, nasceu em São Paulo no dia 23 de junho de 1940, é um cantor sertanejo brasileiro, famoso pelo seu repertório diversificado.

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“Menino da Porteira”- Sérgio Reis

“Toda vez que eu viajava pela [estrada] de Ouro Fino de longe eu [avistava] a figura de um menino que corria abrir a [porteira] e [depois] vinha me pedindo:

- Toque o berrante seu moço que é pra eu [ficar] ouvindo.

Quando a boiada passava e a poeira ia baixando, eu jogava uma moeda e ele saía pulando:

- Obrigado boiadeiro, que [Deus] vai lhe acompanhando.

Pra aquele [sertão] à fora meu berrante ia tocando.

No caminho [desta] vida muito [espinho] eu encontrei, [mas] nenhum calou mais fundo do que isso que

eu passei

Na minha viagem de volta [qualquer] coisa eu [cismei]

Vendo a [porteira] fechada o menino não [avistei].”

Nessa música, observamos o sotaque caipira do cantor no fonema /r/ = vibrante retroflexo e no fonema /s/ a pronúncia é implosiva.

O cantor Sérgio Reis não nasceu no interior de São Paulo, mas pela convivência com falantes do dialeto caipira adquiriu um pouco do sotaque.

Análise da música “Só os loucos sabem”, cantada pelo grupo Charlie Brown Jr.

Alexandre Magno Abrão, mais conhecido como Chorão, nasceu em São Paulo no dia 9 de abril de 1970, é músico brasileiro de rock. Vocalista da banda Charlie Brown Jr., aos 17 anos mudou-se para Santos, onde conheceu Luís Carlos Leão Duarte Jr., o Champignon, e formou com os guitarristas Marcão e Thiago Castanho e o baterista Renato Pelado a primeira formação da banda.

Seu apelido (Chorão) foi dado por seus amigos skatistas. Chorão é sobrinho da jornalista Sônia Abrão.

“Só os loucos sabem – Charlie Brown Jr.”

Agora eu sei exatamente o que [fazer]

Bom recomeçar [poder] [contar] com você Pois eu me lembro de tudo [irmão], eu estava lá também Um homem quando está em paz não quer guerra com ninguém Eu segurei minhas lágrimas, pois não queria [demonstrar] a emoção

Já que estava ali só pra [observar] e [aprender] um pouco mais sobre a [percepção]

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Eles dizem que é impossível [encontrar] o amor sem [perder] a razão Mas pra quem tem pensamento [forte] o impossível é só questão de opinião

E disso os [loucos] sabem Só os [loucos] sabem Disso os [loucos] sabem

Só os [loucos] sabem

Toda positividade eu desejo a você Pois [precisamos] disso nos dias de luta

O medo cega os nossos sonhos O medo cega os nossos sonhos Menina linda eu quero [morar] na sua rua

Você deixou saudade Você deixou saudade Quero te ver outra vez Quero te ver outra vez Você deixou saudade

Agora eu sei exatamente o que [fazer]

Bom recomeçar [poder] [contar] com você Pois eu me lembro de tudo irmão, eu estava lá também Um homem quando está em paz não quer guerra com ninguém.

Nessa música, observamos o sotaque paulista do cantor no fonema /r/ e no fonema /s/.

O fonema /r/ é pronunciado normalmente, chamado tape alveolar, em finais de sílabas mediais.

Já nas sílabas finais, houve a supressão de erres finais nas palavras que estão grifadas.

(apócope: supressão do último fonema). Os falantes paulistas têm esse sotaque por influência de seus colonizadores índios, colonos, jesuítas e bandeirantes.

Considerações finais

Esse trabalho teve o intuito de analisar e observar sotaques de algumas regiões, mais precisamente dos falantes cariocas, caipiras e paulistas. Comparamos a diferença de sotaques das variantes /r/ e /s/ e também a supressão de alguns erres no fim de vocábulos.

Essas diferenças de sotaques de cada região é devido à colonização de cada lugar e a outros fatores como o ambiente em que vivem, idade, grau de escolarização, sexo e outros já citados.

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Assim, o nosso objetivo foi mostrar a riqueza de variedades linguísticas que há em nosso país, ou seja, as muitas maneiras de se falar o nosso idioma.

Referências

BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

BORTONI – RICARDO, S. M. Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

MONTEIRO, J. L. Para compreender Labov. São Paulo: Vozes, 2000.

SILVA, T. C. Fonética e Fonologia do Português - Roteiro de Estudos e Guia de Exercícios.

9. ed. São Paulo: Contexto, 2007.

Para citar este artigo:

ALVIM, Ana Flávia Dias et al. O falar carioca, paulista e caipira: análise fonética e fonológica In: VII SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÓLETRAS - Estudos Linguísticos e Literários. 2010. Anais... UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Letras, Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2010. ISSN – 18089216. p, 234 – 240.

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