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A REPRESENTAÇÃO DA MULHER ATLETA NA MÍDIA ESPORTIVA BRASILEIRA DURANTE A COBERTURA DOS JOGOS OLÍMPICOS DE 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO CAMPUS BAIXADA SANTISTA

BRUNA CAROLINE SOARES LOPES MORAES

A REPRESENTAÇÃO DA MULHER ATLETA NA MÍDIA ESPORTIVA BRASILEIRA DURANTE A COBERTURA DOS JOGOS OLÍMPICOS DE 2016

Santos

2017

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BRUNA CAROLINE SOARES LOPES MORAES

A REPRESENTAÇÃO DA MULHER ATLETA NA MÍDIA ESPORTIVA BRASILEIRA DURANTE A COBERTURA DOS JOGOS OLÍMPICOS DE 2016

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal de São Paulo como parte dos requisitos curriculares para obtenção do título de bacharel em Educação Física - Modalidade Saúde.

Orientador: Prof. Dr. Rogério Cruz de Oliveira

Santos

2017

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha família por todo o suporte que me foi dado até aqui, pelos braços abertos quando decidi desistir e voltar pra casa e pelo apoio quando decidi me aventurar pelo mundo. Em especial, agradeço à minha mãezinha, que esteve sempre ao meu lado, transbordando amor, carinho e compreensão, mesmo nos momentos mais difíceis e de lutas inesperadas.

Agradeço ao time de hand, que me proporcionou vivenciar o esporte universitário, que vibrou comigo em tantas vitórias, mas que também chorou comigo nas derrotas. Obrigada pelos treinos pré- prova/trabalho, pelos campeonatos disputados, pelo suor derramado e pela garra quando parecia não existir mais fôlego.

Agradeço às minhas amigas de Irlanda, Georgia, Paula e Marina, que principalmente na reta final, tornaram meu intercâmbio mais leve e me permitiram viver as melhores viagens da minha vida, com a maior quantidade de macarrão, pão com queijo e risos por minuto. Agradeço também à Fran, que de um grupo de trabalho que formamos sem nem nos conhecermos, fomos pra Dublin, desbravamos o Saara e os gelatos de Roma, obrigada pelo companheirismo, pelas viagens e pelas experiências que vivemos nesse período.

Agradeço imensamente à Ste, que foi a melhor pessoa que eu poderia ter encontrado nesta universidade e que esteve comigo desde, literalmente, o primeiro dia de faculdade e desde então seguimos com essa amizade que me faz tão bem. Obrigada por ser tão presente mesmo com a distância, por me mandar um oi quando ando ausente e por ser essa amiga maravilhosa que eu amo tanto.

Agradeço também aos professores do SESC que foram muito receptivos, pacientes com a minha inexperiência, me mostraram tantos caminhos da profissão e em tão pouco tempo me conquistaram. Obrigada por terem tornado meu estágio tão rico e por me proporcionarem experiências únicas. Em especial agradeço à professora Nayara, que fez questão de me desafiar, de me tirar da zona de conforto, de me fazer estudar aquilo que eu não estava acostumada e que, além disso, me fez sentir parte do grupo e num piscar de olhos se tornou tão especial.

Agradeço ao professor Rogério por ter aceitado me orientar e, mais que isso, ter

participado da construção deste trabalho de forma tão presente e que ao mesmo tempo me ensinou,

de certa forma, a ser independente. Obrigada por, desde o primeiro ano de faculdade, nos ensinar o

que é ser um bom professor e profissional, nós do curso de Educação Física da Unifesp Baixada

Santista tivemos o privilégio incrível de tê-lo como docente.

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“Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância.”

Simone de Beauvoir

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RESUMO

Recentemente, as mulheres ganharam espaço e aumentaram sua visibilidade no mundo esportivo.

Alguns estudos recentes mostraram que a mídia tem um papel importante na visibilidade de atletas do sexo feminino. Por outro lado, a mídia também é responsável por criar e manter estereótipos em relação aos papéis de gênero, e uma das maneiras pela qual a mídia esportiva incentiva a soberania patriarcal dentro do esporte é realçando a feminilidade e a heterossexualidade das atletas mulheres, o que subestima suas conquistas esportivas. O objetivo deste estudo foi compreender como as mulheres atletas foram representadas pela mídia eletrônica da Folha de São Paulo - uma das principais mídias de comunicação no Brasil - durante a cobertura dos Jogos Olímpicos de 2016. Foi realizada uma análise documental do Caderno de Esportes da Folha de São Paulo em sua versão eletrônica e a coleta de dados abrangeu o período entre 3 e 22 de agosto de 2016. Foram excluídas reportagens que não se referiam aos esportes olímpicos, que não tinham como assunto principal as Olimpíadas, que abordassem somente o esporte masculino, que não continham os termos “mulher”,

“atleta”, “feminina” e/ou “feminino” e, por fim, reportagens que continham apenas um conteúdo descritivo de jogos ou resultados. Para a análise dos dados foi utilizada a análise de conteúdo, a qual foi feita de forma não-apriorística. Ao todo, foram encontradas 449 reportagens, das quais 69 consistiram na amostra deste estudo. Nesse sentido, as 69 reportagens foram analisadas buscando abranger: a) As temáticas das reportagens e b) A maneira de tratamento à mulher atleta. Em relação às temáticas foram encontradas 11 categorias, já no que diz respeito ao tratamento dado à mulher atleta foram obtidas cinco categorias. No presente estudo, a maioria das reportagens incluídas tratou a mulher como uma atleta comum, tanto no que diz respeito às temáticas, quanto no que tange à maneira. No entanto, um número significativo de matérias teve como assunto abordado a aparência física da mulher atleta, a violência, o racismo e, além disso, mostraram também a mulher de forma estereotipada e/ou inferiorizada. Por se tratar de um período no qual aconteceu um dos principais eventos esportivos do mundo, as Olimpíadas, é possível que tenha ocorrido uma representação superestimada da mulher atleta e do esporte feminino quando comparado a períodos em que não há competições esportivas internacionais de grande importância. Portanto, foi possível compreender que a mulher foi tratada como atleta, sem distinção de gênero e que as temáticas preponderantes foram suas marcas e feitos e/ou sua história no esporte. Entretanto, também houve maneiras estereotipadas e inferiorizadas de representação da mulher nas reportagens, aliadas às temáticas de comparação de rendimento com o esporte do naipe masculino, com homens atletas e/ou à beleza física.

Palavras-Chave: gênero, esporte, mídia, Jogos Olímpicos

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ABSTRACT

Lately, women have gained space and have increased their visibility within the sports world. Some recent studies have shown that the media have an important role in the visibility of female athletes.

On the other hand, the media is also responsible for creating and maintaining stereotypes regarding gender roles, and one of the ways that sports media encourages patriarchal sovereignty within the sport is by highlighting the femininity and heterosexuality of female athletes, which undervalues their sporting achievements. The aim of this study was to comprehend how female athletes were represented by the online media of the newspaper Folha de São Paulo - one of the main communication media in Brazil - during the coverage of the 2016 Olympic Games. A documental analysis of the Folha de São Paulo newspaper (online version) was conducted. The data collection covered the period between August 3

rd

and 22

nd

2016. Reports were excluded if they were not related to Olympic sports, did not have the Olympics as the main subject, did not have the terms

“woman”, “athlete” and/or “female”, articles that concerned only men’s sports and reports that contained only descriptive content of games or results. Content analysis was used to examine the data and this was done in a non-aprioristic way. 449 reports were found of which 69 consisted of the study sample. Thereby, the 69 reports were analyzed seeking to cover: a) the themes of the reports and b) the way the female athlete was treated. In relation to the themes, 11 categories were found, regarding the treatment given to the female athlete five categories were obtained. In the present study, most of the reports included treated the woman as a common athlete, both in terms of themes and in relation to the way of treatment. A significant number of reports had the subject addressed the physical appearance of the female athlete, violence, racism and, in addition, also showed the woman in a stereotyped and/or inferiorized way. Because it was a period in which one of the main sports events in the world, the Olympics, happened, it is possible that there has been an overestimated representation of female athlete and women's sport when compared to periods when there are no major international sports competitions. Therefore, it was possible to understand that the woman was treated as a common athlete, without distinction of gender, and that the preponderant theme was her marks and/or her history within the sport. However, there were also stereotyped and inferiorized ways of representing the woman in the reports, allied to the themes of comparison of performance with the masculine sport, with male athletes and/or physical beauty.

Keywords: gender, sport, media, Olympic Games

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 7

2. MÉTODO 9

2.1. Amostragem e coleta de dados 9

2.2. Análise de dados 10

3. RESULTADOS 11

4. DISCUSSÃO 16

5. CONCLUSÃO 21

6. REFERÊNCIAS 22

7. ANEXO 26

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1. INTRODUÇÃO

Segundo Altmann (2017), meninos e meninas têm oportunidades desiguais no que diz respeito às possibilidades de aprendizagens e experiências no esporte.

Goellner (2005) afirma que as mulheres conquistaram espaço no mundo esportivo, essencialmente considerado masculino, nas primeiras décadas do século XX. Além disso, o aumento da visibilidade do esporte feminino e da imagem da mulher atleta se deu devido à participação feminina nos Jogos Olímpicos Modernos, que aconteceu pela primeira vez em 1900, em Paris. Segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI), 22 mulheres de um total de 997 atletas competiram em cinco esportes, sendo eles: tênis, vela, cróquete, hipismo e golfe.

Para Markula (2009), os Jogos Olímpicos são considerados um dos maiores eventos esportivos no mundo contemporâneo e por isso se tornaram parte de uma complexa mídia comercial. Como relata Fink (2015), a mídia de massa pode ser considerada uma instituição poderosa de formação de opinião na cultura moderna, e de fato, pesquisadores indicam que a maneira como a mídia retrata alguns assuntos impacta diretamente na maneira com que o público percebe a realidade.

Capranica et al. (2005) considera que a quantidade de cobertura da mídia tem grande importância para a visibilidade da mulher atleta. Além disso, McDonagh e Pappano (2007) apontam que a mídia gera e reforça estereótipos relacionados aos papéis de gênero, o que tem um impacto negativo nas percepções das capacidades atléticas das mulheres.

Para Muehlenhard e Peterson (2011), gênero é uma construção social, na qual a sociedade atribui papéis e comportamentos que são considerados adequados para homens e mulheres. As autoras ainda acreditam que a forma como a sociedade entende gênero está intimamente associada com o processo de socialização, já que desde a infância as crianças são colocadas onde a sociedade espera que elas estejam, em outras palavras, meninos e meninas vivenciam dois mundos diferentes e separados, de acordo com o que as instituições sociais julgam ser adequado.

Altmann (2017) aponta que, experiências corporais podem promover relações com o corpo que não tratem apenas de sua aparência estética, mas que proporcionam outras sensações e desafios associados às características específicas de cada prática esportiva. Com isso, a autora propõe que a associação de imagens e histórias de mulheres com formas corporais variadas, praticando exercícios, pode propagar a ideia de que a prática esportiva é para todas(os).

Segundo Goellner (2005), os argumentos que dizem respeito à masculinização da

mulher atleta são baseados em uma ideia superficial de gênero, segundo a qual, cada gênero tem um

papel específico dentro da sociedade, e que essa função social os define. Dessa forma, pressupõe-se

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que exista uma essência masculina e/ou feminina imutável que é considerada natural do ser humano. Fink (2015) enfatiza que uma das formas que a mídia esportiva reforça a soberania patriarcal é destacando a feminilidade de atletas mulheres e sua heterossexualidade, o que degrada e subestima suas conquistas dentro do esporte.

Para Altmann (2017), essa estratégia de classificar mulheres atletas como não- femininas, masculinizadas ou homossexuais é uma forma subliminar de demarcar as práticas esportivas como masculinas, logo, inadequadas para mulheres. No entanto, segundo a autora, houve um rompimento de preconceitos e saberes que constituíam o corpo da mulher como frágil, tendo a maternidade como sua principal função e inapto a determinadas práticas.

Altmann (2017) ainda afirma que, quando comparadas aos homens, ainda há um menor numero de atletas mulheres no alto rendimento. Para a autora, a visibilidade de mulheres atletas na mídia pode contribuir para a criação de uma referência feminina na prática esportiva, porém há uma supremacia masculina nessa área.

A mídia tem uma função importante na representação de homens e mulheres atletas e, além disso, na perpetuação de estereótipos de gênero já impregnados na sociedade. Segundo Koivula (1999), a imprensa reforça a categorização dos esportes de acordo com os pontos de vista tradicionais sobre as apropriações de gênero, que, por sua vez afetam a maneira como os indivíduos se comportam em relação à participação em atividades esportivas.

Souza e Knijnik (2007), ao estudarem a representação da mulher atleta na Folha de São Paulo, encontraram diferenças significativas tanto em relação à quantidade de reportagens destinadas ao esporte feminino e masculino, quanto ao conteúdo das mesmas. Para isso, foram utilizados dois períodos de coleta, separados por cinco meses, para que não houvesse influência de nenhum megaevento sobre as reportagens. Segundo os autores, houve uma diferença considerável no tratamento dado a cada gênero na cobertura jornalística, que mostraram grandes desigualdades e diferença no foco dos artigos, já que as marcas de gênero e comentários relacionados à beleza física estavam mais presentes em matérias sobre mulheres atletas e esporte feminino, enquanto em artigos relacionados ao esporte masculino o foco era dado às habilidades esportivas do atleta.

Sendo assim, o objetivo deste estudo consiste em compreender a representação da

mulher atleta na mídia eletrônica da Folha de São Paulo durante a cobertura dos Jogos Olímpicos de

2016.

(10)

2. MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa documental, que, de acordo com Severino (2007), usa documentos como jornais, fotos, filmes, gravações, documentos legais, entre outros. Neste tipo de documento não há nenhum tratamento analítico prévio, caracterizando-os como matéria prima da pesquisa, na qual o autor desenvolve sua investigação.

Este estudo teve uma abordagem qualitativa, que, segundo Minayo (1994), é caracterizada por atuar com fenômenos humanos (significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes), que são considerados como parte da realidade social, já que o ser humano se diferencia entre si pelos seus pensamentos e ações de acordo com a realidade vivida e compartilhada.

Este projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (CEP/UNIFESP), sendo aprovado sob o parecer número 0432/2017.

2.1. Amostragem e coleta de dados

A amostragem do estudo abrangeu o Caderno de Esportes da Folha de São Paulo em sua versão eletrônica. A escolha pela Folha de São Paulo se justifica por ser, segundo a Associação Nacional de Jornais (ANJ), o jornal de maior circulação no estado de São Paulo e um dos maiores do Brasil.

A coleta de dados se deu de forma retrospectiva, cobrindo o período entre 3 e 22 de agosto de 2016, respectivamente o primeiro dia de competições dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e um dia após a Cerimônia de Encerramento do evento. Nesse período foram publicadas 449 reportagens no Caderno de Esportes, que consistiu na amostra inicial do estudo.

Após essa busca aplicamos os seguintes critérios de exclusão:

 Reportagens que não se referiam aos esportes olímpicos;

 Reportagens que não tinham como assunto principal as Olimpíadas;

 Reportagens que abordassem somente o esporte masculino;

 Reportagens que não continham os termos “mulher”, “atleta”, “feminina” e/ou “feminino”;

 Reportagens que continham apenas um conteúdo descritivo de jogos ou resultados.

Após essa etapa foram excluídos 380 registros, restando 69 reportagens que consistiu na

amostra desse estudo.

(11)

2.2. Análise de dados

Para a análise dos dados coletados foi utilizada a análise de conteúdo, que à luz de Campos (2004), é um método muito usado na pesquisa qualitativa que tem como objetivo buscar o(s) significado(s) do documento estudado. Severino (2007) considera que na análise de conteúdo se analisa informações contidas em um documento, que pode apresentar diferentes linguagens, como a escrita, a oralidade, a imagem e os gestos. Além disso, o documento que é objeto de estudo pode ter seu sentido explícito ou oculto, assim, com esse método de pesquisa é possível que se entenda de forma crítica o processo de comunicação. O autor ainda afirma que a forma como o documento é escrito, isto é, sua linguagem, sua expressão verbal e seus enunciados são entendidos como indicadores indispensáveis para a compreensão dos conflitos relacionados às práticas humanas e aos seus componentes psicossociais. No caso desse estudo, a representação da mulher atleta. Além disso, para Campos (2004), a análise de dados em uma pesquisa documental pode ser dividida, para fins pedagógicos, em três fases, sendo elas: (1) Fase de pré-exploração do material, que consiste na leitura de todo o material, a fim de adquirir conhecimento sobre o assunto e organizar de forma simples os aspectos importantes que poderão ser usados nas próximas fases da análise; (2) Seleção das unidades de análise, como por exemplo, palavras, sentenças, frases, parágrafos ou um texto completo; (3) Categorização e subcategorização, momento no qual acontece uma classificação das informações obtidas por diferenciação de temas seguido de um reagrupamento.

Assim, a análise dos dados foi feita de forma não apriorística, isto é, há uma exigência de que o pesquisador revise o material analisado inúmeras vezes, além de utilizar teorias embasadoras que suportem seus achados e não perder de vista os objetivos do estudo (CAMPOS, 2004).

Nesse sentido, as 69 reportagens foram analisadas buscando abranger:

a) A temáticas das reportagens;

b) A maneira de tratamento à mulher atleta.

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3. RESULTADOS

Em relação às temáticas, o Quadro 1 mostra a existência de 11 categorias. É válido ressaltar que uma mesma reportagem pode figurar em duas ou mais categorias.

Quadro 1 - Temáticas identificadas na amostra do Estudo

Fonte: dados coletados no estudo.

No que se refere à categoria intitulada “Marcas e feitos” foi possível observar que as reportagens abordaram, de forma geral, as conquistas das atletas dentro do esporte, ressaltando conquistas, premiações e alguns ineditismos.

“Campeã dos Jogos Paraolímpicos de Londres-2012 ela decidiu tentar a sorte buscando uma vaga no evento para atletas convencionais. E conseguiu” (Folha de São Paulo, 08/08/2016, grifo meu).

“A japonesa Kaod Icho se tornou nesta quarta-feira (17) a primeira mulher a obter quatro ouros olímpicos em provas individuais, ao vencer a final feminina da luta estilo livre” (Folha de São Paulo, 18/08/2016, grifo meu).

Em relação à categoria “História de vida/carreira”, as reportagens mostraram como foi a iniciação do atleta no esporte, a carreira esportiva e a história de vida dentro e fora do esporte.

“A mudança da piauiense para a cidade-sede dos Jogos de 2016. há um ano não aprimorou apenas aspectos técnicos da medalhista de ouro em Londres-2012” (Folha de São Paulo, 06/08/2016, grifo meu).

Temática Frequência

1 Marcas e feitos 45

2 História de vida/carreira 19

3 Comparação 16

4 Investimento 10

5 Vulnerabilidade social 8

6 Afinidade 6

7 Aparência física 3

8 Diplomacia 2

9 Violência 2

10 Deficiência física 2

11 Protagonismo feminino 1

(13)

“Ela era conhecida na favela como uma menina brigona. Aos cinco anos, para tirá-la da rua, sua mãe, Zenilda Lopes da Silva, 45, decidiu inscrevê-la em aulas de judô” (Folha de São Paulo, 09/08/2016, grifo meu).

Já na categoria “Comparação”, as reportagens compararam uma modalidade na categoria feminina com a mesma modalidade na categoria masculina, uma mulher atleta com um homem atleta (do esporte correspondente ou não) ou, ainda, equiparavam duas atletas concorrentes.

“Os homens tem patrocinadores, nós, não. Treinamos e trabalhamos diariamente” (Folha de São Paulo, 03/08/2016, grifo meu).

““Marta é Marta, Neymar é Neymar”. Fssa frase é repetida pela meia brasileira Marta sempre que alguém a compara a Neymar” (Folha de São Paulo, 06/08/2016, grifo meu).

“A experiência foi fundamental para o desempenho de Poliana. E a nova pressão pode ter atrapalhado Ana Marcela, que agora se encontra mais ou menos na mesma posição da compatriota em Londres-2012” (Folha de São Paulo, 16/08/2016, grifo meu).

Na categoria “Investimento”, as reportagens trataram sobre as premiações para medalhistas olímpicos e investimento no esporte pela confederação ou país correspondente.

“A crítica recai sobre os jogadores e seus salários extraordinários contrastantes com o orçamento da África do Sul, do Iraque e das meninas brasileiras” (Folha de São Paulo, 08/08/2016, grifo meu).

“A CBF só deve pagar pelo ouro, diferentemente de outras modalidades, que pagam por qualquer medalha. No feminino, o valor do futebol também vai superar com folga os R$ 17,5 mil por atleta em caso de ouro” (Folha de São Paulo, 13/08/2016, grifo meu).

Quanto à categoria “Vulnerabilidade social”, as matérias abordaram temas como preconceito de gênero e condição socioeconômica do atleta.

" Quando comecei a participar de competições no adulto, com 16 anos, via que não tinham nenhum respeito pela gente. [Os homens em geral] Debochavam da gente na pesagem. diziam que era fácil nos bater, debochavam do nosso desempenho" (Folha de São Paulo, 10/08/2016, grifo meu).

“Negra, favelada e mulher, a cara do país, a cara daqueles que, em geral, são apartados do esporte”

(Folha de São Paulo, 22/08/2016, grifo meu).

A categoria “Afinidade” foi composta por reportagens nas quais foi possível identificar certa afinidade do atleta/equipe com a torcida, com a cidade do Rio de Janeiro e/ou com o Brasil.

“A primeira equipe do Egito a classificar-se para o esporte em Olimpíadas perdeu os três jogos que disputou contra ale 17115. italianas e canadenses, mas conquistou a torcida” (Folha de São Paulo,12/08/2016, grifo meu).

“Estou muito emocionada de estar numa Olimpíada. quase chorei ao ser recebida com tanto carinho por gente que não conhece o esporte” (Folha de São Paulo, 19/08/2016, grifo meu).

No que diz respeito à categoria “Aparência física”, as matérias trataram do porte físico das atletas e do padrão de beleza.

“Mas na corrida você se queima muito, então elas acham feio, não é valorizado” (Folha de

São Paulo, 15/08/2016, grifo meu).

(14)

“Veio, em seguida, o golpe de misericórdia: “Mas as bonecas suecas capturam os olhares humanos” (Folha de São Paulo, 18/08/2016, grifo meu).

“O espanto com o corpo da corredora é a reação mais fácil e rápida a uma questão sensível, que ainda levanta muita controvérsia” (Folha de São Paulo, 20/08/2016, grifo meu).

Já na categoria “Diplomacia”, estiveram presentes reportagens os quais tratavam da política dentro dos Jogos Olímpicos.

“Neste domingo (7), a judoca Majllnda Kelmend, 25, venceu o ouro para sua nação depois de ter vencido o próprio direito de competir por ela. Ela demonstrou uma obstinação política” (Folha de São Paulo, 08/08/2016, grifo meu).

“Mas seu prêmio maior foi ver neste domingo (7) a bandeira de Kosovo no alto da Arena Carioca 2 ao som do hino do pais” (Folha de São Paulo, 08/08/2016, grifo meu).

Na categoria “Violência” foram incluídas reportagens as quais tinham como assunto o racismo, violência psicológica, por parte da torcida e abuso sexual sofrido por uma atleta.

“Falaram que judô não era para mim, que lugar de macaco era na jaula, e não na Olimpíada” (Folha de São Paulo, 09/08/2016, grifo meu).

“Joanna contou que na noite de segunda-feira (8) deparou-se com uma grande quantidade de insultos em sua página no Facebook” (Folha de São Paulo, 10/08/2016, grifo meu).

“A norte-americana criou após Londres-2012 urna fundação (Fearless, "sem medo" em inglés) para atender crianças que sofreram abusos sexuais. Ela foi vitima deste crime por parte de seu primeiro treinador, aos 13 anos” (Folha de São Paulo, 12/08/2016, grifo meu).

Quanto à categoria “Deficiência física”, os artigos abordaram a participação de atletas paraolímpicos nas Olimpíadas. Mais precisamente, a participação de Zahra Nemati, atleta iraniana do tiro com arco, campeã dos Jogos Paraolímpicos de Londres em 2012.

“Talim era mais uma ali em meio a milhares de atletas que compartilham sonhos e objetivos. Mas era a única que desfilava em uma cadeira de rodas” (Folha de São Paulo, 08/08/2016, grifo meu).

“Ex-lutadora de taekwondo, ela ficou paraplégica em um acidente. Em Londres-2012, tornou- se a primeira mulher do Irã a ganhar o ouro em Olimpíadas [...]”(Folha de São Paulo, 22/08/2016, grifo meu).

Em relação à categoria “Protagonismo feminino”, uma única reportagem se encaixou e se referiu principalmente a uma maior participação de atletas mulheres nos Jogos e às atletas medalhistas no Rio de Janeiro.

“AS MULHERES mantém o protagonismo na delegação brasileira nesta primeira fase da Olimpíada, repetindo os feitos dos dois Jogos anteriores” (Folha de São Paulo, 13/08/2016, grifo meu).

No que diz respeito à maneira pela qual a mulher atleta foi tratada, obtivemos cinco

categorias (Quadro 2), nas quais também foi possível uma mesma reportagens figurar em duas ou

mais categorias.

(15)

Quadro 2 – Maneiras de tratamento à mulher identificadas na amostra do estudo

Fonte: dados coletados no estudo.

Na categoria “Atleta” as reportagens se referiram às mulheres como atletas, levando em consideração suas conquistas dentro do esporte, como premiações e medalhas olímpicas, suas performances durantes as Olimpíadas e/ou contavam um pouco da história da atleta dentro do esporte.

“Sarah foi eliminada na repescagem ao perder para a líder do ranking mundial, Urantsetseg Munkhbat, da Mongólia, por ippon” (Folha de São Paulo, 07/08/2016, grifo meu).

“Tomar-se bicampeão olímpico de judô é difícil. Prova disso é que a única a atingir tal feito até agora na Rio-16 foi a norte-americana Kayla Harrison na categoria meio-pesado (até 78 kg)”

(Folha de São Paulo, 12/08/2016, grifo meu).

“Marta, como era esperado, foi muito aplaudida pelos torcedores e entregou a faixa de capitã para Formiga” (Folha de São Paulo, 04/08/2016, grifo meu).

“No Rio, a seleção brasileira pode igualar o feito daquela que é considerada a maior geração da história do vôlei feminino mundial” (Folha de São Paulo, 06/08/2016, grifo meu).

“A derrota por 3 sets a 2 diante de uma surpreendente seleção chinesa tirou as atuais bicampeãs olímpicas dos Jogos prematuramente, nas quartas de final” (Folha de São Paulo, 18/08/2016, grifo meu).

Em relação à categoria “Estereotipada” as matérias trouxeram marcas e estereótipos comuns no que se refere à mulher e ao gênero feminino.

“Só os urros antes do combate revelavam seu traço mais suave: o aparelho de dente com borracha verde e amarela” (Folha de São Paulo, 09/08/2016, grifo meu).

“Mayra fugia do balé para treinar no tatame” (Folha de São Paulo, 12/08/2016, grifo meu).

“[...] que já roubou nesta Olimpíada o apelido de “Bolt de saias” da compatriota Shelly-Ann Fraser” (Folha de São Paulo, 12/08/2016, grifo meu).

Maneira Frequência

1 Atleta 52

2 Estereotipada 15

3 Inferiorizada 11

4 Cidadã 3

5 Sem tratamento 2

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Já na categoria “Inferiorizada” os artigos mostraram situações nas quais a mulher atleta e/ou o esporte feminino em geral foram tratados com menor importância principalmente quando comparados ao esporte masculino.

“Sem a concorrência das estrelas das quadras, piscinas e pistas, o futebol feminino acaba sendo o centro das atenções por um dia” (Folha de São Paulo, 03/08/2016, grifo meu).

“Xodó da torcida, jogadoras ganham teto de R$13,5 mil por mês no Brasil. Como comparação, Gabriel, da seleção masculina, recebe mensalmente RS 300 mil no Santos” (Folha de São Paulo, 09/08/2016, grifo meu).

No que diz respeito à categoria Cidadã, as reportagens fizeram referência especificamente ao papel político e diplomático de uma atleta do recente independente Kosovo, independência esta que ainda não é reconhecida por todo o mundo.

“A atleta é o primeiro ídolo da jovem nação. Também foi porta-bandeira do país europeu na cerimônia de abertura no estádio do Maracanã” (Folha de São Paulo, 08/08/2016, grifo meu).

Quanto à categoria “Sem tratamento”, as matérias trataram do esporte feminino em geral, sem fazer referência a uma atleta em específico ou ao desempenho nos Jogos Olímpicos.

“A CBF decidiu que pagará valores semelhantes por medalha para os times masculino e feminino, caso consigam o pódio. A quantia ainda está em discussão” (Folha de São Paulo, 03/08/2016, grifo meu).

“Faltou planejamento para que as jogadoras tivessem jogos Internacionais e diminuíssem

essa diferença de nível entre o basquete interno e o internacional, [...]” (Folha de São

Paulo, 12/08/2016, grifo meu).

(17)

4. DISCUSSÃO

Neste estudo, foram encontradas 69 reportagens as quais se referiam ao esporte na categoria feminina, o que corresponde a 15% do total, enquanto que, para o esporte masculino, foram encontradas 151 reportagens, o que corresponde a 33% do total de reportagens coletadas. As reportagens restantes, que compõem os outros 52% do total tratavam, por exemplo, de assuntos como a segurança na cidade do Rio de Janeiro, o dinheiro investido nos Jogos Olímpicos, o comportamento da torcida brasileira, a política presente nas Olimpíadas, os pontos altos e baixos das festas de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos, hospedagem na Vila Olímpica e a morte de João Havelange.

O baixo número de reportagens encontradas na Folha de São Paulo sobre o esporte feminino e a mulher atleta pelo presente estudo, mesmo que em período de Jogos Olímpicos, corrobora com o estudo de Souza e Knijnik (2007), o qual também apresentou uma discrepância em relação ao número de reportagens dedicadas aos esportes do naipe feminino quando comparado ao masculino. Os autores mostraram ainda que, no período analisado, mesmo com eventos esportivos de importância nacional e internacional, sendo estes somente no naipe feminino ou para ambos os sexos, assim como neste estudo, a representação feminina no esporte continuou muito baixa.

Porém, na maior parte dessas reportagens que traziam como tema a mulher atleta e /ou o esporte feminino, a mulher foi retratada de maneira neutra, como uma atleta comum, ou seja, não houve uma marcação de gênero. Além disso, as reportagens deram prioridade para temas como marcas e feitos das atletas no esporte, assim como para a história de vida delas, principalmente para chegarem à elite esportiva. Portanto, embora poucas matérias tenham sido dedicadas ao esporte feminino, as que o fizeram, deram o destaque ao que é realmente importante: desempenho esportivo e a vida da atleta dentro do esporte.

Urquhart e Crossman (1999) analisaram a seção de esportes do Globe and Mail, um jornal canadense, durante 16 Olimpíadas de Inverno, as quais aconteceram entre 1924 e 1992 e também encontraram uma sub-representação de mulheres atletas quando comparadas aos homens.

Este mesmo estudo mostrou que os homens receberam aproximadamente quatro vezes mais reportagens e três vezes mais imagens que as mulheres. Embora nosso estudo não tenha feito uma comparação entre homens e mulheres, também encontramos uma escassa representação do esporte na categoria feminina mesmo durante as Olimpíadas.

Segundo Theberge e Cronk (1986), a mídia é uma poderosa instituição que não

simplesmente reflete, mas também é responsável por formar percepções e comportamentos, com

isso, o tratamento dado à mulher pela imprensa é de extrema importância na luta pelo maior

reconhecimento de mulheres atletas e do esporte feminino.

(18)

Em nosso estudo, além do esporte em si, houve ainda as temáticas relacionadas à aparência física, racismo, violência, estereótipos e a inferiorização da mulher atleta. No que diz respeito à aparência física, Wanneberg (2011) mostra em seu estudo que tanto homens quanto mulheres atletas são erotizados pela mídia, no entanto isso é feito de maneira diferente. Segundo a autora, para os homens o foco se dá no seu desempenho como atleta, músculos, força e sua determinação, já para as mulheres os descritores se referem a fatos irrelevantes dentro do esporte, como corte de cabelo e estilo. Com isso, o estudo de Wanneberg (2011) afirma que as qualidades que são atribuídas aos homens, são de certa forma, importantes para o esporte, enquanto as qualidades destinadas às mulheres não. Sendo assim, a amostragem utilizada neste estudo corrobora com o trabalho de Wanneberg (2011), uma vez que mostra matérias que destacam a aparência da mulher mesmo sendo irrelevante para o contexto esportivo, sendo que as declarações foram feitas por parte do entrevistado ou do próprio jornalista.

Já em relação às matérias nas quais foram identificados comentários racistas, o presente estudo confirma os achados de Tralci Filho e Santos (2017), os quais analisaram a persistência e a reprodução da supremacia branca a partir de comentários na internet sobre o esporte e, com isso encontraram que mesmo quando não há referências diretas à raça ou declarações racistas feitas aos atletas, a supremacia branca ainda está presente no esporte. Os autores ainda afirmam que o esporte, como prática social, tem sido um campo que estimula a discussão das relações raciais, uma vez que, nos últimos tempos este tema tem sido abordado nos debates sobre o esporte. Sendo assim, a mídia, como uma instituição formadora de opinião, tem um papel importantíssimo nessa luta.

Além disso, a violência também esteve presente em matérias que foram incluídas neste estudo e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) pode ser definida como o uso intencional de força ou poder físico, ameaçado ou real, contra si mesmo, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade, que resulte ou tenha alta probabilidade de resultar em ferimentos, morte, danos psicológicos, alterações no desenvolvimento ou privações. Segundo Parent e Fortier (2017), a violência sexual é a mais encontrada na literatura quando comparada com outras formas de violência cometida pelos técnicos perante seus atletas. Sendo assim, nosso estudo confirma os dados de Parent e Fortier (2017), já que uma das reportagens demonstrou um caso de violência sexual entre treinador e atleta. Embora a amostragem do presente estudo tenha revelado reportagens nas quais atletas sofreram violência psicológica, principalmente por meio das redes sociais, por parte da torcida, ainda são necessários mais estudos que tratem especificamente da violência psicológica entre torcedor e atleta.

A violência no esporte tem se mostrado frequente, dentro e fora de campo, seja ela

física, sexual ou psicológica, no entanto, embora seja um assunto muito retratado pela imprensa

(19)

esportiva, ele não parece ser discutido com a regularidade que merece. Dessa forma, a mídia tem um papel significativo na conscientização do fair play e na não comercialização da violência.

Em relação à maneira pela qual a mulher atleta foi tratada nas reportagens, têm-se a maneira estereotipada. Melo, Giavoni e Tróccoli (2004), definem estereótipo como uma construção sócio-cognitiva sobre características compartilhadas nos diferentes grupos sociais. Ainda segundo os autores, de forma geral, o esporte pode ser classificado como mais masculino ou mais feminino, dependendo das qualidades necessárias para praticá-los. Para Bem (1981), a diferenciação entre feminino e masculino serve como um princípio de organização básica para qualquer cultura, porém a sociedade costuma designar o papel do adulto de acordo com seu sexo e, além disso, antecipam esse feito durante o processo de socialização das crianças.

Segundo Hardin e Greer (2009), os esportes que envolvem características masculinas são aqueles que exigem contato físico, oposição cara a cara, força e agressividade, enquanto que esportes femininos envolvem expressividade, elegância e estética. De acordo com Melo, Giavoni e Tróccoli (2004), a existências destas características interfere no julgamento a que os atletas estão submetidos, principalmente quando o sexo do atleta não condiz com a característica do esporte praticado e, ainda, são julgados também pelos seus corpos, que são resultado da prática esportiva.

Além disso, Chalabaev et al (2013) consideram que os estereótipos afetam os indivíduos a partir da sua internalização, que acontece durante os processos de socialização.

Para Melo, Giavoni e Tróccoli (2004), grupos com baixo envolvimento no esporte tendem a julgar as mulheres atletas de acordo com critérios socialmente definidos, que estabelecem normas, padrões de comportamento e até o corpo desejável para homens e mulheres. Os autores ainda afirmam que a feminilidade é vista como um fator importante que compõe a sensualidade e define o quão atraente é uma mulher, com isso, qualquer biotipo que fuja desses padrões sociais está sujeito à estereotipia sexual. Dessa forma, para Melo, Giavoni e Tróccoli (2004), as mulheres atletas são alvos desses estereótipos, uma vez que fogem das características culturalmente atribuídas ao gênero feminino e apresentam corpos fortes, definição muscular, rigidez, força, potência, agressividade e determinação, todas estas características consideradas essencialmente masculinas.

Além disso, Fink e Kensicki (2002) consideram que a homofobia presente no esporte

pode ser outra razão pela qual haja um apego tão grande a feminilidade das mulheres atletas, já que

quando uma reportagem mostra a vida pessoal da atleta, com seu marido ou namorado, passam a

mensagem de que todas as atletas do sexo feminino são heterossexuais, o que não acontece quando

se trata de atletas homens, que segundo as autoras a sexualidade desses atletas é raramente discutida

ou questionada. Portanto, para Fink e Kensicki (2002), o esforço feito para provar a

heterossexualidade das atletas faz com que suas qualidades como atleta e suas conquistas dentro do

esporte sejam banalizadas.

(20)

Sendo assim, esses estudos confirmam nossos achados, uma vez que foram identificadas matérias que mostravam a mulher atleta e o esporte feminino de forma estereotipada, reportagens que tentavam mostrar as atletas com características culturalmente associadas ao gênero feminino e à feminilidade.

Quanto à inferiorização da mulher atleta, Messner (1988) afirma que as concepções culturais da feminilidade e da beleza feminina têm significados mais do que estéticos. Para o autor, essas imagens e os significados a elas atribuídos reforçam relações de poder desiguais entre os sexos. Messner (1988) afirma que quem assiste a um evento esportivo pela televisão tem a falsa impressão do imediatismo, isto é, a sensação de estar participando efetivamente do evento como espectador. No entanto, as escolhas, as filmagens e toda a mediação do evento esportivo são baseadas em suposições de grupos sociais dominantes e, como tal, a apresentação do evento tende a apoiar ideologias corporativas, brancas e dominantes do sexo masculino, mais uma vez deixando o esporte feminino e a mulher atleta em segundo plano, assim como mostra algumas reportagens do presente estudo (MESSNER, 1988).

Na época em que o trabalho de Messner (1988) foi escrito, o autor mencionou que a marginalização era uma estratégia predominante da mídia ao se referir à mulher atleta e, quando retratadas por uma mídia essencialmente masculina, eram descritas com termos que se referiam à aparência física ou em seus papéis como esposa e/ou mães. Além disso, o autor aponta que os esportes mais populares, ou seja, aqueles que recebem uma maior cobertura da mídia servem para destacar o domínio dos homens sobre as mulheres, já que esses esportes são organizados em torno das potencialidades consideradas do corpo masculino.

Para Fink e Kensicki (2002), embora as mulheres atletas estejam se tornando mais fortes, mais rápidas e mais talentosas, pouco progresso foi alcançado em relação a como a mídia tem retratado essas mulheres como atletas, que ao invés disso são vistas como modelos e símbolos sexuais. Para as autoras, este destaque de qualidades fora do contexto esportivo serve para reforçar os papéis de gênero socialmente construídos e considerados adequados, mais uma vez deixando para segundo plano a mulher como atleta. Com isso, Fink e Kensicki (2002) afirmam que essa representação da mulher tende a fortalecer a hegemonia ideológica da superioridade masculina.

Ainda nessa perspectiva, Ponterotto (2014) nota que, embora a presença da mulher no esporte possa refletir sua luta bem sucedida por igualdade dentro do mundo esportivo, as instituições esportistas (organizações e meios de comunicação) ainda parecem apoiar uma ideologia da superioridade e dos privilégios masculinos, o que corrobora com nosso estudo, visto que houve a inferiorização da mulher atleta em reportagens coletadas.

Embora a presença de mulheres em Olimpíadas venha aumentando desde sua primeira

participação em 1900, a mídia não parece reconhecer a evolução do esporte feminino desde então,

(21)

uma vez que a representatividade da mulher atleta e do esporte na categoria feminina, mesmo em período de Jogos Olímpicos, se mostrou tão limitada.

Além disso, a mídia como uma importante instituição social, que forma e molda a opinião do seu público, tende a mostrar a mulher dentro de todos os estereótipos socialmente criados, isto é, feminina, delicada, dependente e como símbolo sexual, ao invés de mostrar suas qualidades como atleta. Dessa forma, os papeis de gênero considerados adequados pela sociedade acabam sendo reforçados, perpetuando uma ideia de que há uma superioridade masculina no mundo esportivo, impedindo assim, uma maior valorização da mulher atleta e do esporte no naipe feminino.

Por outro lado, as reportagens que fizeram parte da amostragem desse estudo também mencionaram outras temáticas relacionadas ao esporte, como marcas e feitos dentro do esporte, história de vida da atleta, comparação entre atletas, investimento no esporte, afinidade com o público, diplomacia, deficiência física e protagonismo feminino. Quanto à maneira pela qual a mulher foi retratada durante a cobertura dos Jogos Olímpicos de 2016, também foram encontradas matérias que mostraram a mulher como atleta, como cidadã e matérias as quais não se referiam diretamente à mulher ou ao esporte na categoria feminina. Estas outras formas de tratamento à mulher de certa forma, empoderam mulheres atletas e permitem um maior reconhecimento das mesmas no contexto esportivo.

No presente estudo, a maioria das reportagens incluídas tratou a mulher como uma atleta comum, tanto no que diz respeito às temáticas, quanto no que tange à maneira. No entanto, um número significativo de matérias teve como assunto abordado a aparência física da mulher atleta, a violência, o racismo e, além disso, mostraram também a mulher de forma estereotipada e/ou inferiorizada.

Além disso, por se tratar de um período no qual aconteceu um dos principais eventos

esportivos do mundo, as Olimpíadas, é possível que tenha ocorrido uma representação

superestimada da mulher atleta e do esporte feminino quando comparado a períodos em que não há

competições esportivas internacionais de grande importância.

(22)

5. CONCLUSÃO

A mídia eletrônica da Folha de São Paulo publicou 449 reportagens na época dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, das quais 69 abordavam a mulher atleta, mostrando que houve uma sub-representação da mulher atleta. Desse universo representativo, pudemos compreender que a mulher foi tratada como atleta, sem distinção de gênero, e que a temática preponderante foi suas marcas e feitos e/ou sua história no esporte. Entretanto, também houve maneiras estereotipadas e inferiorizadas de representação da mulher nas reportagens, aliadas às temáticas de comparação de rendimento com o esporte masculino, com homens atletas e/ou à beleza física.

Sendo assim, há o entendimento da necessidade de outros estudos, principalmente os

que busquem comparar reportagens entre homens e mulheres e em épocas diferentes de grandes

eventos esportivos, como é o caso dos Jogos Olímpicos. Esse seria um importante passo para

compreender de forma mais ampla o fenômeno da representação da mulher atleta na mídia esportiva

brasileira, o que esse estudo se aproximou de forma restrita.

(23)

6. REFERÊNCIAS

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7. ANEXO

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Referências

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