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PREVALÊNCIA DE HEPATITE C NA POPULAÇÃO CARCERÁRIA DO CENTRO PRISIONAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL 1

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Recebido em: 20.11.2013. Aprovado em: 01.04.2014.

1 Trabalho Final de Graduação - TFG.

2 Acadêmicos do Curso de Farmácia - Centro Universitário Franciscano.

3 Orientadores - Centro Universitário Franciscano.

ISSN 2179-6890

PREVALÊNCIA DE HEPATITE C NA POPULAÇÃO CARCERÁRIA DO CENTRO PRISIONAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

1

PREVALENCE OF HEPATITIS C IN PRISON CENTER OF THE STATE OF RIO GRANDE DO SUL, BRAZIL

Ricardo Simões Brum

2

, Cíntia Perez Bidinha

2

, José Alcides da Silva Viçosa

2

, Bruno Stefanello Vizzotto

3

, Juliana Fleck

3

e Roberto Christ Vianna Santos

3 RESUMO

A hepatite C é uma das mais importantes doenças virais, tornando-se a maior responsável por cirrose e transplante hepático no mundo ocidental. Neste trabalho, são avaliados laudos de indivíduos apenados na Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), Penitenciária Estadual de Charqueadas (PEC) e Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas (PMEC). Foram analisados 569 laudos emitidos no período de Janeiro de 2011 a Outubro de 2012, sem restrições de sexo e idade. Dos 569 laudos analisados, 143 apresentaram resultados positivos, resultando uma prevalência de 25,1%. Do total de laudos analisados, 372 foram da (PEJ). Destes dados, 94 apresentaram resultados positivos, representando 25,3%. Na (PEC), foram verificados 89 exames anti-HCV, e destes 24 apresentaram positividade, representando uma prevalência de 26,9% o resultado mais elevado comparado com as outras casas prisionais. Na (PMEC), foram analisados 108 laudos, sendo que 25 foram reagentes para o vírus HCV, resultando em 23,1%. Algumas ações são necessárias para o controle do HCV em ambientes prisionais.

Palavras-chave: doenças virais, penitenciária, transplante hepático.

ABSTRACT

Hepatitis C is one of the most important viral diseases, becoming largely responsible for cirrhosis and liver transplantation in the Western world. This paper assesses reports of prisoners at Jacui State Prison (JSP), Charqueadas State Prison (CSP) and Charqueadas State Module Prison (CSMP). We analyzed 569 reports issued from January 2011 to October 2012, with no restrictions on age and sex. Of the 569 reports analyzed, 143 were positive, resulting in a prevalence of 25.1%. 372 of these are from (JSP). 94 reports of the Jacui facility had positive results, representing 25.3%. 89 anti-HCV exams from CSP were checked, from which 24 ones were positive with a prevalence of 26.9%. This is the highest value compared to the other prison facilities.

108 reports from CSMP were analyzed, and it showed that 25 were positive for HCV, which results in 23.1%.

Some actions are necessary for the control of HCV in prison facilities.

Keywords: viral diseases, prison facility, liver transplantation.

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Disciplinarum Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 15, n. 1, p. 31-36, 2014.

INTRODUÇÃO

A hepatite C é uma das mais importantes doenças virais, tornando-se o maior responsável por cirrose e transplante hepático no mundo ocidental (BRASIL, 2005a). Desse modo, a infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) se tornou um problema de saúde pública em todo o mundo, inclusive no Brasil (BRANDÃO et al., 2001).

Assim, aparecem como grupos de risco aqueles que receberam transfusões de sangue e/ou hemoderivados antes de 1992, usuários de drogas intravenosas, pessoas com tatuagens e piercings, alcoólatras, portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV), transplantados, hemodialisados, hemofílicos, presidiários e sexualmente promíscuos (FERREIRA; SILVEIRA, 2004).

Esta patologia apresenta alto índice de cronificação. Estima-se que este processo ocorra em até 85% dos infectados (PASSOS, 2006). Destes, em média de um quarto a um terço evolui para formas histológicas graves no período de 20 anos. O restante evolui de forma mais lenta e talvez não desenvolva hepatopatia grave (BRASIL, 2005a, b).

As vias de transmissão do HCV estão diretamente associadas ao ambiente penitenciário, aumentando o risco de algumas infecções relacionadas com as práticas sexuais e/ou uso de drogas injetáveis (BURATTINI et al., 2000). Um estudo indica que a maioria das infecções por HCV ocorre antes do aprisionamento, mas o início das medidas de controle para prevenir a transmissão deve continuar após o encarceramento (GUIMARÃES et al., 2001).

Atualmente, um dos fármacos mais utilizados para o tratamento é o Interferon alfa (IFN-alfa), atuando isoladamente ou em associação com a Ribavirina, tornando-se a estratégia terapêutica recomendada para a maioria dos pacientes portadores de hepatite C (MIYAZAKI et al., 2005). Estes medicamentos devem ser relacionados com os altos custos à saúde pública, pois um estudo realizado em penitenciárias dos Estados Unidos (com positividade para HCV de 12% a 31%) apresentou previsão de despesas médicas relacionado com HCV próximos aos 10,7 bilhões de dólares de 2010 a 2019. Estima-se que esta patologia aumentará o orçamento americano com cuidados de saúde no ambiente carcerário em 15% a 60% (TAN et al., 2008).

Também é importante salientar que o vírus do HIV determina uma progressão mais rápida da doença hepática em indivíduos infectados pelo HCV, aumentando o risco de cirrose, assim como também a maiores taxas de viremia pelo HCV (SILVA; BARONE, 2006).

Porém, alguns estudos em casas prisionais indicam a diminuição da soroprevalência do HIV entre os presos do sexo masculino. As razões ainda não são bem compreendidas, pois as vias de transmissão são as mesmas do HCV. Portanto, seria de se esperar que o impacto do controle para o HIV também contribuísse para uma esperada diminuição da transmissão do HCV.

No entanto, além do HCV ser mais prevalente que o HIV entre usuários de drogas intravenosas,

ele também tem maior infecciosidade, o que pode explicar essa alta positividade para o vírus HCV

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Disciplinarum Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 15, n. 1, p. 31-36, 2014.

(GUIMARÃES et al., 2001). Desse modo, este trabalho apresenta pela primeira vez, por meio de análise de laudos, a prevalência de HCV em centros prisionais do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS

O município de Charqueadas localiza-se na região carbonífera do estado do Rio Grande do Sul. Este município se tornou um dos maiores centros penitenciários do Brasil e do mundo, com seis penitenciárias e aproximadamente 4.600 apenados (RIO GRANDE DO SUL, 2012).

Foram analisados laudos de indivíduos apenados na Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), Penitenciária Estadual de Charqueadas (PEC) e Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas (PMEC), que contam com aproximadamente 2.100, 850 e 1.100 indivíduos respectivamente.

O estudo foi realizado através de uma análise de laudos emitidos, nos quais foi verificado a positividade para HCV, durante o período de janeiro de 2011 a outubro de 2012, perfazendo um total 569 laudos de pacientes penitenciários, sem restrições de sexo e idade. Foram considerados resultados negativos e positivos, sendo que esses últimos foram reagentes para anticorpos contra o vírus da hepatite C.

Este trabalho foi aprovado pela secretária de saúde do município de Charqueadas e pelo comitê de ética em pesquisa envolvendo seres humanos do Centro Universitário Franciscano sob número 129.287.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos 569 laudos analisados, 143 apresentaram resultados positivos para HCV, resultando uma prevalência de 25,1%. Este valor representa um grande impacto na população carcerária do centro prisional do estado do Rio Grande do Sul. Um recente estudo, realizado por Santos et al. (2011), apresentou dados de prevalência de HCV de 48% na população carcerária da Espanha e 30% de positividade para HCV em apenados da Inglaterra e França.

Do total de laudos analisados, 372 foram da Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ). Destes

dados, 94 apresentaram evidência sorológica de infecção pelo HCV, representando 25,3% de

prevalência nesta instituição, conforme apresentado na tabela 1. Isso mostra valores elevados

comparando com estudos realizados em outra penitenciária gaúcha, na qual foram testados 179

indivíduos, verificando-se uma prevalência de anticorpos anti-HCV de 9,7% (ROSA et al., 2012).

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Disciplinarum Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 15, n. 1, p. 31-36, 2014.

Tabela 1 - Dados dos laudos analisados.

Os resultados apresentados são de extrema importância, pois comparados com a população geral causam grande impacto, já que a incidência de HCV na população brasileira é de aproximada- mente 1,5%. A justificativa para uma sorologia maior entre os apenados do que na população geral se deve provavelmente pelos problemas relacionados aos fatores de risco, como comportamento sexual de risco, tatuagens, piercings e história pregressa de uso de drogas intravenosas, que são maiores nesta população (ROSA et al., 2012).

Na Penitenciária Estadual de Charqueadas (PEC), foram verificados 89 exames anti-HCV, e destes 24 apresentaram positividade representando uma prevalência de 26,9%, o resultado mais elevado comparado com as outras casas prisionais. Valores bem menores aos encontrados em um estudo realizado em uma penitenciária europeia, que apresentou prevalência sorológica de 47,9% em 1744 internos (HERRERO et al.,1998). A Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas (PMEC) foi à casa prisional que apresentou o índice mais baixo em relação às outras instituições. Foram analisados 108 laudos, sendo que 25 destes eram reagentes para o vírus da hepatite C, com isso 23,1% dos apenados apresentam-se infectados com o vírus (como é mostrado na Tabela 1). O que contrasta com outra publicação, na qual foram realizados estudos sobre saúde penitenciária, em que ocorreu uma prevalência de HCV de aproximadamente 12,7% (GÓIS et al., 2012).

Poucos estudos apresentam a prevalência do HCV em prisões. Porém, é de extrema impor- tância trabalhos desta natureza, pois demonstram o real impacto da hepatite C nestes indivíduos e na saúde pública. Esta não é uma realidade apenas do Brasil. Estudos realizados em diversos países mostram dados preocupantes de prevalência de HCV em populações carcerárias. Guimarães e cola- boradores em 2011, apresentaram dados de positividade para o HCV de 39,8% no Canadá, 57% na Noruega e 54% na Austrália. Estes altos índices estão relacionados a uma elevada prevalência de usuários de drogas injetáveis nestas populações (GUIMARÃES et al., 2001).

Amostras positivas n (%)

Amostras negativas

n (%) Total

PEJ

(2100 apenados) 94 (25,3%) 278 (74,7%) 372 (100%) PEC

(850 apenados) 24 (26,9%) 65 (73,1%) 89 (100%)

PMEC

(1100 apenados) 25 (23,1%) 83 (76,9%) 108 (100%)

TOTAL GERAL 143 (25,1%) 426 (74,9%) 569 (100%)

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Disciplinarum Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 15, n. 1, p. 31-36, 2014.

CONCLUSÃO

A Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas (PMEC) foi a casa prisional que apresentou o índice mais baixo de HCV em relação às outras instituições. A vulnerabilidade deste grupo a essas infecções é um fato importante. Os aspectos associados ao comportamento de risco na transmissão do HIV e do HCV são reais tanto pelo ponto de vista biológico como por sua realidade epidemiológica, principalmente quando levamos em conta essa situação específica de confinamento. O presente estudo foi realizado a partir da análise de laudos preexistentes. Acredita-se que se houvesse controle epidemiológico e testagem de toda população carcerária, a proporção de indivíduos soropositivos seria ainda maior.

Por isso, é necessário que as equipes de saúde, que atuam nos centros prisionais, realizem campanhas e promoções efetivas para orientação e prevenção, buscando como objetivo principal e norteador o diagnóstico para um futuro controle de hepatite C. A elaboração de instrumentos individuais e coletivos de controle de informações relacionada à saúde desta população também deve ser encorajada. O tratamento e o controle dessas infecções durante o período de cumprimento de pena, como parte de uma estratégia de controle, contribuiriam com a redução de suas disseminações, tanto dentro como fora do ambiente prisional.

REFERÊNCIAS

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www.aids.gov.br/pagina/o-que-sao-hepatites-virais>. Acesso em: nov. 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Hepatites virais o Brasil está atento. Brasília: Ministério da Saúde, 2005b.

Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/hepatites_virais_brasil_atento.pdf>.

Acesso em: nov. 2012.

BURATTINI, M. et al. Correlação entre HIV e HCV em prisioneiros brasileiros: evidência de transmissão parenteral no encarceramento. Revista de Saúde Pública, v. 34, p. 431-436, 2000.

FERREIRA, C.; SILVEIRA, T. R. Hepatites virais: aspectos da epidemiologia e da prevenção. Revista

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Disciplinarum Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 15, n. 1, p. 31-36, 2014.

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