55 Em minha história pessoal, a janela também se relaciona de alguma forma com o preparo (cuidar-se), com a música, cultura e alegria. Cheguei à janela através da jinela. Quando criança (talvez por volta de 4 anos) achava graça ao ouvir uma alegre música nordestina, que tinha o ritmo de um xote ou baião, pois juntava ao meu nome (Regina, pronunciado com forte sotaque regional, Régina) uma jinela (que não sabia o que era), mas que era alguma coisa a qual me fazia sorrir de contentamento. Depois descobri que era janela. Nesta música pode-se notar a presença cultural, contida na expressão “du jeitim da terra dela”. E há presença de lugar, contida na expressão “jinela”. A letra da música era assim:
“Inda onti vi Régina, Ricustada na jinela, Pintiano so cabelu, Du jeitim da terra dela.“ (canção popular de autoria desconhecida)
Na Dinamarca, o encanto de suas janelas arrumadas como verdadeiras vitrines, se deve a uma antiga história popular local. Diz a lenda que mulheres acendiam pequenos candeeiros e iam para as janelas, onde permaneciam recostadas à espera de seus maridos que retornariam de suas pescas diárias.
Certamente na Literatura devem existir inúmeros exemplos. Lembro-me de “O livro de San Michele” do escritor Axel Munthe, onde o autor descreve a impactante visão que teve de uma janela, capaz de fazê-lo deixar para trás definitivamente sua terra natal, estabelecendo-se, então, na rústica ilhota de Anacapri, na Itália. Era como uma veduta¹ para o azul do mar.
Figura 43 - Esta foto foi tirada em 2006, por Juliana Monachesi (crítica de Arte) e mostra dentro de uma sala de exposições de Arte durante a exposição “Paralela Bienal”. É uma imagem que está dividida ao meio e mostra dois ambientes: um interno e outro externo. Inicialmente, o que chama a atenção é o contraste de luz entre as duas partes. A primeira parte mostra um ambiente interno do recinto de exposições, onde há uma parede com uma imagem fotográfica pendurada (foto da artista Camila Sposati) que pretende estabelecer uma relação com o
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que se vê através da janela numa tentativa de mimetização do contexto onde está exposta. A 2ª parte está mais clara do que a primeira e mostra uma janela exibindo o ambiente externo que é o Parque Ibirapuera.
Figura 44 - Esta é uma imagem do cartaz da vídeoinstalação de Eder Santos exibido em 1994 no evento “Arte- Cidade 1”. Neste trabalho o artista exibe imagens filmadas através da janela de um trem e as projetava sobre uma montanha de terra dentro da sala de exposições. Eram imagens de cenas que alternavam seu ritmo conforme o que conseguisse o que uma janela de trem em movimento conseguisse capturar. Cenas que flagravam a aceleração e a lentidão com a interferência da textura da terra sobre a qual estavam sendo projetadas as imagens filmadas.
A “Experiência Visiva” do ambiente externo, enfocada a seguir, ocorreu em um terreno baldio junto à sala de Arte, e que possuía também vários referenciais.
Mas o que mais chamava atenção ali, era aquela vista que tinha da paisagem ao redor da escola. Era um mirante natural.
Figura 45 - Aluno de frente para a janela, ainda dentro da classe,
admirando a paisagem que está prestes a enfrentar
(1) Veduta (do italiano, vista) é um termo usado na arquitetura, no paisagismo e na arte para designar uma estrutura de emolduramento de uma determinada cena de paisagem. É enquadramento que recorta a paisagem focalizada pelo olhar, emoldurada feita arcos, visores, brechas ou fendas. Segundo Choay (1925), veduta é uma representação, em pintura, de uma cena de modo muito figurativo, quase topográfico; de uma paisagem, uma vista de um bairro, de uma cidade, etc..." Francoise Choay é Historiadora de Teorias e Formas Urbanas e Arquitetônicas, Professora de Urbanismo Arte e Arquitetura na Universidade de Paris VIII. É autora dos livros: “ A Regra e o Modelo” ;” Alegoria do Patrimônio”, “O Urbanismo”.
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Figura 46 - Aluno admirando a paisagem através de um visor, desta vez já “ao ar livre”
2.2) EXPERIÊNCIA VISIVA 2: O MIRANTE
“Ponto de referência” é uma expressão que diz respeito à localização, situação de algum lugar, ou aspecto deste que contribui para a nossa orientação num local normalmente usado para áreas externas. O Mirante, era um espaço fora da sala de aula, fora da sala de Arte, num espaço atrás da escola, um terreno baldio que estava abandonado e que foi revitalizado, chamando atenção para esta característica intrínseca do lugar. Foi um espaço criado para servir de referência do mirar, do olhar e do contemplar.
A fim de justamente dar destaque a situação natural daquela paisagem, a localização desse terreno baldio, é que foi criado um conjunto de propostas, trabalhos, situações de aprendizagem que atraíssem os alunos para aprenderem com aquele ambiente. Sua característica intrínseca era o que a escola tinha de diferencial: a vista de toda a região constituindo por si um verdadeiro mirante.
O terreno foi limpo e um dos alunos desenhou com barbante as formas do
caminho de passagem da trilha (Figura 42). Resultou em uma bela forma cheia de
curvas (Figura 46) que atraía o olhar para todo aquele ambiente, além de envolver o
visitante que adentrasse na trilha e acabasse por penetrar o desenho feito na terra
(Figura 49).
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