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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciências Instituto de Geografia. Luana Cristina Baracho de Moura

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Academic year: 2022

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Instituto de Geografia

Luana Cristina Baracho de Moura

Espaço e Lugar Sagrado na percepção dos membros da

Assembléia de Deus Jardim 25 de Agosto - ADJ25A: um estudo de Geografia da Religião em Duque de Caxias - RJ - 2013.

Rio de Janeiro 2013

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Espaço e Lugar Sagrado na percepção dos membros da Assembléia de Deus Jardim 25 de Agosto - ADJ25A: um estudo de Geografia da Religião em Duque

de Caxias - RJ - 2013.

Dissertação submetida ao Programa de Pós- Graduação em Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre. Área de concentração:

Gestão e Estruturação do Espaço Geográfico.

Orientadora: Profª. Dra. Zeny Rosendahl

Rio de Janeiro 2013

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CATALOGAÇÃO NA FONTE

UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CTC/C

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese.

___________________________________ __________________________

Assinatura Data

M929 Moura, Luana Cristina Baracho de.

Espaço e lugar sagrado na percepção dos membros da Assembleia de Deus Jardim 25 de Agosto – ADJ25A : um estudo de geografia da religião em Duque de Caxias – RJ – 2013 / Luana Cristina Baracho de Moura. – 2013.

90 f.

Orientador: Zeny Rosendhl.

Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Geografia.

Bibliografia

1. Religião e geografia – Teses. 2. Espaço sagrado – Duque de Caxias (RJ) - Teses. 3. Assembleia de Deus – – Teses. 4. Pentecostalismo – Teses. I. Rosendahl, Zeny. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Instituto de Geografia. III. Título.

CDU 911.3:289(815.3)

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Espaço e Lugar Sagrado na percepção dos membros da Assembléia de Deus Jardim 25 de Agosto - ADJ25A: um estudo de Geografia da Religião em Duque

de Caxias - RJ - 2013.

Dissertação submetida ao Programa de Pós- Graduação em Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre. Área de concentração:

Gestão e Estruturação do Espaço Geográfico.

Aprovada em 27 de maio de 2013.

Banca Examinadora:

_______________________________________

Profª. Dra. Zeny Rosendahl (Orientadora) Instituto de Geografia da UERJ

_______________________________________

Prof. Dr. Alberto Pereira dos Santos Instituto de Geografia da UERJ

_______________________________________

Prof. Dr. Otávio José Lemos Costa Instituto de Geografia da UECE

Rio de Janeiro 2013

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Dedico esta dissertação a quem me faz feliz diariamente: meu Deus, essência do meu ser, e Marcelino, o presente mais perfeito que o meu Deus poderia me dar.

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Devemos ser sempre gratos àqueles que nos acompanham em nossa caminhada, tornando-a mais produtiva e feliz. Cada pessoa marca-nos de um modo único e especial. Não é possível citar todos os nomes que lembro com carinho neste momento, mas espero que sejam conscientes de que tocaram o meu coração e tornaram-se imprescindíveis em minha vida. Citarei alguns dos nomes aos quais sou imensamente grata, contando com o perdão daqueles que guardarei somente em meu coração.

Profª. Dra. Zeny Rosendahl: sou grata pelo conhecimento jorrado a cada reunião.

Prof. Dr. Alberto Pereira dos Santos e Prof. Dr. Marcelo Sotratti: vossos apontamentos foram fundamentais para o desenvolvimento desta reflexão.

Patrícia Frangelli e Ana Carolina Lobo Terra: nossas conversas me ensinaram muito.

Ivo Venerotti e Sérgio Matos: vossas doces palavras de incentivo ressoaram profundamente.

Pr. Isaías Gomes de Oliveira, Pr. Lola Ndofusu e todos os membros da ADJ25A que participaram dessa pesquisa: sem vocês nada disso teria sentido.

Pr. Weber Silva Chagas e Lourdes: serão sempre um referencial em minha vida.

Minha mãe Ruth, meu pai Euclides, minhas irmãs Aline e Elaine, meu cunhado Rogério e demais familiares e amigos: sou grata a Deus pelo amor e admiração que nos une.

Marcelino Andrade: sou intensamente grata por seu auxílio incansável e amor imensurável.

Lucas, Alice e Vitória: sou grata por tudo o que vocês representam para mim e vice-versa. Que vocês invistam no conhecimento e trilhem caminhos ainda maiores que os meus.

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Porque dele e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém

Bíblia Sagrada – Aos Romanos, capítulo 11, verso 36.

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Esta dissertação lança o olhar geográfico sobre a igreja Assembléia de Deus, estuda sua gênese, difusão e sua espacialidade no Brasil, através da proposta de estudo de geografia e religião, tendo como base as proposições fé, espaço e tempo:

difusão e área de abrangência, e espaço e lugar sagrado: vivência, percepção e simbolismo. Para tanto, o estudo de caso na escala local da Igreja Assembléia de Deus Jardim 25 de Agosto - ADJ25A, no município de Duque de Caxias, no Estado do Rio de Janeiro, torna-se imprescindível. Este estudo privilegia a difusão da mensagem pentecostal e a organização espacial de seus seguidores no país e se propõe a refletir sobre a geograficidade das práticas cotidianas religiosas individuais e de grupo dos membros da ADJ25A. A partir da observação empírica, da aplicação de um questionário individual e da análise dos resultados obtidos, é possível inferir sobre as práticas religiosas do homem religioso assembleiano no seu construir, no seu perceber e na sua vivência no lugar sagrado.

Palavras-chave: Geografia da Religião. Lugar Sagrado. Assembléia de Deus.

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genesis, and its spatial distribution in Brazil, through the proposed study geography and religion, based on faith propositions, space and time: diffusion and coverage area and space and sacred place: experience, perception and symbolism. Therefore, the case study at the local Assembléia de Deus Jardim 25 de Agosto - ADJ25A, in Duque de Caxias, State of Rio de Janeiro, it is essential. This study focuses on the spread of the pentecostal message and spatial organization of his followers in the country and aims to reflect on the everyday practices of geographicity religious group and individual members of ADJ25A. From empirical observation, the application of an individual questionnaire and analysis of the results obtained, it is possible to infer about the religious practices of the religious man assembleiano in your build, in his notice and his experience in the holy place.

Keywords: Geography of Religion. Sacred Space. Assembléia de Deus.

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Figura 1 - Cervejaria The Church Brew Works ……….……. 26

Figura 2 - The Church bar ………... 27

Figura 3 - Selexyz Dominicanen ... 27

Figura 4 - Localização de Belém do Pará no Brasil ... 37

Figura 5 - Igreja-mãe Assembléia de Deus em Belém do Pará ... 39

Figura 6 - Centro de Convenções Centenário da Assembléia de Deus ... 42

Figura 7 - Monumento da Assembléia de Deus na Praça da República em Belém do Pará ... 42

Figura 8 - Museu Nacional da Assembléia de Deus ... 43

Figura 9 - Elevado Gunnar Vingren sobre as Avenidas Centenário das Assembléias de Deus e Júlio César ... 43

Figura 10 - Convite para participar das comemorações relativas ao Centenário da Assembléia de Deus ... 44

Figura 11 - Vista Panorâmica do Estádio Olímpico do Mangueirão durante as Comemorações ... 45

Figura 12 - Mosaico Humano Durante as Comemorações no Estádio Olímpico do Mangueirão ... 45

Figura 13 - Estádio Olímpico do Mangueirão durante as Comemorações ... 46

Figura 14 - Difusão do pentecostalismo assembleiano no Brasil de 1911 a 1956 ... 52

Figura 15 - Percentual de Membros das Assembléias de Deus em cada Região do Brasil em relação à população local – 2010 ... 59

Figura 16 - Estrutura Organizacional das Assembléias de Deus ... 61

Figura 17 - Localização de Duque de Caxias no Brasil ... 63

Figura 18 - Convite para o 17° Vigilhão da Celebrai ... 64

Figura 19 - Convite para o evento Um dia com Deus ... 64

Figura 20 - Templo da ADJ25A com sua fachada conservadora ... 66

Figura 21 - Fachada do templo da ADJ25A ... 66

Figura 22 - Inserção da ADJ25A na Estrutura Organizacional das Assembléias de Deus ... 68

Figura 23 - Pastor Lola Ndofusu orientando adolescentes a responder o questionário com autonomia ... 71

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Figura 26 - Classe feminina I ... 73

Figura 27 - Classe feminina II ... 73

Figura 28 - Classe feminina III ... 74

Figura 29 - Jovens preenchendo o questionário ... 74

Figura 30 - Entrada principal da ADJ25A ... 75

Figura 31 - Púlpito da ADJ25A ... 77

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Quadro 1 - Métodos de difusão da Assembléia de Deus ... 48 Quadro 2 - Intervalos de tempo de difusão do pentecostalismo assembleiano. 51 Quadro 3 - Membros das Assembléias de Deus no Brasil – 2010 ... 58 Quadro 4 - Matriz e filiais da Assembléia de Deus Jardim 25 de Agosto ... 69

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AD - Assembléia de Deus

ADJ25A - Assembléia de Deus Jardim 25 de Agosto ADVEC - Assembléia de Deus Vitória em Cristo AGO - Assembléia Geral Ordinária

AVEC - Associação Vitória em Cristo

CEADER - Convenção Evangélica das Assembléias de Deus no Estado do Rio de Janeiro

CGADB - Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil CGIADB - Convenção Nacional das Assembléias de Deus no Brasil CNADB - Convenção Nacional das Assembléias de Deus no Brasil CONAMAD - Convenção Nacional das Assembléias de Deus no Brasil CPAD - Casa Publicadora das Assembléias de Deus

EBD - Escola Bíblica Dominical

Faecad - Faculdade Evangélica de Tecnologia, Ciências e Biotecnologia IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano LEG - Laboratório de Estudos Geoeducacionais

NEER - Núcleo de Estudos em Espaço e Representação

NEPEC - Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Espaço e Cultura NUPPER - Núcleo Paranaense de Pesquisa em Religião

PIB - Produto Interno Bruto

PPCIS - Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais PPGEO - Programa de Pós-Graduação em Geografia REDUC - Refinaria de Duque de Caxias

UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro UFPR - Universidade Federal do Paraná

USP - Universidade de São Paulo

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  INTRODUÇÃO 13 1 GEOGRAFIA DA RELIGIÃO NO BRASIL: 1994-2012 16 1.1 Convergências entre Mircea Eliade e Zeny Rosendahl 18 1.2 Sylvio Fausto Gil Filho e o espaço sagrado a partir de Otto e

Cassirer 20

1.3 Espaço e Lugar Sagrado: vivência, percepção e simbolismo 21 2 BREVE INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO E ÀS ASSEMBLÉIAS DE

DEUS - AD NO BRASIL 28

2.1 Início do Cristianismo e Reforma Protestante 28

2.2 Pentecostalismo Moderno 30

2.3 Marcas e matrizes do pentecostalismo e da AD no Brasil 33 2.3.1 Belém do Pará: Foco inicial da Assembléia de Deus no Brasil 35 2.3.2 Território e identidade assembleiana em Belém do Pará 37 3 A ESPACIALIZAÇÃO DA FÉ ASSEMBLEIANA NO BRASIL E O CASO

DA IGREJA ADJ25A EM DUQUE DE CAXIAS 46

3.1 Distribuição espacial das Assembléias de Deus no Brasil - 2010 57 3.2 Estudo de caso em escala local: Igreja Assembléia de Deus Jardim

25 de Agosto - ADJ25A, em Duque de Caxias-RJ 61 3.2.1 A  Cidade  de  Duque  de  Caxias  e  a  Assembléia  de  Deus  Jardim  25  de

Agosto - ADJ25A 61

3.2.2 Espaço e Lugar sagrado na percepção dos membros da ADJ25A 69

4 PARA NÃO CONCLUIR... 79

  REFERÊNCIAS 81

  APÊNDICE  -  QUESTIONÁRIO  SOBRE  PERCEPÇÃO  DE  ESPAÇO  E

LUGAR SAGRADO 88

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PREÂMBULO

Esta dissertação foi apresentada no Exame de Qualificação sob o título Territorialidade e Identidade Religiosa da Assembléia de Deus, enfocando as práticas territoriais e a criação de identidade do grupo religioso. No entanto, os apontamentos realizados pela Banca Examinadora motivaram uma profunda reflexão que provocou um novo enquadramento para este estudo.

Neste sentido, tornou-se necessário o resgate do trajeto percorrido ao longo do curso de mestrado em geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO/UERJ), no qual, as ponderações sobre as interações entre cultura, paisagem, identidade, religião e espaço, nas disciplinas Espaço, Natureza e Sociedade e Geografia e Religião, aliadas aos debates coordenados pela professora Zeny Rosendahl no Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Espaço e Cultura (NEPEC) e à disciplina Lugar e Simbolismo, ministrada pelo professor João Baptista Ferreira de Mello, alimentaram o fascínio pelo enfoque humanístico e pelo Lugar Sagrado. Já a disciplina Antropologia urbana: Cidade e Cultura, ministrada pelos professores Patrícia Birman, Sandra Sá Carneiro e Joanildo Burity, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPCIS/UERJ) proporcionou debates sobre a associação entre religião, educação e política e sobre algumas “questões” da cidade relacionadas ao crime, à violência, aos territórios periféricos e às suas precariedades. Estes comentários produziram um novo olhar sobre a situação dos marginalizados socialmente e sobre os conflitos familiares que podem ser gerados por incompatibilidade religiosa. A esta rede de contribuições na busca por conhecimento acrescenta-se as sugestões geográficas e fraternais dos geógrafos Roberto Lobato Corrêa, Patrícia Frangelli e Ana Carolina Lobo Terra.

Os resultados destas reflexões podem ser observados nas páginas a seguir.

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INTRODUÇÃO

Em artigo publicado no portal eletrônico Diário de Cuiabá, o geógrafo Santos (2007) levanta a seguinte questão: “Qual é o papel do geógrafo no mundo?”. Ao analisar o tema o pesquisador conclui que

Além das pesquisas acadêmicas nas diversas especialidades (climatologia, hidrografia, geoprocessamento, urbana, agrária, política, etc.), bem como as atividades de planejamento territorial nos setores governamentais, o geógrafo tem um importante papel a desempenhar na sociedade: democratizar o saber geográfico para todos os cidadãos, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da inteligência espacial do ser humano (grifo nosso).

O homem nem sempre se dá conta da geograficidade de suas ações cotidianas. Portanto, induzi-lo a ponderar sobre elas, desenvolvendo a sua inteligência espacial, é uma das tarefas da Ciência Geográfica. Esta dissertação se propõe a cumprir essa responsabilidade apontada por Santos (2007). Pretende-se tornar inteligível a ação humana sobre o espaço geográfico a partir da reflexão sobre a construção do Lugar. Sendo uma porção do espaço que se destaca ao provocar sentimentos positivos no grupo ou indivíduo, o lugar torna-se fundamental no enfoque cultural-humanista da geografia. Como um subcampo de pesquisa da Nova Geografia Cultural, a Geografia da Religião possibilita o estudo do sagrado na perspectiva geográfica. Nossa questão central considera que a classificação de um espaço como lugar sagrado é apreendida através da vivência e percepção do homem religioso. Portanto, interessa-nos a percepção de um grupo social religioso selecionado sobre lugar sagrado. A presente pesquisa lança um olhar geográfico sobre a igreja Assembléia de Deus (AD) e se preocupa com a espacialidade do seu sistema religioso.

Temas religiosos integram ao debate diversos setores da sociedade.

Estudiosos demonstram atenção a uma parcela crescente da população que se declara religiosa não-praticante, tem fé em alguma divindade, mas não se agrega a nenhuma instituição religiosa. Santos (2011, p. 103), em sua tese de doutorado pela Universidade de São Paulo (USP), classificou esse grupo como anarquistas religiosos. Em suas palavras,

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Cada ser humano é governo de sua fé, de sua crença. Sendo esta individual, ou pessoal, cada ser humano governa seu corpo de fé, seu próprio templo corpo-mente, e tem soberania somente sobre si mesmo. Anarquia religiosa é a libertação do reino de opressão das igrejas, é a emancipação espiritual do ser humano.

O geógrafo defende como benefício advindo dessa emancipação religiosa uma maior tolerância entre pessoas de diferentes crenças (ibidem).

No entanto, a mesma temática preocupa o psiquiatra King, da University College London, em artigo publicado originalmente no British Journal of Psychiatry e veiculado pelo portal eletrônico Folha de São Paulo, em 11/01/2013. O artigo de King conclui que pessoas espiritualizadas, mas que não seguem uma religião formal, são mais propensas a sofrerem de transtornos mentais do que ateus e religiosos tradicionais, e aponta que a falta da estrutura de uma religião formal na busca espiritual pode deixar os crentes mais vulneráveis aos problemas mentais. Entretanto, a equipe de King reconhece a necessidade de aprofundamento nas pesquisas para um trabalho mais detalhado. Esta querela mostra o embate sobre a importância da religião na construção social dos indivíduos e das sociedades como um todo. O universo mental do homem religioso intriga cientistas das diversas áreas do conhecimento. Na obra As Formas Elementares da Vida Religiosa, o sociólogo Durkheim (1989) destaca como categorias dos fenômenos religiosos as crenças e os ritos. A percepção diz respeito às crenças e reflexões; já a vivência, refere-se às práticas, aos ritos. A análise das informações obtidas a partir de uma amostra qualitativa dos membros da Igreja Assembléia de Deus Jardim 25 de Agosto (ADJ25A) possibilita a interpretação de como o grupo constrói, percebe e vivencia o lugar sagrado. A apreciação baseia-se na análise de um questionário individual proposto aos membros da ADJ25A presentes em reunião de Escola Bíblica Dominical (EBD). A escolha desta igreja como objeto de estudo se justifica pela relativa facilidade de acesso ao grupo para observação empírica e aplicação dos questionários qualitativos, aliada ao fato de se configurar como uma das igrejas Assembléias de Deus de referência no Município de Duque de Caxias, Estado do Rio de Janeiro.

O primeiro capítulo desta dissertação apresenta o desenvolvimento da Geografia da Religião no Brasil, ressaltando o empenho dos geógrafos

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Rosendahl e Gil Filho para o crescimento da temática. As considerações de Tuan, Norton e Mello sobre o conceito de lugar tornam-se indispensáveis e permeiam este estudo que parte da proposição temática de Rosendahl, intitulada Espaço e Lugar Sagrado: vivência, percepção e simbolismo, para ponderar sobre o conceito de lugar sagrado. O segundo capítulo elabora um panorama do início do Cristianismo e situa o foco inicial das Assembléias de Deus no Brasil. O terceiro capítulo discorre sobre a espacialidade da fé assembleiana no país, abordando a gênese e a difusão de sua fé, e examina o estudo de caso em escala local: a Igreja Assembléia de Deus Jardim 25 de Agosto - ADJ25A, localizada na Cidade de Duque de Caxias, Estado do Rio de Janeiro.

Este estudo comporta em sua metodologia a análise teórica, através da apreciação de pesquisadores importantes na temática, a observação empírica, o exame de dados secundários obtidos através de Censos Demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de arquivos da Igreja Assembléia de Deus Jardim 25 de Agosto - ADJ25A, e a análise de dados primários obtidos através da elaboração e aplicação de um questionário ao grupo em tela. O questionário foi aplicado em reunião regular de Escola Bíblica Dominical na própria igreja objeto desta dissertação.

A presente pesquisa busca contribuir para o esclarecimento acadêmico sobre o pentecostalismo no Brasil e suas práticas religiosas como vivência no quotidiano da fé, através da análise da percepção do grupo religioso escolhido e do reconhecimento de como a dinâmica do ser religioso reflete no lugar e no tempo específico. O mestrando e o seu objeto de estudo estão aglutinados, isto é favorável ao entender as práticas religiosas, mas foi motivo de constante preocupação a separação entre o sujeito-pesquisador acadêmico e o ser religioso em sua crença.

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1 GEOGRAFIA DA RELIGIÃO NO BRASIL: 1994-2012

Lançar luz sobre o desenvolvimento das interações entre geografia e religião é a tarefa deste capítulo. Ao longo da História do Pensamento Geográfico, os geógrafos sofreram influência de diversas correntes de pensamento como o Positivismo, o Marxismo e o Humanismo. O estudo de Geografia da Religião recebeu diferentes enfoques durante o desenvolvimento da Ciência Geográfica. Sob influência do Positivismo, a Geografia considerava o homem mais um elemento da paisagem e estudava as relações entre o homem e a natureza, negligenciando as relações sociais. Questões relativas aos sentimentos humanos e à existência de Deus estavam excluídas da temática desses pesquisadores. Já a Geografia Crítica, sofria influência marxista e preocupava-se com os problemas sócio-econômicos. No entanto, as questões religiosas foram deliberadamente ignoradas, devido ao ateísmo do paradigma do materialismo histórico e dialético adotado pelos marxistas. Em contrapartida, o Movimento Humanista, ao centralizar as experiências humanas, inaugurou um novo leque temático na geografia. O foco posto sobre a dimensão subjetiva e a experiência vivida pelo indivíduo e os grupos sociais permitiu o estudo da interação entre geografia e religião, possibilitando o desenvolvimento da Geografia da Religião como um subcampo de pesquisa (ROSENDAHL, 2002). O geógrafo Gomes (1996, p. 315) conclui que “a contribuição do humanismo moderno foi a renovação da imagem de mundo, recolocando o homem no centro de sua cultura”. Corrêa (1995) acrescenta que a Geografia Humanista se assenta na subjetividade, na intuição, nos sentimentos, na experiência e no simbolismo, buscando a compreensão, ao invés da explicação, do mundo real. A Geografia Humanística procura um entendimento do mundo humano através do estudo das relações das pessoas com a natureza, dos seus sentimentos, ideias e comportamentos geográficos.

A principal função de um geógrafo humanista é esclarecer o significado dos conceitos, dos símbolos e das aspirações, à medida que dizem respeito ao espaço e ao lugar. Esse pesquisador preocupa-se em desvendar como um mero espaço se torna um lugar intensamente humano. Portanto, o humanista

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mostrará como o lugar é um conceito e um sentimento compartilhados tanto quanto uma localização e um meio ambiente físico (TUAN, 1985). Mello (2005, p. 1-2) resume o papel da Geografia Humanística na seguinte assertiva: “uma perspectiva interessada em entender a alma dos lugares a partir das experiências vividas pelos indivíduos e grupos sociais”.

De acordo com Claval (2002), o interesse dos geógrafos pelos problemas culturais nasceu na mesma época da Geografia Humana, final do século XIX. Claval identifica três momentos no desenvolvimento da Geografia Cultural: (a) final do século XIX até a década de 1950 - os geógrafos adotavam uma perspectiva positivista ou naturalista, não estudando a dimensão psicológica ou mental da cultura. O interesse voltava-se para os aspectos materiais da cultura, as técnicas, as paisagens e o gênero de vida. Estudavam a relação entre o homem e o meio ambiente mediada pelas técnicas; (b) de 1960 até 1970: período marcado pela busca por uma sistematização metodológica; (c) pós-1970: ocorreu uma mudança significativa, pois a Geografia Cultural deixou de ser tratada como um subdomínio da Geografia Humana, posicionando-se no mesmo patamar da Geografia Econômica ou da Geografia Política. A partir desse período, o objetivo da abordagem cultural em geografia é entender a experiência dos homens no meio ambiente e social, compreender a significação que estes impõem ao meio ambiente e o sentido dado às suas vidas. O espaço é visto como resultado da ação humana que mudou a realidade natural e criou paisagens humanas e humanizadas (ibidem).

Corrêa (2003) acrescenta que a Nova Geografia Cultural pós-1970 distingui-se por uma específica abordagem, focalizada na análise dos significados que os diversos grupos sociais atribuem, em seu processo de existência, aos objetos e ações em suas espaçotemporalidades.

A Geografia da Religião se desenvolve no Brasil como um subcampo de pesquisa da Geografia Cultural. A geógrafa Frangelli (2010), em sua dissertação de mestrado intitulada Estudando um subcampo intelectual acadêmico: a geografia da religião no Brasil - 1989-2009 analisou o crescimento da geografia da religião no país a partir da Nova Abordagem Cultural em Geografia. Frangelli identificou a tese de doutorado Pequenos Centros Paulistas de Função Religiosa, publicada pela pesquisadora França

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em 1972, como o primeiro trabalho em Geografia da Religião no Brasil, elaborado sob a ótica da Geografia Cultural Tradicional, e destacou os seguintes geógrafos comprometidos no desenvolvimento deste subcampo de estudo no Brasil, Zeny Rosendahl (1993) e Sylvio Fausto Gil Filho (2003). A primeira, juntamente com o geógrafo Roberto Lobato Corrêa, fundou em 1993 o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Espaço e Cultura - NEPEC na Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, e realiza bienalmente simpósios internacionais sobre a temática espaço, cultura e religião, além de publicar a Coleção Geografia Cultural e o periódico Espaço e Cultura.

O Núcleo Paranaense de Pesquisa em Religião – NUPPER foi fundado em 2003 pelo geógrafo Sylvio Fausto Gil Filho na Universidade Federal do Paraná – UFPR e realiza seminários científicos sobre a temática Homus Religiosus e o Sagrado. Frangelli destacou, ainda, o grupo de pesquisa Núcleo de Estudos em Espaço e Representação – NEER, criado em 2004 e o Laboratório de Estudos Geoeducacionais – LEGE, criado em 2006.

Os estudos de Rosendahl (1997, 1999, 2002, 2003a, 2003b, 2005, 2008, 2009, 2012a, 2012b) têm como base de interpretação as ideias de Mircea Eliade, enfocando o sagrado em sua dimensão espacial como manifestação cultural. Entretanto, Gil Filho (2001, 2002, 2009, 2012) aborda a natureza fenomenológica do sagrado como objeto da geografia do sagrado, a partir da interpretação de Rudolf Otto e de Ernst Cassirer.

1.1 Convergências entre Mircea Eliade e Zeny Rosendahl

Na obra O Sagrado e o Profano (2010), o filósofo romeno naturalizado norte-americano, Mircea Eliade, interpreta o sagrado e o profano como duas modalidades do ser no mundo. Eliade apresenta o homem religioso e procura compreender a sua visão de mundo; como esse homem interpreta e vivencia o mundo através de suas crenças e ritos. Essa busca é realizada a partir da análise do homem primitivo e suas práticas religiosas. Segundo o autor, o homem religioso qualifica o espaço como heterogêneo, apresentando roturas e

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vivencia o espaço sagrado como sendo o eixo central de toda a sua orientação.

No espaço sagrado, destaca-se o “ponto fixo”, local da hierofania, e sua área de entorno. Eliade apresenta hierofania como sendo a manifestação do sagrado em pessoas, animais, objetos e coisas. A partir dessa manifestação, o objeto passa a representar algo que o transcende e sacraliza. Em contrapartida, o homem a-religioso descende do religioso e é resultado de um processo de dessacralização da existência humana. Eliade (2010, p. 173) defende que,

De uma perspectiva cristã poder-se-ia dizer igualmente que a não religião equivale a uma nova ‘queda’ do homem: o homem a-religioso teria perdido a capacidade de viver conscientemente a religião e, portanto, de compreendê- la e assumi-la; mas, no mais fundo de seu ser, ele guarda ainda a recordação dela.

A hierofania pode ocorrer de duas maneiras: illo tempore, no momento em que ocorre, e através de um ritual de repetição. Illo tempore expressa a noção de tempo mítico, que é um tempo original, o início onde o mito aconteceu. Através de um ritual de repetição, o tempo mítico é tornado presente. Eliade diferencia tempo sagrado e tempo profano, sendo o primeiro relativo ao período das festas religiosas nas quais o tempo mítico é re- atualizado; ao segundo, corresponde a duração temporal ordinária na qual se inscrevem os atos privados de significado religioso, a vida cotidiana.

A partir dos estudos de Mircea Eliade, a geógrafa Rosendahl (2010) ressalta o sagrado e o profano em três dimensões de análise: (1) a dimensão econômica, (2) a dimensão política e (3) a dimensão do lugar. Na dimensão econômica, a autora enfatiza itens dos Bens Simbólicos, os Mercados e as Redes. Em relação à dimensão política, destaca os itens da Religião, território e territorialidades, Religião civil, sacralidade e sua identidade. Na dimensão do lugar, a proposta da pesquisadora abrange as seguintes temáticas: difusão da fé, comunidade e identidade; hierópolis, a construção de uma teoria;

percepção, vivência e simbolismo e paisagem religiosa e região cultural.

Sobre a dimensão espacial do sagrado, Rosendahl (1999, p. 231) especifica: “a palavra sagrado tem o sentido de separação e definição, em manter separadas as experiências envolvendo uma divindade, de outras

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experiências que não envolvem, consideradas profanas”. Portanto, o espaço sagrado é separado e consagrado. A autora (2012a, p. 27) enfatiza que

“apesar da onipresença de Deus, existem espaços que são mais sagrados do que outros". Tomando por base a definição de Eliade dos componentes do espaço sagrado como sendo o “ponto fixo” e o seu entorno, Rosendahl especifica o espaço profano como a área em torno do centro onde estão o

“ponto fixo” e o seu entorno. A autora classifica em: (a) espaço profano diretamente vinculado ao sagrado, (b) espaço profano indiretamente vinculado ao sagrado e (c) espaço profano remotamente vinculado ao sagrado. Em relação à dinâmica da manifestação do poder do sagrado, podem ser reconhecidas três tipologias de espaço sagrado: (1) o fixo, (2) o não fixo-móvel e (3) o imaginalis. Como exemplos do espaço sagrado fixo a geógrafa citou as cidades-santuário; não-fixo, a Torá e imaginalis, o círculo sagrado de Wiccan.

Nas reflexões de Rosendahl (1997, p. 149) o homem “reconstrói teoricamente o papel do sagrado na recriação do espaço, reconhecendo o sagrado não como simples aspecto da paisagem, mas como elemento de produção do espaço”.

Rosendahl (idem, 1999, 2009, 2012b) assinala, ainda, que a noção de espaço sagrado, vinculado à perspectiva humanística da geografia, ressalta a familiaridade com o lugar e a experiência compartilhada, tornando-se subjetiva por envolver a percepção do grupo religioso envolvido.

1.2 Sylvio Fausto Gil Filho e o espaço sagrado a partir de Otto e Cassirer

Nos estudos de Gil Filho (2012) a percepção do sagrado pode ser interpretada no reconhecer do espaço sagrado em seu caráter de palco privilegiado das práticas religiosas. O geógrafo propõe estudá-lo como uma projeção simbólica da realidade religiosa e conclui que “o espaço sagrado está muito mais próximo de um espaço da percepção do que dos espaços concebidos pelo intelecto. Dessa maneira, o espaço sagrado é produto da consciência religiosa concreta” (GIL FILHO, 2012, p. 63). O autor enfatiza o

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papel da experiência religiosa do indivíduo, relacionando o espaço sagrado mais ao fiel e à sua experiência do que ao espaço geográfico especificamente.

Nas palavras de Pereira e Gil Filho (2012, p. 43-44):

Seria mais propriamente uma conjunção de espacialidades da experiência religiosa do que uma base material. [...] Nesse sentido o espaço sagrado não estaria na(s) coisa(s), mas sim nos sujeitos/indivíduos. Nesse caso o protagonista da trama do Espaço Sagrado seria o homem religioso, o fiel.

O geógrafo estuda o espaço sagrado em uma perspectiva locacional, abrangendo a rede de relações e os significados criados a partir de experiências religiosas. Suas pesquisas têm por fonte as considerações de Rudolf Otto sobre o Sagrado e a Fenomenologia de Ernst Cassirer. Baseado em Cassirer, Gil Filho passa a atentar para o universo simbólico no qual o homem vive e as representações conseqüentes dele (GIL FILHO E GIL, 2001;

GIL FILHO, 2002; PEREIRA e GIL FILHO, 2010, 2012).

1.3 Espaço e Lugar Sagrado: vivência, percepção e simbolismo

Esta seção apresenta o conceito de lugar sagrado apoiado na Geografia Cultural-Humanista desenvolvida no período pós-1970. Em seu artigo O conceito de lugar na Geografia Cultural-Humanista: uma contribuição para a geografia contemporânea, Holzer (2003) explicita que “lugar” é considerado um conceito fundamental na geografia. Neste sentido, Rosendahl (2005) comunga com a proposta de Norton (2000) na qual a reflexão sobre o conceito de lugar na Geografia Cultural inclui os seis seguintes pontos:

i. A criação de lugares é um ato social; os lugares diferem porque as pessoas o fizeram assim;

ii. Os lugares são entidades auto-reprodutoras porque são contextos nos quais as pessoas aprendem e fornecem modelos de papel para socialização, alimentando determinadas séries de crenças e atitudes;

iii. Nenhuma cultura regional existe separadamente das pessoas que a refazem enquanto a vivem;

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iv. Em uma economia capitalista mundial, lugares não são unidades autônomas cujas residentes têm controle independente sobre seus destinos;

v. Lugares não são simplesmente os resultados não-intencionais de processos econômicos, sociais e políticos;

vi. Lugares são potenciais fontes de conflito.

A geógrafa distingue o apontamento de lugar como potencial fonte de conflito como uma das principais preocupações dos geógrafos culturais (ROSENDAHL, 2005). No entanto, interessa a esta pesquisa refletir sobre a criação de lugar como um ato social, especificamente a interpretação de lugar sagrado na concepção de um determinado grupo social religioso. Sobre isso, Mello (1990, p. 92) expõe que “a geografia humanística defende uma maneira diferente de se pesquisar o espaço e o lugar, longe da verdade única de um pensador dominado por teorias que 'explicam' o mundo”. Neste sentido, a

Abordagem humanista se apóia nas filosofias dos significados - tais como a fenomenologia, o existencialismo, o idealismo e a hermenêutica – procurando compreender, por intermédio da experiência vivida pelos indivíduos e grupos sociais, o que é o mundo vivido. Para tanto, o pesquisador deve entranhar-se, sem preconceitos nos significados que os seres atribuem aos espaços e lugares, visando a compreender suas alegrias e carências, para então influir e agir na construção de um espaço mais humanizado (ibidem, p. 92).

Espaço e lugar estão entre os conceitos-chave nas pesquisas geográficas. Mello (1993, p. 32) esclarece:

No âmbito da vertente humanística, espaço e lugar são distintos. O espaço é amplo, desconhecido, temido e rejeitado. O lugar, recortado afetivamente, onde as pessoas se sentem seguras e à vontade, emerge nas experiências cotidianas, nos locais de moradia, trabalho, compras, lazer e encontros. Para o humanismo em geografia, na simbiótica relação entre homens e meio ambiente, lugares devem ser considerados como pessoas e pessoas como lugares. Por conseguinte, para esta escola de pensamento – surgida nos anos 70 e apoiada nas filosofias do significado – cada ser humano é um geógrafo informal, pois é o homem que cria, atua e vive no espaço, estando portanto capacitado para discorrer sobre o seu mundo vivido, pleno de mistérios, entendimentos, significados, devaneios, premências, rejeições, fantasias, satisfações e reminiscências.

“O lugar – vivido, concebido, místico, sagrado, transitório ou eterno – em sua complexa teia de formulações tem sido um traço marcante na obra de Tuan, um dos expoentes da geografia humanística”, apregoa Mello (2001, p.

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94). Sendo ratificado por Holzer (2003, p. 121), segundo o qual, “Tuan, com toda certeza foi dos principais responsáveis pela valorização do “lugar” como conceito central dos estudos geográficos”. Comungando com ambos os geógrafos, Mello e Holzer, a compreensão humanista desenvolvida por Yi-Fu Tuan sobre o conceito de lugar permeará este estudo focado na proposição temática indicada por Rosendahl (2002), Espaço e Lugar Sagrado: vivência, percepção e simbolismo.

O geógrafo Tuan (1983) diferencia os conceitos de espaço e lugar; o primeiro significando liberdade e o segundo, segurança. Para o autor, lugar é uma pausa no movimento, um centro calmo de valores estabelecidos, é um mundo de significado organizado. A conformação de um espaço em sagrado comporta o desenvolvimento de laços de afetividade, configurando-o ao mesmo tempo como lugar, pois, “o processo de criação [de lugar sagrado]

contribui para que lugares e objetos se tornem parte de nossa auto-identidade, assim como o contato repetido, a familiaridade com o lugar e a experiência partilhada” (ROSENDAHL, 2010, p. 205). Esse processo foi definido por Tuan (1980) como Topofilia, ou seja, o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico. Uma das propostas de Rosendahl (2002) para abordagem geográfica no estudo do sagrado e profano relaciona a dimensão do Lugar, através da percepção, da vivência e do simbolismo criado pelos grupos sociais.

Para a autora (1997, p. 121), “espaço sagrado é o lócus de uma hierofania, isto é, uma manifestação do sagrado”, que ocorre somente mediante a fé humana.

Rosendahl (1997, p. 122) acrescenta à sua definição de espaço sagrado a qualidade de “um campo de forças e de valores que eleva o homem religioso acima de si mesmo, que o transporta para um meio distinto daquele no qual transcorre sua existência”. O espaço sagrado é separado do profano e posto em destaque.

Em As formas elementares da vida religiosa, Durkheim diferencia igreja e religião. Para o autor (1989, p. 69, 79), religião é

Um todo formado de partes: um sistema mais ou menos complexo de mitos, dogmas, ritos, cerimônias. (...) Religião é um sistema solidário de crenças seguintes e de práticas referentes a coisas sagradas, ou seja, separadas, proibidas; crenças e práticas que unem na mesma comunidade moral, chamada igreja, todos os que a ela aderem.

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Neste contexto, igreja seria a união de um grupo em torno de uma mesma religião, vivenciando suas crenças e ritos. Em seu estudo sobre as estratégias espaciais da Igreja Católica no Brasil de 1500 a 2005, a geógrafa Rosendahl (2012a) analisa as reflexões de Sack (1986) sobre as duas naturezas que a Igreja Católica possui: (1) a igreja invisível, que inclui o sistema abstrato da fé e dos valores encontrados nas escrituras sagradas; e (2) a igreja visível, que compreende suas instituições sociais, seus membros, funcionários, regras e regulamentos, estruturas físicas e propriedades - os templos, os cemitérios, os pequenos oratórios à beira da estrada - bem como os itinerários percorridos pelos peregrinos.

No entanto, na interpretação assembleiana, a Igreja apresenta duas dimensões: (1) dimensão espiritual (universal) - a igreja universal é o Corpo místico de Cristo, invisível e constituída por todos os conversos; e (2) dimensão social (local) - a Igreja local compreende a reunião dos fiéis em um local específico. Nesta acepção, a Igreja é uma organização de grupos religiosos que comungam as práticas religiosas e rituais de mesma devoção no espaço e tempo das atividades religiosas. Assim, todas as igrejas locais pertencem à Igreja universal (CABRAL, 2007). Os templos e demais propriedades adquiridas pertencem à igreja local; em caso de dissolução da mesma, os seus bens devem ser destinados a igrejas coirmãs que se mantenham na mesma fé e ordem ou outras entidades religiosas cristãs com idêntica finalidade.

As igrejas cristãs consideram os seus templos espaços sagrados por excelência. Pereira (2010) observa que o espaço sagrado não é apenas um receptáculo, mas também a fonte irradiadora da sacralização.

Em seu artigo Sacred Space: Explorations of na Idea, Tuan aponta que o sagrado provoca paradoxalmente terror e fascínio e seus principais atributos são separação e definição, ordem e integridade, poder, ambigüidade e paradoxo, luz e trevas, estrutura e anti-estrutura. Entretanto, sua tese é de que a distinção entre o sagrado e o secular, ou profano, encontra-se difusa na atualidade, pois a Igreja vem perdendo sua aura transcendental. Para Tuan, o temor provocado pelo poder sagrado, que atrai e repele, tem se tornado raro, pois o senso de santidade e de esplendor teria escurecido atualmente. O autor

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argumenta que uma igreja moderna, apesar de suas funções religiosas, é cada vez mais um centro social e de serviços.

A partir das reflexões de Tuan, e dos artigos disponibilizados nos portais eletrônicos Adonai News e O Globo, podemos observar a secularização de alguns lugares sagrados que apesar de manterem sua forma original, suas funções foram profundamente alteradas. Alguns templos de igrejas católicas na Irlanda, Holanda, Inglaterra e Estados Unidos perderam sua função religiosa e funcionam como bares, hotéis, restaurantes, cervejarias e livrarias (PORTAL ELETRÔNICO ADONAI NEWS, 2013; PORTAL ELETRÔNICO O GLOBO, 2013).

Observando a refuncionalização do lugar, e principalmente o lugar religioso com outra função, percebemos que recantos religiosos são refuncionalizados, outros são construídos e relembrados. Na Pensilvânia, um templo da igreja católica romana construído em 1902 foi transformado, em 1996, na cervejaria The Church Brew Works - Figura 1.

Figura 1 - Cervejaria The Church Brew Works Fonte: Portal eletrônico O Globo, 2013.

Em Dublin o templo da igreja Santa Maria - Figura 2 foi construído no começo do século XVIII, e manteve as funções religiosas até 1963. Sob o nome The Church, assumindo as funções profanas de bar e restaurante, o

“templo” atrai cerca de 600 mil pessoas por ano.

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Figura 2 - The Church bar

Fonte: Portal eletrônico O Globo, 2013.

Uma das maiores cadeias de livrarias da Holanda abriu uma loja em um templo de uma igreja de arquitetura gótica do século XVIII, em Maastrich. A Selexyz Dominicanen - Figura 3 é considerada uma das livrarias mais bonitas do mundo, recebe cerca de 700 mil visitantes por ano e tem, à venda, 25 mil livros e 45 mil volumes.

Figura 3 - Selexyz Dominicanen

Fonte: Portal eletrônico O Globo, 2013.

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Este contexto lança-nos as seguintes questões: poderia o lugar sagrado ser totalmente dessacralizado? Ou o resquício de sacralidade presente nos templos citados torna esses lugares mais atraentes para os consumidores de suas novas funções, ainda que elas sejam profanas? Estas questões ultrapassam o objetivo desta dissertação, mas podem configurar uma temática para estudos posteriores.

Estamos ressaltando espaços sagrados do século XVIII fora do Brasil e nosso objeto de estudo, no Brasil, comemora seu primeiro centenário. O tempo é fator importante nos estudos de difusão da fé. A gênese e a difusão da Assembléia de Deus, no Brasil, serão priorizadas no capítulo seguinte.

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2 BREVE INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO E ÀS ASSEMBLÉIAS DE DEUS - AD NO BRASIL

Este tópico visa situar brevemente a origem do Cristianismo, do protestantismo e do pentecostalismo moderno. Em torno dos ensinamentos cristãos foi criada a Igreja Católica Apostólica Romana. Centrado no estudo da Bíblia Sagrada, o monge Martinho Lutero protestou contra algumas práticas da Igreja Católica. Essas reflexões resultaram no movimento denominado Reforma Protestante. Tal movimento originou as igrejas protestantes históricas, no final do século XVI. Três séculos depois, grupos religiosos em busca de renovação espiritual dedicaram-se a apregoar uma mudança nas práticas religiosas pentecostais. Neste cenário de estratégias religiosas, houve a fragmentação da fé protestante. A partir desse pentecostalismo moderno a Igreja Assembléia de Deus foi criada, qualitativamente protestante e pentecostal, e representa o objeto desta reflexão acadêmica.

2.1 Início do Cristianismo e a Reforma Protestante

A origem do Cristianismo remonta aos ensinamentos de Jesus Cristo, há dois mil e treze anos. Após a sua morte, seus apóstolos foram incumbidos da missão de propagar suas doutrinas e gerar neófitos, ou seja, novos convertidos. Tais ensinamentos (a) apregoavam o amor a Deus e ao próximo, (b) previam a morte redentora, (c) a ressurreição e (d) o retorno salvacionista do Cristo. A mensagem cristã teve uma forte difusão. Difusão das ideias no tempo e no espaço. A união de seus apóstolos em torno da missão de propagar o Evangelho de Cristo proporcionou o surgimento do Cristianismo e da Igreja Cristã. Em 337, o imperador romano Constantino foi um agente dessa difusão e a fé dilatou-se em todos os territórios submetidos ao seu Império. Os missionários difusores levaram a fé cristã para as diversas áreas do Império Romano. A partir do século XVI chegou ao continente americano, no contexto

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dos descobrimentos lusos. A queda do Império Romano marcou o fim do poder, mas a permanência da cultura romana, do latim como idioma, e da fé nas reflexões cristãs. Por mais de mil anos, a Igreja Católica manteve a hegemonia sobre o ensinamento cristão. No entanto, Botelho (2007, p. 66-67) registra que

Em 1505, o papa começou a reconstrução da basílica de São Pedro no Vaticano, que estava em ruínas. Para financiar as obras, autorizou todas as igrejas da Europa a vender “indulgências” – documentos que davam absolvição total dos pecados em troca de dinheiro. Isso enfureceu o monge alemão Martinho Lutero, que em 1517 publicou 95 teses denunciando a corrupção da Igreja.

A venda de Bens Simbólicos - as indulgências - expressa a dimensão econômica da religião. As críticas entre seus adeptos, do toma lá dá cá - como bem foi estudado por Max Weber, teve apoio de vários religiosos da época.

Entre eles ressalta-se Martinho Lutero. O religioso uniu-se a outros questionadores contra os dogmas católicos. Na sociedade, momentos de crise são propícios às mudanças e revoluções, conforme afirma o estudioso Max Weber (1991) em sua obra - Economia e Sociedade. O historiador Matos (2013) apresenta o seguinte contexto da sociedade européia às vésperas da Reforma Protestante:

Havia muita violência, baixa expectativa de vida, profundos contrastes socioeconômicos e um crescente sentimento nacionalista. Havia também muita insatisfação, tanto dos governantes como do povo, em relação à Igreja, principalmente ao alto clero e a Roma. Na área espiritual, havia insegurança e ansiedade acerca da salvação em virtude de uma religiosidade baseada em obras, também chamada de religiosidade contábil ou ‘matemática da salvação’ (débitos = pecados; créditos = boas obras).

Martinho Lutero dedicou-se a essa insatisfação. Sua proposta inicial ao expor suas ideias, consistia no debate e reforma da Igreja Católica. No entanto, em 1521, o monge alemão foi excomungado. Isto é, não foi ouvido pela Igreja Católica. A partir de então, as ideias contrárias ao Vaticano foram difundidas.

Vários movimentos surgiram em países da Europa em protesto aos dogmas da Igreja Católica. Este conjunto de ideias e comportamentos culminaram com o movimento Reforma Protestante. Os primeiros grupos religiosos cristãos

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surgidos na Reforma foram classificados como protestantes; entre eles as denominações luteranas, calvinistas e anabatistas.

No Brasil, o primeiro culto protestante data de 1557, sendo realizado pelos pastores Pierre Richier e Guillaume Chartier, enviados pelo reformador João Calvino, a pedido do então Comandante Villegaignon. Todavia, o comandante e os calvinistas divergiram em questões religiosas, e em outras situações propícias do local. Esse conjunto de fatores resultou na expulsão deles do território brasileiro. Em 1827, três séculos depois, foi criada no Rio de Janeiro a Comunidade Protestante Alemã-Francesa, congregando os adeptos luteranos e calvinistas, cujo primeiro pastor foi Ludwig Neumann. A literatura estudada apresenta a data de 1890 como o início da ação do Estado em favorecer a liberdade religiosa no Brasil. Isto possibilitou o crescimento de diversas crenças e a criação de igrejas protestantes. As primeiras denominações protestantes históricas a se difundir no país foram: Igreja Congregacional, Igreja Presbiteriana, Igreja Presbiteriana Independente, Igreja Metodista, Igreja Batista, Igreja Luterana e a Igreja Episcopal (MATOS, 2013).

Não iremos abordar o estudo dessas denominações, pois não é nosso objeto nesta dissertação, mas ressaltar a difusão da fé dos pentecostais. Isto será realizado para o esclarecimento da dimensão espacial dessa religião em nossa escala de estudo.

2.2 Pentecostalismo Moderno

Movimentos de santificação e avivamento espiritual, como a criação do National Holiness Association em 1867, marcam o cenário religioso norte- americano do final do século XIX. A efervescência do campo religioso nesse período reflete o contexto histórico da nação, (a) com a sociedade fortemente marcada pelas ações da Guerra Civil no país; (b) a libertação dos escravos negros; (c) tensões raciais; (d) crise da agricultura no sul do país; (e) mobilidade populacional em direção às cidades do norte em processo de industrialização e (f) chegada de milhões de imigrantes. O contexto sócio-

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político apresentava intenso conflito. Em um cenário de crise surgiu uma mudança, uma ação religiosa renovadora, um novo caminho para a reconstrução político-econômica e a busca de santificação diante do caos, o desejo do cosmo. O pentecostalismo oferecia soluções espirituais para os problemas da vida cotidiana. Era o renascimento do pentecostalismo vivenciado pelos apóstolos de Cristo, em uma versão moderna. Dois personagens principais no movimento pentecostal norte-americano do início do século XX devem ser destacados: Charles Fox Parham, a partir de 1901, e William Joseph Seymour, a partir de 1906. Parham era diretor-fundador do Bethel Bible College, uma escola para estudo da Bíblia e a formação de missionários para a assistência espiritual e material das pessoas pobres. Nesta escola, Seymour aprendeu a doutrina pentecostal e passou a pregá-la em Los Angeles, em um antigo templo abandonado, situado na Rua Azusa, que passou a ser conhecido como a “Jerusalém norte-americana”, chamado assim por atrair muitas pessoas em busca de uma “experiência com o Espírito Santo”

(CAMPOS, 2005). A história narrada por Souza (2011, p. 16-17) relata que:

Embora houvesse notáveis movimentos do Espírito Santo, nos quais falar em línguas, profecia e cura foram experimentados, nenhum desses reavivamentos desembocou para um ‘Movimento Pentecostal’, tal como resultou do derramamento do Espírito Santo que tomou lugar na virada do século no Bethel Bible College.

O Movimento Pentecostal se difundiu pelo mundo e chegou ao Brasil no início do século XX. Ao analisar o pentecostalismo brasileiro, o sociólogo Freston (1994) evidencia três ondas de implantação de igrejas e aponta algumas das marcas que cada igreja carrega da época em que nasce. A primeira onda data de 1910 a 1950, período de fundação das primeiras igrejas pentecostais no país, a Congregação Cristã e a Assembléia de Deus. A marca dessa época foi a expansão do pentecostalismo para todos os continentes.

Segundo Freston (1994, p. 70), “a Congregação Cristã, após grande êxito inicial, permanece mais acanhada, mas a Assembléia de Deus se expande geograficamente nesse período como a Igreja protestante nacional por excelência”.

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A segunda onda corresponde ao período entre as décadas de 1950 e 1960, pós - Segunda Guerra Mundial, quando a América Latina desponta como foco de atenção americano e atrai missões para a difusão da fé católica e protestante. Nesse momento, houve o desmembramento do campo pentecostal e o surgimento de fragmentos religiosos em dezenas de grupos pequenos e três grupos grandes, a saber: Evangelho Quadrangular, Brasil Para Cristo e Deus é Amor.

A última onda percebida pelo sociólogo surge a partir de 1970, no Rio de Janeiro num contexto de forte urbanização, economia de inflação alta, violência de grupos excluídos, o poder da máfia do jogo de azar, a política do Regime autoritário dos militares, o golpe de 1964, e a censura limitando a liberdade. As principais representantes da fé desta fase de implantação são a Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja Internacional da Graça de Deus.

O sociólogo Mariano (2005a) procurou caracterizar as três ondas pentecostais identificadas por Freston (1994), além de designá-las respectivamente como pentecostalismo clássico, deuteropentecostalismo e neopentecostalismo. Para Mariano (2005a, p. 31), o que mais diferencia as duas primeiras ondas são os quarenta anos entre elas, pois “quanto à teologia, entretanto, as duas primeiras ondas pentecostais apresentam diferenças apenas nas ênfases que cada qual confere a um ou outro dom do Espírito Santo. A primeira enfatiza o dom de línguas, a segunda, o de cura”. Ambas estão diretamente relacionadas com os dons do Espírito Santo. A terceira onda se distingue por suas características teológicas e comportamentais. Para classificar as igrejas que surgiram no período correspondente à terceira onda como neopentecostais é necessário analisar não somente o período histórico, como também o perfil teológico e comportamental da igreja. O cenário de caos com a falta de liberdade e de apoio dos órgãos do poder executivo facilitou a busca por um mundo espiritual, pois o mundo material não apresentava as ofertas necessárias nas aflições do dia-a-dia. As características que separam esta onda das duas anteriores podem ser destacadas: exacerbação da guerra espiritual contra o diabo, pregação enfática da teologia da prosperidade- estímulo para suportar a falta de moradia, a fome e outras privações-, a

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liberalização dos estereotipados usos e costumes de santidade e a estrutura empresarial adotada (MARIANO, 2005a).

Durkheim (1989, p. 75) aponta que as crenças “são coisas do grupo e constituem a sua unidade. Os indivíduos que a compõem se sentem ligados uns aos outros pelo simples fato de terem uma fé comum”. O contrário também se confirma. As diferenças interpretativas em relação às crenças e aos ritos praticados torna os grupos religiosos pentecostais muito distantes entre si. Os grupos oriundos da terceira onda, por exemplo, apesar de também caracterizarem-se como protestantes e pentecostais, suas crenças e ritos causam polêmica e rejeição em alguns grupos religiosos oriundos das ondas anteriores. A difusão da fé e seus múltiplos lugares de origem fornecem semelhanças e diferenças espaciais. A geografia do lugar e do grupo social que cria seus espaços está em harmonia. A diversidade é marca da cultura. A heterogeneidade religiosa marca a cultura brasileira. Comungamos com as ideias de Rosendahl (2012a) e ressaltaremos o pentecostalismo brasileiro.

2.3 Marcas e matrizes do pentecostalismo e da AD no Brasil

Ao traçar um panorama sobre a política brasileira no período de implantação do pentecostalismo e da AD no país pode-se perceber o cenário da nação conturbado: carente de (a) ajustes políticos - de respeito ao cidadão, (b) sociais - apelos por mudanças sociais que fazem o cidadão, e (c) religiosos - na busca de dar ao homem o meio dele ser um cidadão. Em 1889, o regime político de gestão do território brasileiro deixou de ser o regime da monarquia para ser o regime de uma República Federativa. Tal mudança, feita por difusão de ideais oriundos de outros países, deu início à República, figurando como primeiro presidente do Brasil o marechal Deodoro da Fonseca, sucedido pelo marechal Floriano Peixoto. O governo civil foi inaugurado por Prudente de Morais, em 1894. O cenário político do período compreendido entre 1898 e 1930 ficou conhecido como “Política do café com leite”, pois o poder no governo era alternado entre representantes das elites mineiras, produtoras de

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leite e paulistanas, produtoras de café, dimensões espaciais fortes na economia do jovem país republicano. Estes presidentes implementaram políticas que beneficiaram o setor agrário do país, favorecendo especialmente as produções de café e leite, em detrimento da industrialização. Com os recursos concentrados na Região Sudeste, as outras regiões do Brasil foram discriminadas e sofreram intensificação em seus problemas sociais, gerando revoltas sociais em diversos lugares do país (ARAÚJO, 2013).

A efervescência do cenário religioso brasileiro não se difere do político, econômico e social. A sociedade busca respostas às suas necessidades, daí o surgimento de tantas denominações religiosas: sua aceitação no seio do povo depende de sua capacidade para responder a essas questões. O desenvolvimento da sociedade implica na adaptação de religiões a ela, criação de novos olhares religiosos mais adequados aos novos e complexos tempos. O pentecostalismo moderno não só estabeleceu igrejas, como também renovou algumas protestantes históricas. Nas igrejas pentecostais, os marginalizados socialmente encontram “receptividade, apoio terapêutico-espiritual e, em alguns casos, solidariedade material” (MARIANO, 2005a, p. 12). A correlação existente entre pobreza e pentecostalismo, entretanto, não explica os motivos da expansão desta religião, nem as razões do crescimento desigual das diferentes igrejas. O crescimento pentecostal não se deve apenas às condições de vulnerabilidade e desespero de contingentes populacionais. Esse sucesso deriva da elevada capacidade do grupo religioso em lidar com situações de precariedade e da resposta que seus recursos simbólicos e comunitários oferecem a seus fiéis. Essas igrejas crescem aceleradamente devido ao trabalho de difusão da fé e à capacidade de articulação em relação aos contextos socioeconômico, político, cultural e religioso do lugar onde estão inseridas (idem 2000, 2005a, 2005b, 2008). O pentecostalismo no Brasil desenvolveu características diferentes daquele praticado nos Estados Unidos.

Aqui, a cultura impõe sua marca apresentando uma grande capacidade de se reorganizar a fim de atender às demandas sociais locais. O estímulo à fé renova a esperança por dias melhores, seja neste mundo ou no “porvir”, pois,

“o fiel que comungou com o seu deus não é apenas homem que vê verdades novas que o incrédulo ignora; é homem que pode mais. Ele sente em si força

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maior para suportar as dificuldades da existência e para vencê-las”

(DURKHEIM, 1989, p. 493). Acreditamos que esse homem religioso durkheimiano de fé assembleiana tenha surgido no norte do Brasil. Este homem religioso tem a missão de impor sua marca religiosa derivada da matriz religiosa que está difundindo (BERQUE, 2012).

2.3.1 Belém do Pará: Foco inicial da Assembléia de Deus no Brasil

Os missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren, membros da Igreja Batista norte-americana, foram enviados dos Estados Unidos para o Brasil em 1910 com o objetivo de transmitir uma percepção pentecostal às igrejas locais, e foram recebidos pela Igreja Batista em Belém do Pará. No entanto, parte dos membros rejeitou a nova concepção sobre o batismo no Espírito Santo. Houve divergência e intolerância religiosa na relação da população de fé batista com os novos missionários. Os adeptos da nova doutrina foram expulsos em assembléia extraordinária, o que desencadeou a criação de um novo grupo religioso formado pelos missionários suecos e por dissidentes batistas que comungavam da mesma fé e das mesmas ideias religiosas. Durante aproximadamente três meses, esse grupo se reunia na casa de um dos integrantes. Posteriormente, buscou-se um espaço mais adequado para a recém-criada Missão Apostólica da Fé, registrada oficialmente, em 1918, como Assembléia de Deus, adotando o mesmo nome utilizado pelas igrejas pentecostais nos Estados Unidos (CABRAL, 2011;

SOUZA, 2011; CPAD, 2012). O lugar adquiria os primeiros valores simbólicos da AD.

Foi no povoado belenense de 1910, junto à população pobre, que a AD iniciou o processo de germinação em terras brasileiras. A Figura 4 situa a Cidade de Belém estabelecida no Estado do Pará, na região Norte do Brasil.

Granado de Paula (2010, p. 143-144) esboça o contexto histórico da Cidade no período da fundação da Assembléia de Deus:

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No início do século XX, Belém do Pará era um grande povoado. [...] Apesar do surto econômico causado pela borracha, poucos foram os que se beneficiaram disso; esses poucos formaram uma elite local poderosa e rica, em contraste com a grande maioria da população da cidade, composta por pobres e com práticas em nível de subsistência.

Destarte, 2011 foi o ano marcado pela Instituição para comemorações relativas ao seu tempo religioso em espaço brasileiro - os 100 anos - o seu primeiro centenário no Brasil. Sobre esses eventos retomaremos mais adiante.

Figura 4 - Localização de Belém do Pará no Brasil Fonte: A autora, 2013.

Nota: Adaptado de IBGE, 2012.

A Igreja Assembléia de Deus - AD apresenta o grupo religioso que se caracteriza como protestante e pentecostal e tem sua doutrina baseada em um livro sagrado, a Bíblia, considerando-a como a Palavra de Deus. Denomina-se protestante por seguir os princípios difundidos pela Reforma Protestante, provocada pelas ideias de Martinho Lutero; e pentecostal por defender a atualidade do batismo com o Espírito Santo, os dons de cura e a glossolalia, enunciados proféticos em línguas desconhecidas. A adesão a esse grupo segue os seguintes parâmetros: reconhecimento público e batismo por imersão do corpo inteiro uma só vez em águas, em nome do “Pai, do Filho e do Espírito

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Santo”, realizando o simbolismo aquático descrito por Eliade (2010) no qual a imersão na água simboliza a morte do indivíduo e o seu renascimento para uma nova vida. Novos membros são oriundos, inclusive, por transferência de outras igrejas evangélicas, dispensando um novo batismo nas águas. O batismo com o Espírito Santo, após a conversão do devoto, é interpretado como um revestimento de poder que o capacita para a missão evangelística.

Considera-se evidência do batismo com o Espírito Santo a glossolalia. Essa concepção motivou a intolerância religiosa, fato determinante da dissidência religiosa que originou a Assembléia de Deus no Brasil, como evidencia Cabral (2011, p. 8):

O batismo com o Espírito Santo da irmã Celina Albuquerque, e também, da irmã Maria de Nazaré, que ocorreu na noite do dia 2 de junho, fez surgir uma discussão na Igreja Batista de Belém, que culminou na expulsão de 13 membros, no dia 13 de junho de 1911. No dia 18 do mesmo mês e ano, domingo, com 18 pessoas presentes mais Vingren e Berg, nasceu, na casa de Celina Albuquerque, a Missão de Fé Apostólica, que, em 11 de janeiro de 1918, foi registrada oficialmente como Sociedade Evangélica Assembléia de Deus.

A fé marca o espaço e o tempo do acontecer. Portanto, a dimensão espacial é fundamental para a difusão da crença.

A presença da AD em Belém evoca o saber geográfico. Ver e sentir o sagrado é tarefa do geógrafo. Alguns conceitos geográficos serão abordados, como território e paisagem. No entanto, o foco será ajustado sobre a prática religiosa da Igreja-mãe Assembléia de Deus na sua apreensão espacial através de suas ações na Cidade de Belém do Pará. A Figura 5 mostra o templo reformado da Igreja-mãe, a primeira igreja Assembléia de Deus fundada no Brasil em 1911, em Belém do Pará, e registrada em 1918. A Assembléia de Deus de Belém é apontada como a Igreja-mãe das Assembléias de Deus no Brasil por sua difusão ter dado origem às demais Assembléias de Deus no país.

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