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Aspectos psicossociais da sexualidade de pessoas portadoras de lesão medular

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ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DA SEXUALIDADE

DE PESSOAS PORTADORAS DE LESÃO

MEDULAR

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MARIA CELINA PEIXOTO LIMA *

RESUMO

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Este artigo constitui um a discussão sobre alguns fatores psi-cossociais (ignorância sexual, autoconceito, estigm a social, defesas psicológicas) responsáveis, em parte, pela form a com o a pessoa

por-tadora de lesão m edular vivenciará sua sexualidade. Ressalta a ne-cessidade da consideração de tais fatores no trabalho de profissio-nais de reabilitação (22 ref.).

Psychological Aspects of Sexuality of Patients with M edulla Lesion

This article presents a discussion about som e psychologi-cal factores (sexual unknowledgem ent, self-concept, social

ste-reotype, psychological defences) partially responsible for the way a person with m edullar lesion experiences his sexuality. It

strengthens the idea that these factor an relevant in the praxis

of people who work with rehabilitation.

INTRODUÇÃO

As conseqüências psicológicas da inabilidade de m anter um a ereção ou de chegar ao orgasm o não costum am ser discutidos na literatura. Da m esm a form a. são raros os estudos sobre a repercussão da condição social de "desviante" na se-xualidade de pessoas portadoras de lesão m edular.

A m aioria das publicações nessa área refere-se a investigações da sexualida-de apenas em sua dim ensão fisiológica (Boller e Frank, 1982; Geiger. 1979; Hi-ggins. 1979). Assim . os diferentes com portam entos sexuais apresentados por pes-soas com esse tipo de deficiência são. m uitas vezes. justificados pelas caracterrstl-cas próprias da lesão. pelo nfvel da m edula atingido ou pela extensão do com -prom etim ento.

O objetivo do presente artigo é fundam entar a im portância da inclusão de certos aspectos psicossociais para um a m elhor com preensão do com portam ento sexual desses indivíduos.

M estre em psicologia clfnica pela PUCCAM P. Professora Assistente no Departam ento

de Psicologia da Universidade de Fortaleza.

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A "FORMAÇÃO

SEXUAL"

: A IMPORTÂNCIA

DAS

EXPERIÊNCIAS PREVIAS

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Ao discutirem os aspectos psicológicos envolvidos na sexualidade de pes-soas ~om lesão na ~.ed~la, Thor~-Gray. e Ke~n (1983) propõem a investigação de atitudes e expenencias sexuais anteriores a aquisição da lesão. Acreditam estes autores que a adaptação sexual, m ais do que da deficiência física em si: irá depender das condições sobre as quais desenvolvia-se a sexualidade do

indi-víduo, entre ela~

?

nível de conhecim ento sexual, o ajustam ento psicológico de form a geral, as dificuldades de relacionam ento e tabus sociais.

Algum as das condições acim a citadas coincidem com o que Kaplan (1977) aponta co~o causas de disfunções sexuais. A ignorância sexual é tida com o um fa,t~r ocaslonado~ ~e p~oblem as na área da sexualidade. A falta de inform ações b~sl~as sobre a fisiologia sexual, além de prejudicar o pleno aproveitam ento da atividade sex~al, leva à ~or~ação de concepções errôneas a este respeito (Kaplan,

1977). Pa~a ISt~, contrfbui a ausência de um a adequada educação nesta área. O.u:ndo ~ao estao ~usentes, os program as de educação sexual restringem -se a des-cnçoes da. anatom ~a d~s apa~elhos genitais, do fenôm eno da reprodução e de m é-todos ~ntlc~ncep~lonals. Deixam , assim , espaço para o desenvolvim ento de inter-pretaçoes distorcidas acerca da variabilidade do com portam ento sexual. Adotam -se m o~elos de perform ance sexual que acabam por transform ar-se em verdadei-ros m itos repressores da espontaneidade e pelos quais são justificados grande par-te dos cham ados "desvios sexuais".

Pa~a a. reabilit~ção sexual de pessoas com lesão m edular, torna-se essencial que se d.lsf~çam tais concepções e que a sexualidade não m ais seja confundida ~o~ genltalldade,. par~ que o com portam ento sexual possa ser explorado sem os lim ites da padronlzaç:o. Com o afir~~ Silver (1975), quando se trata de pacien-tes ~ortadores de .'esao m edular, a vrsao convencionalm ente aceita de que a satis-façao se~ual, ~ulm m a e~.org~sm o terá que ser reform ulada. Sugere ainda Silver que o pr~nclplO da.~ea~llItaçao sexual de paraplégicos e quadriplégicos deva ser a ex~'oraçao das r~glo:s m ervad:s do corpo para com pensar a perda das partes

pa-ralisadas. A am pliação da noçao de sexualidade é apontada tam bém por Cossete

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( a p u d Fonseca, 1985) com o um dos objetivos do aconselham ento sexual.

_ Um out~o fato~ apontado por Kaplan (1977) com o causa im ediata de dis-funçoes sexuais. consiste na dificuldade de m uitos casais em com unicar aberta-m ente seus sentiaberta-m entos e preferências sexuais.

!horn-Gr~y e Kern (1983) identificam a pobreza de com unicação das pre-fe~ênclas sexuais com o um fator que perm eia as relações sexualm ente disfuncio-nars '. Segundo eles, "casais com um a com unicação adequada em outras áreas do relaclonam ~nto ~dem hesitar em a,:icular desejos sexuais devido à crença de que .um a ?Iscussao aberta destes sentim entos destruiria o 'rom ance' ou a 'espon-taneidade do sexo" (p.l40).

A inibição em discutir assuntos sexuais torna-se ainda m ais agravante no caso de pessoas portadores de lesão m edular já que, m uitas vezes, o parceiro

des-14

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conhece as possibilidades e os lim ites que a lesão m edular im põe sobre a ativida-de sexual. O incentivo a um a m aior com unicação das preocupações, preferên-cias e sentim entos ligados a sexualidade deve fazer parte dos objetivos de um program a de aconselham ~nto sexual.

A CONDiÇÃO

DE "DESVIANTE

SOCIAL"

A com preensão da sexualidade de pessoas com deficiências físicas sob um a perspectiva social vem sendo proposta por alguns autores. Hahn (1981) adm ite que algum as das reservas de pessoas deficientes a respeito de relações sexuais po-dem refletir barreiras im postas pela sociedade.

Em um a estrutura social dom inada por m odelos e convenções trslcas, dos quais pessoas com deficiências visíveis raram ente podem se aproxim ar, os porta-dores de lesão m edular são, na m aioria das vezes, com pelidos a assum ir um pa-pel que nega os aspectos sexuais do seu ser.

O estigm a que a sociedade im põe aos deficientes físicos apoia-se na crença da cultura ocidental de que som ente as pessoas jovens e fisicam ente perfeitas têm direito ao sexo (Thorn-Gray e Kern, 1983).

A questão do estigm a é enfatizada por Ribas (1983). para quem qualquer pessoa não enquadrável nas norm as estabelecidas acaba por ser estigm atizada. Na verdade, este estigm a não está na pessoa em si, m a~ na sociedade que dita e iden-tifica as pessoas a serem consideradas "anorm ais". Goffm an (1982) com partilha deste pensam ento quando afirm a que "a sociedade estabelece os m eios de cate-gorizar as pessoas e o total de atributos considerados com o com uns e naturais para os m em bros de cada um a dessas categorias" (p. 11).

O deficiente ffsico traz no corpo um a m arca estigm atizante que o torna diferente e o põe em significante desvantagem com relação aos "norm ais", no que se refere à form ação de relações íntim as, nas quais a atratividade física é considerada de fundam ental im portância. Com o salienta Ribas (1983), a sim ples diferença, num a sociedade que supervaloriza a ordem , assum e a conotação de in-ferioridade, levando o deficiente físico a ser percebido e a perceber-se com o m e-nos capaz.

Hahn (1981) afirm a que os efeitos da estigm atização podem ser tão fortes para alguns hom ens e m ulheres deficientes que chegam a constituir obstáculos, aparentem ente intransponíveis, para am ar ou casar.

Com o ilustração deste fato são apontados resultados de pesquisas que enfocam o estado civil de pessoas com deficiências físicas (Barker e t a i. ; M organ

e t a i. ;Schlesinger. a p u d Hahn, 1981). Um desses estudos, realizado com

vetera-nos portadores de lesão m edular, revelou que m etade da am ostra não esperava casar. Outro trabalho cuja população era constituída de vítim as de poliom ielite, apontou que, em um a am ostra de 437 sujeitos, apenas 27,7% dos hom ens e 41,1 % das m ulheres tinham casado. M esm o em países com o a Colôm bia, onde a instituição do casam ento é fortem ente valorizada, m ais de 85% das m ulheres e 69% dos hom ens fisicam ente deficientes, de acordo com dados de pesquisa, per-. m anecem solteirosper-.

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As pesquisas acim a vêm com provar a influência de barreiras sociais sobre o com portam ento am oroso e sexual de deficientes físicos, não descartando, po-rém , a possível contribuição de características psicológicas individuais sobre os resultados encontrados.

O preconceito social contra a atividade sexual do deficiente físico pode ser confirm ado através da observação de atitudes de pessoos não deficientes. Pesqui· sas têm dem onstrado não só um a correlação entre a visibilidade da deficiência fí-sica e a ruptura de relações conjugais e fam iliares, com o tam bém têm revelado a existência de atitudes de aversão profundam ente enraizadas que afetam a aceita-bilidade pessoal e social de pessoas deficientes. Siller e Nigro

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( a p u d Hahn, 1981) observaram em seus trabalhos sobre a percepção de pessoas não deficientes a res-peito dos indivíduos com deficiências físicas, que estes últim os são vistos com o "objetos assexuados e com o candidatos inaceitáveis para o casam ento" (p.223). Safilios-Rothschild (1970, ao sugerir a rejeição estético-sexual com o principal tipo de aversão dirigida aos deficientes Hsicos, conclui que a possibilidade de ca-sam ento entre não deficientes e deficientes é m uito pequena. Acrescenta ainda que, enquanto os não deficientes tende a ser cooperativos e com preensivos quan-do se trata da vida ocupacional, eles fecham os ouvidos às reivindicações de acei-tação social e elegibilidade para o casam ento dos deficientes.

A atitude aversiva m anifestada pelas pessoas Hsicam ente norm ais diante da possibilidade de um a aproxim ação sexual, acaba por intim idar os deficientes Hsi-cos nesse sentido e suas relações, em m uitos casos, são confinadas a um dornf-nio platônico.

O risco de rejeição é sem pre m aior quando é sugerido algum tipo de rela-ção m ais (ntim a e a recusa é tom ada, na m aioria das vezes, com o um a reação à deficiência em si. Os efeitos cum ulativo de repetidas rejeições podem resultar em sérios prejuízos psicológicos, com o rebaixam ento do autoconceito e um a

desfa-vorável percepção de sua im agem corporal (Hahn, 1981).

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AUTOCONCEITO

E SEXUALIDADE

O nosso autoconceito está diretam ente associado à im agem que outras pes-soas têm a nosso respeito. No caso de indivíduos portadores de lesão m edular, observa-se que os papéis de "norm al" e "doente" decorrem não som ente da lesão real m as tam bém da conotação que essa lesão adquire no am biente, que, por sua . vez, irá influenciar o significado que a própria pessoa atribuirá à sua condição

(Fonseca, 1985).

M agner e Singh (1976) apontam o baixo autoconceito dos deficientes ffsi-cos com o um a das justificativas das dificuldades que estes encontram para apro-xim ar-se de pessoas não deficientes. Na sua opinião, o, rebaixam ento do autoeon-ceito seria decorrente de todas as condições que caracterizam a deficiência trsica, No portador de lesão m edular, a perda do controle da bexiga e do intestino e a inabilidade para andar, causariam vergonha e sentim entos de inferioridade. O

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m ento de dependência e a alteração da im agem corporal são tam bém reconheci-dos por esses autores, com o aspectos que contribuem para que a possoa com le-são m edular veja a si própria com o destituída de valor.

A relação entre autoconceito e sexualidade da pessoa deficiente física tem sido explorada por alguns autores (M agner e Singh, 1975; Sandowski, 1976; Sil-ver, 1975). No Brasil, Aloisi (1986) desenvolveu um a pesquisa tentando verificar a correlação entre o autoconceito de pessoas portadoras de deficiências físicas e o seu com portam ento sexual. Os resultados m ostraram , ao contrário do que era esperado, que os sujeitos tinham um autoconceito m uito positivo e não pareciam enfrentar nenhum grande problem a com relação à sexualidade. Com o um a das hipóteses explicativas destes resultados a autora sugere a influência das expecta-tivas sociais sobre o papel de hom em e de m ulher nas respostas dos sujeitos. Afir· m a Aloisi: "os sujeitos parecem estar respondendo m uito m ais em função de pa-péis de gênero do que da dicotom ia 'deficiência ffsica-não deficiência física'" (p.137).

A questão do papel de gênero e da identidade de gênero é de fundam ental im portância nos estudos que enfocam o com portam ento sexual. A identidade de gênero (o senso pessoal de ser hom em ou m ulher) tem sua origem em atitudes e experiências sexuais precoces. O papel de gênero, segundo M oney e Ehrhardt

( a p u d M asters, Johnson e Kolodny, 1982), "( ... ) é a expressão pública da

iden-tidade de gênero, ou seja, com o o indivíduo viverá sua m asculinidade ou fem ini-lidade em situações sociais" (p. 7).

De acordo com Shiller (1981), após um a lesão na m edula podem acontecer distorções na identidade de gênero e no papel de gênero. O prim eiro destes pro-cessos estaria, na sua opinião, m ais prejudicado em casos de um a deficiência con-gênita ou adquirida precocem ente. Com o a lesão m edular tem um a m aior inci-dência em idade m ais avançada, quando a identidade de gênero já foi form ada,

será o papel de gênero que sofrerá conseqüências inquietantes em decorrência das lim itações fisiológicas im postas pela lesão. A dificuldade em satisfazer as ex-pectativas sociais relativas aos papéis sexuais pode levar, por exem plo, o para-plégico a sentir-se incapaz de atuar sexualm ente "com o um hom em deve agir" e de aceitar por parte de sua parceira um com portam ento m ais ativo. Aloisi (1986) parece confirm ar tal fato ao relatar que seus sujeitos hom ens, m ais do que as m u-lheres, dem onstravam um a m aior preocupação com a satisfação da parceira, ocu-pando, assim , um a posição de elem ento ativo no relacionam ento sexual.

ESTÁGIOS PSICOLOGICOS DIANTE

DA AQUISiÇÃO

DE UMA

DEFICIÊNCIA

FrSICA E A ABORDAGEM

DA SEXUALIDADE

O reconhecim ento dos problem as psicossociais pelos quais são confronta-dos os indivíduos portadores de lesão m edular e a aquisição da consciência da di-m ensão social da sexualidade podem auxiliar o trabalho dos profissionais de rea-bilitação, especialm ente o aconselham ento psicológico.

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Esperar, no entanto, que o sujeito apreenda e saiba lidar satisfatoriam ente com as diversas im plicações de sua deficiência já nos prim eiros períodos da rea-bilitação, é m anter expectativas irreal ísticas. DeLoach (1981) afirm a que a utili-zação de m ecanism os de defesa, tais com o a negação ou a repressão, nos estágios iniciais, auxilia o indivíduo a suportar tem porariam ente o excessivo "stress' de-corrente da aquisição da deficiência.

Abordagem da sexualidade, portanto, pode resultar infrutífera se sugerida precipitadam ente. De acordo com Cum m ings (1979), o paciente que não conse-gue aceitar a deficiência não está pronto para discutir as m odificações de sua se-xualidade, Para o autor, a realidade da deficiência deve ser enfrentada antes de tudo, existindo, depois disso, um m om ento certo para a discussão da sexualida-de, o qual não pode ser m uito cedo pelo risco de torna-se sem sentido e, se m uito tarde, pode acarretar conseqüências catastróficas nessa área do com portam ento.

Vargo (1978), a exem plo do que Elizabeth Kubler-Ross (1981) faz com pacientes term inais, estabelece três estágios pelos quais passam as vítim as de defi-ciências traum áticas. O prim eiro deles é o da negação, quando o indivíduo não está preparado para aceitar a realidade e as im plicações de sua deficiência, utili-zando-se, portanto, da negação com o m ecanism o de defesa. O segundo estágio, o luto, caracteriza-se pela hostilidade e pela depressão. Na fase da hostilidade tor-na-se difícil qualquer trabalho de reabilitação, pois, freqüentem ente, sentim en-tos de revolta são dirigidos aos profissionais. Quando acontece dessa hostilidade dirigir-se para si, o paciente entra em depressão e passa a sentir-se desanim ado, desvalorizado e, em geral, inadequado para lidar com o futuro. Finalm ente, na terceira fase, classificada com o de ajustam ento, existe um a auto-aceitação por parte do sujeito e ele é capaz de lidar com os vários aspectos da deficiência.

Stewart e Rossier (1978) consideram a ansiedade e a depressão, além da crise de identidade, com o fatores com uns à experiência de pessoas deficientes. Salientam , no entanto, que tais fatores são elem entos com uns da condição hum a-na e que a deficiência cria apenas um a diferença quantitativa com relação à in-tensidade dos problem as que o deficiente enfrenta, se com parada com a dos não deficientes. Essas três reações, na sua opinião, estão ligadas às situações de perda e à necessidade de reestruturação do m odo de vida. No caso de pessoas que ad-quiriram um a deficiência física, a ansiedade e a depressão podem decorrer do sentim ento de desam paro diante da perda das funções de partes do corpo e a cri-se de identidade reflete o esforço do indivíduo em integrar, na sua personalidade, novas realidades potencialm ente am eaçadoras.

Tucker (1980) vê a depressão com o um estágio do processo de ajustam en-to psicológico pelo qual passa, norm alm ente, o portador de lesão m edular. Tal reação torna-se essencialm ente crítica neste tipo de deficiência devido às m últi-plas e sim ultâneas perdas - de m obilidade, virilidade, controle de algum as fun-ções biológicas - além da am eaça em term os de posição social, trabalho e rela-ções am orosas,

Diante das colocações acim a, parece justificar-se a precaução quanto ao m om ento adequado para o enfoque da sexualidade na reabilitação de pessoas com lesão m edular, Não se quer dizer com isso que não surjam desde o início

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preocupações referentes ao com portam ento sexual, m as que sentim entos m ais em ergentes com o a ansiedade, a depressão e certos m ecanism os de defesa, im pos-sibilitam um a atuação m ais efetiva nessa área durante os prim eiros estágios de um a deficiência adquirida.

No m om ento em que o indivíduo reconhece a sua deficiência e com eça a explorar as im plicações de sua condição sobre seu m odo de vida, abre-se um es-paço para intervenções m ais efetivas quanto à sexualidade.

É nessa fase que, segundo DeLoach (1981), o paciente com eçará a procu-rar os profissionais ou outros deficientes que possam assistf-lo no desenvolvim en-to de estratégias para a m anipulação das dificuldades a serem enfrentadas.

CONCLUSÃO

Ao final dessa discussão, conclui-se que a form a com o nos percebem os, en-quanto pessoa sexualizada, pode ser resultado, pelo m enos em parte, do quanto correspondem os às expectativas sociais com relação ao papel sexual. O hom em portador de lesão m edular, por exem plo, pode não sentir-se "digno" de um rela-cionam ento sexual, devido à im possibilidade de preencher alguns requisitos so-ciais, com o ter o corpo perfeito ou assum ir o papel m ais ativo no ato sexual.

O fato do deficiente tísico, na m aioria das vezes, não satisfazer as exigên-cias sociais quanto ao desem penho sexual, não significa, porém , que as conse-qüências sejam as m esm as para todos. ~ no arranjo individual, no significado particular que assum e as pressões sociais que se deve configurar o objeto da rea-bilitação psicológica.

Além da im portância de tais considerações para a efetividade do trabalho do psicólogo voltado para a sexualidade de pessoas portadoras de lesão m edular, deve-se estar atento para o m om ento propício à abordagem do problem a. Nos prim eiros estágios de um a deficiência física adquirida, o paciente está priorita-riam ente envolvido com as perdas ffsicas e seus m aiores investim entos deverão estar dirigidos aos serviços de reabilitação física. Podem estar presentes tam -bém , nessa fase, um a série de reações em ocionais e m ecanism os de defesa que di-ficultam um trabalho de discussão sobre as reais possibilidades sexuais do sujeito. Som ente a partir do reconhecim ento da deficiência e de suas im plicações é que o

atendim ento psicológico com eçará a fazer sentido para o paciente.

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