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MAMÍFEROS SILVESTRES RESGATADOS NA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO - RJ

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Novo Enfoque: Caderno de Saúde e Meio Ambiente. Rio de Janeiro, 2016 (21): 20-27, jan./mar.

MAMÍFEROS SILVESTRES RESGATADOS NA ZONA OESTE

DO RIO DE JANEIRO - RJ

Wild mammals rescued in the west zone of Rio de Janeiro - Brazil

Jeferson Ambrósio Gonçalves¹, Vanessa Linhares de Almeida1, Dayane Garcia de Almeida Ribeiro1, Rafael

Fragoso Gomes Sobrinho1, Rafael Rodrigues Milliole1, Jeferson Rocha Pires2, Marcelo de Araújo Soares3

1 Acadêmicos de Ciência Biológicas pela Universidade Castelo Branco. Av. Santa Cruz, 1631, Realengo, CEP 21.710.250, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: jefersonjheambrosio@hotmail.com, vanessabiozoo@gmail.com, dayanegarciaalmeidaribeiro@gmail.com,

rafael.fragoso@hotmail.com, rafaelmilliole@outlook.com.

2 Mestre em Medicina Veterinária (Clínica e Reprodução Animal). Docente de Medicina Veterinária da Universidade Estácio de Sá. Estrada Boca do Mato, 850, Vargem Pequena, CEP 22783-320, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: jefveterinario@yahoo.com.br.

3 Doutor em Ciências. Docente da Escola de Saúde e Meio Ambiente, Universidade Castelo Branco. Av. Santa Cruz, 1631, Realengo, CEP 21.710.250, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: maraujo@castelobranco.br.

Data da submissão: 02/02/2016 Data de aceite do artigo: 29/03/2016

Resumo

A intensa invasão antrópica em áreas florestadas resulta em diversos acidentes entre a população e a fauna. Diante do exposto, este estudo teve como objetivo identificar os registros de internações de mamíferos na Clínica de Recuperação de Animais Silvestres de Vargem Pequena (CRAS-UNESA) no período de Janeiro a Junho de 2015. Foram analisados 340 casos através de fichas e de internações. Essa análise verificou grande ocorrência de resgates de Didelphis aurita, uma das espécies que mais sofreram com as ações antrópicas em relação aos outros indivíduos registrados. Percebemos que o grande avanço da urbanização sobre a Mata Atlântica no estado do Rio de Janeiro vem pressionando os animais a buscarem abrigos, alimentos e passagem pelo perímetro urbano. No presente estudo, observa-se a necessidade de investimento em Unidades de Conservação e a criação de corredores ecológicos planejados e um controle no avanço da urbanização sobre a mata, para que se evite a perda da diversidade faunística da região.

Palavras-chave: antrópica, resgate de mamíferos.

The intense anthropic invasion in forested areas results in several accidents between people and the wildlife. Given the above, this study had the objective of identify the records of mammalian admissions in the Recovery Clinic of Wild Animals of Vargem Pequena (CRAS-UNESA) from January to June 2015. Were analyzed 340 cases through files and admissions. This analysis checked great occurrence of Didelphis aurita rescues, one of the species that suffered most from anthropic actions in relation to the other individuals registered. We realized that the great advance of urbanization in the Atlantic Forest in the state of Rio de Janeiro has been pushing animals to seek shelter, food and passage through urban perimeter. In this study, is possible to observe the need for investment in Conservation Units and the creation of planned ecological corridors and a control in the urbanization’s advance over the forest, in order to avoid the loss of faunal diversity of the region.

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Introdução

Devido ao intenso deslocamento e à invasão antrópica, longas áreas periurbanas estão sendo incorporadas às cidades, levando desequilíbrio ambiental e grandes destruições dos habitats naturais, fazendo com que muitos animais tenham que se deslocar para se adaptar a viver nas áreas urbanas [1].

Aproximadamente 28% dos mamíferos existentes na Mata Atlântica, não ocorrem em nenhum outro local e o risco de extinção é ainda maior, pois eles dependem exclusivamente deste habitat para sobreviver e são extremamente vulneráveis a mudanças em seu ambiente

[2].

A mata Atlântica é considerada um dos 34 hotspots da biodiversidade do mundo, mas, no entanto, possui um elevado grau de degradação, sendo, portanto, um ecossistema prioritário de conservação [3]. É um bioma

caracterizado pela alta diversidade de espécies. Essa diversidade encontrada pode ser, em grande parte, explicada pelas características do relevo acidentado e de particularidades edáficas da região, que promovem a ocorrência de diferentes hábitats, tais como florestas de baixada litorânea, florestas de encosta e ombrófilas densas, campos de altitude, restingas, mangues, rios, riachos, lagoas, lagunas e brejos, além dos ambientes marinhos costeiros [4].

A grande pressão antrópica sobre as áreas ainda florestadas resulta em diversos encontros entre a população e a fauna, com incidentes variados. Esses encontros ocorrem de maneira acidental, seja por cruzar o território com uma via de transporte urbano ou pela expansão imobiliária, seja por iniciativa dos próprios animais numa tentativa de aquisição de bens antrópicos como lixo, comida, ração de animais domésticos, abrigo em sótãos, e outras formas de um processo adaptativo natural [5].

A Clínica de Recuperação de Animais Silvestres de Vargem Pequena – Universidade Estácio de Sá (CRAS-UNESA) realiza estudos detalhando a distribuição geográfica dos acidentes, espécies envolvidas e as influências antrópicas ocorridas às espécies registradas. Estudos dessa natureza são importantes, pois auxiliam aos órgãos públicos e instituições de pesquisa a planejarem estratégias e redefinirem ações no sentido de preservar essa fauna.

Em funcionamento desde setembro de 2005, o CRAS conta hoje com o reconhecimento dos órgãos responsáveis pela gestão e conservação de fauna no Rio de Janeiro, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), administrações de muitos dos parques estaduais e municipais, além do

Corpo de Bombeiros e Patrulha Ambiental, que prestam assistência logística e material para o resgate de fauna, tornando-a um centro de referência no atendimento especializado de animais silvestres do Rio de Janeiro.

Diante desse cenário, o presente trabalho teve como objetivo identificar os registros de internações de mamíferos na Clínica de Recuperação de Animais Silvestres de Vargem Pequena (CRAS-UNESA) no período de Janeiro à Junho de 2015, definir as espécies registradas, analisar as influências antrópicas sobre estas e avaliar o grau de ameaça de extinção estabelecido pela IUCN (International Union for Conservation of Nature), determinando a procedência geográfica desses conflitos.

Métodos

O presente estudo foi realizado no âmbito da Clínica de Recuperação de Animais Silvestres (CRAS-UNESA)(Fig.1).

Foram analisadas fichas de depósito, recebidas pelo órgão depositante no ato de entrega do animal, dos órgãos responsáveis pelo resgate dos animais em questão, como Parque Natural Municipal Chico Mendes, Parque Natural Municipal da Prainha, Parque Natural Municipal de Marapendi, Patrulha Ambiental (P.A.), assim como o Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro. Além destas, foram analisadas as fichas de internações emitidas pela própria CRAS-UNESA, com informações mais específicas como, depositante, nome do funcionário, número de registro e/ou matrícula, telefones para contato, data de captura e de entrega do animal, condições que o animal foi encontrado, nível de estado físico e comportamental e a região geográfica do conflito. Ainda na ficha de internação, dados como diagnóstico veterinário, taxonomia, sexagem, valor corpóreo, destinação inicial, data de chegada e de soltura do animal, relatórios diários, resumidos, onde foram anotadas informações como medicações aplicadas, horários das aplicações, pesagem, alimentação, informações comportamentais, e outras notações, também foram observadas.

No momento da análise dessas fichas foi realizado o trabalho de classificação mais profundo, com divisão por Ordem, Família e Espécie, para, a partir de então, ser definido o grau de ameaça de cada espécie, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais.

Para confeccionar os gráficos apresentados e cálculos utilizamos o programa Microsoft Excel ® 2010. A metodologia abrangeu também pesquisa bibliográfica sobre os táxons registrados e sobre as regiões de procedência geográfica.

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Figura 1. Localização da CRAS no mapa do estado do Rio de Janeiro, na cidade do Rio de Janeiro, em Vargem Pequena, na Universidade Estácio de Sá campus Vargem Pequena.

Fonte: Google maps (2016).

Resultados e discussão

Nesse estudo verificou-se que no primeiro semestre do ano de 2015, foram resgatados e internados na Clínica de Recuperação de Animais Silvestres um total de 340 mamíferos.

Pudemos identificar que algumas espécies são mais comuns que outras, sendo essa característica daqueles que são mais generalistas e conseguem, de uma maneira ou outra, adaptar-se ao ambiente crescentemente antropizado

[7,8].

No período de janeiro, deram entrada na CRAS, 76 espécimes de mamíferos. O número de Didelphis aurita 17 (gambá-de-orelha-preta) mostrou-se mais elevado em relação às outras espécies resgatadas neste mês, com 57 espécimes relatados. Em seguida observamos o Callithrix jacchus ou C. penicillata ou Callithrix sp. (sagui), com sete exemplares, Morcego (falta de dados para a classificação da espécie) com dois, Tamandua tetradactyla com um, Dasypus novemcinctus (tatu galinha) com dois e dois exemplares de Coendou prehensilis (ouriço-caxeiro).

O número elevado de algumas espécies provavelmente dá-se em razão de que estas consistem em espécies generalistas, mais adaptadas à presença antrópica e de grande ocorrência nas florestas e arredores, devido a diversos fatores, tais como maior período de reprodução e de proles, maior facilidade de adaptação e dispersão, entre outros fatores.

Evidenciamos o alto índice de ocorrência de gambás que parecem estar bem adaptados às regiões periurbanas. O predomínio de espécies menores e de espécies generalistas é um indício do alto grau de perturbação e do comprometimento da qualidade [9].

D. aurita representou 79,2% do total de mamíferos internados deste mês, mostrando um número elevado para as outras espécies. Constatando que este pode tratar-se de um período de reprodução, a ocorrência de D. aurita recebidos na CRAS torna-se elevado, sabendo que para cada gestação, podem ocorrer até 20 proles, variando este número para menos, ou pouco provável para mais. Com o grande número de proles, fica claramente definido que a ocorrência maior é de neonatos, filhotes, juvenis ou fêmeas gestantes ou com prole, isto ocorre devido a maior necessidade que gambás-fêmeas têm em caçar alimentos neste período, para a sobrevivência de seus filhotes, consequentemente, ocorre encontros de maneira acidental, seja por cruzar o território com uma via de transporte urbano ou pela expansão imobiliária, seja por uma tentativa de aquisição de bens antrópicos como lixo, comida, ração de animais domésticos, abrigo em sótãos para proteção de suas proles, e outras formas de um processo adaptativo natural [5]. Este número de resgates

varia durante as estações do ano.

O diagnóstico de recebimento mais comum para gambás-de-orelha-preta nessa época do ano de janeiro a junho de 2015 é bem representado por gambás atacados por cães domésticos, e até mesmo por pessoas, atropelamentos e alimentação antrópica, sendo difícil a ocorrência para outros diagnósticos, como parasitismo,

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vírus, e outros microrganismos, englobando doenças naturais. Lembrando que estes diagnósticos irão variar conforme os meses.

Os resultados para gambás-de-orelha-preta comprovam que grande parte dos animais recebidos sofreu influência antrópica direta ou indiretamente, obtendo um número mínimo de animais com diagnóstico diferente a este tipo de atuação.

A quantidade de Callithrix jacchus ou C. penicillata (saguis), denota 9,7% para o total de mamíferos deste mês. Este número de ocorrência pode ser considerado baixo, em relação aos outros meses que serão expostos ao longo do artigo.

A classificação para saguis se encontra mal definida, isto se dá ao hibridismo das espécies C. jacchus e C. penicillata, bem representado que ocorre na região sudeste, onde consequentemente engloba as regiões de Mata Atlântica e Zona Oeste, sendo o foco deste trabalho. Seus híbridos são férteis, o que torna uma problemática para algumas regiões. Lembremos que saguis são espécies alóctones para a região sudeste, e trata-se de um animal considerado exótico invasor [7]. São, animais com alto

poder de invasão, uma vez que preferem matas secundárias e áreas perturbadas ou degradas [7].Segundo

Primack, Rodrigues [5], as populações em crescimento,

principalmente no caso do Callithrix sp. representam um problema ecológico pois estão competindo nesse território diretamente com aquelas ameaçadas. Em casos onde as populações não estão em recuperação, o crescimento é, potencialmente, um desequilíbrio. Sua facilidade em se adaptar e reproduzir é grande. Deste modo, encontros entre saguis e humanos são comuns, sendo estes encontros desfavoráveis à espécie.

Para estes indivíduos não foram relatados conflitos antrópicos. Foi registrado um indivíduo com paralisia posterior, onde engloba diversos fatores responsáveis à esta diagnose, que não será exposto neste trabalho, e para os demais foi relatado um animal apático e um saudável. O Sapajus nigritus (macaco-prego) representou 1,4% do total de mamíferos para este mês. Para todos os efeitos, estamos considerando que os macacos pregos internados sejam todos da espécie S. nigritus, pois são esses os indicativos taxonômicos e geográficos, sendo o Rio de Janeiro área original de sua ocorrência. Deve ser levado em consideração, porém, que diversos Sapajus sp., com procedência variada, ao longo do século passado e até os dias atuais, vem sendo soltos no Rio de Janeiro indiscriminadamente. Desta forma é provável que exista um nível significativo de hibridações atingindo essa população.

Para o restante das espécies os resultados foram de dois morcegos 2,8%, Coendou prehensilis (ouriçocaxeiro) 2,8%, Tamandua tetradactyla 1,4% e Dasypusno vemcinctus 2,8%.

O mês de fevereiro diferenciou-se do mês de janeiro em questão de espécies, tendo ocorrência de Bradypus variegatus (bicho-preguiça), com total de dois indivíduos, representando 2,2% e três Hidrochoerus hidrochaeris (capivara) com 3,2%.

O restante das espécies foi resgatado também no mês de janeiro, porém em densidade maior para a espécie D. aurita no mês de fevereiro, totalizando 77 indivíduos resgatados. Os números de ocorrências para as demais espécies foram dois indivíduos de Coendou prehensilis de 2,2%, dois Tamandua tetradactyla 2,2%, dois Dasypus novemcinctus 1,1% e cinco Callithrix jacchus ou C. penicillata com 5,4%.

O número elevado de D. aurita chama a atenção em relação ao número de ocorrência das outras espécies, representando 83% do total de internações para mamíferos no mês de fevereiro.

A alta incidência de gambás-de-orelha-preta nos meses de janeiro, fevereiro e março nos mostra que isso ocorre devido às taxas pluviométricas nos meses que se antecederam estarem mais elevadas como demonstra Passamani [8] indicando que o período reprodutivo ocorre

ao decorrer dessa época e ao chegar nesse trimestre há um aumento de indivíduos resgatados. O número elevado em relação aos outros meses será exposto posteriormente.

Com um total de 77 indivíduos, os gambás-de-orelha-preta de mais ocorrência neste período foram fortemente representados por neonatos, filhotes e juvenis. Tratando-se naturalmente de faTratando-ses em que o animal Tratando-se encontra em maior vulnerabilidade.

O diagnóstico geral para esta espécie não se diferencia ao mês de janeiro, tendo em nota a questão antrópica como maior influente a estes animais, em segundo lugar observou-se muitos casos de ataques de cães domésticos, e em menor escala se encontra os diagnósticos de doenças naturais.

Para os dois indivíduos de Coendou prehensilis, ocorreram prováveis ações antrópicas, devido ao diagnóstico de ferimento na cauda, simulando provável atropelamento ou agressão, fatos como este e outros que serão discutidos ao longo serão citados como prováveis, por ser inviável a certeza do real conflito ocorrido ao animal.

Foi registrado para um indivíduo da espécie Hidrochoerus hidrochaeris (capivara) atropelamento, neste caso, o animal foi proveniente do bairro Barra da Tijuca, onde transitava entre as vias de trânsito. Para os outros dois animais dessa espécie não foi possível obter informações fidedignas de diagnóstico. Os resultados para Callitrix jacchus ou C. penicillata (saguis) permaneceram regulares em comparação ao mês de janeiro.

A análise de dados para esta espécie apresentou variações no diagnóstico, para um dos casos o animal sofreu queimaduras de possíveis queimadas ocorridas na mata, nos outros quatro casos, os indivíduos sofreram

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trauma, fratura, e lesão na coluna, em ambos os casos ficou irrealizável a certeza do conflito ocorrido, na maior parte dos casos obtém-se suposições. No caso destes diagnósticos conjectura-se que o animal sofreu algum tipo de queda livre. Os relatos para as espécies restante foram de traumas, desidratação, apatia e indivíduos imaturos.

As internações do mês de março mantiveram o número aproximado de espécies resgatadas no mês de janeiro. Totalizando 71 casos registrados, com representação de 21,13% do total de mamíferos do primeiro semestre de 2015. Integrou nove espécies. Com exceção de D. aurita, o restante das espécies obteve número de ocorrência aproximado entre elas.

Os dados relatados para março foram de um caso de Bradypus variegatus (bicho-preguiça), um Alouatta caraya (bugio), um Cerdocyon thous (cachorro-do-mato), três Hidrochoerus hidrochaeris (capivara), três Sciurus aestuans (caxinguelê), 51 Didelphis aurita (gambá-de-orelha-preta), três Coendou prehensilis (ouriço-caxeiro), um Cuniculus paca (paca), sete Callithrix jacchus ou C. penicillata (sagui) e um Tamandua tetradactyla.

Dentre as ocorrências registradas, foram levantados diagnósticos distintos, e em sua maioria, permaneceu a espécie D. aurita como principal animal resgatado em questão de número de indivíduos, dando continuidade aos dados coletados e expostos nos meses anteriores, porém, com uma leve diminuição, demonstrando que seu período de reprodução encontrou-se ativo, mas em menor escala.

O Alouatta caraya (bugio), aparece apenas neste mês, sendo ausente para os demais meses. Proveniente de Ilha Grande – Rio de Janeiro, este indivíduo apresentou quadro de debilitação e apatia, não envolvendo visível atuação do homem.

O levantamento das outras espécies apresentou diagnósticos distintos e variados. Os dados atípicos de D. aurita expõe a permanência de diagnósticos para esta espécie nos meses anteriores, ressaltando que para este mês o número diminuiu gradativamente, representando 70,8% dos casos de mamíferos deste mês, com prevalência em neonatos, filhotes e juvenis.

O diagnóstico para C. thous (cachorro-do-mato) foi suspeitado em cinomose, porém não houve possibilidade de concluir o protocolo, devido ao animal ter chego já morto. Para as demais espécies os dados variaram em lesões e fraturas, que podem ser provenientes de diversos conflitos, entre eles, queda livre, embate entre grupos da mesma espécie ou não, e outros, e ainda desidratações, apatias, debilitação e paralisia de membros, que podem englobar fatores e doenças naturais, e por último, e em sua maioria gambás-de-orelha-preta, espécimes imaturos.

A grande ocorrência de gambás-de-orelha preta neste período do ano define que esta denomina umas das estações de reprodução, onde podem reproduzir-se até três vezes ao ano devido serem poliéstricas, ou seja, durante um período do ano entram no cio várias vezes. A alta

incidência de gambás nos meses de janeiro, fevereiro e março nos mostra que isso ocorre devido às taxas pluviométricas nos meses que se antecederam estarem mais elevadas como demonstra Passamani [8] indicando

que o período reprodutivo ocorre ao decorrer dessa época e ao chegar nesse trimestre há um aumento de indivíduos resgatados.

Nos resultados de abril foram apurados 48 indivíduos, distribuídos em 7 ordens e 8 famílias. Os casos relatados para este mês mostraram uma diminuição no número de espécimes resgatados em relação aos meses anteriores, totalizando 14,29% dos mamíferos do primeiro semestre de 2015.

O levantamento feito registrou três indivíduos Bradypus

variegatus (bicho-preguiça), 1 Cerdocyon thous

(cachorro-do-mato), 24 Didelphis aurita (gambá- de-orelha-preta), dois Sapajus nigritus (macaco prego), dois Myotis nigricans (morcego), um Coendou prehensilis (ouriço-caxeiro), 14 Callithrix jacchus ou C. penicillata (sagui) e um Tamandua tetradactyla (tamanduá-mirim).

O levantamento de casos para D. aurita sofreu uma diminuição brusca de indivíduos resgatados, devido provável diminuição de atividade para dada estação do ano, se comparado aos números de espécimes registrados para os meses precedentes e confirmação na literatura.

Para Callitrix jacchus ou C. penicillata ou Callitrix sp. (híbrido) – sagui- as ocorrências sofreram minúcia diferença de número de espécie, sabendo que este número pode de fato variar conforme os meses, não sendo fator influenciador.

Foi relatado para um Callitrix sp. caso de eletrocussão, o indivíduo obteve contato com fiações elétricas de consumo urbano. Foi constatado nesse caso que o fator crucial do conflito para este Callitrix sp. denota da atuação do homem.

Nos dados de Bradypus variegatus foi relatado uma ocorrência de queimadura, que pode ter sido provinda de queimada nas matas, sabendo que outras conclusões divergentes a esta para esse diagnóstico são pouco prováveis. Para este conflito foi categorizado influência antrópica ocorrida.

Os diagnósticos para as demais espécies mostram variância entre si, e os reais originadores dos conflitos podem ter sido diversos fatores, sendo eles naturais ou antrópicos, relatos como ferimento, trauma e fratura nos deixam a incógnita que o ocorrido pode ter sido de uma forma natural entre as espécies ou espécies diferentes, possível queda livre, atuação do homem, entre outros fatores. Para os diagnósticos ocorridos neste mesmo mês como desidratação, debilitação, e imaturidade, conclui-se provável ocorrência natural das espécies.

Em maio, os valores quantitativos decaem consideravelmente, incluindo espécies de maior abundância, como D. aurita.

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Os resultados para este mês foram atípicos não somente em fator quantitativo, como qualitativo. Foi recebido Mustela putorius (furão), Sciurus aestuans (esquilo-caxinguelê) e Procyon cancrivorus (mão pelada), ambos os animais de pouca ocorrência na CRAS, em relação às demais espécies.

Foi levantado um espécime de Tamandua tetradactyla (tamanduá-mirim), nove Callitrix jacchus ou C. penicillata ou Callitrix sp. (sagui), cinco Didelphis aurita (gambá-de-orelha-preta), um Sapajus nigritus (macaco-prego), dois Coendou prehensilis (ouriço-caxeiro), dois Hidrochoerus hidrochoeris (capivara), um Mustela

putorius (furão), um Sciurus aestuans

(esquilo-caxinguelê) e um Procyon cancrivorus (mão-pelada). Para os gambás-de-orelha-preta esse fato nos mostra o quão influente é o período de reprodução dessa espécie, onde 67,86% dos espécimes recebidos de janeiro a junho foram gambás. Notemos que com a queda brusca de animais desta espécie resgatados, os valores para este mês diminuíram consideravelmente. A fase dos animais recebidos de mais abundância para este mês foi claramente concluída em gambás adultos e juvenis, com menor número de espécimes na fase filhote, e nenhum espécime neonato. Para um caso de D. aurita adulto foi diagnosticado fraturas e trauma, provindas de atropelamento em vias urbanas ocorrido claramente devido à invasão antrópica nos habitats naturais destes animais. Em diagnóstico de Callitrix sp. foi levantado novamente caso de eletrocussão para um indivíduo adulto, o animal não mostrou condições de sobrevivência e teve que ser eutanasiado.

Nos resultados de Hidrochoerus hidrochoeris houve ferimento para ambos os espécimes, fato como este pode ocorrer de agressões vinda do homem ou conflito entre as próprias espécies. Entretanto, agressões vindas do homem, nesta situação é o episódio que mais intercorre normalmente.

Nos demais casos os indivíduos das outras espécies sofreram trauma, fratura, paralisia posterior, luxação de membros, ferimento provindo de provável briga entre bando, desidratação e espécime imatura. Destes diagnósticos podemos afirmar que são ocorrências naturais das espécies.

Os resultados de junho mostraram um paralelismo com o mês de maio, no que diz a dados quantitativos, com a diferença de apenas um espécime. Entretanto, os dados para este mês tiveram a ocorrência do Saimiri sciureus (mico-de-cheiro), uma espécie rara na CRAS, é avaliado como "pouco preocupante" pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais em uma perspectiva de conservação, contudo, esta espécie também é capturada extensivamente para o comércio como animal de estimação, entre outros fatores nocivos.

Sendo um tanto incomum, com ocorrência de somente dois casos durante os seis meses de coleta para o presente

estudo, o Procyon cancrivorus (mão pelada) tornou o resultado deste mês ainda mais atípico, representando um dos casos para o resultado do primeiro semestre. Além do Sylvilagus brasiliensis (coelho tapiti) e Cavia aperea (preá) que foram registrados apenas neste momento.

Foram relatados 26 indivíduos, sendo eles: um Bradypus variegatus (bicho-preguiça), um Sylvilagus brasiliensis (coelho tapiti), doze Didelphis aurita (gamba-de-orelha-preta), dois Sapajus nigritus (macaco prego) um Procyon cancrivorus (mão pelada), um Sphiggurus villosus (ouriço-cacheiro), um Cavia aperea (preá), seis Callitrix jacchus ou C. penicillata ou Callitrix sp. (sagui), e um Saimiri sciureus (mico de cheiro).

Para um indivíduo de S. nigritus houve eletrocussão, ocasionada por fiações elétricas de consumo urbano, com mais essa ocorrência dentro desse perfil, podemos concluir o quão influente é o fator antrópico em relação a grande extensão de zonas urbanas, invadindo áreas de habitats naturais destes animais.

Os diagnósticos de D. aurita foram distintos, e dentro deles pudemos observar dois indivíduos que sofreram com a atuação direta do homem. Para um espécime foi diagnosticado ferimento na cabeça, caracterizando prováveis agressões do homem contra o animal. Para o outro, deslocamento de mandíbula, concluindo também provável agressão de mesmo perfil. Para o restante de gambás-de-orelha-preta, foram levantados dados de ferimentos, fratura e debilitação, ambos os protocolos podem ser tanto de fatos ocasionados naturalmente, como queda de árvore, considerando que se trata de um animal parcialmente arborícola, conflitos entre si, entre outros influentes naturais, assim como atuação do homem.

Os restantes dos diagnósticos foram decorrentes de fatores naturais ocorridos às espécies, como desidratação e debilitação.

Com a análise dos resultados de cada mês chegamos ao percentual do total de mamíferos resgatados e recebidos na CRAS, durante todo o primeiro semestre de 2015 (Figura 2). Foram registradas 19 espécies, distribuídas em oito ordens e 16 famílias. Podemos ainda observar que tivemos uma abundância de resgates de gambás totalizando aproximadamente 68% de espécimes resgatados, seguido dos saguis que representaram 14,29% do total, nota-se que entre eles já existe uma grande diferença em quantidades de espécimes resgatados, em seguida temos o ouriço com apenas 3,27% e as demais espécies não representaram mais que 2,5% durante todo o semestre.

A partir da lista gerada de ocorrência das espécies foi possível uma comparação com a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (UICN), para completar a categorização das espécies em questão, segundo o grau de ameaça em que se encontram, definindo os níveis de ameaça sofridos por cada espécie para facilitar a

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hierarquização e organização de medidas a serem tomadas no sentido de assegurar sua preservação ou seu manejo.

De acordo com a IUCN [10], com exceção de Sapajus

nigritus que se encontra em estado de Quase Ameaçado (NT), todas as espécies se encontram em estado Pouco Preocupante (LT), com isso, a problemática torna-se amenizada nos dias atuais, entretanto, tal fato não pode

apagar a importância de estudos dessa natureza a fim de auxiliar órgãos públicos e instituições de pesquisa a planejarem estratégias e redefinirem ações no sentido de preservar essa fauna, além de elaborar ações educativas para esclarecimento da população de áreas urbanas sobre o contato com esses animais.

Figura 2. Total de animais resgatados no primeiro semestre do ano de 2015.

Conclusões

Neste estudo observamos que os gambás-de-orelha-preta (D. aurita) são os que possuem maior abundância e é uma das espécies que mais sofreram com as ações antrópicas em relação aos outros indivíduos registrados.

Percebemos também que o período em que houve maior registro de gambás coincide com o seu ciclo reprodutivo, de janeiro a março quando as fêmeas procuram mais por alimentos para poder repor energias e alimentar sua prole e acabam entrando em perímetros urbanos, onde sofrem atropelamentos, choques em redes elétricas, violência por parte do ser humano entre outras ações. A violência pode estar relacionada a pouca informação da população sobre gambás, que acham que eles são criaturas agressivas e que inalam mau cheiro quando aproximam se dele.

Além dos gambás, identificamos que outras espécies registradas sofrem com as ações antrópicas do homem tais como o sagui, o ouriço-cacheiro, o macaco-prego, entre outras.

Do que diz respeito à situação de S. nigritus, a atuação do homem para com os 21 espécimes registrados foi de maioria presente e influente, concluindo assim, que a ação antrópica pode ser considerada a maior influente para esse caso, devendo se tomar iniciativas de melhorias.

Concluímos que o grande avanço da urbanização sobre a Mata Atlântica no estado do Rio de Janeiro vem pressionando cada vez mais os animais a buscarem abrigos alimentos e passagem pelo perímetro urbano. Considera-se a necessidade do investimento em Unidades de Conservação e a criação de corredores ecológicos planejados e um controle no avanço da cidade sobre a mata, para que se evite a perda da diversidade faunística da região. BICHO PREGUIÇA 2,08% BUGIO 0,30% CACHORRO DO MATO 0,60% CAPIVARA 2,38% CAXINGUELÊ 1,19% COELHO TAPETI 0,30% FURÃO 0,60% GAMBÁ-DE-ORELHA-PRETA 67,86% MACACO PREGO 1,79% MÃO PELADA 0,60% MORCEGO 1,19% OURIÇO 3,27% PACA 0,30% PREÁ 0,30% SAGUI 14,29% SAIMIRI 0,30% TAMANDUÁ 1,79% TATU GALINHA 0,89%

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Referências

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2. Romano SM. Ameaças e conservação. In Robert Favv, Rancura KGO. A Mata Atlântica como instrumento de ensino. Fundação Parque Zoológico, São Paulo. 1ª Ed. 82p. 2010.

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Disponível em <http://www.iucnredlist.org/>. Acessado em 01 Set 2015.

Como citar este artigo:

Gonçalves JA, Almeida VL, Ribeiro DGA, Sobrinho RFG, Millione RR, Pires JR, et al. Mamíferos silvestres resgatados na zona oeste do rio de Janeiro - RJ. Novo Enfoque: Cad. Saúde e Meio Amb. 2016; 21:8-13.

Referências

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