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MÓDULO DE SOBREVIVÊNCIA: exercício-tema de projeto para a aplicação da dimensão ecológica ao ensino de arquitetura

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MÓDULO DE SOBREVIVÊNCIA: exercício-tema de projeto para a

aplicação da dimensão ecológica ao ensino de arquitetura

(1) Liza Maria Souza de Andrade; (2) Maria Elaine Kohlsdorf; (1) Juliana Saiter Garrocho; (1) Nelton Kéti

(1) Professores (2) e coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário UNIEURO – emails: lizaandrade@uol.com.br; mek@kohl.trix.net;

jugarrocho@ibest.com.br, nelton.arquiteto@gmail.com. RESUMO

As decisões tomadas em concepção e desenvolvimento dos projetos de arquitetura têm efeito imediato sobre a sociedade e diretamente o nível de impacto e qualidade dos edifícios. Por isto, ensino, pesquisa e ações de planejamento e projeto precisam oferecer respostas espaciais adequadas às expectativas socioambientais. Os procedimentos de projeto necessitam incluir a dimensão ecológica baseados na relação entre homem e natureza que considerem a espécie humana como parte dos ecossistemas. O exercício Módulo de Sobrevivência da disciplina de PROJETO I do UNIEURO tem como objetivo desenvolver a prática da projetação do espaço arquitetônico baseada em princípios de sustentabilidade sob dois aspectos: (1) conceito de entradas e saídas de recursos naturais no edifício (materiais, água, alimento, energia e resíduos); (2) miniaturização da arquitetura explorada pela reutilização e adaptabilidade, multiplicidade de funções, proporção, dinamismo e jogo de formas, estruturas móveis e a busca da estrutura auto-portante. A prática em sala de aula passa pela metodologia de análise e avaliação de situações existentes, programação, desenvolvimento de propostas alternativas e avaliação destas em relação ao programa estabelecido. Até o momento, os resultados obtidos vão desde projetos de abrigos com tecnologias sustentáveis a módulos móveis com a utilização de materiais industriais de rápida montagem.

Palavras-chave: módulo de sobrevivência, conceitos de entradas e saídas, dimensão ecológica. ABSTRACT

The decisions made in the process of conception and development of the architectonical projects have an immediate effect over the society and affect directly the level of impact and quality of the buildings. Therefore, the teaching, the research and the acts of planning and projecting need to offer adequate spatial answers to the socio-environmental expectations. The project procedures must include the environmental dimension based on a relationship between men and nature which considers the human species as a part of the ecosystem. The exercise Survival Modulus from the subject PROJECT 1 from UNIEURO aims to develop the practice of designing the architectonical environment based on the principles of sustainability, approaching two aspects: (1) concept of income and outgoes of natural resources in the building (materials, water, food, energy and waste); (2) minimizing of the architecture, explored by the re-use and adaptability, multiplicity of functions, proportion, dynamism and shaping, mobile structures and the search of a self supporting structures. The classroom practice explores the methodology of analysis and evaluation of the existing situation, programming, development of alternative proposals and their assessment. The results obtained go from the project of sheltering with self sustainable technologies to mobile modulus with the use of fast assembling industrial materials. Keywords: survival modulus, concept of income and outgoes, environmental dimension

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1.INTRODUÇÃO

A abordagem de espaços socialmente utilizados pela Arquitetura deve justificar-se pela realidade de populações presentes e futuras, mas as decisões tomadas nos processos de concepção e desenvolvimento dos projetos não apenas têm efeito imediato sobre a sociedade, mas também afetam diretamente o nível de impacto no meio natural e a qualidade ambiental dos edifícios.

Assim decide-se, em um primeiro momento: o partido arquitetônico, o que inclui a implantação no meio físico com a otimização da radiação solar, da iluminação e da ventilação natural, e o zoneamento das funções de acordo com as necessidades e equipamentos. Em seguida, é definido o sistema construtivo e os materiais e componentes a serem utilizados na execução do edifício, o que incide no consumo de matérias primas, recursos naturais, energia e durabilidade do edifício como um todo. Finalmente, existe a manutenção do edifício e prováveis reformas futuras. Segundo Blumenschein (2004) a edificação causa impacto no meio ambiente e condiciona a ambiência tanto pelo processo como pelo produto. O impacto no meio ambiente, ocorre ao longo de toda sua cadeia produtiva: ocupação de terras, extração de matéria prima (minerais, madeira, rochas etc.), processamento de matéria prima na produção de elementos e componentes, transporte de matéria prima e correlatos, concepção de áreas urbanas e edifícios, o processo construtivo em si, geração e disposição de resíduos, utilização dos edifícios e demolição de prédios.

Neste sentido pode-se dizer que, desde o processo da ação projetual, análise e execução da obra até o produto final, a construção de edifícios e lugares se converte na atividade menos sustentável do planeta, pois ela absorve 50% de todos os recursos naturais da Terra. Segundo Brian (2004) os edifícios são consumidores de matérias primas, a saber:

Logo, o grande desafio está em mudar o conceito de projeto de arquitetura convencional para um modelo mais adequado a diferentes usos no futuro, para que haja o mínimo de demolições e desperdícios. Ao mesmo tempo, buscar soluções técnicas que potencializem o uso racional de energia ou opção por energias renováveis, gestão ecológica da água e redução de materiais com níveis altos de impactos sobre o meio natural considerando o seu ciclo de vida. Por fim, reduzir os resíduos com especificações modulares pré-fabricadas que permitam a reutilização de materiais tanto no futuro, em novas construções, ou como material a ser reciclado, quando oriundos da demolição do edifício.

Segundo Andrade e Romero (2006)1, para tanto, é necessário estabelecer critérios ecológicos

como base para a criação de ambientes de construção saudável, durável e sustentável. O conceito de construção sustentável pode ter vários enfoques e prioridades em diferentes países. A ênfase comum tem sido os impactos causados na biodiversidade, no ar e clima (pelas emissões de gases e poluentes) e no uso de recursos naturais e energéticos.

1 Grupo de pesquisa A sustentabilidade em arquitetura e urbanismo da FAU/UnB e Laboratório de

Sustentabilidade aplicada à arquitetura e ao urbanismo LaSUS/FAU/UnB . http//www.unb.br/fau/pesquisa/sustentabilidade.

Materiais – 50% de todos os recursos naturais do planeta se destinam à construção;

Energia – 45 % da energia gerada é utilizada para aquecer, iluminar e ventilar os edifícios e 5 % para construí –los;

Água – 40% da água utilizada no mundo se destina a abastecer as instalações sanitárias e outros usos nos edifícios;

Terra – 60% da melhor terra cultivável (ideal para agricultura) se utiliza para a construção de lugares;

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As nações desenvolvidas têm condições de criação de um patrimônio imobiliário mais sustentável, por renovação novos empreendimentos ou invenção e uso de novas tecnologias - mas países como o Brasil devem considerar suas características socioeconômicos, principalmente problemas de pobreza e desigualdade social. Recentemente, aspectos culturais e implicações de bens patrimoniais do ambiente construído passaram a ser vistos como preeminentes na construção sustentável.

De acordo com a Agenda 21 para a construção sustentável (CIB – International Council for Research in Building and Construction/Escola Politécnica da USP, 2000), a construção sustentável é uma forma da indústria da construção responder à obtenção do desenvolvimento sustentável nos vários aspectos: cultural, socioeconômico e ambiental. São principais desafios: (1) Gerenciamento e organização – ou seja, aspectos técnicos, sociais, legais, econômicos e políticos e suas inter-relações e o significativo número de agentes envolvidos no processo de atividades; (2) Os aspectos do edifício e do produto – diz respeito a como otimizar características dos edifícios e dos produtos de forma a melhorar o desempenho ambiental da construção (3) Impactos da construção no desenvolvimento urbano sustentável – é enorme desafio para a indústria da construção medidas de redução.

A qualidade ambiental das edificações está associada ao conforto dos seres humanos, ao desenvolvimento sustentável dos recursos naturais e o controle dos resíduos. Aplicado à arquitetura, este conceito supõe a incorporação de novas exigências em todo o processo construtivo, alterando a atuação dos profissionais e usuários. Por isso, objetiva satisfazer três exigências: criar ambiente interior saudável e confortável para os usuários; controlar o impacto sobre o ambiente exterior do edifício; preservar os recursos naturais mediante a otimização do uso (Andrade e Romero, 2006).

Neste sentido, arquitetos têm um papel importante a desempenhar na concepção de lugares e o ensino, a pesquisa e as ações de planejamento e projeto precisam oferecer respostas adequadas e focadas em características espaciais pertinentes a expectativas socioambientais. Os procedimentos de projeto necessitam incluir a dimensão ecológica baseados em valores da relação entre o homem e a natureza que considerem a espécie humana como parte dos ecossistemas naturais.

1.1 Conceito de entradas e saídas de recursos naturais no edifício (materiais, água,

alimento, energia e resíduos).

O projeto do ambiente construído saudável e baseado na eficiência de recursos e princípios ecológicos deve considerar a espécie humana como parte dos ecossistemas naturais. A construção de lugares interrompe o ciclo contínuo dos fluxos de matéria e energia dos ecossistemas que alimentam os organismos vivos. Comparando-se o funcionamento do ambiente construído ao ecossistema natural, há diferenças concentradas no “metabolismo” da edificação, na entrada e saída de recursos naturais: não ocorre metabolismo circular onde resíduos transformam-se em recursos, e não existe auto-suficiência do habitat humano. Neste sentido, os princípios da permacultura são utilizados como exemplos de aplicação ao projeto de construção de ambientes sustentáveis em termos de abastecimeto de água, tratamento de resíduos e dejetos, produção de alimentos no local, auto-construção e eficiência energética. A necessidade de entender a minimização de impactos da edificação é também exemplificada com construções em áreas de difícil acesso e de interesse ambiental nas Estações Ecológicas do IBAMA. Segundo Alvarez (2004), o projeto ultrapassa os valores estéticos e funcionais pretendidos para qualquer projeto arquitetônico, para incorporar valores ambientais em todas as decisões assumidas ao longo do processo. Assim, considera-se a dificuldade de acesso e a busca da minimização do impacto de construção com a adoção de soluções pré-fabricadas como mais adequada. Além de buscar a adoção do material que melhor se adapte aos condicionantes (térmicos, ambientais, da mão de obra disponível, da cultura natural do lugar e da necessidade de manutenção), eles devem também ser adequados sob o ponto de vista da eficiência construtiva.

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1.2 Miniaturização da arquitetura

Pode-se dizer que atualmente vive-se um processo de “desmaterialização dos produtos”. Tecnologias como as de transmissão de dados sem fios (Wireless) estão cada vez mais acessíveis, com maior qualidade e velocidade. Os equipamentos desenvolvidos são cada vez menores e eficientes: computadores, celulares e outros equipamentos eletro-eletrônicos são tão pequenos que o limite desta miniaturização está relacionado às questões ergonômicas, e não somente a dificuldades para sua execução.

Temas emergentes do século XXI como a reutilização e adaptabilidade podem ser mais bem exploradas em pequenas edificações. Assim, a miniaturização da arquitetura é representada em construções com materiais industriais de rápida montagem, estrutura auto-portante, estruturas móveis e multiplicidade de funções. Na visão de Richardson e Dietrich (2002) obras pequenas de arquitetura exercem um fascínio no observador que vai além de sua função; arquitetos se utilizam do pequeno formato para experimentar com o espaço: explorar detalhes de construção, materiais, proporção, dinamismo e jogo de formas; há forte atração pela complexidade na concepção das formas e dos detalhes e uma qualidade tátil maior que a dos edifícios maiores. Além disso, observa-se uma interação imediata entre a escala humana e a natureza, pois edifícios menores são mais fáceis de serem observados compondo paisagens urbanas ou rurais.

2. OBJETIVOS

Desenvolver no processo pedagógico da disciplina de PROJETO 1 do CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIEURO a aplicação do conceito de entradas e saídas e miniaturização da arquitetura refletido na morfologia do ambiente construído como parte das expectativas socioambientais da dimensão ecológica.

3. METODOLOGIA

3.1 Os procedimentos de PROJETO

Segundo Holanda e Kohlsdorf (1996), as dificuldades em discussões no ensino e prática

do projeto de lugares, assim como na participação popular no processo de planejamento,

decorrem geralmente de problemas de formalização de um conceito de arquitetura e de

um conceito de projeto. O PROJETO deve ser entendido como proposta, desenvolvida

em processo seqüencial e iterativo de momentos de criação e de avaliação, e o edifício

como produto de projeto realizado por arquiteto capacitado em realizar as funções que a

sociedade requer dos edifícios. Estes autores definem o espaço arquitetônico como

qualquer

espaço

físico

socialmente

apropriado

por

presença

humana,

independentemente de tamanho, complexidade ou natureza do autor da intenção e da

construção do lugar. Em tal concepção, a forma física dos lugares é estrutural: assim

como não há sociedade sem espaço arquitetônico, este não existe sem configuração

física. Assim, a análise, a avaliação e a proposição de espaços arquitetônicos dão-se por

meio de seus atributos morfológicos.

A teoria projetual adotada para o processo de projetação na disciplina PROJETO 1 do

Curso de Arquitetura e Urbanismo do UNIEURO em Brasília baseia-se em tais

princípios, a que corresponde metodologia fundada sobre taxonomia arquitetônica a

partir de resposta dimensional do espaço (pesquisa Dimensões Morfológicas do

Processo de Urbanização: Holanda, F.; Kohlsdorf, G.; Kohlsdorf, M.E. e Villas Boas,

M., Brasília: FAU-UnB / FINEP / CNPq, 1985 - 1994)

2

. Na verdade, verificam-se

classificações dimensionais em arquitetura em autores como Vitruvio (firmitas,

2http://www.unb.br/fau/dimpu/index.html

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commoditas, venustas

), Alberti, Palladio (semelhança de categorias descritivas do

edifício e da cidade) e, Bill Hillier (as quatro funções da arquitetura, além do dilema

forma-função (form follows function ou vice versa).

A metodologia adotada consiste na avaliação do espaço arquitetônico em relação a cada expectativa social, fato que implica várias avaliações de um mesmo lugar voltadas a cada dimensão do mesmo, entendendo-se esta última como “todo plano, grau ou direção no qual se possa efetuar uma investigação ou realizar uma ação“ (ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Ed. Mestre Jou, 1982:260). Holanda e Kohlsdorf (1996) propõem entender Arquitetura como qualquer espaço socialmente utilizado e, portanto, situação relacional e dimensional; logo, a qualidade de um mesmo espaço pode variar conforme cada expectativa/dimensão considerada e seu juízo global é uma ponderação entre avaliações parciais. Neste sentido, expectativas sociais correlatas a dimensões espaciais podem receber priorizações histórica e socialmente diferentes. A classificação de expectativas sociais gera taxonomia dos lugares que são as dimensões com várias descrições de um mesmo lugar, segundo diferentes atributos (categorias e elementos analíticos).

Dimensões Expectativas Sociais Características –

atributos morfológicos Funcional Resposta do espaço a expectativas de realização de certas

atividades

funcionais Bioclimática Resposta do espaço a expectativas de conforto

higrotérmico, acústico, luminoso e de qualidade do ar

bioclimáticas Co-presencial Resposta do espaço a expectativas por facilidade de

encontros não programados nas áreas livres públicas

copresenciais Topoceptiva Resposta do espaço a expectativas de orientar-se e

identificar os lugares

topoceptivas Econômica Resposta do espaço a expectativas por certos custos de sua

construção e manutenção

econômico-financeiras Expressiva e

Simbólica

Resposta do espaço a expectativas de representações simbólicas

Expresssivo-simbólicas

O conjunto que agrupa as seis subdimensões as considera equânimes: a priori, não há diferenças de valor entre elas, e prevalências dependem de pessoas, grupos e contextos culturais.

Além do vínculo entre pessoas e espaços, relações mais abrangentes no cotidiano envolvem articulações entre indivíduos e os lugares onde estão, pois onde exista processo social , haverá sempre relações entre pessoas, pessoas e meio ambiente e pessoas com o mundo simbólico. Isto implica áreas de conhecimento para tratar de cada uma dessas “macro-relações”, gerando “macro-dimensões morfológicas”: as primeiras são objeto do campo da ética; as segundas, da ecologia e, as terceiras, do campo da estética:

Superdimensões Expectativas Sociais

Ética Resposta do espaço ao balizamento das relações entre os indivíduos

Ecológica Resposta do espaço ao balizamento das relações entre indivíduos e meio natural Estética Resposta do espaço a expectativas pelo belo nas relações entre os indivíduos e o

mundo

A dimensão ecológica aplicada à arquitetura estuda como esta realiza conceitos de natureza e do homem enquanto natureza e em suas relações com a natureza. Tais relações mudam historicamente conforme sociedades concretas e indicam menor ou maior impacto transformador do meio ambiente herdado, dependendo das primeiras. O estudo da arquitetura vernacular revela soluções com garantia de conforto esperado pelos indivíduos com respeito à integridade do lugar; é uma manifestação de saber adquirido em experiência secular, transmitida e aperfeiçoada por gerações que nos sugere lições e enriquecimento: ao invés de reviver o passado, lograr equilíbrio entre tradição e modernidade.

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Os valores ecológicos aplicados ao projeto informam a maneira pela qual as características do sítio natural serão incorporadas a novos edifícios ou lugares: relevo, vegetação, corpos d’água, clima e demais recursos regionais, em sua disponibilidade e escassez e articulação à cultura local, estrutura de classes sociais e gestão da construção. Conforme Gauzin-Müller (2006), para se construir uma habitação ecológica deve haver integração do território, controle do ciclo da água, eleição sensata dos materiais (saudabilidade e ciclo da vida), redução da quantidade de resíduos e controle de sua eliminação, o controle das necessidades energéticas para o conforto térmico e luminoso.

3.2 A disciplina de PROJETO 1 do Centro Universitário UNIEURO

Objetivando formação de profissionais arquitetos e urbanistas nos cursos de graduação brasileiros, as disciplinas de PROJETO do Curso de Arquitetura e Urbanismo do UNIEURO configuram certas fases: a primeira, curta (80 horas) e introdutória ao tronco de Projeto, recebe a disciplina INTRODUÇÃO AO PROJETO; a segunda objetiva habilitação básica nos procedimentos projetuais para espaços socialmente utilizados e se compõe por duas disciplinas de 160 horas cada situadas no segundo e terceiro semestres do curso: PROJETO DE ARQUITETURA I e PROJETO DE ARQUITETURA II; a terceira foca edificações de média e grande complexidade por meio de três disciplinas de 160 horas cada, dispostas no quarto, quinto e sexto semestres desse curso: PROJETO DE ARQUITETURA III, PROJETO DE ARQUITETURA IV e PROJETO DE ARQUITETURA V; por fim, a quarta fase concentra-se em aprendizagem de metodologia projetual para frações de cidades, cidades inteiras e projetos paisagísticos em geral, por meio de três disciplinas de 160 horas cada, situadas no sétimo, oitavo e nono semestres do referido curso: PROJETO DE ARQUITETURA VI, PROJETO DE ARQUITETURA VII e PROJETO DE ARQUITETURA VIII, além de duas outras dePROJETO PAISAGÍSTICO (Kohlsdorf, M.E., 2006). Diferença notável entre cada uma dessas fases é o nível de aprofundamento da atividade projetual e de complexidade das situações arquitetônicas abordadas (estas sempre entendidas como quaisquer espaços socialmente utilizados); o que as aproxima, é a permanência dos princípios conceituais e metodológicos: o conceito de espaço arquitetônico e de métodos e técnicas de sua projetação, ambos expostos no item anterior deste artigo.

Portanto, os objetivos de Introdução ao Projeto e de cada Projeto respondem a suas posições nas referidas fases, mas conteúdos programáticos, temas escolhidos e quantidade de exercícios devem voltar-se tanto às especificidades de cada disciplina de projeto, quanto a suas características comuns. Isto significa que conceitos inerentes à arquitetura e urbanismo, assim como metodologias de projetação devem ser: inovados em cada nível de aprofundamento do curso, mas também repetidos em todos eles visando introjeção no aluno e construção cumulativa de conhecimento.

Em tal contexto, a disciplina de PROJETO I – P1 objetiva desenvolver a prática da projetação do espaço arquitetônico, entendido como espaço socialmente utilizado e, seu projeto, como proposta de melhoria a partir da definição de problemas, por meio de apresentação das dimensões funcional, bioclimática e econômico-financeira e da macro-dimensão ecológica. Ao mesmo tempo, nela se trabalha o conceito de arquitetura como intencionalidade e tridimensionalidade de espaços tanto abertos, quanto fechados; como lugar configurado em que a forma é instância de seu desempenho para expectativas sociais. Considera-se o projeto arquitetônico como processo propositivo a partir de análise e avaliação de situações pré-existentes (iguais ou semelhantes); programação segundo aspectos correspondentes às expectativas funcional, bioclimática e econômico-financeira e à sustentabilidade; propostas alternativas; avaliação das alternativas e desenvolvimento daquela que melhor corresponder à programação.

Os exercícios-temas são projetos de baixa complexidade fundamentados na relação Homem e Meio Ambiente; realizaram-se os seguintes exercícios: 1) Módulo de Sobrevivência; 2) Praça; e 3) Parque Ecológico e Mirante nas margens do Lago Paranoá. Neles realizou-se percepção, representação gráfica por meio de croquis, modelo reduzido e desenho técnico (planta, corte e elevação), além de informações sobre a gestão ambiental urbana.

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3. 3. Etapas de aplicação

O exercício 1 Módulo de Sobrevivência reside em aboradar módulo mínimo de habitação (máximo 40 m2) com espaços multifuncionais com operacionalidade, adequação e eficiência

para desenvolvimento de atividades pragmáticas. O conforto ambiental deve ser forte preocupação, bem como o custo financeiro, este resultado de equilíbrio entre custos de produção e de manutenção do edifício. A estes, aliem-se necessariamente princípios de: opção por materiais ecológicos ou com pouca energia incorporada, manutenção do ciclo da água, área para produção de alimentos, eficiência energética e redução de resíduos. O local do módulo deve ser escolha do aluno, mas sugere-se terreno de 10m x 20m (área = 200 m2) e exige-se

demarcação explícita do percurso aparente do sol.

O exercício se divide em fases projetuais alocadas em sete etapas: análise de situações existentes (pesquisa de repertório), avaliação das mesmas, programação, desenvolvimento de propostas alternativas às dimensões-temas (expectativas funcionais, bioclimáticas e econômico-financeiras, assim como à sustentabilidade), avaliação das mesmas em relação ao programa e desenvolvimento daquela que melhor a ele responda. Tais fases correspondem à metodologia de Kolsdorf (2006), esta baseada em três movimentos recorrentes:

Movimento Definição

Análise Explicação de certo fenômeno / situação arquitetônica segundo suas várias dimensões (descrições por categorias e elementos incidentes em cada dimensão) Avaliação Julgamento de bondade do fenômeno / situação arquitetônica quanto a seu

desempenho funcional, bioclimático, de co-presença, topoceptivo, econômico, expressivo e afetivo. Juízo global de bondade do fenômeno / situação arquitetônica (ponderação variável).

Proposição Uma nova situação arquitetônica, que supere os problemas detectados na avaliação. Novo ciclo Se inicia outro ciclo de análise e avaliação da proposta, e talvez nova proposição

O processo de concepção ocorre por meio de modelos reduzidos e representação em croquis com diferentes escalas, iniciando-se observação das implicações tecnológicas e construtivas do projeto.

A aula teórica inicial para conscientização e análise das situações existentes quanto à aplicação da dimensão ecológica na arquitetura é dividida em duas partes conceituais: conceitos de entradas e saída de recursos naturais no edifício e miniaturização da arquitetura.

O exercício relatado norteia a prática intensiva de projeto como resposta a situações simultaneamente arquitetônicas e urbanísticas simples, a partir de aspectos explicitamente referidos a expectativas funcionais, bioclimáticas e econômico-financeiras, assim como à sustentabilidade e à introdução às implicações tecnológicas e construtivas do projeto, empiricamente consideradas. Conforme exposto anteriormente, a concepção do exercício realiza-se por meio de modelos reduzidos e de representação projetual em croquis e com diferentes escalas, ocorrendo em sete etapas, no final das quais realiza-se seminário expositivo. Todo o processo é desenvolvido à mão livre com uso de lápis grafite, papel manteiga e papel sulfite em tamanho A3.

A primeira etapa inicia-se por apresentação do exercício em aulas expositivas sobre o tema. Segue-se pesquisa de repertório - ou seja, compilação de diversas matérias referentes ao tema proposto, dispostas em papel A3, para uso do aluno ao longo das etapas de projeto. È um conjunto de informações e imagens por eles pesquisadas para auxiliar no processo de projetação. Este material é analisado e avaliado segundo o desempenho das três dimensões-temas trabalhadas na disciplina, por meio de suas categorias analíticas.

Na segunda etapa, é realizada a escolha do terreno pelo próprio aluno seguindo as diretrizes propostas pelo exercício com área máxima de 200m2. Feita a escolha, efetua-se análise

elementar do local com relação à identificação do norte, insolação, ventos predominantes e acessos.

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Figuras 01 e 02: Análise do local escolhido para implantação do módulo.

A terceira etapa consiste no lançamento da primeira idéia proposta, onde o projeto não é fundamentado no contexto dimensional, mas produzido a partir da exposição teórica e da pesquisa de repertório. Nesse primeiro momento, o que se observa no lançamento da idéia são espaços super dimensionamentos e dificuldades de representação, já que muitos dos alunos estão tendo contato paralelamente com o desenho arquitetônico pela primeira vez.

Figura 03: Lançamento da primeira proposta de projeto do módulo de sobrevivência. Na quarta etapa, o projeto desenvolve-se por aplicação única da dimensão funcional; os atributos desta dimensão devem ser concentrados e propostos, tais como: acessibilidade universal, complementação de funções, abrangência das atividades, dentre outros. A interligação entre os espaços funcionais acaba por gerar espaços sem alvenarias, delimitados pela distribuição de mobiliário e elaboração de lay out interno.

Figura 04: Prancha com a proposta desenvolvida segundo a dimensão funcional. A dimensão econômico-finaceira é desenvolvida na quinta etapa do exercício projetual, onde são trabalhados atributos espaciais relacionados a expectativas por certos custos de construção e manutenção, bem como atributos relativos à dimensão macro-ecológica e a sustentabilidade. Nesta etapa são aplicadas tecnologias sustentáveis no projeto da edificação, tais como: captação e aproveitamento da água da chuva, utilização de fontes de energia renováveis, uso de materiais recicláveis ou de reflorestamento, e ainda, a permacultura. Contudo, estas estratégias visam a relação custo e benefício do projeto.

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Figuras 05 e 06: Proposta econômico-financeira e de tecnologias sustentáveis aplicadas no projeto.

Na sexta etapa, o projeto realiza-se sob princípio de que o espaço deve responder a expectativas de conforto higrotérmico, acústico, luminoso e de qualidade do ar, atributos estes que constituem a dimensão bioclimática. A preocupação neste momento é projetar uma edificação que proporcione a seus usuários conforto e bem-estar, controlando o impacto sobre o meio externo e preservando os recursos naturais mediante a otimização do uso.

Figura 07: Proposta bioclimática do módulo.

A sétima e última etapa do exercício projetual inicia-se por meio da avaliação das propostas elaboradas na 3ª, 4ª, 5ª e 6ª etapa. Ela se efetua segundo critérios que envolvem - a macro-dimensão ecológica e a sustentabilidade como, por exemplo: a água, resíduos e dejetos, energia, materiais e sistemas construtivos, uso do solo e paisagismo produtivo – e as dimensões morfológicas do lugar: funcional, econômico-financeira e bioclimática. Após a avaliação desses critérios e do desempenho segundo as dimensões morfológicas, elabora-se a proposta síntese do módulo de sobrevivência.

Figuras 8, 9 e 10: Implantação e maquete.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Pode-se concluir que os objetivos pedagógicos da disciplina foram alcançados no que se refere ao exercício aqui brevemente relatado, especialmente devido às transformações cognitivas registradas nos alunos. Os resultados das etapas de projetação desempenhadas foram bastante positivos. Neste sentido, constatou-se a efetiva aplicação dos conceitos que envolvem a macro-dimensão ecológica balizados nas relações entre indivíduos e meio natural, onde foram projetadas edificações com qualidade ambiental, criando ambientes internos confortáveis para os usuários, controlando impactos sobre o meio externo do edifício e preservando os recursos naturais mediante a otimização do uso. O estudo simplificado da insolação, ventos

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predominantes e acessos ao terreno escolhido, por exemplo, foram assimilados com presteza e facilidade. Já no lançamento da primeira proposta, onde o projeto não é fundamentado no contexto dimensional, vêem-se desenhos e esboços apontando aspectos concernentes às tecnologias sustentáveis e ao conforto ambiental dos usuários do edifício.

Além disso, os espaços arquitetônicos refletiram no desenho multiplicidade de funções, dinamismo, adaptabilidade e jogo de formas, que implicaram na diversidade projetual. Os resultados, contudo, foram desde projetos de abrigos com tecnologias sustentáveis (sistema construtivo alternativo, sanitários compostáveis, tratamento de esgoto por zona de raízes, aproveitamento de água da chuva, reuso de água, condicionamento e iluminação natural por meio de dispositivos bioclimáticos, fontes de energias renováveis, hortas, etc) a módulos móveis com a utilização de materiais industriais de rápida montagem (pequenos galpões pré-fabricados, unidades móveis: moto-home, etc.).

5. REFERÊNCIAS

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interesse ambiental: aplicabilidade na Antártica e nas ilhas oceânicas brasileiras. I Conferência Latino-americana de Construção sustentável e X Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, São Paulo, 2004.

ANDRADE, Liza e ROMERO, Marta. Estudos para a elaboração do projeto corporativo para a Reabilitação Ambiental e Construção Sustentável das Unidades da ECT. Documento interno LaSUS/FAU/UnB.Brasília, 2006.

BLUMENSCHEIN, Raquel Naves. A sustentabilidade na cadeia produtiva da indústria da construção. Orientador: Roberto dos Santos Bartholo Jr.. Brasília: UnB/CDS, jun. 2004. 263 p. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável) Universidade de Brasília. Centro de Desenvolvimento Sustentável.

BRIAN, Edwards. Guia Básica de La Sustentabilidade, Editorial Gustavo Gili SA, Barcelona 2004.

CIB – International Council for Research in Building and Construction/Escola Politécnica da USP, 2000. Agenda 21 para Construção Sustentável.

GAUZIN-MÜLLER, Dominique. 25 Casas Ecológicas. Barcelona: GG, 2006.

HOLANDA, Frederico e KOHLSDORF, Gunter. Arquitetura como situação relacional. Grupo de Pesquisa Dimensões morfológicas do processo de Urbanização - PPG-FAU/UnB. Brasília, 1994.

KOHLSDORF, Maria Elaine. A apreensão da forma da cidade. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1996.

KOHLSDORF, Maria Elaine. Diretrizes gerais para as disciplinas de projeto de arquitetura e urbanismo. Curso de Arquitetura e Urbanismo - Colegiado das disciplinas de Projeto de Arquitetura E Urbanismo do Centro Universitário UNIEURO. Brasília, 2006.

RICHARDSON, Phyllis e DIETRICH, Lucas. XS: Grandes ideas para pequeños edificios. Barcelona: GG, 2002. 2ª. Ed.

Referências

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