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PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL A PESSOAS COM DEFICIÊNCIA EM ESCOLAS DE EDUCAÇÃO ESPECIAL

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ISSN 2176-1396

DEFICIÊNCIA EM ESCOLAS DE EDUCAÇÃO ESPECIAL

Jaqueline do Carmo Machado Lopes1 - UFPR Thábata Louise Schossler2 - UFPR Giselle Emilãine da Silva Reis3 - UFPR João Rodrigo Saror4 - UFPR Yasmine Mendes Pupo5 - UFPR Eixo–Educação e Saúde Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O presente trabalho relata a experiência de um projeto de extensão (126/2016) do Curso de Odontologia da UFPR, aprovado para realização de 2016 a 2020, o qual tem como objetivo integrar o ensino e a pesquisa, além de socializar o conhecimento acadêmico, favorecendo o contato dos alunos da graduação em Odontologia com pessoas com deficiência (PDs). A metodologia do presente projeto consiste anualmente de três fases. A primeira propõe-se a desempenhar uma revisão de conteúdos teóricos acerca de saúde bucal; a segunda fase consiste em atividades preventivas e lúdicas a serem desenvolvidas nas escolas; a terceira do atendimento/acompanhamento dos PDs na Clínica Integrada de Odontologia por acadêmicos do oitavo e nono períodos. Alguns dos temas discutidos nas aulas teóricas são: atividades clínicas preventivas e curativas ao atendimento de PDs; relacionamento interpessoal e manejo dos PDs. Os acadêmicos são distribuídos em escalas para dirigirem-se a duas escolas de Educação Especial de Curitiba (Escola Especializada Primavera e Escola Especial Menino Jesus), com o intuito de realizar atividades lúdicas, anamnese e exame clínico com o auxílio de uma ficha específica. Os professores e tutores responsáveis pelo projeto acompanham os acadêmicos no desempenho dessas atividades. Reuniões entre docentes/tutores responsáveis e

1Mestre em Tecnologia em Saúde pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em

Cuidado ao Paciente em Estado Crítico pela Faculdade Evangélica do Paraná (FEPAR). Enfermeira graduada pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Servidora Técnica do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). E-mail: jackemachado2007@yahoo.com.br

2Acadêmica de Odontologia da UFPR. Email: thabata.schossler@gmail.com 3Acadêmica de Odontologia da UFPR. Email:gisellereis_86@hotmail.com

4Doutor em Implantodontia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Cirurgia de Cabeça

e Pescoço pelo Hospital Heliopolis- SP. Especialista em Periodontia pela Universidade de Santo Amaro

(UNISA-SP). Professor Adjunto do Departamento de Odontologia Restauradora da

UFPR.E-mail:sarotimplantes@terra.com.br

5Doutora em Odontologia, área de concentração de Dentística Restauradora (UEPG). Especialista em Dentística e

Prótese Dentária. Professora Adjunto do Departamento de Odontologia Restauradora da Universidade Federal do Paraná (UFPR). E-mail: yasmine.pupo@ufpr.br

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discentes participantes do projeto são realizadas para avaliar o andamento das ações e necessidades de melhorias. Além disso, os acadêmicos são orientados que a profissional responsável por auxiliar nos trâmites de encaminhamento é a assistente social das escolas. Os alunos com deficiência que necessitam de tratamento são direcionados para atendimento preventivo e clínico na Clínica Integrada, acompanhados de pais e/ou responsáveis. Destaca-se que a atividade proporciona aos acadêmicos um complemento de sua formação na atenção de grupos vulneráveis que por outro lado também se beneficiam da ação dos universitários.

Palavras-chave: Prevenção. Promoção de Saúde. Saúde bucal.

Introdução

Pessoas com deficiência são indivíduos que possuem uma alteração ou condição, simples ou até mesmo complexa, essa alteração ainda pode ser breve ou permanente, de etiologia biológica, física, mental, social e/ou comportamental, que precisam de uma abordagem diferenciada, especial, multiprofissional e um protocolo específico de atendimento (CAMPOS et al., 2007).Estima-se que10% da população mundial é formada por Pessoas com deficiência (PDs) (BRASIL, 2008).

De acordo com o Censo de 2010, aproximadamente 23,9% da população brasileira possui algum tipo de deficiência, seja ela auditiva, visual, motora e mental/intelectual (BRASIL, 2012),sendo necessária para essa porcentagem da população, um tratamento individualizado, com a criação de vínculos que ultrapassem a dificuldade da comunicação entre o profissional e o paciente, afim de promover a educação em saúde bucal e os seus benefícios. Ou seja, além do conhecimento teórico-científico, é fundamental o manejo do comportamento durante o tratamento do paciente com deficiência, sendo necessário o estabelecimento de uma relação de confiança entre o acadêmico/profissional de odontologia e o paciente.

Pacientes com deficiência intelectual apresentam alterações bucais, um alto índice de lesões de cárie, gengivite e periodontopatias. Isso ocorre devido à falta de higienização e conscientização da família/cuidadores/responsáveis por esses pacientes no que concerne à saúde bucal. A higienização bucal sem orientação e supervisão nos PDs na grande maioria dos casos é insatisfatória.

As PDs enfrentam diversas barreiras em busca de seus direitos para levarem uma vida normal, não sendo isto diferente no âmbito do acesso à saúde. De acordo com Williams et al.,(2015) no caso específico da saúde bucal, as barreiras começam devido ao pouco treinamento dos cirurgiões dentistas para o atendimento. Há uma necessidade significativa de melhorar a formação do cirurgião dentista e o capacitar ao atendimento dos PDs, aumentando

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assim o número de generalistas capazes e dispostos a tratar adultos com deficiência. Segundo os pesquisadores, um meio de se alcançar este objetivo seria por meio de residências e cursos de educação continuada. Para os autores, tais cursos aumentariam o conhecimento e confiança dos cirurgiões dentistas para a prática de cuidados especiais.

No ano de 2002 houve a regulamentação, através da Resolução 25/2002, publicada no Diário Oficial da União em 28/05/2002, feita pelo Conselho Federal de Odontologia, da especialidade odontológica para o cuidado odontológico em pacientes com necessidades especiais (PNE), com isso, permitiu a capacitação dos Cirurgiões-Dentistas para um atendimento prolongado, podendo se estender por toda a vida desses pacientes. Essa capacitação é de grande relevância quando relacionada ao tratamento do PDs, visando cada vez mais à promoção de saúde, evitando uma prática de soluções mais radicais e tardias no tratamento odontológico desses pacientes, como,por exemplo, a realização de exodontias múltiplas.

Outros trabalhos confirmaram que a procura do profissional deve ser feita o mais cedo possível, pois as crianças demonstram ser mais cooperativos com os profissionais. Além disso, a orientação de hábitos de higiene, quando aplicadas mais cedo, tendem a permanecer por toda a vida do paciente (MUGAYAR, 2000).É corriqueiro a demora no encaminhamento do PDs para o tratamento odontológico (SCHMIDT, 1998). Esse fato pode ser devido a várias situações, como, por exemplo, a necessidade imediata de tratamento médico, do fisioterapeuta e fonoaudiólogo, sendo colocada em segundo plano a busca por atendimento odontológico. Outra observação é que os profissionais de saúde que fazem o primeiro contato com essepaciente, deveriam orientar sobre a necessidade de buscar atendimento odontológico, porém comumente não realizam esse direcionamento (DUAILIBI e DUAILIBI, 1998; CANÇADO et al., 2003; TOMITA e FAGOTE, 1999).

Estudo demonstra a relevância que a extensão universitária exerce em projetos semelhantes. Oliveira et al.,(2015), em atividade extensionista universitária buscando consolidação das mudanças nos conceitos de atenção à saúde da PDs, destaca além da importância que o projeto tem para a comunidade, a oportunidade de trabalhar em equipe multidisciplinar, ressaltando que essa pluralidade possibilitaria maior flexibilidade à pesquisa e ao ensino, através da troca de experiência entre os profissionais que ali atuam e os estudantes. Além disso, concluiu se neste estudo que atividades de extensão poderiam servir

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de estímulo aos estudantes ao propiciar maior segurança e familiaridade no atendimento a PDs.

Pretende-se assim, relatar a experiência de um Projeto de Extensão, em andamento do curso de Odontologia da UFPR, vinculado a Disciplina de Pacientes com Necessidades Especiais. As atividades com esses pacientes envolvem além de habilidades técnicas e paciência, um atendimento humanizado para que o paciente e a família criem com o acadêmico de odontologia, o professor orientador e os demais profissionais que desenvolvem suas atividades no Curso de Odontologia da UFPR, um vínculo de confiança. Para o acadêmico de odontologia atender PDs é uma experiência única, pois muitos profissionais quando se deparam com esses pacientes não se sentem seguros já que não tiveram a oportunidade de viver essa experiência durante sua formação. Sendo assim, esse envolvimento do acadêmico do último ano de Odontologia com esses pacientes contribui significativamente para a formação do profissional. Além disso, o projeto objetiva sustentar as atividades desenvolvidas no Estágio Supervisionado em Clínica Integradada UFPR com os pacientes com deficiência encaminhados de escolas de Educação Especial, além dessas escolas, são atendidos também PDs que procuram de maneira espontânea a Odontologia da UFPR para tratamento odontológico, intermediados pelo Setor de Triagem.

Assim, complementar e expandir o conhecimento do acadêmico de Odontologia da UFPR por meio do atendimento aos pacientes com deficiência e de atividades extensionistas proporciona uma visão ampla para que possam reconhecer e compreender as necessidades destes pacientes, superando, portanto, o receio para tratar desses pacientes com vistas a promover saúde bucal e qualidade de vida aos pacientes. O presente trabalho relata a experiência de um projeto de extensão (126/2016) do Curso de Odontologia da UFPR, aprovado para realização de 2016 a 2020, o qual tem como objetivo integrar o ensino e a pesquisa, além de socializar o conhecimento acadêmico, favorecendo o contato dos alunos da graduação em Odontologia com pessoas com deficiência (PDs). O projeto foi também submetido para apreciação ética ao COEP-UFPR com número do CAAE 67053516.0.0000.0102.

Desenvolvimento

Do ponto de vista preventivo que vem sendo dado à Odontologiainserir o cuidado aos PDs, é de grande relevância, ressaltando-se ainda que, de acordo com o Censo 2010, no Brasil há 45.606.048 indivíduos, o que corresponde a 23,9% da população total com algum tipo de

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deficiência (visual, auditiva, motora e mental ou intelectual) (BRASIL, 2012). A deficiência motora está presente em 7% da população total e a deficiência mental ou intelectual em 1,40% (AMARAL, 2011). Esses pacientes têm dificuldades para receber tratamento odontológico, principalmente devido ao despreparo dos cirurgiões-dentistas para atendê-los com segurança necessária (AMARAL, 2011).

O atendimento odontológico desses pacientes, desde os que, de alguma maneira, cooperam com o profissional, até mesmo os que não oferecem qualquer possibilidade de cooperação e que precisamreceber anestesia geral para que possam ser submetidos ao tratamento dentário, deve ser realizado de uma maneira preventiva (TOLEDO e BEZERRA, 2005).

O sucesso do atendimento odontológico dependerá do conhecimento sobre a etiopatogenia das doenças bucais e sobre os recursos disponíveis para prevenção e controle. É fundamental que o profissional da odontologia não foque apenas no tratamento da doença já estabelecida, mas na necessidade de avaliar a possibilidade que determinado paciente tem de adquirir a doença, isto é, identificar o risco do paciente com relação aos estados mórbidos, entre os quais se destacam as doenças cárie e periodontal (TOLEDO e BEZERRA, 2005).

Os PDs apresentam mais probabilidade de desenvolver as doenças cárie e periodontal dada às dificuldades de tratá-los. Istopode estar associado a limitação física e ou mental que esses pacientes possuem, impossibilitando, muitas vezes, a realização de uma higiene bucal eficaz, além de consumirem alimentos ricos em carboidratos. A higiene bucal deve ser feita de maneira que não permita o acúmulo de placa bacteriana, evitando assim o aparecimento da cárie e da doença periodontal, assim como o risco de perda dental. Esses problemas ocorrem, muitas vezes, devido aos seus responsáveis negligenciarem sua higiene bucal ou não conseguirem executar de maneira efetiva.

Segundo Pimenta et al., 2010, 19,7% dos cuidadores responsáveis por pacientes com deficiência intelectual sentem-se sobrecarregados na tarefa a que são destinados, isso pode acontecer pelo fato de cuidarem de pacientes que requerem atenção e cuidado integral. Dos pesquisados, 9,09% relataram que se sentem extremamente sobrecarregados, esse relato tem uma representatividade significativa da amostra, que equivale a 28,79% com um nível alto de sobrecarga (PIMENTA et al.,2010). Sendo assim, a qualidade de vida desses cuidadores também éafetada. Essa sobrecarga que os familiares ou responsáveis pelos pacientes sentem pode trazer uma reflexão, no que concerne a saúde bucal de PDs, justificando a falta de

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prioridade no tratamento odontológico, deixando a saúde bucal em pacientes especiais prejudicada.

Estudo revela que familiares e/ou responsáveis pelos PDs com nível de escolaridade e socioeconômico baixos apresentam maiores riscos para o acúmulo de placa bacteriana (AGUIAR et al., 2000). Também que pacientes com paralisia cerebral têm maior probabilidade de desenvolverem cárie dentáriae que a idade e o hábito de utilizar mamadeirasão fatores que contribuem para essa ocorrência (REZENDE et al., 2007).

Quando se pensa em tratamento odontológico, é fundamental que faça parte de um programa permanente de saúde bucal (TOLEDO e BEZERRA, 2005). Assim, dentro desse programa as medidas preventivas e as restauradoras devem estar perfeitamente integradas. Deste modo, qualquer plano de tratamento deve fundamentar-se em uma avaliação do paciente (TOLEDO e BEZERRA, 2005). O histórico de saúde do paciente, avaliando também os exames clínicos e radiográficos deverá servirnão apenas para o tratamento, mas também para as medidas preventivas. Ao abordar sobre PDs, as condições que interferem no tratamento odontológico com enfoque preventivo alteram imensamente de acordo com os desvios da normalidade que apresentem (TOLEDO e BEZERRA, 2005).

É imprescindível que os cirurgiões dentistas tenham consciência de que é primordial agir de maneira ética no atendimento aos PDs. Recusa ou o retardo do cuidado a esse paciente pode resultar em dor, desconforto, custos aumentados do tratamento, experiências desagradáveis e diminuição na qualidade dos resultados na saúde bucal (CORRÊA et al., 2002). Quando o paciente apresenta necessidades que impeçam o cirurgião dentista de prestar a assistência adequada, o profissional deve encaminhá-lo imediatamente para outro cirurgião dentista habilitado a fim de assegurar a saúde integral do paciente (CORRÊA et al., 2002).

Pacientes com necessidade de assistência odontológica podem estar sujeitos à progressão de sua doença bucal se o tratamento não for ofertado por causa da idade, do comportamento, da dificuldade de cooperar, da deficiência ou da situação médica (CORRÊA et al., 2002).Ocorre dificuldade do acesso dos PDs ao tratamento odontológico quando em uma idade mais avançada, esse fato, traz grande preocupação (MUGAYAR, 2000). Além disso, o acesso ao tratamento odontológico por PDs pode não ocorrer pelo alto custo do tratamento e pelo despreparo de profissionais habilitados para prestar essa assistência (de SOUZA QUEIROZ et al., 2014).

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muitas vezes, demonstrem vontade em aceitar a responsabilidade de prestar uma boa assistência a esses pacientes (MUGAYAR, 2000). Pessoas com deficiência têm maiores problemas, quando se refere à adesão a um programa de controle do biofilme dental. Além de que, a comunicação eficaz deve acontecer entre o profissional da odontologia, o paciente e sua família (JOHNSON e ALBERTSON, 1972).

Estudo mostra que PDs carecem de maior atenção no que se refere à higiene bucal, pois muitas vezes não é dado prioridade à higienização bucal, ficando esse cuidado em segundo plano. Isso mostra a necessidade da implementação de mais políticas públicas preventivas e curativas direcionadas aos PDs (de SOUZA QUEIROZ et al., 2014). Também, que há uma maior prevalência da perda precoce dos dentes em indivíduos que apresentam desvios de inteligência (GRUNSPUN, 1966) e ainda é comum o relato da carência de programas preventivos e curativos aos PDs.

O curso de Odontologia do Setor de Ciências da Saúde da UFPR conta com 440 alunos de Graduação, sendo que participam do atendimento em clínica dos PDs os acadêmicos do oitavo e nono períodos. Os acadêmicos envolvidos nos atendimentos desses pacientes são orientados pelos professores responsáveis pela Disciplina de Pacientes Especiais, os quais apresentam os objetivos do atendimento a esses pacientes, visando à saúde bucal, melhor qualidade de vida para os pacientes e com isso, oportunizando também o desenvolvimento do acadêmico no manejo com essa população.

O projeto de extensão foi planejado para ter duração de 4 anos em duas diferentes instituições de Curitiba, Escola Especializada Primavera e Escola Especial Menino Jesus, as quais realizam o atendimento de pessoas com deficiência intelectual e outras deficiências associadas. A faixa etária dos alunos das escolas compreende de 6 a 40 anos. As instituições possuem como objetivo principal o desenvolvimento pessoal desses alunos fazendo com que eles possam conviver da melhor maneira possível com seus problemas e limitações. As escolas contam com o trabalho de assistente social, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e médico. O fato de não haver um cirurgião dentista vinculado as instituições foi um fator decisivo no momento de escolha do cenário para desenvolvimento da atividade extensionista.

O projeto tem como foco a promoção e prevenção de saúde bucal, por meio de ações de diagnóstico de necessidades de tratamento, além de palestras, teatro de fantoches e ações de priorização para referência. Os acadêmicos participantes do projeto de extensão têm a

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possibilidade de participar do convívio multiprofissional muitas vezes escasso nas Universidades de Odontologia. Tal pluralidade pode contribuir para o ensino e reforço da relevância da extensão universitária, beneficiando todas as profissões pela troca contínua de experiências. Para Oliveira et al., (2015), o trabalho interdisciplinar e humanizado, aliado à atenção e compreensão por parte do profissional, proporciona melhorias na promoção de saúde mental e garante maior retenção do conhecimento por meio das práticas integrais realizadas.

O projeto está intimamente ligado a Disciplina de Pacientes com Necessidades Especiais, responsável por ministrar conteúdos teóricos acerca do tema para os acadêmicos do 8° período, sendo assim os acadêmicos envolvidos na atividade extensionista participam semanalmente das aulas teóricas e os professores responsáveis pela disciplina procuram trazer profissionais de referência na área para discorrer sobre a temática com os acadêmicos.

Diante das ações, são realizadas visitas mensais durante o ano letivo segundo o calendário acadêmico da UFPR e o das escolas, em forma de revezamento dos acadêmicos participantes. Num primeiro momento realizam-se atividades lúdicas para os PDs objetivando familiarizá-los com o conteúdo sobre saúde bucal e com os acadêmicos, buscando a criação de um vínculo entre eles. Entre essas atividades, ocorrem as palestras, as quais são realizadas no pátio da escola, com todos os alunos com deficiência reunidos para expor conteúdos sobre saúde bucal, neste momento também é realizado teatro de fantoches, instrução de higiene oral com o auxílio de macromodelo e abre-se um espaço para eventuais dúvidas. As palestras incluem especialmente esclarecimentos sobre a doença cárie e gengivite, além da orientação sobre alguns alimentos ricos em açúcares, como balas, chocolates e também alimentos industrializados, que podem ser prejudiciais à saúde bucal.

O teatro de fantoches, é realizado com uma linguagem acessível e com cenas do cotidiano, por exemplo, a dor de dente, que muitos já passaram por essa experiência. As peças contam histórias voltadas para a promoção de saúde e a estimulação da escovação e das consultas odontológicas. Os acadêmicos ainda cantam para os alunos canções que falam sobre a doença cárie e desenvolvem atividades sobre escovação por meio de desenhos. Ao final das primeiras visitas, todos os alunos ganham um kit com uma escova dental, creme dental e um sabonete com intuito de estimular o autocuidado.

Os acadêmicos são organizados em escalas para visitarem as escolas no intuito da realização de atividades lúdicas, anamnese e exame clínico nas condições disponíveis pela escola. Na Escola Primavera, os alunos são examinados na sala da Psicóloga, com uso de

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espátula de madeira e gaze. Na Escola Menino Jesus, o atendimento é realizado na sala de consulta odontológica. Os acadêmicos de odontologia da UFPR realizam as atividades sob a supervisão e orientação dos professores responsáveis pela Disciplina de Pacientes com Necessidades Especiais. Uma das circunstâncias mais desafiadoras para os profissionais da odontologia no atendimento a PDs é o manejo do comportamento durante o atendimento clínico. Por isso, são necessárias, além do conhecimento técnico-científico, a habilidade e a sensibilidade do profissional em entender as expectativas de cada paciente e de seus responsáveis para que, assim, consiga definir o melhor modo de conduzir o tratamento odontológico. É fundamental que o acadêmico de Odontologia desenvolva uma percepção holística dos PDs.

A terceira etapa visa realizar uma avaliação em todos os alunos devidamente matriculados nas duas instituições para que aqueles que precisem de atendimento odontológico possam ser referenciados para recebê-lo no âmbito da Universidade Federal do Paraná, na disciplina de Estágio Supervisionado em Clínica Integrada. Essa avaliação é realizada com o apoio de uma ficha clínica com o objetivo de identificar as necessidades de tratamento dos alunos, sendo estes classificados em baixa, média ou alta prioridade de tratamento. Até o presente momento, 87 alunos foram avaliados, 43 foram encaminhados e 27 receberam atendimento. Tem-se como objetivo principal o atendimento e o cuidado de PDs que, em sua maioria, nunca tiveram a oportunidade de um atendimento especializado. O projeto também propicia uma familiarização com a Odontologia, quebrando a barreira preestabelecida entre o acadêmico de odontologia, o profissional e o paciente. No âmbito educacional, o projeto estimula a participação e o envolvimento dos acadêmicos para a atenção a pessoas com deficiência, uma área da Odontologia que ainda está em evolução e que necessita de pesquisas científicas e de reconhecimento.

Nas escolas a funcionalidade das atividades serão: realização de atividades lúdicas para os alunos das escolas especializadas, como por exemplo, palestras, teatros, que irão abordar temas sobre saúde bucal; orientação de escovação com macro modelo odontológicopara os alunos, funcionários e professores; prática da escovação para os alunos acompanhada e supervisionada pelos acadêmicos de Odontologia; realização de anamnese (em que os pais/professores ou responsáveis responderão questionário pessoal); preenchimento de uma ficha de acompanhamento durante as visitas e avaliações; aplicação de flúor tópico; e encaminhamento para Clínica Integrada da UFPR para tratamento odontológico.

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No atendimento depessoas com deficiência na UFPR serão realizados:acolhimento das pessoas com deficiência na Clínica Integrada nas sextas-feiras pela manhã; preenchimento complementar da ficha de anamnese abordando dados pessoais do paciente, a história médica pregressa (doenças, síndromes, limitações/condições, medicamentos utilizados) e sobre os hábitos orais do paciente; planejamento do procedimento a ser realizado; diálogo com o paciente a fim de manter um vínculo de confiança e conseguir sua colaboração para o tratamento odontológico; e orientação ao paciente e ao seu responsável sobre a importância da higienização bucal.

Considerações Finais

Enfatiza-se a importância do envolvimento de professores, servidores técnicos e acadêmicos de odontologia para o desenvolvimento das atividades inerentes ao atendimento dos PDs recebidos na Clínica Integrada da UFPR, especialmente no que se refere ao acolhimento e ao manejo desses pacientes. A orientação em saúde bucal promove uma melhora na diminuição da quantidade de biofilme bacteriano, o que por sua vez proporciona diminuição da prevalência da doença cárie e da doença periodontal e, consequentemente, na manutenção da saúde bucal. Além disso, contribui com a qualidade de vida desses pacientes, diminuindo os diversos problemas que esses pacientes já possuem devido ao seu estado de deficiência.

O manejo com esses pacientes na Clínica Integrada e nas Escolas que participam do projeto contribuem com o ensino e a pesquisa, assim como no desenvolvimento e aperfeiçoamento dos acadêmicos de odontologia, proporcionando uma visão mais humanizada, maior domínio da execução das técnicas quando em atendimento a PDs, complementando sua formação na atenção de grupos vulneráveis que por outro lado também se beneficiam da ação dos universitários.

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