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O Jornalismo como forma social de conhecimento

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Academic year: 2021

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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJOR) FIAM-FAAM / Anhembi Morumbi – São Paulo – 7 a 9 de Novembro de 2018 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 1

O Jornalismo como forma social de conhecimento

Jônatas Ferraz1

Tamires Tavares Pires2

Orientadora: Carmen Carvalho3

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

Resumo: Este artigo se propõe a discutir o que é o jornalismo e como ele é construído social-mente por meio do estudo de pensamentos e teorias de importantes autores como Adelmo Genro Filho (1987), Nelson Traquina (2004), Miguel Rodrigo Alsina (2009) e Mauro Wolf (2012). Será abordado as definições, características e os problemas do jornalismo que tem sua gênese no desenvolvimento das relações capitalistas, e é conceituado por Adelmo Genro Filho (1987) co-mo uma forma de conhecimento social cristalizado no singular.

Palavras-chave: Jornalismo; Conhecimento; Teorias; Singular; Capitalismo.

1. Introdução

Segundo Adelmo Genro Filho (1996), uma teoria do jornalismo é um campo ab-solutamente inexplorado, pois não há uma concepção teórica satisfatória a respeito de sua especificidade. Ele afirma que a única maneira de se captar a essência das coisas é por meio de uma apreensão teórica e universal do fenômeno, daquilo que ele tem de específico e genérico. Porém, as tentativas de abordagem existentes sobre o jornalismo, conforme Genro Filho (1996), caem em extremos que de alguma maneira não perfazem o caminho da teoria, sustentadas pela generalidade.

1 Aluno do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Estadual do

Sudoeste da Bahia.

E-mail: ferrazas15@gmail.com

2 Aluna do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Estadual do

Sudoeste da Bahia.

E-mail: tamirestavarespires@gmail.com

3 Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), mestre em Ciências da

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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJOR) FIAM-FAAM / Anhembi Morumbi – São Paulo – 7 a 9 de Novembro de 2018 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 2 Uma das primeiras concepções baseada no senso comum define o Jornalismo como uma forma de comunicação. Essa definição, segundo Genro Filho (1996), é uma generalidade abstrata, pois não diz nada sobre a especificidade do fenômeno jornalísti-co. Uma segunda definição surge de uma tradição filiada ao positivismo e ao funciona-lismo em que o “jornafunciona-lismo é uma forma de comunicação que serve para integrar e adaptar o homem ao seu papel social” (GENRO FILHO, 1996, p.3). Conforme o autor, o jornalismo é de fato um instrumento usado para educar e situar o indivíduo nas fun-ções que a sociedade lhe atribui, porém, sua potencialidade transpassa esse limite. O jornalismo é mais do que isso.

Uma terceira abordagem, crítica, porém ideológica, apresenta o Jornalismo co-mo um instrumento de comunicação que serve para reforçar a hegeco-monia da ordem bur-guesa e reproduzir a dominação de classes. Essa definição, ainda segundo Genro Filho (1996), também é verdadeira. O jornalismo é uma forma de comunicação que reforça a ordem vigente reproduzindo seus conceitos, ideias, interesses. “Mas ele seria exclusi-vamente um instrumento de dominação?” (GENRO FILHO, 1996, p. 4).

Mediante o impasse teórico existente sobre a definição do fenômeno jornalístico, este artigo se propõe a discutir o que é o jornalismo e como ele é construído socialmen-te. Abordando a essência e as características desse instrumento que não é unicamente uma forma de comunicação reprodutora de uma ideologia dominante, mas também uma forma de conhecimento em que produz e reproduz saberes de forma válida e útil para as sociedades. Uma atividade que apresenta a realidade social pelo aspecto da singularida-de, conectada com a historicidade humana e suas contradições e que está subordinada as normas e procedimentos técnicos que implica em um fazer e saber específico. Este estu-do foi realizaestu-do por meio de uma revisão bibliográfica estu-dos textos de importantes teóri-cos do Jornalismo como Adelmo Genro Filho (1987-1996), Nelson Traquina (2004), Miguel Rodrigo Alsina (2009) e Mauro Wolf (2012).

2. O “filho” do capitalismo

Theodor Adorno (1982) e Max Horkheimer (1971), importantes pensadores da Escola Frankfurt, foram os primeiros teóricos a abordarem a arte e a cultura como mer-cadorias na sociedade capitalista moderna por meio do conceito de “Indústria Cultural”.

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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJOR) FIAM-FAAM / Anhembi Morumbi – São Paulo – 7 a 9 de Novembro de 2018 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 3 Segundo eles, a cultura é um mecanismo de manipulação e o processo cultural e artísti-co é determinado, inteiramente, por relações mercantis (apud GENRO FILHO, 1987, np).

Em meio a essa discussão, surgem algumas perspectivas de análise do jornalis-mo. A cultura capitalista sendo, essencialmente, uma “cultura de massa”, que, conforme Adorno (1982) e Horkheimer (1971), é entendida como um instrumento não democráti-co, de manipulação, controle e alienação. O jornalismo, como fenômeno integrante des-sa cultura, seria também um mecanismo composto por esdes-sas características. No entanto, Genro Filho (1987) critica a falência dessa perspectiva, pois ela entrega-se a um modelo estático de sociedade em que a cultura e o jornalismo estariam submetidos integramente às leis mercantis. Para o autor, esse entendimento ainda desconsidera que a comunica-ção é um momento da práxis e que ela se situa na prática coletiva de reproducomunica-ção huma-na e histórica em meio as suas lutas e contradições estruturais. “A consumação da liber-dade humana exige o desenvolvimento da imprensa em geral, em especial o jornalismo” (GENRO FILHO, 1987, n.p).

A conclusão que parece se impor é a seguinte: existe um fenômeno cultural peculiar ao capitalismo avançado que exige uma conceituação teórica, seja em termos de "cultura de massa" ou "indústria cultural". No entanto, essa conceituação não pode pretender abranger a totalidade do fenômeno cultural, pois a cultura jamais se deixa submeter integralmente pela categoria mercan-til. Se isso pudesse ocorrer, a cultura deixaria de ser uma práxis e, portanto, deixaria de ser cultura (GENRO FILHO, 1987, n.p).

Jürgen Habermas (1984 apud GENRO FILHO, 1987), outro importante teórico da Escola de Frankfurt, também fundamenta essa perspectiva negativa do jornalismo ao avaliar o desenvolvimento da imprensa em três fases ao longo da história: a imprensa artesanal comercial, a imprensa de opinião e a imprensa comercial desenvolvida. Por meio dessa análise, Habermas (1984) sustenta a submissão do jornalismo à atividade comercial e ao capitalismo. Abordando os jornais como empresas capitalistas que fun-cionam segundo o critério do lucro. Ciro Marcondes Filho (2009 apud, GENRO FI-LHO, 1987), seguindo a linha de Habermas (1984), também reduz a imprensa inteira-mente ao capitalismo, o jornalismo à empresa e a notícia à mercadoria. Segundo Genro Filho (1987), a análise de Habermas não percebe um movimento efetivo de superação dialética. Na terceira fase do desenvolvimento do jornalismo, já nos moldes atuais, há

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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJOR) FIAM-FAAM / Anhembi Morumbi – São Paulo – 7 a 9 de Novembro de 2018 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 4 uma constituição de uma nova necessidade. O jornalismo não se trata mais de uma questão exclusivamente econômica ou política, como nas fases anteriores, mas de uma sociedade cuja novas relações sociais decorrentes do movimento político e econômico carecem de informações de natureza jornalística.

De acordo com Genro Filho (1987), esse tipo de pensamento salta à generalidade abstrata, pois, embora o fenômeno jornalístico seja um “filho” do capitalismo, sua es-sência transcende a essa forma de produção econômica. O jornalismo é a modalidade de informação que surge nos meios de comunicação para suprir as necessidades histórico-sociais que expressam uma ambivalência entre a particularidade dos interesses burgue-ses e a universalidade do corpo social em seu desenvolvimento histórico. Isso gera uma nova forma de conhecimento em que apresenta a realidade social pelo aspecto da singu-laridade.

2.1 O jornalismo como forma social de conhecimento

O desenvolvimento das relações mercantis e a expansão do modo de produção capitalista são a base do processo histórico do fenômeno jornalístico. É diante do novo mundo governado por um sistema universal e dinâmico que o jornalismo se torna uma necessidade. “Era preciso que o mundo se tornasse único, interligado e dinâmico, para que surgisse a necessidade de que as pessoas se relacionassem com este mundo, de al-guma forma semelhante à maneira como elas se relacionam pessoalmente com seus acontecimentos do dia a dia” (GENRO FILHO, 1996, p.8). Genro Filho (1987) faz uma importante distinção entre a imprensa e o jornalismo. A primeira seria o corpo material, a processualidade técnica, o modelo industrial ao qual se produz a notícia. Já o jorna-lismo, por conseguinte, embora surja nessa materialidade de produção, busca suprir as necessidades histórisociais de comunicação, gerando uma nova forma social de co-nhecimento.

O autor propõe uma crítica ontológica às principais tentativas de abordagem so-bre o fenômeno jornalístico, com seus diversos enfoques - funcionalista, ideológico, econômico - demonstrando a falência desses estudos ao analisar o jornalismo somente

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Acontece que, por trás dessa técnica, não existe apenas uma visão equivocada que supõe a possibilidade de um conhecimento puramente objetivo, mas so-bretudo um processo histórico de constituição de uma necessidade social qua-litativamente nova- a necessidade da informação de caráter jornalístico. Uma nova forma de conhecimento social cristalizado no singular, que implica uma radical integração da totalidade social, um novo dinamismo e a atividade dos sujeitos individuais e particulares como constitutiva dessa totalidade (GEN-RO FILHO, 1987, n.p).

O jornalismo como forma social de conhecimento, e não apenas um meio de comunicação, exige um aprofundamento do conteúdo e um sujeito coletivo que o pro-duza diante de uma perspectiva epistemológica mais ampla, crítica e com maior rigor. Capaz de mobilizar uma compreensão conectada com a singularidade dos fatos, a histo-ricidade humana, a realidade social e suas contradições.

Genro Filho (1996), partindo do conceito de jornalismo como forma social de conhecimento, apoia-se nas categorias hegelianas para definir as especificidades do jor-nalismo. Essas categorias, conhecidas como singularidade, particularidade e universali-dade, são conceitos lógicos que representam aspectos objetivos da existência das coisas no mundo. Cada um desses conceitos é uma expressão das diferentes dimensões que compõe o real. Em cada uma dessas dimensões -categorias- as demais estão presentes de forma subjacente, como se fossem dissolvidas umas nas outras. O singular é aquilo que não se repete, aquilo que é idêntico só a si mesmo. O particular é um ponto inter-mediário entre o singular e o universal, ele se refere a grupos como família, religião, classe social. Tudo aquilo que é organizado em conjunto. E no universal estão contidos e dissolvidos os fenômenos singulares e os grupos particulares que o compõem.

Podemos exemplificar isso da seguinte forma: em cada homem singularmen-te considerado estão presensingularmen-tes aspectos universais do gênero humano que dão conta da sua identidade com todos os demais: na ideia universal de gênero humano, por outro lado, estão presentes – como se “dissolvidos” – todos os indivíduos singulares que o constituem; o particular, então, pode ser a famí-lia, um grupo, uma classe social ou a nação à qual o indivíduo pertença. O particular é mais amplo que o singular, mas não chega ao universal. Podemos dizer que ele mantém algo dos extremos, mas fica situado logicamente a meio caminho entre eles. (GENRO FILHO, 1987, n.p).

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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJOR) FIAM-FAAM / Anhembi Morumbi – São Paulo – 7 a 9 de Novembro de 2018 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 6 Então, servindo-se dessas relações como base teórica, Genro Filho (1987) diz que a força do jornalismo é atuar como uma forma social de conhecimento cristalizada no singular. Isso significa dizer que a imediaticidade do real é o ponto de chegada do jornalismo, e não de partida. Os critérios jornalísticos apontam para a reconstrução de um evento pelo ângulo de sua singularidade buscando uma compreensão de forma mais legítima da realidade. O singular é o que dá vida à notícia, sua matéria prima. O univer-sal, subtendido e não explicitado, está presente convergindo junto ao particular no hori-zonte do texto, contextualizando e demonstrando as contradições que permeiam o singu-lar. O singular precisa ser confrontado com o contexto, com a totalidade histórica- soci-al e, por isso, a atividade jornsoci-alística deve ser norteada pelo pensamento crítico. “A singularidade tende a ser crítica porque ela é a realidade transbordando do conceito, a realidade se recriando e se diferenciando de si mesma” (GENRO FILHO, 1987, p. 212 apud MEDITSCH, 1997, p. 9).

Eduardo Meditsch (1997), assim como Genro Filho (1987), também diz que a força do jornalismo enquanto conhecimento está na revelação do fato em sua singulari-dade passando por suas particularisingulari-dades e universalisingulari-dades. Meditsch (1997), com base nas críticas do parâmetro científico, defende a hipótese de que o jornalismo produz e reproduz conhecimentos de forma válida e útil, assim como também pode contribuir para a degradação de saberes. O jornalismo, instrumento frágil enquanto método analíti-co e demonstrativo, não revela mal nem menos do que a ciência, ele simplesmente apre-senta a realidade de forma diferente. Podendo abranger aspectos do mundo real que os outros tipos de conhecimento não conseguem revelar. O autor aponta ainda que uma das justificativas sociais do fenômeno jornalístico que o difere das demais ciências é a capa-cidade de manter a comunicabilidade entre os diferentes públicos.

2.2 A construção do jornalismo- Valores-notícia e o Newsmaking

O acontecimento é o ponto de partida para entender o processo de construção da notícia. Assim como o jornalismo tem sua essência no singular, a notícia tem sua essên-cia no acontecimento. São os fatos jornalísticos que constituem a menor unidade de sig-nificação. Segundo Genro Filho (1987), existe um fluxo contínuo e objetivo na realida-de, de onde os fatos são percebidos, recortados e construídos obedecendo a

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determina- SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJOR) FIAM-FAAM / Anhembi Morumbi – São Paulo – 7 a 9 de Novembro de 2018 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 7 ções ao mesmo tempo objetivas e subjetivas. Isto é, a seleção e a construção dos fatos permitem uma margem à subjetividade embora limitada pela objetividade. A objetivi-dade oferece uma varieobjetivi-dade de aspectos, dimensões, nuances e combinações possíveis para serem selecionadas.

Alsina (2009), assim como Genro Filho, também destaca as determinações sub-jetivas e obsub-jetivas na construção da notícia diante da leitura da realidade. Isso porque não existe uma leitura descontextualizada e que não esteja objetivada. Os acontecimen-tos são externos aos sujeiacontecimen-tos embora sejam reconhecidos e construídos por ele. “A pro-dução da notícia é um processo complexo que se inicia com um acontecimento. Mas não precisamos entender esse acontecimento como algo alheio à construção social da realidade por parte do sujeito” (ALSINA, 2009, p. 113). Segundo o autor, o aconteci-mento é um fenômeno social e está determinado histórica e culturalmente. Cada sistema vai concretizar quais são os fenômenos que merecem ser considerados como aconteci-mentos e quais passam despercebidos. “O que um indivíduo escolhe, mesmo se for consciente ou inconscientemente, é o que vai fornecer a estrutura e o significado ao seu mundo” (HALL, 1978, p. 83 apud ALSINA, 2009, p. 115).

Outro fator apontado por Alsina (2009) ligado ao acontecimento é a transcen-dência social. O autor cita Sierra Bravo (1984):

Podemos entender como acontecimentos sociais os fatos de transcendência social que acontecem num determinado momento. Se diferenciam, então, dos acontecimentos em geral, no sentido da necessidade de apresentarem uma transcendência social (SIERRA BRAVO, 1984, p. 197 apud ALSINA, 2009, p. 116).

De acordo Alsina (2009), não há uma definição exata do significado da trans-cendência social, embora ressalte que ela pode se dar por meio do sujeito protagonista do acontecimento ou pelo objeto do desenvolvimento do acontecimento. O autor tam-bém diz que um dos elementos necessários para a construção da notícia é a sua publica-ção. Se o fato não for transmitido para o público, esse fato não poderá ser considerado como um acontecimento com transcendência social. Há uma diferença entre aconteci-mento e notícia, segundo Alsina (2009). O aconteciaconteci-mento é a mensagem recebida, en-quanto a notícia é a mensagem emitida. Nem sempre o acontecimento vai ser notícia em todos os lugares do mundo, isso vai depender do grau de importância que a sociedade dará a ele.

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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJOR) FIAM-FAAM / Anhembi Morumbi – São Paulo – 7 a 9 de Novembro de 2018 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 8 Partindo do pressuposto de que o acontecimento jornalístico é toda variação co-municada do ecossistema, Alsina (2009) estabelece três elementos como essenciais para o acontecimento. A variação do ecossistema, a comunicabilidade do fato e a implicação dos sujeitos. O primeiro elemento destaca as normas do ecossistema como ponto de referência para estabelecer a existência dos acontecimentos, isso porque a partir de uma variação no ecossistema supõe-se que houve uma ruptura da normalidade. Porém, essa ruptura necessita de alguns critérios para possivelmente serem considerados um aconte-cimento. Como, por exemplo, ela precisa ter um início e um fim, pois um fato que dure excessivamente no tempo perderá sua categoria de acontecimento. Outro critério é o seu grau de repercussão e também a sua espetaculosidade, um acontecimento tem que ser extraordinário, romper com a normalidade. Outra característica de um possível aconte-cimento é a sua imprevisibilidade.

O segundo elemento destacado pelo autor é a comunicabilidade do fato. Quando se trata de um acontecimento jornalístico sua comunicabilidade é a condição essencial para sua existência. Um fato comunicável está interligado com a sua publicidade em relação ao receptor. Isto é, o que não é comunicável não se pública, portanto, deixa de ser um acontecimento para a mídia e para o público. O autor aponta que existem aconte-cimentos que se impõem no próprio sistema de comunicação institucionalizado, por possuir uma determinada característica. “O acontecimento-notícia tem como caracterís-tica a de ser algo repetitivo. Portanto, quando um acontecimento é, ao mesmo tempo, transmitido como notícia por um grande conjunto de meios de comunicação, podemos valorizar claramente sua transcendência social” (ALSINA, 2009, p. 146).

Alsina (2009) também pontua que às vezes a mídia confunde o interessante com o importante. Nem sempre o interessante é importante e vice-versa. O importante é aquilo que afeta a vida do dia a dia das pessoas e que terá consequências ao longo do tempo, embora, se saiba que a importância dada a um acontecimento depende de cada sujeito.

O terceiro elemento é a implicação dos sujeitos. Para Alsina (2009), todo o ato de comunicação é direcionado para atingir o destinatário e, para isso, é preciso que os sujeitos se sintam implicados nas mensagens. Cada acontecimento-notícia vai ter um grau específico de implicação. Podendo atingir de forma direta, indireta, ou não atingir

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A teoria do agendamento, citada por Alsina (2009), foi definida pela capacidade dos meios de comunicação de massa em pautar determinados temas que serão discuti-dos pelo público. Esse estudo teve início com uma pesquisa realizada no final do ano de 1960 por Maxwell McCombs e Donald L. Shaw, dois jovens professores de Comunica-ção da Universidade da Carolina do Norte, que tinham como objetivo verificar a hipóte-se de que os mass media influenciavam a percepção dos eleitores no que diz respeito aos temas mais importantes para o país.

Em relação à seleção dos acontecimentos, assim como Alsina, Traquina (2004) também apresenta critérios de seleção e construção da notícia, conhecidos como valo-res-notícia. “Os valores-notícia são um importante elemento de interação jornalística e constituem referências claras e disponíveis a conhecimentos práticos sobre a natureza e os objetos das notícias, referências essas que podem ser utilizadas para facilitar a com-plexa e rápida elaboração das notícias” (GOLDING E ELLIOTT, 1978, apud TRA-QUINA, 2004, p. 62).

Traquina (2004) apresenta uma distinção entre os valores-notícia de seleção e os valores-notícia de construção. Segundo ele, os valores-notícia de seleção referem-se às características do próprio acontecimento, e estes se dividem em dois subgrupos: crité-rios substantivos, que avaliam o acontecimento em relação a sua importância ou interes-se como notícia; e os critérios contextuais que dizem respeito ao contexto de produção da notícia. Por valores-notícia de construção entendem-se as qualidades da sua constru-ção como notícia, critérios que guiam a apresentaconstru-ção do acontecimento, sugerindo o que deve ser evidenciado, o que deve ser omitido e o que deve ser prioritário na sua elabora-ção.

Segundo Wolf (2012), o rigor dos valores-notícia não é o de uma classificação abstrata, mas de uma lógica prática de tipificação dos fatos que serve como parâmetro na seleção dos acontecimentos. Os valores-notícia agilizam o trabalho de escolha dos fenômenos e permitem uma repetição do procedimento jornalístico. Porém, Wolf aponta que o processo de seleção não pode ser entendido como uma escolha rígida, sem

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mar- SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJOR) FIAM-FAAM / Anhembi Morumbi – São Paulo – 7 a 9 de Novembro de 2018 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 10 gens, vinculadas a critérios fixos. Ainda que haja uma tipificação do material, a constru-ção noticiosa envolve uma relaconstru-ção de múltiplos fatores. O autor ressalta também a natu-reza dinâmica dos valores-notícia que se alteram no tempo e dentro da cultura profissio-nal.

A base da teoria da sociologia dos emissores de Wolf (2012), compreende que o jornalismo trabalha com fatos que tenham grande importância para a sociedade. A transmissão da informação jornalística está subordinada a um processo de transforma-ção dos fatos em notícias, procedimento que é realizado por profissionais da área do jornalismo. “Como toda outra forma de conhecimento, aquela que é produzida pelo Jor-nalismo será sempre condicionada histórica e culturalmente por seu contexto e subjeti-vamente por aqueles que participam desta produção. Estará também condicionada pela maneira particular como é produzida”(MEDITSCH, 1997, p. 10).

Os aparatos de informação têm como função primordial tornar possível o reco-nhecimento de um evento noticiável a partir da seleção dos acontecimentos mais signi-ficativos. Esse objetivo, segundo Wolf (2012), é dificultado devido à uma característica ulterior dos acontecimentos, isto é, cada um deles podem reivindicar ser os únicos, exi-gindo ser selecionados.

O objetivo declarado de cada aparato de informação é o de fornecer relatórios dos acontecimentos significativos e interessantes. Mesmo em se tratando evi-dentemente de um propósito claro, como muitos outros fenômenos simples em aparência, esse objetivo é inextricavelmente complexo (TUCHMAN, 1977, p. 45 apud WOLF, 2012, p. 194).

Diante o processo de construção da notícia, inúmeras mediações condicionam o modo como o jornalismo cria e processa as informações. Diferentemente da teoria do

gatekeeper (Guardião do portão) que privilegia a ação pessoal do profissional na seleção

e construção da notícia, o newsmaking aponta para os fatores externos como os aspectos sociais e culturais que determinam essa prática. Segundo Wolf (2012), a teoria do

newsmaking, se articula principalmente em dois binários: A cultura profissional dos

jornalistas e a organização do trabalho e dos processos de produção. Wolf cita Garbari-no (1982):

[A cultura profissional é entendida como] um emaranhado inextricável de re-tóricas de fachada e astúcias táticas, de códigos, de estereótipos, símbolos, padronizações latentes, representações de papéis, rituais e convenções,

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relati- SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJOR) FIAM-FAAM / Anhembi Morumbi – São Paulo – 7 a 9 de Novembro de 2018 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 11 vos às funções da mídia e dos jornalistas na sociedade, à concepção do pro-duto-notícia e às modalidades que controlam a sua confecção [...] (GARBA-RINO, 1982, p. 10 apud WOLF, 2012, p.195).

De acordo Garbarino (1982 apud WOLF, 2012), as restrições ligadas à organiza-ção do trabalho, sobre as quais se constroem convenções profissionais, são as responsá-veis por determinar a definição de notícia, legitimar todo o processo de produção e con-tribuir para prevenir as críticas do público. Determina-se, assim, um conjunto de crité-rios de relevância, que definem a noticiabilidade de cada evento, isto é, a sua capacida-de em ser transformado em notícia. É o entrelaçamento entre as características da orga-nização de trabalho e os elementos da cultura profissional que definem as características que os eventos devem possuir. “Pode-se dizer também que a noticiabilidade correspon-de ao conjunto correspon-de critérios, operações e instrumentos com os quais os aparatos correspon-de in-formação enfrentam a tarefa de escolher cotidianamente, de um número imprevisível de acontecimentos, uma quantidade finita e tendencialmente estável de notícias” (WOLF, 2012, p. 196).

Segundo Meditsh (1997), o conhecimento produzido pelo jornalismo tem seus próprios limites lógicos e uma série de problemas estruturais. Essa forma de conheci-mento sempre estará condicionada por inúmeras mediações, desde o modo particular como os jornalistas veem o mundo, passando pelos os objetivos, a estrutura e a rotina das organizações que eles trabalham, as condições técnicas e econômicas, o jogo de poder e os conflitos de interesses que estão implicados na circulação social das informa-ções.

Um dos seus principais problemas do Jornalismo como modo de conheci-mento é a falta de transparência destes condicionantes. A notícia é apresenta-da ao público como sendo a realiapresenta-dade e, mesmo que o público perceba que se trata apenas de uma versão da realidade, dificilmente terá acesso aos critérios de decisão que orientaram a equipe de jornalistas para construí-la, e muito menos ao que foi relegado e omitido por estes critérios, profissionais ou não (MEDITSCH, 1997, p. 10).

3. Considerações finais

Após o estudo teórico por meio de importantes autores como Adelmo Genro Fi-lho (1987), Nelson Traquina (2004), Miguel Rodrigo Alsina (2009) e Mauro Wolf (2012), abordando o ser, o saber e o fazer jornalístico e toda a complexidade de sua

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O jornalismo como forma de conhecimento demanda um saber e fazer específico resultante de um rigoroso processo de seleção dos acontecimentos, de apuração com fontes e dados, de edição com a escolha dos conteúdos mais importantes e publicização nas diferentes plataformas, ou seja, um processo subordinado por normas e procedimen-tos técnicos.

O jornalismo nasceu com base no desenvolvimento das relações capitalista como uma ferramenta reprodutora da ideologia burguesa dominante, mas sua essência trans-cende esse limite. Esse instrumento conquista uma nova posição diante a sociedade que necessita de informações de caráter jornalístico. Ele dá voz aos diferentes públicos e dá voz a quem não tem voz. O papel do jornalismo na sociedade é promover a interação do mundo. Essa interação acontece por meio da veiculação da notícia, que tem sua essência no singular que se confronta com a particularidade e a universalidade.

4. Referências bibliográficas

ALSINA, Miquel Rodrigo. A construção da notícia. Petrópolis: Vozes, 2009.

GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo. Porto Alegre: Tchê, 1987.

_________. Teoria do Jornalismo - Palestra de Adelmo Genro Filho: Jornalismo já tem a sua teoria (1987). Revista da Fenaj. Ano I, nº 1. Brasília, maio de 1996. Disponível em:

<http://www.danielherz.com.br/system/files/acervo/ADELMO/Palestras/Jornalismo+Ja+Tem+S ua+Teoria.pdf>.

MEDITSCH, Eduardo. O jornalismo é uma forma de conhecimento? Santa Catarina, 1997. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/meditsch-eduardo-jornalismo-conhecimento.pdf>. Acessoem 20 jan. 2017.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo I: Porque as notícias são como são. Santa Catari-na: Editora Insular, 2004.

WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. Martins Fontes. São Paulo, 2012, p.181 a 203.

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SOUZA, Rafael Bellan Rodrigues. A atualidade do jornalismo como forma social de conhe-cimento: ampliando o rigor intelectual da práxis noticiosa. XIV Congresso de Ciências da Co-municação na Região Norte. Manaus- AM, 2015.

Referências

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