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INSTITUTO ÁGORA DÊNISON GLEISON MARTINS DA SILVA ANTROPOLOGIA CULTURAL

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Academic year: 2021

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INSTITUTO ÁGORA

DÊNISON GLEISON MARTINS DA SILVA

ANTROPOLOGIA CULTURAL

CAMPOS - RIO DE JANEIRO

2017

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DÊNISON GLEISON MARTINS DA SILVA

O surgimento da filosofia

Resenha desenvolvida durante o Módulo II

do Curso de Proficiência Filosófica como parte

da avaliação referente ao módulo em questão

Prof.

a

: Janaina Gonçalves Ribeiro

CAMPOS - RIO DE JANEIRO

2017


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A antropologia cultural, grosso modo, estuda a relação entre as pessoas humanas e o ambiente nos quais estas vivem. Em outros termos, a relação entre o homem e a cultura. Sem exaurir as diversas perspectivas segundo às quais tal relação pode ser considerada, parece que pelo menos três estão presentes nas linhas de pesquisa dos antropólogos culturais e devem ser consideradas no presente trabalho. Em seguida, analisar-se-á cada uma delas.

O primeiro modelo de cultura a ser considerado pode ser chamado de perceptivo. Todo indivíduo se encontra em uma determinada situação com outros indivíduos. Trata-se de uma experiência individual que deve ser afrontada desde dentro de um contexto social ou comunitário. Para conviverem, as pessoas constroem, com condições antropológicas e clima diversos, uma estrutura organizacional que reflete modos, costumes, práticas cultuais ou religiosas, etc.. Estabelecem-se laços dos quais derivam grupos com uma forte identidade que, na maioria das vezes, se relacionam também com outros grupos. Trata-se de uma exigência da organização social, em um determinado ambiente. Todavia, a cultura é simplesmente vivida, sem que a gênese da formação das relações humanas que lhe são próprias seja problematizada.

Há também uma perspectiva avaliativa da cultura. Esta exige uma fase de maior reflexão no confronto daquele modelo imediato-perceptivo. Os membros de uma civilização, povo, comunidade, sociedade, tribo, etc., reconhecem a própria identidade cultural. Mas quando um grupo cultural entra em contato com outro ou até mesmo diferentes grupos são confrontados pelo antropólogo, surgem inúmeras questões que o homem comum não tomava como objeto de análise. Por exemplo, pergunta-se: se um comportamento pode ser identificado como positivo, negativo ou neutro, quais são os valores implicados nele? Uma outra questão também se impõe com toda a sua força: a humanidade possui valores compartilhados? Percebe-se que é neste âmbito que a relação homem-cultura é posta como objeto de análise e é tomada na sua relevância pela reflexão filosófica. Por fim, a cultura pode ser observada enquanto um determinado modelo de ação ou comportamento. É também definitivamente um âmbito de investigação filosófica. Quando homens e mulheres começam a analisar as regras culturais, às quais obedecem, eles criam contextos diversos de percepção das relações humanas e da organização social. Este processo é determinante para que se criem e se firmem culturas diversas, com características bem marcadas que as distinguem entre si. Um determinado comportamento, em um contexto existencial delimitado, é parte integrante de uma cultura. Por isto, a mudança em um certo modo de agir, é causa de novos elementos culturais.

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De qualquer forma, uma cultura pode ser julgada somente do seu interno, qualquer que seja a perspectiva usada para avaliá-la. Se se toma em consideração as avaliações acerca das colonizações nos continentes africano e americano, perceber-se-á que muitos dos relatos foram feitos desde o externo pelos seus colonizadores. Em um mundo euro-cêntrico, os critérios avaliativos usados para identificar o valor de uma cultura não se encontravam em conformidade com os novos costumes, línguas, comportamento, etc., de povos milenares “descobertos” pelos homens do velho continente. Hoje, pode-se afirmar sem equívoco que há inúmeras culturas, costumes e línguas , distintos entre si e com um valor próprio.

Neste sentido, o antropólogo cultural procura estudar o vínculo existente entre a linguística, psicologia e antropologia, para colher os fatores determinantes de cada uma delas na formação e identificação de uma cultura determinada. Filósofos como Jhon Locke perceberam que mudando o ambiente geográfico, alterava-se também o comportamento humano. Gian Battista Vico, por sua vez, defendia que a única coisa que o homem produz verdadeiramente é a história e a cultura e que, portanto, não pode conhecer nada que esteja além deste âmbito do conhecimento. Karl Marx, por sua vez, colocou o homem no centro do próprio agir e fundamento de si mesmo. O homem passou a ser raiz de si mesmo e a viver a plenitude ética em referência a si mesmo. A perspectiva marxista, desapareceu com Deus e, deste modo, alguns valores passaram a ser medidos somente a partir do homem e da sua produção (mundo econômico). Enfim, basta a consideração da inteira história da filosofia, para que se evidencie que o estudo filosófico sobre o comportamento humano, a partir da análise da interação entre o homem e a cultura, foi tomando forma até se consolidar como uma disciplina própria no novecentos.

A pergunta sobre qual é a cultura melhor para se desenvolver em plenitude o homem, realizando e atualizando as suas capacidades, passa a acompanhar fortemente a reflexão humana. Neste sentido, o homem passa a ser apreciado como eixo (medida de si mesmo) entre dois conceitos que orbitam o seu universo existencial, a saber: Deus (a potência divina) e o Mundo (cultura). Confrontando-se com estes dois objetos, que abrangem tanto a esfera mistérica-religiosa como a do domínio-produção, o homem reage, produzindo cultura. O antropólogo cultural é chamado a observar as outras culturas sem partir de uma pré-compreensão da própria cultura, tida muitas vezes como superior às outras. A pré-compreensão é inevitável, mas pode-se não dar demasiado valor à ela. A cultura observada deve ser vista como um sistema de símbolos ricos, não inferiores, mas

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diversos. Deve buscar a compreensão do sistema lógico de cada cultura, tornando-a objetiva, através do estudo dos elementos que a integram, como a arte, a religião e a magia.

O homem reage às necessidades da sua natureza construindo cultura. Ele, por exemplo, escolhe como se comportar diante de uma dada situação. Essa e outras escolhas passam a criar uma forma de conhecimento acerca de certas situações. A cultura é produzida pela inteligência humana e depois influi sobre o homem mesmo. Do homem caçador-primitivo chegou-se ao homem-agricultor. Um casal de seres humanos uniu-se com outro casal e com outro, formando alguns clãs. O homem primitivo, por exemplo, começou a usar sons (linguagem) que facilitassem as suas caças. E assim por diante, a sociedade humana foi se ampliando e surgiu a exigência de se codificar e se organizar, segundo formas culturais. Pensa-se que ao decorrer da história, quase todas as vezes que o homem, conhecedor e agente, adquiriu uma técnica nova de produção, pôs-se a questão da norma moral, do seu uso, se fosse lícito ou menos. Bastam estes exemplos para se notar que a sociedade com certos símbolos (linguagem, rito, religião, arte, etc.) indica um conjunto de conteúdo simbólicos que permitem ao homem viver, organizar, projetar e tomar consciência diante da vida.

Nesta perspectiva, é interessante notar que o homem é o único ser que possui a capacidade de acrescentar algo ao seu “espaço de liberdade”. Ele possui a capacidade de ir além da própria natureza. A linguagem é um exemplo concreto disso. O homem não só possui um sistema de troca de informação — como no caso de alguns animais — mas constituem uma linguagem, da qual a informação é somente uma parte. A comunicação humana transmite conhecimento, sentimento. Através da língua, o homem é capaz de comunicar-se, de por-se em relação com o outro. Por meio dela, o ser humano consegue memorizar as suas produções e transmiti-las às futuras gerações. Sem sombras de dúvida, esta dimensão do humano é parte da identidade de uma certa cultura. Em outras palavras, se há uma linguagem precisa, há também sem dúvidas uma cultura correspondente.

Provavelmente por isto Bronislaw Malinowski defende que o homem cria cultura porque ela é essencial às suas necessidades. Não se trata daquelas necessidades primárias de sobrevivência, que são quase instintivas e tocam imediatamente o indivíduo. Trata-se de necessidades derivadas, fruto de uma elaboração racional superior, e dizem respeito à sociedade, à instituição, àquelas estruturas organizadas em conformidade a algumas leis. Estas necessidades constituem cultura. A codificação sócio-cultural é uma exigência que vai além da natureza humana do indivíduo singular. Toda sociedade é, de fato, organizada segundo uma estrutura constituída de símbolos, costume e moral que são transmitidos de pai para filhos através da educação e que podem se transformar em leis

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escritas, tabus (costumes que codificam um conjunto de lei social que determinam o uso correto da liberdade individual), etc. É na ruptura destes elementos e re-construção de novos, que surgem novas culturas.

A reflexão filosófica prepara as passagens entre as diversas formas culturais. Os filósofos possuem a capacidade de decifrar os sonhos existentes na coletividade social. Com efeito, estes procuram transmitir uma nova forma de cultura através dos mecanismos apropriados. Note-se, por exemplo, a função e a importância que a publicidade ocupa hoje na transmissão de cultura. Não se chega à ruptura de uma estrutura de sistema social, criando uma nova cultura com sistemas simbólicos, de um momento ao outro. Mas a mudança é preparada pela capacidade criativa do homem. Uma teoria não somente pode influir sobre uma sociedade, mas a sociedade pode reagir positiva ou negativamente a uma determinada teoria. Neste sentido, a cultura pode ser tanto preparada pela massa quanto por um único indivíduo que constrange as pessoas a mudarem o próprio comportamento cultural. Porém, isto somente é possível porque toda sociedade possui em si mecanismos que permitem alterações em respeito à necessidade humana de liberdade individual, uma certa elasticidade por exemplo nas normas morais.

De modo geral, a cultura inclui crenças, arte, moral, leis, costumes, capacidades e hábitos dos membros de uma determinada sociedade. A sua força decisiva se encontra na própria cultura e na sua história. Por muito tempo, pensou-se que o universo cultural humano fosse marcado unicamente por um determinismo biológico e geográfico. Mas como explicar, por exemplo, as distintas divisões de trabalho entre homens e mulheres? Tudo isto é fruto das diferentes culturas, isto é, as diferenças comportamentais entre os homens e os diversos grupos não são pautadas imediatamente pela genética ou localização geográfica. Definitivamente, não são as características biológicas a determinar a cultura. Mesmo pessoas que vivem em ambientes muito parecidos possuem comportamento muito distintos. Deste modo, percebe-se que o comportamento individual ou coletivo dependerá do aprendizado ou transmissão de um conteúdo cultural. Em certo sentido, o homem é um produto ou resultado do meio no qual foi criado, educado e socializado.

Com efeito, a natureza e a cultura não dão saltos qualitativos. As rupturas e continuidades culturais dependem das diversas formas de comunicação ou transmissão do conhecimento adquirido. Portanto, os valores de uma cultura são firmados a partir da linguagem, da comunicação. Alguns comportamentos humanos são compartilhados e replicados em sociedade, de modo tal que as diferenças culturais vão se consolidando ao decorrer do tempo. Pode ocorrer mudanças culturais

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por fatores internos a uma cultura mesma ou por fatores externos, como é o caso do encontro entre diversos sistemas culturais. Em outros termos, há uma teoria e uma práxis organizacional das quais emergem um comportamento normativo, alguns símbolos e signos que visam a adaptação a um certo ambiente, componentes ideológicos que se identificam com a religião, os mitos e os ritos, etc. Assim sendo, as mais variadas visões de mundo também dependem da cultura através da qual uma pessoa julga a realidade ao seu redor.

O grupo infere sobre o comportamento individual enquanto este consegue interferir na atitude individual de seus membros. O homem é um ser predominantemente cultural, porque é capaz de superar os limites impostos pelo espaço e pelo tempo e até mesmo por sua própria natureza. Neste sentido, a cultura também é um meio de adaptação do homem ao ambiente no qual vive. Se a cultura pode ser identificada com um “sistema simbólico”, a natureza humana também não pode que ser amparada por um “sistema cultural”. A chave de leitura da antropologia cultural será sempre natureza humana-cultura. O homem é filho da sua cultura, mas ele mesmo é também criador da sua cultura. Trata-se de um círculo não resolvido e que move e inspira as reflexões antropológicas acerca da cultura. Enfim, conclui-se que o homem nasce com uma natureza, mas cresce e se desenvolve como cultura, que enquanto tal está em contínua expansão.

Referências

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