• Nenhum resultado encontrado

A LIBERDADE COMO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DO HOMEM

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A LIBERDADE COMO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DO HOMEM"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

A LIBERDADE COMO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DO HOMEM

Gabriel Donato Pinheiro Gonçalves

Estudante do ensino médio – Colégio Senhora de Fátima gabrieldonatopg@gmail.com

RESUMO: Este trabalho concentra-se primordialmente na ideia do Além-do-Homem nietzschiano; desta forma, faz-se uma análise filosófica dos conceitos de dois pensadores (Karl Marx e Carl Jung) e, assim, tira conclusões acerca de percepções sociais e políticas. Por fim, a ideia fundamental deste artigo é mostrar, com uma linha de raciocínio alicerçada na liberdade, de que maneira o homem pode chegar cada vez mais perto de seu âmago e, assim, tornar-se Super-Homem perpetuado na existência.

PALAVRAS-CHAVE: Übermensch1, liberdade, homem livre, individualidade.

Um ensaio aberto sobre a natureza livre do ser humano

―Grande, no homem, é ele ser uma ponte e não um objetivo: o que pode ser amado, no homem, é ser ele uma passagem e um declínio.‖ —Friedrich Nietzsche, em ‗Assim Falou Zaratustra‘

O Além-do-Homem ensinado por Zaratustra, criado pelo filósofo Friedrich Nietzsche, é um ser que transvalorou seus valores, foi além do certo e do errado, do bem e do mal. Ele ultrapassou toda e qualquer variação do significado de moral, com sua vontade de potência e poder explorada à última instância. É aquele que teve a capacidade de se desenvolver em sua essência e que exemplificou, assim, a famosa sentença de Píndaro: ―Torna-te o que tu és‖.

Muitas vezes interpretações questionáveis – ou que não se sustentam diante de uma análise epistemológica – de Nietzsche são tidas como influências políticas, ideológicas ou, até mesmo, são comparações a outros filósofos e entendimentos

1Conceito de Nietzsche em uma palavra alemã (seu idioma) que significa ―Além-do-Homem‖ ou

(2)

que podem levar a equívocos de sua obra. Entretanto, tentarei mostrar no presente artigo, de uma forma que pretendo sólida e sóbria, como especialmente algumas ideias de um filósofo do século XIX – Karl Marx – e de um psicólogo do século XX – Carl Gustav Jung – se antagonizam e se complementam, respectivamente, com a obra de Friedrich Nietzsche.

Começarei, portanto, falando de uma das relações questionáveis que se pode fazer quanto a seus trabalhos: sua junção com a obra de Karl Marx. Peguemos um excerto do livro O que é comunismo, do autor Arnaldo Spindel, no qual ele faz uma interpretação discutível da obra de Marx: ―...Marx percebia que a exploração à qual era submetida a maioria dos cidadãos não permitia a eles conseguir um desenvolvimento completo de suas personalidades‖. De fato, muito bem posto; a liberdade é o alicerce principal para o desenvolvimento completo de qualquer homem. Contudo, mais a frente, na mesma obra, constava que Marx prezava por uma sociedade comunista; a única, segundo ele, capaz de propiciar ao homem o desenvolvimento pleno de suas potencialidades. Apesar de até Rosa Luxemburgo, uma das defensoras do marxismo, ter estabelecido em sua frase: ―Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres‖, seu pensamento se mostra equivocado pois, em uma sociedade comunista, onde há a igualdade entre seus cidadãos, o homem não tem como se sobressair perante os demais. Mesmo que os objetivos sejam iguais, a boa intencionalidade não muda o fato de que o fim depende sim dos meios. Os indivíduos são intrinsecamente desiguais e, caso política e socialmente limitados, não conseguem desenvolver suas potencialidades ao máximo pois, por mais diversas que sejam suas características, são forçados a permanecer em condições sociais e/ou econômicas iguais.

Não só isso, é fato que nenhum cidadão tem a mesma importância civil para a sociedade – alegação essa oriunda da Grécia Antiga, feita por Platão. Podemos mostrar com argumentos práticos que atribuir a mesma importância a diferentes tarefas desempenhadas no contexto social é insubsistente: por exemplo, na Alemanha, as lojas comerciais não têm vendedores. Por que motivo? É desnecessário. No entanto, não pode haver hospitais sem médicos, tampouco cidades sem hospitais – eles são de caráter insubstituível. Prova-se, assim, que as duas, por mais dignas profissões que sejam, não estão no mesmo patamar de

(3)

importância social, por uma simples questão de sobrevivência.

A própria beleza humana, caracterizada pela diferença entre os homens, é totalmente aniquilada em qualquer sociedade que não diferencie seus cidadãos. Aliás, a possibilidade de que indivíduos se diferenciem com suas idiossincrasias e habilidades é essencial, pois tão somente assim eles conseguem se tornar proeminentes em suas respectivas áreas de destaque, diante dos demais. Dessa forma, o que deve haver, sim, é uma equidade social e jurídica; é aquela sociedade em que é garantida equânime distribuição da justiça entre os cidadãos, pela determinação de que todos são iguais perante a lei. Além disso, é dever do Estado fornecer os subsídios necessários para que seus cidadãos possam ser julgados igualmente, por mais diferentes que sejam; ou seja, há de ser uma sociedade primordialmente liberal, na qual os seres apenas recebem as condições básicas de sobrevivência, para que depois possam viver sem grandes interferências do Estado. Voltando ao primeiro trecho do excerto, onde Marx dizia que, explorado, o homem não desenvolve suas potencialidades, devem ser explicados alguns conceitos. Quando o autor diz que ―Marx percebia a exploração à qual era submetida a maioria dos cidadãos‖, ele refere-se aos indivíduos alienados. Esses são definidos como os que formam o proletariado e não têm instrução, com sua capacidade econômica e ideológica limitada e formatada pelo meio. Para Marx, deveria haver uma revolução do proletariado para que esses cidadãos explorados se tornassem a classe dominante. Segundo ele, essa revolução do proletariado transformaria os alienados em seres autônomos, que se caracterizariam por serem indivíduos que sofrem pouca ou nenhuma influência do meio. Para ele, o primeiro passo para sair da alienação é o conhecimento (instrução), a fim de reconhecer que os explorados são os que detêm os meios de produção; logo, dever-se-ia formar uma conscientização política, econômica, histórica e social para, dessa forma, transformar-se em sujeito da história e sair da condição de alienado. Depois, tornar- se-ia em um ser autônomo, deixando de ser o explorado e, dessa forma, não mais sofrendo uma influência ideológica tão grande do meio; por conseguinte, lidar-se-ia melhor com a dependência das estruturas e conjunturas econômicas não só locais, como também globais.

(4)

exploração, limitando a liberdade, impede o indivíduo de se desenvolver plenamente, o valor argumentativo de sua obra teria subsistido até os dias de hoje. No entanto, por muita coisa ter mudado do século XIX até hoje (em fatores econômicos, por exemplo), é que muitos dos caminhos que ele apontou são hoje totalmente incongruentes e anacrônicos. Porém, abstraindo esse elemento subjetivo da obra de Marx, podemos falar que o indivíduo que, com a instrução, passa por um processo de redescoberta e não mais sofre tamanha influência social e ideológica da sociedade que o cerca, já é meio caminho andado para o Übermensch.

Ainda no fragmento sobre Marx, pode-se relacioná-lo também com uma teoria que Carl Gustav Jung postulara: chama-se individuação. A individuação consiste no processo pelo qual todos os indivíduos passam, onde o ser torna-se único e homogêneo, sendo ele mesmo em sua mais pura essência. Esse sistema se dá por uma espécie de maniqueísmo da psique, no qual há a interação de arquétipos como Ego2 e Self3, Persona4 e Sombra5, Animus6 e Anima7 etc. A individuação busca um desenvolvimento do Self, objetivando a união do consciente com o inconsciente e um equilíbrio dinâmico. É, além disso, um processo que continua se desenrolando – e se desenvolvendo – durante toda nossa vida, e que nos torna cada vez mais singulares.

Analisando essa última parte, podemos concluir outra vez que, apenas um processo espontâneo do corpo humano – ou melhor, da psique –, a individuação, mostra novamente que o comunismo há de ser uma sociedade insustentável, pois a natureza da singularidade humana jamais poderia ser dada dessa maneira.

No processo de individuação, quanto mais a frente estamos, com mais clareza conseguimos lidar com nossos debates interiores (relações entre os arquétipos opostos). Todos nós estamos nos individuando, sabendo disso ou não. Contudo, alguns indivíduos, que sabem usar a virtude para melhorarem o processo de individuação, conseguem tirar melhor proveito dele e, assim, tornam-se seres cada vez mais singulares e únicos. Logo, o ser individuado é inversamente

2 É o centro da parte consciente da psique. 3

É a soma do inconsciente com o consciente, o ―arquétipo central‖.

4

Espécie de ―máscara‖ que usamos para apresentar nossa personalidade ao mundo.

5 Parte do inconsciente que abriga o que foi reprimido da consciência. 6

(5)

proporcional à influência que sofre do meio, pois ele fica cada vez menos suscetível ao mundo objetivo que Jung põe em questão – assim, o processo de individuação é o rompimento do idealismo e a personificação do eu-interior. É o indivíduo que, dessa forma, conseguiu potencializar sua personalidade de uma forma que sofre pouca – ou nenhuma – influência emocional e cognitiva do meio; ou seja, é o indivíduo que se torna cada vez mais capaz em relação ao mundo objetivo.

Com o estudo da individuação, pode-se observar que esse processo natural do homem somente pode ser desenvolvido a sua capacidade máxima com liberdade. E, correlacionando essa ideia jungiana à filosofia política do iluminista inglês John Locke, do século XVII, conseguimos comprovar que ele de fato estava certo: o homem, quando nasce, tem direito inalienável à vida, à propriedade e à liberdade. Concluímos então que, deveras, o homem deve ter o direito primordial da liberdade, pois essa é uma condição essencial para o desenvolvimento de sua personalidade. Portanto, temos dessa forma mais um argumento contra uma sociedade totalmente igualitária: nela, o homem não teria o desenvolvimento de sua individualidade da maneira ideal, como proposto por Jung.

Contudo, antes de continuar, deve-se fazer uma ressalva quanto ao que foi abordado acima sobre a sociedade inteiramente igualitária: como ser humano, é de bom senso ser a favor de todos os cidadãos terem os direitos básicos como vida, liberdade e propriedade (aliados a demais direitos imprescindíveis como saúde, alimentação e educação). A crítica, todavia, se dá no contexto de uma sociedade em que tudo isso é formatado e liderado tão somente pelo Estado. Considero que este deva ter apenas a função de fornecer as condições básicas de sobrevivência para o ser humano, como saúde, segurança e educação, pois isso gera independência, e essa é outra característica essencial para a individuação.

Tendo em vista os conceitos expostos, percebe-se que o indivíduo que Marx chama de autônomo (o qual eu usei como recurso linguístico para falar do indivíduo que, com a instrução, passa por um processo de redescoberta e se torna menos vulnerável à influência coercitiva da sociedade na qual está inserido – e não se tratando, esta, de uma sociedade comunista) e que Jung diz estar num alto nível do processo de individuação, se complementam e se completam. Pela instrução e liberdade, os dois têm suas potencialidades ampliadas ao máximo sem sofrer – ou

(6)

sofrendo pouca – influência social, econômica, emocional e cognitiva do meio. Voltando à teoria inicial do artigo, conclui-se que o Além-do-Homem nietzschiano é o ser individuado de Jung junto com o autônomo que usei da teoria de Marx. É aquele que não mais sofre tamanha influência cognitiva, emocional, ideológica e econômica do meio. É o homem que, com liberdade máxima (o indivíduo autônomo de Marx que idealizei no artigo, o individuado de Jung e o Super-Homem de Nietzsche, são, sobretudo, indivíduos livres), transcendeu e foi além de seus valores e moral, e desenvolveu sua individualidade ao seu mais alto estágio, explorando sua vontade de potência e poder até sua suprema instância. Obteve, assim, a perpetuação do ser. Este pode, gloriosamente, declarar-se o indivíduo que alcançou o mais alto grau da condição de ser humano. Esse mesmo indivíduo pode contemplar a teoria do Eterno Retorno8 — uma das mais sábias ideias de Nietzsche — sem preocupações, visto que atingiu em vida seu máximo estágio como ser humano e viveria novamente quantas vezes fossem necessárias. Este é, portanto, o Super-Homem de Nietzsche, que está além do bem e do mal, e que superou sua condição de mero homem. É a idealização de ser humano que devemos levar para nossas vidas, em busca de nosso próprio Übermensch.

8

O Eterno Retorno é uma espécie de desafio ético formulado por Nietzsche; um resumo desse conceito filosófico pode ser encontrado na obra ‗A Gaia Ciência‘: "E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?".

(7)

REFERÊNCIAS

NIETZSCHE, Friedrich W. Assim Falou Zaratustra. Trad. Mário da Silva. 5a ed. São Paulo: Círculo do Livro S. A., 1986.

NIETZSCHE, Friedrich W. Ecce Homo. Trad. Marcelo Backes. Porto Alegre: L&PM, 2007.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Trad. Pietro Nassetti. 2a ed. São Paulo: Martin Claret, 2008.

SPINGEL, Arnaldo. O que é comunismo. São Paulo: Brasiliense, 1987. p.12, 13. JUNG, Carl Gustav. Tipos Psicológicos. Trad. Lúcia Mathilde Endlich Orth. 4a ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.

FORDHAM, Frieda. Introdução à Psicologia de Jung. Trad. Artur Parreira. São Paulo: Verbo, 1978.

MINOGUE, Kenneth. Liberalismo. In. Dicionário do Pensamento Social do Século XX, p.420-424. Trad. Álvaro Cabral; Eduardo Francisco Alves. São Paulo: Zahar, 1996.

Referências

Documentos relacionados

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

b) a compatibilidade da deficiência constatada com o exercício das atividades inerentes à função ao qual concorre, tendo por referência a descrição das atribuições

2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é avaliar o tratamento biológico anaeróbio de substrato sintético contendo feno!, sob condições mesofilicas, em um Reator

Nessa situação temos claramente a relação de tecnovívio apresentado por Dubatti (2012) operando, visto que nessa experiência ambos os atores tra- çam um diálogo que não se dá

Para preparar a pimenta branca, as espigas são colhidas quando os frutos apresentam a coloração amarelada ou vermelha. As espigas são colocadas em sacos de plástico trançado sem

We approached this by (i) identifying gene expression profiles and enrichment terms, and by searching for transcription factors in the derived regulatory pathways; and (ii)

O espólio conhecido é rico e variado e dele constam, além dos habituais fragmentos de ce- râmica comum da época romana, castreja e me- dieval, muitos outros elementos dos

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação