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OS REFLEXOS DO PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO ECONÔMICO BRASILEIRO

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OS REFLEXOS DO PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO ECONÔMICO BRASILEIRO

Fernando Campos Mesquita UNICAMP – fernandocmesquita@gmail.com

André Tosi Furtado UNICAMP – furtado@ige.unicamp.br

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste artigo é compreender sinteticamente as influências que o processo de reestruturação produtiva apresenta na dinâmica de organização do espaço econômico no Brasil, sobretudo ao que se refere ao espaço como meio para a localização da atividade industrial.

Para isso, realizamos uma abordagem do panorama histórico que definiu a dinâmica de organização espacial da economia brasileira entre 1930 e 1990, destacando quatro momentos: i) a revolução de 1930; ii) o Plano de Metas entre 1956-1960; e iii) o milagre econômico de 1967 a 1973; e iv) o processo desconcentração industrial de 1970 a 1985. Embora esses processos apresentem elementos distintos da reestruturação produtiva que ocorre a partir de 1990, os mesmos possibilitam a compreensão de como se formou a organização recente da economia no espaço nacional e do que alterou ao longo dos principais impactos das transformações econômicas.

De forma geral, consideramos que a dinâmica econômica de 1930 a 1990 definiram a organização do espaço brasileiro em um sistema produtivo em que as regiões periféricas são comandadas pela expansão industrial de São Paulo. Em decorrência do modelo dominante de industrialização por substituição de importações (TAVRARES, 1972), esse sistema funcionava de forma bastante autônoma e se fortaleceu com a integração do território nacional. Esse processo definiu um modelo de organização espacial onde a produção dos bens de maior valor agregado e de maior conteúdo tecnológico se concentrou em São Paulo

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e suas extensões territoriais, enquanto aos demais estados coube a especialização em bens complementares e de menor valor agregado e de menor dinamismo tecnológico.

Dessa forma, ao analisar o contexto da organização espacial definida pelo processo de reestruturação produtiva buscamos compreender até que ponto a organização do espaço nacional foi afetada por fatores “novos”, como se afirmaram a partir da abertura da economia brasileira? Ou, se novo modelo econômico constitui-se num reforço à dinâmica de organização estabelecida desde o início do Século XX?

A compreensão desse processo percorre dois momentos: 1) referente ao processo historio, onde abordamos as raízes da organização do espaço nacional e como se manifestou esse processo no âmbito nacional até 1990; e 2) a dinâmica da reestruturação produtiva e a organização recente do espaço econômico no país.

2. O PROCESSO HISTÓRICO-ESTRUTURAL DA DIVISÃO REGIONAL DO TRABALHO

A organização do espaço nacional encontra suas raízes no período primário-exportador, onde o elevado ritmo de crescimento da economia cafeeira em São Paulo permitiu a esse estado, em um primeiro momento, superar o Rio de Janeiro, até então o principal núcleo da economia brasileira, e, em um segundo momento, no decorrer do processo de industrialização, tornar-se o centro da acumulação de capital no país, passando a interferir diretamente na dinâmica produtiva das demais regiões.

A alteração estrutural na economia brasileira que transforma São Paulo de uma região com crescimento mais acelerado para o núcleo da acumulação de capital do país, ocorre com a crise de 1929, ou seja, quando o centro dinâmico da economia brasileira deixa de ser o setor externo, tornando-se a produção industrial destinada ao abastecimento do mercado interno (FURTADO, 2007). Nesse contexto, as industriais que destinavam sua produção ao abastecimento do mercado interno antes de 1930 são as menos afetadas, de forma que em curto prazo, não apenas recuperam os prejuízos ocasionados pela depressão, como passa a expandir suas atividades (FURTADO, 2007).

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Nesse contexto, o estado de São Paulo, por ser onde se concentrava grande parte da produção industrial brasileira, é naturalmente o principal beneficiado por essa dinâmica de acumulação. Nesse caso, conforme demonstra Rangel (1963, p.48), a tendência de um núcleo industrial no modo de produção capitalista é “a ampliação do seu raio de ação a tôda economia nacional, aproximando entre si as diferentes regiões, repetindo, em suma, em escala nacional, sua aventura transitoriamente regional”. De modo que a dinâmica de crescimento na periferia passa a se relacionar com os efeitos produzidos nessa parte do país.

É essa a dinâmica que define o processo de integração e organização do território nacional, onde as periferias diminuem ainda mais as suas possibilidades de diversificação e passam a se relacionar com os efeitos produzidos no centro do sistema. Nesse sentido, conforme demonstra Cano (1985, p.191),

ao integrar-se no mercado, com ausência de barreiras protecionistas, pode-se ganhar na competição de determinados produtos, mas não na de todos; participar do ‘mercado nacional aberto’ significa também ‘abrir o mercado regional’. Dessa forma, a integração proporcionaria efeitos de estímulo, de inibição ou bloqueio e, até mesmo, de destruição.

Resumidamente, Cano (1985), considera: i) os efeitos de estímulos, como aqueles que se manifestam em regiões com uma base de recursos naturais maiores que a de São Paulo, produzindo assim, bens complementares para economia central; ii) os efeitos de inibição ou bloqueio, como aqueles que podem atuar sobre bens produzidos na região, ou sobre os bens com potencial para iniciar uma produção, que não ocorre devido à preexistência desses setores no polo; e iii) os efeitos de destruição, que atuam tanto por meio da incapacidade de algumas economias periféricas competir com a industria de São Paulo, como pela dominação via acumulação de capital que a mesma impõe ao mercado nacional.

Esses efeitos caracterizam dinâmicas diferenciadas de crescimento na periferia, sendo o principal processo responsável pela organização do espaço econômico brasileiro.

Um reforço essencial a esse sistema ocorre com o Plano de Metas implantado em 1955 pelo governo de Juscelino Kubitschek. Esse período, conforme aponta Cardoso de Melo (1982, p.117) é responsável por estabelecer no país

um novo padrão de acumulação, que demarca uma nova fase, e as características da expansão delineiam um processo de um processo de

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industrialização pesada, porque este tipo de desenvolvimento implicou um crescimento acelerado da capacidade produtiva do setor de bens de produção e do setor de bens duráveis de consumo antes de qualquer expansão de seus mercados.

Nesse momento, o destino dos setores industriais mais complexos seria, naturalmente, a cidade de São Paulo, onde se apresentava as melhores condições para o desenvolvimento industrial, como: “maior ocorrência de economias de aglomeração e de outros fatores socioterritoriais relevantes para a localização industrial, e, ainda, com maiores e mais variadas centralidades”, o que reforçou sua situação de “maior centro de atração industrial do país”. (SAMPAIO, 2009, p.173)

Desse modo, ao longo desse período ocorre um impulso ao processo de concentração relativa da atividade industrial em São Paulo, que passa de 40,7% do VTI – Valor da Transformação Industrial em 1939 para 58,2% em 1970 (IBGE apud CANO, 2008). O mesmo acontece no âmbito estadual, onde a RMSP – Região Metropolitana de São Paulo, passa de 64,6% para 74,7% do VTI do estado (IBGE apud CANO, 2008). Em relação à RMSP cabe destacar que em 1970, mesmo com 0,1% da área total do país, essa parcela respondia por 43,5% do VTI nacional (IBGE apud CANO, 2008).

No entanto, é importante destacar que esses dados não estão relacionados, necessariamente, à estagnação da periferia nacional. O que marca esse processo é o crescimento mais intenso associado às estruturas produtivas que definem as regiões, ou seja, enquanto em São Paulo o crescimento foi sustentado pela produção industrial, sobretudo pelos setores de bens de consumo duráveis e bens de capital, na periferia, esse processo esteve associado, principalmente, à produção agropecuária e industrial de menor valor agregado. Desse modo, mesmo que as regiões periféricas tenham apresentado crescimento em termos absolutos, o que os dados revelam é uma perda de participação relativa.

Apoiado por fatores políticos e econômicos, esse quadro passa a se inverter a partir da década de 1970, quando a periferia começa a apresentar taxas de crescimento relativo maiores em comparação a São Paulo.

Esse período, que, grosso modo, se estende até 1985, é marcado pelo Regime Militar, por decisões centralizadas e pelo amplo papel do Estado como promotor do desenvolvimento regional, representando: i) a consolidação da indústria pesada no país

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(CANO, 2008); ii) o início um forte processo de desconcentração da atividade industrial, com um “esforço periférico de articulação ainda mais intenso” (CANO, 2008, p.42); iii) e a modificação da estrutura produtiva de um parcela da periferia nacional, absorvedora de indústrias provenientes do centro. Desse modo, entre 1970 a 1985, em comparação ao VTI do país: o Estado de São Paulo passa de 58,2% para 51,9%; e a RMSP passa de 43,5% para 29,4% (IBGE apud CANO, 2008).

A dinâmica espacial que caracteriza o processo de desconcentração entre 1970 e 1985 está associa a duas escalas espaciais, que estabelece relações diferencias de produção: i) a desconcentração do estado de São Paulo para o restante do Brasil; ii) a relação entre a RMSP com o interior paulista.

O primeiro ponto se refere aos grandes investimentos do governo federal nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Os exemplos mais claros são: a Zona Franca de Manaus, no estado do Amazonas, inaugurada em 1967; e o Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, de 1978; e os planos de modernização do cerrado no Centro-Oeste entre 1973 e 1985.

O segundo ponto refere-se ao processo de desconcentração no próprio estado de São Paulo, onde, conforme demonstra Furtado (1986, p.7) o interior paulista representa um “primeiro grau de ‘periferização’ do espaço econômico em relação ao centro econômico do País”. Essa dinâmica espacial, que privilegia o deslocamento da indústria no próprio estado de São Paulo está associada a fatores, em primeiro lugar, de ordem econômica, como: i) conjunto de infraestruturas do estado de São Paulo; ii) o elevado nível de vida desse estado em comparação ao restante do país; e iii) as transformações “nas relações de produção com a tendência à monetarização e à salarização da força de trabalho” (FURTADO, 1986, p.7); e, em segundo lugar, de ordem política, pois “enquanto o governo federal sob o discurso da descentralização industrial procurou dirigir a indústria para o Nordeste, o estadual procurou incentivar o deslocamento industrial para o interior do Estado” (LENCIONI, 1993, p.56), evitando medidas que estimulassem a descentralização industrial, sobretudo com o direcionamento de uma maior parcela de recursos para o interior do estado.

De forma geral, embora esse processo garanta um impulso ao crescimento da perifeira brasileira, não resulta numa alteração do modelo de organização do espaço. Nesse caso, como aponta Furtado (1986, p.8), o processo de “desconcentração relativa que surge

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não recoloca em questão o papel central da metrópole no processo de industrialização, mas significa um reescalonamento da relação de dominação do centro sobre a periferia, que passa a um nível superior”. Desse modo, o principal atributo do centro passa a ser “o alto padrão tecnológico incorporado no capital humano e em equipamentos” (FURTADO, 1986, p.8), que permite uma acumulação baseada na alta produtividade, não apenas na indústria, como na agricultura e nos serviços. Enquanto, a região periférica, embora consiga atrair indústrias, ao ser “excluída do movimento de modernização, ficaria com atividades de baixo nível tecnológico, exigindo a exploração de recursos naturais ou de trabalho desqualificado”, além das atividades do centro que estariam “em curso de desvalorização” (FURTADO, 1986, p.8).

Assim, de forma geral, os grandes impulsos que a economia brasileira recebeu a partir de 1930, com: i) o Plano de Metas em 1956; ii) o milagre econômico de 1967 a 1973; e iii) o processo de desconcentração industrial entre 1970 e 1985; não alteraram as estruturas econômicas que definiam o processo de organização da economia no país. Pelo contrário, o que ocorre em todos esses períodos é um reforço à própria centralidade de São Paulo, sendo as principais modificações limitadas à dinâmica e aos motivos que fazem dessa região se manter como o centro econômico do país.

É nesse contexto de organização do espaço econômico brasileiro, definido pelo maior crescimento da perifeira nacional, sem, contudo alterar a base estrutural estabelecida desde o início do século XX que se insere o processo de reestruturação produtiva no Brasil.

3. O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E A DINÂMICA DA ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇO ECONOMICO NO BRASIL

As mudanças na economia internacional durante o último quartel do século XX aceleram o ritmo de crescimento da reprodução do capital e de redução do tamanho do Estado. Nesse processo, o capital financeiro assume a supremacia no sistema econômico, o que, por sua vez, provoca uma série de desequilíbrios e instabilidades, sobretudo, nos países em desenvolvimento, onde os fatores especulativos são mais fáceis de ser executados (CAIADO; RIBEIRO; AMORIM, 2004).

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Inicia-se assim, no âmbito externo ao território brasileiro, um ataque ao modelo de Estado com características keynesianas e um incentivo ao retorno do setor estatal com atributos liberais (CAIADO; RIBEIRO; AMORIM, 2004). De acordo com Cano (1993 apud CAIADO; RIBEIRO; AMORIM, 2002, p.65), essa medida visava adequar o território para a implantação de um modelo econômico baseado: 1) na desregulamentação da relação capital-trabalho; 2) na redução das barreiras tarifárias, que garantia maior liberdade às competições comerciais; 3) na desregulação econômica, por meio de privatizações; 4) na liberalização dos fluxos de capitais estrangeiros; e 5) na reorientação do pagamento da divida externa e dos acordos internacionais.

No Brasil, os impactos desse processo se tornam mais nítidos no início dos anos de 1990 e se intensificam a partir de 1994. Nesse momento, segundo Caiado; Ribeiro; Amorim (2004, p.67), buscou demonstrar que o desenvolvimento econômico estava

indo em sentido contrário à história construída desde 1930, que sempre destacou o Estado como mecanismo articulador de uma estrutura produtiva primordialmente voltada ao mercado interno, consolidou-se a valorização dos mercados como mecanismo organizador da produção nacional e catalisador da integração à nova economia mundial, responsável pela difusão dos recursos ideológicos e materiais, bem como das inovações técnicas e organizacionais capazes de viabilizar um novo avanço de acumulação”.

É nessa conjuntura política e econômica que se insere o processo de reestruturação produtiva no país. Segundo Caiado, Ribeiro e Amorim (2004, p.73) esse processo apresenta três resultados: i) desestruturação de setores que “não se mostraram capazes de mobilizar recursos e inovações para enfrentar o acirramento da competição”; ii) a “desnacionalização do controle acionário de outros segmentos, que, juntamente com as empresas estatais privatizadas, serviram de porta de entrada para muitos capitais estrangeiros”; iii) a reestruturação de setores “que conseguiram mobilizar recursos e inovações para alavancar novos padrões de competitividade”.

No entanto, mesmo que a reestruturação produtiva apresente fatores diferenciados daqueles que promoveram a organização do espaço nacional desde 1930, seus impactos não alteram as bases desse modelo, mas, constitui assim como as demais reestruturações econômicas, um reforço ao que ocorria nos períodos anteriores.

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Essa questão fica clara ao considerar que o atributo de centro passa a ser cada vez mais sua capacidade de promover o desenvolvimento das indústrias de alta tecnologia. Que, nesse ponto, como demonstra Lencioni (2009, p.6) continua “fortemente concentrada na região metropolitana de São Paulo e seu entorno”, que compreende a região de Campinas, Sorocaba, São José dos Campos e Santos.

Por outro lado, grande parte da periferia nacional que corresponde às regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, além de significativas parcelas do Sudeste e do Sul, continuam apresentando baixa capacidade de atrair essas indústrias. Apenas algumas exceções cabem às regiões administrativas de Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre, cujos investimentos caminham no sentido de criar um ambiente mais adequado à produção de alta tecnologia (DINIZ, 2000). No entanto, essas áreas, até o momento, estão mais próximas de periferia intermediárias, que novos centros econômicos.

A manutenção do mesmo modelo de organização está associada, essencialmente à dinâmica da inserção global-local, que constitui um dos pilares do processo de reestruturação produtiva. Em primeiro lugar, consideramos que essa maior capacidade de integração, embora encurte as “distancias” no espaço econômico e aumente as possibilidades de relações comerciais diretas no setor externo, não alteram a base estrutural da economia.

Primeiramente, consideramos, assim como Diniz (2000, p.36), que

o processo de globalização, induzido e potencializado pelo desenvolvimento dos modernos sistemas de transporte e pela rapidez da transmissão e do acesso à informação proporcionada pelo desenvolvimento das telecomunicações e da informática, amplia a possibilidade da articulação local com o global, superando em parte a relação entre países por uma relação direta de cada região produtiva ao mercado mundial.

No entanto, conforme aponta Mamigonian, (2009, p.2) “o sistema capitalista mundial continua funcionando à base da relação centro-periferia”. Ou seja, a estrutura produtiva que define a inserção local-global, continua sendo determinada pela inserção de regiões periféricas e regiões centrais na divisão internacional do trabalho. Dessa forma, a tendência é que as regiões, que tiveram sua inserção na condição de periferia no decorrer do processo de integração e divisão regional do trabalho no Brasil, mantenham essa condição ao se inserir

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numa lógica internacionalizada do sistema capitalista, não alterando assim, a estrutura interna de organização do espaço nacional.

Outro ponto importante é que a própria dualidade global-local não é algo “novo” na dinâmica espacial brasileira. No decorrer da evolução econômica do Brasil, houve períodos anteriores à década de 1990, cujas políticas estiveram baseadas no movimento de capitais direcionados à atração de investimentos estrangeiros e estímulos as exportações. Desse modo, a dinâmica de inserção global-local, não é responsável por eliminar a importância da escala nacional na definição do modelo de organização do espaço interno do país.

Como demonstra Brandão (2007), determinados aspectos fundamentais de ordem econômica, continuam sendo definidos, basicamente, pela escala nacional, como é o caso da: i) taxa de câmbio, que, entre outras funções, “informa os ganhos com a exportação e o valor dos importados” (BRADÃO, 2007, p.184); ii) taxa de juros, que “mede o custo dos recursos necessários ao financiamento da aplicação de capital” (BRANDÃO, 2007, p.185); iii) taxa de salários, que apresenta grande influencia no “mercado de consumo de massa, o poder aquisitivo da população, além de importante componente do custo da produção” (BRANDÃO, 2007, p.185); e iv) a definição do fisco, que por meio de políticas fiscais e tributários, que ampliam “o leque de alternativas para construir fundos públicos, dão a capacidade de gasto público, orientam os investimentos privados e o raio de manobra financeiro do Estado e a capacidade de bancar o setor produtivo estatal” (BRANDÃO, 2007, p.185)

De forma geral, essas questões não refletem em um novo modelo de organização espacial no Brasil, que continha gravitando em torno de único centro: a RMSP. A principal característica desse processo é o reforço à diferenciação das estruturas produtivas do centro e da periferia que se define, cada vez mais, pela mão de obra qualificada e pela indústria de alta-tecnologia; assim como, o crescimento de algumas áreas da periferia, localizadas essencialmente nas regiões Sul e Sudeste, que são capazes de atrair indústrias dinâmicas. Nesse mesmo sentido, como aponta Brandão (2007, p.198) a tendência atual da localização geográfica da indústria é a

de reaglomeração de setores industriais tecnologicamente mais desenvolvidos e intensivos em capital e mão-de-obra especializada nas regiões Sul e Sudeste, paralelamente a um brando movimento de

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desconcentração industrial, motivado principalmente pelo amplo oferecimento de incentivos fiscais e pela melhoria da infra-estrutura, favorecendo a periferia nacional sobretudo com investimentos em setores com menor conteúdo tecnológico.

Dessa forma, assim como os processos de reestruturação econômica dos períodos anteriores, o período recente caracteriza mais um reforço às estruturas produtivas que se constituíram no Brasil no seu quadro histórico. Essencialmente, conforme demonstrado, o que se altera com esse processo é a forma como se manifesta a dinâmica espacial da economia no Brasil, que passa a se relacionar cada vez mais com a mão de obra qualificada. Desse modo, a dinâmica de desenvolvimento econômico associada à reestruturação produtiva e as políticas econômicas que acompanham esse processo, longe de criar um novo modelo de organização espacial, apenas assentaram suas bases nas estruturas definidas ao longo do processo histórico de desenvolvimento econômico constituído no país, não alterando assim a essência que define a organização do espaço econômico brasileiro desde o início do século XX.

REFERÊNCIAS

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CAIADO, A. S. C.; RIBEIRO, T. F. F.; AMORIM, R. L. C. Políticas neoliberais e reestruturação produtiva. In: POCHMAN, Marcio. (Org.). Reestruturação produtiva:

perspectivas de desenvolvimento local com inclusão social. Petrópolis: Vozes, 2004.

CANO, W. Desequilíbrios Regionais e concentração industrial no Brasil: 1930-1970. Editora da UNICAMP, 1985.

CANO, W. Desconcentração regional produtiva do Brasil 1970-2005. São Paulo, Editora da Unesp, 2008.

CARDOSO DE MELLO, J. M. O capitalismo tardio. Brasiliense, São Paulo, 1982.

DINIZ, C. C. Impactos territoriais da reestruturação produtiva. In: RIBEIRO, Luiz César de Queiroz. (Org.). O futuro das metrópoles: desigualdades e governabilidade. Rio de Janeiro: Revan, FASE, 2000.

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FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. São Paulo. Comp. das letras, 2007. LENCIONI, S. Reestruturação Urbano-Industrial no Estado de São Paulo: a região da metrópole desconcentrada. Espaços e Debates, São Paulo, n.38, p.54-61, 1993.

LENCIONI, S. A transformação sócio-territorial das principais áreas metropolitanas da América do Sul: Buenos Aires, São Paulo e Santiago. A importância da indústria inovadora e de alta tecnologia no caso de São Paulo e sua relação com as transformações sócio-territoriais. In: XII EGAL, 2009.

MAMIGONIAN, A. “O Enigma Brasileiro Atual: Lula será Devorado?” Ciência

Geográfica, ano X, X (2), p. 127-131, maio/agosto 2004.

RANGEL, I. Características e perspectivas da integração das economias regionais. In:

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SAMPAIO, S. S. Indústria e Território. A estruturação do multicomplexo territorial

industrial paulista. Campinas: Ed. Alínea, 2009.

TAVARES, M. C. Da substituição de importações ao capitalismo financeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1972

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