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COLUNA DE RETIFICAÇÃO DE ÁLCOOIS RESIDUAIS: ANÁLISE DA TRANSFORMAÇÃO EM NEGÓCIO RENTÁVEL

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Academic year: 2021

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*- E-mail: erika.cren@gmail.com

COLUNA DE RETIFICAÇÃO DE ÁLCOOIS RESIDUAIS: ANÁLISE DA

TRANSFORMAÇÃO EM NEGÓCIO RENTÁVEL

Erika Cristina CREN (1)

*

; Felipe Moreton CHOLFI (2); Cristiano de Castro LEITE (3);

Rafael de Souza Leite ARDITO (3); Odilon Barboza de FREITAS (3); Cristina Aparecida de

OLIVEIRA (3); Paulo Aliton HERNANDES

(1) Doutora em Engenharia de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas e professora no Instituto Federal do Sul de Minas – Campus Inconfidentes; (2) Engenheiro Ambiental com Mestrado pela Universidade Federal de Itajubá e Doutorando na UNICAMP; (3) Graduandos de Tecnologia em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal do Sul de Minas

- Campus Inconfidentes.

RESUMO

A produção da cachaça artesanal tem conquistado o seu lugar próximo à cidade de Inconfidentes constituindo-se de diversos pequenos produtores rurais distribuídos por todo sul do estado de Minas Gerais. Estes trabalhadores rurais têm na cachaça sua fonte de renda, cuja produção gera o álcool residual, conhecidos como cabeça e cauda da cachaça, que contém frações comumente descartadas devido a seus altos teores de componentes tóxicos para a saúde humana. No entanto, foi identificado que a maioria dos produtores de cachaça da região re-destilam estes resíduos para obter uma cachaça de qualidade inferior, ou até mesmo descartam os resíduos de forma inadequada gerando grande impacto ambiental. Devido a essas problemáticas, foi instalado no IFSM – Campus Inconfidentes uma coluna de retificação que visa transformar os resíduos da cachaça em álcool combustível hidratado, grau carburante (etanol). Um negócio viável e com parceria dos produtores regionais de cachaça e o Instituto está sendo montado a fim de reutilizar os resíduos gerados na produção da cachaça de uma forma adequada, gerando um novo produto destinado a suprir energeticamente as necessidades do produtor e instituto, resultando em economia energética para o produtor com conseqüente benefício à qualidade da bebida produzida e ao meio ambiente, resultando em agregação de valor ao produto final e melhoria de renda.

Palavras-chave: Cachaça, Etanol combustível, Retificação.

1. INTRODUÇÃO

Segundo a Associação Brasileira de Bebidas (ABRABE), estima-se que a produção nacional de cachaça encontra-se em torno de 1,5 bilhões de litros por ano. O estado de São Paulo é o maior produtor de aguardente industrial e Minas Gerais o quinto produtor nacional e o mais especializado em cachaça artesanal. No cenário internacional a bebida se destaca como o terceiro destilado mais consumido no mundo.

Assim, no sul de Minas Gerais podemos encontrar alguns agricultores familiares que buscam a produção da cachaça artesanal como uma forma de obter sua fonte de renda, paralela às atividades agropecuárias.

No que se diz respeito à agricultura familiar FERREIRA & ALENCAR, (2007) citam que o rural não é mais visto como agrícola, este sinônimo tornou-se pluriativo e multifuncional,

ou seja, funções produtivas, ambientais e sociais estão interligadas, com isso surgindo diversas formas de agricultura familiar, que variam desde o modo camponês de subsistência até formas imbricadas de produção e comercialização mercantil.

A região de Inconfidentes, cidade localizada no sul de Minas Gerais, e palco da atual pesquisa, possuem um alto potencial turístico devido suas belezas naturais e a boa receptividade do povo mineiro. Sendo assim, identifica-se um fluxo constante de turistas que saem das grandes cidades próximas em busca de lazer, conforto, comidas e bebidas típicas da região, sendo que no Sul de Minas é possível encontrar a típica cachaça artesanal mineira, a qual apresenta um grande valor cultural, patenteada como uma bebida tipicamente brasileira, como afirma BRASIL (2005), que diz:

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“Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de trinta e oito a quarenta e oito por cento em volume, a vinte graus Celsius (°C), obtida pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro, expressos em sacarose”.

Diante disto, para que a cachaça produzida na região tenha maior aceitação por parte dos consumidores e que uma possível organização dos produtores em cooperativas gere melhores condições de produção, garantindo melhores preços ao produto possibilitando exportações, e melhorando a renda e condições de vida dos produtores, é necessário que a bebida produzida tenha uma boa qualidade. Sendo assim, o presente estudo tem por objetivo incentivar a melhora da qualidade da cachaça regional, gerando um co-produto a partir de seus resíduos, comumente conhecidos como cabeça e cauda e que geralmente são os responsáveis pela pior qualidade da cachaça quando partes são incorporadas a bebida. Na maioria das vezes, estes resíduos são re-destilados para a obtenção de uma cachaça de qualidade inferior, contendo substâncias nocivas e que, porém causar sérios problemas à saúde. Além disso, o descarte indiscriminado e inadequado destes resíduos gera grande contaminação ambiental.

A fim de resolver este problema regional, encontra-se em implantação no Instituto Federal do Sul de Minas - Campus Inconfidentes (IFSM), uma coluna de retificação para que estes alcoóis residuais gerem um co-produto, que beneficia tanto os produtores quanto instituto e meio ambiente.Os produtores colaboradores do projeto, ao destinarem os resíduos para serem processados pelo Instituto, poderão receber em troca álcool hidratado carburante com graduação alcoólica de 96% GL (etanol), possível de ser utilizado em seus próprios veículos e máquinas. Assim busca-se com este projeto estimular a aproximação entre Instituto e produtores regionais, a fim de montarem-se parcerias onde ambos possam ser beneficiados, não só com relação a produção de uma fonte energética útil e ecológica mas possibilitando que através da pesquisa o produto fonte de renda para estas pessoas possa ser melhorado, garantindo desenvolvimento pessoal e regional, além de garantir a produção de cachaça de forma sustentável.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Histórico da Cachaça no Brasil

De acordo com o MUSEU DA CACHAÇA (2001), com a chegada dos portugueses, as terras do lado oeste do tratado de Tordesilhas, mais precisamente no nordeste brasileiro, estes trazem do sul da Ásia a cana-de-açúcar (Saccharum

officinarum); esta gramínea se adapta bem ao

clima tropical do país, assim surgindo na colônia portuguesa os primeiros núcleos de povoamentos e agricultura, sendo em meados do século XVI até metade do século XVII as “casas de cozer méis” como está registrado, se multiplicam nos engenhos e a cachaça torna-se moeda corrente para a troca de escravos na África, onde alguns engenhos de cana passam a dividir a atenção entre o açúcar e a cachaça. Portugal se sente incomodada com a nova bebida brasileira, alegando uma queda no comércio da bagaceira1 e dos vinhos portugueses, também reforça a idéia de que a bebida prejudica na retirada de ouro das minas, sendo até proibida sua produção, comercialização e o consumo da cachaça na colônia. Sendo um fracasso estes resultados, a metrópole portuguesa resolve taxar impostos sobre a cachaça, que em 1756 ajudaram na reconstrução de Lisboa, abatida por um terremoto em 1755, o produto também vira símbolo dos ideais de liberdade pelos inconfidentes e apreciada pela população que apóia a Conjuração Mineira, com o passar dos anos as técnicas de produção vão sendo melhoradas e na Semana da Arte Moderna, em 1922, este evento vem resgatar a brasilidade da cachaça, ainda tentando desfazer preconceitos e melhorando na apuração de sua qualidade. Nos dias de hoje existem novas marcas e uma série de estudos e pesquisas sobre esta bebida genuinamente brasileira que tem cada vez mais como objetivo a melhoria da qualidade.

2.2. Processo de Fabricação Artesanal da

Cachaça de Alambique

O alambique consiste de uma panela fechada anexada a uma coluna situada acima da panela. A função da panela é receber o vinho para posterior aquecimento e transformação em vapores que sobem pela coluna até alcançar a alonga. A

1

Aguardente de vinho de origem portuguesa com teor alcoólico de 35% a 54% em volume de 20º C.

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alonga, ligada à parte mais alta da coluna, tem a função de recolher os vapores e conduzi-los ao prolongamento da alonga onde há uma serpentina de água fria corrente destinada a aumentar a eficiência de condensação dos vapores de volta para a forma líquida. (MAIA & CAMPELO, 2005).

O recolhimento do destilado é feito em três frações: o destilado de cabeça, o destilado de coração e o destilado de cauda, além disso, a vinhaça sobra no alambique. Cada uma destas frações será descrita individualmente a seguir. (MAIA & CAMPELO, 2005).

O destilado de cabeça é aquele recolhido nos primeiros minutos da destilação e consiste da fração do vinho que contém o teor de álcool mais elevado que compreende 5,5% em fração do volume total de álcool no vinho. Esta fração do vinho retirada a uma temperatura inferior a 78,5°C contém altos teores de compostos com baixos pontos de ebulição como o acetaldeído (27°C), o metanol (60°C) e ésteres como o acetato de etila. (MAIA & CAMPELO, 2005).

O destilado de coração consiste da cachaça propriamente dita que se recolhe durante cerca de 2 horas e contém 80 a 90% do volume total de etanol retirado do vinho, dependendo da eficiência da destilação. (MAIA & CAMPELO, 2005).

O destilado de cauda consiste da fração do destilado que ocorre no final da destilação. Detém um volume três vezes maior, porém, teor alcoólico três vezes menor ao se comparar com a cabeça. Contêm ainda, alcoóis superiores como o butanol (80°C) e o propanol (99°C) e ácidos voláteis como o ácido acético que se volatiliza na fase final da destilação a uma temperatura de 115°C, pois estabelece interações mais fortes com

a água do que com o etanol. (MAIA & CAMPELO, 2005).

Os resíduos gerados da destilação que compreendem a cabeça e a cauda representam cerca de 20% do volume total de destilado.

A vinhaça é o resíduo final obtido da destilação do vinho para obtenção do etanol. Detém 0,5% do volume de etanol. Contém compostos sólidos, minerais, açúcares não-fermentáveis, células de fermento, bagaçilho, ácidos não-voláteis, e a maior parte dos ácidos voláteis. A vinhaça é o resíduo orgânico do processo de destilação do vinho, resultante, por sua vez, da fermentação do mosto empregado na produção de álcool (WALTER, 1994). Dos resíduos da fabricação de açúcar e álcool, é sem dúvida dos mais importantes, não só em termos do enorme volume gerado, mas pelo elevado poder poluidor a ela agregada (CAMARGO, 1990). Na maioria das usinas brasileiras a vinhaça é aplicada diretamente na lavoura, o alto teor de potássio em sua composição é um grande incentivo para o seu uso como fertilizante (CALLE, et al., 2005).

2.3. Componentes Tóxicos da Cachaça

Sendo a cachaça uma das bebidas mais consumidas no mundo, e sendo obtida a partir de um processo que envolve sua purificação a fim de obter-se um produto de qualidade, o conhecimento de sua composição química (orgânica e inorgânica) é indispensável.

Desde 2005, existe uma Instrução Normativa (nº 13, de 30/6/2005) que define as quantidades máximas permitidas de alguns contaminantes na cachaça. Estes limites estão especificados na Tabela 1 abaixo.

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Tabela 1 - Contaminantes químicos da cachaça

Contaminantes Quantidades limite

Álcool metílico < 20,0 mg/100 ml de álcool anidro

Carbamato de etila < 150μg/l

Acroleína (2-propenal) < 5mg/100ml de álcool anidro Álcool sec-butílico (2-butanol) < 10mg/100ml de álcool anidro Álcool n-butílico (1-butanol) < 3mg/100ml de álcool anidro Cobre (Cu) < 5mg/l Chumbo (Pb) < 200μg/l Arsênio (As) < 100μg/l

A maioria destes compostos são encontrados em pequenas quantidades nos resíduos, mas com grande potencial cumulativo no organismo. Quando os resíduos são re-destilados, os

compostos contaminantes podem acumular-se e gerar riscos a saúde humana se o produto resultante é consumido, além disso, o produto possui uma qualidade inferior.

De acordo com os respectivos pontos de ebulição, os compostos contaminantes são encontrados em sua grande maioria nas partes residuais do processo de destilação (cauda e cabeça), o coração é a parte nobre do processo onde se concentra a maior parte do etanol juntamente com a água e também outros compostos minoritários.

Na fração “cabeça” pode-se identificar compostos como o álcool metílico (metanol), acroleína (propenal), ésteres e outros.

Na fração “cauda” pode-se encontrar vários compostos como o carbamato de etila, que é um composto carcinogênico também encontrado naturalmente em baixas concentrações em outras bebidas alcoólicas e em alguns alimentos fermentados, (ANDRADE-SOBRINHO et al., 2002 APUD BARCELOS et al., 2007) além de álcool sec-butílico, n-butílico (butanol), cobre, chumbo, arsênio, alcoóis superiores, aldeídos e furfural.

A qualidade do produto é influenciada pelos alcoóis superiores e aldeídos, os quais são os responsáveis pela conhecida “ressaca”.

Estes compostos se se originam do processo de fermentação do mosto. Quando o corte correto das frações cabeça, coração e cauda são feitos durante o processo de destilação, obtém-se a cachaça com melhor qualidade e livre da maior parte dos componentes tóxicos descritos anteriormente.

DÓREA et al. (2008) ressaltam que para a melhoria da qualidade da cachaça, deve haver também um controle dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), os quais ainda não constam na normativa anteriormente citada, que regulamenta os limites de contaminantes presentes na cachaça.

Frente a isso, pode-se notar que um melhor controle do processo de destilação pode gerar melhores bebidas, porém a grande volume de resíduo gerado necessita de um destino que não a alimentação humana e o meio ambiente. Desta forma o presente projeto busca tratar o resíduo gerado nos alambiques regionais, produzindo um co-produto ecológico e fonte de energia, tornando

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o processo produtivo de cachaça no sul de Minas Gerais sustentável.

2.4. Coluna de Retificação

A mistura de água e etanol advinda da fermentação deve passar por um continuado processo de separação visando aumentar a concentração de álcool. Para separar o álcool dos demais componentes líquidos, sólidos e gasosos presentes na composição do vinho, empregam-se várias destilações especiais, operações estas baseadas na diferença do ponto de ebulição das substâncias voláteis. A operação é realizada com o auxílio de colunas de retificação. O objetivo é continuadamente obter um álcool mais puro e concentrado, o que facilita a sua aplicação como combustível (COPERSUCAR, 1999).

A coluna consiste de diversos pratos, que tem como função purificar o álcool separando-o de substâncias como a água e outros compostos, gerando um etanol hidratado com teor alcoólico de 96°GL, adequado para uso combustível em carros a álcool ou para uso como álcool farmacêutico. Normalmente esta coluna de retificação é aquecida com vapor d’água injetado na base da mesma. Desta coluna obtém-se o álcool hidratado (96°GL). A mistura hidroalcoólica forma um composto azeótropo quando atinge a concentração de 96°GL, não sendo mais possível separar o álcool da água por destilação convencional, sendo necessária a desidratação para obtenção do álcool anidro em uma coluna posterior (CAMARGO, 1990).

2.5. Mercado do Etanol e Microdestilarias

O crescente mercado do etanol combustível é fruto da liderança que vem sendo assumida pelo Brasil no desenvolvimento de tecnologia canavieira nos últimos anos, isso decorre devido ao fato do país apresentar um clima favorável para o cultivo destas biomassas energéticas e principalmente pela implantação do Proálcool, o maior e melhor programa de substituição de combustível fóssil do mundo, até hoje insuperável, mas vale ressaltar que as pesquisas estão cada vez mais eficientes na área de bio-combustíveis.

Especificamente no que concernem as micro-destilarias a LEI ESTADUAL DE MINAS GERAIS (2005) incentiva as microdestilarias de álcool e beneficiamento de produtos derivados da cana-de-açúcar a regulamentação da produção,

distribuição e venda de álcool combustível produzidos por pequenos produtores no estado de Minas Gerais, com esses instrumentos, os pequenos produtores de álcool passaram a ter acesso a linhas de crédito, estímulo para firmar parcerias com instituições de pesquisa e a ter o direito de comercializar o álcool combustível por eles produzido, somente em cooperativas.

Somente no Brasil, mais de 80% da produção de automóveis já pode ser abastecido com álcool e gasolina, o mercado esta em plena expansão, principalmente no Brasil onde a matéria-prima para a produção do álcool é abundante e deve se manter assim por muito tempo. Muitos países estão se rendendo ao álcool como o melhor e mais limpo combustível automotivo em substituição à gasolina, pelo fato da gasolina advir do petróleo, sendo este mineral um recurso natural não-renovável, ou seja, sua renovação é lenta comparada com a sua demanda constante, além de contribuir para o aquecimento global devido à alta liberação de gás carbônico (CO2) na atmosfera, é

por estes motivos que o protocolo de Kyoto considera o álcool uma das melhores fontes de energia alternativa (PROJETO UNIGEA, EMPRESA TECNOSIGNAL).

3.MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Proposta do negócio rentável de

produção de álcool combustível

O estudo de implantação de um negócio rentável a partir da transformação dos resíduos de cachaça em álcool combustível, empregando-se uma coluna de retificação para destilação está sendo realizado no IFSM – Inconfidentes com parceria de produtores de cachaça da região. A coluna de retificação foi adquirida em parceria com a empresa EXAL BRASIL e foi construída com 38 bandejas em seu corpo de destilação, com capacidade de produção de 150 l.dia-1 de etanol combustível.

O processo produtivo do álcool combustível pode ser dividido nas seguintes fases: recebimento e análise da matéria-prima (resíduo da cachaça), armazenagem para posterior processamento, preparação do material a ser tratado pela coluna (ajuste do teor alcoólico) e processo de transformação do álcool residual.

Para a implantação do negócio, é de essencial importância definir o teor alcoólico a partir de

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análise do resíduo recebido, pois com base neste teor será definido o pagamento em álcool combustível que cada produtor irá receber. Sendo assim, no recebimento do álcool residual de cada produtor, foi feito a determinação da graduação alcoólica com um alcoômetro de escala entre 0 a 100 oGL. Como o negócio deve ser desenvolvido montando-se parceria, parte do álcool combustível será destinada ao produtor e parte ao instituto, como forma de pagamento ao serviço prestado de transformação do resíduo. A divisão foi feita em 50% para cada parte. Após verificação do teor alcoólico dos resíduos recebidos e definição da quantia recebida por cada produtor com base na fórmula abaixo:

Volume de resíduo total x teor alcoólico x 0,5 = volume de álcool combustível a receber

O produto é acondicionado em bombonas de 250l até processamento. Antes de entrar na coluna de retificação o material a ser processado deve ser ajustado para um teor alcoólico em torno de 45 a 55 %, através de mistura dos diferentes resíduos adquiridos. Um balanço de massa será utilizado para ajuste deste teor. Geralmente os resíduos gerados da produção de cachaça possuem uma graduação alcoólica em torno de 40 a 45%, podendo variar muito devido os cortes feitos na destilação da cachaça e período de destilação da vinhaça.

O álcool combustível hidratado carburante é obtido após processamento do resíduo, com graduação alcoólica ajustada, na coluna de retificação, sendo obtido ao final do processo o combustível pronto para uso com teor maior que 95%.

3.2 Levantamento de dados e demanda de

matéria prima (resíduos)

Para a implantação do negócio proposto no item 3.1 anterior, realizou-se na fase inicial do projeto um levantamento das propriedades rurais da região que produzem cachaça e quais poderiam participar do projeto. Nesta fase, parcerias com a EMATER e Cooperativas rurais da região foram estabelecidas. A partir deste levantamento, pode-se estabelecer um primeiro contato e registro dos produtores regionais de cachaça que potencialmente participariam do projeto de transformação dos resíduos.

Como forma de atrair produtores com os quais ainda não havia se feito contato, divulgação através de rádio e visitas de campo foram realizadas informando sobre o projeto.

Uma vez feito o levantamento dos potenciais participantes, uma segunda etapa foi iniciada para conhecer e definir a realidade dos produtores, como preocupações, necessidades, volume de produção de cachaça, destino dos resíduos, perfil do mercado consumidor, volume e preço de venda do produto, etc.

Sendo assim um levantamento de campo “in loco” foi realizado junto a 10 produtores. Estas visitas tiveram como objetivo além de coletar os dados mencionados, também conhecer a opinião do produtor frente o projeto, esclarecer dúvidas e observar características próprias de cada alambique.

Desta forma, um questionário foi elaborado para que os dados fossem levantados. O modelo de questionário está representado na tabela 2 abaixo.

Tabela 2 - Questionário para levantamento de dados junto aos produtores:

1) O que é feito com os resíduos (cabeça e cauda) da sua produção?

2) Possui algum veículo oi equipamento movido a álcool?

3) É feita a venda do resíduo? A qual preço? 4) Tem interesse em participar do projeto e receber álcool combustível em troca?

5) Conhece os efeitos da utilização inadequado destes resíduos?

6) Gostaria de receber mais informações sobre o projeto e responder depois se interessa ou não? 7) Qual a quantidade que produz de resíduo? 8) Época do ano que produz?

Uma estratégia também adotada nestas visitas foi a distribuição de recipientes nos quais os produtores pudessem armazenar os resíduos da produção de cachaça que ocorre entre abril e outubro. O sistema de coleta destes resíduos vem sendo testado e ocorre de forma semelhante ao atual sistema de coleta de leite na região. Os produtores são visitados mensalmente, e coleta-se os resíduos armazenados em bombonas de 20 litros de plástico, sendo deixado novos recipientes para coleta de mais resíduo. Cada recipiente é etiquetado como forma de identificar o produtor

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que destinou tal resíduo a fim de posteriormente destinar-lhe o álcool combustível pertinente.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir do questionário apresentado e respondido a cada um dos 10 produtores visitados pode-se ter uma mostra do perfil regional de produção de resíduo de cachaça entre outras

informações. Na Tabela 3 abaixo está representado os resultados desta pesquisa.

Tabela 3. Respostas obtidas nas entrevistas de campo

Perguntas 1 2 3 4 5 6 7 8

Produtor 1 Reutiliza* Obtém 1 veículo Não Sim Não Sim 60-65 l. dia-1 Abril a outubro

Produtor 2 Reutiliza Não Não Sim Não Sim 200 l. dia-1 Abril a outubro

Produtor 3 Reutiliza Não Não Sim Não Sim 200 l. dia-1 Abril a outubro

Produtor 4 Venda Não Sim Sim Sim Sim 200 l. dia-1 Junho a novembro

Produtor 5 Reutiliza Não Não Sim Não Sim 220 l. dia-1 Abril a outubro

Produtor 6 Reutiliza Não Não Sim Sim Sim 200 l. dia-1 Abril a outubro

Produtor 7 Reutiliza Não Não Sim Sim Sim 200 l. dia-1 Abril a outubro

Produtor 8 Reutiliza Não Não Sim Não Sim 200 l. dia-1 Abril a outubro

Produtor 9 Reutiliza Não Não Sim Não Sim 200 l. dia-1 Abril a outubro

Produtor 10 Reutiliza Não Não Sim Não Sim 200 l. dia-1 Abril a outubro

*

Reutiliza para bi-destilação

Como pode ser observado na Tabela acima, foi evidenciado que cerca de 90% dos produtores re-destilam o resíduo originado da cachaça e cerca de10% vendem o resíduo por R$ 0,80 cada litro. Foi identificado que esta prática ocorre devido à falta de orientação ou até mesmo a falta de um local adequado para destino destes resíduos.

Dos produtores entrevistados 90% não possuem veículo movido por etanol e 70% não conhecem os efeitos nocivos que os resíduos podem causar a saúde. Esta informação demonstra que o álcool combustível não necessariamente seria utilizado nas propriedades como combustível veicular, mas poderia ser utilizado como forma de combustível para outras aplicações, ou até mesmo incentivar a conversão de motores de máquinas para utilização do etanol. Além disso, pode-se notar que a falta de instrução ainda é muito grande, demonstrando a necessidade de maior interação entre centros de pesquisa e produtor.

Também foi identificado que 90 % produzem a bebida na mesma época, entre abril e outubro, o mesmo período de colheita da cana-de-açúcar e que 100% se interessam pelo projeto a fim de melhorar seu produto.

De um modo geral, o volume de resíduo gerado por cada produtor é consideravelmente grande já que cada um gera por dia em média 200 l, se a produção de cachaça dura em media 5 meses, pode-se perceber que a quantia de resíduo pode significar um grande impacto regional se descartada ou utilizada de forma inadequada.

Sendo assim, pode-se observa dos dados preliminares que demanda por tratamento do resíduo originário de alambiques existe, podendo resultar em grande impacto positivo para o meio ambiente e população rural.

A partir da informação e assistência aos produtores originadas do presente projeto, buscar-se-á gerar muitos benefícios para a região, pois a agricultura familiar representa uma parcela considerável de contribuição econômica regional, e com a melhoria da qualidade da cachaça regional esta poderá ter um maior valor agregado, expandindo mercado, gerando melhoria de renda a família produtora, onde o filho corta a cana, a filha faz o processo da embalagem, a mãe cuida da limpeza e o pai sendo responsável por todo processo de destilação e fabricação do produto, também possibilitando a toda família participar do processo de venda e negociação do produto,

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além disso, o resíduo pode gerar a família a auto-suficiência da propriedade em combustível para o transporte e escoamento da produção.

5. CONCLUSÕES PARCIAIS

Como conclusões parciais, pode-se destacar que frente às práticas adotadas pelos produtores com relação aos resíduos de cachaça, há a necessidade de inicialmente realizar um trabalho de conscientização com relação aos danos causados ao meio ambiente e a saúde, quando há o contato com os resíduos de alambiques. Além disso, um trabalho quanto à qualificação dos produtores poderia ser feito, a fim de que todos possam conhecer melhor o processo produtivo de cachaça, melhorando também seus produtos e processo. Uma possível organização de cooperativa regional de produtores de cachaça que ajude na certificação venda e produção não só da bebida, mas também do álcool combustível a partir dos resíduos para ser vendido como produto comercial, gerando mais renda, o que é permitido em Minas Gerais, pode ser uma alternativa para melhorar a condição dos produtores regionais com conseqüente desenvolvimento regional, com contribuição para o meio acadêmico, aumento de postos de trabalho e atividades práticas que envolvem a aplicação de uma tecnologia ambiental e conservação do meio ambiente com a recuperação de valor de resíduos indesejáveis transformando-os em um produto de alto valor e ainda reduzindo os custos com disposição final.

6. APOIO

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Incubadora de Empresas de Base Tecnológica do IFSM – Campus Inconfidentes (INCETEC)

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais – Campus Inconfidentes.

6. REFERÊNCIAS

Artigos de revistas

ANDRADE-SOBRINHO, L. G. DE; BOSCOLO, M.; LIMA-NETO, B. DOS S.; FRANCO, D. W. Carbamato de etíla em bebidas alcoólicas.

Química Nova, Lavras, v. 25, p.1074-1077, 2002

apud BARCELOS, L. V. F; CARDOSO, M. DAS G; VILELA F. J; ANJOS J. P. DOS. Teores de carbamato de etila e outros componentes secundários em diferentes cachaças produzidas em três regiões do estado de Minas Gerais: Zona da Mata, Sul de Minas e Vale do Jequitinhonha.

Química Nova, Lavras, v. 30, p. 1009-1011,

2007.

COPERSUCAR Fundamentos dos processos de fabricação de açúcar e álcool, Caderno Série

Industrial no 020, Centro de Tecnologia

Copersucar, 1a edição, 1999.

DÓREA, H. S; CARDOSO, M. DAS G; NAVICKIENE, S; EMÍDIO, E. S; SILVA, T. C. S; SILVA, M. M. S. Análise de Poluentes Orgânicos Tóxicos na Cachaça, Revista da

Fapese, v. 4, n. 2, p. 5-18, jul./dez. 2008.

FERREIRA, P. A.; ALENCAR, E. Potencialidades e Limitações da Agricultura Familiar no Sul de Minas Gerais: um diagnóstico fundamentado na abordagem interpretativa.

Organizações Rurais & Agroindustriais.

Lavras, v. 9, n. 003, p.2, 2007.

MAIA, A. B.; CAMPELO, E. A. Tecnologia da Cachaça de Alambique, Belo Horizonte. SEBRAE- MG, SINDBEBIDAS, 2005, 129p

Livros

CALLE, F. R.; BAJAY, S. V.; ROTHMAN, H.

Uso da Biomassa para Produção de Energia na Indústria Brasileira, In: Rosillo-Calle, F; Bajay,

S. V.; Rothman, H. (Org). Campinas- SP; Editora da Unicamp, 2005.

CAMARGO, C. Conservação de Energia na

Indústria do Açúcar e do Álcool, Instituto de

Pesquisas Tecnológicas, São Paulo, 1990

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WALTER, A. Viabilidade e Perspectivas da

Cogeração e da Geração Termoelétrica Junto ao Setor Sucro-Alcooleiro. Universidade Estadual de Campinas, Tese de Doutorado, 1994.

WWW (World Wide Web) e FTP (File Transfer Protocol)

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disponível em:

www.museudacachaca.com.br/historia (2001). Acesso em: 20/07/10.

Associação Brasileira de Bebidas (ABRABE).

Disponível em: www.abrabe.org.br/cachaca.php. Acesso em: 29/08/10.

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FERRAZ, C.A.R. Microdestilaria de Álcool;

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Referências

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