ELEMENTOS DE UM PROJETO DE PESQUISA
Arthur Trindade M. Costa
1 - A REDAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
Não existe uma ordem a ser seguida na construção do projeto de pesquisa. A ordem do projeto é dada pela forca do argumento extraída da ordem e da organização do projeto. Um projeto de pesquisa é um discurso que visa a convencer uma determinada plateia. Particularmente projetos de pesquisa que entram em competição, como seleção para mestrado e doutorado, obtenção de recursos de pesquisa, são suscetíveis a este tipo de fundamentação. Ou seja, como a banca ou o comitê avaliador lerá, avaliará e tomará decisões sobre o projeto de pesquisa é uma questão crítica para quem escreve e constrói um projeto. Tem-se que antecipar as seguintes questões: quem lerá o projeto? Quem avaliará? Quem tomará a decisão? Quais os critérios que esta platéia-com-poder-de-decisão vai empregar para analisar um projeto de pesquisa? Estes critérios já estão explicitados com antecedência ou são critérios implícitos?
Colocando desta maneira a questão da redação do projeto de pesquisa, a forma de sua organização, o tipo de linguagem empregada, as figuras e as imagens empregadas, a argumentação seguida, a linha teórica detalhada, a coerência, a consistência, a fundamentação, as perspectivas que apresenta, parece que estamos invertendo o polo da discussão: a forma prevalece sobre o conteúdo. Não é este o caso. Projetos não são selecionados em função de suas formas. São antes pelos seus conteúdos. Mas a forma é uma parte imprescindível. Porque a forma carrega a mensagem. A forma embala o conteúdo. No marketing contemporâneo para as vendas de mercadorias a forma, a embalagem, é um item imprescindível para a transação de produtos. No mundo das ideias não é diferente. A forma de organização do projeto tem importância capital, porque os avaliadores têm preferências e precisam tomar decisões.
Entretanto, jamais a forma deve prevalecer sobre conteúdo. O conteúdo é a alma de um projeto de pesquisa, seu cerne, sua essência. A ordem dos fatos, portanto, pode ser assim estabelecida: prevalece o princípio do primado do conteúdo sobre a forma. Mas projetos são feitos não apenas para melhorar a pesquisa. São também formas pelas quais os comitês, as comissões, os grupos-com-poder-de-decisão empregam para tomar suas decisões. Esta razão de ser conduz a valorizar a forma de organização e de redação do projeto de pesquisa. Ainda que o princípio que rege a pesquisa seja sempre a da prevalência do conteúdo sobre sua forma, a forma não pode ser deixada de lado na construção de um projeto de pesquisa que se destina a algum tipo de seleção aberta ao uma população de interessados.
2 - ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE UM PROJETO DE PESQUISA
Hoje em dia é muito frequente que os modelos ou formulários de projetos já tragam explicitamente quais os critérios que serão observados para a sua seleção. As agências financiadoras já indicam nos seus editais e chamadas os critérios de decisão. Dada a variedade de visões sobre o que é a ciência e seu método, bem como a diversidade critérios adotados pelas agências financiadoras e instituições de ensino, não há um padrão definido para a elaboração de um projeto de pesquisa. Entretanto, podemos distinguir alguns elementos que são frequentemente encontrados nos projetos de pesquisa. Embora nem todos elementos sejam obrigatórios e tampouco exista uma sequência definida, passamos a lista-los abaixo:
1) Resumo:
É comum que os projetos de pesquisa apresentem inicialmente um resumo (cerca de 10 linhas). Geralmente este resumo contêm: a) o tema e objeto de estudo, b) o problema e hipótese, c) o objetivo do estudo e d) os resultados esperados.
2) Introdução:
Na introdução procura-se apresentar o tema a ser estudado, bem como suas especificações, antecedentes e caracterizações. Busca-se também expressar o tema, de forma a delimita-lo com precisão e clareza, destacando seus limites e recortes geográficos, regionais, temporais, bem como os atores sociais envolvidos.
3) Justificativa
Alguns projetos ao invés de uma introdução trazem uma justificativa. Nesta parte, geralmente busca-se responder a seguinte questão: por que estudar este tema ou tópico? Embora seja comum, nem sempre é necessário explicar a relevância da pesquisa proposta. No entanto, espera-se que o pesquisador situe seu tema ou tópico na realidade social. Às vezes, relata-se uma experiência vivida ou fatos da vida social, noutras ocasiões são apresentadas informações pertinentes ao tema ou tópico de pesquisa.
4) Objeto de Pesquisa:
Uma das tarefas mais difíceis na elaboração de um projeto de pesquisa é a construção de um objeto de pesquisa. Este objeto é construído a partir das contribuições teóricas de outros autores. A mobilidade social Brasil, as novas associações de moradores, a violência juvenil, a reestruturação produtiva e as novas relações de gênero, as ouvidorias de polícia são alguns exemplos genéricos de objetos de estudo. Normalmente, cada objeto de pesquisa se insere num campo específico de estudos como mobilidade social, novas formas de sociabilidade urbanas, conflitos sociais, divisão sexual do trabalho, relações de gênero, controle da atividade policial. É sobre o objeto
5) Revisão da Literatura ou Marco Teórico:
Procura-se realizar um primeiro levantamento bibliográfico sobre o tema ou tópico de pesquisa. Busca-se descrever o estado atual dos conhecimentos no domínio da pesquisa. Basicamente precisa-se responder a seguinte questão: O que diz a literatura sobre o tema e objeto que se quer estudar? Também é necessário indicar as relações da pesquisa com outros trabalhos realizados anteriormente. O que as pesquisas anteriores revelaram? O que ainda falta pesquisar? Além dessas questões, frequentemente são incluídos os conceitos e as definições fundamentais para a realização da pesquisa. Bem como, estabelece-se o marco teórico que servirá com fio condutor da pesquisa, descrevendo seus principais elementos.
6) Problema e Hipótese de Pesquisa:
Espera-se que antes de iniciar seu trabalho, o pesquisador tenha definido claramente um problema de pesquisa. O problema é composto de uma idéia-força que irá nortear todo o esforço de pesquisa. Frequentemente os pesquisadores alteram seus problemas de pesquisa, contudo a idéia-força continuará presente no trabalho. As hipóteses são respostas provisórias ao problema de pesquisa. Depois da pesquisa, na fase de redação, estas respostas deverão ser sustentadas de forma consistente. Nas pesquisas quantitativas é comum à elaboração de hipóteses a serem testadas. Entretanto, nem sempre os projetos de pesquisa apresentam hipóteses. Alguns projetos apresentam argumentos centrais a serem desenvolvidos. Estes argumentos são na verdade outra forma de redação que podemos dar às hipóteses.
7) Objetivos da Pesquisa:
Enquanto o objeto de estudo refere-se ao polo teórico da pesquisa, os objetivos da pesquisa são eminentemente empíricos. Algumas pesquisas apresentam objetivos gerais e específicos. Analisar as representações sociais sobre progresso e modernidade das elites parlamentares, descrever as modificações estruturais do setor automobilístico, compreender o significado das festas de folia no interior do país, estudar a implantação do programa de erradicação do trabalho infantil são exemplos de objetivos gerais de uma pesquisa. Normalmente, estes objetivos gerais precisam ser desdobrados em objetivos específicos, tais como: elaboração de roteiros de entrevistas, construção de bancos de dados, elaboração de amostras, realização de entrevistas, pesquisas exploratórias, realização de entrevistas, análise de resultados.
8) Plano de Pesquisa ou de Trabalho:
Normalmente estabelece-se um plano de pesquisa quando se pretende realizar estudos exploratórios. No caso de estudos quantitativos, devem-se especificar os procedimentos estatísticos que serão utilizados na análise das informações. Convém também, nesses casos, especificar a população e a amostra a ser utilizada. O plano de pesquisa deve ser coerente com os objetivos da pesquisa.
9) Técnicas de Pesquisa:
Em alguns casos é importante descrever quais técnicas serão utilizadas na pesquisa. A escolha da técnica de pesquisa a ser utilizada depende da formulação dos objetivos da pesquisa.
10) Equipe Executora:
Alguns projetos trazem a descrição detalhada da equipe executora da pesquisa. Além da relação de nomes e funções, estes projetos apresentam também o detalhamento das tarefas que cabe a cada um dos membros da equipe de pesquisa.
11) Cronograma Físico;
É comum a elaboração de um cronograma pesquisa. Assim pode-se ter a exata noção dos limites de tempo e da exequibilidade do projeto proposto. Além disso, o cronograma serve também para guiar os próprios pesquisadores. Muitas vezes, o cronograma de pesquisa é elaborado a partir dos objetivos gerais e específicos de cada pesquisa. Normalmente, este cronograma é apresentado na forma gráfica.
12) Cronograma Financeiro ou Orçamento:
Nos projetos que exigem financiamento é indispensável a apresentação de um orçamento detalhando ao máximo as despesas previstas. É comum e discriminação despesas de pessoal (bolsas, pagamento de salários), custeio (passagens, diárias, contratação de serviços de terceiros) e capital (aquisição de equipamentos, softwares e material bibliográfico, realização de obras etc.).
13) Bibliografia:
Uma vez que é um trabalho acadêmico, o projeto de pesquisa deve listar a bibliografia utilizada na sua elaboração.
