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Graduanda da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas. Ex-bolsista PIBIC- CNPq.

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OS IMPACTOS DA CONTRARREFORMA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA NOS CURSOS DE SERVIÇO SOCIAL E A INSERÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS EGRESSOS DA

GRADUAÇÃO À DISTÂNCIA NO MERCADO DE TRABALHO EM ALAGOAS

Kamilla Lays dos Santos Amorim1

Rosa Lúcia Prédes Trindade2

RESUMO

O texto trata sobre a expansão do ensio superior no Brasil e seus impactos na graduação em Serviço Social, nas modalidades presencial e EAD. Através de pesquisas bibliográfica e documental, foi possível identificar que os cursos de Serviço Social vêm passando por um desmesurado processo de expansão nas últimas décadas. Especialmente a modalidade ensino à distância tem incrementado a formação de novos assistentes sociais, o que já pode ser observado na inserção de novos profissionais no mercado de trabalho do assistente social, o que pôde ser comprovado através de levantamentos realizados no CRESS (16ª – Região) do estado de Alagoas.

Palavras-chave: Serviço Social, formação profissional, mercado de trabalho.

ABSTRACT

The text deals with the expansion of the higher education in Brazil and its impacts on the graduation in Social Work, in the modalities presence and EAD. Through bibliographical and documentary research, it was possible to identify that Social Service courses have undergone an excessive process of expansion in the last decades. Especially the distance education modality has increased the training of new social workers, which can already be observed in the insertion of new professionals in the labor market of the social worker, which could be proven through surveys carried out in CRESS (16th - Region) of the state of Alagoas.

1Graduanda da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas. Ex-bolsista

PIBIC-CNPq. kamilla_lays@hotmail.com

2 Assistente Social formada pela Universidade Federal de Alagoas; Doutorado em Serviço Social e

Pós-doutorado em Sociologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro; bolsista PQ-CNPq. rosapredes@uol.com.br. Docente Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas.

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Keywords: Social work, vocational training, labor market.

I – INTRODUÇÃO

Esse trabalho trata do processo de expansão que os cursos de Serviço Social no início do século XXI, o qual está relacionado com as redefinições ocorridas na política de educação brasileira, especialmente no ensino superior, e com o processo de contrarreforma do Estado, tendo em vista a intensificação da política neoliberal no cenário brasileiro. O texto aborda, ainda, a inserção dos assistentes sociais egressos da graduação à distância no mercado de trabalho em Alagoas.

Num primeiro momento, este artigo discute sobre o processo de mercantilização da educação no Brasil, ocasionada pela transformação de todos os setores da vida social em áreas lucrativas para o capital, tendo em vista a sua tentativa de buscar estratégias para enfrentar a crise. Com a implantação das medidas neoliberais, o Estado passou a desresponsabilizar-se, cada vez mais, pelos serviços sociais públicos, transferindo-os para a setor privado.

A educação tem seguido essa lógica de privatização, principalmente o ensino superior, que tem se ampliado de forma bastante rápida na esfera privada, ameaçando a qualidade do ensino ofertado. Os cursos de Serviço Social também vêm se expandindo velozmente, em decorrência da privatização deste nível educacional. Por esse motivo, este trabalho faz uma análise de como esta expansão aconteceu durantes os governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

Em seguida, o texto expõe sobre a expansão dos cursos de Serviço Social na modalidade de Ensino a Distância (EAD), a qual tem se disseminado estrondosamente nos últimos anos, contribuindo de forma significativa para o processo de aligeiramento da formação profissional e da certificação em larga escala (LIMA, 2013).

Por fim, o trabalho faz uma análise sobre as condições de trabalho as quais os assistentes sociais egressos da EAD estão submetidos em Alagoas através da apresentação dos dados coletados nos formulários de visitas de fiscalizações realizados pelas assistentes sociais do CRESS/ AL (16ª- Região).

II – DESENVOLVIMENTO

2.1 A contrarreforma da educação e o processo de privatização do ensino superior no Brasil

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De acordo com Lima (2007), a contrarreforma da educação brasileira está inserida no processo de contrarreforma estatal, ocorrida a partir da segunda metade da década de 1990, sob o governo de Fernando Henrique Cardoso (Governo Cardoso). A contrarreforma do Estado brasileiro é caracterizada pela intensificação da adoção de medidas neoliberais, suprimindo os direitos sociais conquistados duramente pela classe trabalhadora, desregulamentando o mercado de trabalho e transferindo os setores estratégicos da economia para a esfera privada.

A adoção de medidas neoliberais no Brasil acompanha a lógica do cenário mundial, com redução da intervenção estatal, via políticas sociais, contribuindo para a privatização de diversos setores da vida social. De acordo com Mancebo (2015), o processo de mercantilização da educação brasileira só pode ser apreendido ao ser situado no cenário de crise de acumulação do capital, em escala mundial, a partir dos anos 1970. Apesar de as mudanças no ensino superior brasileiro só se tornarem perceptíveis a partir da década de 1990, elas refletem movimentos anteriores, marcados por redefinições no sistema capitalista. Neste contexto de crise, o capital buscou construir novas configurações, principalmente através da difusão do neoliberalismo e da reestruturação produtiva, caracterizada pela flexibilização do trabalho e da produção de mercadorias. O ensino superior brasileiro também seguiu este reordenamento que se deu de forma mais ampla, com vistas a atender as determinações do capital estrangeiro.

Essas redefinições na política de educação brasileira seguem as orientações dos organismos internacionais, como o Banco Mundial (BM), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), os quais passaram a estabelecer os novos padrões de regulação social, propagando as ideologias neoliberais. No caso particular do BM, os seus impactos sobre as políticas públicas foram grandiosos, o que pode ser percebido na elaboração de suas determinações, as quais exigiram reformas profundas em todas elas, especialmente, naquelas voltadas para o setor educacional. (MONTEIRO, 2013)

De acordo com Lima (2013), a expansão do ensino superior no Brasil, a partir da década de 1990, passou a ser estabelecida através da ampliação do setor privado e da privatização interna das instituições de ensino superior públicas. A ampliação do setor privado foi possibilitada pela diversificação das IES e pelo novo direcionamento do acesso ao ensino superior por meio dos cursos sequenciais, de curta duração e dos cursos a distância. Já a privatização nas IES públicas, tornou-se perceptível a partir do Governo Cardoso, com o novo ordenamento das universidades públicas, principalmente através da venda de serviços educacionais nas universidades federais.

A condução da contrarreforma do Estado pelo Governo Cardoso reconfigurou a educação superior brasileira, fazendo com que ela fosse reconhecida como uma atividade

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pública não estatal, abrindo espaço para o crescimento do setor privado. Desse modo, a universidade brasileira passou a sofrer a interferência do projeto neoliberal para o ensino superior, o qual reduziu significativamente o número de universidades públicas, dissociando o tripé ensino, pesquisa e extensão. Entretanto, a imagem da educação superior apresentada neste governo é de expansão do acesso e democratização desse nível educacional. Além disso, há uma ampliação da visão da educação superior, que passa a abarcar as instituições públicas e privadas, fundamentando a política de privatização desse nível educacional. Desse modo, a educação durante o Governo Cardoso foi caracterizada por uma noção privatista, expressada pela ampliação na oferta de vagas no ensino superior na rede privada. (LIMA, 2013)

Segundo a autora supracitada, no início do Governo Lula, esperava-se que fossem realizadas mudanças no processo de privatização interna das universidades públicas e do incentivo às IES privadas. Todavia, houve o aprofundamento do processo de contrarreforma do ensino superior no decorrer deste governo, o que pode ser percebido nas inúmeras ações governamentais que modificaram a política educacional.

Dentre as inúmeras iniciativas realizadas por este governo em relação ao ensino superior, algumas merecem destaque: a regulamentação das parcerias entre as universidades federais e as fundações de direito privado, a instituição do Programa Universidade para Todos (Prouni), o estabelecimento de parcerias entre universidades públicas e empresas, a criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB) e a instituição do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni).

A modalidade de ensino a distância recebeu um grande impulso durante o Governo Lula, especialmente na esfera privada, paramentado pelo argumento da democratização do acesso ao ensino superior. O crescimento deste setor aprofundou ainda mais a mercantilização da educação, transformando-a em mercadoria a ser comercializada e consumida. (GAIO, 2013).

De acordo com Oliveira (2015), as matrículas em cursos do ensino superior no Brasil cresceram cerca de 76% entre 2002 e 2013. Nesse mesmo período, o total de matrículas nas instituições de ensino privado aumentou 80,15 %, ou seja, houve um crescimento maior das matrículas no ensino privado do que o número total de matrículas em todo o Brasil. Segundo a economista, essa expansão das matrículas no setor privado está relacionada com o PROUNI – programa criado pelo governo federal que concede bolsas integrais ou parciais para cursos de graduação em instituições privadas. A autora afirma que apesar da expansão nos cursos de ensino superior, as desigualdades (racionais, regionais e de renda) ainda são persistentes em nosso país. Além disso, ela aponta que o rápido crescimento das

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empresas do mercado de educação superior acarreta alguns efeitos que precisam ser problematizados, como a qualidade do ensino e o espaço insuficiente para reflexões, bem como sobre as consequências dessa articulação do setor privado com o público no âmbito da educação.

2.2 A expansão dos cursos de serviço social no Brasil: modalidades presencial e à distância

Os cursos de Serviço Social também passam por um desenfreado processo de expansão, simultaneamente ao movimento de ampliação do ensino superior no Brasil. A partir de 1990, os cursos de Serviço Social se ampliaram e incrementaram o circuito lucrativo da educação como mercadoria. Esse crescimento indiscriminado acompanhou a lógica empresarial que se implantou na educação brasileira, regida pelos interesses econômicos sem necessariamente levar em conta a qualidade do ensino ofertado. (GOIN; JÚNIOR. 2013).

Durante os governos de Fernando Henrique Cardoso, os cursos de Serviço Social se ampliaram nos centros universitários, nas faculdades integradas ou isoladas e nos Institutos de Ensino Superior (IES), majoritariamente na esfera privada. Todavia, a partir da virada do século, tem-se um crescimento indiscriminado das instituições de ensino à distância (EAD), as quais se voltaram para as áreas das Ciências Sociais Aplicadas e Humanas, devido ao pouco investimento necessário para implantá-las. (FONSECA; CUNHA; SILVA, 2013).

Tobaldini e Coelho (2013) afirmam que entre os anos de 1930 e 2002, período de 72 anos, foram criados 123 cursos de Serviço Social no nosso país, enquanto que de 2003 a 2006, período de 4 anos, 129 novos cursos de Serviço social foram criados no Brasil. Através de tais dados, é possível constatar que foram criados mais cursos de Serviço Social durante um período de apenas 4 anos do que ao longo de 72 anos. As autoras relatam que é bastante alto o número dos cursos de Serviço Social em instituições não universitárias, isto é, que não têm a obrigação de estabelecer um processo de formação profissional baseada no tripé ensino, pesquisa e extensão. Entre os anos de 1990 e 2002, foram criados 52 cursos de Serviço Social no Brasil, dos quais 35 estavam inseridos em Unidades de formação acadêmica (UFAS) não universitárias e apenas 17 foram criados em UFAS universitárias, apesar disso, destes 17 cursos somente 3 são em instituições públicas, ou seja, os 14 cursos restantes foram inseridos em UFAS universitárias privadas. (TOBALDINI; COELHO, 2013).

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Nos anos de 2010 e 2013, o Serviço Social ocupou o 3º lugar entre os cursos com mais número de matrículas na modalidade de ensino à distância, como podemos conferir no quadro abaixo:

FIGURA 1 – Dez maiores cursos de graduação em número de matrículas na modalidade de ensino à distância no Brasil em 2010 e 2013

EAD – 2010 EAD - 2013

CURSO MATRÍCULAS % CURSO MATRÍCULAS %

1- Pedagogia 273.248 29,37 1- Pedagogia 295.264 25,6

2- Administração 128.186 13,8 2- Administração 157.066 13,6 3- Serviço Social 74.474 8 3- Serviço Social 94.595 8,2 4- Com. Gerenciais 45.880 4,9 4- Gestão de Pessoal 75.366 6,5 5- Ciências Contábeis 40.936 4,4 5- Ciências Contábeis 70.515 6,1 6- Gestão de Pessoal 35.486 3,8 6-Empreendedorismo 60.631 5,2

7- Letras 28.591 3 7- Gestão Logística 29.591 2,5

8- Matemática 23.328 2,5 8-Proteção Ambiental 27.143 2,3 9- Biologia 19.087 2,05 9- Matemática 23.350 2 10- Gestão Logística 19.051 2 10- História 22.681 1,9

Outros Cursos 241.267 26 Outros Cursos 297.370 25,7

TOTAL GERAL 930.179 100 TOTAL GERAL 1.153.572 100 Fonte: Tabela elaborada pelas autoras, com base nas Sinopses Estatísticas do INEP/MEC.

No quadro a seguir, podemos observar a disparidade existente entre o número de vagas oferecidas nos cursos de Serviço Social na modalidade presencial e à distância:

FIGURA 2: Perfil da oferta e ocupação das vagas para cursos de serviço social no Brasil nos anos 2010-2014

Fonte: Quadro elaborado pelas autoras com base nas sinopses estatísticas do INEP/MEC.

PRESENCIAL EAD Ano Vagas Oferecidas Candidatos Inscritos Ingressos Concluintes Ano Vagas Oferecidas Candidatos Inscritos Ingressos Concluintes 2010 36.098 87.192 19.459 11.792 2010 102.160 49.478 21.410 8.925 2011 39.290 111.253 21.663 11.519 2011 68.742 47.644 25.762 4.574 2012 44.137 137.087 25.221 12.367 2012 76.652 52.806 33.206 15.307 2013 44.374 145.700 25.453 12.288 2013 78.251 96.414 32.430 16.446 2014 46.763 167.417 23.218 12.129 2014 97.526 91.667 41.523 13.343

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Através dos dados coletados acima, referentes ao perfil da oferta e ocupação das vagas para os cursos de Serviço Social no Brasil entre os anos de 2010 e 2014, é possível constatar que no ano de 2010 as vagas oferecidas na modalidade EAD eram equivalentes a quase o triplo da quantidade de vagas oferecidas na modalidade presencial.

No ano de 2011, apesar de as vagas oferecidas na modalidade EAD terem diminuído consideravelmente em relação ao ano anterior, ainda continuaram bem maiores do que as vagas ofertadas na modalidade presencial. Em 2012, as vagas oferecidas na modalidade presencial aumentaram, no entanto, tratou-se de um aumento pouco expressivo, tendo em vista que a quantidade de candidatos inscritos continuou aumentando de forma intensa. No ano de 2013, houve um aumento quase imperceptível da quantidade de vagas oferecidas (237 vagas a mais que em 2012) na modalidade presencial, enquanto o número de inscritos sofreu aumento bastante expressivo. Na modalidade EAD, diferentemente dos anos anteriores, a quantidade de candidatos inscritos ultrapassou a quantidade de vagas oferecidas. Já em 2014, as vagas oferecidas na modalidade presencial aumentaram de forma tímida, enquanto que o número de inscritos continuou aumentando expressivamente. Na modalidade EAD, o número de inscritos voltou a ser menor que a quantidade das vagas oferecidas.

Com relação ao número de concluintes, é possível perceber que nos anos de 2010 e 2011 o número de concluintes na modalidade presencial foi maior que na modalidade EAD. No entanto, a partir de 2012, esta realidade começou a mudar, uma vez que o número de concluintes em EAD ultrapassou o número de concluintes na modalidade presencial. Este dado revela a tendência de maior crescimento de novos profissionais de Serviço Social egressos da EAD do que os formados na modalidade presencial, no Brasil.

Outro fator que chama a atenção é a evasão dos estudantes em ambas as modalidades. Este dado, embora não esteja explícito na tabela, pode ser notado ao se comparar a quantidade de candidatos inscritos com a quantidade de concluintes. Embora as duas modalidades de ensino apresentem índices expressivos de evasão, pode-se perceber que na modalidade à distância este índice é significativamente maior.

Nota-se também uma diferença significativa quando comparamos a distribuição das matrículas em cursos de graduação de Serviço Social nas duas modalidades, conforme o quadro abaixo:

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FIGURA 3: Distribuição das matrículas em cursos de graduação de serviço social por modalidade e por natureza das instituições nos anos 2010-2014

PRESENCIAL EAD

Ano Pública Privada Total Ano Pública Privada Total 2010 15.876 52.848 68.724 2010 17.659 56.815 74.474 2011 17.309 54.710 72.019 2011 16.351 64.299 80.650 2012 18.820 56.731 75.551 2012 16.157 81.271 97.428 2013 19.191 59.972 79.163 2013 9.424 85.171 94.595 2014 19.097 60.010 79.107 2014 3.544 97.728 101.272 TOTAL 90.293 284.271 374.564 TOTAL 63.135 385.284 448.419 Fonte: Quadro elaborado pelas autoras com base nas sinopses estatísticas do INEP/MEC.

A figura 3 refere-se às matrículas nos cursos de Serviço Social de acordo com a modalidade e com a natureza das IES entre os anos de 2010 e 2014. A análise dos dados permite constatar que em todos os anos as matrículas na modalidade EAD superaram as matrículas na modalidade presencial, expressando a tendência apontada por Pereira (2013) de haver, em um futuro muito próximo, uma massa de assistentes sociais certificados através de cursos na modalidade à distância.

Neste mesmo período, podemos notar que o ensino privado prevalece em ambas as modalidades, tendo maior destaque na modalidade EAD. Isto permite fazer, de imediato, duas constatações: a primeira, já citada, é em relação ao processo de certificação em massa, tendo em vista a acelerada expansão dos cursos de Serviço Social, principalmente na modalidade EAD; já a segunda, diz respeito ao processo de privatização cada vez mais intenso na formação profissional em Serviço Social no Brasil, em um contexto onde a educação, de um modo geral e, em especial, a educação superior vem sendo tratada como mercadoria (mercantilização do ensino superior).

Assim, através dos dados apresentados nas tabelas acima, cabe uma reflexão acerca do perfil profissional dos assistentes sociais que prevalecerá no mercado de trabalho do Serviço Social no cenário brasileiro, o que, segundo Pereira (2013), implicará sobremaneira tanto no exercício profissional quanto na direção social da profissão.

2.3 A inserção dos assistentes sociais egressos da graduação à distância no mercado de trabalho em Alagoas

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De acordo com uma pesquisa realizada por COSTA (2014), desde 2010 há assistentes sociais inscritos no CRESS de Alagoas formados pela graduação de ensino à distância. No ano de 2010, os novos profissionais formados pelo ensino à distância totalizaram 141 inscrições; em 2011, havia um total de 119 assistentes sociais inscritos formados em EAD e no ano de 2012, foram realizadas 147 inscrições por estes profissionais. A partir desses dados, buscou fazer uma primeira aproximação à realidade de inserção desses novos profissionais no mercado de trabalho em Alagoas. Para isso, recorremos à pesquisa documental nos formulários de visitas de fiscalizações em instituições empregadoras de assistentes sociais do Conselho Regional de Serviço Social (CRESS 16ª Região), buscando aqueles que registravam a presença de profissionais formados pela graduação à distância no estado de Alagoas, coletando informações sobre: área de atuação, natureza e abrangência da instituição empregadora, forma de contrato do assistente social, tipo de vínculo empregatício, nível salarial, carga horária, instituição formadora e período de formação em graduação, nos anos de 2012 a 2015.

Em cada ano, o total de instituições fiscalizadas com registro de pelo menos uma assistente social formada em EAD foi a seguinte: 2012 (1 instituição, de um total de 45), 2013 (9 de um total de 46), 2014 (5 de um total de 34), 2015 (16 de um total de 47). Portanto, temos aqui uma amostra de 31 instituições em que a fiscalização do CRESS encontrou profissional egresso da graduação em EAD, nos anos de 2012 a junho de 2015. O quadro a seguir mostra as 3 respostas mais frequentes em cada indicador coletado nos formulários pesquisados:

Figura 4: Sistematização dos indicadores sobre a inserção dos assistentes sociais egressos do ensino à distância no mercado de trabalho em Alagoas no ano de 2012 A 2015

ÁREA DE ATUAÇÃO NATURE ZA E ABRAN GÊNCIA CONTRA TO VÍNCULO EMPREGA TÍCIO NÍVEL SALARIAL CARGA HORÁRIA (Semanal) INSTITUIÇÃ O FORMADOR A PERÍODO DE FORMAÇÃ O Assistência Social (45,16 %) Pública Municipal (80,64%) Sem Contrato (74,19%) Celetista (13%) Até 3 Salários (87%) 30 horas (54,83%) UNOPAR (71%) 2010 (48,38%) Saúde (38,7 %) Privada Estadual (12,9 %) Com Contrato (25,8 %) Sem vínculo (74,19%) De 4 a 6 Salários (9,37%) 20horas (32,25%) UNITINS (12,9%) 2012 (22,58 %) Saúde Mental (16,12%) Pública Regional (3,22%) - Estatutário (6,45 %) Sem Salário (3,22 %) 40 horas (12, 9 %) UNIASSELV (6,45 %) 2011 (12,9 %)

Fonte: Dados dos formulários de inscrições do CRESS 16ª Região/ AL. Ano: 2012 a 2015

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Podemos constatar que, dos assistentes sociais egressos do EAD e fiscalizados pelo CRESS entre os anos de 2012 e 2015, 45,16 % atuam na área da assistência social, enquanto que os outros assistentes sociais se dividem entre a área da saúde (38,7 %) e a área da saúde mental (16,12 %); 90,32 % trabalham instituições públicas municipais, 12,9% em instituições privadas de âmbito estadual e 3,22 % em públicas regionais. 74, 19% desses assistentes sociais egressos do EAD não possuem nenhuma forma contratual de trabalho, ou seja, apenas 25,8 % dos assistentes sociais entrevistados possuíam contrato de trabalho. Destes, 13 % têm vínculo empregatício como celetista e apenas 6,45 % são estatutários. Com isso, podemos perceber que poucos destes profissionais apresentam uma estabilidade nas relações de trabalho.

Outro dado que chama a atenção é o nível salarial dos assistentes sociais: 87 % deles recebem apenas até 3 salários mínimos, apenas 9,37 % recebem de 4 a 6 salários; também foi registrado assistentes sociais que prestavam trabalho voluntário, não recebendo, portanto, remuneração alguma. Quanto à carga horária de trabalho dos mesmos: a maioria (54,83%) cumpre uma jornada de trabalho de 30 horas semanais; 32,25 % trabalham 20 horas por semana e 12,9 % 40 horas, contrariando a Lei 12.317/2010 que define a jornada máxima de trabalho de assistentes sociais em 30 horas semanais sem redução salarial.

Por fim, ao analisarmos as instituições nas quais os assistentes sociais se formaram e seu período de formação, podemos constatar que 71 % foram formados pela Universidade Norte do Paraná (UNOPAR); 12,9 % foram formados pela Universidade do Tocantins (UNITINS) e 6,45% se formaram pela Associação Educacional Leonardo da Vinci (UNIASSELV); sendo que 48,38 % foram formados no ano de 2010; 22,58 % foram formados no ano de 2012 e 12,9 % em 2011.

Assim, através dessa pesquisa, foi possível perceber que existe uma intensa precarização no mercado de trabalho do Serviço Social ocupado por assistentes sociais egresso da formação à distância. Desse modo, podemos constatar que o processo de expansão dos cursos de Serviço Social implica em uma ampliação do seu mercado de trabalho, no entanto, essa ampliação tem se dado de forma bastante precária, ou seja, o processo de expansão do mercado de trabalho do Serviço Social tem sido acompanhado de um processo de profunda precarização nas relações de trabalho dos assistentes sociais.

III – CONCLUSÃO

Desse modo, podemos constatar que os cursos de Serviço Social vêm se expandido de forma bastante acelerada, no entanto, essa expansão é mais predominante na esfera

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privada, em especial na modalidade de ensino à distância (EAD), o que tende a impactar na formação profissional dos assistentes sociais e no mercado de trabalho do Serviço Social.

A pesquisa apontou que a diversificação, flexibilização e privatização da educação superior impactaram também nos cursos de Serviço Social, o que pode ser percebido na desenfreada expansão dos mesmos na esfera privada e, em especial, na modalidade de ensino à distância. Com isso, ficou claro que há uma grande disparidade na expansão dos cursos de Serviço Social em dois aspectos: o primeiro refere-se à esfera na qual estes cursos têm se expandido (privada e pública), já o segundo diz respeito à modalidade de ensino (presencial e EAD).

O estudo mostrou, ainda, que a inserção dos assistentes sociais formados em EAD no mercado de trabalho de Alagoas é caracterizada por uma intensa precarização nas condições de trabalho destes profissionais.

REFERÊNCIAS

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Referências

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