Entrar de corpo onde já entrávamos através da imaginação. Uma singela imersão literal em uma pintura que já nos convida a entrar por inteiro, e esperar por nosso amigo, nosso sonho amarelo.
Até mesmo as preocupações mais técnicas como pontos de vista sofreram influências das buscas e sentimentos das cartas entre Vincent e Theo.
“Nâo é uma cor localmente verdadeira do ponto de vista realista do ilusionismo, mas uma cor que sugere uma emoção qualquer de um temperamento ardente.
Pois bem, se fizéssemos cores totalmente fiéis, ou desenhos totalmente fiéis, não produziríamos estas emoções.”
Guiadas pela impressão das cartas, as escolhas dos elementos, dos materiais, luzes e cores pareciam ao mesmo tempo tanto óbvias, claras e diretas, quanto confusas ou atordoadas.
Para aqueles que possam encontrar alguma ligação entre essa homenagem - a
impressão de um quarto imaginado - e a realidade da Pintura, resta, não o repouso como Van Gogh procurava, mas o susto. Uma das forças dessa releitura está na surpresa de uma perspectiva desvelada.
Seu cavalete parecia estar dentro de suas paisagens, como se Vincent não se contentasse em apenas observar. Sua aproximação afetiva era também física. Talvez seja essa também a busca dessa homenagem.
“Ah, pintar figuras como Money pinta paisagens!”
Todo o quarto foi construído a partir de um ponto de vista fixo, e neste ponto colocamos uma câmera, a qual tem a função de retornar o público ao plano 2D, porém agora, incluído dentro do Quarto de Van Gogh.
Para tal, recorremos à um pintor automatizado criado por códigos computacionais. Ao ler os dados dessa câmera, nosso “pintor digital” re-insere o público no universo estético pós-impressionista de Vincent.
As pincelas ao estilo de Van Gogh foram conseguidas através de um código computacional desenvolvido em Openframeworks, uma ferramenta de código livre, onde os pixels coloridos passeiam pela tela criando a sensação de alongamento das cores.
Durante todo o período da exposição, os espectadores podem imprimir essas fotografias, alteradas pelo efeito digital, no postal de divulgação da mostra.
“e se somos um pouco loucos, que seja; não somos também um pouco artistas o suficiente para contrabalançar as inquietações a este respeito pelo que dizemos com o pincel?”
O mais instigante no trabalho de Van Gogh, para além da estética e do legado para a arte moderna, é a denúncia de um mundo desigual e injusto através da força impetuosa de suas pinceladas.
Indo na direção contrária de uma apreciação burguesa da natureza, seus girassóis sequer são floridos ou belos. Fortes e brutos, eles imputam à burguesia toda a responsabilidade pelo que vive e, principalmente, pelo que se recusa a enxergar.
Van Gogh foi pobre, mas não pela falta de qualidade de seus quadros. Van Gogh foi materialmente pobre pelo excesso de verdade, por desvelar um mundo que não podia ser visto, aceito ou reconhecido. Se, para a sociedade burguesa, a denúncia de um louco não tem valor, um Van Gogh suicidado deixaria instantaneamente de ser uma testemunha válida de seu tempo e de sua realidade. Por que comemorar o não-suicídio?
Porque assim os burgueses têm um argumento a menos.
Rafael Ski
Idealização | Direção | Identidade visual | Marceneiro FajutoCarú Rezende
ProduçãoRafaella Lima
ProduçãoFlavio Abreu
Assistente de produçãoHelena Martins
Assistente de produçãoLuiz Cláudio Santana
Projeto Cenográfico | Marceneiro FajutoRobson Rezende Cruzu
Auxiliar projeto de estrutura cenográficaJáder Barreto
Auxiliar projeto de estrutura cenográficaYuri Resende
MarceneiroAlexandre Magno Ferreira
Galpão de marcenariaIgor Resende
Cenotécnico auxiliarAlberto Carvalho
Cenotécnico auxiliarAloysio Cezar
Cenotécnico auxiliarRômulo Marques
Marceneiro FajutoGuilherme Melich
PinturaLuís Carbogim
Entalhe | PinturaGilberto Santos
IluminaçãoTeo
Arte e Diagramação da HQHomero Nogueira
Roteiro e pitacosChema Blanco
Programação do SoftwareCamila Freitas
MonitoraRenata Brandão
MonitoraEliza Möller
Confecção do colchãoGuilherme Lessa
Revisão do texto de aberturaAgradecimentos Especiais
Alexandre Magno Ferreira Tom Brynner Guilherme Lessa Kiko Barbosa Leka Fernandes Aloysio Cezar Oswaldo Lioi Afonso Rodrigues Jamil Rios
Flavia de Mello Monteiro Oscar Helder