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Índice. Uma nota sobre curar Prefácio A noite escura da alma Introdução Um compêndio sobre Psicologia Holística... 21

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Índice

Uma nota sobre curar ... 11

Prefácio A noite escura da alma ... 13

Introdução Um compêndio sobre Psicologia Holística ... 21

1 Você é o seu melhor terapeuta ... 29

2 O Eu consciente: ganhar consciência ... 53

3 Uma nova teoria do trauma ... 71

4 Corpo do trauma ... 99

5 Práticas de cura da mente e do corpo ... 123

6 O poder de acreditar ... 145

7 Conheça a sua criança interior ... 161

8 Histórias do ego ... 181 9 Laços traumáticos ... 197 10 Limites ... 221 11 Reparentalidade ... 249 12 Maturidade emocional ... 267 13 Interdependência ... 287

Epílogo A caixa de piza ... 303

Agradecimentos ... 309

Glossário de termos de Psicologia Holística ... 313

Leituras sugeridas ... 321

Índice remissivo ... 323

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Uma nota sobre curar

Ao longo de gerações, uma extensa e rica tradição sobre o percurso de transcender a nossa experiência humana tem sido transmitida por diferentes mensageiros. As tradições herméticas da antiguidade falavam de alquimias misteriosas, enquanto os místicos modernos, como George Gurdjieff, instavam os interessados a envolverem-se mais profundamente no mundo, atingindo níveis mais elevados de consciência. Vemos uma linguagem semelhante ser utilizada no co-nhecimento necessário à instrução antirracista e no imprescindível desmantelamento da opressão sistémica, bem como nos modelos de recuperação do consumo de substâncias, como os programas de 12 passos. O que todas estas iterações do trabalho partilham – e o que este livro promove e continua – é a procura do conhecimento do Eu e do seu lugar na comunidade. O objetivo do meu trabalho é dotar o leitor das ferramentas necessárias para compreender e ex-plorar as interligações complexas da mente, do corpo e da alma. Assim irá fomentar relações mais profundas, mais autênticas e mais significativas consigo mesmo, com os outros e no seio da sociedade em geral. O que se segue é a minha viagem e espero que esta o ins-pire a encontrar o seu próprio caminho.

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Prefácio

A noite escura da alma

Os poetas e os místicos parecem ter sempre despertares trans-cendentais algo divinos –  no topo de uma montanha, enquanto fitam, de olhar perdido, o mar aberto, junto a um riacho borbu-lhante, ao lado de uma sarça ardente. O meu ocorreu numa cabana em madeira no meio do bosque, quando dei comigo a chorar des-controladamente em frente a uma tigela de papas de aveia.

Estava no norte do estado de Nova Iorque com a minha compa-nheira, Lolly, no que era suposto serem as nossas férias, um retiro do stress da vida citadina em Filadélfia.

Enquanto tomava o pequeno-almoço, percorria as páginas do livro de outro psicólogo, a minha versão de uma “leitura de verão”. O  tópico? Mães emocionalmente indisponíveis. Enquanto o  lia – para enriquecimento pessoal, ou, pelo menos, era nisso que acre-ditava – as palavras desencadearam uma resposta emocional ines-perada e confusa.

“Estás esgotada”, disse a minha companheira, Lolly. “Tens de te acalmar. Tenta relaxar.”

Ignorei-a. Não acreditava que, de algum modo, fosse única nos meus sentimentos e  experiências em geral. Ouvia queixas seme-lhantes de tantos dos meus clientes e amigos. Quem é que não sai

da cama de manhã receoso do dia que tem pela frente? Quem não se sente distraído no emprego? Quem não se sente distante das pessoas que lhe são mais queridas? Quem, no mundo, pode dizer sincera-mente que não vive cada dia para as suas férias? Não é isto o que acontece à medida que crescemos?

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Tinha “celebrado” recentemente o meu 30.º aniversário e pen-sei: Será isto? Embora tivesse já realizado tanto daquilo com que sonhara em criança – viver numa cidade escolhida por mim, ter o  meu próprio consultório, encontrar uma companheira român-tica  – sentia ainda que havia algo essencial no meu ser que se perdera ou que faltava ou que nunca chegara a existir. Depois de vários anos envolvida em relações, sentindo-me, no entanto, sozi-nha, conheci finalmente uma pessoa que sentia ser certa, porque era tão diferente de mim. Enquanto eu era hesitante e muitas vezes distante, a Lolly era impetuosa e obstinada. Desafiava-me muitas vezes de formas entusiasmantes. Eu devia sentir-me feliz ou, no mí-nimo, satisfeita. Em vez disso, sentia-me fora de mim, desligada, apática. Não sentia nada.

Além disso, estava a passar por problemas físicos que se tinham tornado tão agudos que já não os podia ignorar. Havia uma névoa no meu cérebro, a qual me toldava tão profundamente que, por vezes, não só me esquecia de palavras ou frases, como entrava num estado de vazio completo. Isto era particularmente desagradável, especial-mente quando acontecia durante as sessões com os meus clientes. Problemas intestinais persistentes, que me afligiam há anos, faziam--me agora sentir pesada e constantemente oprimida. Até que um dia, do nada, desmaiei – perdi os sentidos por completo em casa de uma amiga, o que apavorou toda a gente.

Sentada na minha cadeira de baloiço, com a minha tigela de papas de aveia, num cenário tão sereno, senti repentinamente o quão vazia a minha vida se tornara. Tinha esgotado toda a minha energia, estava nas garras do desespero existencial, frustrada com a incapacidade de os meus clientes fazerem progressos, enraivecida com as minhas próprias limitações na busca do seu bem-estar e do meu, e profun-damente constrangida por uma indolência generalizada e uma insa-tisfação que me levava a questionar o propósito de tudo. Em casa, no meio da azáfama e do alvoroço da vida na cidade, conseguia disfarçar estes sentimentos perturbadores, canalizando todas estas energias para a ação: limpar a cozinha, passear o cão, traçar planos infini-tos. Movimento, movimento, movimento. Quem não olhasse com demasiada atenção poderia admirar a minha eficácia de tipo A. Mas

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bastava ir um pouco mais fundo para se perceber que eu movimen-tava o meu corpo para me distrair de alguns sentimentos por resolver profundamente enraizados. No meio do bosque, sem nada para fazer a não ser ler acerca dos efeitos duradouros do trauma de infância, já não conseguia fugir de mim mesma. O livro expunha muitos dos sentimentos sobre a minha mãe e a minha família que há tanto re-primia. Era como olhar para um espelho. Ali estava eu, despida, sem distrações e a sentir-me muito desconfortável com o que via.

Quando olhei com mais sinceridade para mim mesma, foi im-possível não constatar que muitos dos problemas que estava a ter eram muitíssimo parecidos com os que vira na minha mãe; em par-ticular, na relação da minha progenitora com o seu corpo e as suas emoções. Assisti à sua luta com uma dor física praticamente cons-tante nos joelhos e nas costas, e com uma ansiedade e preocupação frequentes. Ao crescer, claro, foram muitos os aspetos em que me revelei diferente da minha mãe. Eu era fisicamente ativa, fazendo do cuidado do corpo, através do exercício e de uma alimentação saudável, uma prioridade. Até me tornei vegetariana, depois de fazer amizade com uma vaca num santuário para animais, o que tornou impossível para mim contemplar sequer a possibilidade de voltar a ingerir alimentos de origem animal. Claro, o grosso do meu regime alimentar andava em torno de falsa carne hiperprocessada e da comida de plástico vegana (os cheesestakes veganos de Philly estavam entre os meus preferidos), mas pelo menos preocupava--me com o que introduzia no meu corpo. À exceção de álcool, que ainda ingeria em excesso, levava esse cuidado por vezes ao extremo, limitando-me e comendo sem alegria.

Sempre pensei que não era nada como a minha mãe, mas à me-dida que estas questões emocionais, e agora físicas, irrompiam, in-vadindo todos os aspetos da minha vida, apercebi-me de que era altura de começar a questionar tudo. E essa consciencialização des-fez-me em lágrimas. Havia uma mensagem implícita nesta imagem triste e algo patética. Esta manifestação de emoção era tão invulgar, tão exterior ao reino da minha personalidade típica, que não pude ignorar este sinal da alma. Algo gritava para que prestasse atenção, e não tinha onde me esconder no meio do bosque. Era altura de

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ficar cara a cara com o meu sofrimento, com a minha dor, com o meu trauma e, em última instância, com o meu Eu autêntico.

Hoje chamo a esse incidente a noite escura da alma, o meu bater no fundo. Bater no fundo é como uma morte e, para alguns de nós, pode literalmente aproximar-nos da morte. A morte, claro, possibi-lita o renascer, e eu emergi determinada em desvendar o que havia de errado. Aquele momento doloroso trouxe a luz, revelando tantas coisas sobre mim que tinha enterrado. De repente, tudo ficou claro:

tenho de mudar. Não fazia a mínima ideia de que esta perceção

con-duziria a um despertar físico, psicológico e espiritual que acabaria por se transformar num movimento internacional.

Inicialmente, concentrei-me naquilo que senti ser mais urgente: no meu corpo. Avaliei-me fisicamente: Quão doente estava e onde se manifestava esta doença? Soube intuitivamente que o  cami-nho de regresso começaria pela nutrição e pelo movimento. Alis-tei a Lolly, a quem chamo o meu Coelhinho Duracel da superação pessoal, para me ajudar a manter no caminho que me permitiria lidar de forma sincera com o modo como estava a maltratar o meu invólucro. Expulsava-me da cama de manhã, punha-me halteres nas mãos e obrigava-nos a movimentar conscientemente os nossos corpos várias vezes por dia. Pesquisámos profundamente o tema da nutrição e concluímos que muitas das nossas ideias sobre o “saudá-vel” eram discutíveis. Começámos um ritual matinal que incluía trabalho de respiração e meditação – uma vez mais, todos os dias. Embora, de início, eu tenha participado com alguma má vontade, e tenham existido dias perdidos, lágrimas, músculos doridos, almas em sofrimento e ameaças de desistência, após vários meses a ro-tina pegou. Comecei a ansiar por esta nova roa ro-tina e sentia-me física e mentalmente mais forte do que alguma vez me tinha sentido.

À medida que o meu corpo sarava, comecei a questionar mui-tas outras verdades que outrora sentira serem óbvias. Aprendi novas maneiras de pensar sobre o bem-estar mental. Tomei consciência de que uma desconexão entre mente, corpo e alma pode manifestar-se tanto através da doença como da desregulação. Descobri que os nos-sos genes não são o equivalente a destino e que, para mudar, temos de ganhar consciência dos nossos padrões de hábitos e de pensamentos,

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os quais foram moldados, acima de tudo, pelas pessoas de quem cui-damos, e que cuidaram de nós. Descobri uma definição nova e mais abrangente de trauma, uma que tem em consideração os profundos efeitos espirituais que o stress e as experiências adversas durante a in-fância têm no sistema nervoso do corpo. Apercebi-me de que tinha traumas por resolver da minha infância que me continuavam a afetar todos os dias.

Quanto mais aprendia, mais integrava o que estava a aprender nas escolhas diárias que fazia constantemente. Com o  passar do tempo, adaptei essas mudanças e comecei a transformar-me. Assim que o meu lado psicológico começou a sarar, fui mais longe, aprovei-tando alguns dos conhecimentos que tinha aprendido no meu vasto leque de experiências clínicas e aplicando-os ao conhecimento que estava a erigir sobre a integração da pessoa como um todo – o nosso Eu físico, psicológico e espiritual. Conheci a minha criança interior, aprendi como voltar a cuidar dela, analisei as ligações traumáticas que me mantinham refém, aprendi a estabelecer limites e come-cei a interagir com o mundo com uma maturidade emocional que nunca considerara possível, dado que sempre fora, para mim, um estado completamente estranho. Apercebi-me de que este trabalho interno não parava no meu interior, antes estendendo-se para lá de mim, abarcando todas as relações e a comunidade em geral. Esta compreensão reveladora do bem-estar de mente-corpo-alma en-contra-se encapsulada nas páginas que se seguem, que estabelecem os princípios básicos da Psicologia Holística.

Escrevo-vos, hoje, a partir de um lugar de cura contínua. Os meus sintomas de ansiedade e  pânico desapareceram em grande parte. Já não me relaciono com o mundo a partir de uma posição reativa e consigo ter acesso à consciência e à compaixão. Sinto-me ligada e presente junto dos meus entes queridos – e consigo estabelecer li-mites com aqueles que não são participantes ativos na minha viagem. Sinto-me consciente pela primeira vez na minha vida adulta. Não me apercebi quando bati no fundo. Não me apercebi um ano depois. Hoje, sei que não estaria a escrever este livro se não tivesse acedido às profundezas do meu desespero.

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Lancei The Holistic Psychologist em 2018, depois de decidir que queria partilhar as ferramentas que descobrira com outros. Eu tinha de partilhar. Pouco depois de ter partilhado a minha história no Ins-tagram, cartas de trauma, cura e resiliência emocional começaram a encher a minha caixa de entrada. As minhas mensagens de cura holística tinham-se repercutido na mente coletiva, atravessando ida-des e fronteiras culturais. Hoje, mais de 3 milhões de pessoas seguem a minha conta e assumiram a identidade de #SelfHealers – partici-pantes ativos no seu bem-estar mental, físico e espiritual. Apoiar esta comunidade tornou-se o trabalho da minha vida.

Celebrei o primeiro aniversário de The Holistic Psychologist rea-lizando uma meditação da criança interior na Costa Oeste, para agradecer o apoio da minha comunidade e para dar uma oportu-nidade de estabelecer ligações na vida real e celebrar a viagem que partilhamos. Dias antes, procurei no Google “Venice Beach loca-tions” e escolhi aleatoriamente um ponto de encontro. Ofereci bi-lhetes grátis através do Instagram e fiz figas para que as pessoas se interessassem. Em poucas horas, 3 mil pessoas tinham-se inscrito. Nem conseguia acreditar.

Sentei-me sob o sol quente no meio da vasta extensão de Venice Beach, enquanto corredores e diversas personagens do sul da Cali-fórnia iam passando por mim. Fixei o olhar nas vagas que batiam na costa. A areia áspera por baixo dos meus dedos dos pés e a hu-midade gelada do meu cabelo molhado pelo oceano fizeram com que ficasse extremamente consciente do meu corpo no espaço e no tempo. Senti-me tão presente, tão viva ao erguer as mãos na forma de uma prece, imaginando os vários caminhos da vida que tinham trazido cada um daqueles incríveis seres humanos à  praia nessa manhã. Analisei a multidão e, por breves instantes, senti-me asso-berbada pelo simples número de olhares apontados na minha dire-ção, eu, que sempre odiei ser o centro das atenções. Então, comecei:

Algo vos trouxe aqui. Algo no vosso interior veio até aqui com uma profunda esperança de cura. A esperança de serem a melhor versão que podem ser. Isso é algo a celebrar. Todos tivemos uma infância que continua a criar a nossa realidade

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atual, e  hoje escolhemos curar-nos do nosso passado para criar um novo futuro.

A parte de vocês que sabe que isto é verdade é a intuição. Esteve sempre presente. Simplesmente desenvolvemos o há-bito de não a ouvir ou não confiar no que diz. Estar aqui hoje é um passo na cura dessa confiança quebrada dentro de nós. Ao proferir estas palavras, fixei o olhar numa estranha na multi-dão. Ela sorriu-me e tocou no seu coração, como se estivesse a dizer “obrigada”. De repente, as lágrimas encheram-me os olhos. Estava a chorar – e estas não eram as mesmas lágrimas que derramara sobre as minhas papas de aveia tantos anos antes. Estas eram lágrimas de amor, de aceitação, de alegria. Estas eram lágrimas de cura.

Eu sou a prova viva desta verdade: os despertares não são expe-riências místicas reservadas a monges, místicos e poetas. Não são apenas para pessoas “espirituais”. São para todos aqueles que querem mudar – que ansiam por se curar, por prosperar, por brilhar.

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Introdução

Um compêndio sobre

Psicologia Holística

Cura-te é o testemunho de uma abordagem revolucionária ao

bem-estar mental, físico e espiritual chamada Psicologia Holística. É um movimento que se dedica à prática diária de criar o seu pró-prio bem-estar, ao quebrar padrões negativos, fazer as pazes com o passado e reinventar o Eu consciente.

A Psicologia Holística concentra-se na mente, no corpo e na alma para reequilibrar o corpo e o sistema nervoso, assim como para curar feridas emocionais não resolvidas. Este trabalho dá-lhe o poder para se transformar na pessoa que sempre foi no seu íntimo. Conta uma história nova e entusiasmante, em que os sintomas físicos e psico-lógicos são mensagens, não diagnósticos eternos que só podem ser geridos. É uma história que vai à raiz da dor crónica, do stress, do cansaço, da ansiedade, da desregulação intestinal e dos desequilí-brios do sistema nervoso que há muito que são descartados ou igno-rados pela medicina ocidental tradicional. Ajuda a explicar porque tantos de nós nos sentimos presos, distantes ou perdidos. Oferece ferramentas práticas que lhe permitirão criar novos hábitos para si mesmo, compreender o comportamento dos outros e libertar-se da ideia de que o seu valor é determinado por uma qualquer pessoa ou coisa fora de si mesmo. Se se comprometer em fazer o trabalho todos os dias, chegará o dia em que olhará para o espelho e se sentirá es-pantado perante a pessoa que lhe devolve o olhar.

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Estes métodos holísticos – exercícios que aproveitam os poderes do físico (através da respiração e do trabalho do corpo), do psicoló-gico (ao alterar a sua relação com os seus pensamentos e as suas ex-periências passadas) e  do espiritual (através da ligação ao nosso Eu autêntico e ao coletivo) – são eficazes porque o corpo, a mente e a alma estão ligados. Funcionam porque assentam na ciência da epigenética e a realidade de que temos muito mais impacto sobre o  nosso bem-estar mental do que aquilo que podemos pensar. Curar é um processo consciente que pode ser vivido diariamente através de alterações nos nossos hábitos e padrões.

Tantos de nós existem num estado de inconsciência. Navega-mos pelo mundo guiados por um piloto automático cego, exibindo comportamentos automáticos habituais que não nos servem nem refletem quem somos fundamentalmente e o que desejamos pro-fundamente. A prática da Psicologia Holística ajuda-nos a restabele-cer a ligação com o nosso sistema de navegação interno, do qual nos afastámos por influência dos padrões condicionados aprendidos no início da infância. A Psicologia Holística ajuda-nos a encontrar essa voz intuitiva, a confiar nela e a desapegar da “personalidade” que foi modelada e moldada por progenitores, amigos, professores e pela sociedade em geral, permitindo-nos trazer a consciência para o Eu inconsciente.

Nestas páginas encontrará um novo paradigma para uma abor-dagem integrada da cura que inclui a mente, o corpo e a alma. Tenha em atenção que não estou a defender o rasgar do modelo antigo; não estou a sugerir que as ferramentas da psicoterapia convencional e de outros modelos terapêuticos não têm valor. Pelo contrário, estou a propor uma abordagem que engloba aspetos de várias modalidades – da psicologia e da neurociência ao mindfulness e às práticas espi-rituais –, num esforço para cultivar o que acredito serem as técnicas mais eficazes e integradas para a cura e o bem-estar. Incorporei lições e pontos de vista de modelos tradicionais, como a Terapia Cogni-tivo-Comportamental (TCC) e a psicanálise, incluindo, ao mesmo tempo, aspetos holísticos que não são (enquanto escrevo estas pági-nas) inteiramente abraçados pela corrente dominante da psicologia. É importante compreender que a prática da Psicologia Holística está

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enraizada na liberdade, na escolha e, em última análise, no forta-lecimento. Alguns destes elementos encontrarão eco em si, outros não; o objetivo é usar as ferramentas que melhor funcionem consigo. O simples ato de escolher ajudá-lo-á a ligar-se mais profundamente à sua intuição e ao seu Eu autêntico.

Aprender a curar-se a si mesmo – autocura – é um ato de for-talecimento. A autocura não só é possível como é a nossa realidade enquanto seres humanos, porque ninguém, além de nós, pode saber verdadeiramente o que é melhor para cada um de nós enquanto in-divíduos. Infelizmente, para muitas pessoas, os cuidados de saúde, em especial os cuidados de saúde mental, são inalcançáveis. Vive-mos num mundo em que existem grandes iniquidades em terVive-mos de acesso, de acordo com o local em que vivemos, a nossa aparência e quem somos. Mesmo aqueles entre nós que são suficientemente privilegiados para poderem pagar o tipo de cuidado de que neces-sitam deparam-se frequentemente com a  verdade reveladora de que nem todos os cuidados são criados de igual modo. E se for-mos suficientemente afortunados para encontrar um profissional verdadeiramente prestável, somos limitados pelo tempo que essa pessoa nos disponibiliza. Este livro oferece um modelo de apren-dizagem autónomo que contém a informação e as instruções que possibilitam que você trabalhe na sua própria cura. Compreender verdadeiramente o  seu passado, ouvi-lo, testemunhá-lo, aprender com esse passado, é um processo que possibilita uma mudança pro-funda. Uma mudança duradoura. Que possibilita uma verdadeira transformação.

Cura-te é apresentado em três partes. A primeira parte

estabe-lece as fundações à medida que ficamos cientes do nosso Eu cons-ciente, da força dos nossos pensamentos e da influência do stress e dos traumas de infância em todas as vertentes do nosso corpo. Permite-nos compreender em que medida a desregulação física nos nossos sistemas corporais nos impede de avançar mental e emocio-nalmente. Na segunda parte, retiraremos uma camada e entrare-mos “na mente”. Exploraree entrare-mos o funcionamento do consciente e do subconsciente, aprenderemos como o  poderoso condicionamento dos nossos progenitores moldou o nosso mundo, criando padrões

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de pensamento e de comportamento que ainda hoje persistem. De-pois, mergulharemos um pouco mais fundo na nossa mente e en-contraremos a nossa criança interior. Aprenderemos as histórias do ego que nos protegem e nos forçam a repetir os padrões de rela-cionamento que começámos a experienciar durante a infância. Na parte final, a qual considero ser a essência do trabalho, aprendere-mos a aplicar o conhecimento que adquiriaprendere-mos, de modo a atingir a maturidade emocional que nos permitirá de criar relações mais autênticas com os outros. Ninguém é  uma ilha. Somos criaturas sociais e só quando conseguirmos verdadeiramente incorporar o nosso Eu autêntico é que seremos capazes de criar relações profun-das com as pessoas que amamos. É desta forma que estabelecemos as fundações a  partir das quais desenvolveremos um sentido de unicidade com o coletivo “nós” ou algo maior do que nós mesmos. Pelo caminho, incluí instruções e ferramentas com a intenção de ir ao seu encontro onde quer que esteja na sua viagem.

Tudo o que precisa para iniciar esta transformação é do seu Eu consciente, de um desejo de investigar a fundo e de compreender que mudar não é fácil e que o caminho à sua frente será, por vezes, difícil. Não existem aqui soluções rápidas, algo difícil de aceitar, em especial para aqueles entre nós que têm sido condicionados a acreditar na ilusão da poção mágica. Eu serei a primeira a dizer que fazer o trabalho é isso mesmo: trabalhar. Não existem atalhos e mais ninguém o pode fazer por si. Pode ser desconfortável e até assustador tornar-se um participante ativo na sua própria cura. Em última análise, aprender quem é e do que é capaz não é apenas for-talecedor e transformador, é também uma das experiências mais profundas que poderemos ter.

Algumas pessoas que seguem o  meu trabalho dizem-me que apresento as verdades embrulhadas em cobertores simpáticos e con-fortáveis. Encaro-o como um elogio e vou falar a sério por um mo-mento: é possível ficar-se demasiado confortável. A cura raramente chega sem dificuldade. Por vezes é dolorosa e também assustadora. Significa libertar-se de narrativas que o refreiam e magoam. Signi-fica deixar uma parte de si morrer para que outra possa renascer. Nem toda a gente quer ficar melhor. E não há problema nenhum

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nisso. Algumas pessoas têm uma identidade ligada à doença. Outras receiam o verdadeiro bem-estar, porque representa o desconhecido e o desconhecido é imprevisível. Há conforto em saber exatamente como será a sua vida, mesmo que essa realidade o deixe doente. As nossas mentes são máquinas que procuram a familiaridade. O fami-liar confere uma sensação de segurança; isso até nos ensinarmos que o desconforto é temporário e uma parte necessária da transformação.

Saberá quando estiver preparado para dar início a esta viagem. Depois, irá questionar-se e  quererá desistir. É  nessa altura que é mais importante que se mantenha empenhado e continue a re-petir a prática até se tornar disciplina. Por fim, essa disciplina aca-bará por se transformar em confiança, a confiança em mudança e a mudança em transformação. A verdadeira evolução não tem nada que ver com algo que existe “por aí”. Tem tudo que ver com o que se encontra em si. Vem de si.

O  primeiro passo, um passo surpreendentemente desafiante, é começar a imaginar um futuro que pareça diferente do presente. Feche os olhos. Assim que conseguir imaginar uma realidade al-ternativa à que vive presentemente estará preparado para avançar. E se ainda não consegue imaginar essa realidade, está longe de estar sozinho. Existe uma razão para esse bloqueio mental. Acompanhe--me; este livro foi escrito para si, pois também eu fui essa pessoa.

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Você é o seu

melhor terapeuta

Este cenário ser-lhe-á, provavelmente, familiar: você decide que hoje é o dia em que vai mudar a sua vida. Vai começar a ir ao gi-násio, a ingerir menos alimentos processados, a fazer uma pausa nas redes sociais, cortar laços com uma antiga relação problemá-tica. Está determinado a garantir que desta vez as mudanças serão duradouras. Mais tarde – talvez sejam apenas algumas horas, tal-vez sejam alguns dias ou semanas –, a resistência mental entra em ação. Começa a sentir-se fisicamente incapaz de evitar um refrige-rante açucarado. Não consegue reunir energia para ir ao ginásio e sentir-se-á obrigado a enviar a um/a antigo/a companheiro/a uma breve mensagem escrita para dizer olá. A mente começa a gritar-lhe histórias convincentes para o prender à vida que conhece, com ar-gumentos como: “Mereces uma pausa.” O corpo junta-se à mente, com sensações de exaustão e abatimento. A mensagem assoberbada transforma-se em: “Não consegues fazer isto.”

Ao longo da minha década de trabalho enquanto investigadora e psicóloga clínica, “preso” era a palavra mais comummente utili-zada pelos meus clientes para descrever o modo como se sentiam. Todos os clientes faziam terapia porque queriam mudar. Alguns queriam mudar as coisas dentro de si através da criação de hábi-tos, aprendendo novos comportamentos ou encontrando modos de

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pararem de se detestar a si mesmos. Outros queriam mudar as coi-sas fora de si, transferir as suas relações com os outros ou mudar uma dinâmica problemática com um progenitor, um cônjuge ou um colega. Muitos queriam (e precisavam de) realizar alterações tanto internas como externas. Tratei pessoas abastadas e pessoas que viviam na pobreza; tipos hiperfuncionais e superimportantes; e pessoas que foram encarceradas e rejeitadas pela sociedade tradi-cional. De forma unânime, independentemente da origem, todos os clientes se sentiam presos – presos a maus hábitos, a compor-tamentos nocivos, a padrões previsíveis e problemáticos –, e isso levava a sentirem-se sozinhos, isolados e desesperados. Quase todos se preocupavam com o modo como esta “prisão” era vista pelos ou-tros, e muitas vezes sentiam-se obcecados relativamente às diversas formas como todas as pessoas na sua vida os viam. A maior parte partilhava uma crença profundamente enraizada de que a sua cons-tante incapacidade em manter a mudança refletia provas de danos mais profundos e intrínsecos ou de “desmerecimento” – uma des-crição utilizada por muitos.

Muitas vezes, os meus clientes mais conscientes de si mesmos eram capazes de identificar os seus comportamentos problemá-ticos e até mesmo visualizar o caminho que os conduziria à mu-dança. Mas poucos conseguiam dar esse primeiro passo do saber para o fazer. Aqueles que conseguiam ver uma saída expressavam sentimentos de vergonha sobre as recaídas instintivas em padrões de comportamento indesejados. Sentiam-se envergonhados por

sa-berem mais e, ainda assim, não conseguirem fazer mais, razão pela

qual acabavam no meu consultório.

Mesmo a minha ajuda e o meu apoio eram, frequentemente, de valor limitado. Cinquenta minutos de terapia por semana não pare-ciam ser suficientes para realizar uma mudança significativa na maio-ria dos meus clientes. Alguns ficavam de tal modo frustrados com este carrossel insatisfatório que deixavam de procurar por completo a terapia. Embora muitos outros tenham beneficiado do nosso tempo juntos, as melhorias eram dolorosamente lentas. Uma sessão parecia altamente produtiva, mas depois o cliente regressava na semana se-guinte com histórias que refletiam o mesmo conjunto de problemas

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previsíveis. Muitos clientes expressavam um discernimento incrível na terapia, juntando todos os padrões que os refreavam, e depois, na vida real (fora do meu consultório), sentiam-se incapazes de resistir à atração instintiva pelo conhecido. Podiam olhar para trás e ver as questões, no entanto, não tinham cimentado a capacidade de apli-car esse conhecimento, em tempo real, às suas vidas atuais. Observei padrões semelhantes em pessoas que passaram por experiências de transformação profunda – aquelas que participaram em retiros in-tensivos ou em cerimónias ayahuasca psicadélicas – e depois, com o passar do tempo, deslizavam de volta aos comportamentos antigos e indesejados que, inicialmente, os tinham conduzido à procura de respostas. A incapacidade para avançar depois de passar por uma experiência tão aparentemente transformadora deixava muitos dos meus clientes em crise: Mas o que tenho eu de errado? Porque não

consigo mudar?

O  que me vim a  aperceber é  que a  terapia e  as experiências transformadoras únicas (como as cerimónias ayahuasca) são limi-tadas na sua capacidade para nos conduzir ao longo do caminho da cura. Para tornar verdadeiramente real a mudança é necessário que se envolva no trabalho de fazer novas escolhas todos os dias. De modo a atingir o bem-estar mental, tem de começar por ser um participante diário ativo na sua própria regeneração.

Quanto mais olhava à minha volta, mais via a mesma frustra-ção, mesmo para lá da minha atividade profissional, entre o meu círculo de amigos. Tantos deles tomavam medicamentos para in-sónias, depressão e ansiedade. Alguns ainda não tinham sido ofi-cialmente diagnosticados com qualquer tipo de perturbação de humor, no entanto, canalizavam muitos dos mesmos sintomas para expressões aparentemente aceitáveis, como a preocupação excessiva com o sucesso, as viagens constantes e o envolvimento obsessivo nas redes sociais. Essas pessoas eram as que tinham as melhores notas, que concluíam os seus trabalhos semanas antes do prazo, que corriam maratonas, que conseguiam empregos extremamente stressantes e eram excelentes em ambientes de cortar à faca. Em muitos aspetos, eu era uma dessas pessoas.

Referências

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