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VACINA PARA A PANDEMIA DA DESIGUALDADE

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Academic year: 2021

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DA DESIGUALDADE

O “PROPÓSITO” COMO VACINA PARA A PANDEMIA

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mundo, protestos ocorreram e houve o crescimento dos movimentos

antirracismo. Grande parte da população passou a depender de ajudas

governamentais para sobreviver e em meio a esse contexto fi cou

claro que o Capitalismo individualista voltado somente ao lucro dos

acionistas está com os dias contados. Mas, ao contrário do que se pode

imaginar quando se olha para o passado, o caminho que se vislumbra

hoje não é o de controlar a “Mão Invisível” de Adam Smith - onde o

mercado livre se autorregularia sem a necessidade da intervenção

do Estado - mas sim o de dar consciência a ela. Esta perspectiva

vem ganhando força com movimentos que se convergem.

por

ANA BORGES

A consciência capitalista signifi ca ir além da visão disseminada por muitas e muitas décadas de que a empresa existe somen-te para seus acionistas. Tal conceito vinha sendo amplamensomen-te adotado pelo mercado desde 1970, quando o economista Milton Friedman, escreveu, há exatos 50 anos, artigo no New York Ti-mes destacando que “a única responsabilidade social das em-presas é aumentar os seus lucros”. De lá para cá, a sociedade mudou, e garantir a perpetuidade dos negócios e o próprio ga-nho dos investidores requer que os gestores saiam da miopia do lucro de curto prazo e ampliem seus objetivos, trazendo ganhos não só aos shareholders, mas a todos os stakeholders.

“Falar da maximização do lucro do acionista, em última aná-lise, não está errado, mas o que Friedman não previu - e o que ninguém quis olhar - é esse lado cinza do preto e do branco, ou seja, o “como” eu faço essa maximização do lucro é que tem que ser prioritário. Eu não posso gerar riqueza, felicidade e saúde fi nanceira para os acionistas às custas de sofrimen-to, sacrifício e tristeza dos demais stakeholders”, afi rma Hugo

Bethlem, presidente do Instituto Capitalismo Consciente

Bra-sil. Ele ressalta que o capitalismo continua sendo a melhor for-ma de gerar riqueza e inclusão social das pessoas, elevando a

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“Um dos princípios básicos do Capitalismo Consciente é recorrer ao que Adam Smith escreveu na Riqueza das Nações, ou seja, que a riqueza de uma nação não tinha a ver com seus recursos naturais, com a sua cultura, com a sua arte ou com a sua agricultura, mas sim com o grau de liberdade de seu povo. O Capitalismo Consciente parte do princípio de que nós precisamos ter livre mercado”, destaca Bethlem.

Tudo começou a partir de um estudo acadêmico realizado por Raj Sisodia, Jaf Shereth e David Wolf, que analisaram como cerca de 500 empresas conseguiam manter alta re-putação e fidelidade dos clientes sem ter investimentos exorbitantes em publicidade e marketing. “Tais empresas tinham um propósito maior, um líder consciente que cui-dava de todo mundo, uma política de interdependência e de tratamento equânime de todos os stakeholders, além de cultura e valores para perpetuar o seu negócio”, lem-bra Bethlem.

Antes mesmo de ser publicado, o estudo chegou ao conheci-mento de John Mackey, CEO da Whole Foods, que identificou no manuscrito muitas características e atitudes já aplicadas em seu negócio. Com a contribuição de Mackey, o estudo evo-luiu para o livro Firms of Endearment (Empresas

Humaniza-Um dos princípios básicos do Capitalismo

Consciente é recorrer ao que Adam Smith

escreveu na Riqueza das Nações, ou seja, que a

riqueza de uma nação não tinha a ver com seus

recursos naturais, com a sua cultura, com a sua

arte ou com a sua agricultura, mas sim com o

grau de liberdade de seu povo. O Capitalismo

Consciente parte do princípio de que nós

precisamos ter livre mercado.

das), publicado em 2007, que explana sobre como as empre-sas lucram a partir da paixão e propósito. Iniciava-se então o movimento Capitalismo Consciente.

As condições atuais reforçam a tese deste movimento que surgiu nos Estados Unidos e se tornou global. Segundo esti-mativa da Organização Internacional do Trabalho, mais 305 milhões de trabalhadores em tempo integral devem estar desempregados no segundo trimestre deste ano. Ao mesmo tempo, a concentração de riqueza só cresce. Em 2018, somen-te 26 pessoas detinham metade da riqueza da população mundial (3,8 bilhões de pessoas), de acordo com estudo di-vulgado pela Oxfam, organismo internacional de combate à desigualdade e pobreza. “O problema do planeta não é falta de sustentabilidade, é falta de consciência. A sustentabilida-de é consequência disso”, sustentabilida-destaca o presisustentabilida-dente do Instituto Capitalismo Consciente Brasil.

Em dez anos desde a crise financeira global de 2008, o núme-ro de bilionários quase dobnúme-rou no mundo. Somente em 2018, a riqueza deles aumentou em US$ 900 bilhões. Ao mesmo tempo, o patrimônio da metade mais pobre da população mundial, caiu 11%. Este paradoxo entre a geração de riqueza e o aumento da desigualdade leva a necessidade de repensar o capitalismo, assim como o papel das empresas.

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“O antigo sistema de colocar o lucro antes das pessoas e do planeta mostra cada vez mais suas injustiças, desigualda-des e a falta de transparência e resiliência. Nesse contexto, as empresas têm o papel de acelerar a implantação de uma Nova Economia, cujo maior indicador de sucesso seja o de promover impactos positivos que gerem valor para a socieda-de socieda-de maneira sustentável”, resume Francine Lemos, direto-ra executiva do Sistema B Bdireto-rasil.

O NOVO NORMAL

Com a pandemia, as diferenças ficaram mais evidentes. A crise provocada pelo Coronavírus escancarou a desigual-dade e evidenciou um sistema econômico que privilegia poucos. Ficou claro que o princípio de dar ênfase ao re-torno financeiro para o acionista em detrimento de outros stakeholders não considera o bem comum na equação. “Se tem uma lição que a crise da Covid-19 está nos trazendo é que não vivemos em um sistema econômico resiliente. É urgente que as empresas e o mercado financeiro ampliem suas responsabilidades para com a sociedade. Não se trata apenas de pagar impostos e gerar valor para o acionista. Esta mentalidade é pré-Covid-19. O novo normal já é dife-rente”, complementa Francine.

Para Marcel Fukayama, diretor executivo do Sistema B

FRANCINE LEMOS, Sistema B - Brasil

planeta mostra cada vez mais suas

injustiças, desigualdades e a falta de

transparência e resiliência. Nesse

contexto, as empresas têm o papel de

acelerar a implantação de uma Nova

Economia, cujo maior indicador de

sucesso seja o de promover impactos

positivos que gerem valor para a

sociedade de maneira sustentável.

no Brasil, a pandemia expôs fissuras estruturais: a crise sanitária, humanitária, social, econômica ambiental e po-lítica. “Ela não é uma coincidência e não é pontual, é crôni-ca e sistêmicrôni-ca. A pandemia expôs essas fissuras principal-mente nos temas de desigualdade e crise climática. Então, as empresas têm o papel fundamental de protagonizar a construção dessa nova economia gerando emprego, renda e, principalmente, impacto social ambiental e econômico positivo”, afirma.

Neste contexto, a sigla ESG ganhou força em 2020. A Gover-nança Social e Ambiental refere-se a uma série de princípios e processos que as empresas adotam para estar adequadas às melhores práticas de sustentabilidade, relações sociais e governança, cada vez mais importantes para a atração de in-vestimentos. A pandemia mostrou que empresas que adotam ESG em seu DNA se mostram mais resilientes e promissoras em crises e momentos de incertezas.

“A empresa deve responder a uma pergunta simples: qual a dor da humanidade que o seu negócio pretende curar? E aí é alinhar o propósito com a visão estratégica. A questão é como você faz dinheiro e não quanto dinheiro você faz. O como você faz dinheiro implica em um impacto social positivo”, afirma Bethlem.

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Em janeiro e fevereiro de 2020, a KPMG entrevistou 1.300 CEOs de 11 mercados-chave, antes que o impacto da crise derivada da pandemia fosse sentido. Posteriormente, em julho e agosto, 315 CEOs foram ouvidos novamente, para que a consultoria pudesse entender como suas perspectivas haviam evoluído durante a crise. Como resultado, pode-se perceber que as prioridades mudaram radicalmente desde o início de 2020, ao mesmo tempo em que algumas tendências se aceleraram, principalmente em termos de questões ESG, bem como flexibilidade laboral e transformação digital. Para se ter uma ideia, 79% dos CEOs ao redor do mundo afir-maram que tiveram que reavaliar o propósito de sua organi-zação em decorrência da crise do COVID-19. As questões ESG aparecem no topo das agendas. A maioria - 63% no mundo - passou a se concentrar no componente social. Por conta dos riscos relacionados às mudanças climáticas 66% dos en-trevistados reconheceram que a gestão deste tema será um elemento fundamental para manter sua posição nos próxi-mos cinco anos.

“Uma das coisas que a pandemia trouxe indiscutivelmente foi escancarar a realidade, levantar a cortina e mostrar as nossas verdadeiras mazelas. Da pandemia, ficamos apenas com as tristes lembranças das mortes, dos empregos perdi-dos, das empresas fechadas. Acho que a gente não está le-vando nada de bom que o momento nos permite levar, mas aconteceu um despertar muito grande dos empresários e dos executivos de que o modelo do Capitalismo só para acionis-tas não está mais funcionando”, diz Bethlem.

Assim, a adoção de uma dinâmica corporativa calcada nos princípios ESG, totalmente aderente ao Capitalismo Cons-ciente, vai se configurando como um caminho sem volta para as empresas. “Companhias que zelam pelos seus consu-midores, funcionários, acionistas, fornecedores e têm sólida governança, no geral, apresentam muito mais resiliência, jus-tamente por entenderem como essa complexa relação de tro-ca com seus stakeholders, ao se tornar um ganha-ganha, vira uma mola propulsora para o sucesso e uma rede de proteção nas dificuldades”, defende Renato Rocha, superintendente de Relações com Investidores da Neoenergia.

Ele acredita que as companhias abertas, com todo o grau de transparência que praticam, possuem uma grande oportunidade de serem o motor da consolidação desta nova era. “Ao profissional de RI, em particular, que é a linha frente entre a empresa e o mercado de capitais, fica o desafio de comunicar de forma estruturada, o quanto a atuação cimentada nos princípios ESG criam valor para o

MARCEL FUKAYAMA, Sistema B - Brasil

A pandemia expôs fissuras

estruturais: a crise sanitária,

humanitária, social, econômica

ambiental e política. Ela não é uma

coincidência e não é pontual, é

crônica e sistêmica. A pandemia

expôs essas fissuras principalmente

nos temas de desigualdade e crise

climática. Então, as empresas

têm o papel fundamental

de protagonizar a construção

dessa nova economia gerando

emprego, renda e, principalmente,

impacto social ambiental e

econômico positivo.

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negócio no longo prazo, para que estes princípios não se-jam ignorados na hora do investidor escolher como alocar seu capital”, diz.

Francine concorda. Para ela, o responsável pelo relacio-namento com investidores exerce um papel fundamen-tal no processo de transição para desenvolvimento sus-tentável, demonstrando os valores da sustentabilidade corporativa aos investidores. “Mais do que nunca, o mer-cado financeiro deve assumir um compromisso firme e participativo para a construção de uma nova economia, principalmente considerando que o setor é o maior inte-ressado em manter a estabilidade do sistema. Portanto, implementar uma estrutura para alocação do capital que inclua aspectos de governança focados em sustentabili-dade (e também em regeneração) será essencial para ace-lerar essa transição”, ressalta.

Há um evidente progresso no reconhecimento da importân-cia dos fatores ambientais, soimportân-ciais e de governança, demons-trado em debates de lideranças globais como o Fórum Eco-nômico Mundial, realizado em janeiro deste ano em Davos. Ainda assim, muitos investidores precisam integrar esses princípios aos seus processos de investimentos ou se envol-ver com as causas das empresas em que investem.

RENATO ROCHA, Neoenergia

e o mercado de capitais, fica o

desafio de comunicar de forma

estruturada, o quanto a atuação

cimentada nos princípios ESG criam

valor para o negócio no longo prazo,

para que estes princípios não sejam

ignorados na hora do investidor

escolher como alocar seu capital.

OS PRINCÍPIOS

A prática do Capitalismo Consciente é baseada em quatro princípios. O primeiro é o Propósito Maior, o qual afirma que uma empresa deve ser muito mais do que simplesmente gerar lucros: precisa existir por uma causa.

O segundo consiste na Cultura Consciente, ou seja, na incor-poração dos valores, princípios e práticas subjacentes ao te-cido social de uma empresa. Ela conecta os stakeholders uns aos outros e também ao seu propósito, pessoas e processos. Para ter cultura consciente, é preciso que a empresa con-te com uma Liderança Consciencon-te. Escon-te con-terceiro princípio parte da visão de que os líderes são responsáveis por ser-vir ao propósito da organização criando valor para todos os seus stakeholders e cultivando uma Cultura Consciente de confiança e cuidado. “Ser um líder consciente não é levar os outros nas costas e fazer as coisas por eles. Ser um líder consciente é levar os outros no coração e ensinar o caminho que deve ser seguido”, diz Bethlem.

Por último, o quarto princípio, a empresa deve ter Orienta-ção para Stakeholders, pois um negócio deve gerar diferentes valores para todas as partes interessadas. “Se não tiver uma governança firme e fortemente estruturada, um propósito,

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um líder consciente, cultura e valores, não existe investi-mento ambiental e social que seja verdadeiro, duradouro e transparente. Empresas que têm propostas, líderes conscien-tes, cultura e valores têm o consumidor como um grande fã. São muito mais resilientes e estão conseguindo passar por esse momento de uma maneira muito mais tranquila a des-peito de todas as dificuldades”, avalia.

Para Bethlem, este é um momento do despertar, o que levou ao crescimento do Instituto. Hoje são 200 associados pessoas jurídicas e duas mil pessoas físicas.

CONSCIÊNCIA QUE DÁ RETORNO

Na avaliação de Fukayama a conscientização das empresas é crescente principalmente por conta de três stakeholders-chave. O primeiro é o consumidor que está cada vez mais informa-do e em busca de opções de consumo mais conscientes e res-ponsáveis.

O relatório do Capgemini Research Institute, intitulado, “Consumer Products and Retail: How sustainability is fundamentally

changing consumer preferences” (Produtos de consumo e varejo:

como a sustentabilidade está mudando fundamentalmente as preferências do consumidor) concluiu que a sustentabili-dade aumentou na agenda do cliente: 79% dos consumidores mudaram suas preferências de compra com base na respon-sabilidade social, inclusão ou impacto ambiental.

“Temos hoje um consumidor muito mais engajado e conec-tado, que está observando e sentindo no seu dia a dia o com-portamento das empresas nessa difícil travessia. Não será surpresa que as empresas mais sensíveis às necessidades da sociedade durante a pandemia sejam recompensadas ali na frente, do mesmo modo que as menos atentas tendem a ser punidas”, destaca Renato Rocha da Neoenergia.

O segundo é o colaborador, principalmente pela mudança de perfil do funcionário. Hoje metade da força de trabalho do pla-neta é da Geração Milênio e a perspectiva é que daqui a cinco anos a proporção seja de três em cada quatro pessoas. “Rela-tórios apontam que esta geração não é movida pelo salário, mas pela proposta de impacto positivo nas empresas. Então, aquelas empresas que incorporaram o propósito de impacto positivo no seu ambiente trabalho, na sua cadeia de valor e o no seu modelo de negócio tendem a ampliar sua capacidade de atração e retenção de talentos”, avalia Fukayama.

O terceiro stakeholder-chave é o investidor que tem obtido uma consciência ainda mais ampliada sobre o que o seu

ca-pital nutre. “Isso vem no mundo pré-pandemia. Depois de crises importantes como Mariana e Brumadinho, começa o debate sobre compliance, integridade e governança, até porque o risco socioambiental e de governança gera impac-to financeiro como esses casos evidenciam. Os investidores começaram a fazer uma reflexão mais aprofundada sobre os riscos”, ressalta Fukayama.

RETORNOS CONSISTENTES

Diversas pesquisas demonstram que empresas que são social-mente responsáveis dão mais retorno aos investidores do que aquelas que visam apenas o lucro. Boicotes a companhias não sustentáveis tornam-se cada vez mais comuns, inclusive entre os próprios investidores. Somente em 2019, US$ 20,6 bilhões fluíram para fundos de investimento que explicitamente se desfazem de organizações tidas como “não sustentáveis”, vo-lume dez vezes maior que o de uma década atrás.

“Não estamos falando de um movimento novo, mas se nota que as companhias vão pouco a pouco buscando praticar esse conceito mais amplo, por assim dizer, de capitalismo. Ao in-vés de terem uma área isolada voltada para ações assisten-cialistas, o que se vê é uma efetiva preocupação em criar e

Temos hoje um consumidor

muito mais engajado e

conectado, que está observando

e sentindo no seu dia a dia o

comportamento das empresas

nessa difícil travessia. Não será

surpresa que as empresas mais

sensíveis às necessidades da

sociedade durante a pandemia

sejam recompensadas ali na

frente, do mesmo modo que

as menos atentas tendem

a ser punidas.

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sedimentar uma cultura que acople e viva a necessidade de se gerar valor a todos os stakeholders em todas as iniciativas. Isso claramente - de uma forma ou de outra - sempre passa pela criação de riqueza”, complementa Rocha.

Na Neoenergia, além do Instituto Neoenergia que visa a me-lhoria da qualidade de vida das pessoas mais vulneráveis nas regiões onde atua, a essência dos valores e negócios reflete o compromisso com a criação do bem-estar social. “Isso ocor-re tanto por meio da expansão de energias ocor-renováveis com parques eólicos, que contribuem para uma matriz energética mais limpa, quanto por meio de programas de universaliza-ção de energia, que permitem acesso à pessoas que nunca ti-veram esse benefício (só no estado da Bahia estamos falando de mais de 650 mil consumidores conectados), para ficar em dois exemplos”, destaca.

O Grupo Ambipar, fundado em 1995, é outra empresa ade-rente às práticas ESG até por conta da própria natureza do seu negócio. A companhia possui atuação no Brasil e ex-terior, e um amplo portfólio de serviços ambientais, des-tacando-se principalmente pela valorização de resíduos e respostas a emergências ambientais, baseadas no princípio da sustentabilidade. Assim, seu próprio modelo de negócios permite atingir altas taxas de crescimento e, ao mesmo

tem-ONARA LIMA, Ambipar

com atendimento especializado.

No G de governança, nós temos

um software dentro do grupo

que faz toda a gestão com foco na

legislação de cada segmento e com

essa ferramenta nós conseguimos

gerenciar todos os aspectos

relacionado ao ESG.

po, maximizar o retorno sobre o capital investido, atuando de acordo com as regras de compliance e responsabilidade socioambiental.

“Nós realizamos o trabalho de mapeamento de risco, pre-venção, com atendimento especializado. No G de governan-ça, nós temos um software dentro do grupo que faz toda a gestão com foco na legislação de cada segmento e com essa ferramenta nós conseguimos gerenciar todos os aspectos relacionado ao ESG”, explica Onara Lima, diretora de sus-tentabilidade da Ambipar.

O sucesso do seu IPO, ocorrido em julho deste ano, é a prova que os investidores valorizam as práticas sustentáveis nas em-presas. A companhia levantou R$ 1,08 bilhão, com o papel pre-cificado a R$ 24,75, no topo da faixa indicativa de preço, que tinha como piso R$ 18,75. “Na Ambipar, nós olhamos o ESG sempre como oportunidades e o mercado está sempre identi-ficando quais são as empresas que se comportam assim”, diz. Segundo Onara, apesar de o fator ambiental ser a essência do negócio da companhia, as outras esferas não são negligencia-das. “Quando a gente olha para o ESG, o E é o nosso DNA, sem dúvida. Mas quando entramos no S, o nosso foco é olhar para o público interno e trazer um ambiente que seja positivo e

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saudável, trazer esse engajamento dos colaboradores dentro da nossa atividade. Também pensando nos stakeholders em todas as esferas. Nós temos muitas ações de apoio em campanhas. Nesse momento de pandemia, fomos muito acionados para dar diversos tipos de apoio e a Ambipar falou sim”, ressalta.

MAIS RESILIÊNCIA

Além de obterem as preferências dos consumidores e te-rem um melhor relacionamento com os funcionários, as empresas socialmente responsáveis têm cadeias de supri-mento sólidas e alto padrão de governança, gerando maior valor a longo prazo. Como exemplo, as Empresas B – que adotam os mais altos padrões de práticas ambientais, so-ciais e de governança – tendem a ser muito mais resilientes durante as crises, algo que foi provado na crise de 2008 e tem sido testemunhado no momento atual.

“Por muito tempo a gente viveu esse falso dilema de que ser socialmente responsável tirava lucro ou competia com processo de geração de lucro. Mas, se olharmos numa vi-são de longo prazo é justamente ao contrário. Negligen-ciar questões ambientais e sociais tira valor da empresa. Ter critérios de responsabilidade social e ambiental, atrai investimento”, lembra Leonardo Dutra, líder de consul-toria na área de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade da EY para o Brasil.

Pesquisa da EY, que analisou a relevância das práticas de Governança em Sustentabilidade de mais de 260 compa-nhias de médio e grande porte de diversos setores atuantes no Brasil, em março deste ano, destaca que 67% das organi-zações têm área de sustentabilidade. Destas, 84% possuem uma percepção clara entre a sustentabilidade e a reputa-ção, enquanto 58% conseguem relacionar com a geração de receita e o valor de mercado da companhia.

Já o estudo global (2018 Global Climate Change and Sustai-nability Services), também desenvolvido pela EY, verificou que os investidores de grande porte (de US$ 1 bilhão até mais de US$ 50 bilhões) estão olhando para questões rela-cionadas ao meio ambiente, social e governança antes de decidir em qual empresa vão aportar capitais. A análise re-alizada com mais de 260 investidores revelou que 97% deles olham para essas informações, sendo que 65% afirmaram fazer avaliações informais e 32% verificam dados estrutu-rados desses ativos.

Além disso, 96% dos entrevistados declararam que as in-formações não financeiras tiveram papel fundamental na tomada de decisão e foram consideradas no ajuste da

LEONARDO DUTRA, EY

Por muito tempo a gente

viveu esse falso dilema de que

ser socialmente responsável

tirava lucro ou competia com

processo de geração de lucro.

Mas, se olharmos numa visão

de longo prazo é justamente

ao contrário. Negligenciar

questões ambientais e sociais

tira valor da empresa. Ter

critérios de responsabilidade

social e ambiental, atrai

investimento.

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avaliação de risco (70%), em exames da dinâmica e regula-ção da indústria (63%) e na revisão de resultados (61%). O estudo mostrou que as companhias com interesse em re-ceber investimentos de grande porte têm o desafio de apre-sentar métricas de geração de valor no longo prazo referen-tes às suas iniciativas ambientais, sociais e de governança. “A pesquisa deixa claro o quanto os investidores utilizam os critérios ESG para uma tomada de decisão. Nem sempre esse investimento tem a ver com a percepção de oportunidade, mas sim com a percepção de risco. De toda forma, tem se consolidado no mercado essa visão por parte do investidor de que o meu dinheiro não serve só para gerar lucro, mas para adicionar valor a um determinado contexto. E a partir daí eu consigo gerar mais lucro”, afirma Dutra.

MOVIMENTO CRESCENTE

Junto com o Capitalismo Consciente, outras iniciativas em prol da sustentabilidade das empresas ganham força. Destaca-se o Sistema B, uma organização parceira do B Lab desde 2012, responsável pelo engajamento, divulga-ção e promodivulga-ção local de todo movimento B no Brasil e América Latina.

O sistema articula um movimento global de pessoas que usam os negócios para a construção de uma economia mais inclusiva, equitativa e regenerativa para as pessoas e para o planeta. Desde 2006, o Movimento B busca redefinir o con-ceito de sucesso na economia por meio de certificação de empresas, para que sejam considerados não apenas o êxito financeiro, mas também o bem-estar da humanidade e do planeta. Atualmente, são mais de 3.500 empresas B global-mente, sendo 624 na América Latina e 175 delas são brasi-leiras. “A certificação das empresas B é vista não só como um posicionamento, mas uma direção, sendo um processo reconhecido mundialmente que estimula a adoção de crité-rios ESG”, explica Francine.

Para obter a certificação B, as empresas passam por um rigoroso processo de avaliação em cinco dimensões: go-vernança, impacto no meio ambiente, impacto na comuni-dade, colaboradores e modelo de negócio. “Buscamos pro-mover mudanças estruturais e disruptivas para propiciar o surgimento de um novo sistema econômico que seja mais inclusivo, igualitário e regenerativo para todas as pessoas e para o planeta”, afirma.

Ela observa que o Brasil é um protagonista global do Mo-vimento B e, inclusive, em 2014, certificou a primeira

empresa de capital aberto em todo o mundo: a Natura. “Após a certificação, é de responsabilidade da empresa continuar atuando em sua agenda de compromisso socio-ambiental, buscando sempre identificar possíveis lacunas e implementar planos de melhorias em todos os processos e áreas da companhia. Além disso, a empresa passa a par-ticipar de reavaliações e re-certificações do Sistema B a cada três anos”, destaca.

O processo de certificação B é longo e detalhado, pois busca garantir um comprometimento com um plano de desenvol-vimento contínuo, que sai da lógica de mitigação de impacto negativo para uma nova lógica de geração de impacto positi-vo. Ainda assim, os números têm crescido exponencialmen-te. Nos últimos 5 anos, o número de Empresas B certificadas no Brasil saiu de 30 para 175 - são desde empresas de agricul-tura orgânica até grandes players.

Compreender o papel do seu negócio na sociedade e resigni-ficar seus produtos e serviços em prol do desenvolvimento da economia e da sociedade é um caminho sem volta. Con-tribuindo com esse cenário, o Sistema B lidera hoje diversas iniciativas que visam construir um ecossistema favorável para empresas que utilizam a força do mercado para dar so-luções a problemas socioambientais, sendo elas certificadas ou não. Para isso, trabalha no compartilhamento de boas práticas voltadas ao impacto dos negócios em toda a cadeia produtiva, além de formar e incentivar uma rede de empre-sas que têm a preocupação com o impacto positivo como fator central em suas atividades.

Tanto o Sistema B quanto Instituto Capitalismo Consciente Brasil fazem parte da Imperative 21, uma rede de coalizões liderada por empresas que buscam impulsionar a mudança do sistema econômico. A visão defendida é de que a econo-mia nunca estará funcionando em seu pleno potencial de geração de valor em um sistema em que os incentivos e a cultura vigente não estão alinhados a uma visão mais sus-tentável. Recentemente lançada, a rede conta com mais de 72 mil empresas em 80 países e 150 indústrias, reunindo cerca de 18 milhões de funcionários, U$ 6,6 trilhões em re-ceitas e US$ 15 trilhões em ativos sob gestão.

“O movimento é muito enfático em dizer que é a hora de redefinir o capitalismo. A pandemia do Coronavírus, a cri-se econômica e a injustiça racial revelaram um problema fundamental e profundo: um sistema econômico que re-compensa a maximização da riqueza sobre o bem-estar e prioriza o individualismo não pode continuar funcionan-do”, conclui Bethlem. RI

Referências

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