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FACULDADE DE DIREITO DA UFMG PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO

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FACULDADE DE DIREITO DA UFMG

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO

Disciplina: Fundamentos Filosóficos do Trabalho Professora: Daniela Muradas

Aluno: Matheus Campos Caldeira Brant Maio de 2009

A DIALÉTICA MATERIALISTA E A “CIÊNCIA DA LÓGICA” DE

HEGEL

“Todo beijo, todo medo, todo corpo Em movimento está cheio de inferno e céu Todo santo, todo canto, todo pranto, todo manto

Está cheio de inferno e céu”1 INTRÓITO

O presente trabalho destina-se a apresentar a Dialética Materialista por meio de um confrontamento com a Ciência da Lógica de Hegel.

A obra de referência para este trabalho é “A Ciência da Lógica de Hegel e a Dialética Materialista: Uma Nova Visão de um Antigo Problema” de L. Bruno Puntel

DIALÉTICA HEGELIANA

A Dialética Materialista se autoproclama como o fundamento e a conseqüência de uma “inversão” da Dialética Hegeliana, ou seja, ela a um só tempo procede a uma análise crítica da Dialética Hegeliana, inverte-a e propõe uma nova dialética. Deste modo, nada mais didático do que principiarmos com uma breve demonstração do que vem a ser a Dialética Hegeliana.

Conforme explicíta Puntel: “A dialética é concebida e compreendida não só como Lógica, como sistema categorial, mas em primeiro lugar como principio do devir e de transformação da realidade total, material e ideal do ser na natureza e na sociedade, bem como na consciência.”2 É, portanto, a Dialética Hegeliana, o modo de ser das coisas todas que se pode apreender pela razão, e por isso mesmo, todas essas coisas constituem expressão da Razão. Dito de outra forma, é a realidade total compreendo-se nela a material, e a ideal. A Dialética Hegeliana não é um sistema ou método que se poderia aplicar à

1 Versos extraídos da música “Pecado Original” de Caetano Veloso

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realidade. Antes, a Dialética Hegeliana revela o próprio sistema ou método intrínseco da realidade. Então, como é esse sistema ou método? Do que ele é constituído e como ele funciona?

Hegel define em três elementos o que constitui a essência da Dialética: o “pensar puro” sobre algo em si mesmo; que é necessariamente um pensar composto de contradições. Deste dois elementos contraditórios, surge uma unidade que, gerada pela superação desta contradição e que, embora contenha a natureza dos dois elementos contraditórios, possui natureza própria de si mesma.

Esse movimento dialético da realidade ocorreria, para Hegel, eternamente no mundo como se fosse uma espiral sem fim que se basta a si próprio uma vez que a unidade que resulta de duas contradições passa em seguida a se contrapor a um outro “pensar puro” originando uma nova tensão entre contradições, que por sua vez irá desembocar em uma unidade de superação e assim indefinidamente.

Falamos da maneira como se dá o movimento dialético, mas não falamos, de maneira satisfatória, do que ele é feito, limitando-nos a dizer que se trata de um “pensar puro”. Com efeito, toda a Dialética Hegeliana funda-se num “pensar puro” o qual só pode ter por objeto o próprio pensamento.

É por isso que se fala que “a dialética hegeliana não necessita de construções trazidas de fora que são empiricamente demonstráveis como, exatamente algo externo. O que ocorre é o seguimento da idéia a idéia.”3

A palavra idéia aqui corresponde ao “pensar puro” que no desenrolar de sua autodeterminação, passa de contradição e assume o posto de idéia absoluta quando exterioriza-se na história sob a forma de realidade material conferindo concreção física à Razão, a qual após expressar-se na história, retorna, dialeticamente a si, ao “pensar puro”, à idéia.

É justamente neste ponto em que se articula a relação da Idéia com a Realidade Material e vice-versa que surge a critica de Marx e Engels à Dialética Hegeliana. Passemos então a tratar dessa critica.

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CRITÍCA À DIALÉTICA HEGELIANA-PROPOSIÇÃO DE UMA NOVA DIALÉTICA: A DIALÉTICA MATERIALISTA

Marx ao expor a sua Dialética Materialista manifesta-se da seguinte forma:

“O meu método dialético não é só basicamente diferente do hegeliano como é também seu direto inverso (...) Ela (a dialética) está às avessas. É preciso invertê-la a fim de descobrir o núcleo racional no envólucro místico”.4

A tal inversão que propõe Marx diz respeito à relação da Idéia com a Realidade Material. Assim diz ele que: “Ao contrário, em mim a esfera do ideal não é outra coisa, senão o material convertido e traduzido na mente humana”5. Prossegue desenvolvendo seu raciocínio nos seguintes termos: “Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas ao contrário o seu social é que determina a sua consciência”.6

Essas idéias tiveram grande repercussão prática atuando de maneira incisiva no fundo teórico que fundamentou algumas revoluções políticas, sociais e econômicas como é o caso da Revolução Russa.

Dada a grande visibilidade que a Dialética Materialista obteve devido à sua aplicação prática em contextos históricos importantíssimos da humanidade, nada mais natural do que essa “teoria” materialista das idéias e da realidade recebesse a atenção dos meios acadêmicos sendo alvo das mais variadas criticas e interpretações.

H. J Sandkuehler é um dos pensadores que tenta promover uma compreensão dessa teoria de maneira notável. Sua resposta à pergunta fundamental sobre a relação entre ser consciência se molda na seguinte frase:

“...as condições de possibilidade e necessidade da consciência e do conhecimento não devem ser procuradas na própria consciência, mas tem que ser encontradas na análise do processo, no qual o homem, se produz a si mesmo, histórica e socialmente, através da elaboração existência material.”7

Acontece que, não obstante a contundência das idéias transmitidas pela Dialética Materialista cuja impressão que provoca se deve, entre outros motivos, ao fato de ser uma teoria que envolve diretamente a realidade e portanto, uma teoria de mais fácil acesso – o

4

K. MARX – F.ENGELS, WERKE (BERLIN 1956-1971) p. 23/27.

5 K. MARX – F.ENGELS, WERKE (BERLIN 1956-1971) p. 23/27. 6 K. MARX – F.ENGELS, WERKE (BERLIN 1956-1971) p. 13, 8/9..

7 H. J. Sandkuehler, Práxis und Geschichtsbwusstein. Studien zur materialistischen Dialektik,

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que explica também, em parte, a sua popularidade, Puntel chama nossa atenção para um problema lógico dessa Dialética que compromete não só a própria teoria, mas tudo o que dela decorre.

Esse problema lógico levantado por Puntel a respeito da Dialética Materialista, tem sua causa maior e mais determinante na maneira equivocada como Marx e Engels se apropriam da Dialética Hegeliana conforme apresentaremos no próximo item.

CRITICA À DIALÉTICA MATERIALISTA

Começaremos a critica empreendida por Puntel através do questionamento que ele faz da frase citada acima de Sandkuehler. Diz Puntel que:

“Considerando as afirmações acima mencionadas de Sandkuehler, teríamos que formular com o mesmo direito o contrário: as condições de possibilidade e necessidade do processo no qual o homem, se produz a si mesmo, histórica e socialmente, não devem ser procuradas na própria consciência, não tem que ser encontradas no próprio processo, mas na consciência (como o lugar de unidade do reflexo e antecipação, determinação e criação)...De resto, resulta com toda a clareza da “resposta” de Sandkuehler ultimamente citada aonde está visto a partir da coisa, o erro básico, o caráter contraditório que não permite nenhuma solução dialética desta e outras teses e formulações semelhantes.”8

Continua Puntel atacando incisivamente o núcleo da Dialética Materialista:

“Com uma rara e impressionante naturalidade, é efetuada uma separação entre a consciência ou conhecimento, por um lado, e processo material por outro, processo esse através do qual, o ser humano se produz a si mesmo social e historicamente pela elaboração de sua existência material. Mas isso é arbitrário,

mais ainda falso, pois estritamente falando essa separação

pressupõe que o processo indicado se desenvolve inconscientemente, ou pelo menos que o seu caráter de consciência é totalmente indeterminado, pois ele deve produzir, antes de mais nada, as condições de possibilidade e necessidade da consciência mesma. Um processo

inconsciente, ou que é indeterminado em seu caráter de consciência, não é de forma alguma um processo humano.

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O processo de autoprodução do homem deve ser já sempre um processo do homem, deve incluir portanto a consciência:

pois que o homem surja já como homem (ainda que não como “ser humano consumado”) é a condição de possibilidade para que o homem possa se produzir como homem.

Vê-se, pois, que o equivoco que foi apontado acerca da Dialética Materialista diz respeito mais propriamente à maneira como se conjugam os termos da relação consciência x realidade material, isto é, para os Hegelianistas, as atitudes, ações, fatos realizados pelo homem no mundo concreto e a consciência deste mesmo homem, constituem intrinsecamente a mesma coisa. Não é a realidade material que determina a consciência humana pelo simples motivo de que a realidade material é a consciência exteriorizando-se, sendo impossível falar-se, em termos dialéticos, que algo possa, de maneira estanque, vir antes ou depois,em etapas. Em arremate desta idéia, as palavras de Puntel:

“O que é verdadeiramente não-dialético nos enunciados de Sandkuehler, i. e. da dialética materialista, revela-se aqui no fato de que, em uma primeira etapa, a consciência (a

linguagem, o conhecimento) e o processo de trabalho são concebidos como opostos entre si e, por esta razão em uma segunda etapa o momento de consciência é subordinado

unilateralmente ao momento do processo material de trabalho, através do qual a verdadeira “unidade das diversas determinações” não é apreendida, mas destruída.

Não se pode, por mera questão de lógica suprimir o pensamento, dando-se prioridade ao real. Aqui a questão não é de prioridade, pois é impossível suprimir-se o pensamento sem que se recorra ao próprio pensamento. Isso justifica o motivo pelo qual a Dialética Hegeliana nos ensina que o “desdobramento das determinações do pensar não ocorre distante de toda realidade, mas contém a elaboração das possibilidades de articulações relativas ao próprio real.” 9

Ainda no que concerne à critica à Dialética Materialista, Puntel traça, agora em confronto direto com a Ciência da Lógica de Hegel, mais um equivoco, este de ordem estrutural, dessa teoria que pretende se opor à Dialética de Hegel.

Assim, segundo Puntel: “A Ciência da Lógica tem se demonstrado e se demonstra constantemente como algo diverso, e muito mais amplo, frente àquilo que a dialética materialista tentou fazer dela.”10

Para explicar a incongruência da Dialética Materialista com a Ciência da Lógica de Hegel trazemos a mais determinante objeção daquela com respeito à esta, qual seja a de que um tal pensamento é pura abstração, pura teoria, uma “instância”, que só não está em

9 Puntel p. 29 10 Puntel p.18

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condições de fornecer qualquer critério para a realidade, mas que deve ser antes de mais nada, compreendida, criticada e “suprimida” a partir da realidade.11

Em primeiro lugar, tal assertiva (que traduz toda a teoria materialista) carece de um fundamento metódico, pois se limita a estabelecer como referência a realidade sem demonstrar o motivo categórico de tal, ou seja, porque se escolheu a realidade? A partir de que lógica? Mas, ainda que se diga que é a partir da lógica dialética de Hegel, a questão não se resolve, pois permanece o seguinte questionamento: então como a dialética atuou dentro da lógica para que se estabelecesse a realidade como tal referencia?

“O pensar como soma das determinações lógicas se desdobra, com isso, como expressão do real, mas de forma que a teoria adequada do real só pode ser desenvolvida sobre a base de uma teoria –primária metodicamente-do pensar (do lógico).”12 Essa verdade fundamental da Dialétca Hegeliana é apercebida pela Dialética Materialista mas de maneira apenas parcial. Parece-nos que esta concedeu excessiva importância à locução “mas de

forma que a teoria adequada do real só pode ser desenvolvida sobre a base de uma teoria –primária metodicamente-do pensar (do lógico)” e esqueceu-se da locução que

inicia a frase: “o pensar como soma das determinações lógicas se desdobra, com isso,

como expressão do real”

Esse é, ao nosso sentir, a raiz de todos os equívocos e más interpretações da teoria materialista em relação à teoria hegeliana da dialética, afinal, como destacamos logo no inicio deste trabalho: “tudo está cheio de inferno e céu”13, pois este assim como aquele,

guarda em seu modo de ser a própria existência do outro ser oposto, em contradição.

Assim são também a consciência e a realidade, irmãs da mesma racionalidade que haverão de caminhar para todo o sempre juntas, indissociáveis sob o olhar eterno e implacável do absoluto-Deus.

11 Puntel p. 28 12 Puntel p. 29 13 Verso da epígrafe

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Nome do arquivo: Dialética Materialista x Dialética Hegeliana.doc

Diretório: C:\wamp\www\Mateus_Brant\doc

Modelo: C:\Documents and Settings\PC_02\Dados de

aplicativos\Microsoft\Modelos\Normal.dotm

Título: FACULDADE DE DIREITO DA UFMG

Assunto: Autor: silvania Palavras-chave: Comentários: Data de criação: 24/5/2010 16:38:00 Número de alterações:2 Última gravação: 24/5/2010 16:38:00

Salvo por: brant

Tempo total de edição: 0 Minutos Última impressão: 27/7/2010 16:31:00 Como a última impressão

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