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O uso de geotecnologias na identificação e delimitação de áreas prioritárias para conservação na cidade de Dourados, MS

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O uso de geotecnologias na identificação e delimitação de áreas prioritárias para conservação na cidade de Dourados, MS

Thiago Augusto de Paula Pepe1 Bruno Ferreira Campos1

Valmor Alovisi Júnior1 1

Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais

Rodovia Dourados – Itahum, Km 12 79812-000- Dourados – MS, Brasil

{thiago_pepe; bruno_campos625; jralovisi}@hotmail.com

Resumo. As geotecnologias voltadas para estudos ambientais constituem-se em um importante grupo de ferramentas que subsidiam diversas demandas do planejamento e gestão territorial. A capacidade de análise espacial de ambientes urbanos possibilita o melhor conhecimento do uso do solo e oferece uma maior capacidade de avaliar, planejar e gerenciar a dinâmica das cidades. O presente estudo teve como objetivo realizar um mapeamento da área urbana do município de Dourados, MS, de modo a identificar e delimitar as áreas de fundo de vale prioritárias para conservação ambiental. Para dar consistência na realização do estudo, buscou-se a revisão de bibliografias relacionadas à temática trabalhada. Fundamentados em critérios que possibilitam a discriminação das características do solo urbano, adquiriu-se uma imagem do sensor HRC (High Resolution Câmara) do satélite CBERS-2B(Satélite Sino- Brasileiro de Recursos Terrestres) para posteriormente criar um banco de dados georreferenciado. Através da análise espacial da área urbana, associada às visitas realizadas nas áreas alvo de estudo, procurou-se delimitar os fundos de vale que não possuem “urbanização consolidada”, sendo estes prioritários para conservação, tendo em vista a importância ambiental no contexto urbano. Os resultados mostraram o uso do solo de maneira inadequada em todos os fundos de vale identificados e a intensa ocupação por infra-estrutura urbana principalmente nos córregos Rego D`água, Água Boa, Paragem e Laranja Doce. O estudo serviu como um alerta para a proteção devida das áreas de abrangência dos córregos Chico Viegas, Olho D`água e Da Lagoa, que encontram-se na faixa de transição da área urbana para área rural.

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Abstract. Geotechnologies directed to environmental studies are an important group of tools that subsidize a lot of demands of territorial planning and management. The capacity of spatial analysis of urban environments provides the best knowledge about the land use or even offers a greater capacity to evaluate, plan and manage the cities dinamyc. The present study aimed to conduct a mapping of the urban area of Dourados, MS in order to identify and delineate valley bottom priorities areas for conservation. To provide consistency in accomplishing the study, we sought a review of bibliographies related to the subject worked. Based on creterion that allow discrimination of the characteristics of urban land, they acquired an image from the HRC sensor (High Resolution Camera) CBERS-2B (Sino-Brazilian Earth Resources Satellite) to later create a georeferenced database. Through spatial analysis of the urban land, associated with visits conducted in target areas of study, we sought to delineate the river valley that do not have "consolidated urbanization", being a priority for conservation, in view of the environmental importance of these areas in the urban context. The results showed the inadequate land-use in every valley bottoms identified and intense occupation by urban infrastructure, especially in the streams: Rego D`água, Água Boa, Paragem e Laranja Doce. The study served as a warning for a proper protection of the areas of streams Chico Viegas, Olho D`água e Da Lagoa, which are in transition from urban to rural areas.

Key-words: use and occupation of land, river valley, urban area, Geotechnologies.

1. Introdução

Desde os registros dos primeiros assentamentos humanos o meio construído (vilas, vilarejos) se direcionou para as proximidades e entorno dos cursos de água, elemento do qual o homem sofre necessidade vital. Em meio às atividades desenvolvidas em pequenos núcleos urbanizados e mais tarde nas cidades, a produção dependia direta ou indiretamente dos recursos hídricos.

Quando os assentamentos humanos cresceram foi preciso trazer a natureza pra dentro da cidade, ou seja, quando possível deixar algum lugar mais natural dentro do seu sítio de estabelecimento (Braga, 2003). Nesse caso, mais precisamente os cursos de água foram invadidos pela cidade, englobados meio ao avanço dos sítios urbanos.

O aumento crescente da população em áreas urbanas de forma descontrolada, fez com que os núcleos urbanos se expandissem sem planejamento, resultando em uma ocupação desordenada e não criteriosa. Sendo assim, a urbanização passou a ser um dos principais responsáveis pela deteriorização do meio ambiente, com a ocupação de áreas inadequadas, prioritárias para preservação mínima dos sistemas naturais. Os fundos de vale, incluindo as áreas alagáveis, nascentes, cursos de água e a intensa cobertura vegetal, que são características dessas regiões, fazem parte das áreas que são impróprias para a ocupação da estrutura urbana. A ocupação e uso indevido desses atributos provocam sérias alterações físicas, bióticas e acarreta problemas a população humana.

A Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional, conhecida também como Convenção de Ramsar, assinada no Irã em 1971 (aprovado pelo decreto Legislativo n° 033, de 16 de Junho de 1992 e promulgada pelo Decreto n° 1.905, de 16 de Maio de 1996), considera fundamentais as funções ecológicas das zonas úmidas enquanto reguladoras dos regimes de água e enquanto habitat de uma fauna e flora características e, consciente de que elas constituem um recurso de grande valor econômico, cultural, científico e recreativo, cuja perda seria irreparável, deseja terminar, atual e futuramente, sua progressiva invasão e perda, para que cada parte contratante, inclusive o Brasil, assume a obrigação de promover a conservação e proteção adequada de tais áreas, por ações locais, regionais e internacionais (Bertoluci, 2003). A importância das áreas úmidas deve ser dividida em três grupos: atributos (diversidade biológica e produtividade), funções (armazenamento de água, controle de inundações, descargas subterrâneas, recarga de aqüíferos e estabilidade climática) e valores (produção de peixes,

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agricultura, matéria prima para a indústria farmacêutica, recursos energéticos e recreação) (Maltchik, 2003 apud Bertoluci, 2003).

No contexto urbano, a importância de se manter devidamente as condições mínimas dos fundos de vale, vem sendo discutida de forma crescente entre os planejadores, urbanistas e representantes políticos das cidades brasileiras, em razão das problemáticas ambientais vividas nos últimos anos e atualmente, como, ocorrência de enchentes, assoreamento, intensa poluição dos corpos de água e falta de áreas verdes.

De acordo com Cunha e Guerra (2000, p. 361), o vale fluvial caracteriza-se por uma depressão alongada (perfil longitudinal), que se constitui por um ou mais talvegues e duas vertentes com sistemas de declive convergente, sendo denominada, igualmente, de planície à beira do rio ou várzea. Os fundos de vale possuem importância significativa nos sistemas hidrográficos, concentrando o escoamento superficial e subsuperficial. As planícies de inundação que margeiam os cursos fluviais nos fundos de vale recebem o escoamento extra, derivado de picos pluviométricos, e são, portanto, zonas de necessária preservação, uma vez que permitem a ampliação do leito do canal para escoar cargas adicionais de água e sedimentos (Trentin e Simon, 2005). Além da importância dos vales na drenagem natural, as nascentes que formam os pequenos cursos de água, córregos, rios, lagos e lagoas estão situados a montante dessas áreas e muitas vezes afloram de diversos pontos em locais encharcados, apresentando intensa fragilidade ambiental, portanto, devem ser devidamente protegidas dentro do ambiente urbano.

A ocupação de áreas impróprias para urbanização fere a legislação ambiental brasileira, que, por meio do Código Florestal, prevê no Artigo 2° da Lei Federal N º 4.771/65 alterada pela Lei nº 7.511, de 1986, a guarnição de parcela dos fundos de vale como Áreas de Preservação Permanente. Segundo Trabaquini et al. (2009), conforme esta lei, “os cursos d’água com menos de 10 metros de largura devem ser margeados em ambos os lados com 30 metros de faixa de preservação(com vegetação ciliar nativa) e as nascentes ou olhos d’água devem ser circundadas em 50 metros de raio”. Os olhos d`água como já foi dito, estão dispostos em áreas encharcas, tais áreas e seus entornos protetivos são considerados prioritários para a conservação, sendo proibidos licenciamentos ou autorizações para quaisquer finalidades ou intervenções que determinem ou possam vir a causar a sua degradação, para tanto devem ser circundada com uma proteção de 30 metros no seu entorno.

A preservação da mata ciliar ou vegetação ripária nas APPs de fundo de vale é de suma importância já que é a base para o equilíbrio natural do ecossistema. Funciona como reguladora do fluxo de água, sedimentos e nutrientes entre os ecossistemas aquático e terrestre, reduzindo o assoreamento e auxiliando na manutenção da qualidade da água (Mendonça et al., 2002, apud Trabaquini et al., 2009).

Na cidade de Dourados - MS, a urbanização teve início com o apoio e iniciativas governamentais e privadas de loteamento rural na forma de colônias, com pensamento já fixado na produção em escala, para a comercialização num centro político-administrativo e comercial (Calixto, 2004). A partir da criação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados -CAND, em 1943, Dourados assumiu o papel de centro político- administrativo e de beneficiamento e comercialização do que se produzia na colônia (Calixto, 2004). Atraindo populações das regiões de entorno da porção sul do estado, e a partir da década de 70 com a introdução do cultivo agrícola mecanizado, migrantes do sul, sudeste e nordeste do país. Isso fez com que os altos índices de ocupação humana, de forma desordenada e sem nenhuma forma de planejamento e gestão ambiental, se direcionasse para os fundos de vale, onde se encontravam os cursos d`água, as matas ciliares, vegetação nativa, bem como os animais silvestres.

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Na área urbana de Dourados, MS as áreas remanescentes de fundo de vale sem “urbanização consolidada”, apresentam-se razoavelmente bem quantificadas se comparada a outras cidades brasileiras de expansão e porte urbano semelhante. A tradicional prática de aterrar e canalizar os cursos de água não se fez intensamente presente no processo de urbanização, porém, as áreas de nascentes e cursos de água próximas ao centro e bairros de entorno, como as cabeceiras e curso dos córregos Rego D`água, Água Boa e Paragem, foram os que mais sofreram com a expansão urbana descriteriosa e agressiva.

A partir de 2001 o município de Dourados ficou obrigado a implementar um Plano Diretor em razão da aprovação da Lei Federal n° 10.257/2001 que instituía o Estatuto da Cidade, obrigando municípios com mais de 20.000 habitantes a aderirem à norma e elaborarem o documento. O plano Diretor Municipal é o instrumento básico da Política do desenvolvimento e da expansão urbana, assim, a municipalidade deverá promover o desenvolvimento sustentável do município de Dourados de modo integrado, com a finalidade de obter melhoria da qualidade de vida da população e o incremento do bem-estar da comunidade (Plano Diretor de Dourados, 2001).

Após a criação do plano pôde-se observar a constante distorção das diretrizes no que diz respeito aos aspectos ambientais, intrinsecamente atrelados as diretrizes de planejamento urbano proposta no documento. As normas ambientais não foram respeitadas devidamente, e os fundos de vale continuaram sendo ocupados e utilizados de forma inadequada.

Associado aos produtos de geoprocessamento e sensoriamento remoto, o Sistema de Informações Geográficas constitui-se em um instrumento de grande utilidade, pois permite, em curto espaço de tempo, a obtenção de informações a respeito de registros de uso da terra (Borges et al, 2008).

Ferramentas como o Geoprocessamento e o Sensoriamento Remoto possibilitam o monitoramento das condições das áreas úmidas dos fundos de vale ou simplesmente o mapeamento e caracterização das mesmas como suporte às tomadas de decisões no seu planejamento e gestão ambiental.

O estudo do uso da terra e ocupação do solo consiste em buscar conhecimento de toda sua utilização por parte do homem ou, quando não utilizado pelo homem, a caracterização dos tipos de categorias vegetação natural que reveste o solo (Borges et al, 2008).

Imagens de alta resolução podem ser muitas vezes adquiridas gratuitamente, possibilitando a realização de estudos referentes a essas problemáticas no ambiente urbano.

Com o intuito de realizar um levantamento espacial das regiões de fundo de vale prioritárias para a conservação na área urbana de Dourados, almejando uma contribuição para a melhoria da qualidade ambiental na cidade, fez-se o mapeamento das áreas de várzea e vegetação ciliar remanescente, além da rede de drenagem principal da área urbana por meio do uso de uma imagem orbital de alta resolução (2,7x2, 7m) do sensor HRC do satélite CBERS-2B.

2. Objetivos

Realizar por meio de geotecnologias a identificação e delimitação dos fundos de vale com áreas de várzea remanescentes (sem urbanização consolidada) prioritárias para conservação dentro da área urbana de Dourados, MS.

3. Material e Métodos

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www.urbanizacao.cnpm.embrapa.br) e conta com uma população de 189.762 habitantes (censo IBGE, 2009). Localiza-se na porção austral do estado do Mato Grosso do Sul, sobre o divisor de águas das sub-bacias hidrográficas dos rios Brilhante e Dourados, ambos pertencentes à Bacia Hidrográfica do Rio Ivinhema, numa altitude média de 430 m, próximo a Serra de Maracaju, na unidade geomorfológica Planalto de Dourados (Unidade Geológica Serra Geral), com Latossolo Roxo álico (LRa), tem o Cerrado e Floresta Estacional Semidecidual como vegetação original (Lima, 1999).

A partir da década de 70 transcorreu o período de maior crescimento urbano da cidade, tal fato está associado à mecanização no campo. Essa mecanização se deu principalmente com a introdução de lavouras de trigo e soja, que provocou um esvaziamento do campo e consequentemente, um rápido crescimento urbano na cidade (Lima, 1999). Durante esse processo a cidade de Dourados absorveu grande parcela da população de alguns municípios que também se originaram com a criação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados - CAND, como Deodápolis e Glória de Dourados.

Devido ao rápido crescimento da cidade com o êxodo rural, a urbanização apresentou alguns problemas. A infra-estrutura básica para acompanhar a expansão urbana não se deu de maneira adequada, principalmente quanto aos serviços de rede de água e esgoto, utilizando em diversos pontos da cidade áreas de fundo de vale para o loteamento imobiliário. Outras vezes, alguns locais em fundo de vale foram invadidos, assentados e adquiridos por meio da Lei de Usucapião. Essas áreas são impróprias para este tipo de uso, pois não oferecem as mínimas condições de moradia e salubridade, além de possuir elevada importância e fragilidade ambiental.

A mancha urbana atual da cidade é extensa relativa à população, sendo assim, Dourados apresenta expressivo crescimento horizontal, fator esse que torna ainda mais complexo a identificação, delimitação e controle das áreas prioritárias para conservação no ambiente urbano.

A primeira parte do processo baseou-se na aquisição e revisão de material bibliográfico referente à temática escolhida, além de bibliografias semelhantes ao produto pretendido pelo grupo de trabalho. Durante esta fase, fez-se a leitura e discussão desde temas mais gerais até os materiais que tratavam da região da área de estudo.

Para a realização da análise espacial se fez necessário à aquisição de uma imagem (Tabela 1) do sensor HRC do satélite CBERS-2B com data de passagem em 30/08/2008 (órbita/ponto 163_D/125_2), através de seleção da área no mosaico referente à grande região da área urbana do município de Dourados, MS, no Catálogo Gratuito de Imagens CBERS-2B na página eletrônica do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Tabela 1. Principais características do sensor HRC do satélite CBERS-2B (Fonte:

www.cbers.inpe.br).

Características da Câmera Pancromática de Alta Resolução - HRC

Banda espectral 0,50 - 0,80 µm (pancromática)

Campo de Visada 2,1º

Resolução espacial 2,7 x 2,7 m

Largura da faixa imageada 27 km (nadir)

Resolução temporal 130 dias na operação proposta

Taxa de dados da imagem 432 Mbit/s (antes da compressão)

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A câmera HRC (High Resolution Câmara) opera numa única faixa espectral, que cobre o visível e parte do infravermelho próximo. Está presente apenas no CBERS-2B, mas não nos CBERS-1 e 2. Produz imagens de uma faixa de 27 km de largura com uma resolução de 2,7 m (Tabela 1), que permitirá a observação com grande detalhamento dos objetos da superfície em relação aos dados captados pela câmera CCD (Fonte: www.cbers.inpe.br). O HRC é o mais indicado dentre os gratuitos, para o modelo de trabalho proposto, onde realizou-se uma analise espacial da cidade, proporcionando um estudo detalhado do terreno.

Após tal medida criou-se um banco de dados para armazenar o projeto no software livre SPRING 4.3.3, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais- INPE por meio de parcerias com outras instituições privadas e governamentais. Cabe ressaltar que na fase de edição final da cartografia digital o projeto foi convertido para operar na versão mais recente do software, o SPRING 5.1.0. O projeto foi executado na projeção Datum WGS84 com o retângulo envolvente nas seguintes coordenadas geográficas: long1: o 54º 57’ 00” Lat1: s 22º 23’ 35”, Lon2: o 54º 37’ 25” Lat2: s 22º 01’ 35”, tais coordenadas foram obtidas através da imagem GeoCover Landsat TM7, por meio do posicionamento do mouse no dado imagem em quatro vértices para selecionar uma área um pouco mais restrita.

Posteriormente, foram criadas quatro categorias: Imagem_2009, Drenagem, Vegetação e SRTM respectivamente nos seguintes modelos: Imagem, Temático, Temático e MNT (Modelo Numérico do Terreno). Para cada categoria foi criado diferentes planos de informações (PIs), a categoria Imagem recebeu o plano de informação (imagem), a categoria drenagem recebeu o plano de informação (lagos e córregos), a categoria vegetação recebeu o PI (áreas_prioritarias_preservação) e a ultima categoria, a SRTM adquiriu o PI (SRTM1).

Com o a definição dos planos de informação (PIs), a etapa seguinte teve como base o georreferenciamento da imagem orbital pancromática de alta resolução do sensor HRC do satélite CBERS-2B. Por meio do Módulo IMPIMA do software SPRING 4.3.3, a imagem em formato TIFF foi convertida em RGB para compatibilidade com o ambiente SPRING 4.3.3. Para o georreferenciamento da imagem utilizou-se a mesma imagem consultada para a definição do retângulo envolvente, uma cartografia digital do Mosaico GeoCover Landsat TM7(fonte: www.zulu.ssc.nasa.gov/mrsid), correspondente a mesma região da área alvo de estudo, que já apresentava o endereço de coordenadas planas. As imagens do Mosaico Geocover Landsat 7 foram coletadas no período de 1999/2000 e apresentam resolução espacial de 14,25 metros (Crepani e

Medeiros, 2004). O processo de georreferenciamento foi realizado pelo Modo Tela, onde as

coordenadas foram adquiridas através do posicionamento do mouse em pontos estratégicos da imagem GeoCover Landsat TM7, para facilitar na identificação do mesmo ponto na imagem CBERS-2B HRC. A seguir, os pontos de coordenadas planas foram devidamente anotados e transferidos para o ambiente do Banco de Dados do SPRING 4.3.3, quando criados, devido à margem de erro, foram devidamente ajustados de acordo com as necessidades.

Seguido do georrefereciamento da imagem, fez-se à aplicação de um leve contraste para que a imagem atingisse uma resolução de melhor qualidade, facilitando assim a identificação e vetorização dos objetos de estudo no sitio urbano de Dourados.

O processo de vetorização foi pautado basicamente na interpretação visual da imagem. As áreas prioritárias para conservação foram discriminadas por meio de dois fatores básicos, áreas de fundo de vale com “urbanização consolidada” (casas, asfalto, calcadas e outros) e áreas de fundo de vale sem “urbanização consolidada” (apenas efeitos da antropização, como, retirada da cobertura vegetal original e modificação de topografias). A Resolução CONAMA 303/2002 procurou regulamentar área urbana entendida como consolidada, definindo que ela deve atender

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aos seguintes critérios: (inciso XIII do art. 2o) “a) definição legal pelo poder público; b) existência de, no mínimo, quatro dos seguintes equipamentos de infra-estrutura urbana: 1. Malha viária com canalização de águas pluviais; 2. Rede de abastecimento de água; 3. Rede de esgoto; 4. Distribuição de energia elétrica e iluminação pública; 5. Recolhimento de resíduos sólidos urbanos; tratamentos de resíduos sólidos urbanos; e c) densidade demográfica superior a cinco mil habitantes por km2” (Bueno, 2004).

A definição de área urbana consolidada da resolução CONAMA 303/2002, exclui os assentamentos urbanos consolidados, mas precários, com problemas de inadequação por falta de infra-estrutura. As áreas ocupadas de fundo de vale de Dourados que apresentavam essas características foram consideradas “área urbana consolidada”, pois os elementos existentes nas mesmas, caracterizam urbanização, como casas, abertura de ruas, iluminação, e outros, porém apresentam condições precárias.

As áreas identificadas sem “urbanização consolidada”, foram delimitadas e definidas sendo prioritárias para conservação ambiental na área urbana. Como ferramenta de auxílio para diminuição significativa na margem de erro, utilizou-se dois programas computacionais, ferramentas disponíveis na internet para acesso gratuito.

Para a melhor espacialização dos limites do perímetro urbano, áreas de abrangência dos lotes urbanos cadastrados e da rede estrutural dos principais cursos de água da área urbana acessou-se o endereço eletrônico da Prefeitura Municipal de Dourados (www.dourados.ms.gov.br), com vistas a explorar o software online “Mapas GeoDourados”, que corresponde a um banco de dados multifinalitário.

Esse processo se deu através da visualização do banco de dados multifinalitário como referência oficial para a identificação representativa do perímetro, lotes e principais cursos de água.

O outro software gratuito utilizado na fase de identificação, vetorização e produção da carta temática foi o Google EarthTM 2008®, este programa tem a função de “apresentar um modelo tridimensional do globo terrestre, construído a partir de fotografias de satélite obtidas de fontes

diversas, imagens aéreas (fotografadas de aeronaves) e GIS 3D”

(pt.wikipedia.org/wiki/Google_Earth). Este programa foi utilizado para comparação de suas imagens com a imagem do sensor HRC do satélite CBERS-2B, e, para melhor verificação da composição do terreno(vegetação arbórea, vegetação rasteira, arbustos, gramíneas, descampado, áreas alagadas, áreas encharcadas e os cursos de água) ou dos objetos construídos no terreno (casas, galpões, ruas, avenidas, calçadas e outros).

Concomitantemente ao acesso dos softwares de auxílio, fez-se a vetorização de todas as áreas identificadas sem urbanização consolidada, sendo assim, prioritárias para conservação, tanto na bacia de drenagem das microbacias urbanas pertencentes a Sub-Bacia do Rio Brilhante (porção norte da cidade) quanto na bacia drenagem das microbacias urbanas pertencentes a Sub-Bacia do Rio Dourados (porção sul da cidade). Os critérios utilizados para identificação foi baseado na verificação e delimitação das áreas que receberam o menor impacto antrópico comparadas as áreas de urbanização consolidada (casas, ruas, avenidas, calçadas), bem como passíveis de lotes com área plantada e ou arada, principalmente nas margens de transição da área urbana para área rural (chácaras e sitiocas).

Com a delimitação dessas áreas, a próxima etapa funtamentou-se na identificação e vetorização temática dos principais cursos de água, os talvegues, referentes a todos fundos de vale identificados na cartografia digital.

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um dado digital de elevação do terreno, nesse caso uma imagem SRTM- Shuttle Radar Topography Mission ou Missão Topográfica Radar Shuttle. O projeto SRTM advém de cooperação entre a Nasa e a National Imagery and Mapping Agency (Nima), do Departamento de Defesa (DOD) dos Estados Unidos e das agências espaciais da Alemanha e da Itália. O sobrevôo ocorreu no período de 11 a 22 de fevereiro de 2000, percorrendo 16 órbitas por dia, num total de 176 órbitas. Concluiu-se com uma coleta de 12 TB de dados, que cobriu 80% da área terrestre do planeta entre latitudes 60º N e 56º S. O processamento de dados coletados visou à formação de um Modelo Digital de Elevação Munidial (Florenzano, 2008). A disponibilização dessa imagem é de modo gratuito também, o mozaico do modelo digital pode ser acessado no site Brasil em Relevo (www.relevobr.cnpm.embrapa.br/download/index.htm).

A aquisição e importação do dado SRTM possibilitou uma melhor compreensão das áreas de menor elevação no terreno (fundos de vale) e dos divisores de água (ponto mais alto do terreno).

Concluída a importação e ativação do modelo SRTM, definiu-se as prioridades dos planos de informação de acordo com o grau de interesse na geração de uma temática integrada. Após tal procedimento, passou-se para a fase de ativação das categorias e planos de informação para a definição das classes temáticas e finalização do visual de cada tema.

Para finalizar a geração da cartografia digital construída em um Banco de Dados Georreferenciado, escolheu-se então a cor para representar as três categorias-temáticas principais (Drenagem, Vegetação e Isolinhas SRTM), concluíndo assim o mapeamento do dado imagem.

4. Resultados e Discussão

Antes mesmo da interpretação cartográfica, pode-se verificar, com base nas revisões bibliográficas, que a cidade de Dourados não vem seguindo adequadamente as diretrizes impostas após a Lei Federal n º 4.771/65 alterada pela Lei nº 7.511, de 1986, que prevê a reserva de uma parcela das condições naturais de uma área que possui a presença de corpos de água, as APPs. Tão pouco, o município procurou manter o máximo possível de vegetação nativa nos fundos de vale ao longo dos cursos de água, estabelecendo apenas num passado recente, limites, normas e medidas paliativas para o uso e ocupação do solo na área urbana.

Através de consulta ao Plano Diretor Municipal de Dourados (2001), constatou-se que o município ficou dividido em zonas de interesse, entre elas delimitaram-se as ZEIAS (Zonas de Especial Interesse Ambiental), porém notou-se por meio de consulta de dados e informações, o não cumprimento dessa norma de ocupação e uso do solo. Algumas áreas definidas como prioritárias para a preservação foram ocupadas indevidamente sem o consentimento do município, e em outras oportunidades o próprio município fez alterações na lei orgânica municipal para dotar essas áreas com obras de infra-estrutura urbana para habitação.

Na fase prática, a metodologia adotada para a identificação e delimitação das áreas prioritárias para conservação na área urbana apresentou-se adequada. Os critérios utilizados quanto à urbanização consolidada e não consolidada demonstraram a realidade da cidade, e não escondem a situação atual do uso do solo nas regiões de fundo de vale.

Através da interpretação e vetorização da imagem do satélite CBERS-2B-HRC (Figura 1)e das visitas nas áreas aliado ao cruzamento de dados dos levantamentos bibliográficos, conhecimentos gerais e populares da ocupação da cidade, pode-se analisar e verificar as diversas intervenções sofridas ao longo do avanço urbano em direção aos fundos de vale ou linearmente aos principais cursos de água.

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município, são eles, Córrego Água Boa, Rego D`água, Paragem, Chico Viegas, Olho D`água pertencentes a Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Dourados e Córrego Laranja Doce, Jaguapiru e Da Lagoa pertencentes a Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Brilhante.

Nota-se que as áreas de fundo de vale de alguns dos córregos pertencentes à Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Dourados apresentam-se mais pressionadas pelo avanço desordenado dos assentamentos humanos e pela infra-estrutura gerada para o acompanhamento desse processo, muitas vezes de maneira precária. Alguns córregos apresentaram o uso e ocupação mais intenso do solo por infra-estrutura urbana, são eles Córrego Água Boa, Rego D`água e Paragem, com a presença de avenidas, comércio e residências sobre as cabeceiras e ao longo dos cursos de água, além de ocupação irregular das margens por sub-moradias, ou mesmo, ocupação imobiliária irregular, mas com lotes cadastrados.

Os três córregos pertencentes à Sub-Bacia do Rio Brilhante, são eles, Jaguapiru, Laranja Doce e Córrego Da Lagoa somados a outros dois córregos pertencentes a Sub-Bacia do Rio Dourados, Córrego Chico Viegas e Da Lagoa, apresentam melhores condições se comparados aos córregos acima mencionados, Água Boa, Rego D`água e Paragem. Devido à existência de áreas de várzea sem urbanização consolidada, faixas remanescentes de vegetação ciliar e parte do uso e ocupação do solo por práticas rurais, esses córregos mostram-se menos afetados pelo crescimento urbano desordenado.

Apesar dessas constatações durante a análise espacial, após realizar visitas nesses locais, pode-se verificar os efeitos da urbanização sem planejamento, como, a invasão das áreas de entorno de uma das nascentes do córrego Olho D`água, retenção e modificação dos cursos de água dos Córregos Chico Viegas e Olho D`água para realização de atividades rurais nas chácaras dentro da área urbana, além de canalizações pluviais direcionadas criminosamente para desaguar nas nascentes do córrego Da Lagoa, no extremo leste da cidade.

Figura 1. Mapa com a delimitação das áreas prioritárias para conservação na área urbana de

Dourados, MS. C ó r r e g o D a L a g o a C ó r r e g o C ó r r e g o P a r a g e m C ó r r e g o C ó r r e g o R ê g o D` á g u a L a r a n j a D o c e C ó r r e g o J a g u a p i r ú Á g u a B o a C ó r r e g o O l h o D` á g u a Escala: 1: 75.000 C ó r r e g o C h i c o V i e g a s

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5. Conclusões e Sugestões

Apesar da verificação espacial de casos graves de agressão ambiental, pode-se notar também regiões de várzea que por mais que não apresentam expressiva quantidade de população arbórea, possuem índices baixos de área urbanizada nas suas principais nascentes e ou cursos de água. Portanto, devem ser priorizadas para a conservação e submetidas a novas práticas de planejamento e gestão ambiental.

As áreas identificadas e quantificadas que não apresentam urbanização consolidada, devem receber um planejamento e manejo adequado, para que não se construa moradias ou outro tipo de infra-estrutura urbana que não seja a instituição de parques ambientais, com o intuito de proporcionar a proteção ambiental dos recursos naturais, aliado ao oferecimento de lazer e turismo.

A população tem que estar atenta para impedir que se repita erros como os provocados nas bacias de drenagem do córrego Rego D`água, Água Boa e Paragem, ou mesmo no Laranja Doce.

O acompanhamento das diretrizes impostas pelo Plano Diretor Municipal é importante para atingir bons níveis de qualidade ambiental dentro da área urbana, aplicando as normas de uso e ocupação do solo, saneamento básico (rede de esgoto, água tratada), de destino e disposição correta dos resíduos sólidos e líquidos e a implementação e consolidação das políticas de educação ambiental principalmente nas bases da educação, bem como a forte fiscalização para o cumprimento dessas normas.

6. Referências

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Bueno, L. M. M.O tratamento especial de fundos de vale em projetos de rbanização de assentamentos precários como estratégia de recuperação das águas urbanas. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo- FAU; Pontifícia Universidade Católica-PUC. Campinas, SP, 2007

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Referências

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