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O USO DESIGUAL DO TERRITÓRIO POTIGUAR PELOS CIRCUITOS PRODUTIVOS DA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE CONFECÇÕES

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O USO DESIGUAL DO TERRITÓRIO POTIGUAR

PELOS CIRCUITOS PRODUTIVOS DA INDÚSTRIA

TÊXTIL E DE CONFECÇÕES

Matheus Augusto Avelino Tavares Professor do IFRN – Campus de João Câmara Doutorando em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP) Bolsista Capes matheusgeografo@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

No período atual a constituição de muitas regiões é, cada vez mais, presidida por processos que tem suas origens em espaços distantes, trata-se de um acontecer hierárquico que ao mesmo tempo em que impõem novos arranjos regionais não pode fazer tábula rasa das marcas geográficas já fixadas nos territórios. Silveira (2010, p. 75) aponta que no período da globalização “ocorrem bruscas mudanças de funções no território que significam, ao mesmo tempo, transformações regionais”, de modo que não podemos mais analisar a região como na tradição francesa conforme aponta Milton Santos1 (1978; 1988; 1996; 2003).

Também acreditamos que não se trata de opor os dados genuinamente regionais aos da globalização, como se eles formassem realidades segmentadas e disjuntivas, ou seja, isto não quer dizer que as regiões sejam tributárias de processos horizontais de um lado ou de verticais do outro. O que constatamos é que a região se reveste de novos atributos constitutivos, sendo compreendida como a síntese contraditória de múltiplas determinações na qual atua o acontecer solidário que lhe dá forma e a

1 Em várias de suas obras Milton Santos aponta para a impossibilidade de compreendermos as regiões, no período atual, de acordo com os ensinamentos da Geografia Francesa mais especificamente com os apontamentos de Vidal de La Blache. Para Milton Santos (1978; 1986; 1996; 2003) a região não pode ser mais entendida como um subespaço coerente resultado de um longo processo histórico e produto das relações estabelecidas pelos grupos humanos locais com o meio geográfico. Essa idéia está completamente suplantada, pois com a modernização dos transportes, dos meios de comunicação e, sobretudo, com a internacionalização da economia, a essência da região mudou e isto significando dizer que ela é, cada vez mais, definida por ações longínquas que nem sempre dizem respeito aos interesses das comunidades locais (SANTOS, 1978).

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estrutura através da organização de espaços ora mais tributários de processos horizontais, ora de processos verticais.

A região e o processo de "regionalização como fato" (RIBEIRO, 2004) ora em curso no território potiguar nos revela uma faceta própria do período da globalização que é aquela relacionada ao aumento exponencial do número de variáveis chaves que configuram os processos espaciais (SANTOS, 2003), de modo que ao mesmo tempo em que se evidencia uma estruturação regional dependente de circuitos horizontais, se desnuda de forma indissociável e imbricada outra diretamente serviente as ordens globais.

Nesse sentido, o presente trabalho busca analisar o uso desigual do território pelo circuito espacial da produção da indústria têxtil e de confecções dando ênfase nas desigualdades geradas por esse processo no período histórico atual denominado por Santos de técnico-científico-informacional

CIRCUITOS ESPACIAIS PRODUTIVOS NO RIO GRANDE DO NORTE

A partir da década de 1970 a constituição das regiões no território potiguar apresentou novos conteúdos, os quais se estabeleceram em função de uma divisão territorial do trabalho (DTT) pautada em uma nova racionalidade. Surgindo como produto dessa nova racionalidade, há o advento de novas formas de usos dos territórios pelos circuitos espaciais produtivos que nesse momento incorporam outros subespaços como potenciais para a extração de uma mais-valia que, conforme asseverou Santos (1996), já começava a se revelar como uma mais-valia global. Podemos dizer que a partir desse momento novas parcelas dos territórios são chamadas a darem respostas aos desígnios dos grandes agentes da economia, sejam eles nacionais ou internacionais.

O uso do território que em tempos de uma "industrialização fordista" (BREITBACH, 2003) era concebido de maneira muito concentrada em espaços restritos, a partir desse momento, em que o imperativo da globalização econômica se evidencia com maior intensidade (SANTOS, 2008), entrou em uma nova fase, na qual a sua localização não mais se fundamenta somente em função desses preceitos.

É preciso acrescentar que esses eventos verticalmente constituídos, embora sejam portadores de uma racionalidade hegemônica, pari passu, com os interesses das grandes empresas também engendraram circuitos produtivos que são organizados horizontalmente, o que revela o caráter híbrido e contraditório da estruturação regional no período em questão.

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Tomando como exemplo a expansão do circuito espacial de produção da indústria têxtil e de confecções no Rio Grande do Norte podemos aferir que sua expansão possibilitou o surgimento de novas topologias espaciais que se desenvolveram de acordo com os níveis de densidade técnica e científica presentes nas suas diversas regiões, de maneira que temos pelo menos três formas de regionalização proporcionada por esse circuito: uma se materializa na Região Metropolitana de Natal; uma segunda na Região Seridó; e, por fim, uma terceira que ocorre de forma mais dispersa em outros pontos do território, dos quais Mossoró é o destaque (Mapa 1). Esse processo evidencia que, cada vez mais, o uso do território é guiado por forças de concentração e forças de dispersão (SANTOS; SILVEIRA, 2001) que atuam paralelamente, dado que, se, por um lado, temos uma lógica territorial que proporciona a concentração do circuito na Região Metropolitana de Natal e no Seridó; por outro, há também uma lógica territorial que conduz o circuito a se expandir por outros subespaços, como ocorre na Região Oeste e em outras regiões do território potiguar.

No caso da Região Metropolitana de Natal averiguo-se a expansão do circuito espacial da indústria têxtil e de confecções por meio da constituição de espaços verticalmente comandados que aparecem atrelados aos imperativos de uma indústria mais tecnificada, dado sua maior necessidade de produção para atender a demandas de mercados nacionais e mundiais.

Faz mister destacar que esse processo também esteve diretamente atrelado às normas de promoção territorial (SILVEIRA, 1999) empreendidas por meio da política desenvolvida pela Superintendência para Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Inicialmente as duas principais normas desse sistema de ações foram a 34/18 e posteriormente o FINOR. Tais normas passaram a proporcionar, por meio de incentivos fiscais, por exemplo, a implantação de filiais de empresas sediadas no Centro-Sul, no Nordeste (CLEMETINO, 1987). Além disso, a partir de meados da década de 1970, a expansão do circuito espacial têxtil no Nordeste passa a fazer parte da política econômica nacional através do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PNAD).

Também é preciso destacar que os governos locais trataram de ampliar o leque de vantagens oferecidas pela SUDENE para as empresas através da criação de programas de governos que concediam mais incentivos a esses agentes. Aqui podemos identificar claramente a constituição de uma solidariedade organizacional entre as ações da instância federal com a estadual, na qual o resultado é a migração de empresas nacionais para o

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Nordeste. É nesse sentido que as considerações de Klein (1978) tornam-se pertinentes, quando este afirma que é o Estado o agente social capaz de assegurar as transformações nas cidades e regiões para que as mesmas possam satisfazer as necessidades de acumulação do capital.

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Mapa 1. Industria têxtil e de confecções no Rio Grande do Norte.

Fonte: FIERN 2011. Elaboração Cartográfica: Diego Tenório / Organização dos dados: Matheus Augusto Avelino Tavares.

De acordo com Clementino (1987, p. 185), a partir desse momento o que se verificou foi “uma verdadeira guerra na negociação com os grupos que se propunham a instalar filiais têxteis no Nordeste”; o que temos, na realidade, é uma verdadeira guerra entre os lugares (SANTOS; SILVEIRA, 2001), pois os mesmos para atraírem essas empresas, além de concederem incentivos fiscais e políticos, passaram a equipar o território com novas materialidades para que o mesmo garantisse uma boa fluidez.

No território potiguar a criação do Parque Têxtil Integrado e do Fundo para o Desenvolvimento da Indústria Têxtil do Estado (FUNTÊXTIL), são exemplos dessa nova racionalidade que então se revela. Esses eventos evidenciam a tese de Santos (2008) e Silveira (1999), segundo a qual os objetos geográficos não funcionam de maneira isolada, nem tão pouco as ações se dão a parte desses objetos, pois os mesmos formam um sistema no qual o funcionamento de um depende do outro.

Diante dessas circunstâncias, já a partir de meados da década de 1970 o circuito espacial de produção da indústria têxtil e de confecções apresentou um amplo crescimento

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no território potiguar, sobretudo porque se verificou vultosos investimentos realizados por empresas nacionais que no âmbito da nova divisão territorial do trabalho compreendiam o Nordeste e, particularmente, o Rio Grande do Norte, como locus perfeito para reprodução do capital. A expansão desse circuito se revelou tanto por meio da captação de recurso provenientes da SUDENE, pois até 1975 o estado somente ficava atrás de Pernambuco, quanto por meio da tecnificação e do aumento estrondoso da capacidade de produção do setor que, em pouco mais de 10 anos aumentou em mais de 2000% (CLEMENTINO, 1987).

Podemos dizer que a partir desse momento temos o aumento substancial do capital fixo no território por intermédio desses investimentos que engendraram a construção de novos espaços produtivos. Até meados dos anos 1970 a região de Natal recebeu mais de 25 estabelecimentos de grande porte diretamente atrelados ao circuito espacial de produção têxtil e de confecções. Tais empresas não eram apenas têxteis, mas de outros ramos que se estabeleceram para atender a crescente demanda do circuito têxtil e de confecções e que podemos chamar de circuitos espaciais complementares como, por exemplo, o de botões, galões e fecho-eclair.

Radicaram-se nesse período no território potiguar um grupo de empresas pertencentes à União de Empresas Brasileiras (UEB) composto pela Incarton, Sparta-Nordeste e a Indústria Têxtil Seridó, além da Alpargatas Confecções do Sparta-Nordeste vinda de São Paulo (SANTOS, 2010). Acrescentasse a essas empresas provindas do Sudeste, o fortalecimento de algumas grandes empresas locais que também se beneficiam dessas normas. São elas: Confecções Reis Magos, T. Barreto Indústria e Comércio, Soriedem Confecções Sucar, Dinan e a Confecções Guararapes (SOUZA, 1997; SANTOS, 2010).

A constituição desses novos espaços produtivos aumentou substancialmente a intensidade dos fluxos materiais de mercadorias e insumos em geral e passaram a exigir a agregação de mais capital fixo ao território na forma de infra-estruturas de movimento que proporcionassem uma conexão mais eficiente entre as instâncias produtivas separadas pelo acirramento da divisão territorial do trabalho. Não é mera coincidência que esse período seja marcado pela produção ou melhoramento das infraestruturas no território potiguar como as que ocorreram nas rodovias estaduais e federais que realizavam a ligação entre os espaços produtivos no Rio Grande do Norte e os principais espaços de circulação e de consumo da Região concentrada do Brasil.

No transcorrer dos anos 1980 e no inicio dos anos 1990 novas normas de promoção territorial foram estabelecidas pelo estado através do Fundo de Desenvolvimento

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Comercial e Industrial do Rio Grande do Norte e do Distrito Industrial em Extremoz que passou a concentrar várias empresas do circuito têxtil. No entanto, a partir de meados da década de 1980 o circuito espacial têxtil entra em um processo de retraimento que culmina em uma crise que atinge vários estabelecimentos no território potiguar. Dentre os fatores que proporcionaram esse processo, temos a crise generalizada na produção algodoeira do estado que tornou escassa a matéria prima barata que abastecia o circuito, de modo que muitos produtores tiveram que passar a comprar em outras regiões para suprir sua demanda.

Também é fundamental compreender que a expansão do circuito esteve intrinsecamente ligada às normas de promoção territorial concedidas pelo Rio Grande do Norte. Como muitos desses incentivos fiscais concedidos pelo estado esgotaram o seu prazo, as empresas beneficiadas passaram a buscar novos lugares com condições iguais ou até melhores das existentes no território potiguar para se restabelecerem.

Do início da década de 1990 até os dias atuais, o circuito espacial têxtil e de confecções presenciou concomitantemente um novo processo de expansão e o advento de uma nova lógica de localização espacial de seus estabelecimentos, pois a partir desse momento temos a criação de novos sistemas de ações e de objetos que proporcionaram uma reorganização do espaço industrial potiguar.

Trata-se de um novo conjunto de normas de promoção territorial que estabelecidas através do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial (PROADI), possibilitou além da construção do Centro Industrial Avançado (CIA), localizado em Macaíba; um fortalecimento do Distrito Industrial de Extremoz e de São Gonçalo do Amarante. Tais espaços além de oferecerem uma maior racionalidade técnica e científica por meio de energia barata e de sistemas de informação, concederam amplos incentivos fiscais e doação de terrenos localizados nas margens de grandes eixos de circulação do território potiguar (BR 101 e BR 304), para as empresas que aí se estabelecessem. Assim, presenciou-se uma verdadeira corrida das empresas para esses espaços, tanto as que já estavam radicadas no território potiguar, quanto daquelas provindas de outras regiões do país. Os exemplos desse processo foram a Coats, a Guararapes, a Nortex a Capricórnio e a Textile, localizadas em São Gonçalo do Amarante, a Coteminas e a Toli, localizadas em Macaíba e a Vicunha, em Extremoz.

Aqui é preciso pontuar que na Região Metropolitana de Natal se formou não somente esse circuito mais carregado das variáveis da ciência e da técnica e com alta

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densidade de capitais, mas também um circuito produtivo alinhado aos pequenos e médios produtores. Tal circuito tanto pode ser originário do acontecer hierárquico quanto de formas horizontais de organização produtiva. No primeiro caso temos a ampliação das formas flexíveis de trabalho na qual predominam uma produção terceirizada que altamente atrelada aos grandes agentes da economia encontram nessa “prática flexível” uma forma de ampliarem as formas de extração de mais-valia.

Se Ricardo Antunes (2005) falou de uma nova “morfologia do trabalho”, produzida por aconteceres hierárquicos, como modo de caracterizar as novas formas de trabalho no mundo contemporâneo, nas quais prevalecem o desemprego estrutural, a precarização, a subcontratação, a terceirização e a flexibilização; podemos dizer que essa morfologia do trabalho encontra na expansão desses circuitos produtivos sua forma geográfica de expressão, sobretudo, àqueles circuitos com baixa densidade de capitais e organização que se mostram mais sensível aos eventos geradores desse acontecer hierárquico.

Em um segundo caso há a formação de um circuito que embora seja tributário também de um acontecer hierárquico, está mais relacionado a processos horizontais, dado que não aparecem como terceirizados de outros agentes da economia. Apesar de concentrado em Natal este circuito se dispersa por toda a região metropolitana e possui como característica existencial fundamental o fato da maioria de seus estabelecimentos apresentarem um ou dois funcionários e serem baseados em relações familiares de trabalho.

Nos municípios de Macaíba, Parnamirim e Ceara Mirim encontramos as maiores concentrações de “estabelecimentos”2 produzindo uma gama variada de produtos que na maioria dos casos são consumidos na própria região metropolitana, mas em alguns casos devido à banalização dos sistemas técnicos contemporâneos como computador e internet, constamos um alargamento desse circuito que usam a internet para vender e divulgar os seus produtos não somente no Brasil, mas também na Europa.

Esse circuito apesar de grande difusão geográfica na Região Metropolitana de Natal não se constitui como predominante na conformação geral do circuito de confecções, principalmente, quando consideramos a quantidade da produção e a absorção de mão de obra que é mais expressiva nos grandes espaços produtivos dos agentes hegemônicos do

2 A pesquisa de campo vem evidenciando que muitos desses estabelecimentos são na realidade a própria residência do trabalhador que geralmente possui um compartimento no qual se desenvolve a atividade produtiva.

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circuito; por isso, afirmamos que mesmo com existência desses pequenos produtores fundamentados muitas vezes em uma solidariedade orgânica, o que predomina nessa região é um circuito baseados em uma solidariedade organizacional produtora de espaços verticais.

Enquanto na Região Metropolitana de Natal predomina circuitos mais densamente tecnificados e comandados por um acontecer hierárquico, constatamos a expansão de formas de trabalho erigidas a partir de racionalidades mais aderentes aos processos horizontais. É nesse sentido que verificamos o advento e o fortalecimento de uma nova lógica de formação do circuito de confecções que vem proporcionando uma reorganização do território potiguar e, outorgando, por isso, novas feições à sua regionalização.

Nesta realidade a Região Seridó, o Alto Oeste e mais alguns subespaços do território potiguar passam a fazer parte da expansão do circuito de confecções, principalmente. Neste caso temos um processo diferenciado, pois o mesmo não responde majoritariamente a aconteceres hierárquicos como ocorre na Região Metropolitana de Natal, embora estes também influenciem o surgimento de novos circuitos, sobretudo, aqueles que se apresentam como terceirizados de grandes empresas.

A formação desse circuito aparece mais atrelada a diversos processos horizontais que se estabelecem por meio de diversos agentes sociais locais. De modo geral há predominância de pequenos e médios estabelecimentos de produção que apresentam mão-de-obra barata, e muitas vezes fundamentada em relação de parentesco, uma grande complementaridade entre os diversos agentes que formam o circuito e, por fim, uma densidade técnica e de capital relativamente baixa quando comparamos com a Região Metropolitana de Natal. Tomando como ponto de reflexão as considerações de Santos (1996), podemos dizer que nesses subespaços se sobressaem relações solidarias orgânicas entre diversos agentes do lugar que se fundam por meio de uma coletividade que trabalha em busca de resultados comuns.

Um dado fundamental na formação desses circuitos é que seu desenvolvimento se deu a partir da incorporação de famílias de técnicas de produção consideradas ultrapassadas ou obsoletas para os grandes capitais industriais, sobretudo, porque elas são intensivas em trabalho humano e não em maquinário modernos que permitem uma ampliação da produção e uma maior racionalização do processo produtivo.

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Além disso, acreditamos que a compreensão do circuito de confecções desenvolvido nessas regiões também passa pelo entendimento de um acontecer homólogo que se verifica a partir de um conhecimento técnico do processo produtivo que de base local apresenta uma circulação mais horizontal das informações e funciona como um dos motores de dinamização dessas regiões. E comum a existência de unidades produtivas autônomas e independentes pertencentes a membros diversos de um mesmo grupo familiar.

Na Região Seridó o processo de expansão do circuito espacial confecções tem como ponto de inflexão a década de 1970, mas destacamos que durante este período a região ainda não apresentava a dinâmica que o caracterizará nos anos ulteriores. Já a partir da segunda metade dessa década, tomando como base a pesquisa de Morais (2005), o circuito espacial confecções já aparecia em 3º lugar na conformação econômica do Seridó, com aproximadamente 50 estabelecimentos.

Na medida em que as forças do lugar vão incorporando a lógica de funcionamento desse circuito e na medida em que as ações do governo que promovem alguns incentivos a sua expansão aumentam, constatamos uma ampliação do circuito confecções, que se revela tanto pelo aumento da produção quanto por meio do surgimento de novas especialidades de circuitos espaciais como, por exemplo, o circuito dos bonés, que de acordo com Lins (2011) tem surgimento durante esse período.

No que concerne a expansão do circuito produtivo de confecções para outras regiões do território potiguar, constatamos que de modo geral predomina a existência de pequenas e médias empresas que, muitas vezes, surgem atreladas as relações estabelecidas horizontalmente semelhante ao que se processa na Região Seridó, como exemplo temos os municípios Santa Cruz e Nova Cruz na região Agreste; Mossoró e Apodi na Região Oeste.

Na contemporaneidade a intensificação dos fluxos de informação, de capitais e de mercadorias, possibilitou que a Região Seridó e o Alto Oeste passassem a atender além das demandas locais, demandas nacionais e até internacionais, o que, ao mesmo tempo, em que ampliou os espaços de produção do circuito confecções, possibilitou a intensificação de seu processo de tecnificação, como forma de atender ao aumento da demanda produtiva.

Assim, em virtude da trama complexa de aconteceres que regem esses circuitos nessas regiões, sua compreensão tornou-se mais difícil. Essa economia pobre como os denominou Arroyo (2008), adquiriu novos contornos, de modo que ao mesmo tempo em

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que “começam e terminam num único sub-espaço, que vai desde a produção até o consumo no mesmo distrito de uma cidade” (ARROYO, 2008, p. 21); percebemos que diante das possibilidades abertas pelo período da globalização muitos já não se realizam somente em sua cidade de origens ou no estado do Rio Grande do Norte, mas extrapolam esses limites se espraiando não somente pela formação socieespacial brasileira mas também por algumas partes do mundo.

Por exemplo, os circuitos de confecções de roupas e de biquínis que têm seus espaços produtivos na Região Oeste e no Seridó são eloquentes para ilustrarem essa situação. Podemos dizer que esse circuito produtivo “autoriza uma cooperação estendida” (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 101), uma vez que constatasse uma ampliação de sua escala de realização, dado que em alguns períodos ele ultrapassa a dimensão do território nacional para estabelecer uma conexão na escala do sistema-mundo com os mercados europeu e americano, sobretudo este que nos últimos anos tem adquirido com maior periodicidade os produtos desse circuito.

Por fim, pontuamos que embora esse circuito espacial de confecções apresente certa disseminação pelas Regiões do Seridó e na Região de Mossoró, dado que vários municípios se apresentam enquanto espaços de produção, constata-se uma concentração espacial do processo produtivo, sobretudo, nas cidades de Caicó, Jardim de Piranhas, Serra Negra do Norte e Mossoró que dotados de uma maior carga de densidade técnica, de capital e normativa quando comparado as demais cidades, comandam esse processo em suas respectivas regiões.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os usos do território pela industrial têxtil no Rio Grande do Norte vem corroborando a tese de Santos (2003) segundo a qual no período técnico-científico-informacional aumenta exponencialmente o número de variáveis definidoras das estruturas e dos conteúdos regionais. Em outros termos evidenciasse que ao mesmo tempo em que se instalam formas de produção influenciadas por um processo de globalização e oriundas das divisões territoriais hegemônicas, temos a permanência e o advento de um conjunto de formas de produção mais baseadas em solidariedades horizontais estabelecidas por agentes não hegemônicos.

É desse conflito que emergiu a nova estruturação regional do território potiguar que às vezes se subordina completamente aos anseios dos agentes da economia

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globalizada e em outros momentos, resiste a essas ações ou as transformam e as absorvem de acordo com suas necessidades. Esta situação, consequentemente, nos permite apontar a existência de um processo de regionalização tributário de uma lógica desigual simultaneamente vertical-horizontal.

Usando as palavras de Santos (1988), podemos dizer que no período da atual, as regiões aparecem como distintas versões dos processos de globalização, dado que para apreendê-la em sua essência é preciso concebê-la como produto da confluência e das contradições de uma ordem global e uma ordem local intermediada pela formação socioespacial.

REFERÊNCIAS

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O USO DESIGUAL DO TERRITÓRIO POTIGUAR PELOS CIRCUITOS

PRODUTIVOS DA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE CONFECÇÕES

EIXO 3 – Desigualdades urbano-regionais: agentes, políticas e perspectivas

RESUMO

No território do Rio Grande do Norte a constituição das regiões tem sido guiada por lógicas desiguais que possibilitam aos circuitos espaciais produtivos mais dinâmicos e mais exigentes das densidades do período histórico atual se localizarem em parcelas sempre mais restritas do território, ficando os demais espaços tributários de circuitos que não apresentam os mesmo níveis de densidade das variáveis da técnica, da ciência e da informação. Constatamos que enquanto esses circuitos produtivos mais exigentes dessas variáveis são guiados por eventos verticalmente constituídos, típicos do período da globalização (SANTOS, 1994; 1996), os demais circuitos produtivos apresentam em seu processo formativo uma lógica mais horizontal. É nesse sentido, que o presente trabalho busca analisar o uso desigual do território pelo circuito espacial da produção da industria têxtil e de confecções dando ênfase nas desigualdades geradas por esse processo. Para tanto, realizamos uma revisão bibliográfica sobre as teorias que versam sobre os circuitos espaciais produtivos, bem como realizamos pesquisa empírica a fim conhecermos os eventos que configuraram essa realidade no território potiguar. Os resultados obtidos nos permitem dizer que o uso do território pelo circuito espacial produtivos da industria têxtil e de confecções no Rio Grande do Norte possibilitou o surgimento de novas topologias espaciais que se desenvolveram de acordo com os níveis de densidade técnica e científica presentes nas suas diversas regiões, de maneira que temos pelo menos três formas de regionalização proporcionada por esse circuito: uma se materializa na Região Metropolitana de Natal; uma segunda na Região Seridó; e, por fim, uma terceira que ocorre de forma mais dispersa em outros pontos do território, dos quais Mossoró é o destaque. Esse processo evidencia que, cada vez mais, o uso do território é guiado por forças de concentração e forças de dispersão (SANTOS; SILVEIRA, 2001) que atuam paralelamente, dado que, se, por um lado, temos uma lógica territorial que proporciona a concentração do circuito na Região Metropolitana de Natal e no Seridó; por outro, há também uma lógica territorial que conduz o circuito a se expandir por outros subespaços, como ocorre na Região Oeste e em outras regiões do território potiguar.

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