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Integrar para comunicar melhor

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Academic year: 2021

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Integrar para

comunicar melhor

Por meio das demonstrações contábeis, é possível conhecer o desempenho passado

e obter uma leitura sobre a trajetória esperada e as perspectivas da empresa. Porém,

atualmente, credores, investidores e outros públicos de interesse querem saber bem

mais sobre o desempenho das organizações. Querem saber, por exemplo, se elas têm

futuro, tanto pelo aspecto financeiro quanto pela postura em relação ao meio ambiente,

ao corpo de funcionários, à governança corporativa e à responsabilidade social. Para

responder à necessidade de produzir relatórios que considerem a correlação entre esses

temas, aparentemente independentes, surgiu o Relato Integrado (RI), uma iniciativa

promovida pelo

International Integrated Reporting Council (IIRC) e hoje praticada, de

forma voluntária, por dezenas de empresas de vários países.

REPORTAgEM

Por Maristela Girotto

O Brasil é o segundo país do mundo – ao lado da Holanda e atrás apenas do Reino Unido – em núme-ro de empresas-pilotos que utilizam, de forma voluntária, os conceitos do RI na produção dos seus relatórios. Natura, Petrobras, Itaú-Unibanco, BNDES, BRF Brasil e Votorantin In-dustrial são algumas delas.

“O Relato Integrado é um avanço em relação à forma de apresentação das informações para os usuários. Isso se deve ao fato de que, a cada dia, a exigência por relatórios, que muitas vezes não expressam o valor

que o investidor ou interessado na empresa precisa conhecer, tem tra-zido uma sobrecarga de dados sem, necessariamente, agregar valor ao que realmente precisa ser apresenta-do”, justifica Gardênia Maria Braga de Carvalho, conselheira e representante do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) na Comissão de Acompanha-mento do Relato Integrado no Brasil. Atualmente, a Comissão conta com representantes de cerca de 90 enti-dades e empresas nacionais.

Pensar e agir de forma inte-grada, avaliando o modelo de

negócio, a visão de longo prazo, os riscos, a evolução dos capitais e a correlação entre temas como Contabilidade, Governança Corpo-rativa, Sustentabilidade e Respon-sabilidade Social e Ambiental. Esse é o desafio proposto pelo RI. Na reportagem a seguir, a RBC discute o tema com os principais envolvi-dos na aplicação e disseminação do Relato Integrado no Brasil, abordando diferentes aspectos dessa iniciativa, que chega a ser considerada “um divisor de águas para a carreira de Contabilidade”.

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Antes de qualquer abordagem, a primeira explicação necessá-ria sobre Relato Integrado é que não se trata da produção de mais um relatório corporativo ou da substituição dos atuais relatórios produzidos separadamente pelas empresas – de contabilidade, de responsabilidade social, de gover-nança corporativa, de sustentabi-lidade – por um único, integrado. O RI consiste no fortalecimento do processo de produção de informa-ções das organizainforma-ções, atuando como uma ferramenta para a ela-boração de relatórios consistentes e harmônicos, por meio dos quais as empresas podem atender à ne-cessidade dos stakeholders1sobre

como estão sendo administrados os diversos capitais corporativos.

Seis capitais fazem parte do conceito básico do Relato Inte-grado: financeiro (recursos mone-tários), manufaturado (edifícios, equipamentos, infraestrutura), humano (governança, direitos hu-manos, lealdade, motivação), inte-lectual (intangíveis, patentes, repu-tação), natural (recursos naturais) e social (parcerias, relacionamentos).

A iniciativa do RI partiu do or-ganismo inglês International

Inte-grated Reporting Council (IIRC),

uma coalizão global de regula-dores, investiregula-dores, empresas, emissores de normas, entidades da área contábil, Instituições de Educação Superior (IES) e organi-zações não governamentais, que partilham da opinião de que a comunicação sobre a criação de valor deve ser uma evolução da comunicação corporativa.

Origem

O surgimento do RI não tem data específica. De acordo com o professor da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Conselho do IIRC, Nelson Carvalho, a neces-sidade de integração das informa-ções dos relatórios produzidos pe-las empresas surgiu, há mais de dez anos, quando a Global Reporting

Initiative (GRI), uma entidade

inter-nacional sem fins lucrativos sedia-da na Holansedia-da, detectou a neces-sidade de ampliar as informações prestadas pelas empresas quanto a seus desempenhos e perspectivas.

“Há várias iniciativas individuais ao redor do mundo que tangen-ciam a questão, embora não a ata-quem com a visão do RI”, afirma o professor, citando exemplos como o Carbon Disclosure Project, o Ins-tituto Ethos e o Principles for

Res-ponsible Investment.

Leonardo F

rança

A iniciativa do Relato Integra-do, segundo Carvalho, partiu do Príncipe de Gales, “conhecido de-fensor da sustentabilidade e do meio ambiente, que, por meio de uma instituição criada por ele, a A4S – Accounting for

Sustainabi-lity, constituiu, em fins de 2009,

o International Integrated

Repor-ting Council”.

No Brasil

O modelo do Relato Integrado ganhou impulso no País no início de 2012. “O presidente do IIRC en-viou uma carta ao presidente do BNDES, Luciano Coutinho, suge-rindo que fosse estabelecida uma comissão nacional de acompanha-mento do IIRC, a exemplo do que já acontecia em outros países”, lem-bra a contadora Vania Borgerth, assessora da Presidência do Banco Gardênia Maria Braga de Carvalho

Iniciativa propõe uma nova comunicação

corporativa

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Nacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social. A partir de então, segundo ela, decidiu-se criar uma comissão, não apenas sob a égide do BNDES, mas abrangendo enti-dades importantes ao processo e líderes do mercado brasileiro.

“Na primeira reunião, em ju-lho de 2012, contamos com 17 pessoas. Hoje, a Comissão realiza reuniões trimestrais, geralmente na sede da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), nas quais temos a participação de cerca de

Para viabilizar a proposta de integrar informações financeiras com as não financeiras, com base no modelo de negócio das em-presas e seus seis tipos de capital (financeiro, manufaturado, natu-ral, intelectual, humano e relacio-namento) e, ainda, considerando a quebra dos “silos”– que fazem com que uma informação seja ge-rada sem qualquer relação com outras, provocando o surgimento de inconsistências –, o

Internatio-nal Integrated Reporting Council

lançou mão de um modelo consi-derado ousado. “Em vez de apre-sentar à sociedade um framework pronto, elaborado por intelectuais e reguladores, com a mensagem

200 pessoas, envolvendo mais de 90 entidades brasileiras”, afirma Vania, coordenadora informal da Comissão de Acompanhamento do Relato Integrado no Brasil. “Na verdade, somos um grupo de pes-soas que acredita nessa iniciativa e que se reúne em prol desse objeti-vo”, acrescenta.

O Conselho Federal de Contabi-lidade, o Instituto dos Auditores In-dependentes do Brasil (Ibracon), o Comitê de Pronunciamentos Contá-beis (CPC), as grandes empresas de

auditoria e outras entidades da área contábil participam da Comissão.

“O CFC tem participado da Co-missão desde o início dos estudos sobre o RI no Brasil, e isso tem per-mitido um amadurecimento dos debates internamente e, em espe-cial, na Câmara Técnica do Conse-lho”, afirma a conselheira Gardênia Maria Braga de Carvalho, membro da Câmara e da Comissão.

Para Gardênia, a proposta do RI é uma apresentação clara de como a empresa cria valor para a sociedade, mostrando quais são as suas estratégias, sua governança, sua performance e seus prospectos, alinhados com os diversos capitais que ela possui. “O ponto central é a busca por uma informação de qualidade, que seja integrada, con-fiável, consistente e comparável, a fim de que o usuário conheça o mo-delo de negócio e, dessa maneira, possa tomar decisões corretas. Todo esse arcabouço tem a Contabilidade como elemento principal”, ressalta a conselheira do CFC.

Divulgação CRC

SP

Robson Cesco

Participantes da Comissão de Acompanhamento, em reunião realizada em 12/2 deste ano, em São Paulo

Vânia Borgerth

Conceitos do RI são testados por empresas do

mundo todo

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de ‘Faça-se!’, o IIRC convidou em-presas do mundo inteiro para, ex-perimentalmente, aplicar em seus relatórios os conceitos de Relato Integrado”, destaca a coordena-dora da Comissão de Acompa-nhamento do Relato Integrado no Brasil, Vania Borgerth.

Para eliminar possíveis resistên-cias à proposta do RI, o IIRC formou também, segundo Vânia, uma rede mundial de investidores, que hoje conta com cerca de 25 instituições, sinalizando para as empresas que, efetivamente, o mercado precisa receber informações não financei-ras tanto quanto as financeifinancei-ras.

Um ponto relevante a esclare-cer é que a proposta do Relato In-tegrado não intefere no ambiente regulatório ou formal da geração do relatório financeiro ou de ou-tros. Assim, se uma empresa está sujeita às normas internacionais de contabilidade – International

Fi-nancial Reporting Standards (IFRS),

vai continuar utilizando as IFRS; se utiliza os indicadores da Global

Re-porting Initiative (GRI) para o seu

relatório de sustentabilidade, con-tinuará com eles.

“O que o IIRC quer é garantir que o que estiver dito na parte fi-nanceira (IFRS, por exemplo) vai

es-tar coerente com o que for dito na parte não financeira”, afirma a co-ordenadora da comissão brasileira.

A busca de sinergia entre todas as pontas da “cadeia produtiva da informação empresarial” levou o Conselho do IIRC a reunir investi-dores, governos, empresas, audi-tores, analistas de investimentos, acadêmicos, fundos de pensão, en-tidades de governança corporativa, o GRI e, entre outros, reguladores como o International Accounting

Standards Board (Iasb) e o

america-no Financial Accounting Standards

Board (Fasb).

Foco e transparência

O Relato Integrado, no entan-to, ainda não pode ser considerado uma resposta aos anseios da socie-dade por maior transparência e éti-ca no âmbito da iniciativa privada. Nessa fase inicial, a proposta do RI está voltada, como público priori-tário, ao investidor institucional. Essa prioridade se deve, segundo a presidente do Conselho de Admi-nistração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e membro do IIRC, Sandra Guerra, à necessidade de se aprimorar o

pro-cesso decisório para alocação de recursos a partir de uma visão mais completa do empreendimento.

Com o tempo, ela acredita que o RI irá se orientar mais e mais para as demais partes interessadas. Porém, Sandra considera que, se a propos-ta tem hoje foco nos investidores e no conceito ESG – Meio Ambiente, Social e Governança, na sigla em inglês –, isso acaba por levar as em-presas a olharem seus impactos em relação a toda a sociedade e não apenas a seus investidores.

Inconsistências

Em geral, as demonstrações contábeis apresentam apenas in-formações financeiras; as não fi-nanceiras são disponibilizadas pe-las empresas em outros tipos de relatórios. Ocorre que, muitas ve-zes, as informações dos vários re-latórios produzidos pelas empresas apresentam fortes discrepâncias. “Hoje as mensagens são desconec-tadas entre os diversos relatórios; um passa uma imagem rósea e oti-mista e outro revela dificuldades que trazem danos ao patrimônio”, ressalta o professor e membro do

International Integrated Reporting Council, Nelson Carvalho. Para ele,

essas mensagens conflitantes são inaceitáveis e acontecem porque os departamentos das empresas não se comunicam quando produzem os relatórios.

Atualmente, além dos relató-rios obrigatórelató-rios por lei, como as demonstrações contabéis e suas respectivas notas explicativas, as grandes empresas disponibilizam aos stakeholders relatórios de sus-tentabilidade, de responsabilidade social e ambiental, de governança corporativa, descritivo das políticas de remuneração e outros.

“Quando as empresas não pro-duzem relatórios de sustentabili-dade – e elas não são obrigadas a

Eduardo Batista

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A Estrutura (Framework) Internacional do Rela-to Integrado, em português, foi lançada em evenRela-to realizado no dia 22 de maio deste ano, na sede do Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo (CRCSP). Além dos membros da Comissão de Acom-panhamento do Relato Integrado no Brasil, partici-pou do lançamento o Chief Executive Officer (CEO) do IIRC, Paul Druckman.

O documento, na língua inglesa, havia sido pu-blicado pelo IIRC em dezembro de 2013. Com o con-sentimento do organismo internacional, a tradução para o português foi feita pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). A Estrutura do RI pode ser conhe-cida por meio do link: http://www.theiirc.org/wp- -content/uploads/2014/04/13-12-08-THE-INTERNA-TIONAL-IR-Framework-Portugese-final-1.pdf

Além de realizar a tradução do Framework, a participação da Febraban no processo de implenta-ção do RI no Brasil, segundo o diretor de Relações Institucionais, Mário Sérgio Vasconcelos, tem se dado por meio da Comissão de Responsabilidade Social e Sustentabilidade, composta por 22 institui-ções bancárias.

“Temos apresentado e discutido a imple-mentação de conceitos e da estrutura do RI nos

bancos”, afirma o diretor, acrescentando que, adicionalmente, as políticas de governança cor-porativa e de responsabilidade socioambiental dos grandes bancos brasileiros já estão bastante avançadas. “A qualidade e a assertividade dos re-latórios apresentados anualmente pelos bancos têm sido cada vez mais claras com relação à atu-ação das instituições. Mas é bom destacar que a sustentabilidade nos negócios é um processo contínuo de aperfeiçoamento e aprendizagem”, pondera Vasconcelos.

produzi-los –, via de regra, os re-latórios publicados se resumem ao contábil-financeiro, que, embora dê uma visão de futuro, usualmen-te se restringe ao capital financeiro e não incursiona pelos demais capi-tais”, ressalta Carvalho.

Para o professor, não é possí-vel fazer uma avaliação global do nível de qualidade dos relatórios produzidos atualmente por em-presas e organizações, em função da grande variedade de formas e profundidades utilizadas nas in-formações dos relatórios. “Isso faz com que alguns sejam

extrema-Divulgação F

ebraban

Mário Sérgio Vasconcelos mente bem informativos e outros, lamentavelmente, sejam meras peças de marketing, com as quais as empresas pensam iludir os lei-tores falando apenas belezas de si mesmas”, diz o professor.

No entanto, continua ele, não se pode falar em falhas, já que cada enfoque respeita o seu tempo empresarial e social. “Há 100 anos, os ativos das grandes empresas internacionais eram compostos, quase inteiramente, por ativos tan-gíveis (estoques, imobilizado) e, hoje, mais de 50% dos ativos das grandes corporações são

intangí-veis (marcas, patentes, valor de co-mércio, ágios)”, explica, justifican-do a necessidade de evolução justifican-dos relatórios corporativos.

Carvalho acredita que a beleza e o desafio do RI não são o relato em si, mas o pressuposto de que a em-presa tem uma forma integrada de pensar. “Se os processos de tomada de decisão forem integrados, o re-lato sobre eles também o será, e aí os credores, investidores, corpo de funcionários e demais grupos que interagem com a empresa serão be-neficiados pela visão de sustentabi-lidade em longo prazo”, opina.

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Além de fazer o dever em casa, o Brasil também está re-presentado no International

In-tegrated Reporting Council. São

membros do IIRC, além do profes-sor da Universidade de São Pau-lo (USP) e vice-coordenador de Relações Internacionais do CPC, Nelson Carvalho, e da presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Sandra Guer-ra, o vice-presidente de Finanças e Relações Institucionais da Natu-ra, Roberto Pedote, e o diretor de Participações da Caixa de Previ-dência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), Marco Geovanne Tobias da Silva.

Essa representação espelha o grau de interesse que o RI des-pertou no Brasil, o segundo país do mundo, empatado com a Ho-landa, em número de empresas integrantes do programa-piloto promovido pelo IIRC. O acolhi-mento dos conceitos do Relato Integrado por parte das organi-zações brasileiras tem levado o IIRC a apresentar a experiência brasileira como referência para outros países.

Uma empresa pioneira

A Natura foi uma das primeiras companhias brasileiras a aderirem ao grupo de empresas globais do programa-piloto do RI. “Os con-ceitos do Relato Integrado nos desafiam a revisar nosso sistema de gestão para evoluir no pensa-mento integrado, algo que deve preceder o relato”, afirma o vice--presidente de Finanças e Relações Institucionais da Natura, Roberto Pedote, para quem a proposta do

RI significa muito mais do que re-latório. “O RI deve ser visto como uma oportunidade que possibilita melhoria contínua, gestão efetiva do modelo triple bottom line, por meio de questionamentos da es-tratégia e do sistema de gestão da empresa”, diz.

Para o executivo, ser membro do Conselho do IIRC tem possi-bilitado à empresa participar das principais discussões para avanço dessa prática. Além disso, fazer parte do projeto-piloto do RI per-mitiu à companhia iniciar o desen-volvimento de um relatório que caminha na direção da integração, “tanto que a última edição, lança-da em abril deste ano e referente a 2013, já está alinhada às diretri-zes do Relato Integrado, com itens como modelo de negócio, visão de longo prazo e maior detalhamento em governança”. A versão digital desse relatório está disponível para conhecimento em www.natura. net/relatorio.

Pedote garante que, na empre-sa, as fronteiras entre as divisões e

Divulgação Natura

os processos têm sido transpostas, graças à prática do RI, que estimula o pensamento integrado. “Na Natu-ra, onde a visão de sustentabilidade é tão importante quanto o balanço financeiro, a integração entre os te-mas socioambientais e econômicos já faz parte da gestão estratégica da companhia”, destaca.

De acordo com a proposta do RI, continua o vice-presidente, a comunicação entre as empresas e os seus investidores e públicos de interesse não se restringe ao as-pecto financeiro, mas a todos os recursos que constituem o negó-cio, de colaboradores a insumos da sociobiodiversidade, sempre de forma a incentivar práticas justas e sustentáveis.

“O aspecto positivo do merca-do brasileiro é que ele é altamen-te permeável a novas práticas ou regulações. A disseminação do GRI no País e a iniciativa Relate ou Explique, da BM&FBovespa, são exemplos disso”, afirma Pedote, opinando que essa permeabilidade facilita a adoção de novas diretri-Roberto Pedote

Representação e experiências do Brasil são

referências internacionais

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zes, mesmo sendo uma prática vo-luntária, sem regulação formal.

Sustentabilidade

em longo prazo

A visão de sustentabilidade em longo prazo, um dos benefícios al-cançados com o RI, é um dos pon-tos de maior interesse dos fundos de pensão, instituições que man-têm o olhar 20 ou 30 anos à frente.

Para o diretor de Participações da Previ – o maior fundo de pensão da América Latina –, Marco Geo-vanne Tobias da Silva, a mudança de comportamento e pensamento é o ponto crucial no Relato Integra-do, no qual se observa maior pro-moção da integração da organiza-ção de “dentro para fora”.

“Com uma comunicação con-cisa e abrangente da estratégia, governança, desempenho e pers-pectivas das empresas é possí-vel conseguir melhor percepção do negócio, como um todo, para criação de valor em longo prazo. Adicionalmente, objetiva-se obter maior responsabilidade da gestão com respeito à ampla base de ca-pitais – financeiro, manufaturado, humano, intelectual, natural, social

e de relacionamento – e promover a compreensão das interdependên-cias entre eles”, ressalta o diretor da Previ.

O Relato Integrado, de acordo com o executivo, serve de apoio à decisão de alocação de capital e ao cumprimento do dever fiduciário dos fundos de pensão, uma vez que, com a apresentação do RI, há maior convergência das informa-ções e transparência, o que facilita a comparabilidade em nível inter-nacional, inclusive entre setores.

Marco Geovanne explica que a Previ já recomenda em seu Código de Melhores Práticas que o Rela-tório Anual das companhias seja produzido de forma a integrar in-formações econômico-financeiras e práticas de sustentabilidade. “O Relato Integrado propõe que essa divulgação vá um tanto além de simplesmente encadernar informa-ções que, até então, são publica-das pela maioria publica-das companhias abertas brasileiras em separado, na mesma publicação”, diz.

Pretende-se com o RI, resume o diretor, que as empresas de fato percebam a importância de conec-tar todos os fatores e capitais que agregam valor ao seu negócio e à sua competitividade para a

longe-Divulgação Previ

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tura adequada em relação ao meio ambiente, corpo de funcionários, governança corporativa e respon-sabilidade social.

Para Carvalho, uma das especia-lidades dos profissionais da Conta-bilidade, há décadas, é relatar as perspectivas e o desempenho em-presarial. Porém, continua ele, no mundo da proteção ao meio am-biente e da sustentabilidade, já há ambientalistas, advogados, econo-mistas, botânicos e vários outros profissionais, mas estavam faltan-do os contafaltan-dores.

“A questão que o IIRC preten-de ajudar a responpreten-der é: os conta-dores têm alguma coisa a contri-buir, profissionalmente, para uma empresa mais sustentável? Se não tivermos, provavelmente, não se-remos necessários ao longo deste século e dos próximos”, vaticina o professor.

Algumas iniciativas nesse sentido já estão em andamento. Carvalho cita que, há cinco anos, foi criado, no Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA/ USP, em São Paulo, o Núcleo de Estudos de Contabilidade e Meio

A questão que o IIRC pretende ajudar a

responder é: os contadores têm alguma coisa a

contribuir, profissionalmente, para uma empresa

mais sustentável? Se não tivermos, provavelmente,

não seremos necessários ao longo deste século e

dos próximos.

vidade, para que, como resultado, produzam uma publicação que transmita aos seus stakeholders a que veio e o pretende fazer.

Educação em Contabilidade

A utilização do Relato Integra-do pelas empresas brasileiras vai exigir mudanças na formação dos profissionais da Contabilidade, de acordo com o professor da Facul-dade de Administração, Economia e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e membro do IIRC, Nelson Carvalho.

O professor argumenta que questões sociais e ambientais estão hoje presentes no mundo empresarial a partir de várias mo-tivações. “Clientes de produtos empresariais estão preocupados com trabalho escravo, explo-ração de mão de obra infantil, móveis feitos com madeira der-rubada irregularmente e vários outros exemplos de péssimo uso de insumos para reduzir custos e otimizar lucros”, cita Carvalho, acrescentando que empresas

ade-rentes a essas práticas condená-veis estão perdendo, progressiva-mente, mercados.

Aliada a esses fatos, soma-se, segundo o professor, uma das mais “penetrantes lições” trazi-das pelas normas internacionais de contabilidade – IFRS, na sigla em inglês – e abrigadas nas Nor-mas Brasileiras de Contabilidade (NBCs) do CFC: “Além de conhe-cer o desempenho passado, outro dos mais nobres objetivos das de-monstrações contábeis é permitir uma leitura sobre o futuro; quais são os fluxos de caixa esperados daqui pra frente, dados os negó-cios e transações que a empresa fez no passado; em suma, minha trajetória esperada no futuro in-dica que tomei decisões empre-sariais sensatas no passado, em termos de clientes, capacidade instalada, créditos concedidos, dívidas assumidas, diversificação de linhas e de produtos e assim por diante”.

Mas uma variável questionada por credores e investidores é se a empresa tem futuro, tanto como negócio em si quanto por sua

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primeiramente, porque a estrutu-ra conceitual do RI consideestrutu-ra que não basta ter um modelo de negó-cios, “mas é preciso dar clareza à estratégia adotada para obtenção de melhor desempenho e que, ao mesmo tempo, apresente perspec-tivas futuras de criação de valor ao longo do tempo”.

A presidente do Conselho de Administração do IBGC cita que o RI traz um modelo que facilita para a empresa ficar atenta ao que pode destruir valor, mesmo que não seja no futuro imediato. Isso conduz a uma visão de negócio sustentável,

Divulgação IBGC

Sandra Guerra Ambiente (Necma), o qual reúne

professores de Contabilidade, Eco-nomia, Matemática e Estatística, Biologia e outras áreas, buscando integração dos campos de estudo em torno do tema Meio Ambiente e Sustentabilidade.

Além disso, o professor informa que, em 2013, foi criada, também na FEA/USP, uma disciplina optati-va no curso de graduação em Con-tabilidade chamada Relato Integra-do, “que tem tido uma demanda surpreendente de alunos, tanto de Ciências Contábeis quanto de ou-tros cursos”.

RI e governança corporativa

A própria definição do Relato In-tegrado – que considera um mode-lo de criação de vamode-lor em curto, mé-dio e longo prazos, proporcionando uma visão prospectiva, reportando elementos conectados entre si e aprimorando a comunicação com os públicos estratégicos –, “captu-ra” a governança corporativa.

“Um fator relevante é que o pensamento integrado favorece a sinergia com a boa governança, atuando como um facilitador na sua adoção”, afirma Sandra Guer-ra, explicando que isso se deve,

segundo ela, que exemplifica: “Se fizer um relatório apenas com os ativos tangíveis, que é o modelo prevalecente até aqui, deixo de ob-servar ativos que vêm se mostran-do cada vez mais importantes, que são os intangíveis”.

Entre os intangíveis estão, por exemplo, os ativos ligados à reputação e à habilidade de re-lacionamento com a cadeia lo-gística. Para Sandra Guerra, os riscos reputacionais são capazes de transformar em pó, em breve espaço de tempo, negócios até então consolidados.

Na opinião da presidente do Conselho de Ad-ministração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Sandra Guerra, “o RI é um di-visor de águas para a carreira de Contabilidade”. Ela lembra, como argumento, “o momento atual histórico muito relevante e transformacional da carreira clássica de Contabilidade”.

O Relato Integrado incorpora diversos outros fatores e informações que faziam parte do co-nhecimento dos contadores, mas sobre os quais, continua a presidente do Conselho do IBGC, esses profissionais tinham pouco acesso, considerando--se o modelo usado até aqui, para reportar os

re-sultados de uma empresa. “Ao incluir os seis capi-tais e outras características do RI, surge uma nova dimensão para a carreira contábil, que passa a ter um olhar mais abrangente e pode ser ainda mais relevante”, acrescenta.

Sandra Guerra destaca, porém, que o atual momento é de aprendizado e conhecimento dos conceitos do RI. “Estamos apenas começando. Te-remos muitos anos de transformação pela frente para ampliar a visão e incorporar outros aspectos, antes pouco considerados. E isso tudo se traduz em uma grande oportunidade para o futuro dos contadores”, afirma.

Referências

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