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Dinâmica espacial da acumulação de capital no sudoeste Paranaense: modernização e inovação do complexo agroindustrial do leite

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Academic year: 2021

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Dinâmica espacial da acumulação de capital no sudoeste Paranaense: modernização e inovação do complexo agroindustrial do leite

Marcelo Buttner Universidade estadual do Oeste do Paraná – Unioeste. Email: mbuttner63@hotmail.com Fernando dos Santos Sampaio Universidade estadual do Oeste do Paraná – Unioeste. E-mail: fernandosampaio_cch@yahoo.com.br

1.0- Introdução

Apesar do sudoeste do Paraná ser uma região de ocupação recente, e ter uma consolidação tardia enquanto importante bacia leiteira ela demonstra grande dinamismo no setor. A mesma possui uma colonização baseada na pequena propriedade que possui a sua produção baseada na diversificação de produtos, mas que com o passar dos anos vem se especializando. Dessa forma, a produção de leite apresentou-se como uma atividade comercial geradora de renda para os pequenos produtores da região.

O sudoeste vem ganhando destaque no mercado nacional de produção de leite tanto que no ano de 2007 tinha á sexta maior produção de leite do Brasil. Esse salto de produção faz parte de um processo mais geral do qual o mercado nacional vem passando desde o fim do tabelamento do preço do leite no final dos anos 90, o que possibilitou uma maior expansão do setor, para regiões mais distantes dos grandes centros consumidores.

Nosso trabalho objetiva dar subsídios para a compreensão da dinâmica de acumulação de capital das indústrias que se dedicam à produção e comercialização do leite no Sudoeste Paranaense, enfocando a importância das inovações em processos e produtos na expansão das mesmas no período pós anos 90 e seu reflexo na dinâmica espacial do setor. O setor de laticínios da região é constituído por grupos de origem local que alcançaram considerável desenvolvimento e inserção no mercado nacional. Para alcançarmos nossos objetivos buscamos referenciais

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teóricos que abrangessem o tema em questão, fizemos levantamentos de dados junto a instituições como o IBGE, associações de classe, revistas especializadas entre outros.

É nessa ótica que se explica o dinamismo da região Sudoeste Paranaense, que ao combinar as especificidades dadas por sua Formação Sócio-espacial e as inovações conseguiu obter destaque na produção nacional, consolidando-se enquanto bacia leiteira.

2.0 – Desenvolvimento do setor de produtos lacteos no Brasil

Para MAZZALI(1988) o desenvolvimento do complexo agroindustrial do leite brasileiro está diretamente ligado a urbanização, ao desenvolvimento do setor de transportes e a industrialização. Segundo ele a ferrovia teve grande importância no transporte do produto do interior de São Paulo para a capital durante á primeira metade do século XIX, e dessa forma para o surgimento do complexo agroindustrial do leite.

Souza(2009), destaca que o governo federal atuou de forma intervencionista no mercado brasileiro de produtos lácteos, durante o período de 1945 á 1991. O mesmo tabelou o preço do leite no país, na intenção de garantir o abastecimento de leite barato no mercado interno nos períodos de safra e de entressafra nos quais o mesmo importava leite em pó afim de garantir o abastecimento do mercado interno. O controle era exercido principalmente sobre o leite tipo C o qual tinha o seu preço tabelado, o leite em pó tinha o seu preço controlado pela relação consumo X custos de produção, já os leites tipos A e tipo B, tinham os seus valores liberados.

Durante este período as empresas nacionais atuavam, principalmente na produção e comercialização, do leite pasteurizado, embalado em embalagens tipo barriga mole (saquinhos plásticos), e as empresas multinacionais acabavam dominando o mercado de derivados lácteos, e a produção do leite em pó.

Wilkinson(1993), apresenta que a modernização do setor de lácteos foi profundamente prejudicada, durante o período de tabelamento. Para tanto que as importações e o controle do preço do leite levou a um crescimento horizontal do setor assim o levando para áreas mais distantes dos grandes centros consumidores, dessa forma aumentando os custos de transporte e colocando a qualidade do produto em risco.

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Durante os finais dos anos 60 até 80 Wilkinson, atribui algumas características, como:

“Esse período foi dominado por : i) uma dinâmica de urbanização e por tanto crescimento na demanda por leite fluido; ii)integração dos mercados nacionais por malha rodoviária; iii) adoção de novos padrões de consumo de iogurtes, sobremesas e queijos não tradicionais.(Wilkinson,1993,p. 33).”

Nesse período, é importante destacar que á uma grande sazonalidade da produção láctea, dessa forma tinha períodos de super oferta e períodos de escassez do produto. Assim acabava-se por se criar altos custos pela estocagem do produto e pelos custos operacionais dos períodos, de ociosidade.

Durante os anos 80, segundo Wilkinson(1993) a crise sustou a demanda e diminuiu os recursos, para a atividade pecuária. Assim a demanda por leite cai e a produção se retrai, e os recursos para as importações se tornam cada vês mais presentes. Nesse período os maiores prejudicados são os pequenos laticínios e as cooperativas que tinham investido no leite pasteurizado.

Para Sousa(2009) a produção nacional até a abertura econômica, era regionalizada e fragmentada, sendo a maior parte do leite industrializado, era para a produção de leite tipo C, em embalagens tipo barriga mole. A validade do leite envasado em saquinhos plásticos, não tende a ser muito grande ficando de cinco a sete dias, por causa desse fator se torna, quase impossível transportar o mesmo para mercados que estejam alem dos regionais.

Após a abertura econômica na década de 90, BENETTI(2004) destaca que se tem a expansão das multinacionais, que ganham mercado através de fusões e da compra de empresas nacionais, as quais na maioria estavam em dificuldades econômicas. Dessa forma se têm uma intensificação da concorrência interna do setor de lacteos, e conseqüentemente uma modernização do setor.

Segundo FREEMAN(1984), os efeitos macroeconômicos de qualquer inovação básica, são quase imperceptíveis nos primeiros anos, e são mais frequente em períodos mais longos. Mas nem sempre a inovação ao ser criada será de forma imediata implementada, pode-se passar

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décadas até que a sua rentabilidade esteja claramente visível, e os imitadores comecem a se dar conta do potencial lucrativo que esse novo produto possui, e passem a investir de forma pesada no mesmo. (FREEMAN,1984, p. 12).

Durante a abertura econômica da década de 90, com o fim do tabelamento do preço do leite, e a grande inversão das multinacionais no mercado nacional de produtos lacteos, fez dessa década a década de grandes mudanças, e a principal mudança, segundo SOUZA(2009), foi a introdução da embalagem longa vida, cuja embalagem aumenta o tempo de validade do produto de 5 á 7 dias do saquinho plástico, para cerca de 140 dias com a embalagem tetra pak. Dessa forma se torna possível que as empresas de laticínios atuem em mercados nacionais e até mesmo internacionais, deixando de serem limitadas aos seus mercados regionais. Dessa forma se tem um maior dinamismo espacial na comercialização do principal produto comercializado – o leite fluido (SOUZA,2009, p. 78). Mas a introdução da embalagem longa vida teve uma grande desvantagem que foi o monopólio do mercado pela empresa tetra pak.

Segundo Santos(2000) embalagem longa vida foi desenvolvida pelo grupo Tetra Pak em 1961, mas a mesma só veio a ganhar destaque pós anos 1990 com á desregulamentação do setor de lacteos nacional. A embalagem cartonada é composta por varias camadas de materiais diversos como papel, polietileno e alumínio, essas camadas tendem a evitar a entrada de luz, água, ar e microorganismos que poderiam vir a estragar o produto.

SOUZA(2009), afirma que outra inovação da década de 90 foi a diversificação nos mix de produtos, e na especialização das empresas. A diversificação passa a mediante investimentos em inovações no segmento de iogurtes, bebidas lácteas, doces de leite queijos, essa diversificação se realiza principalmente pelas pequenas empresas nacionais que vêem nesses produtos uma linha de substituir o mercado perdido do leite barriga mole.

Para Jank(1999), após a desregulamentação do setor de lacteos com o fim do tabelamento do preço do leite e a abertura comercial, ocorreu uma invasão do mercado nacional pelo leite produzido no mercosul o qual possui um preço extremamente competitivo, e serve como balizador de tetos de preços no mercado interno.

O setor produtivo durante a década de 90 para Jank(1999) era amplamente dominado por produtores nada ou pouco especializados, com interesses divididos entre as vendas sazonais

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de pequenas quantidades de leite com baixo custo de produção e com pouca qualidade. Para muitos produtores de leite, o mesmo não passa de um sub produto que vai gerar uma pequena renda mensal. Assim convivendo produtores especializados os quais, se utilizam de raças leiteiras puras, alimentação adequada, manejo adequados, utilizam -se de sistemas de ordenhas mecânicas e refrigeração, dessa forma tendo sucesso ao explorarem uma produção de escala. O mesmo autor destaca que a existência de uma legislação sanitária desatualizada, e a ineficiência da fiscalização, acabam por gerar índices medíocres de produtividade e qualidade da matéria-prima leite fluido(ver gráfico 02).

A modernização da produção nacional se da principalmente em imposição as normativas governamentais podemos destacar no caso a Instrução Normativa no 51, que veio exigir cuidados especiais com a qualidade do leite abrangendo todos os envolvidos na produção, transporte, processamento e distribuição dos produtos finais. As exigências para com a qualidade do leite, obrigou a ocorrência de uma modernização da produção com o uso de ordenhadeiras mecânicas, resfriadores, transporte a granel, e maiores cuidados com o envasamento e distribuição. O aumento da composição orgânica do capital no setor leiteiro obriga uma especialização da produção, comandada principalmente pela indústria processadora.

3.0 – O SETOR DE LACTEOS NO SUDOESTE PARANAENSE

Na década de 1990, principalmente na segunda metade, como uma das bases dinâmicas e consolidadas do estado está o agronegócio, caracterizado por pequenas e médias empresas locais. Neste setor, as agroindústrias vêm contando com investimentos em modernizações. (IPARDES, 2003).

Na produção leiteira a mesorregião sudoeste do Paraná é a segunda maior produtora do estado, segundo dados do IBGE, no ano de 2008 a mesma teve uma produção de 585,122 milhões de litros (Gráfico 01). Ao compararmos com a produção de 1990 a região aumentou a sua produção em 297%. O Sudoeste Paranaense é a décima terceira maior região produtora de leite do pais, mas se compararmos em ordens de crescimento das 20 maiores mesorregiões produtoras de leite a mesma fica em terceiro lugar com um crescimento de 297%, no período de

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1990 á 2008, ficando atrás apenas do Oeste Catarinense o qual aumentou a sua produção na ordem de 460%, e do Leste Rondoniense o qual aumentou a sua produção em 332%.

Gráfico 01: Produção de Leite no sudoeste paranaense: período de 1990 – 2008 (Mil litros)

Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal. Organização dos autores.

A Região tem a atuação de grandes e pequenas empresas, segundo dados da SEAB, atuam na região sudoeste 21 empresas com SIE (Sistema de Inspeção Estadual), a maioria dessas são industrias de origem local e de pequeno porte, como exemplo podemos citar as empresas: PARLAK, que atua em Manfrinópolis, e o Laticínio Alto Alegre que está instalado no município de Verê. Segundo a DAS/DIPOA (Secretaria de Defesa Agropecuária / Departamento

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de Inspeção De produtos de origem animal), atuam na região 21 laticínios com SIF (Sistema de Inspeção Federal), dentre as quais podemos citar a empresa LATCO a qual possui varias unidades processadoras de leite na região, a Diplomata instalada no município de Pranchita e a Líder Alimentos com uma unidade em Enéas Marques.

Gráfico 02: Produtividade Diária de Leite por Vacas no Período de 1990 – 2008 (litros)

Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal. Organização dos autores.

Normalmente essas industrias acabam por atuar no fortalecimento do setor na região por meio de incentivos ao, melhoramento genético do rebanho, modernização da produção(com o uso de maquinas como ordenhadeiras e refrigeradores), especialização da produção(pagando de uma forma diferenciada em relação á qualidade do produto). Dessa forma temos uma modernização do setor na região que, é comandada e impulsionada pelas empresas que ali atuam.

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Isso fica visível ao analisarmos os índices de produtividade que no período teve um crescimento de 114%, enquanto no Brasil a mesma teve um crescimento na ordem de 64% no período. Assim chegando e 2008 á pouco mais de 7 litros de leite por vaca por dia.

Bibliografia:

BENETTI, Maria D. A internacionalização real do agronegócio brasileiro – 1990-03. In: Indicadores Econômicos FEE, Porto Alegre, v.32 n, 02, ago. 2004.

Jank, M.S.; Farina, E.M.M.Q.; Galan, V.B. O Agribusiness do leite no Brasil. Sao Paulo, SP (Brazil). 1999.

IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal.

MAZZALI, Leonel, COSTA, Vera Maria H. Miranda. Formação e Evolução do Complexo

Agroindustrial do Leite – Uma Perspectiva Histórica. IN: Anais do 13° Encontro dos

Grupos Temáticos. PIPSA, Rio de Janeiro, 1988.

Rocha, Alda do Amara. Em tempos de consolidação longa vida avança no Brasil l. Jornal Valor Econômico, Agronegócios, quarta feira, 9 de setembro de 2009. Pagina, B12.

RUBEZ, J. O leite nos últimos dez anos. Disponível

em:http://www.leitebrasil.org.br/artigos/jrubez_093.htm, acessado em março de 2009.

SOUZA, Joel José de. Gênese e desenvolvimento da industria de laticínios na Região

Oeste Catarinense. 2009. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Federal de

Santa Catarina, Florianópolis- SC, 2009.

Wilkinson, John. Estudo da competitividade da industria brasileira: Competitividade da

industria de laticínios.

In:http://www.dominiopublico.gov.br/search.htm?query=%22setor+leiteiro%22&Botao=Enviar+c onsulta&maxResults=10000&Search= . site acessado em:15 de fevereiro de 2009.

Referências

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