Assessoria ao Cirurgião Dentista
Publicação mensal interna a Papaiz – edição VI – dezembro de 201411 3894 3030 papaizassociados.com.br
Escrito por: Dr. André Simões, radiologista da Papaiz Diagnósticos Odontológicos por Imagem
Atualmente, os profissionais da área da saúde trabalham com a filosofia da prevenção de doenças.
Na Odontologia a dentística, por exemplo, estimula a higiene oral e uma alimentação regrada; a estomatologia trabalha com o autoexame na prevenção do câncer bucal.
Acredita-se que da mesma forma que aquecimento muscular previne lesões aos atletas, os não fumantes têm menor probabilidade de desenvolver câncer pulmonar do que os fumantes.
De maneira geral, em todas as áreas da saúde, quanto mais cedo uma condição patológica for identificada, melhor o prognóstico e, portanto, mais conservador será o tratamento. Esta é a razão pela qual todo e qualquer método preventivo é importante. O diagnóstico precoce de lesões contribui para o aumento da perspectiva de vida dos brasileiros, que está aumentando.
O ateroma desenvolve-se progressiva e silenciosamente. Muitas vezes, o cirurgião dentista pode ser o primeiro profissional da área da saúde a se deparar com um ateroma de carótida.
Dentro da nossa área de atuação, podemos e devemos fazer um link, uma ponte, entre os pacientes mais propensos ao AVC com os achados imaginológicos, de modo a encaminhar pacientes de risco para as especialidades médicas, como a Cirurgia Vascular e a Cardiologia.
Odontologia na prevenção do AVC:
Ateroma de Artéria Carótida
De que modo
o cirurgião
dentista pode
colaborar?
O
Ateroma de Artéria Carótida
é o principal fator responsável pela
ocorrência do AVC e frequentemente, pode ser observado por meio
dos exames de Radiologia Odontológica.
O ateroma nada mais é do que um amontoado de moléculas de gordura, envolto por um tecido fibroso, que forma uma verdadeira placa (uma barreira), que obstrui a luz das artérias gradativamente.
Se não for identificado precocemente, um ateroma de artéria carótida pode levar a um AVC.
Um estudo recente publicado na International Journal of Cariology mostrou associação do nosso tão estudado Streptococcus mutans (agente etiológico primário da cárie dental) com a formação de placas de ateroma, assim como em certas cardiopatias.
Não só o S Mutans, mas outros patógenos periodontais, também estão ligados à formação de placas de ateroma, uma vez que estas bactérias podem adentrar à corrente sanguínea e aderirem-se às paredes dos vasos sanguíneos, lesionando-os.
Eis o papel do cirurgião dentista
Ter em mãos a história médica do seu paciente e seus antecedentes familiares relatados através de anamnese, de modo que, ao juntar os fatores de risco com os achados imaginológicos, possamos encaminhar o paciente às especialidades médicas correspondentes (Cirurgia Vascular, Cardiologia) evitando um possível AVC.
Os fatores de risco para o desenvolvimento de ateroma são: • idade acima de 45 anos;
• hábitos deletérios (tabagismo e/ou etilismo); • hipertensão, diabetes mellitus, hipercolesterolemia; • obesidade;
• histórico pregresso (e familiar) de doenças cardiovasculares/AVE.
Ateroma de Artéria Carótida
Secção de uma artéria, mostrando sua luz reduzida em função das placas de ateroma.
Um dado
interessante
Segundo a Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a doença que mais mata os
brasileiros.
O AVC é caracterizado por um déficit neurológico súbito, decorrente de uma falha no aporte sanguíneo do encéfalo, quer pelo bloqueio ou pelo rompimento de uma artéria (AVC do tipo isquêmico ou do tipo hemorrágico, respectivamente). O AVC isquêmico está diretamente ligado ao acúmulo de ateroma da artéria carótida.
As artérias carótidas asseguram a irrigação arterial da cabeça e do pescoço (juntamente com as artérias vertebrais).
A artéria carótida comum bifurca-se em carótida interna e externa na altura da terceira/quarta vértebra cervical: esta bifurcação é o local de maior acúmulo de placas de ateroma, que por vezes mineralizam-se e, portanto, podem ser observados pelos exames de Radiologia Odontológica.
Acidente Vascular Cerebral:
sua importância epidemiológica
Artéria Carótida
AVC isquêmico AVC hemorrágico
Um coágulo bloqueia o fluxo sanguineo para uma área do cérebro
O sangramento ocorre dentro ou ao redor do cérebro Fonte: http://www.sbdcv.org.br/publica_avc.asp Fonte: http://www.sih.net/images/services/heart/vascular/ carotid-arteries.jpg Destaque em vermelho ilustra a localização da artéria carótida comum.
Algumas estruturas
cervicais são projetadas nas Radiografias Panorâmicas, pois se localizam num ponto focal da incidência dos Raios X (conhecido por “Camada de Imagem”). Estas estruturas, pela sua densidade e espessura, são observadas através das Radiografias Panorâmicas e pela Tomografia Computadorizada por Feixe Cônico: é o caso de parte da coluna cervical (3), a cartilagem tireoide (2) (quando há sua mineralização fisiológica) e o próprio osso hioide (1), por exemplo.
A artéria carótida e seus ramos estão dentro do “foco” das radiografias panorâmicas, mas pela sua menor densidade e espessura, não são observadas (quer pelas radiografias panorâmicas, quer pela tomografia computadorizada por feixe cônico). No entanto, as placas de ateroma, quando mineralizadas, podem ser vistas.
Radiografias Panorâmicas
Projeções de estruturas cervicais na Radiografia Panorâmica.
Projeções de estruturas cervicais na Radiografia Panorâmica.
O ateroma de artéria carótida pode mostrar-se em diferentes aspectos imaginológicos, tais como: nodular (único ou múltiplo) e tubular, configurando-se no formato da luz de um vaso sanguíneo. Nas radiografias panorâmicas o ateroma pode aparecer abaixo do ângulo da mandíbula e adjacente ao osso hioide e à coluna cervical.
Aspectos Radiográficos
Paciente do gênero masculino, 80 anos
Imagem radiopaca na região cervical, de aspecto tubular
compatível com ateroma carotídeo, no lado esquerdo (Seta A).
Paciente do gênero masculino, 62 anos
• Seta A: radiopacidade projetada na região cervical, de aspecto tubular, compatível com ateroma carotídeo bilateral.
• Seta B: calcificação da cartilagem tireóidea (fisiológica).
Paciente do gênero masculino, 56 anos.
• Seta A: radiopacidade tubular projetada na região cervical, compatível com ateroma carotídeo bilateral.
Caso I: Reconstruções Tridimensionais
Vista Frontal Vista Lateral (lado esquerdo)
Seta A: calcificações distróficas em região cervical próximas a terceira vértebra
Corte Axial
Corte Coronal Corte Sagital (lado esquerdo)
Paciente do gêncero masculino, portador de hipertensão arterial sistêmica
Caso II: Reconstruções Tridimensionais
Vista Frontal Vista Póstero Lateral
Calcificações distróficas em região cervical próximas a terceira vértebra
Corte Axial
Corte Coronal Corte Sagital
Caso III
Paciente do gênero feminino, 56 anos.
Seta A: radiopacidade tubular projetada na região cervical, compatível com ateroma carotídeo, lado esquerdo.
Corte Axial
Corte Coronal Corte Sagital
O CD como profissional da saúde, além de atuar dentro do Aparelho Mastigatório, zela
pela integridade sistêmica de seu paciente. Muitas vezes, achados clínicos podem interferir
na intervenção odontológica, desde a cautela na escolha do componente anestésico em
pacientes hipertensos, à prescrição do antibiótico mais adequado para cada caso e cada
paciente; sem mencionar as manifestações orais de quadros sistêmicos.
Seguindo esta filosofia, a observação de calcificações distróficas na região cervical, por meio
dos exames de Radiologia Odontológica, inspira cautela.
Além do achado radiográfico, qual a
probabilidade do paciente estar acometido
pelo ateroma de artéria carótida
(seu histórico, seus hábitos)?
Tendo em vista que a circulação sanguínea é fechada, existe também a possibilidade de que outros vasos sanguíneos podem apresentar ateroma nas suas paredes (as artérias coronárias, por exemplo).
Eis o modo com o qual a Odontologia pode contribuir com a prevenção do Acidente Vascular Cerebral e também, em segunda instância, com o Infarto Agudo do Miocárdio.
No nosso país, onde vemos que o aumento da perspectiva de vida é crescente, insistimos na ideia: devemos encaminhar os pacientes de risco para as especialidades médicas como a Cirurgia Vascular e a Cardiologia.
Referências Bibliográficas
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