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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES 15 a 17 de Maio de 2013 Universidade do Estado da Bahia Campus I Salvador - BA

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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES 15 a 17 de Maio de 2013

Universidade do Estado da Bahia – Campus I Salvador - BA

SER HOMEM TRANS NO CARIRI: A CONSTRUÇÃO DO CORPO MASCULINO NO ESPAÇO PÚBLICO DO SUL DO CEARÁ

Jane Erika Oliveira e Silva1

Alexandre Nunes de Sousa2

Resumo: A pesquisa aqui apresentada investiga a questão da vivência trans masculina em suas expressões no espaço público caririense, como em instituições de educação. Para tanto, utilizamos como metodologia a análise de diários de campo, entrevista com interlocutores trans e observação participante. Os resultados provisórios apontam para um complexo dinamismo de abjeção. Numa região marcada nacionalmente pela violência contra a “mulher” engendrada em seu cotidiano, o homem trans tem que lidar diuturnamente com a não-aceitação de sua identidade de gênero, expressa na violência institucional, na negação do nome social e o constrangimento por não ser

reconhecido socialmente como um homem “de verdade”, um “cabra-macho”.

Palavras-chave: Homens trans; Performatividade de gênero; Espaço Público; Cariri

1. INTRODUÇÃO:

O presente artigo é a segunda fase de uma investigação anterior que tem por título “a família como integrante do dispositivo de heteronormatização” no Cariri Cearense, que abordou como as identidades trans masculinas daquela região vivenciam suas conflituosas performatividades de gênero no que diz respeito às vivências privadas e em relação à transfobia.

O Cariri cearense pertencente à mesorregião sul do estado do Ceará dividido em oito

municípios, diz-se de uma região marcada pelo patriarcalismo e o coronelismo de uma época em

que se vivia sob o julgo dos coronéis, homens de grande prestígio vinculado à riqueza e força bruta, em um contexto de fé e esperança de dias melhores. As questões religiosas ligadas a figura do Padre Cícero são bem fortes e presentes até hoje com um quadro de romarias, peregrinação e fé ao padre funda uma nova Meca brasileira, a citada metrópole atrai cerca de 500 mil pessoas por ano para os diversos eventos religiosos distribuídos ao longo do calendário (SOUSA e ALVEZ, 2010).

1

Bacharel em Serviço Social. Curso de Especialização em Direito da Família da Universidade Regional do Cariri – URCA.

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Desta forma uma região caracterizada por um controle social relativamente rígido com relação a tais valores culturais, no que diz respeito às tradições, como o matrimônio e o desejo dito “natural” em que os pais têm de que seus filhos e filhas sejam homens e mulheres que constituíram suas próprias famílias baseadas no modelo da nuclear e heterossexual deste tipo de instituição.

As técnicas utilizadas durante a construção deste trabalho exploram a reconstituição da memória que segundo Barreto (2007) “é menos um mecanismo de recepção e armazenamento de

experiências e mais um processo dinâmico e interativo que se desenrola no cotidiano do social, por meio do processo comunicacional”. Para que se reproduza a partir da evocação de lembranças,

experiências de uma história de vida, para analisar a dimensão do contexto histórico que nos inserimos hoje. O estudo da memória será possível através das entrevistas e depoimentos colhidos durante a pesquisa de campo. Nesta fase da investigação optou-se pelo estudo de caso com imersão nas vivência de um interlocutor, aqui denominado ficticiamente de Lucas.

2. ESPAÇOS SOCIAIS E AS TÉCNICAS DE FIXAÇÃO DO GÊNERO

Através de uma tecnologia social heteronormativa (Bento, 2006) os corpos apreendem uma aparência de gênero que é cuidadosamente fiscalizada e revisada através de operações realizadas pelo ‘poder saber médico’, pelas ciências ‘psi’, psicologia, psiquiatria, escolas, espaços domésticos. Essas reinterações contínuas farão com que a heterossexualidade se estabeleça de forma definitiva e legítima, naturalizando e construindo corpos-homens e corpos-mulheres. Instituindo o binarismo homem/mulher e estabelecendo fronteiras. Para a autora:

Pensar a heterossexualidade como um regime de poder significa afirmar que longe de surgir espontaneamente de cada corpo recém-nascido, inscreve-se reiteradamente através de constantes operações de repetição e de recitação dos códigos socialmente investigados como naturais. (Idem, p. 24)

Ainda segundo a mesma, ainda que antecedente ao seu nascimento, no corpo do recém-nascido, já se encontra um ‘campo-discursivo’, um agrupamento de expectativas e de suposições que ganham definição através da materialização da heterossexualidade que se instala de forma compulsiva através da linguagem, que tem a função de trazer noções do que seria natural através de códigos que, ao longo da história, são tecidos socialmente e naturalizados por meio da repetição uma vez que de forma intencional se organiza de forma conveniente para a ordem heteronormativa.

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Os corpos já nascem cirurgiados pelos sentidos impregnados pela cultura, nem um corpo escapa a essas influências. Esse fato justifica a expressão usada por Bento: ‘Todos somos pós-operados’, dessa forma não existe o corpo ‘in natura’. Ainda em Bento, a autora sita em sua obra A

reinvenção do corpo, a experiência transexual como exemplo de corpos em que na primeira cirurgia

sofrida não obtém o sucesso desejado, pois o objetivo é a impregnação da informação de que ‘o corpo reflete o sexo, e o gênero só pode ser entendido, só adquire vida quando referido a essa relação’. (Bento, 2006, p.89). A produção dos gêneros promovem ainda sua hierarquização e desautoriza a existência de corpos que fogem de tal binarismo. Como reflete Judith Butler:

[...] Como é que alguns tipos de sujeito reivindicam ontologia, como é que eles contam ou se qualificam como reais? Nesse caso, estamos sobre a distribuição de efeitos ontológicos, que é um instrumento de poder, instrumentalizado para fins de hierarquia e subordinação de domínios do inimaginável. (Butler, 2008, p. 160-161)

Segundo A autora, os atos performativos são modalidades do discurso autoritário e que na maioria das vezes funcionam como afirmações que carregam em seus enunciados uma ação. Essa ação interiorizada na fala é um instrumento de poder, de forma que os atos performáticos fazem parte de um conjunto de mecanismos que conferem autorizações e castigos fazendo emergir a partir desse entrelaçamento legalidade de circulação de uma norma com fins hierárquicos e excludentes.

Podemos assim compreender o que a autora quer nos esclarecer é que a ontologia é um campo regulamentado através de um poder que determina o que se produz ontologicamente e que é velado como forma de manter a ordem de domínio vinculado ao poder. Nas entrevistas de campo quando questiono a definição do que são homens e mulheres, Lucas coloca que para ele:

Tem alguma diferença entre homem e mulher, até pode ser um machismo meu, mais em questão de comportamento, dependendo do lugar, a mulher precisa ter um pouco mais de cautela, não que o homem seja escandaloso ou coisa do tipo. Acho que por conta do lugar onde nasci e me criei sou um pouco machista com pequenas coisas. Mais não vejo muita

diferença entre homem e mulher.3

Assim percebemos, através da fala do entrevistado que não se trata ainda de um determinado ‘ato’ singular, como seria a junção entre o poder e o discurso que reproduz os seus gestos discursivos. Se trata da existência de um ‘eu’ que exprimi a fala e é produzido a partir de um efeito de discurso que legitima a situação que ele mesmo anuncia. Porém, anterior a esse ‘eu’ há um discurso que o precede e que por sua vez possibilitou esse sujeito tal qual se apresenta, entendendo

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que não existe um sujeito atrás do discurso. Na verdade esse sujeito só começa a existir no momento em que se nomeia esta construção discursiva que antecede o sujeito (Butler, 2002).

Contraditoriamente a condição discursiva de reconhecimento social precede e condiciona a formação do sujeito, um reconhecimento que constrói o sujeito, e o não reconhecimento do mesmo. E admitir o não reconhecimento do sujeito como legítimo e humano é admitir a manipulação da ontologia por um poder vinculado aos códigos de legitimidade. Como esclarece, Bento:

[...] Quando se diz “transexual”, não se está descrevendo uma situação, mas produzindo um efeito sobre os conflitos do sujeito que não encontra no mundo nenhuma categoria classificatória e, a partir daí, buscará “comportar-se como ‘transexual’”. (Bento, 2006, p. 47) Contudo, a autora também vem colocar a condição do transexual como sujeito que não acha na sociedade seu lugar, e em consequência desse fato procura se colocar como o que é feito e posto pelo poder, o que deve e como deve se comportar um ‘transexual’. Este sujeito não passa de um corpo abjeto, que Butler trás como corpos que não tem o reconhecimento e a legitimação de existir. Neste caso, a abjeção para Butler (2008) está para além do sexo e da heteronormatividade, mas se relaciona com as mais variadas situações em que haja corpos nos quais a vidas não são tidas como vidas e cuja materialidade é percebida como “não importante”’. Em uma das falas do entrevistado, ele expõe que “eu nunca tive vergonha de ser um homem trans e sim medo de ficar só,

de ser nada”. Parece predominar aqui a visão daquele que é tido como figura de conteúdo vago,

sem definição para um discurso pautado dentro da coerência exigida. Nos termos de Bento

As formas idealizadas dos gêneros geram hierarquia e exclusão. Os regimes de verdade estipulam que certos tipos de expressões relacionadas com o gênero são falsos ou carentes de originalidade, enquanto outros são verdadeiros e originais, condenando a uma morte em vida, exilando em si mesmos sujeitos que não se ajustam às idealizações. (Bento, 2006, p. 94)

Podemos descrever esse processo de invisibilidade como sendo possível através do conjunto de atos limitados, organizados para atender as expectativas do dispositivo de poder de forma que a performatividade é a responsável pela reinteração das normas que precedem o sujeito, não podendo ser considerado um produto da vontade ou de uma escolha. Logo, como afirma a filósofa estadunidense:

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Lo que podríamos llamar ‘capacidad de actuación’, ‘libertad’ o ‘posibilidad’ es siempre una prerrogativa política producida por las brechas que se abren en esas normas reguladoras, en el proceso de interpelación de esas normas y en el de su autorrepitición. (Butler, 2002, p. 64) Seguindo tal raciocínio, o gênero deve ser analisado como um resultado de um regime que regula as diferenças de gênero e que estes se organizam e se hierarquizam de forma coercitiva. A ordem social acaba por implantar a ordem do que seria ‘natural’, por meio da repetição através das regras sociais e proibições que atuam em conveniência com os códigos legitimadores.

A ideia primordial das normas de gênero é criar uma estabilidade entre os gêneros, uma relação legítima e binária: homem/masculino e mulher/feminino. Assim fixando sentido através do veículo da linguagem e sua reprodução, fazendo do indivíduo um reconhecedor das regras e limitações de gênero, em que

Submetido ao gênero, mas subjetivado pelo gênero, o “eu” não precede nem segue o processo dessa generificação, mas emerge no interior das próprias relações de gênero e como a matriz dessas relações. (Butler 2010, p.160)

Lucas fala deste processo de ‘rejeição’ no espaço da faculdade onde cursa o 3º semestre da graduação em serviço social, como o próprio mesmo menciona:

Me sentia bem saindo da cidade onde sempre morei, então a faculdade está sendo tranquila [faz uma expressão que não consolida palavra ‘tranquilidade’], no começo não assumi por medo de rejeição, arrumei um apelido unisex, e ai todos me chamava só pelo apelido, só que ainda estava exposto na frequência de sala, eu me sentia mal nessa hora. Passei um semestre assim, quando foi no 2° semestre não aguentei e falei com a coordenação do curso, que fez uma reunião falando sobre meu caso, só que tenho que lembrar aos professores que virão nos outros semestres. Hoje infelizmente não tenho a documentação certa, só que todos do meu convívio me respeitam. [...] Teve um caso agora no 3° semestre que o professor perguntou quantos homens tem na sala e teve uma mina que falou dois, mais na verdade são três. Fiquei chateado, mais achei legal que a maioria da turma corrigiu ela. Teve outro caso, dessa vez com o professor, já tinha falado com ele sobre o nome na frequência, e aí tempos depois fez a chamada e disse: Juliana. Todos começaram a rir e eu disse que não existia nenhuma Juliana, e ele ficou se perguntando porque não existia, falei de uma forma resumida do que se tratava e ele pediu desculpas. Até hoje acho que as risadas eram pra mim, só que varias colegas chegaram e disse que foi dele, por ter se passado.

Desta maneira, não existe possibilidade real de escapatória da malha fina das definições do gênero, nem tão pouco da escolha preferencial pelos sujeitos de acordo com o binarismo, isso quer dizer que as normas que os legitimam estão de tal forma imbricada no indivíduo que os antecede mesmo estando posto em dada realidade, este é nada mais que efeito/resultado da sua própria

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repetição, reprodução de tais hábitos culturalmente desenvolvidos. Ou, como relata Foucault: “[...] trata-se de determinar, em seu funcionamento e em suas razões de ser, o regime de poder-saber-prazer que sustenta, entre nós, o discurso sobre sexualidade humana” (1988, p. 47)

3. LINHAS DE FUGA E OUTRAS POSSIBILIDADES DE EXISTÊNCIA

Porém, eis que surgem aqueles que não procedem, com capacidade de atuação subversiva, as possibilidades de liberdade as demais linguagens do gênero - e possíveis trânsitos que podem ocorrer frente as brechas que se mostram em meio às normas instituídas pelo processo de repetição que nos forma e reproduz – contradizem essa dicotomia traduzida numa limitação estreita do que seriam homens e mulheres.Não há assim, uma verdade acabada sobre o gênero, já que o gênero não é uma verdade psicológica estável e imutável. Como reflete Lucas ao recordar suas relações com o espaço privado:

Minha família ainda está processo de adaptação, meus pais não conseguem me trata no masculino mas me respeitam, o resto da família acho que não sabem, mas nunca me importei muito porque sempre tive um pouco de rejeição quanto à minha sexualidade. No começo me senti mal, não queria estar com eles e quando eles estavam na minha casa, arrumava uma desculpa pra ficar trancado no quarto. Isso acontecia mais com as mulheres da minha família por conta das conversas que rolava. Tipo: "você deveria se vesti assim", "deixa o cabelo crescer mais", "se você ficar assim não vai arrumar um namorado". Era um murro na 'boca do estomago' do meu psicológico!

Essa dinâmica faz parte de condutas heterossexistas que desejam reduzir em um aglomerado de restrições e aparência superficial, o poder de transitar que o gênero tem de tomar sobre si. Tendo isto, nos questionamos sobre o surgimento e o funcionamento de processo de ‘generificação’, como é colocado por Butler em seu trabalho ‘Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”’, em que na oportunidade a autora vem expor que:

[...] A “atividade” dessa generificação não pode, estritamente falando, ser um ato ou expressão humano, uma apropriação intencional, e não é, certamente, uma questão de se vestir uma máscara; trata-se da matriz através da qual toda intenção torna-se inicialmente possível, sua condição cultural possibilitadora. Nesse sentido, a matriz das relações de gênero é anterior à emergência do “humano”. ( 2010, p. 160-161)

A escritora explicita que a construção do gênero não depende necessariamente de um ‘eu’ ou de um ‘nós’, mas que esta construção está para além de um ‘sentido espacial ou temporal’. Dessa forma fica claro que os sujeitos acatam a ‘generificação’ dos gêneros de maneira que não há como não sofrer seus efeitos, sendo submetido às relações de escolha e exclusão pelas quais os indivíduos

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através de suas próprias falas se ‘transformam em ser’. Nessa oportunidade em que ‘a matriz das relações de gênero é anterior à emergência do “humano”:

[...] o “sexo” não apenas funciona como uma norma, mas é parte de uma prática regulatória que produz os corpos que governa, isto é, toda força regulatória manifesta-se como uma espécie de poder produtivo, o poder de produzir – demarcar, fazer, circular, diferenciar – os corpos que ela controla. (Butler, 2002, p.153/154)

Dessa forma o ‘sexo’ acontece de forma regulada em que se materializa através de práticas organizadas para fazer a manutenção do poder vinculado ao ideal heterossexista através da repetição e do tempo.

Outro fato decorrente do processo de reinteração da norma vigente é que ela acontece de maneira forçada e repetidas vezes por motivos de ineficiência, pois ele nunca ocorre de forma completa. Ainda segundo Butler (2010), os corpos não aceitam e não se conformam com uma imposição materializada em limitações e restrições de suas manifestações individuais, em que na ocasião estas manifestações individuais são nomeadas através dos discursos que produzem efeitos performativos, e que produzem por sua vez nomeações.

Assim como o “sexo”, a performatividade é algo que foi inscrito em nossos corpos em forma de discurso que, para se manter como tal, necessita de manutenção para se perpetuar. Dessa forma, inscrito em nossos corpos, tem a missão de resignificar corpos para atuarem de acordo com as diferenças sexuais que constroem corpos homens e corpos mulheres, trabalhando a serviço da consolidação do dispositivo sexual da heterossexualidade imperativo heterossexual.

Porém, como dito anteriormente o sistema heteronormativo possui as suas fragilidades, pois precisa ser renovado a cada discurso. Cria a abjeção, seres que não atingiram o ‘status’ de humano e/ou de normal, construindo assim um controle sob o sujeito elegendo-os e excluindo os indivíduos como habilitados para transitar socialmente, para se sentirem pertencidos a norma heterossexista. A partir dessa divisão, é criado também não só limites entre sujeitos aprovados ou não, mas a reivindicação desses corpos a sua autonomia, a uma vida legítima.

É neste contexto que a vida do interlocutor desta pesquisa se expressa como uma possível linha de fuga que potencialmente borra a norma de gênero e promove enquanto existência o questionamento dos limites entre ser homem e ser mulher no contexto do Cariri cearense. As

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repercussões cotidianas deste acontecimento estão longe de serem esgotadas e pretende-se que as mesmas sejam temas para a continuidade desta investigação.

REFERÊNCIAS

BARRETO, Ângela Maria. Memória e Sociedade contemporânea: apontando tendências. In: Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.12, n.2, p. 161-176, jul/dez, 2007.

BENTO, Berenice. O que é a transexualidade. São Paulo: editora brasiliense, 2008.

______________. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de Janeiro: editora Garamond, 2006.

BUTLER, Judith. "Como os corpos se tornam matéria: entrevista com Judith Butler". Revista Estudos Feministas, v. 10, n. 1, 2002. Butler, 2010.

______________. Cuerpos que Importan: sobre los límites materiales y discursivos del “sexo”. IN: LOURO, Guacira Lopes. O Corpo Educado: pedagogías da sexualidade. Belo Horizonte: editora Autêntica, 2010. p. 151-172.

_______________. Críticamente Subversiva. Barcelona; Icara editora, 2002.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade. A vontade de saber. Rio de Janeiro, V 1: Edições Graal, 2010.

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