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Dossiê Antropologia filosófica e educação

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Academic year: 2021

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Dossiê

Antropologia

filosófica e educação

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Ed u c a ç ã o & LinguagEm • v. 16 • n. 2 • 13-16, juL.-dEz. 2013

iSSn imprESSo:1415-9902 • iSSn ELEtrônico: 2176-1043

doi: http://dx.doi.org/10.15603/2176-1043/EL.v16n2p13-16

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Apresentação do Dossiê

Antropologia

filosófica e educação

Jean Lauand*

A conexão entre antropologia filosófica e educação – a que é dedicado o Dossiê deste Volume 16, número 2 (nova numeração; ou Volume 16, número 28, na numeração antiga), de Educação & Linguagem – é intrínseca e essencial: quando se trata de educar o homem, nenhum passo pode ser dado nes-se nes-sentido nes-sem que, ao mesmo tempo (ou antes...), tenhamos tomado – de modo consciente, ou não – uma posição sobre como concebemos o ser humano: sua condição, sua liberdade, sua dignidade etc.

E precisamente aí reside a problemática de nosso tema. Parafraseando o velho filósofo Heráclito: a physis, a natureza, gosta de esconder-se e, mais ainda, a realidade humana.

Tratando-se de pesquisar uma realidade qualquer, em ge-ral tenho acesso direto a ela: se quero saber a composição de uma amostra de sal, posso tomá-la em minha mão, levá-la a um laboratório e, submetendo-a aos procedimentos apropriados, descobrir que contém tanto de sódio, tanto de cloro, de iodo etc. Posso analisar realidades mínimas com poderosos microscó-pios; realidades imensamente distantes, com telescópios (ou até enviar uma sonda a Marte para saber se lá há água) etc. Mas, e quando se trata da realidade humana: o que é o amor, a inveja, a gratidão, a justiça...? De que instrumento dispomos para sondar o coração humano?

* Docente-pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo.

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O mesmo Heráclito (cognominado “O Obscuro”) já indi-cava que esse caminho é indireto: a realidade humana não se deixa apanhar com a mão.

O filósofo alemão Josef Pieper, por exemplo, propõe que a realidade humana só pode ser acessada por canais indiretos, pois sempre acaba por esconder-se em três, por assim dizer, sítios de exploração para a antropologia: na linguagem, nas instituições e no que o homem faz.

No Dossiê a seguir são examinados diversos aspectos da relação entre antropologia filosófica e educação.

Rui Josgrilberg, professor dos Programas de Pós-Gradu-ação em EducPós-Gradu-ação e Ciências da Religião da Metodista, em “A formação do ser humano em correlação com os mundos em que vivemos”, explicita contribuições fundamentais da filosofia transcendental – analisando a obra de Kant e a de Husserl – para os processos culturais e educativos. A antropologia filosófica origina-se na relação polar do ser humano com seu(s) mundo(s): a subjetividade não é independente do “intercurso” com o mun-do e com os outros, e essa relação sintetiza as concepções de educação, como educare (conduzir, guiar, orientar no mundo) e também como educere (fazer sair, extrair, desenvolver a pessoa e seus mundos) em relação à experiência de mundo que desen-volvemos durante toda a vida.

Já o filósofo e jurista português Paulo Ferreira da Cunha, catedrático da Universidade do Porto, em “Carta aos juristas surdos-mudos dirigida aos que ouvem e falam”, a partir das Cartas sobre os cegos e sobre os surdos-mudos de Diderot, transcende o plano fisiológico e discute essa outra cegueira, mudez e surdez – de que já falam os Evangelhos – que se instala na própria exis-tência (e no atuar jurídico) em um urgente apelo para a educação. Em outra contribuição internacional, de Izumi T. Harris, de Indiana, doutora em Antropologia pela Universidade de Hi-roshima, com o artigo “Ethnic diversity or ethnic enclaves? - Re-presenting African American History in U.S. Museums”, discute a irônica situação dos museus americanos – tão importantes na educação daquele país – que, na mera promoção de exposições e programas que atraiam visitantes, tanto dos grupos majoritários

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Ed u c a ç ã o & LinguagEm • v. 16 • n. 2 • 13-16, juL.-dEz. 2013

iSSn imprESSo:1415-9902 • iSSn ELEtrônico: 2176-1043

doi: http://dx.doi.org/10.15603/2176-1043/EL.v16n2p13-16

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como dos grupos étnicos, acabam mantendo a distância entre os enclaves étnicos, ao não promover um verdadeiro diálogo entre grupos étnicos, que pudesse levar a uma abertura para outras culturas, além da própria de cada um.

A tradicional associação entre humano e racionalidade é reexaminada por Gilda Naécia Maciel de Barros, da Faculdade de Educação da USP. Essa associação esbarra, invariavelmente, com um campo de difícil acesso e desafiador, o do irracional no humano. Para a discussão, a autora, em “As Bacantes – a face humana do irracional”, recorre ao teatro trágico dos gregos, no qual se encontram elementos instigantes para a análise da irrupção do irracional, o tema da mania (loucura), centrando-o no problema do delírio coletivo nas Bacantes. A peça convida à discussão de valores essenciais ao humanismo, pois remete-nos à ambígua condição do homem, ser de razão, mas refém, muitas vezes, da força das paixões.

“Imagem e escrita na Weltanschauung árabe-islâmica: antropologia e educação” de Aida Hanania, titular de Língua e Literatura Árabes da FFLCH-USP, brinda-nos com um estudo sobre o papel da palavra e da escrita no humano, examinando o locus no qual essa realidade manifesta-se de modo privilegiado: a civilização árabe-islâmica, com suas artes; em contraposição à civilização grega, que enfatiza outro importante elemento antro-pológico: o olhar e a imagem. Civilizações que, em função dessas ênfases, desenvolveram suas ciências, culturas e pedagogias.

Também Chie Hirose, doutora pela Feusp, abre o diálogo entre Oriente e Ocidente no artigo “Pensamento confundente e corpo na antropologia oriental e na educação inclusiva”. Valen-do-se da fecunda metodologia do “pensamento confundente”, volta-se para a concepção de corpo, mostrando o caráter integra-dor da tradição japonesa do Mi, um “corpo” muito mais amplo do que o da usual visão ocidental, sobretudo a comprometida com a cisão corpo/mente; discute também as consequências pedagógicas desses distintos enfoques, propondo um diálogo entre as duas correntes.

Ainda nas relações entre as antropologias filosóficas (e a educação) dos Orientes e do Ocidente, o entrevistado deste

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número é Sylvio Roque Guimarães Horta, professor das disci-plinas de Língua Chinesa e História do Pensamento Chinês do Departamento de Línguas Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Discute a obra dos filósofos espanhóis Ortega y Gasset e Julián Marías, em suas possíveis conversas com a educação e o pensamento orientais.

O artigo sobre o Logos ludens, o Deus ludens, deste que organiza o Dossiê, volta-se para o brincar como clave antropoló-gica que, embora esquecida, mostra-se componente essencial do humano. E, segundo o maior dos teólogos católicos, Tomás de Aquino, é também atributo do divino, exercido na própria obra da criação. Também aí se propõe a conexão entre antropologia e educação, ambas devendo ser enraizadas no lúdico.

Esperamos que esse amplo leque de perspectivas aqui reuni-das possa contribuir para a reflexão de pesquisadores experientes, assim como para a formação de novos investigadores atuantes na pesquisa educacional.

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