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LEI /2020. Comentários sobre a CORONAVÍRUS E O AUXÍLIO-EMERGENCIAL. artigo por artigo, parágrafo por parágrafo, inciso por inciso.

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Comentários sobre a

LEI 13.982/2020

CORONAVÍRUS E O

AUXÍLIO-EMERGENCIAL

artigo por artigo,

parágrafo por parágrafo,

inciso por inciso.

A U T O R E S

DAVID ORSI DOMINGUES

FIORELLA IGNACIO BARTALO

JÉSSICA CRISTINA DE JESUS GREGOLI

LILIAM SIMÕES DOS SANTOS BARBOSA

NICENE PAÔLA HENSEL BOCK

PRISCILLA MILENA SIMONATO DE MIGUELI

REGINA CÉLIA DE OLIVEIRA RUSSELL

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Comentários sobre a

LEI 13.982/2020

CORONAVÍRUS E O

AUXÍLIO-EMERGENCIAL

artigo por artigo,

parágrafo por parágrafo,

inciso por inciso.

A U T O R E S

DAVID ORSI DOMINGUES

FIORELLA IGNACIO BARTALO

JÉSSICA CRISTINA DE JESUS GREGOLI

LILIAM SIMÕES DOS SANTOS BARBOSA

NICENE PAÔLA HENSEL BOCK

PRISCILLA MILENA SIMONATO DE MIGUELI

REGINA CÉLIA DE OLIVEIRA RUSSELL

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C732 Comentários sobre a lei n.º 13.982/2020 – Coronavírus e o auxílio-emergencial [recurso eletrônico]: artigo por artigo, parágrafo por parágrafo, inciso por inciso / David Orsi Domingues...[et al.] ; organizado por Priscilla Milena Simonato De Migueli. – São Bernardo do Campo, SP : Priscilla Milena Simonato de Migueli, 2020.

62 p. ; PDF.

IInclui anexo e bibliografia. ISBN: 978-65-00-01896-7 (Ebook)

1. Direito. 2. Legislação. 3. Lei n.º 13.982/2020. 4. Coronavírus. 5. Auxílio emergencial. I. Domingues, David Orsi. II. Bartalo, Fiorella Ignacio. III. Gregoli, Jéssica Cristina de Jesus. IV. Barbosa, Liliam Simões dos Santos. V. Bock, Nicene Paôla Hensel. VI. Migueli, Priscilla Milena Simonato de. VII. Russel, Regina Célia de Oliveira. VIII. Título.

2020-721 CDD 348 CDU 340.135

Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949 Índices para Catálogo Sistemático:

1. Direito: Legislação 348 2. Direito: Legislação de emergia 340.135

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INSTITUTO DOS ADVOGADOS PREVIDENCIÁRIOS

CONSELHO FEDERAL

O IAPE – Instituto dos Advogados Previdenciários, inscrito no CNPJ/MF sob o n.º 05.630.233 / 0001-91, é uma associação civil sem fins lucrativos e com sede na Cidade de São Paulo, porém com atuação em todo território nacional.

O IAPE nasceu em 2003, pela iniciativa do Presidente de Honra Fundador, Profº. Dr. Hélio Gustavo Alves, em conjunto com um grupo de advogados militantes no direito previdenciário, a princípio, para garantir seus direitos e prerrogativas e reunirem-se para grupo de estudos.

Posteriormente, tomou uma proporção tão grande que refletiu em outros Estados do Brasil e virou um Conselho Federal com sedes em diversos Estados e Municípios.

Diante da sua atuação, o IAPE teve sua representatividade acadêmica reconhe-cida por inúmeras entidades de classe, Universidades, Sindicatos etc.

Além da questão acadêmica, o IAPE teve grande atuação política, participando de reuniões com Ministros de Estado, Presidência do INSS, Procuradoria Geral da União, Poder Judiciário e outros órgãos governamentais, tendo suas posições respei-tadas a fim de assegurar as garantias fundamentais e direitos da Seguridade Social. Nesses 17 anos de atuação, o instituto vem se notabilizando pela qualidade dos cursos e também dos Congressos Nacionais e Internacionais, os quais abrangem uma reflexão sobre o direito previdenciário e interdisciplinaridade com as demais áreas do direito, assim como, do estudo comparado entre a legislação brasileira e as legislações internacionais.

O IAPE, ainda, apoia projetos de Responsabilidade Social, orientando a socie-dade civil sobre o melhor caminho para proteger os seus direitos, desenvolvendo ações institucionais junto à população com diversas ações sociais.

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Fiorella Ignacio Bartallo

Presidente

Priscilla Milena Simonato de Migueli

Vice-Presidente

Edifrance Fernandes Nascimento de Souza

Secretária Geral

Jéssica Cristina de Jesus Gregoli

Secretária Adjunta

José Maurício de Farias

1º Tesoureiro

Helielthon Honorato Manganeli

2ª Tesoureiro

CONSELHO FISCAL Liliam Simões dos Santos Barbosa

Regina Célia de Oliveira Russell Nicene Paôla Hensel Bock

SUPLENTES David Orsi Domingues

Elen Sampaio Borges PRESIDENTES DE HONRA

Hélio Gustavo Alves André Luiz Marques Luciana Moraes de Farias PRESIDENTE DE PERNAMBUCO

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SOBRE O IAPE INSTITUTO DOS ADVOGADOS PREVIDENCIÁRIOS

CONSELHO FEDERAL ... III

LEI Nº 13.982, DE 2 DE ABRIL DE 2020 ... 1 Art. 1º ... 3 Art. 2º ... 18 Art. 3º ... 31 Art. 4º ... 33 Art. 5º ... 38 Art. 6º ... 40 Art. 7º ... 42 BIBLIOGRAFIA ... 43

ANEXO I – DECRETO Nº 10.316, DE 7 DE ABRIL DE 2020 ... 45

ANEXO II – PORTARIA CONJUNTA Nº 9.381, DE 6 DE ABRIL DE 2020 ... 50

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DAVID ORSI DOMINGUES. Advogado. Especialista em Direito Previdenciário pela Universidade Cândido Mendes. Professor de cursos de extensão e Pós-Graduação em Direito Previdenciário. Conselheiro Fiscal Suplente do Instituto dos Advogados Previdenciários - IAPE/Conselho Fede-ral (2020-2021).

FIORELLA IGNACIO BARTALO. Advogada. Mestranda em Direito Previdenciário pela PUC/SP. Especialista em Direito Previdenciário pela EDP – Escola Paulista de Direito. Professora convi-dada em cursos de extensão pelo Damásio Educacional e FATEJ. Presidente da Comissão de Tecnologia do Instituto dos Advogados Previdenciários – IAPE/Conselho Federal (2015/2017). Vice-Presidente do Instituto dos Advogados Previdenciários – IAPE/Conselho Federal (2017). Presidente do Instituto dos Advogados Previdenciários - IAPE/Conselho Federal (2017/2019 e 2020/2021).

JÉSSICA CRISTINA DE JESUS GREGOLI. Advogada. Assessora e consultora empresarial na G&P Soluções Fiscais Empresariais. Especialista em Direito Tributário pelo IBET São Paulo. Pós--graduanda em Direito Constitucional e Direito Humanos pela Ius Gentium Conimbrigae (IGC) – Faculdade de Direito de Coimbra/Portugal. MBA em Direito Previdenciário e Trabalhista pela Universidade Cândido Mendes. Graduanda em Ciências Econômicas pela UDESC. Secretária Adjunta do Instituto dos Advogados Previdenciários - IAPE/Conselho Federal (2020/2021). LILIAM SIMÕES DOS SANTOS BARBOSA. Advogada. Assessora Jurídica da Caixa de Assis-tência à Saúde dos Servidores Públicos do Município de Porciúncula/RJ. Especialista em Di-reito Previdenciário e Constitucional pelo Damásio Educacional. Pós-Graduanda em DiDi-reitos Humanos e Constitucional IUS Conimbrigae – Centro de Direitos Humanos da Universidade de Coimbra/Portugal. Conselheira Fiscal do Instituto dos Advogados Previdenciários - IAPE/ Conselho Federal (2020-2021).

NICENE PAÔLA HENSEL BOCK. Advogada. Especialista em Direito e Processo Previdenciário pelo Instituto Damásio Educacional. Pós-graduanda em Direitos Humanos e Direito Constitu-cional pela Ius Gentium Conimbrigae (IGC) – Faculdade de Direito de Coimbra. Conselheira Fis-cal do Instituto dos Advogados Previdenciários - IAPE/Conselho Federal (2020-2021). Professora de Direito Previdenciário.

PRISCILLA MILENA SIMONATO DE MIGUELI. Advogada. Doutoranda e Mestre em Direito Previdenciário pela PUC/SP. Especialista em Direito da Seguridade Social pela Escola Paulista de Direito Social. Especialista em Direito e Relações do Trabalho pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo/SP. Vice-Presidente do Instituto dos Advogados Previdenciários - IAPE/ Conselho Federal (2020/2021). Professora dos cursos de pós-graduação da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, Faculdade Damásio e da Escola Superior da Advocacia - ESA. REGINA CÉLIA DE OLIVEIRA RUSSELL. Advogada. Especialista em Direito Público e Privado pela Universidade Estácio de Sá. Especialista em Advocacia Cível pela Universidade Cândido Mendes. Especialista em Direito Previdenciário pela Universidade Cândido Mendes. Pós-Gradu-anda em Direito do Consumidor pela Faculdade Legale. MBA (em curso) em Direito Acidentário (Direito do Trabalho e Previdenciário) pela Faculdade Legale. Delegada da Comissão de Previ-dência e Assistência Social na OAB/RJ, subseção de Niterói, no triênio 2019/2021. Conselheira Fiscal do Instituto dos Advogados Previdenciários - IAPE/Conselho Federal (2020-2021).

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DE 2 DE ABRIL DE 2020

Altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, para dispor sobre parâmetros adicionais de caracterização da situação de vulnerabili-dade social para fins de elegibilivulnerabili-dade ao benefício de prestação con-tinuada (BPC), e estabelece medidas excepcionais de proteção social a serem adotadas durante o período de enfrentamento da emergên-cia de saúde pública de importânemergên-cia internacional decorrente do co-ronavírus (Covid-19) responsável pelo surto de 2019, a que se refere a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

COMENTÁRIOS: Desde o fim do ano de 2019, iniciando-se na China, o mundo foi assolado pelo vírus – Coronavírus (Covid-19), surgindo os primeiros casos no Brasil no mês de fevereiro. Em 06 de fevereiro de 2020, foi publicada a Lei n.º 13.979 que dispõe sobre as medidas para enfrentamento de saúde pública internacional.

Vive-se um momento único e inusitado, estando a Seguridade Social em evi-dência e demonstrando a sua real importância desde então.

A Seguridade Social, elevada ao patamar constitucional com a Constituição Federal de 1988 e prevista nos artigos 194 e seguintes da Constituição Federal, compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência social e à assistência social.

Com relação à saúde, tem-se que, conforme previsto no artigo 196 da Constitui-ção Federal, é um “direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

Sem sombra de dúvidas, para enfrentamento do Coronavírus, o direito à saúde deve ser resguardado e protegido por todas as ações e serviços que integram tanto a rede pública quanto a rede privada de saúde.

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Contudo, o que se vê é que, para o enfrentamento do Coronavírus, muitos estados do Brasil têm instituído Decretos Legislativos, recomendando o distancia-mento social.

O Estado de São Paulo, estado do Brasil mais afetado por casos do Covid-19, em 22 de março de 2020, por meio do Decreto n.º 64.881, decretou quarentena no estado, em virtude da pandemia.

Tomou-se como base a Portaria do Ministério da Saúde de n.º 188, de 03 de fevereiro de 2020, por meio da qual o Ministro de Estado de Saúde declarou Emer-gência em Saúde Pública de Importância Nacional em decorrência da infecção humana pelo novo coronavírus, entre outras recomendações.

O referido decreto suspendeu durante o período de 24 de março a 07 de abril de 2020, o atendimento presencial ao público em estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços, especialmente em casas noturnas, “shoppings centers”, galerias e estabelecimentos congêneres, academias e centros de ginástica.

Posteriormente, o decreto n.º 69.420/2020 do Estado de São Paulo prorrogou a quarentena até o dia 22 de abril de 2020.

A fim de proteger a saúde, restringiu-se as atividades comerciais, contudo, tal restrição impactou diretamente trabalhadores e empregadores, uma vez que foram obstados de realizarem as suas atividades, o empregador não poderá gerar lucro para custear os seus empregados, que consequentemente poderão ter seus salários e empregos afetados. A Medida Provisória n.º 936/2020 criou o benefício emergencial para tutelar os empregados que tiverem os seus salários reduzidos pela diminuição da jornada ou o contrato de trabalho suspenso.

Contudo, a realidade brasileira não é apenas de empregados e empregadores. Existem muitos trabalhadores informais, ou ainda, que estejam na formalidade, mas são considerados de baixa renda, sendo diretamente afetados pela quarentena imposta, pela restrição das atividades comerciais e consequentemente de redução de circulação de pessoas na rua.

Assim, com o objetivo de proteger a saúde, mas também, não podendo se omitir com relação à questão econômica, criou-se um benefício assistencial de-nominado “auxílio-emergencial”, que será estudado nos comentários dos artigos a seguir.

A legislação em comento também alterou as regras para a concessão do benefício assistencial de prestação continuada, previsto na Lei Orgânica de Previdência Social, bem como estipulou critérios para a concessão de benefí-cio previdenciário por incapacidade temporária – auxílio-doença, diante da quarentena imposta.

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Art. 1º

A Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 20. [...]

COMENTÁRIOS: A Lei n.º 8.742/1993 é intitulada de Lei Orgânica da Assistência Social e em seu artigo 20 dispõe sobre o benefício de prestação continuada, que é a garantia de um salário-mínimo à pessoa com deficiência ou ao idoso com 65 (ses-senta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.

O benefício de prestação continuada tem a sua previsão constitucional no artigo 203, V, ao prever que a assistência social será devida a aquele que necessitar, independentemente de contribuição e tem como um dos benefícios “a garantia de

um salário-mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.”

Importante salientar que a assistência social prevista no artigo 203, V, da Cons-tituição Federal beneficia brasileiros natos, naturalizados e residentes no País, desde que atendidos os requisitos constitucionais e legais.1

As alterações trazidas pela Lei em comento foram realizadas em um momento único vivenciado por toda a sociedade mundial, no qual demonstra a importância do Estado em garantir o mínimo existencial, concretizando o princípio da dignidade da pessoa humana.

Logicamente, a legislação comentada trouxe o auxílio-emergencial que perdurará somente enquanto persistir o estado de calamidade que assola o nosso país, contudo, as alterações trazidas nos parágrafos e incisos do artigo 20 da Lei Orgânica da Assistência Social repercutirá além da pandemia, sendo um dos instrumentos necessários para ga-rantir a ordem de bem-estar social que se almeja no artigo 193 da Constituição Federal.

§ 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja:

COMENTÁRIOS: O benefício de prestação continuada, embora seja concedido independentemente de contribuição para a Seguridade Social, somente é devido para aqueles que demonstrarem que sejam incapazes de prover a sua manutenção.

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Assim, além de ser deficiente ou idoso, também necessita comprovar que é considerado miserável na acepção jurídica do termo e o parágrafo comentado estipula quais são os critérios de miserabilidade, utilizando a renda per capita familiar.

Antes da alteração do referido parágrafo pela lei em comento, o parágrafo 3º do artigo 20 da LOAS foi objeto de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade. Ao apreciar a ADI 1.232-1/DF2, o STF declarou a constitucionalidade do artigo 20, § 3º, da LOAS, sem contudo, por termo à controvérsia quanto à aplicação em concreto do critério da renda familiar per capita estabelecido pela Lei Orgânica da Assistência Social.

Como a lei, até então, tinha permanecido inalterada, foi elaborada maneiras de se contornar o critério objetivo e único estipulado pela Lei, como forma de se avaliar o real estado de miserabilidade social das famílias com esses idosos e deficientes.

Diante das mudanças sociais, econômicas, políticas e jurídicas, sobretudo com a criação de outros benefícios assistenciais, como o Bolsa Família, com critérios mais flexíveis, verificou-se em decisões monocráticas que o STF passou a rever o seu posicionamento de constitucionalidade do artigo 20, §3º da Lei Orgânica da Assistência Social, e então, declarou a inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do artigo 20, § 3º, da Lei n.º 8.742/933.

Em 23 de março de 2020, foi publicada a Lei n.º 13.981 e alterou a Lei n.º 8.742/93, para elevar o limite de renda familiar per capita para fins de concessão do benefício de prestação continuada, dando nova redação artigo 20, §3º, a saber: “Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/2 (meio) salário-mínimo”.

A alteração da legislação em questão foi aprovada em deliberação plenária no Senado Federal no dia 28 de novembro de 2019 (Iniciou-se em 1996 com o Projeto de Lei do Senado n.º 55 de 1996) e, em 09 de dezembro de 2019, o projeto foi enca-minhado para sanção presidencial, tendo recebido veto total em 20 de dezembro de 2019. Após ser remetido ao Congresso, o veto foi rejeitado em sessão plenária realizada no dia 11 de março de 2020.

Contudo, a referida redação foi suspensa liminarmente em despacho proferido em 03 de abril de 2020, com publicação em 07 de abril do mesmo ano pela Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental n.º 662, proposta pelo Presidente da República ( Foi realizado aditamento à inicial e a ADPF foi recebida como Ação Direta de Inconstitucionalidade). Alegou o requerente que o processo legislativo

2. ADI 1.232, rel. p/ o ac. min. Nelson Jobim, j. 27-8-1998, P, DJ de 1º-6-2001.

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foi concluído sem a devida deliberação dos impactos orçamentários e financeiros, principalmente no que tange à regra da contrapartida prevista no artigo 195, §5º, da Constituição Federal.

Após a publicação da Lei n.º 13.981/2020, a qual foi vetada pelo Presidente da República, foi publicada a Lei n.º 13.982/2020, que ora se comenta.

I – igual ou inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo, até 31 de dezembro de 2020;

COMENTÁRIOS: Restou mantido o mesmo critério de renda per capita familiar já previsto na Lei Orgânica da Assistência Social, contudo, tal critério somente prevalecerá até 31 de dezembro de 2020.

Mas por qual razão foi fixado prazo limite para a vigência da renda per capita familiar de 1/4 (um quarto) do salário-mínimo se a redação anterior da legislação não impunha tal limite?

Para responder tal pergunta, é necessário fazer referência ao próximo artigo, que foi vetado pelo Presidente da República. O referido dispositivo determinava que, a partir de 1º de janeiro de 2021, a renda per capita familiar passaria a ser igual ou inferior a 1/2 (meio) salário-mínimo.

A ideia inicial da legislação ora comentada era de manter o limite per capita de 1/4 (um quarto) do salário-mínimo até 31 de dezembro de 2020, visando a dispo-nibilização de recursos para enfrentamento da pandemia do coronavírus e, a partir de 2021, estimando-se que não seriam mais necessárias medidas emergenciais para combater o desemprego e a miséria ocasionados pelo distanciamento social, a renda

per capita passaria a ser de 1/2 (meio) salário-mínimo.

De qualquer forma, ainda que o inciso II não tivesse sido vetado, também po-deria ser ele objeto de Ação Direta de Constitucionalidade, pelos mesmos motivos arguidos em face da Lei n.º 13.981/2020, sobretudo, em razão da ausência de pre-cedência de custeio conforme previsto no artigo 195, §5º da Constituição Federal. Embora com alterações legislativas, o critério de miserabilidade permanece o mesmo, dependendo do Judiciário, em cada caso concreto, afastar ou não a incidência da renda per capita familiar de 1/4 (um quarto) do salário-mínimo.

II – (VETADO).

COMENTÁRIOS: O trecho vetado na lei em questão dispunha que seria conside-rado incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família:

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Recomenda-se ao leitor regressar nos comentários do inciso I, §3º do artigo 1º. § 14. O benefício de prestação continuada ou o benefício

previ-denciário no valor de até 1 (um) salário-mínimo concedido a idoso acima de 65 (sessenta e cinco) anos de idade ou pessoa com defi-ciência não será computado, para fins de concessão do benefício de prestação continuada a outro idoso ou pessoa com deficiência da mesma família, no cálculo da renda a que se refere o § 3º deste artigo.

COMENTÁRIOS: Como bem já explanado acima pelos demais comentaristas

deste e-book, com o passar dos anos, diversas alterações legislativas, declarações de inconstitucionalidades e ampliações de entendimentos jurisprudenciais fo-ram cruciais para que se chegasse ao entendimento da importância que este be-nefício possui como um dos meios de instrumentalização dos direitos humanos. Já mencionado no comentário do artigo 1º, caput, desta Lei, a Constituição Federal em seu artigo 203, inciso V, garante em sua base fundamental o direito ao benefício mensal no importe de um salário-mínimo, aos idosos e às pessoas portadoras de deficiência que se encontrem em situação de vulnerabilidade e mi-serabilidade social.

Pois bem, com intuito de efetivar esse direito constitucionalmente previsto e em respeito ao princípio da igualdade, o Supremo Tribunal Federal no julgamento do Tema 312, posicionou-se no sentido de aplicar analogicamente o disposto no artigo 34, parágrafo único, do Estatuto do Idoso (Lei n.º 10.741/2003), para que seja excluído do cálculo da renda familiar per capita qualquer benefício de valor mínimo recebido por maior de 65 (sessenta e cinco) anos, independentemente se assistencial ou previdenciário:

“Estatuto do Idoso dispõe, no art. 34, parágrafo único, que o benefício assistencial já con-cedido a qualquer membro da família não será computado para fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a LOAS [Lei de Organização da Assistência Social]. Não exclusão dos benefícios assistenciais recebidos por deficientes e de previdenciários, no valor de até um salário-mínimo, percebido por idosos. Inexistência de justificativa plausível para discriminação dos portadores de deficiência em relação aos idosos, bem como dos idosos beneficiários da assistência social em relação aos idosos titulares de benefícios previdenciá-rios no valor de até um salário-mínimo. [RE 580.963, rel. min. GilmarMendes, j. 18-4-2013, P, DJE de 14-11-2013, Tema 312.]”

Aqui se faz um comentário necessário quanto à previsão de exclusão dos sujeitos (idosos e pessoas portadoras de deficiência) e seus respectivos benefícios previdenciários igual a um salário-mínimo.

(15)

O entendimento de que somente o benefício assistencial (ao idoso ou à pes-soa portadora de deficiência) não seria considerado no cômputo da renda mensal

per capita, por si só, estaria desprestigiando aqueles que durante a vida laboral

contribuíram à Previdência Social e tiveram direito ao benefício previdenciário. Assim, este parágrafo visa equalizar essa situação, dispondo que a pessoa portadora de deficiência e/ou o idoso que receba um salário-mínimo, deverá ser desconsiderado no cômputo da renda per capita familiar, independentemente se a origem do benefício seja assistencial ou previdenciária.

Desta maneira, tanto o sujeito detentor de uma das espécies de benefícios cita-dos acima, como a respectiva renda desse benefício (assistencial ou previdenciário) deverão ser excluídos no cálculo dos membros da composição familiar e também excluída a respectiva renda para o cálculo da renda per capita familiar.

§ 15. O benefício de prestação continuada será devido a mais de um membro da mesma família enquanto atendidos os requisitos exigidos nesta Lei.” (NR)

COMENTÁRIOS: Este dispositivo vem reforçar e demonstrar mais uma vez o importante papel da advocacia para a sociedade, pois foi a partir das inúmeras demandas judiciais que a referida discussão acerca da possibilidade de existência de mais de um benefício de prestação continuada dentro da mesma composição familiar ganhou tamanha força e proporção.

Há alguns anos, os próprios tribunais pátrios já vinham se posicionando de forma majoritária na jurisprudência sobre a possibilidade da existência de mais um benefício de prestação continuada dentro da mesma composição familiar.

O referido dispositivo legal sutilmente vem demonstrar a sua consonância ao superprincípio da dignidade da pessoa humana, ao garantir o mínimo existencial aos mais vulneráveis – idosos e pessoas com deficiência.

Assim, a normativa supramencionada deixa claro que há a possibilidade de se conceder mais de um benefício de prestação continuada dentro da mesma compo-sição familiar, uma vez que o membro que já possua tal benefício (ao idoso ou ao deficiente) será excluído da composição familiar, bem como a sua renda.

Com intuito de finalizar a contextualização e demonstrar a importância des-sa previsão legal, tal embate era sempre utilizado como fundamento de recursos pelos procuradores federais contra decisões que concediam o aludido benefício, argumentando sempre no sentido de que haveria uma extrapolação da renda per

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Dessa forma, o que se observa neste parágrafo é a consequência positiva para a sociedade, uma vez que põe fim a discussões acerca da possibilidade de existir dois ou mais benefícios de prestação continuada dentro da mesma enti-dade familiar, assim como a forma como essa análise deverá ser feita.

Portanto, o parágrafo vem positivar de forma clara que não existem impedi-mentos para que sejam concedidos dois ou mais benefícios de prestação conti-nuada dentro da mesma composição familiar, obviamente respeitando-se todos os demais requisitos individuais para a concessão do mencionado benefício.

“Art. 20-A. Em razão do estado de calamidade pública reconhe-cido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, e da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus (Covid-19), o critério de aferição da renda familiar mensal per capita previsto no inciso I do § 3º do art. 20 poderá ser ampliado para até 1/2 (meio) salário-mínimo.

COMENTÁRIOS: Diante da pandemia do coronavírus (Covid-19), foi reconhecido o estado de calamidade pública por Decreto Legislativo. Algumas foram as medidas do governo, visando atender a emergência de saúde pública que é de importância internacional.

Foi criado o benefício emergencial previsto na Medida Provisória n.º 936/2020, amparando os empregados caso haja a redução da sua jornada de trabalho e salário ou na possibilidade de suspensão do contrato de trabalho. O referido benefício será pago com o orçamento da União, não necessariamente do Fundo de Amparo ao Trabalhador.

Também foi criado o benefício emergencial que será devido para aqueles que não estão empregados, estão na informalidade ou são classificados como baixa renda, conforme critérios estabelecidos no artigo que será estudado a seguir.

Contudo, além das pessoas que foram protegidas pelo benefício emergencial ou auxílio-emergencial, há deficientes e idosos que necessitam de uma maior proteção, sendo justificável a redação do artigo ora comentado.

Dessa forma, durante o período de estado de calamidade, o critério para aferição da renda per capita familiar poderá ser ampliado de 1/4 (um quarto) do salário-mínimo para 1/2 (meio) salário-mínimo, observando-se o disposto no parágrafo a seguir.

A mencionada progressão depende de regulamentação, a fim de estipular em quais situações haverá a flexibilização da renda per capita familiar.

(17)

§ 1º A ampliação de que trata o caput ocorrerá na forma de esca-las graduais, definidas em regulamento, de acordo com os seguin-tes fatores, combinados entre si ou isoladamente:

COMENTÁRIOS: Para que haja a ampliação do benefício de prestação continuada prevista no caput, será definido em regulamento, como será aplicada a forma de escalas graduais. Até a publicação do presente e-book, não foi publicado o referido regulamento.

Importante observar que os fatores descritos abaixo podem ser aplicados em conjunto ou isoladamente.

O previsto no parágrafo em comento e nos incisos a seguir comentados já são aplicados nos casos concretos que tramitam no Poder Judiciário, uma vez que não se aplica taxativamente o critério de miserabilidade de 1/4 (um quarto) do salá-rio-mínimo, havendo flexibilização, dependendo da situação socioeconômica do pretenso beneficiário, como bem definiu o STF.

Recomenda-se ao leitor retomar nos comentários do artigo 1º, referente à alteração trazida no artigo 20, §3º, da Lei Orgânica da Assistência Social.

I – o grau da deficiência;

COMENTÁRIOS: A redação do §2º do artigo 20, da Lei Orgânica da Assistência Social dispõe que:

“Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.”

A redação do parágrafo supramencionado foi dada pela Lei n.º 13.146/2015 – Estatuto da Pessoa com Deficiência – trazendo o conceito de pessoa com deficiência para fins de concessão do benefício de prestação continuada. O impedimento deve ser de longo prazo, podendo ser de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que podem, com interação de outras barreiras, impedir a participação do deficiente de forma plena na sociedade.

A proteção do deficiente, com a referida ação afirmativa, visa concretizar o princípio da igualdade previsto no artigo 5º, da Constituição Federal.

A Lei Complementar n.º 142/13 regulamentou o artigo 201, §1º, da Constitui-ção Federal e trouxe os requisitos para a concessão da aposentadoria por tempo de contribuição e aposentadoria por idade ao deficiente. Para tanto, faz-se necessário apurar o grau de deficiência do segurado, que poderá ser classificado como sendo

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de grau leve, moderado ou grave. Para tanto, será realizada a avaliação médica-pe-ricial, sempre com base na Classificação Internacional da Funcionalidade (CIF), levando-se em consideração os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo e as atividades que o segurado desempenha.

Também será realizada a avaliação social, a fim de verificar as atividades de-sempenhadas pelo deficiente no ambiente do trabalho, do lar e social.

Muito embora não haja até o presente momento o regulamento específico para o critério de miserabilidade previsto na legislação em epígrafe, como será apurado o grau de deficiência, a expectativa é que sejam utilizados requisitos semelhantes para a concessão da aposentadoria do deficiente.

II – a dependência de terceiros para o desempenho de atividades básicas da vida diária;

COMENTÁRIOS: O grau de deficiência guarda relação direta com a necessidade ou não da dependência de terceiros para o desempenho de atividades básicas da vida diária.

O inciso em comento reforça a ideia de que se faz necessário, em cada caso, verificar as circunstâncias específicas de cada deficiente, para só então, fixar os critérios para aferição dos critérios de miserabilidade.

Na legislação previdenciária, Lei n.º 8.213/1991, há a previsão de acréscimo de 25% (vinte e cinco por cento) para aqueles segurados que dependam de tercei-ros para o desempenho de suas atividades básicas diárias, assim como, o Decreto n.º 3.048/1999, em seu Anexo I, traz um rol de situações em que o segurado terá o acréscimo na aposentadoria por incapacidade permanente (atual nomenclatura da aposentadoria por invalidez).

A expectativa é que também seja criado por regulamento um rol de situações que poderão ser consideradas como dependência de terceiros para aferir os critérios previstos no parágrafo e inciso em comento.

III – as circunstâncias pessoais e ambientais e os fatores socioe-conômicos e familiares que podem reduzir a funcionalidade e a plena participação social da pessoa com deficiência candidata ou do idoso;

COMENTÁRIOS: Por se tratar de um benefício assistencial, cada possível candidato ao benefício de prestação continuada, deve ser visto individualmente, uma vez que

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a sua deficiência deve ser analisada de acordo com a classificação internacional de funcionalidade (CIF).

Questões pessoais e ambientais interferem na funcionalidade do deficiente e também do idoso e é importante analisar tais fatores para aferir os critérios de miserabilidade.

Outro ponto relevante são os fatores socioeconômicos e familiares que depen-dem de uma avaliação pela assistente social para serem valorados no caso concreto. Nesse sentido, a Súmula 80 da Turma Nacional de Uniformização dispõe que:

“Nos pedidos de benefício de prestação continuada (LOAS), tendo em vista o advento da Lei 12.470/11, para adequada valoração dos fatores ambientais, sociais, econômicos e pessoais que impactam na participação da pessoa com deficiência na sociedade, é necessária a realização de avaliação social por assistente social ou outras providências aptas a revelar a efetiva condição vivida no meio social pelo requerente”.

Tais critérios também dependem de regulamentação para a sua aplicação. IV – o comprometimento do orçamento do núcleo familiar de que trata o § 3º do art. 20 exclusivamente com gastos com tratamentos de saúde, médicos, fraldas, alimentos especiais e medicamentos do idoso ou da pessoa com deficiência não disponibilizados gratui-tamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ou com serviços não prestados pelo Serviço Único de Assistência Social (Suas), desde que comprovadamente necessários à preservação da saúde e da vida.

COMENTÁRIOS: Esse inciso diz respeito ao enquadramento no requisito sócioeco-nômico/ renda para acesso ao benefício de prestação continuada. Para que seja possível chegar ao critério da renda per capita familiar, há necessariamente que se analisar quais valores, bens, itens e gastos são considerados para fins de cálculo da renda.

Pois bem, esse dispositivo prevê uma possibilidade de abatimento de valores gastos com tratamento de saúde, médicos, fraldas, alimentação especial e medi-camentos não fornecidos pelo SUS. Primeiramente, importante determinar que os referidos gastos ora mencionados precisam ser despesas vinculadas ao sujeito requerente do benefício assistencial.

Outro ponto relevante é que os valores gastos precisam ter correlação direta com a manutenção da saúde, integridade física e psíquica, não cabendo aqui quais-quer gastos eletivos, por exemplo, com tratamentos e medicamentos que não sejam essenciais à saúde do idoso ou relacionado à deficiência e incapacidades de longo prazo propriamente ditas.

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Destaca-se que a norma exige a comprovação de que referidos gastos e trata-mentos são de uso necessário para se garantir e preservar a saúde do requerente. Para isso, o requerente terá que se munir de provas de não fornecimento e não prestação do serviço pelo SUS, encaminhamentos para tratamentos psicossociais, receituá-rios, laudos, exames clínicos, entre outros, que possibilitem a comprovação entre a doença/deficiência, devido tratamento e respectivo gasto, fechando-se assim, a tríade para se garantir o abatimento de todos os valores.

Portanto, os gastos precisam demonstrar ligação com o objeto da norma, qual seja, o de garantir a integridade e mínimo necessário aos mais vulneráveis.

O objetivo dessa previsão legal é, mais uma vez, garantir que os requerentes ao benefício de prestação continuada que necessitem dispor financeiramente de valores mensais para manutenção e preservação da sua saúde, por omissão, falta ou não prestação de serviços pelo SUS, tenham a possibilidade de deduzir tais gastos na renda e, portanto, reduzindo a renda familiar e viabilizando um enquadramento dentro do limite da renda per capita.

§ 2º O grau da deficiência e o nível de perda de autonomia, re-presentado pela dependência de terceiros para o desempenho de atividades básicas da vida diária, de que tratam, respectivamente, os incisos I e II do § 1º deste artigo, serão aferidos, para a pessoa com deficiência, por meio de índices e instrumentos de avaliação funcional a serem desenvolvidos e adaptados para a realidade brasileira, observados os termos dos §§ 1º e 2º do art. 2º da Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015.

COMENTÁRIOS: O ponto central do §2º, do artigo 20-A, da Lei 13.982/20204 está na aferição do grau de deficiência e nível de perda da autonomia com a instrumentalização de avaliação funcional em conformidade com a realidade brasileira, País de dimensões continentais e de desigualdade social variada entre os entes da Federação.

Não obstante tal fato, a demografia brasileira e o acesso à saúde pública possuem níveis diferenciados e variáveis, que refletem diretamente no que diz respeito, por exemplo, ao envelhecimento ativo a partir dos 60 (sessenta) anos de idade e retardo na perda da autonomia desse idoso.

4. § 2º do Artigo 20 – Lei 13.982/2020. O grau da deficiência e o nível de perda de autonomia, representado pela depen-dência de terceiros para o desempenho de atividades básicas da vida diária, de que tratam, respectivamente, os incisos I e II do § 1º deste artigo, serão aferidos, para a pessoa com deficiência, por meio de índices e instrumentos de avaliação funcional a serem desenvolvidos e adaptados para a realidade brasileira, observados os termos dos §§ 1º e 2º do art. 2º da Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015

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Em se tratando do envelhecimento humano, podemos afirmar a existência de duas correntes, quais sejam: envelhecimento desde a concepção e envelhecimento desde o nascimento. O fato é que todos envelhecem, contudo, o local, modo de vida, alimentação, acesso à saúde, educação e lazer são fatores que influenciam direta-mente na manutenção do processo cognitivo da preservação da memória, atenção, percepção e longevidade, por exemplo.

Embora a expectativa de vida do brasileiro tenha aumentado nas últimas dé-cadas, ainda é possível perceber idosos com idade entre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e cinco) anos adoecidos pelos problemas emocionais enfrentados ao longo dos anos, ou mesmo, em razão da falta de cuidados básicos de saúde, fato que os tornam completamente dependentes de terceiros.

Com efeito, ainda discorrendo sobre o envelhecimento, percebemos neste imenso Brasil diversos modos de envelhecer. Esse fator influencia no modo e na forma em que cada um chegará à velhice e, consequentemente, se haverá perda da autonomia de modo que dependa do amparo de terceiros, antes dos 65 (sessenta e cinco) anos de idade.

De igual modo, estão os portadores de deficiência. Para alguns, em razão da plasticidade cerebral5 e o meio no qual se inserem, pode inexistir diferenciação com aqueles sem nenhuma deficiência aparente. Em contrapartida, e mais uma vez ressaltando a imensa desigualdade social e dificuldade no acesso à saúde, mui-tos portadores de deficiência não têm o mesmo acesso a sistemas básicos, o que os tornam ainda mais isolados dos grupos sociais e, consequentemente, ao bom desenvolvimento e integração social.

De fato, ainda se percebe em alguns locais do Brasil, a segregação dos portadores de deficiência, seja no meio familiar ou social. Essa contenção muitas das vezes é forçada pelos membros do próprio grupo familiar, em razão da baixa escolaridade ou desconhecimentos acerca da deficiência.

Muitos padecem por desconhecer direitos mínimos constitucionalizados e também inseridos em legislações infraconstitucionais. Enfim, o portador de defici-ência sociologicamente necessita quebrar estigmas dentro do próprio seio familiar para então buscar ajuda e socorro nos centros especializados. O grande problema é que muitas das vezes o esforço é demasiado e muitos desistem da busca por auxílio. Paralisar esse estigma é um imenso desafio!

5. A plasticidade cerebral, ou neuroplasticidade, é a habilidade do cérebro para se recuperar e reestruturar. Esta capacidade de adaptação do sistema nervoso permite o cérebro se recuperar após transtornos ou lesões e reduzir os efeitos das estruturas alteradas por patologias como a esclerose múltipla, a doença de Parkinson, a deterioração cognitiva, o Alzheimer, a dislexia, o TDAH, a insônia, etc. Disponível em: <https://www.cognifit.com/br/plasticidade-cerebral>. Acesso em 13.04.2020.

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Ter índices e instrumentos de avaliação funcional a serem desenvolvidos e adaptados para a realidade brasileira devolve ao idoso (entre 60 e 65 anos) e portador de deficiência a igualdade real, e, não, apenas, a igualdade formal, já que haverá a aferição das especificidades, fatores sociais locais dimensionadores, por exemplo, com observância dos §§1 e 2º do Artigo 2º da Lei 13.146, de 6 de julho de 20156.

§ 3º As circunstâncias pessoais e ambientais e os fatores socioeco-nômicos de que trata o inciso III do § 1º deste artigo levarão em consideração, observado o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 2º da Lei nº 13.146, de 2015, entre outros aspectos:

COMENTÁRIOS: As circunstâncias pessoais e ambientais e os fatores socioe-conômicos que podem reduzir a funcionalidade e a plena participação social do candidato com deficiência ou idoso deverá observar o que dispõe o Estatuto da Pessoa com Deficiência.

Assim, para avaliar a deficiência, em casos que se fizer necessário, deverá ser realizada a perícia biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e inter-disciplinar e considerará os impedimentos nas funções e estruturais do corpo, os fatores socioambientais, psicológicos, pessoais e restrição de participação.

I – o grau de instrução e o nível educacional e cultural do candi-dato ao benefício;

COMENTÁRIOS: Faz-se necessário avaliar o grau de instrução e o nível educacional e cultural do candidato ao benefício de prestação continuada, pois será relevante para ver a transposição da sua deficiência, assim como, com relação à inserção do idoso na sociedade.

Um deficiente ou idoso com grau de instrução e nível educacional e cultural elevados terá menos barreiras perante a sociedade do que um deficiente ou idoso que não atingiu um nível satisfatório de grau de instrução e, diante das dificuldades encontradas na sua vida, não teve a oportunidade de adquirir um nível educacio-nal e cultural suficientes para superar as suas deficiências físicas, intelectuais e/ou mentais, além da questão da idade avançada, no caso do idoso.

6. Artigo 2º. Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. § 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará: (Vigência) I – os impedimen-tos nas funções e nas estruturas do corpo; II – os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; III – a limitação no desempenho de atividades; e IV – a restrição de participação. § 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência. (Vide Lei nº 13.846, de 2019).

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II – a acessibilidade e a adequação do local de residência à limita-ção funcional, as condições de moradia e habitabilidade, o sanea-mento básico e o entorno familiar e domiciliar;

COMENTÁRIOS: Um dos fatores mais evidentes da desigualdade em um país como o Brasil, é sem dúvida a falta de acesso à saúde e ao ensino de qualidade, bem como, à infraestrutura e à acessibilidade para os portadores de deficiência.

Neste diapasão, torna-se ainda mais necessário uma avaliação criteriosa e mais humanista das condições de moradia de cada candidato ao benefício de prestação continuada – BPC, seja ele idoso ou deficiente.

Isso porque, em que pese muitas vezes a renda per capita da família ultrapasse o quantum trazido no dispositivo legal, dependendo das condições e necessidades dos membros da família, tal renda não é suficiente para suprir todas as necessidades básicas do núcleo familiar.

A incapacidade de suprir todas as necessidades básicas, mesmo com a renda per

capita adequada ao limite estabelecido pelo legislador, conforme mencionado acima,

dá-se, principalmente, devido ao fato de que, muitas vezes, grande parte da renda é destinada à compra de medicamentos, tratamentos médicos em geral, além do que o valor de ¼ do salário-mínimo é insuficiente para uma pessoa sobreviver e ter todas as condições de dignidade da pessoa humana, conforme preconiza a nossa Carta Magna. Ademais, se já é praticamente impossível uma pessoa sobreviver dignamente com uma renda tão baixa, tal sobrevivência se tornará muito mais difícil se esta pessoa for idosa ou portadora de deficiência.

Outrossim, não pode ser deixado de lado o fato de que, se a pessoa se enquadra nessa situação, é porque não teve uma vida laboral e educacional que lhe proporcio-nasse meios de ter uma residência com os padrões mínimos de segurança e conforto necessários para o bem estar de uma pessoa idosa ou deficiente.

Sendo assim, torna-se cristalino que, se uma pessoa necessita do benefício de prestação continuada – BPC, é fato sine qua non que ela não possui condições dignas de moradia e sobrevivência, restando certo que a observação rígida da renda per capita de ¼ do salário-mínimo para obtenção do referido benefício é no mínimo desumano.

III – a existência e a disponibilidade de transporte público e de serviços públicos de saúde e de assistência social no local de resi-dência do candidato ao benefício;

COMENTÁRIOS: O artigo 6º, da Constituição Federal prevê que são direitos so-ciais, entre outros, o direito ao transporte, saúde e assistência aos desamparados. O acesso a esses direitos no local de residência do candidato ao benefício também

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será importante para verificar a sua condição de miserabilidade para ter acesso ao mencionado benefício de prestação continuada.

IV – a dependência do candidato ao benefício em relação ao uso de tecnologias assistivas; e

COMENTÁRIOS: A tecnologia assistiva é o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e, consequentemente, promover uma vida independente e inclusiva. O acesso a essas tecnologias, assim como, a efetiva necessidade de utilizá-las será relevante para estabelecer as barreiras encontradas pelo deficiente na sociedade.

V – o número de pessoas que convivem com o candidato ao be-nefício e a coabitação com outro idoso ou pessoa com deficiência dependente de terceiros para o desempenho de atividades bási-cas da vida diária.

COMENTÁRIOS: A existência de outros deficientes ou idosos na residência do can-didato ao benefício assistencial demonstra a situação de vulnerabilidade que todos os integrantes daquela coabitação estão expostos, sobretudo, se um dos integrantes da residência depender do auxílio de terceiros para a sua sobrevivência. Situação como essa, demonstram isolada ou conjuntamente com outros requisitos, a necessidade de ser ampliada a renda per capita familiar para a concessão do benefício assistencial.

§ 4º O valor referente ao comprometimento do orçamento do núcleo familiar com gastos com tratamentos de saúde, médicos, fraldas, ali-mentos especiais e medicaali-mentos do idoso ou da pessoa com defici-ência, de que trata o inciso IV do § 1º deste artigo, será definido pelo Instituto Nacional do Seguro Social, a partir de valores médios dos gastos realizados pelas famílias exclusivamente com essas finalida-des, conforme critérios definidos em regulamento, facultada ao inte-ressado a possibilidade de comprovação, nos termos do referido re-gulamento, de que os gastos efetivos ultrapassam os valores médios.”

COMENTÁRIOS: O referido dispositivo faz menção expressa à situação de dedução dos valores dispendidos para suprir as necessidades para manutenção e prevenção da saúde, como já comentado no inciso IV, §1º do presente artigo.

O acréscimo que esse parágrafo traz é que será definido em regulamento feito pelo INSS, os critérios e os parâmetros para a aplicação dos abatimentos, deduções

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dos valores comprovadamente gastos pelo requerente ao benefício de prestação continuada no cálculo da renda per capita familiar.

Todavia, até a publicação do presente e-book, não foi publicado o referido regulamento. Desta maneira, a expectativa e entendimento é de que os valores dispendidos com tratamento e saúde indispensáveis à saúde do requerente (idoso ou pessoa portadora de deficiência) comprovados por meio da tríade explicada no inciso IV, §1º deste artigo, deverão ser deduzidos integralmente da renda familiar e após a dedução é que deverá se efetuar o cálculo da renda per capita.

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Art. 2º

Durante o período de 3 (três) meses, a contar da publi-cação desta Lei, será concedido auxílio-emergencial no valor de R$ 600,00 (seiscentos reais) mensais ao trabalhador que cumpra cumulativamente os seguintes requisitos:

COMENTÁRIOS: A crise do Covid-19 impactou diretamente os sistemas de saúde do mundo, impondo em vários países, inclusive no Brasil, a adoção de medidas de distanciamento social, com o fechamento de comércios, escolas, empresas e, consequentemente, afetando a economia, sobretudo, daqueles que não dispõem de atividade formal, sendo imprescindível a criação de um auxílio para garantir renda mínima a todos os necessitados.

O Sistema de Seguridade Social, previsto no artigo 194 da Constituição Federal, compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Tem-se que a Assistência Social prevista no artigo 203 da Constituição Federal será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à segu-ridade social.

Assim, pode o Estado criar benefícios e auxílios destinados ao combate da crise do Covid-19, garantindo a dignidade da pessoa humana de todos aqueles que se encontrarem em situação de vulnerabilidade.

A Medida Provisória n.º 936/2020 instituiu o benefício emergencial para empregados que tiverem o seu contrato de trabalho suspenso ou com redução de jornada e salário em virtude da paralisação, ainda que parcial, de algumas atividades.

Contudo, a fim de proteger também os demais trabalhadores, foi criado o auxílio emergencial, ora estudado, para garantir a todos aqueles que necessitem a garantia de uma renda mínima durante a calamidade pública que assola o país.

Para custear o programa do auxílio-emergencial, a Medida Provisória n.º 937/2020 determinou a abertura de crédito extraordinário, em favor do Ministério da Cidadania, no valor de R$ 98.200.000.000,00 (noventa e oito bilhões e duzentos milhões).

A abertura do referido crédito cumpre a regra da contrapartida prevista no ar-tigo 195, § 5º da Constituição Federal, que dispõe que “nenhum benefício ou serviço

da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total.”

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Toda norma jurídica dispõe sobre relação jurídica. Neste caput, o legislador trouxe dois elementos importantes: a identificação do sujeito ativo, ou seja, quem terá direito ao recebimento do auxílio e os critérios quantitativo e temporal, ou seja, valor e prazo de duração, respectivamente.

Pensando nessa garantia constitucional, o legislador trouxe na norma o critério quantitativo – o quantum será o benefício: “será concedido auxílio-emergencial no

valor de R$ 600,00 (seiscentos reais) mensais ao trabalhador”.

Dessa afirmação, fica a pergunta: Quem é o trabalhador? E a norma identifica os critérios ao sujeito ativo, respondendo: “trabalhador que cumpra cumulativamente

os seguintes requisitos”.

Assim, os requisitos dispostos dos incisos I a VI identificam as possibilidades de enquadramento dos sujeitos ativos como beneficiário da relação jurídica assistencial.

I – seja maior de 18 (dezoito) anos de idade;

COMENTÁRIOS: O primeiro requisito determina que deverá o candidato ao auxílio-emergencial ser maior de 18 (dezoito) anos de idade.

Ao conceder o auxílio-emergencial somente aos maiores de 18 anos, o legislador desamparou muitas famílias brasileiras que são formadas por mães e pais menores de 18 anos. Infelizmente, nesse ponto, o legislador se distanciou da realidade do país que possui muitos menores de idade que são alicerces para a sua família e que, em virtude da pandemia, estão desprotegidos, sem poder exercer qualquer tipo de atividade, ainda que informalmente.

Muitos desses menores de idade, embora não tenham trabalho formal, com o reconhecimento do seu vínculo de emprego, exercem informalmente as suas ativi-dades, sendo afetados diretamente com a pandemia e foram excluídos da proteção social prevista nesta lei.

O Projeto de Lei n.º 873, de 2020, em trâmite na Câmara dos Deputados, propõe a mudança do referido inciso, concedendo também a proteção social para as mães adolescentes, independentemente da sua idade.

O Decreto n.º 10.316/2020 em seu artigo 7º, § 3º estabelece que, para os ins-critos no Cadastro Único, a verificação do critério etário será a data de nascimento registrada nessa base de dados.

Contudo, o referido Decreto não regulamentou a partir de qual data deveria o candidato ao benefício ter completado 18 anos. Entende-se que o beneficiário deverá completar 18 anos de idade até a data do recebimento da primeira parcela do auxílio-emergencial e não na data do requerimento do auxílio.

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II – não tenha emprego formal ativo;

COMENTÁRIOS: Ao se referir a emprego formal ativo, o legislador excluiu da proteção assistencial o empregado, que conforme disposto no artigo 3º, da Consoli-dação das Leis do Trabalho, é aquela pessoa física que presta serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência desse e mediante salário. Evidentemente, ao se referir à empregado formal ativo, o legislador se referiu ao vínculo de emprego formal, ou seja, aquele formalizado em Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS). Também estão excluídos da proteção assistencial os servidores públicos em sentido amplo.

O Decreto n.º 10.316/2020 em seu artigo 2º, I, considera trabalhador formal ativo “o empregado com contrato de trabalho formalizado nos termos do disposto na Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e o agente público, independentemente da relação jurídica, inclusive o ocupante de cargo temporário ou função temporária ou de cargo em comissão de livre nomeação e exoneração e o titular de mandato eletivo.”

É importante destacar que, embora excluído da referida proteção assistencial, a Medida Provisória n.º 936/2020 concedeu benefício emergencial ao empregado que teve o seu contrato de trabalho suspenso ou redução de jornada e salário.

III – não seja titular de benefício previdenciário ou assistencial ou beneficiário do seguro-desemprego ou de programa de transfe-rência de renda federal, ressalvado, nos termos dos §§ 1º e 2º, o Bolsa Família;

COMENTÁRIOS: Os benefícios previdenciários são aqueles incluídos no artigo 18, da Lei n.º 8.213/91, quais sejam: a) aposentadoria por invalidez (aposentadoria por incapacidade permanente); b) aposentadoria por idade; c) aposentadoria por tempo de contribuição; d) aposentadoria especial; e) auxílio-doença (auxílio por incapacidade temporária); f) salário-família; g) salário-maternidade; h) auxílio-a-cidente; i) pensão por morte e j) auxílio-reclusão.

Com relação ao benefício assistencial, tem-se como exemplo o Benefício de Prestação Continuada previsto na Lei Orgânica de Assistência Social.

Assim, aqueles que estão em gozo de benefício previdenciário, assistencial ou percebendo as parcelas do seguro desemprego, assim como, de programa de transferência de renda federal, não poderão receber o auxílio-emergencial previsto nesta lei. Isso porque tais pessoas já estão amparadas pelo manto da proteção social.

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Contudo, permite-se que o auxílio-emergencial seja pago para aqueles que recebem o bolsa família, se mais vantajoso. Recomenda-se ao leitor consultar os comentários do §2º do artigo 2º desta Lei.

IV – cuja renda familiar mensal per capita seja de até 1/2 (meio) salário-mínimo ou a renda familiar mensal total seja de até 3 (três) salários mínimos;

COMENTÁRIOS: Deve-se entender por renda familiar per capita a soma total da renda bruta formalizada no mês de todos aqueles que compõem a família, dividida pelo número de seus integrantes. Somente poderão ser beneficiários do auxílio--emergencial aqueles que possuem a renda familiar per capita inferior a ½ (meio) salário mínimo – R$ 522,50 (quinhentos e vinte e dois reais e cinquenta centavos) ou se a renda familiar mensal (a soma total da renda bruta no mês de todos aqueles que compõem a família) for de até 3 (três) salários mínimos – R$ 3.135,00 (três mil cento e trinta e cinco reais).

Recomenda-se ao leitor consultar o § 6º deste artigo em comento, a fim de compreender como será composta a renda familiar.

V – que, no ano de 2018, não tenha recebido rendimentos tribu-táveis acima de R$ 28.559,70 (vinte e oito mil, quinhentos e cin-quenta e nove reais e setenta centavos); e

COMENTÁRIOS: O legislador limitou a concessão do auxílio somente para aqueles que tenham recebido renda anual inferior a R$ 28.559,70 (vinte e oito mil, quinhen-tos e cinquenta e nove reais e setenta centavos) no ano de 2018, tendo em vista que o governo possui as informações vinculadas à Declaração de Imposto de Renda do ano de 2018. Portanto, as pessoas que estavam isentas da Declaração de Imposto de Renda em 2018 cumpriram o requisito disposto neste inciso.

Contudo, tal critério poderá afastar a proteção social daqueles que realmente estejam em situação de miserabilidade, pois poderia o candidato ao auxílio ter superado o limite de renda em 2018, contudo, nos anos de 2019 e 2020, estar em situação de desemprego, não havendo qualquer renda a ser declarada.

Para a concessão de qualquer benefício assistencial, devem-se proteger as pessoas que estão em desproteção social no momento da pandemia, sob pena de afetar o princípio da proteção social.

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VI – que exerça atividade na condição de: a) microempreendedor individual (MEI);

b) contribuinte individual do Regime Geral de Previdência Social que contribua na forma do caput ou do inciso I do § 2º do art. 21 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991; ou

c) trabalhador informal, seja empregado, autônomo ou desem-pregado, de qualquer natureza, inclusive o intermitente inativo, inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Fe-deral (CadÚnico) até 20 de março de 2020, ou que, nos termos de autodeclaração, cumpra o requisito do inciso IV.

COMENTÁRIOS: Poderá receber o auxílio-emergencial o microempreendedor individual (MEI). Importante destacar que não há na lei nenhuma proibição de concessão do auxílio-emergencial para aqueles que não estão em dia com a sua contribuição, mesmo porque, trata-se de benefício assistencial, que independe de contribuição para ser concedido.

Ainda, estão incluídos na proteção social o contribuinte individual que contri-bui com a alíquota cheia de 20% (vinte por cento) sobre o salário de contricontri-buição ou com a alíquota reduzida de 11% (onze por cento) sobre o salário de contribuição, e não é necessário que esteja em dia com as suas contribuições para o reconhecimento ao recebimento do auxílio-emergencial.

O trabalhador informal também será destinatário do auxílio-emergencial. Pri-meira hipótese é o trabalhador que embora presente os requisitos de emprego, não tenha o seu vínculo reconhecido formalmente, ou seja, com anotação em Carteira Profissional – CTPS.

A expressão autônomo contida no referido inciso remete ao trabalhador que, embora exercente de atividade remunerada, não formalizou a sua inscrição perante o Instituto Nacional do Seguro Social.

O desempregado, desde que não esteja recebendo o seguro desemprego, também poderá, caso cumprido os demais requisitos, ser beneficiário do auxílio--emergencial.

O segurado facultativo da Previdência Social também está incluído na prote-ção social para a concessão do auxílio-emergencial, uma vez que, para que ele seja considerado segurado facultativo, o requisito é não exercer atividade remunerada, incluindo os estagiários, donas de casa, estudantes etc.

Proteção importante prevista neste inciso é do trabalhador intermitente, que conforme conceitua o artigo 443, §3º, da CLT é “contrato de trabalho no qual a pres-tação de serviços, com subordinação, não é contínua, ocorrendo com alternância

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de períodos de prestação de serviços e de inatividade, determinados em horas, dias ou meses, independentemente do tipo de atividade do empregado e do empregador, exceto para os aeronautas, regidos por legislação própria.

O trabalhador intermitente ativo, ou seja, aquele que teve o seu contrato de trabalho intermitente formalizado até a data da Medida Provisória n.º 936, de 1º de abril de 2020, ainda que não perceba remuneração, não fará jus ao auxílio-emer-gencial aqui tratado. Contudo, fará jus à proteção social prevista na referida Medida Provisória, qual seja, benefício emergencial, que também será de três parcelas de R$ 600,00 (seiscentos reais). Não poderá cumular benefício emergencial com au-xílio-emergencial.

Somente haverá o direito de receber o auxílio-emergencial, o trabalhador inter-mitente que não teve o seu contrato interinter-mitente formalizado até 1º de abril de 2020. O microempreendedor individual (MEI), inclusive o rural, foi atingido pela proteção social, contudo, uma espécie de trabalhador que não foi contemplada pelo recebimento do auxílio-emergencial, mas que encontra-se em situação de vulne-rabilidade, é o segurado especial, previsto no artigo 11, VII, da Lei n.º 8.213/91, que é “a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na condição de: a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade; e b) pescador artesanal ou a este as-semelhado que faça da pesca profissão habitual ou principal meio de vida.

O Projeto de Lei n.º 873, de 2020, propõe que os pescadores artesanais, técnicos agrícolas, entre outros, também sejam acobertados pela proteção prevista nesta Lei. Para fazer jus ao auxílio, os candidatos acima descritos deverão estar inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) até 20 de março de 2020. Caso não estejam inscritos no CadÚnico, deverão firmar uma autodeclaração, que conforme consta no Decreto n.º 10.136/2020, artigo 5º, será um formulário disponibilizado na plataforma digital.

§ 1º O recebimento do auxílio-emergencial está limitado a 2 (dois) membros da mesma família.

COMENTÁRIOS: Criou-se uma regra pelo legislador para o recebimento do au-xílio-emergencial, sendo limitado somente a 2 (dois) membros da mesma família. Faz-se de suma relevância o destaque sobre o termo “mesma família”.

Para isso, recomenda-se ao leitor que consulte os comentários no §6º deste mesmo artigo, a fim de que se busque o conceito de núcleo familiar.

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§ 2º O auxílio-emergencial substituirá o benefício do Bolsa Família nas situações em que for mais vantajoso, de ofício.

COMENTÁRIOS: Aqueles que já estão sob o manto da proteção social, recebendo benefícios previdenciários ou assistenciais, não farão jus ao recebimento do auxílio- emergencial, contudo, no caso do Bolsa Família, caso o auxílio-emergencial seja mais vantajoso, poderá ser substituído de ofício, durante o prazo de pagamento do auxílio-emergencial. Após, caso o beneficiário do bolsa família continue cumprindo os requisitos para a sua concessão, o benefício será restabelecido, cumprindo o seu papel social de conceder renda mínima àqueles que necessitam.

§ 3º A mulher provedora de família monoparental receberá 2 (duas) cotas do auxílio.

COMENTÁRIOS: Primeiramente, faz-se necessário abordar o conceito do que se entende por família monoparental. Para Adriana Maluf7, a família monoparental diz respeito à presença, responsabilidade e interrelação de apenas um responsável com o menor. A monoparentalidade pode ocorrer pela presença de um dos genitores do filho menor, por diversas razões, como exemplo, divórcio, viuvez, não reconheci-mento da prole, adoção unilateral, inseminação artificial de produção independente. Entretanto, essas não são todas as possibilidades de monoparentalidade, uma vez que essa, também pode se dar por demais parentes que possuam a guarda de fato e/ou de direito, de netos, sobrinhos, menores tutelados e/ou maiores incapazes.

Pois bem, superado o reconhecimento do que se entende por família mo-noparental e a sua amplitude de abrangência, o dispositivo prevê que em razão do exercício integral desta responsabilidade por uma única pessoa, a Lei estaria garantindo o direito à percepção de 2 (duas) cotas do auxílio para esta provedora de família monoparental, o que corresponde a R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais) por mês de recebimento.

Entretanto, este parágrafo foi infeliz ao prescrever o termo “mulher” prove-dora de família monoparental, pois delimitou um gênero específico que possuiria o direito em perceber 2 (duas) cotas do auxílio, deixando desamparadas todas as demais possibilidades de famílias monoparentais.

A diferenciação no tratamento de gêneros configura nítida violação ao princípio da igualdade, isonomia e justiça social. Destaca-se ainda, a violação ao princípio da dignidade da pessoa humana, no aspecto que preserva o tratamento isonômico

7. MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus. Novas modalidades de família na pós-modernidade. São Paulo: Editora Atlas, 2010, p. 112

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entre os entes da família, independentemente do gênero, e sim pautando-se em seus direitos. Desta forma, entende-se que o termo normativo “a mulher provedora” deveria-se ler por “a pessoa provedora”, garantindo-se assim o acesso igualitário às famílias monoparentais.

Visando reparar o erro na legislação ora em comento, cujo equívoco foi repetido no artigo 2º, IV, do Decreto n.º 10.316/2020, ao conceituar a família monoparental com mulher provedora, como sendo grupo familiar chefiado por mulher sem cônjuge ou companheiro, com pelo menos uma pessoa menor de 18 (dezoito) anos de idade, o Projeto de Lei n.º 873, de 2020 em trâmite na Câmara dos Deputados, modifica a redação do parágrafo comentado para “A pessoa provedora de família monoparental receberá 2 (duas) cotas do auxílio-emergencial, independentemente do sexo”.

§ 4º As condições de renda familiar mensal per capita e total de que trata o caput serão verificadas por meio do CadÚnico, para os trabalhadores inscritos, e por meio de autodeclaração, para os não inscritos, por meio de plataforma digital.

COMENTÁRIOS: O Cadastro Único para Programas Sociais ou CadÚnico é um “instrumento de coleta de dados e informações que objetiva identificar todas as famílias de baixa renda existentes no país para fins de inclusão em programas de assistência social e redistribuição de renda.”

Este cadastramento nacional tem por intuito unificar as informações qualitati-vas e quantitatiqualitati-vas das famílias de baixa renda, formando uma base de dados que é utilizada para diversas estatísticas e reconhecimento de áreas com suas respectivas deficiências.

O parágrafo dispõe que as famílias que possuírem CadÚnico atualizado a menos de 2 (dois) anos, terão como base de cálculo a renda declarada à época da atualização do cadastro. Para as famílias que não estiverem na base de dados do CadÚnico, o sistema informatizado de requerimento do auxílio-emergencial disponibilizará um meio de “autodeclaração”, de forma que o requerente ao benefício poderá declarar a renda per capita do seu núcleo familiar.

§ 5º São considerados empregados formais, para efeitos deste ar-tigo, os empregados com contrato de trabalho formalizado nos termos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e todos os agentes públicos, independentemente da relação jurídica, inclu-sive os ocupantes de cargo ou função temporários ou de cargo em comissão de livre nomeação e exoneração e os titulares de mandato eletivo.

Referências

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