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Magia e Cura Kahuna Serge Kahili King

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Academic year: 2021

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Serge Kahili King

MAGIA E CURA

KAHUNA

Saúde Holística e Práticas de

Cura da Polinésia

Tradução: Marcos Malvezzi Leal

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Publicado originalmente em inglês sob o título Kahuna Healing — Holistic health

and healing practices of Polynesia, em Theosophical Publishing House, 306 Wes Geneva Road Wheaton, Illinois 60187 USA © 1983, Serge King Tradução autorizada do inglês

Direitos de edição para todos os países de língua portuguesa © 2004, Madras Editora Ltda.

Editor:

Wagner Veneziani Costa

Produção e Capa: Equipe Técnica Madras Tradução:

Marcos Malvezzi Leal Revisão:

Augusto do Nascimento Ana Maria Balboni Palma

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE ________ SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ. ____________________

K64m King, Serge

Magia e Cura Kahuna: Saúde Holística e Práticas de cura da Polinésia/Serge Hahili King;

tradução Marcos Malvezzi Leal. - São Paulo: Madras, 2004 Tradução de: Kahuna healing

Apêndice

Inclui bibliografia ISBN 85-7374-812-5

1. Cura pela mente. 2. Cura - Havaí. 3. Havaianos - Medicina. 4. Kahuna. I. Título.

04-0798. CDD 615.851

CDU 615.85 23.03.04 __________________ 24.03.04 ________________________ 005926

Proibida a reprodução total ou parcia desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográ - ficos, sem permissão expressa do editor (Lei n? 9.610, de 19.2.1998)

Todos os direitos desta edição, em língua portuguesa, são reservados pela

MADRAS EDITORA LTDA. [

Rua Paulo Gonçalves, 88 — Santana 02403-020 —São Paulo —SP

Caixa Postal 12299 — CEP 02013-970 — SP

Tel.: (0 11) 6959.1127 — Fax: (0_ _11) 6959.3090

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Dedicatória

Este livro é dedicado a Harry L. King, meu pai e meu primeiro professor Huna; a O., que manteve o Huna vivo em mim, enquanto eu crescia e me tornava adulto; a M'Bala, que me ensinou tanto sobre energia psíquica; e especialmente a Wana Kahili, cujo profundo conhecimento da filosofia e das tradições Huna tornaram possível esta apresentação.

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Índice

Prefácio ... ... 06 Capítulo 1 Os Kahunas ... 14 O Povo da Polinésia ... 14 O Sistema Kapu ... 15 Os Kahunas do Havaí ... 16 As Ordens Kahunas ... 20 A Ordem de Ku ... ... . ... ... 21 A Ordem de Lono ... ... 21 A Ordem de Kane ... 21 Os Renegados ... 22 Os Kahunas Hoje ... ... ... ... 22 Capítulo 2 A Tradição Interior ... 23 A "Bíblia" Kahuna ... 23 O Conceito de Deus ... 25 Kane ... 25 Ku ... 26 Lono ... 26 Kanaloa... 26 Homem Trino ... 27 A Divindade ... 27 Espíritos ... 27 Crenças e Realidade ... 28 Vida e Morte ... 29 Bem e Mal ... 30 Amor e Emoções ... 31 Relatividade ... 32 Capítulo 3 Práticas Psíquicas ... 34 Níveis de Consciência ... ...34

Primeiro Nível: Físico (Ike Papakahi) ... 34

Segundo Nível: Psíquico (Ike Papalua) ... 34

Terceiro Nível: Relacionai (Ike Papakolu) ... 35

Quarto Nível: Místico (Ike Papakauna) ... 35

Mente, Energia e Matéria ... ... 35

Simbologia ... 36

Categorias de Poderes Psíquicos ... ... 37

Telepatia (Una) ... 37

Clarividência (Kilo/Nana Ao) ... 38

Pré-cognição (Wanana) ... 38

Psicocinesia (Kalakupua) ... 40

Destruição Psicocinética (Ana-ana) ... 40

Contrafeitiçaria ... 42

Habilidades Psíquicas são Neutras ... 43

Capítulo 4 Abordagem Mente/Corpo ... 44

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O Eu Superior (Kane/Aumakua) ... 44

Mente Consciente (Lono)... ... 47

O Subconsciente (Ku) ... 47

O Corpo (Kino) ... ... 48

Fluxo Biológico de Energia ... 49

Emoções ... 51

A Natureza e a Formação de Complexos ... 52

Pressuposições (Paulele) ... 53 Atitudes (Kuana) ... 54 Complexos (Hilina'i) ... ...55 Feedback Ecológico ... ...56 Capítulo 5 Métodos de Cura ... 59 "Terapia Estratégica" ... 59 A Abordagem Material ... 60 Remédios ... 60 Dieta ... 62 Ritual ... 63 Objetos Energizados ... 63 A Abordagem Energética ... 64 Manipulação Física ... 64 O Corpo (Kino) ... 65 Manipulação de Campo ... ... 65 A Abordagem Mental ... 66

Percepção dos Pensamentos (Ike) ... 67

Estabelecer Metas (Makiá) ... . ... 67

Mudar (Kala) ... 68

Direcionar Energia (Manawa) ... 68

Falha no Tratamento ... ... — ... 69 Cura Divina ... ... 70 Encerramento (Panina) ... 71 Epílogo ... 72 Apêndice O Código Kahuna ... 75 Regras do Código ... 76 Exemplos ... 76

Bibliografia Comentada sobre Huna e os Kahunas ... 80

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Prefácio

'Tempestade de areia!" Camelos grunhindo, cavalos relinchando, e o pequeno grupo de homens corria para proteger as cabeças de seus animais da poeira cortante, antes de cobrir os próprios rostos com cachecóis de lã. Como era típico em Gobi, a tempestade caíra sobre eles quase sem avisar. Os homens tossiam e praguejavam em mongol e inglês, aglomerando-se e cambaleando passos à frente. Um dos guias havia notado alguns montes de areia à esquerda, antes da tempestade, e era para lá que ele guiava o grupo, na esperança de encontrar alguma pequena proteção contra o vento e a areia. Minutos depois, ele deparou com o que sobrara de um muro de tijolos de barro, remanescente dos antigos vilarejos em ruínas que ainda pontilham o deserto. "Abrigo! Abrigo aqui!", gritou. Sua voz era abafada pelo vento e por seu cachecol, mas a mensagem foi ouvida e passada adiante. Homens e animais marchavam adiante com esforço e dificuldade, na tentativa de se esconder entre os recessos protetores de muros caídos e pilhas de entulho. Aparentemente, o acaso sorrira para eles.

Um dos homens, o mais jovem dos estrangeiros naquela expedição científica e

política, abrigou-se na junção de dois muros, a alguma distância dos outros. Lá,

agachou-se ao lado do cavalo para esperar que a tempestade passasse. A expedição

da qual fazia parte era uma dentre muitas, enviadas pela Inglaterra no começo do

século XX,

quando a Ásia ainda era um joguete nas lutas por poder entre os impérios britânico, russo e chinês. O jovem refletia sobre tudo isso quando subitamente o solo na frente de seus pés pareceu partir-se, abrindo um buraco diante dele. Em meio à claridade da luz do sol, ofuscada péla cortina de areia, ele viu degraus que conduziam para o fundo escuro. Percebeu que devia estar em cima do telhado de um velho edifício, e seus passos até provavelmente tinham enfraquecido a sustentação. Extremamente curioso e ignorando qualquer perigo, o jovem deixou o cavalo e desceu pelos degraus.

Pela abertura, entrava luz suficiente para lhe permitir enxergar de forma difusa o ambiente; e o que viu fê-lo suspirar, surpreso. Estava numa sala de mais ou menos 9 metros de comprimento por 4,5 metros de largura. As paredes de ambos os lados mostravam o que pareciam ser afrescos, mas a iluminação filtrada através da abertura em cima não possibilitava distinguir detalhes das imagens. Deu mais alguns passos e viu uma mesa na extremidade oposta. Ao se aproximar dela, percebeu que parecia mais um altar de pedra. Bem no centro desse altar, encontrava-se uma jóia, um bracelete. Ao pegá-lo, ouviu um ruído atrás de si, e se voltou. Começava a cair areia pela abertura, ameaçando enterrá-lo vivo. Enfiando o bracelete num bolso, correu de volta aos degraus e quase rastejou para sair. O cavalo não estava mais lá e a tempestade estava piorando. A única coisa que podia fazer agora era encolher-se no canto entre os escombros e esperar.

Finalmente, a tempestade acabou. O rapaz, quase totalmente coberto de areia, tirou o pano que lhe cobria a cabeça e apertou os olhos, observando um mundo diferente. O sol brilhava através de um ar limpo e não havia mais nenhum traço do buraco por onde ele se havia espremido para entrar. A areia encobrira tudo, inclusive os pedaços do muro que serviam de abrigo. Foi então que ouviu vozes. "Harry! Harry, onde está você?" "Aqui", ele gritou, e abriu caminho entre a areia, saindo do ninho protetor. Os outros tinham encontrado o seu cavalo, e ficaram muito aliviados ao ver que ele também estava inteiro. Ninguém se interessou por sua história sobre uma sala com afrescos e um altar. Estavam

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ansiosos para sair daquela zona de areia e alcançar as estepes. Após ouvir brincadeiras sobre ter sofrido uma insolação, ele não mencionou mais sua aventura, e a expedição prosseguiu.

Alguns meses depois, Harry estava de volta a Londres, reportando-se ao seu superior no departamento do governo onde trabalhava. Quase no fim de seu recital sobre sua participação na expedição, enfiou a mão no bolso e tirou o bracelete. "O que o senhor acha que é isto?", perguntou, colocando o objeto sobre a mesa. "Parece um mapa do sistema solar, não parece?" Harry esperava uma ligeira curiosidade, talvez alguma admiração, mas o homem do outro lado da mesa parecia totalmente perplexo. Hesitante, ele apanhou o bracelete e o examinou com cuidado. No centro, havia uma pedra amarela, como topázio, ao redor da qual e aleatoriamente em círculos concêntricos se encontravam outras pedras menores, em número total de nove. O homem dirigiu um olhar profundo a Harry e disse: "Onde conseguiu isso?" Harry lhe contou a história da tempestade e da sala que descobrira por acaso. "Posso ficar com ele esta noite?", o homem perguntou. "Garanto-lhe que estará em segurança." Embora surpreso, Harry concordou.

E o dia seguinte seria o início da mais estranha aventura na vida de Harry. No decorrer do mês seguinte, ele foi apresentado a um grupo de pessoas que não acreditava no acaso, e para as quais a descoberta do bracelete tinha um significado especial. Por fim, acabaria conhecendo' também ensinamentos que, para ele, apresentariam um novo modo de ver e lidar com a realidade. E, finalmente, Harry foi adotado/iniciado pelo grupo ao qual ele sempre chamou de A Organização.

O jovem mencionado nessa narrativa era Harry Leland Loring King, meu pai, e foi assim que ele me contou a história. Por intermédio dele, também me associei à Organização, embora a chame por outro nome. Sinto que o conhecimento obtido por meio dessa afiliação é tão importante para a saúde e felicidade, tanto em escala individual quanto mundial, que quero partilhá-lo com você de uma forma que o torne uma realidade viva em sua vida cotidiana.

Mas, antes, gostaria de lhe falar um pouco sobre mim e o grupo. Alguns dos leitores podem achar difícil acreditar naquilo que vou dizer, e se quiserem ouvir-me com um pé atrás, não me incomodo. O verdadeiro prato servido pelo livro começa no capítulo 2, e quem quiser poderá ir direto para ele. Outros, porém, talvez se beneficiem ao compreender que há visões do mundo e algumas coisas acontecendo na vida muito diferentes daquilo que a maioria de nós, no Ocidente, é levada a acreditar.

Minha primeira lembrança de algo relacionado ao grupo de que estou falando é de quando eu tinha 7 anos, e meu pai me leu uma carta de um homem que, segundo ele, "observava o meu desenvolvimento". Nunca conheci tal homem, mas, mais ou menos naquela época, comecei a cultivar um intenso interesse por astronomia, que nunca diminuiu. De meu pai, herdei uma profunda paixão por ciência e pela natureza, e aprendi muitas lições práticas sobre o poder da mente. Quando estava com 14 anos, meu pai me iniciou no grupo e disse que eu seria procurado por outros professores, com o passar do tempo. Um ano após a morte dele, enquanto eu fazia o primeiro ano de faculdade, fui contatado por um homem do grupo que me disse que, por algum tempo, eu seria mais tutorado através de meus sonhos. Na época, eu estava mais interessado na sobrevivência física, por isso não dei muita importância à informação. Em vez de fazer o segundo ano da faculdade, alistei-me na Marinha e mudei-me para a Califórnia. Poucos meses depois, fui procurado por outra pessoa do grupo, e passamos a nos encontrar regularmente durante todo tempo que durara meu alistamento. Entre outras coisas, fui orientado para um estudo de arqueologia e técnicas de examinar o passado distante. Pouco antes de terminar meu período militar, fui ordenado kahuna da Ordem de Kane, tema ao qual voltarei mais adiante. Nos cinco anos seguintes, meus estudos "extracurriculares" se centralizaram em antropologia, filosofia e religião.

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Em 1964, já tinha constituído família, e trabalhava para uma Agência Voluntária Americana, administrando programas de assistência e desenvolvimento no oeste da África. Lá, fui contatado por um membro africano do grupo, e com sua ajuda vivi alguns dos anos mais aventurosos de minha vida. Na África, envolvi-me profundamente com as técnicas de mudança social e a natureza da força vital, particularmente em sua aplicabilidade à cura. Enquanto trabalhava com os aldeãos e os burocratas do governo, promovendo o desenvolvimento socioeconômico, comecei a ver como as abordagens mais ortodoxas eram ineficazes para induzir qualquer tipo de mudança duradoura. O jeito ortodoxo — e isso se aplica à medicina, psicoterapia e educação, bem como às questões socioeconômicas — é estabelecer um método garantido, certo, lógico e inflexível de operação, e aplicá-lo como lei.

Isso ficou maravilhosamente explícito numa experiência que observei em um encontro entre militantes do Corpo de Paz e uma repartição governamental local para o desenvolvimento comunitário. Os membros do Corpo de Paz estavam muito desgostosos com o modo como o governo local estava lidando com o programa de desenvolvimento, pois este não funcionava naquele campo. Em outras palavras, o método não estava resultando nas mudanças desejadas, e a visão do Corpo de Paz era de que o governo não levava em conta o que os aldeãos sentiam. Um porta-voz do governo ficou muito irritado e disse: "Não há nada errado com o método. Ele foi elaborado com muita reflexão e é perfeitamente apropriado para a situação. Não há nada errado com o método. São as pessoas que devem mudar!" Ele bem podia falar em nome de todos os ortodoxos, de qual-quer lugar e época.

Mas, um sistema assim não funciona muito bem por muito tempo, principalmente porque as pessoas mudam continuamente. Pode parecer um paradoxo à primeira vista, mas um sistema rígido imposto de fora realmente pressupõe que as pessoas não mudam, e que há menos variedade em suas necessidades do que de fato há. Trabalhando diretamente com as necessidades sentidas pelas pessoas, no contexto de suas situações, pude apresentar uma abordagem flexível de desenvolvimento que teve grande sucesso. Realizei coisas que o governo local, o governo federal norte-americano, e às vezes até o Corpo de Paz e os próprios aldeãos achavam, a princípio, impossíveis. E o fiz com poucos recursos e alguns simples e básicos conceitos. O que descobri em meus anos de treinamento individual é que os mesmos princípios básicos se aplicam ao desenvolvimento pessoal bem como ao desenvolvimento social e econômico.

No que diz respeito à cura, tive o privilégio na África de estabelecer uma profunda interação com vários curandeiros tradicionais que realmente conheciam seu ofício. Eles me ensinaram algumas coisas fascinantes sobre o que os pesquisadores modernos chamam de campos e correntes de bioenergia, e também sobre as relações entre mente e corpo, e entre corpo e desenvolvimento. Aprendi que é possível para qualquer um tornar-se consciente da fonte de energia emocional, aumentá-la, direcioná-la e usá-la para curar a si próprio ou outras pessoas. O que mais me impressionou foi o conhecimento de que as emoções podem curar ou ferir. Comecei a usar essa ideia em minha família, depois ensinei a eles como aplicá-la livremente sozinhos. Agora, ensinamos os outros.

Ao voltar para os Estados Unidos, em 1971, fiz contato com um homem a quem chamarei de WK, o qual eu conhecera numa viagem anterior. WK é um kahuna havaiano, e o que ele me ensinou nos três anos seguintes mudou profundamente a minha vida e me permitiu ajudar muitas outras pessoas a conseguir melhoras duradouras em todo aspecto de suas vidas. Os temas eram suficientemente simples: amor, imaginação, crenças e a natureza do sucesso. Mas a compreensão que WK tinha deles era diferente de tudo o que normalmente é ensinado nesta sociedade. Comecei a ver que sua visão se refletia em minha experiência pessoal. Percebi que havia nela algo a ser compartilhado. O jeito como eu queria fazer isso, porém, causou uma calorosa discussão. Por vários motivos, há muito tempo os kahunas de minha ordem fazem seu trabalho de maneira privada, longe do olhar

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do público. Minha noção era incomum, mas finalmente foi concordado que eu deveria fundar uma nova ordem para o propósito de ensinar publicamente o conhecimento Huna. O resultado foi a Order of Huna International (Ordem de Huna Internacional), fundada em 1973 e registrada pelo estado da Califórnia como uma ordem religiosa não-sectária e sem fins lucrativos.

Entretanto, Huna — o nome comum dado ao conhecimento kahuna — não é uma religião. É uma filosofia de realizações que pode ser aplicada em qualquer contexto: religioso, científico, social ou pessoal. Os próprios membros da Huna International não precisam abandonar sua fé tradicional para entrar na ordem, e isso inclui os kahunas. Temos cristãos Huna, judeus Huna, budistas Huna, muçulmanos Huna e assim por diante, e todos chegando à conclusão de que Huna aumenta a apreciação de suas origens religiosas. Qualquer que seja a sua religião, você é afetado pela gravidade. O conhecimento Huna é essa base. O motivo pelo qual as pessoas entram para a ordem é participar de um empreendimento mutuamente cooperativo e benéfico, pois estamos tornando esse conhecimento acessível a todos. Nosso lema é tirado de uma antiga aclamação que os kahunas havaianos faziam do alto de uma torre, e que era um oráculo: Que aquilo que é

desconhecido se torne conhecido!

Entre 1973 e 1992, a Huna International se desenvolveu numa organização mundial de pessoas praticando e partilhando conhecimento Huna, e sua base de operações mudou para uma antiga sede de sabedoria — a ilha de Kauai, no estado do Havaí. A partir de lá, grande variedade de projetos foi iniciada:

Aloha International— educação e contatos.

Hawaiian Shaman Training — cursos e aulas (treinamento xa- manista).

Kino Mana — cursos de trabalhos corporais havaianos.

Kauai Village Museum — exibições e exposições culturais havaianas.

Finding Each Other International — contatos para desenvolver relacionamentos. Voices ofthe Earth — um fórum para povos nativos.

Além desses, existem agora novos capítulos, professores e conselheiros em todo o mundo.

Talvez você esteja pensando agora: "Afinal, o que é esse Huna e o que é um kahuna?"

Huna é uma palavra havaiana que significa "aquilo que é oculto, ou não óbvio". As vezes,

nós chamamos a isso de Conhecimento Oculto, ou a Realidade Secreta. A ideia não é que alguém propositalmente a esconda, mas apenas que ela é difícil de ver. O termo kahuna pode ser traduzido como "um transmissor do segredo" e era usado originalmente para designar aqueles que pertenciam a uma ordem que praticava e ensinava o conhecimento. No Havaí moderno, porém, a palavra é usada para tudo, desde um sacerdote ou ministro ocidental até curandeiros e paranormais comuns, e também para charlatões que exploram os crédulos. Aqui, nós o usamos em seu sentido original.

Entre as pessoas que conhecem Huna atualmente, a maioria só tem conhecimento das obras de Max Freedom Long sobre o tema. Max Long foi um estudante de psicologia, religião e ciência psíquica que fez um brilhante trabalho de desvendar boa parte do conhecimento Huna codificado na língua havaiana. Os poucos erros e distorções que aparecem em seu trabalho inicial são compreensíveis, considerando que ele nunca teve uma oportunidade de discutir suas descobertas com um kahuna. Na época em que ele vivia no Havaí, no início do século XX, era contra a lei ser ou afirmar ser um kahuna, e isso perdurou até tempos relativamente recentes. É admirável que Long tenha realizado tanto, baseando-se apenas em histórias, superstições e conhecimento distorcido. Felizmente, ele

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tinha o tipo de raciocínio excelente em fazer correlações com conhecimentos de outras

áreas e culturas, e foi capaz de enxergar através da distorção em sua maior parte.

Para expandir um pouco mais a sua mente, gostaria de lhe passar um pouco da história da filosofia Huna. Dizem que a história é mais um reflexo do presente que do passado, porque os historiadores tendem a escrever sobre o passado em termos do que a atual geração está disposta a aceitar. O que as pessoas não aceitam não será escrito, ou pelo menos não publicado. À medida que a sociedade muda, também mudam os livros de história. Um exemplo menor é a história dos negros nos Estados Unidos. Antes do movimento pelos direitos civis, a história deles era inexistente. Nada era ensinado nas escolas, ninguém estudava a respeito, e para todos os efeitos não existia tal coisa na mente das pessoas, mesmo as negras. Hoje se sabe que houve muitos negros americanos heroicos e importantes, e os livros de história estão sendo reescritos; mas somente porque a sociedade está disposta a olhar nessa direção.

Boa parte do que é escrito como história não passa de palpite, com o historiador desempenhando o papel de um detetive que viaja no tempo e cujas pistas são esparsas. Quanto mais distante você mergulha no passado, mais esparsas são essas pistas. Se há registros históricos, eles ajudam, como os hieróglifos no Egito; mas muitos povos têm histórias orais que indicam o início de suas civilizações num passado muito mais remoto do que os historiadores modernos gostariam de admitir. Essas histórias geralmente são consideradas mitos ou lendas, com a implicação de que provavelmente não são verdadeiras.

A história que vou contar é parcialmente oral e parcialmente registrada. Mas a parte registrada não existe de uma forma escrita que você entenderia. Você talvez se surpreenda ao saber que algumas pessoas podem "ler" figuras pintadas em sequência e desenhos entalhados em cavernas com a mesma facilidade com que você lê esta página. De qualquer modo, esta é a história de uma filosofia que me foi contada por WK. Se você a achar inaceitável como fato, pense nela como uma tradição. Isto não afetará a sua habilidade para usar o conhecimento Huna.

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"Em algum lugar no passado, muito tempo antes da ascensão de Atlântida, uma raça de homens chegou a este sistema solar, vinda de um grupo de estrelas conhecido como as Plêiades. Alguns aterrissaram na Terra e outros em outro planeta que não existe mais. Naquela época, a Terra ficava mais próxima do Sol e a duração do ano era de exatamente 360 dias. Os homens que vieram das estrelas fugiam de uma catástrofe, e tinham a intenção de encontrar paz na Terra. O processo foi lento, porém, pois encontraram aqui outros homens, remanescentes de uma civilização anterior que se havia dizimado. Tam-bém encontraram dinossauros inteligentes, e surgiram muitas batalhas por controle territorial.

Finalmente, a maior parte dos homens das estrelas se estabeleceu num continente no Pacífico, conhecido hoje em lendas como Mu. Eles chamavam a si próprios de Povo de Mu, mas outros os chamavam de Manahuna ou Menehune, 'o povo do poder secreto', por causa de sua tecnologia avançada e de seus poderes psíquicos. Eram indivíduos pequenos, com aspecto de pigmeus pelos padrões modernos, e muito laboriosos. Ó conhecimento deles era Huna, uma filosofia para se viver com sucesso. Quando perceberam estar assentados em segurança, começaram a ensinar esse .conhecimento aos homens da Terra. Como muitas línguas eram faladas e a língua deles era parcialmente telepática e difícil de aprender, os professores de Mu criaram uma nova língua, bem mais fácil. Esse idioma era estruturado para conter o conhecimento Huna de forma a garantir sua sobrevivência enquanto a língua permanecesse em uso. Hoje, conhecemos essa língua como polinésia, e traços dela são encontrados no mundo todo.

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Vinham homens ao continente de Mu para aprender, e Mu também enviava missões

de professores a outras partes do mundo para montar escolas de vários tipos. Um bom número de casamentos interraciais ocorreu entre o povo de Mu e seus vizinhos, resultando em crianças possuidoras de habilidades genéticas e memórias de seus pais nascidos nas estrelas.

Gradualmente, aqueles que estudavam com o povo de Mu foram sendo organizados em três ordens diferentes, cada uma praticando o conhecimento Huna com ênfase um pouco diferente. Usando termos em inglês, as ordens poderiam ser chamadas de

Intuitionists (Intuitivos), lntellectuals (Intelectuais) e Emotionals (Emocionais).

De modo geral, os Intuitivos se desenvolveram no que chamaríamos de místicos, metafísicos e psicólogos ou psicoterapeutas. Os Intelectuais se tornaram o equivalente dos cientistas, técnicos e engenheiros. Os Emocionais eram mais interessados em atividades políticas, econômicas e atléticas. Os três tipos utilizavam em seu trabalho habilidades psíquicas treinadas, e cada grupo ensinava e praticava várias formas de cura física.

A parte básica da filosofia Huna é que todo ser humano tem habilidades psíquicas. As ordens treinavam as pessoas em seu uso consciente e disciplinado. No entanto, havia pessoas na Terra antes da chegada do povo de Mu que sabiam usar esse poder à vontade; e ainda hoje existem indivíduos sem a menor ligação com as ordens que podem usar esses poderes psíquicos da mesma maneira.

Por muitos séculos, as coisas estavam indo bem na Terra e uma civilização mundial estava sendo formada, quando o povo de Mu cometeu um erro fatal. Eles vinham mantendo contatos regula- res com seus irmãos que se haviam instalado no outro planeta deste sistema solar, mas, com o passar do tempo, viraram as costas para eles, concentrando-se somente na Terra. Chegou um momento em que o planeta irmão começou a enviar desesperados pedidos de ajuda. O povo de lá estava à beira da autodestruição, e havia a necessidade de uma rápida intervenção. Infelizmente, o povo de Mu, na Terra, ficara complacente e não queria que nada perturbasse sua paz; por isso, não deram ouvidos aos apelos e tentaram fingir que não lhes diziam respeito. Tal ato era contrário à sua própria filosofia.

Sem que nada pudesse impedi-las, as pessoas do outro planeta criavam cada vez mais terríveis armas de destruição para usar contra os outros até o momento horrível e derradeiro. Chegaram a um ponto em que destruíram todo o planeta, num enorme cataclismo que abalou o sistema solar. O completo desaparecimento de um planeta inteiro causou imenso desequilíbrio, mas as forças da natureza tentaram corrigi-lo. Com isso, as órbitas dos planetas remanescentes foram perturbadas e o efeito sobre a Terra, foi devastador. Nosso planeta foi arremessado para uma nova órbita, um pouco mais distante do sol, e a força da mudança acarretou intensa atividade vulcânica e sísmica. Velhas terras afundaram no mar em alguns lugares, e novas terras subiram em outros. O nível de morte e destruição era indescritível.

Com o retorno de uma pequena estabilidade, os sobreviventes observavam uma nova Terra. O continente de Mu não existia mais. Apenas algumas ilhas espalhadas ainda permaneciam intactas, num oceano imenso e vazio. Em todo o mundo, as pessoas revertiam a uma sobrevivência primitiva e iniciavam a árdua escalada de volta à civilização. Em muitos lugares, o povo de Mu era responsabilizado pelo que acontecera, e tinha de se esconder para não ser perseguido. Esses grupos esparsos e solitários deram origem às histórias dos mágicos "pequeninos" (little people) encontradas em quase todas as culturas. As ordens que tinham criado continuaram sem eles, exceto por um raro contato com um número muito limitado de adeptos.

Outras civilizações se desenvolveram e caíram. Entre elas, os brilhantes atlantes, que quase alcançaram o domínio do mundo, numa imitação menor de Mu, mas que acabaram aniquilando-se numa guerra que os enviou para o fundo do oceano. Enquanto isso, a

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tradição de Huna era mantida viva por pequenos grupos que inseriam o ensinamento na

cultura do lugar onde se instalavam. A maioria deles perdeu o contato entre si, mas todos continuavam a ensinar, curar e treinar. Em alguns casos, foram capazes çlè manter intacta a simplicidade de Huna, mas em outros houve tamanhas distorções que o conhecimento fundamental foi praticamente perdido, e boas práticas eram realizadas com uma falsa compreensão de sua natureza.

Após a perturbação causada pela queda de Mu, sobreviventes na Bacia do Pacífico, aos quais hoje chamamos de polinésios, aos quais reuniram-se em dois lugares para reconstruir suas cidades — Samoa e as Ilhas Sociedade. Entre eles, havia membros das três ordens que atuavam como sacerdotes, curandeiros e especialistas técnicos. Só os Intuitivos mantinham contato com seus colegas no resto do mundo. Lentamente, desenvolveram sua tecnologia até o ponto de poderem construir grandes embarcações a vela, capazes de transportar cem pessoas ou mais, e partiram para explorar o que sobrara de Mu. A maioria permaneceu dentro dos toscos limites do velho continente, só ocasionalmente se aventurando nas terras fronteiriças.

O grupo que conseguiu ir mais longe, fora das fronteiras continentais, foi o dos maoris, que se assentaram na Nova Zelândia. O nome maori significa "o povo verdadeiro" ou os habitantes originais, referindo-se tanto à origem do velho continente de Mu (como descendentes mistos da raça estelar) quanto ao fato de serem os primeiros a se estabelecer nas novas terras descobertas. Em pouco tempo, eles perderam contato com os outros polinésios e, exceto pela lembrança em velhos cânticos e entoações, os dois grupos foram esquecendo-se entre si, até que os exploradores ocidentais os unissem novamente.

Outro grupo, seguindo antigas informações navegacionais contidas em antigos cânticos tradicionais, se fez ao norte a partir do Taiti e das Marquesas para aportar e se assentar nas ilhas havaianas. A primeira ilha onde aportaram foi Kauai, a mais antiga das ilhas principais, e lá eles descobriram alguns dos habitantes Menehune originais, aos quais também chamavam de Mu. Esse povo Mu era muito tímido, mas não belicoso, e às vezes ajudava os recém-chegados. Eles tinham templos de pedra e aquedutos, e eram especialistas em irrigação e construção de lagoas para peixes. Por muitos anos, os dois povos conviveram muito bem, e houve um bom número de casamentos inter-raciais. Foi essa última questão, porém, que levou o rei de Mu a tomar uma decisão dura. Ele percebeu que, se o casamento inter-racial continuasse, o povo de Mu deixaria de existir como grupo separado, por isso resolveu que deveriam ir embora. Diz a tradição que numa noite todo o povo de Mu partiu do extremo norte de Kauai, mas ninguém sabe como ou para onde foi.

A princípio, as três ordens de kahunas no Havaí viviam em base de igualdade, e o comércio continuava entre o Havaí, Samoa e Taiti. No século XIII d.C., porém, um kahuna sedento de poder, da ordem dos Emocionais, veio de Samoa para ajudar ostensivamente na reorganização dos Emocionais do Havaí. Em pouco tempo, ele conseguiu o controle religioso e político das ilhas, o que resultou na perda de contato entre o Havaí e o resto da Polinésia; a construção dos grandes veleiros marítimos foi interrompida, as escolas de navegação e astronomia foram abandonadas e as pessoas se tornaram sujeitas a uma religião de superstição e restrição. A ordem dos Intelectuais foi a que mais sofreu, e muito conhecimento foi perdido. Os Intuitivos, na maioria, foram obrigados a se esconder, e um número cada vez maior de Emocionais recorria a práticas distorcidas. Por seiscentos anos, o povo do Havaí sofreu a repressão de um governo autoritário, do terrorismo psíquico e da desordem social. Na época da chegada do capitão Cook, todas as ilhas estavam em guerra. A natureza idílica da vida polinésia era, na verdade, um grande mito perpetuado por estrangeiros que não enxergavam além da superfície.

Enquanto tudo isso acontecia, um pequeno grupo de Intuitivos mantinha contato telepático com o resto de sua ordem espalhada pelo mundo, e se satisfazia em trabalhar nos bastidores do cenário mundial para a paz da humanidade. Agora os tempos mudaram,

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e, por causa da rapidez de comunicação, da expansão da consciência em boa parte do

mundo, e do crescente entendimento das realidades alternativas, começa-se a sentir que o conhecimento de Huna precisa ser difundido ao máximo e à maior distância possível."

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CAPÍTULO 1

Os Kahunas

Desde os tempos das primeiras explorações europeias no Oceano Pacífico, o mundo ocidental acalenta uma imagem romântica dos Mares do Sul, baseada no conceito de uma sociedade primitiva simples, livre de preocupações. Tem sido o sonho de muitos homens abandonar o fardo do trabalho e da família e fugir para uma ilha tropical onde só o que você tem a fazer é deitar-se numa rede, bebendo ponche de frutas, enquanto os nativos de aparência infantil cuidam de todas as suas necessidades. Outra atitude ocidental, menos romântica, é que antes das bênçãos da civilização, os habitantes das ilhas eram selvagens ignorantes, dominados por medos supersticiosos e por uma sensualidade indisciplinada. Paralela a essa atitude é a ideia de que essas pessoas não tinham um pensamento filosófico nem conceitos abstratos, não conheciam a arte, exceto para decoração, não possuíam livros e certamente não dispunham de nenhum tipo de ciência ou tecnologia que valesse a pena mencionar.

A verdade, porém, estabelecida por pesquisa científica em muitas áreas, é que as sociedades da Polinésia eram tão complexas quanto a nossa: seus códigos morais, éticos e legais eram igualmente estritos; sua arte e literatura tão ricas quanto as nossas; e sua ciên-cia, igualmente especializada. Entretanto, a orientação na qual tinham desenvolvido esses aspectos era muito diferente. Como indicam os modernos psicólogos sociais, se tentarmos julgar as realizações de outras culturas usando a nossa como padrão, arriscaremos distorcer esse julgamento e limitar severamente qualquer benefício que poderíamos receber do contato com a cultura em questão. E a cultura da Polinésia tem aspectos que nos podem beneficiar em todas as esferas da vida.

O Povo da Polinésia

Polinésia é um termo aplicado igualmente a uma área geográfica e a um povo que

partilha da mesma origem histórica, linguística, cultural e física. A área geralmente é definida como um triângulo que se estende da Nova Zelândia no sudoeste do Pacífico ao Havaí, no norte, descendo até a Ilha de Páscoa, sudeste, e de volta à Nova Zelândia. E uma área imensa, maior que o continente sul-americano, e salpicada de ilhas vulcânicas e de corais, geralmente separadas a uma distância de 3,2 quilômetros entre si. O mais notável é que toda essa área fora explorada e colonizada, e havia comércio regular entre as ilhas por centenas, talvez milhares, de anos antes de Colombo atravessar o Atlântico.

O povo dessa área, os polinésios, inclui os maoris, samoanos, tonganeses, taitianos, marquesanos, havaianos, pascoenses e outros, cujos nomes nos tempos modernos se baseiam em suas regiões. Embora esses grupos sejam separados por vastas distâncias, e em alguns casos não mantenham contato entre si há séculos, há menos diferenças entre eles do que entre vizinhos próximos como os franceses e alemães. Um Maori de nariz fino

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e um havaiano de nariz grosso podem não parecer irmãos, e seus estilos de vida moldados

ao ambiente podem variar muito, mas eles compartilham da mesma língua básica, dos heróis culturais, das lendas e do conhecimento interior. E aceitam uns aos outros como descendentes da mesma raça original, como descobriu Peter Buck, um explorador mestiço maori, viajando para outras ilhas que não tinham sequer na memória o registro de contato com um "polinésio" de fora.

Uma questão ainda não resolvida pelos antropólogos é qual seria a terra natal dos polinésios, além da questão da rota por eles tomada para chegar ao seu atual lar. A teoria moderna mais aceita é que eles vieram da Indonésia, ou possivelmente da índia, e passaram pelos grupos de ilhas da Melanésia e Micronésia, no oeste do Pacífico, no caminho. Essa teoria se baseia em parte em algumas semelhanças linguísticas menores, na suposta origem de muitas plantas usadas pelos polinésios, em algumas similaridades tecnológicas e na noção de que, como tinham de vir de algum lugar, a origem mais provável seria a Ásia.

Max Freedom Long e outros propuseram que a terra natal dos polinésios ficaria no Oriente Próximo. Long baseou sua idéia numa história sem comprovações contada por um inglês que vivera com uma tribo berbere no Saara. Essa tribo afirmava ter pertencido a um grupo que tinha construído as pirâmides do Egito; eles se haviam separado do resto do grupo que buscava uma nova terra no Pacífico. Eu passei, porém, quatro anos e meio, inciò é vindo, com os berberes, e não fui capaz de verificar tal tradição. Mais importante ainda, Long usou, de maneira impressionante, estudos linguísticos para mostrar que o conhecimento kahuna foi incorporado em partes do Antigo e do Novo Testamento da Bíblia. Ele foi mais longe ainda e traçou uma rota dos grupos com destino ao Pacífico, descendo até o Mar Vermelho, ao longo da costa da África até Madagascar (cuja língua tem afinidades com o polinésio), atravessando o oceano e até a índia e de lá através da Indonésia até o Pacífico, usando semelhanças filosóficas como seu principal argumento. Entretanto, outra terra nativa para os polinésios foi proposta por Thor Heyerdahl, de renome Kon Tiki, que tentou provar de uma maneira prática que os polinésios poderiam ter vindo da América do Sul.

Como observamos no prólogo, meu mentor kahuna, WK, tem uma versão bastante diferente, apoiada por pesquisadores como James Churchward, autor de vários livros sobre o continente de Mu, e Leinani Melville, autor de Children ofthe Rainbow (Filhos do Arco- íris). Segundo essa versão, a Polinésia seria a fonte de semelhanças culturais em outro lugar e não o recipiente final. Obvio que pode haver dúvida tanto com relação a essa teoria quanto a qualquer outra, mas esta tem a virtude de ser uma versão polinésia e responder a muitas perguntas. Ela explica, por exemplo, por que os navegadores polinésios, extremamente habilidosos, nunca colonizaram nenhuma área fora do triângulo mencionado aqui, e de que forma os subgrupos como os maoris na Nova Zelândia podiam ter antigos cânticos de navegação com instruções para viagens de barco até o Havaí. Também explica por que os grupos como os maoris, havaianos epascoenses falam em suas lendas sobre pessoas que já viviam nas ilhas quando eles lá chegaram. Na língua havaiana, essas pessoas eram até chamadas de Mu, e há muitas histórias sobre conflitos e cooperação com eles. Na ilha de Kauai, no arquipélago havaiano, vi pisos em templos e trabalhos de alvenaria que se assemelham muito mais aos estilos de construção pré-incas do que a qualquer outra coisa construída pelos primeiros colonizadores polinésios. Eles teriam sido construídos pelo povo de Mu, também conhecido como os Menehune.

O Sistema Kapu

A questão da origem talvez nunca seja satisfatoriamente resolvida para todos, mas é um fato que os polinésios já estavam lá quando os europeus chegaram na Polinésia. Entre outras coisas, os primeiros exploradores ocidentais encontraram um poderoso grupo de indivíduos conhecidos como kahunas, que eram os líderes religiosos, mestres artistas e

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artesãos, médicos, advogados, professores e conselheiros políticos da sociedade. Eles e as

famílias dos chefes governavam o povo através de um sistema que seria chamado de kapu, embora a maioria dos ocidentais esteja mais acostumada com a forma tongonesa da palavra, tabu ou taboo.

O sistema kapu tem sido muito difamado, porque nunca foi bem compreendido. À palavra kapu foi associado o significado de "proibido" e ela passou a ser interpretada como um misterioso alerta a respeito de coisas que escapam ao domínio da razão. Uma com-preensão mais completa da palavra, porém, incluiria também os sentidos de "sagrado, santo ou consagrado". O sistema kapu era na verdade um código de leis, necessário para que qualquer sociedade funcione de maneira ordenada. Um certo bosque ou um local de pesca especial podia ser declarado kapu durante uma ou mais temporadas, para não ser superexplorado, por exemplo. Não seria diferente de nossas atuais temporadas regulamentadas de caça e pesca, mas essa visão ambiental era totalmente desconhecida pelos primeiros visitantes europeus à Polinésia, os quais não entendiam por que uma árvore ou local era kapu e outro não era. Certas partes de um templo ou pedaços de terra também podiam ser declarados kapu porque~eram reservados para uso sacerdotal ou dos chefes. O caminho até esses lugares era marcado por um par de varetas cruzadas, encimadas por uma bola de pano branco, e os nativos se recusavam a transpor esses indicadores porque a quebra de um kapu era severamente punida. Entretanto, o mesmo europeu que hesitaria muito antes de violar um sinal da Coroa em seu país, como "Não se aproximar" ou "Proibida a entrada", achava que o nativo da ilha agia apenas por superstição.

Os kapus mais difíceis de entender para o estrangeiro eram, lógico, aqueles relacionados aos costumes. Em algumas partes da Polinésia, havia um kapu punível com morte que proibia que a sombra de uma pessoa comum se projetasse sobre um chefe. A princípio, tal coisa parece a mais absurda superstição, mas o estrangeiro provavelmente não saberia que a palavra para sombra também significava "riso", e que o evento acima mencionado podiãser interpretado como desrespeito ou lese majeste. Outro kapu proibia que as mulheres comessem bananas, porque a palavra para banana é parecida com o termo para genitais, e o ato seria tão ofensivo quanto o uso de palavrões de conotação sexual em público nos Estados Unidos.

O kapu, portanto, formava a base para o sistema legal polinésio. Em sua melhor aplicação, ele reforçava a coesão e a produtividade da sociedade, mas o sistema podia ser — e freqüentemente era — usado por chefes e sacerdotes gananciosos para exploração política e econômica. Não raro, as rebeliões sociais e/ou emigrações eram inspiradas por

kapus exageradamente restritivos impostos ao povo pelos líderes. A severidade dos kapus

empregada por Kamehameha, o Grande, a exploração desmedida desses kapus por parte de certos sacerdotes kahuna e a má interpretação psíquica de um líder kahuna oportunista foram alguns dos principais motivos pelos quais todo o sistema kapu no Havaí foi tão facilmente derrubado na época do filho de Kamehameha.

Os Kahunas do Havaí

Como tenho mais experiência com os kahunas havaianos do que com os tahunas taitianos ou os tohungas dos maoris, a seção seguinte tratará do sistema havaiano, com base no registro histórico e nas discussões com WK.

Quando ancorou na costa a sotavento de Kauai em 19 de janeiro de 1778,o capitão James Cook rompeu um isolamento de seiscentos anos das ilhas havaianas do resto do mundo. Ao contrário da crença popular, porém, o capitão Cook e os que vieram depois não invadiram uma simples ilha paradisíaca. A beleza dessas ilhas vulcânicas era, de fato, espantosa, e quando os habitantes eram amistosos, o eram de verdade. Mas os havaianos não eram inocentes incorruptos nem selvagens ignorantes. A sociedade deles era

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estru-17

turada como um pleno sistema feudal, e Cook chegou em meio a um violento tumulto

social e político. Após o breve choque inicial do contato, os europeus e sua superior tecnologia foram rapidamente explorados, com propósitos políticos, pelos pragmáticos líderes havaianos, incluindo os kahunas.

Nos livros de história, muito se fala do capitão Cook, e de como pensaram ser ele o deus Lono, retornando às ilhas. De acordo com o historiador havaiano Kamakau, o povo de Kauai ficou surpreso e assustado diante da visão inédita dos navios britânicos desembarcando na costa. As pessoas não tinham idéia de quem estava nos navios. Foi um kahuna, Kuohu, que chegou à conclusão de que os barcos deviam ser o templo e os altares de Lono porque os mastros e as velas pareciam a haste e as flâmulas usadas numa cerimônia anual dedicada àquele deus. Cook e seus homens desceram na praia para uma curta visita e depois partiram para a América. A notícia se espalhou rapidamente pelas ilhas, e quando Cook retornou e parou na baía de Kealakekua, na Ilha Grande do Havaí, o palco estava montado para uma manobra política incrivelmente astuta, que teria dado certo se Cook não tivesse ficado lá muito tempo.

A segunda chegada de Cook ocorreu numa área consagrada a Lono, e foi perto do fim do festival anual dedicado a ele. Não há registros do que vou sugerir e WK diz que não conhece nenhuma tradição que confirme ou negue, mas a coincidência do momento e local onde Cook aportou, na segunda vez, é tão grande que, desconfio, houve a mão dos kahunas por trás. Como veremos mais adiante, eles sem dúvida tinham a capacidade de saber, por clarividência, onde Cook estava e de enviar a ele mensagens telepáticas para guiá-lo até a baía onde milhares de pessoas se reuniam para o festival de Lono. Em seu diário, Cook escreveu que nunca tinha visto tanta gente reunida, em nenhuma das ilhas. Uma vez que o rei da ilha do Havaí estava no processo de consolidar seu poder sobre o povo, como parte de sua campanha de guerra contra Maui, fora provavelmente por sugestão de seus conselheiros kahunas que Cook foi aclamado como o próprio deus Lono, vindo para emprestar seu mana (poder divino) ao lado que obviamente estava certo. Os chefes e os kahunas não eram tolos. Podiam reconhecer uma tecnologia superior, por mais estranha que fosse; conheciam um homem quando o viam; e também sabiam como aproveitar uma oportunidade. Infelizmente, quanto mais tempo Cook se demorava na ilha, mais difícil ficava manter a farsa de que ele era um deus. Quando finalmente partiu, depois de algumas semanas, não disfarçaram o alívio. Infelizmente, porém, Cook teve de voltar uma semana depois para consertar um mastro quebrado. O festival já tinha acabado, o povo estava disperso, e a recepção a Cook foi fria. As relações entre os havaianos e europeus se deterioraram rapidamente nas duas semanas seguintes, até que Cook resolveu fazer de refém a altamente sagrada pessoa do rei por causa de um pequeno roubo por parte de um de seus súditos. Uma batalha eclodiu na praia e Cook foi morto. A questão aqui é que a designação de Cook como o deus Lono foi apenas uma farsa politicamente inspirada para favorecer o regime do. rei Kalaniopuu. Os chefes e kahunas sabiam o que estavam fazendo, mas àquela altura da história havaiana a "religião estatal" era apenas uma ferramenta política usada para aumentar o poder dos chefes e certos sacerdotes, e explorar as massas.

A medida que mais europeus começavam a visitar as ilhas, ouviam histórias sobre os estranhos poderes exercidos por determinados indivíduos conhecidos como kahunas. Histórias de telepatia, clarividência, cura pelo toque, provocar morte a distância e caminhar sobre lava incandescente se misturavam a observações de cerimônias exóticas e cânticos, à prática de massagem e medicina de ervas, e à aparente veneração de ídolos grotescos. Era fácil rotular essas histórias como pura superstição, até alguém ficar diretamente envolvido, numa experiência pessoal. Então, tornava-se óbvio para o indi-víduo inteligente que algo de fato acontecia por trás da fachada religiosa. Não havia dúvida de que pelo menos alguns kahunas eram capazes de coisas que pareciam desafiar as leis físicas. Quanto mais tempo se vivia nas ilhas, mais se aprendia a aceitar esse fato.

Entretanto, por causa de quatro fatores principais, não era fácil descobrir o que realmente estava acontecendo. O primeiro era a relutância natural do cidadão ocidental, treinado em ciência, em aceitar tais habilidades como algo possível. Se fizesse isso, ele

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estaria regressando à Idade das Trevas da magia e superstição que o mundo ocidental se

esforçava em deixar para trás. O segundo era a tendência natural dos visitantes de formação cristã para atribuir todas essas coisas à obra do diabo, pois de que outra maneira os pagãos ignorantes poderiam ter esses poderes?

O terceiro fator era que, na época da chegada dos primeiros europeus, as principais práticas kahunas eram muito corruptas, e a maior parte do antigo conhecimento fora perdida. Enquanto um pequeno grupo mantinha praticamente intactos os antigos ensinamentos, a maioria dos kahunas — especialmente aqueles envolvidos em política — tinha se degenerado a um mero sacerdócio cerimonial, com pouquíssimos membros que ainda sabiam os rudimentos de coisas como telepatia e clarividência. Isso se torna evidente na história de Hewahewa, sumo sacerdote de Kamahmeha II. Em 1819, pouco depois da morte de Kamehameha I, esse proeminente kahuna, responsável pela imagem do deus da guerra do rei, teve uma visão na qual distinguira representantes do que parecia ser um deus muito mais poderoso aportando nas praias do Havaí. Sem dúvida influenciado por sua familiaridade com a superior tecnologia européia e as histórias cristãs, Hewahewa acabou conquistando o apoio de colegas kahunas, chefes ambiciosos e esposas de reis insatisfeitas para obter a abolição do sistema kapu e depor os velhos deuses. Com isso, ele esperava conseguir as graças dos representantes do novo deus e ao mesmo tempo subjugar o poder de qualquer kahuna rival. Kamehameha II, diferentemente de seu pai, era homem de vontade fraca e, em novembro de 1819, cedeu às pressões de Hewahewa e seus seguidores. Com o ato aparentemente simples de se sentar para fazer uma refeição com as mulheres, Kamehameha II quebrou um sério kapu e abriu um precedente para chefes e cidadãos comuns. A notícia se espalhou por todo o arquipélago de ilhas, agora unido, e as pessoas, há muito oprimidas por kapus exageradamente estritos, começaram a dar vazão aos sentimentos, queimando e destruindo templos e estátuas. Um kahuna rival de Hewahewa tentou impedir isso, mas ele e seus seguidores foram massacrados em batalha. Por seis meses, depois disso, o Havaí foi uma terra sem religião e sem leis. Foi uma época de grande confusão, porque sem os kapus e sem os deuses, não havia diretrizes firmes para conduzir um governo nem segurança psicológica.

Finalmente, em 1820, os primeiros missionários cristãos de Boston aportaram onde Hewahewa disse que os tinha visto. Ele e seus colegas kahunas tinham trazido muitas pessoas aleijadas e doentes para o novo deus curar. Eles cantaram uma canção de boas vindas e pediram aos missionários que mostrassem o poder do novo deus, curando os necessitados. Obvio que os missionários não podiam fazer isso, e, depois de muita confusão de ambos os lados, Hewahewa foi obrigado a compreender que tinha interpretado erroneamente sua visão e destruído toda a estrutura formal religiosa e legal de sua nação por nada. Ele é conhecido nos livros de história como Hewahewa, mas esse pode não ter sido seu nome verdadeiro. Os havaianos sempre tiveram muito cuidado com a escolha de nomes baseada nos significados. Parece óbvio que o infeliz sumo sacerdote recebeu o nome de Hewahewa depois desse terrível engano, pois significa "o louco que não reconheceu o significado".

O quarto fator que interferiu na compreensão inicial do conhecimento kahuna foi a proibição de todas as práticas kahuna por parte dos missionários cristãos convertidos em políticos, tão logo tiveram o poder de fazer isso. De acordo com Max Long, que viveu nas ilhas enquanto essa lei era válida, a lei do Havaí sobre o uso de magia para cura determinava o seguinte:

''Seção 1034. Feitiçaria – penalidade. Qualquer pessoa que tente a cura de outra através da prática de feitiçaria, bruxaria, ana-ana, hoopiopio, hoounauna, ou hoomanamana (termos que descrevem práticas psíquicas), ou outras superstições ou métodos enganadores, deverá, quando acusada, pagar multa de uma quantia não inferior a cem dólares ou ser preso por no máximo seis meses, cumprindo trabalhos forçados." Há outra seção da lei que classifica o kahuna junto com os buncos e o define como alguém que se apresenta como kahuna, aceita dinheiro sob a alegação de ter poderes mágicos, ou

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admite que é um kahuna. Para tal coisa, a multa sobe para mil dólares ou um ano de

aprisionamento.1

Desnecessário dizer que isso era suficiente para levar todos os verdadeiros kahunas a se esconder, o que tornava extremamente difícil para um não-havaiano ter acesso ao conhecimento kahuna. Apesar da lei, porém, tanto os havaianos quanto os não-havaianos livres de preconceitos continuavam a procurar e receber ajuda de kahunas cuja identidade era bem protegida, e os pseudo-kahunas eram freqüentemente exibidos em cerimônias e para fins turísticos. Só recentemente a lei foi mudada, de modo que embora ainda preveja salvaguarda contra fraude, já não é mais crime ser ou afirmar ser um kahuna.

A autodestruição de suas tradições religiosas e o poderoso impacto do Cristianismo e da tecnologia ocidental fizeram a maioria dos havaianos rejeitar a influência e os ensinamentos kahunas. O conhecimento kahuna era tradicionalmente passado para um fi-lho natural ou adotado, cautelosamente; mas os fatores citados, além dos casamentos inter-raciais e a dizimação da população através de doenças introduzidas, deixaram um número muito pequeno de indivíduos ainda dispostos ou capazes de continuar com os passos de seus pais.

No entanto, em meio a toda dificuldade, continuou existindo um núcleo de kahunas ativos que continuava a praticar cura mental, emocional e física; a ajudar as pessoas a mudar o futuro; e até a praticar a grandemente temida "oração de morte". Nada menos que o curador do Museu Bishop em Honolulu, William Tufts Brigham, dedicou-se durante anos a tentar desvendar o segredo daquelas que ele sabia ser práticas kahunas válidas. Ele teve experiências pessoais de caminhar sobre o fogo, cura e oração de morte telepática, e se convencer, sem a menor dúvida, de que algum conhecimento altamente importante para a humanidade ainda esperava ser dominado. Sua busca nunca teve sucesso, mas, antes de morrer, ele deixou para Max Long um legado do que tinha aprendido, que pode ser assim resumido:

"Sou capaz de provar que nenhuma das explicações populares da magia kahuna tem fundamento. Não é sugestão, nem qualquer outra coisa conhecida na psicologia. Eles usam algo que nós ainda temos de descobrir, e é uma coisa de importância inestimável. Sim-plesmente, temos de descobrir. Revolucionará o mundo, se o fizermos. Mudará todo o conceito da ciência. É algo que traria ordem às crenças religiosas conflitantes...

Observe sempre três coisas no estudo dessa magia. Deve haver alguma forma de consciência por trás dela, dirigindo seus processos. Controle de calor ao caminhar sobre o fogo, por exemplo. Deve.haver também alguma forma de força usada em exercer esse controle, se ao menos pudermos reconhecê-la. E, finalmente, deve haver alguma forma de substância, visível ou invisível, através da qual a força pode agir. Observe sempre essas coisas e, se puder encontrar pelo menos uma, ela guiará até as outras".2

Long continuou a busca com base nessas orientações e, embora nunca tenha estudado com um kahuna, por um período de muitos anos ele descobriu os três elementos especificados por Brigham, conduziu experimentos para comprovar a existência deles, encontrou correlações com as descobertas de outros, em outros lugares, e descobriu ainda que o sistema kahuna de conhecimento não era limitado à Polinésia, mas espalhava-se por todo o mundo. Foi um feito notável, tornando os principais elementos desse conhecimento acessíveis ao público pela primeira vez.

As coisas com que os kahunas lidam regularmente se tornaram hoje o tema de uma investigação científica cada vez mais difundida bem como de um crescente interesse popular. Há laboratórios estudando a comunicação telepática, o fenômeno de estados

1Max Fredom Long, The Secret Science Behind Miracles (Los Angeles: De Vorss & Co., 1954) 2 Ib.

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alterados de consciência, e a influência psicocinética sobre a matéria, enquanto um

número cada-vez maior de corajosos médicos e psicoterapeutas vem experimentando métodos de cura não usuais, tais como imagem guiada, terapia de pressão e a transferência de energia de uma pessoa para outra. Além da resistência conservadora a tudo isso, as investigações são atrapalhadas pela falta de uma teoria coerente e unificada que explique como essas práticas funcionam. O sistema kahuna oferece tanto a prática funcional quanto uma boa teoria de fácil aplicação.

As Ordens Kahunas

Kahuna é uma palavra que foi distorcida nos tempos modernos. Originalmente usada para definir um adepto treinado, um guardião e transmissor especializado em conhecimento e poder, ela passou a ser aplicada mais recentemente aos sacerdotes e ministros de religiões ocidentais, paranormais, curandeiros e até líderes de clubes de surfe. Embora isso seja compreensível, pois tais pessoas devem ser especialistas naquilo que sabem, WK afirma que um verdadeiro kahuna é aquele que foi iniciado por um pai natural ou adotivo e treinado era conhecimento esotérico organizado, como parte de um grupo identificável. O uso do termo com o significado de "sacerdotes, ministro ou líder" é uma extensão moderna baseada num erro de interpretação. O mesmo acontece com seu uso para designar para- normais naturais e curandeiros, que podem ou não ter recebido conhecimento dos pais. Os havaianos tinham muitos nomes para indivíduos que usam habilidades psíquicas. Eis alguns:

kaula — profeta ou mágico

po'ko'i — feiticeiro ho'ola — curandeiro mo'okiko —feiticeiro mau

ho'okalakupua — mágico ou adepto kilo'uhane — espiritualista

ho 'ike papulua — paranormal

Os termos eram aplicados a pessoas que exerciam tais pode- res sem ser kahunas. Os kahunas podiam fazer as mesmas coisas, mas como especialistas treinados pertencentes a uma ordem tradicional. Nesse caso, o indivíduo seria chamado de kahuna kaula, kahuna

ho'ola, etc. Além disso, vários tipos de kahunas eram treinados para ser especialistas em

coisas que não consideraríamos esotéricas hoje, tais como navegação, medicina, engenharia e meteorologia. Os kahunas eram os cientistas e especialistas técnicos de sua época, mas seu conhecimento se estendia a campos que mal começam a ser explorados no mundo ocidental em ampla escala. Por exemplo, um navegador seria não apenas tecnicamente habilitado, mas também treinado para se comunicar com o vento e as ondas.

Originalmente, não havia uma hierarquia estruturada entre os kahunas, o que ainda se observa em duas das ordens descritas a seguir. Na verdade, as ordens eram e são mais parecidas com as guildas medievais do que com ordens religiosas na tradição ocidental. Um kahuna alcança a proeminência, não por promoção, herança ou eleição, mas sim através do respeito por suas habilidades e conhecimento. A mais alta "posição" a que um kahuna pode aspirar é puhi okaoka, que se refere a um indivíduo bem versado em todos os ramos de conhecimento. Como não possuem autoridade estruturada uns sobre os outros, os kahunas são procurados e seguidos por causa do que são capazes de fazer e do que sabem.

Em determinado momento da história, os kahunas se dividiram em três ordens amplamente definidas, como explicado por WK no prólogo. Cada uma delas enfatizava uma abordagem específica de conhecimento e prática, mas a diferença tem menos a ver com função do que com técnica. As três utilizavam os elementos de magia descobertos por

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Max Long, e suas áreas de perícia se sobrepunham consideravelmente. Com isso em

mente, examinemos agora cada uma dessas ordens.

A Ordem de Ku

Essa ordem era chamada de "os Emocionais" por WK e enfatiza uma abordagem sensual/emocional da vida. Em termos de cura, os kahunas dessa ordem são mais propensos a usar exercício, massagem e imposição das mãos como métodos de tratamento. Assim como a psicoterapia, essas técnicas trabalham a liberação de emoções reprimidas e a descoberta de eventos passados que desencadearam os problemas atuais. Quanto ao ambiente, a abordagem consiste particularmente em tentar o controle direto de eventos e circunstâncias com a força de vontade e influenciar as emoções das outras pessoas. Esportes, política, comércio e guerra, bem como religião organizada e cerimonial, são os interesses naturais dos kahunas desta ordem. Foi ela que dominou o Havaí após a chegada do poderoso kahuna Paao Samoa, por volta de 1275 d.C. Ele instituiu uma hierarquia estrita na ordem de Ku e introduziu o sacrifício humano, uma prática que decididamente não faz parte da tradição kahuna. Depois da chegada de Paao e do chefe por ele instalado, todo o tráfico entre o Havaí e o mundo exterior cessou, até a vinda do capitão Cook.

A Ordem de Lono

A abordagem desta ordem, os "Intelectuais" de WK, é intelectual/mecânica. No Havaí, ela gerou os médicos e cirurgiões, os agricultores, navegadores, astrônomos e astrólogos, os meteorologistas e os projetistas de navios, que orientavam a construção das grandes canoas oceânicas. Na cura e na psicoterapia, esses kahunas enfatizam o uso de ervas e drogas, dieta e fontes naturais de energia curativa, tais como a luz do sol, sal marinho, cristais e locais especiais descobertos da geomancia (uma forma de adivinhação usando supostas correntes de energia na terra). Eles vêem o ambiente como algo a ser manipulado por meio da compreensão da mecânica de sua operação. No Havaí, essa ordem sofreu muito sob o domínio da Ordem de Ku, e quando os europeus chegaram, boa parte de suas artes já estava perdida.

A Ordem de Kane

Esses "Intuitivos" possuem uma abordagem espiritual/ integrativa. As técnicas usadas pelas outras duas ordens são consideradas ferramentas de uso temporário até se alcançar a compreensão básica de que o mundo exterior é apenas uma reflexão do pensamento. A ênfase é a unificação ou integração de espírito, mente e corpo com o propósito do autocontrole, sendo ele a chave para o domínio da vida. Na cura, a importância básica é dada aos efeitos do pensamento sobre o corpo, e as crenças atuais são consideradas mais influentes do que as experiências passadas. O ambiente é visto como uma extensão do corpo, igualmente influenciado por pensamentos e crenças. A imaginação é a ferramenta mais importante dessa ordem, e boa parte do treinamento diz respeito ao uso disciplinado dela. Esses kahunas trabalham com estados alterados de consciência e o uso refinado das habilidades psíquicas, mais do que as outras ordens. Eles poderiam ser considerados filósofos pragmáticos e, em termos de números, sempre foram menores que os kahunas de Ku e Lono. Na época do domínio de Ku no Havaí, sofreram pouco, pois trabalhavam, por assim dizer, "debaixo da terra". De acordo com WK, eles mantinham contato com o resto do mundo por telepatia. Esta é a ordem na qual meu pai foi iniciado e onde eu recebi meu treinamento.

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Os Renegados

O fenômeno mais temido no Havaí era a "oração de morte", uma forma de telepatia emocional destrutiva, freqüentemente combinada com sugestão negativa. Quase todos os kahunas que a praticavam eram renegados da ordem de Ku, embora houvesse também feiticeiros não-kahuna que a usavam também. O epíteto mais comum aplicado a eles era

kahuna'ai pilau (kahunas que comem imundície). Fosse para ganhar poder sobre outros

ou apenas por ganho financeiro, eles usavam seu conhecimento de psiquismo, psicologia e energia emocional para ferir ou matar. Como bem sabia William Brigham, usava-se muito mais do que simples sugestão. A oração de morte podia funcionar mesmo que não houvesse o conhecimento consciente do que estava acontecendo; mas essa prática exigia considerável habilidade por parte do praticante, e sempre que possível a sugestão era usada para facilitá-la. Felizmente, cada ordem tinha um número de kahunas especializados em oki ou kala, formas de magia contrária que anulavam a oração de morte, tornando-a inofensiva. .

Os Kahunas hoje

WK supõe não haver no Havaí atualmente mais que vinte e cinco kahunas genuínos, dos quais apenas meia dúzia seria da ordem de Kane. O resto está dividido quase de maneira regular entre Ku e Lono. No entanto, muitos daqueles que se dizem kahunas são apenas paranormais e curandeiros individuais, ou pessoas que dão um show aos turistas. Com poucas exceções, os genuínos kahunas, ou se retiraram totalmente da sociedade ou a ela se integraram, de modo que ninguém sabe quem são ou o que podem fazer. O conhecimento está vivo e operante, mas não é ostensivo. E, ao contrário do que muitos turistas parecem pensar, a ancestralidade havaiana não confere conhecimento kahuna. Mesmo Leinani Melville escreve que praticamente nenhum havaiano ou mestiço havaiano tem a menor compreensão do que é Huna, o conhecimento kahuna. Fora do Havaí, os kahunas também são raros ou se escondem muito bem. Conheci um kahuna maori que me disse que o conhecimento interior praticamente não existe mais entre o seu povo, e meu professor kahuna na África teve só três aprendizes durante os quase sete anos que o conheci. Minhas tentativas de contatar os kahunas que meu pai conheceu na Inglaterra não foram bem-sucedidas.

Alguns havaianos se irritam por eu chamar a mim mesmo de kahuna, pois não tenho uma gota de sangue havaiano, embora haja precedentes suficientes nas lendas e histórias do Havaí para pessoas não-polinésias se tomar em kahunas. Lógico que qualquer um pode alegar ser kahuna, mas muito tempo atrás alguém que WK e eu consideramos um grande kahuna nos mandou aplicar este teste: "Pelos seus frutos os conhecereis".

Referências

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