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Letícia Monteiro ROCHA 2 Greicy Mara FRANÇA 3 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS

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Academic year: 2021

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O ex-voto e as manifestações de fé da Festa do Divino da comunidade quilombola de Santa Tereza - Figueirão/MS: Um objeto de estudo da Folkcomunicação1

Letícia Monteiro ROCHA2 Greicy Mara FRANÇA3

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS

Resumo

Esta pesquisa tem por objetivo analisar a prática religiosa do ex-voto e as manifestações de fé da Festa do Divino da comunidade de Santa Tereza, localizada no município de Figueirão - MS, utilizando-se de base teórica a Folkcomunicação. Para o desenvolvimento deste trabalho foram empregados os métodos de pesquisa observação participante e pesquisa bibliográfica. A observação em campo, foi necessária para compreender todo o funcionamento da festa, do sagrado ao profano, porém, este artigo atentou-se apenas para o sagrado do ritual, o ex-voto. O levantamento bibliográfico é utilizado para o aporte teórico da Folkcomunicação, religião e festas populares, com ênfase no livro da professora Marlei Sigrist, resultado de anos de pesquisa sobre a Festa do Divino da mesma comunidade.

Palavras-chave: Folkcomunicação; Ex-voto; Festa do Divino; Comunidade Santa

Tereza.

1 INTRODUÇÃO

A cultura Sul-Mato-Grossense é rica e diversificada, seja na gastronomia, artesanato, festas populares, música, entre outras influências comuns no Estado. Mas percebe-se que toda a riqueza existente não atrai de modo satisfatório pesquisadores da academia dispostos a investigar profundamente as raízes da formação social e antropológica.

A Festa do Divino da comunidade Quilombola de Santa Tereza, é uma das raras excessões por ser objeto de pesquisa da renomada pesquisadora do Estado do Mato Grosso do Sul, Marlei Sigrist, e atualmente está sendo analisada por dois mestrandos, para vir a tornar dissertações, uma no âmbito do desenvolvimento local e outra pela área da Comunicação.

1

Trabalho apresentado no GP Folkcomunicação, Mídia e Interculturalidade do XVII Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

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Mestranda do Curso de Comunicação da FAALC-UFMS, email: natasha_let@hotmail.com.

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Todas as pesquisas relacionadas à festa irão compor um estudo realizado pela Secretaria de Cultura de Mato Grosso do Sul para tornar a Festa do Divino um patrimônio imaterial. Essa contribuição do governo fará com que a celebração tenha um maior amparo econômico e infraestrutural em favor das realizações anuais do festejo.

Com relação à prática do ex-voto e as manifestações de fé como forma de agradecimento a um milagre alcançado, compreende-se que a comunidade deseja não somente agradecer ao Divino, mas comunicar aos "outros" que o Divino novamente atuou na graça concedida, que conforme a pesquisa de campo, acreditam que quanto mais difícil a forma de cumprir a promessa, terão melhores resultados.

Para elaboração deste trabalho, o capítulo de aporte teórico da pesquisa foi dividido em quatro subtítulos. O primeiro trata do estudo da Folkcomunicação, da concepção por Luiz Beltrão até as novas configurações - atualizações teóricas pelos sucessores. O segundo capítulo aborda as definições de cultura popular e religiosidade, campo desta pesquisa. O terceiro capítulo traz um breve histórico da Festa do Divino; da origem e chegada ao Brasil e a história da Festa do Divino de Figueirão - MS. No quarto e último subtítulo é evidenciado como ocorrem a prática de ex-votos e as manifestações de fé ao pagar promessas.

No desenvolvimento deste trabalho foram empregados os métodos de pesquisa observação participante e pesquisa bibliográfica. A observação em campo foi necessária para compreender todo o funcionamento da festa, do sagrado ao profano, porém, este artigo atentou-se apenas para o sagrado do ritual, o ex-voto. O levantamento bibliográfico é utilizado para o aporte teórico da Folkcomunicação, religião e festas populares, com ênfase no livro da professora Marlei Sigrist, resultado de anos de pesquisa sobre a Festa do Divino da mesma comunidade.

2 OBJETIVOS

Apresentar a prática de ex-voto e as diversas manifestações de fé da comunidade Quilombola da Santa Tereza, localizada no município de Figueirão, interior do Estado do Mato Grosso do Sul, na tradicional Festa do Divino - ou como também é conhecida, Folia dos Malaquias - no contexto da Folkcomunicação.

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3 JUSTIFICATIVA

Este trabalho faz parte de uma pesquisa de campo para dissertação de mestrado em Comunicação, com objetivo de analisar todas as formas existentes de comunicação, da oral à midiática, em comunidades que vivem longe dos grandes centros urbanos.

A contribuição deste artigo, ao expor um dos rituais da Festa do Divino da Comunidade Quilombola Santa Tereza, o ex-voto, juntamente com as manifestações de fé dos promesseiros, é transmitir um ritual religioso importante para a cultura local em um objeto de estudo para a comunidade acadêmica. Desta maneira, a comunidade reafirma as práticas religiosas como instrumentos e objetos dos estudos para a área da Comunicação e outras afins.

4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

4.1 Folkcomunicação: um Breve Histórico

Luiz Beltrão de Andrade Lima (1918-1986), jornalista, destacou-se na pesquisa latino-americana no âmbito das ciências da comunicação. Foi pioneiro no tratamento do estudo das tradições populares, que definiram em linhas gerais, o ponto inicial para elaboração da tese em 1967 pela Universidade de Brasília, denominada por ele de Folkcomunicação (MELO, 2008).

Por Folkcomunicação Beltrão define como "o processo de intercâmbio de informações e manifestação de opiniões, ideias e atitudes da massa, através de agentes e meios ligados direta ou indiretamente ao folclore"(BELTRÃO, 2014, p.70).

Luiz Beltrão foi responsável pela criação do primeiro centro nacional de pesquisas acadêmicas sobre comunicação - o ICINFORM (Instituto de Ciências da Informação) - na Universidade Católica de Pernambuco, em Recife, no ano de 1963, das quais as finalidades do Instituto destacavam-se: investigação científica da informação coletiva, referindo-se às áreas do Jornalismo, Publicidade e Relações Públicas; treinamento e aperfeiçoamento de profissionais; difusão de estudos relacionados com as Ciências da Informação; estudos voltados para a formulação de uma Teoria Geral das Ciências da Informação e intercâmbio com outras entidades da mesma natureza sediadas no exterior. Criou também a primeira revista científica brasileira, denominada

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Comunicação e Problemas, que tratava de temas relacionadas a comunicação. E finalmente, o primeiro doutor em Comunicação diplomado no Brasil, de onde despontou a tese tema do que viria a ser a Teoria da Folkcomunicação. (MELO, 2008).

Hoje, por honra e mérito do empenho em defender uma teoria da comunicação com ênfase nos povos marginalizados, a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM), como forma de homenageá-lo, criou a partir de 1997 o "Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação", destinado às personalidades ou instituições que prestaram serviços relevantes ao campo de conhecimento em nosso país (MELO, 2008, p.26-27) .

O objeto de pesquisa da Folkcomunicação está na fronteira entre Folclore e a Comunicação de Massa. Para José Marques de Melo (MELO, 2007, pág. 21) "Folclore é o regate e interpretação da cultura popular e Comunicação de Massa a difusão industrial de símbolos, através de meios mecânicos ou eletrônicos, destinados a audiências amplas, anônimas e heterogêneas".

Melo conceitua a terminologia Folk para explanar a compreensão original de Luiz Beltrão teve para elucidar a problemática da pesquisa: o processo de intermediação entre a cultura de massa e a cultura dos povos marginalizados. Desta forma, conclui-se assim:

folclore compreende formas interpessoais ou grupais de manifestação cultural protagonizadas pelas classes subalternas e Folkcomunicação caracteriza-se pela utilização de mecanismos artesanais de difusão simbólica para expressar em linguagem mensagens previamente veiculadas pela indústria cultural4 (MELO, 2007, p.21).

As observações realizadas por Beltrão nas obras do folclorista Câmara Cascudo, em especial sobre as manifestações da comunicação popular nordestina foram fundamentais e decisivas para a sistematização e ordenação de informação naquilo que seria em breve a fundamentação base para sua tese do doutorado. Vale ressaltar, que a Folkcomunicação tem amparo teórico também nas teses do neomarxista de Edison Carneiro, em especial na pesquisa "dinâmica do folclore". (MELO, 2007, pág. 23).

Além dos estudos de Câmara Cascudo e Edison Carneiro, a teoria da Folkcomunicação buscou referências para o seu aporte em teorias norte-americanas de comunicação de massa. Um dos desdobramentos se constituiu na hipótese dada por Lazarsfeld e Katz - two step flow of comunication para refutar a ideia dominante da onipotência midiática (MELO, 2014, p.13).

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As transformações incididas na teoria durante os desdobramentos dadas pelos novos pesquisadores da Folkcomunciação, possibilitaram a transposição da análise inicial de Beltrão - os processos de recodificação popular das mensagens da cultura de massa - ampliando também para a pesquisa sobre a apropriação de bens da cultura pela indústria cultural(MELO, 2007, p.22) .

4.2 Cultura Popular e a Religiosidade

De acordo com os estudos de Ortiz (1980, p.121) religião é definida como um tipo determinado de concepção de mundo que se situa entre a filosofia e o folclore. Deste modo, ao analisar uma festa religiosa dentro da Teoria da Folkcomunicação, ultrapassa-se este conceito, pois o mesmo passa a ser uma tríade Folclore - Religião - Comunicação.

Pessoa (2005, p.7) defende que a dança, a culinária, o artesanato, as festas religiosas ou não, são representações do esforço produzido para garantir a sobrevivência, às vezes em condições hostis." e Bosi (2000, p.65) diz que na cultura popular, novo e arcaico se entrelaçam; os elementos mais abstratos do folclore podem persistir através dos tempos e muito além da situação em que se formaram.

Para Azevedo (1981) no Brasil há uma vigência da religião civil e isto acontece por dois motivos históricos: 1) é mantido desde o período do império uma relação entre a Igreja e o Estado; 2) a cultura brasileira foi fortemente influenciada pelo catolicismo, isso é notado pelo calendário adotado (cristão), as festas religiosas em sua maioria ligada a santos do catolicismo, feriados de santos católicos em que municípios e até a mesmo a federação utilizam-se do dia do padroeiro para decretar feriado.

Na Festa do Divino as participações dos governos municipais de Figueirão e Camapuã (a comunidade Santa Tereza já pertenceu ao município de Camapuã) são fundamentais para a realização do evento. Os papéis desempenhados pelas duas prefeituras são de suma importância, pois a comunidade fica em um local de difícil acesso. Neste ano de 2017 as duas prefeituras deram suporte a festa com a melhoria das estradas vicinais (patrolamento); a prefeitura de Camapuã doou também instrumentos musicais novos para os foliões e a de Figueirão auxiliou com seguranças para o baile, divulgação da festa no site institucional, tendas para ampliar o espaço coberto, ambulâncias de resgate, enfermeiros para atendimentos diversos, playground inflável

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para as crianças, banda de baile para animar a festa e na figura do prefeito, ainda teve a doação de animal para o leilão.

Percebe-se que a festa religiosa para esta localidade é de interesse dos órgãos públicos, em determinados períodos também é dos agentes públicos como vereadores, deputados e senadores. Neste contexto, o Estado atua como intermediador e colaborador de eventos populares religiosos, auxiliando na manutenção da comemoração da Festa do Divino.

Por fim, estas configurações de entrelaçamento entre religião e a cultura popular, com uma certa interferência do Estado, colabora para o que Bosi (2000) chama de uma reelaboração constante. No caso, o festejo reordena-se para atender uma demanda específica, objetivando um melhor atender o visitante.

4.3 Festa do Divino em Figueirão

A Festa do Divino Espírito Santo tem maior recorrência na região central do Brasil, especificamente no Centro-Oeste. Sobre a origem e chegada nesta região é quase inexistente a bibliografia relacionada. Acredita-se que o costume da comemoração veio de Portugal trazida pelos jesuítas e os primeiros colonos difundiram em todo o país especialmente na região central (AMARAL, 1998, p.200).

A crença em torno do Divino Espírito Santo é muito popular no Centro-Oeste, mas também tem forte tradição nos estados de Minas Gerais e São Paulo. Esta interiorização da festa deu-se principalmente pela corrida do ouro no centro do Brasil, como podemos observar em Goiás, especificamente a cidade de Pirenópolis período em que houve grande concentração de áreas de mineração do ouro e dali surgiu uma das mais importantes Festa do Divino do país (AMARAL, 1998).

A Festa do Divino é de tradição católica, realizada cinquenta dias após a Páscoa no domingo de Pentecostes, em comemoração ao aparecimento do Espírito Santo aos discípulos de Jesus Cristo. O Divino não é considerado padroeiro oficial da maioria dos municípios em que existe a celebração, como também não existe atributos específicos da divindade, como ocorre por exemplo com São Francisco de Assis, padroeiro dos animais, ou Santa Luzia, protetora dos olhos, desta maneira, os pedidos de milagres são os mais variados possíveis (AMARAL, 1998, p.202)

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No município de Figueirão, no Estado do Mato Grosso do Sul, a comunidade de Santa Tereza, liderada pela família Malaquias, realiza a Festa do Divino desde 1909 como forma de agradecimento ao milagre concedido pelo Divino Espírito Santo (SIGRIST, 2014).

No início do século XX, a região foi acometida pela febre amarela, doença infecciosa que não tratada levava a morte em um breve período de tempo. Como a região era pouco habitada e por conseguinte não havia acesso fácil ao tratamento dos enfermos, a dona Maria Francelina de Jesus, esposa do senhor Joaquim Malaquias - um dos desbravadores do local, pediu ao Divino que encontrasse no mato do cerrado uma planta que curasse os doentes, e como forma de agradecimento ela iria celebrar a festa até a quarta geração da família (SIGRIST, 2014).

Neste ano de 2017, a Festa do Divino, ou como é conhecida a Folia dos Malaquias completou 108 anos de existência, com os descendentes Malaquias a frente das comemorações e da organização. Pouca coisa mudou durante o período da realização, entre 1909 a 2017, apenas adequações e maior infraestrutura para atender e abrigar quase dois mil visitantes provenientes de várias regiões do Estado. Entre as características que se mantêm quase inalteradas são: o local da missa, do terço e do giro da bandeira principal na pequena igreja Divino Espírito Santo; o giro da bandeira acontecia em um período de dois meses, justamente pela distância entre as fazendas e os sítios vizinhos, atualmente o percurso é de apenas quinze dias antes do evento; o percurso ainda é realizado apenas a cavalo; os rituais profanos e sagrados misturam-se, com ênfase na catira, uma dança introduzida no decorrer dos anos, com a origem pouco conhecida pelos próprios organizadores (acredita-se que foram viajantes mineiros em carros de boi, ao passarem na região ensinaram a dança) (SIGRIST, 2014).

4.4 Ex-Voto e as Manifestações de Fé dos Promesseiros

Durante muitos anos, a principal forma de ex-voto da comunidade Santa Tereza foram as representações através de esculturas de madeiras ou cera em agradecimento à promessa atendida. A maioria das expressões votivas eram de cera, visto que, a região rural dispunha de mel de abelha suficiente para utilizar.

No local de celebração da Festa do Divino existiam um grande acervo de ex-votos, mas por falta de espaço adequado para armazenamento foram sendo deteriorados

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pelo tempo e algumas pessoas também utilizaram as peças posteriormente para outros fins. Os ex-votos deste período foram todos perdidos, não restando nenhum registro histórico.

Com o passar dos anos, o ex- voto obteve um novo formato - a fotografia representativa da graça alcançada. A bandeira principal, localizada na pequena capela da comunidade foi modificada para atender o desejo dos pagadores de promessa. Nela foram confeccionados bolsos na parte frontal para depósito das fotografias e outros pequenos objetos, justamente para facilitar e dar uma vida útil mais longínqua para o estandarte, visto que, anteriormente os fiéis fixavam firmemente os ex-votos e quando iam retirar acabavam ocasionando pequenos rasgos no tecido (SIGRIST, 2014).

Para Beltrão, a representação votiva pela fotografia é uma rede simbólica de representações da manifestação do "poder sobrenatural", reproduzidos por aparatos tecnológicos.

Os retratos e fotografias com a narração do milagre no verso ou na parte inferior também constituem meio de informação de alto interesse. São colhidos pelos fotógrafos profissionais, os “lambe-lambe”, encontradiços nas imediações dos cruzeiros, nos pátios dos santuários mais procurados pelos romeiros. Por vezes na fotografia, “o devoto procura reproduzir a posição em que estava quando se operou o milagre” (BELTRÃO, 1965, p. 13-14).

Foto: Letícia Monteiro - Chegada da bandeira (bolsos na bandeira com fotos e objetos dos promesseiros)

O ex-voto como prática Folkcomunicacional é compreendido neste trabalho a partir da concepção de Roberto Benjamin (2002, p.4)

A prática mais tradicional da comunicação, nas devoções populares, é a entrega do ex-voto. No ex-voto paga-se o compromisso de natureza contratual com o santo. A entrega do ex-voto é, porém, a publicização da intervenção – o milagre ou, mais modestamente, a graça alcançada

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circunstancialmente passem ou visitem o local da devoção. Quanto mais ex-votos depositados, mais provados ficam os benefícios alcançados pela intercessão do santo, o que faz crescer a fama e despertar o interesse de novos devotos.

Além do ex-voto, existem outras manifestações de fé e agradecimento ao pedido concedido. As promessas são cumpridas através: trabalhar durante a festa, com cargos divididos para homens e mulheres, por exemplo: o homem pode trabalhar durante a festa como auxiliar das cozinheiras (carregar as panelas da cozinha até o local onde é servida a refeição), procurador de prenda, assador de carne, alferes da bandeira e doador de produtos para o festejo, enquanto que as mulheres são encarregadas pela cozinha, lavar as louças, rainha do altar e assadoras de prendas; o promesseiro pode doar dinheiro para realização e melhorias do espaço da festa; doar prendas para leilão (uma das fontes de renda para manutenção e melhorias da estrutura em prol dos promesseiros); doar utensílios para a festa como pratos, copos e talheres (muito utilizado durante a saída e a chegada da bandeira); cavalgar com os foliões durante os 15 dias; colocar objetos simbólicos na bandeira que representam a graça alcançada ou que desejam ser abençoada pelo Divino; receber os foliões em casa para oração e anúncio da festa; dar esmola para os foliões, que posteriormente será revertida como renda para melhorias e manutenção da celebração; cobrir com lençol para os foliões e a bandeira passar e andar por um trecho pré determinado com a bandeira durante a folia.

Abaixo estão alguns momentos importantes para a devoção ao Divino pela comunidade de Santa Tereza.

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Foto: Letícia Monteiro - Família doou esmola e agradece ao Divino

Foto: Letícia Monteiro - Família recebendo foliões para pouso

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em um mundo em que a tecnologia predomina como a maior mediadora da comunicação humana, é através de eventos como a Festa do Divino de Santa Tereza que podemos perceber o quão importante é a interação humana face a face. O resgate e a manutenção de aspecto peculiares de uma cultura popular de origens medievais, ainda presente firmemente nos dias de hoje, traz para reflexão até quando eventos como estes conseguirão existir na história de nosso país, mantendo a tradição que é típica deste festejo.

A promessa realizada pela dona Francelina em realizar a festa nas próximas quatro gerações, quando pediu o milagre, encontra-se na segunda geração, ou seja, a

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festa ainda é garantida por mais três gerações dos Malaquias. Depois deste período, a continuação da celebração dependerá do esforço e dedicação dos descendentes não inclusos na obrigação. Espera-se que prossiga o mais longínquo possível, mantendo as raízes de um evento fundamental para história da cultura religiosa de Mato Grosso do Sul, símbolo de resistência e de desenvolvimento local.

Desta pesquisa, pode-se observar o quão importante é pagar a promessa, o significado latente para todos em agradecer ao Divino pelas graças alcançadas. Em alguns casos, não precisa necessariamente ser a promessa algo movedor de fé, como foi o caso da escolhida por sorteio para ser a festeira do próximo ano. Para eles, o Divino é que escolhe o que cada um desempenhará como função.

Pode-se concluir deste levantamento bibliográfico, que a Festa do Divino contribui imensamente para que a demonstração da fé não caia no esquecimento popular. Mesmo em um mundo em constante mudança alguns aspectos característicos ainda é mantido por pessoas movidas pela crença em um Ente superior. Desta forma, pessoas marginalizadas socialmente enriquecem culturalmente o ambiente tão próximo da vida cotidiana (rural e urbana) a quem acredita na fé cristã.

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REFERÊNCIAS

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AZEVEDO, Thales de. A religião civil brasileira: um instrumento político. Petrópolis, RJ: Vozes, 1981.

BELTRÃO, Luiz. O ex-voto como veículo jornalístico. In: Comunicações e Problemas. Recife: ICINFORM/Universidade Católica de Pernambuco, n. 1, 1965. 72 p BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de fatos e expressão. Porto Alegre: Editora EDIPUCRS, 2014

BENJAMIN, Roberto. devoções populares não-canônicas na América Latina: uma proposta de pesquisa. In: VI Congresso Latinoamericano de Ciências de la Comunicación – ALAIC 2002. Santa Cruz de la Sierra, Bolivia, 2002.

BOSI, Ecléa. Cultura de Massa e Cultura Popular: leituras de operárias; apresentação de Dante Moreira Leite, prefácio de Otto Maria Carpeaux. Petrópolis: Vozes, 1986

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MELO, José Marques de. Mídia e Cultura popular: história, taxionomia e metodologia da Folkcomunicação. São Paulo: Paulus, 2008.

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SIGRIST, Marlei. Mestres do sagrado: festa do Divino em Santa Tereza. Campo Grande, MS: FCMS, 2014

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