AS ARMAS ESTÃO ACESAS NAS NOSSAS MÃOS
AS ARMAS ESTÃO ACESAS
NAS NOSSAS MÃOS
ANTOLOGIA BREVE DA POESIA
REVOLUCIONÁRIA DE MOÇAMBIQUE
1904
Seleção e organização colectiva da Associação Portugal – Moçambique
(Delegação do Porto)
© EDIÇÕES <<APESAR DE TUDO>> PORTO
Capa A. C. Ferreira Revisão Fátima Martins 3000 exemplares
PREFÁCIO
Foi com autêntica surpresa e deslumbramento que, em 1958, pude conhecer a poesia que ≪se estava a fazer≫ em Moçambique. Supresa, por ser completamente desconhecida em Portugal; deslumbramento, por encontrar nela uma linguagem já diferenciada da metropolitana, a caminho da exprimir a autêntica realidade moçambicana, ≪os girassóis de cor nova≫, de que falava Craveirinha. Não tive dúvidas então que estava em curso um fenómeno da maior importânica: a criação em Moçambique de um instrumento poético original, autóctone. Uma poesia que era já um produto cultural do homem moçambicano. Tive então a certeza de que, naquele território, se tinha iniciado uma profunda transformação, no caminho irreversível da sua emancipação nacional. A conquista de uma ≪língua poética própia≫, a descolonização a nivel da poesia, era, sem dúvida, um sinal por demais evidente. ≪Os ventos da história≫ - tão histericamente ridicularizados pelo fascismo - tinha, começado a soprar.
De regresso a portugal, usando a escrita comedida a que a censura nos condicionava, pude somente dizer: ...Sem dúvida que uma poesia já mergulhando as raízes na ≪
terra e nos problemas vivos da Áfricaestá nascendo...≫ ...Esta poesia é assim, por impulso e vocação própria, ≪
poesia social e interveniente, como é óbivio. Aliás, o seu canto entronca naturalmente nas vozes de Guillen, Lanston, Senghor e Cesaire, pois as coordenadas essenciais que forjaram estas e aquelas são comuns. Parece não ser exagero ligá-la, por outro lado, à poesia do ≪Novo Cancioneiro≫, no que este movimento representou de uma tomada de consciência da realidade; e será bom não esquecer o que terá significado, como expressão catalizadora e incentivadora do despertar poético do ultramar português, ≪a negra e escandalosa voz≫ de Francisco José Tenreiro, precisamente revelada no ≪Novo Cancioneiro≫ ≪. ( Seara Nova≫, Julho de 1959)
Acrescentarei agora que se foi sob o peso da dramática dicotomia ≪negro-branco≫ que se acelerou o processo de descolonização poética, em breve, pela clarificação ideológica, pela completa inserção no real, essa poesia atingiria voz própria, a capacidade de cantar as angústias, os sofrimentos, a esperança do homem moçambicano, independentemente da cor de sua pele.
Algo muito importante (de decisivo) se estava gestando em Moçambique. O esforço pela construção de uma língua poética própria, capaz de exprimir a personalidade criadora do homem moçambicano, assim o denunciava. O anunciava. E este esforço situava-se na vanguarda da luta por uma consciência nacional identificada com as profundas
aspirações das massas populares - unico caminho para libertação de quinhentos anos de opressão colonial.
A poesia foia assim primeiro arado dessa sementeira sensibilizadora da consciência colectiva, o primeiro navio da viagem da libertação, a primeira bandeira erguida na noite da opressão. Eguia-se, ela mesmo, (dir-se-ia) à consciência da missão histórica. Fenómeno, aliás, comum às lutas de libertação nacional nos outros territórios africanos sujeitos ao colonialismo português. Libertando-se penosamente do seu casulo colonial, deixando de ser uma variedade ≪exótica≫ da poesia portuguesa para adquirir a sua identidade moçambicana, os poemas de Nogar, Kulungano e Craveirinha apontavam as profundas transformações que velozmente se aproximavam. Nas suas estrofes veementes, ≪voz de atabaque chamando≫, essa poesia não seja já, nesse tempo, uma ≪nova qualidade≫, a voz anunciadora da Revolução?
Em breve, ≪os exóticos girassois de cor nova≫ iriam cobrir os rins aguilhoados, enflorar a toda a estatura os membros, o tronco e o rosto do homem e da mulher moçambicanos. Florir na sua boca as palavras transformadoras, abrir no seu coração milenário as torrentes da sublevação, a aurora da independência. Com a revolução, iniciada em 1964, (≪É este o momento que esperávamos. As armas estão acesas nas nossas mãos≫. Josina Machel) o canto e o poema foram, ao lada da arma e da enxada, um
instrumento de reconhecimento colectivo, de integração, de crescimento no espaço ideológico que a FRELIMO rasgava e semeava do Rovuma ao Maputo. A poesia e a arte serguiam-se assim à sua autentica dignidade e missão: serguiam-servindo as amplas camadas da população, descolonizando-as culturalmente, adjudavam-nas a construir o próprio rosto e a definir, com precisão, a face hedionda do inimigo - o colonialismo e o imperialismo.
Libertada pela Revolução toda a energia criadora do povo, a poesia pôde desempenhar então o seu papel excepcional de veiculo de descoberta e comunicação, de exaltação colectiva, irradiando em todas as direções do novo homem que nascia, o seu canto vitorioso. Para cantar a determinação da mão que empunhava a arma no combate ou erguia a enxada sobre a terra devastada, para glorificar o companheiro caído na jornada, e o esforço épico das massas trabalhadoras edificando, passo a passo, pedra a pedra, sua radiosa pátria popular. Dirigentes queridos do povo, como Josina e Samora Machel, como Marcelino dos Santos (o poeta Kalungano), nas horas de descanso das tarefas de organização ou nas de folga dos combates, não deixaram também de encontrar tempo para colaborar nesse cancioneiro heróico. Isto diz bem da importância da poesia no processo revolucionário de Moçambique.
Interpretando os sentimentos e aspirações do povo em luta, ela resplandescia no fundo do coração dos guerreiros, guiava-os no combate, iluminava-lhes, na hora do sangue e da morte, o horizonte a conquistar para além de todos os sacrifícios.
A poesia, voz profunda do Homem, foi sempre através da história um apelo de libertação. Foi-o também em Moçambique. Como não havia de sê-lo num tempo e num país em que o Homem humilhado se erguia de ≪armas acesas nas mãos≫ para uma nova caminhada, um novo esforço na construção e libertação do Homem?
A tarefa do povo moçmabicano, erguenfo nas mãos o facho de Humanidade em marcha, ajudando-a a libertar-se de todas as servidõese grilhetas - não podia deixar de ter encontrado, na voz de seus poetas, as palavras ardentes que a exprimissem.
Ouçamo-las com humildade, e sentiremos, talvez como uma brisa, como um vento (semeador),
...a nova primavera, ≪
a pureza do cnato dos guerreiros, o amor verdadeiro, o canto para todos, o novo sentido para vida...≫
É uma resumida amostra do que foi (e é) esse canto revolucionário que se apresenta nesse volume. Autêntica criação popular, muitos poemas não trazem autoria individual; de todos eles se poderá dizer que o verdadeiro autor é o povo moçambicano.
Estamos certos que as estrofes heróicas desse cancioneiro não deixarão de fazer estremecer o coração do povo português. Porque nelas encontrará a memória dum sofrimento recíproco, o eco ardente duma gesta comum
PAPINIANO CARLOS Porto - Fevereiro/76
POEMA DEDICADO A EDUARDO MONDLANE
Eras o guia por nós longamente esperado
Esperásmo-te alguns de nós ingénuamente como quem espera um deus seu conhecido ou talvez uma força estranha e misteriosa alguém que com o fulgor da palavra ou a força do seu braço
magicamente num momento
realizasse o nosso sonho mais vital a liberdade
E vieste
Não trouxeste porém palavras mágicas Não prometeste milagres ao teu povo Trouxeste a tua convicção inabalável o teu sentido humano
a tua visão justa do mundo
e das relações correctas entre os homens Trouxeste a ideia que nos iria unir a compreensão profunda e cientifica E assim,
sem magia mas
magicamente às vezes pelo fulgor da palavra às vezes pela força do teu braço às vezes pela ideia clara e certa
afirmaste-te como guia por nós longamente esperado e abriste o caminho
para o nosso sonho mais vital a liberdade
QUERO SER TAMBOR
Tambor está velho de gritar ó velho Deus dos homens deixa-me ser tambor corpo e almo só tambor
só tambor gritando na noite quente dos trópicos. E nem flor nascida no mato do desespero. Nem rio correndo para o mar do desespero.
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero. Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero. Nem nada!
Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra. Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra. Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra! Só tambor rebatendo o silêncio amargo da Mafala. Só tambor velho de sangrar no batuque do meu povo. Só tambor perdido na escuridão da noite perdida. Ó velho Deus dos homens
eu quero ser tambor e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando a canção da força e davida só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até à construção da grande festa do batuque! Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor só tambor!
GRITO NEGRO
Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha conbustão. Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração arder até às cinzas da maldição arder vivo como alcatrão, meu irmão, até não ser mais a tua mina, patrão. Eu sou carvão.
Tenho que arder
queimar tudo como o fogo da minha combustão. Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.
SANGUE DE MINHA MÃE
Xipalapala está chamar oh, sangue de minha mãe xigubo vai começar xigubo vai comçar
e xipalapala está chamar sangue de minha mãe! Oh, sangue de minha mãe
xigubo está chamar xigubo está chamar
e eu vou entrar no xigubo sangue de minha mãe! pode vir o fiel sipai João ≪Mulato≫
com sua noga escondida nas costas e pode vir a chuva de pedra
o vento de fogo dos chifunfunumo de feitiço
e os guardas montados em negros cavalos de cascos ferrados oh, sangue de minha mãe
xipalapala está chamar alma de minha mãe! E o mato dos xipenhe vai acordar
sangue de minha mãe! Oh sangue de minha ãe
o mato dos xipenhe vai finalmente acordar e gritar no oiro terrivel da grande fogueira gritar sangue de minha mãe!
Xipalapala está chamar
mato vai acordar xigubo vai começar
oh... sangue de minha mãe xigubo vai começar e xipalapala vai cruzar os caminhos do rio e do mar gritar e suar no xigubo
gritar sangue de minha mãe!
REZA, MARIA !
Suam no trabalho as curvadas bestas e não são bestas
são homens, Maria!
Corre-se a pontapés os cães na fome dos ossos e não são cães
são humanos, Maria!
Feras matam velhos, mulheres e crianças e não são feras, são homens
e os velhos, as mulheres e as crianças são os nossos pais
nossas irmãs e nossos filhos, Maria! Crias morrem à míngua de pão
vermes nas ruas estendem a mão à caridade e nem crias nem vermes são
mas aleijados meninos sem casa, Maria! Bichos espreitam nas cercas de arame farpado curvam cansados dorsos ao peso das cangas e também não são bichos
mas gente humilhada, Maria! Do ódio e da guerra dos homens das mães e das filhas violadas das crianças mortas e anemia
cresce no mundo o girassol da esperança. Ha, Maria
pões as mãos e reza. Pelos homens todos e negros de toda a parte pões as mãos
e reza, Maria!
SIA-VUMA
Enquanto
instintivas andorinhas incansáveis fulgem as asas contra a taciturna saca azul engoma a pulso sobre nós com alcunha portuguesa de céu
suburbaninhos largam-se à mecha dos pneus e mão ou pilotos analfabetizados guiam
à pata os ≪friendships≫ de caixote SIA-VUMA! E o nosso amor de homens
descerra os olhos ao nu mais feminino de um par de pernas abertas
na insolação viril do xigubo SIA-VUMA! E noivas
cinjem aos rins
a vertigem púrpura das capulanas e reprimeme nos seus bantos corações uma a uma as missangas da tristeza e talhem a dente a xicatauana da paciência que o tempo de amar não se extingue e na espera o sonho excessivo do verdadeiro amor compensa
a alucinante visão de um novo horizonte SIA-VUMA!
E carnudos
gomos de lábios escarlates de virginidade nas nossas pálpebras
boca e músculos tlhatluvem a verdade da coacta insónia do zampungana
SIA-VUMA! E não mais o lobolo
da estiva de manhã à noite sem gozo comum dos sexos e coxas delas penetradas a machos de liberdades
SIA-VUMA! E as maxilas
das fêmeas a tin-gomas de desejo que nos mordam a carne no delírio indelével dos dentes
e femvem-nos o torso e os punhos à lei dos tintholo irados
contra as maiúsculas das letras
e algarismos nas blusas de contratados SIA-VUMA! E o comboio dos magaízas
será transporte escolar dos meninos da linha e os compondes celeiros do nosso milho
SIA-VUMA! E um círculo de braços
negros, amarelos, castanhos e brancos aos uivos da quizumba lançada ao mar num amplexo a electrogéneo
apertará o imboleiro sagrado de Moçambique à música das timbilas
violas, transitores e xipendanas SIA-VUMA!
E dançaremos o memso tempo da marrabenta sem a espora do calcanhar da besta
do medo a cavalo em nós
SIA-VUMA! E seremos viajantes por conta própria
jornalistas, operários com filhas também dançarinas de ballet arquitectos, poetas com poemas publicados
compositores e campeões olímpicos SIA-VUMA! E construiremos escolas
hospitais e maternidades ao preço de serem de graça para todos e estaleiros, fábricas, universidades pontes, jardins, teatros e bibliotecas SIA-VUMA! E guiaremos as nossas charruas editaremos os nossos livros
semearemos de arroz os nossos campos sintonizaremos a voz dos nossos emissores e bateremos também o ≪crawl≫ nas piscinas
SIA-VUMA!
E erguiremos estátuas aos nossos técnicos estádios para os nossos jovens
estâncias para os nossos velhos e represas alegóricas ao pai
à mãe e ao filho evocados nas maldições infinitas que devastaram África
SIA-VUMA! E distribuiremos amuletos de aritmética e invocaremos o exorcismo dos altos-fornos a antropologia cultural de um changana a uma virgem maconde
e a lógica diesel das geradoras de Manhiça SIA-VUMA!
E armados de marteclos e chaves de boca
montaremos água canalizada no Xipamanine todo desviaremos o machimbombo 7 para a Polana e o machimbombo 2 da Polana para o Alto-Maé e controlaremos a lavra de quilovátios todos os dias semeando amperes no Chamanculo inteiro
SIA-VUMA! E inocularemos
de nós para o mundo a vacina contra os vírus suásticos
e pendurada exibiremos ao povo dos belos bairros a relíquia fóssil da gengiva de nojo
SIA-VUMA! E à propaganda deste abecedário inoxidáveis ao mundo
levantemo-nos ao acetileno das palavras insurrectos em massa
SIA-VUMA! E deixem em nós gerar-se
irresistível a prole das sementes do beijo consanguíneo do grande dia
SIA-VUMA! Que um exame de mãos em prece
na orgia fantástica dos augúrios do nhanga há-de voltar deste exílio
mais moçambicanos connosco SIA-VUMA!
SEMENTEIRA
Cresce a semente lentamente
debaixo da terra escura. Cresce a semente
enquanto a vida se curva no chicomo e o grande sol da África
vem amadurecer tudo
com o seu calor enorme de revelação. Cresce a semente
que a povoação plantou curvada e a estrada passa ao lado
macadamizada quente e comprida e a semente germina
lentamente no matope
imperceptível como um caju em maturação. E a vida curva as suas milhentas mãos
geme e chora na sina de plantar nosso ouro branco enquanto a estrada passa ao lado
aberta e poeirenta camionizada e comprida. Depois
de tanga e capulana a vida espera espiando no céu os agoiros que vão rebentar sobre as campinas de África a povoação toda junta no eucalipto grande nos corações a mamba da ansiedade.
Oh, dia da colheira vai começar na terra ardente
do algodão!
NESSA NOITE… NÃO!
Nem que viesses de rastos, Maria os cabalos esparsos no meu peito e os bicos das rosas de seios contra os meus lábios duros... nessa noite, não!
Nessa noite eu e tu, Maria
só com os dedos bem crispados nas cavilhas metamorfoses dos tactos
em arco-íris de escamas num petróleo de gritos e a carne minha e tua sentindo na vigília a carne dos cinturões, Maria.
E as horas soando
no tenso latejar atormentado nas veias apenas o nosso amor apenas como um íman crescedno nas tuas da cidade
crescendo crescendo
para cerrar os dentes, Maria e lutar!
CANÇÃO DE AMANHECER
Ilundi entra no arco Ilundi traz a luz vai ali um guerrilheiro É um soldado da FRELIMO Ilundi entra no arco
a lua traz a luz
O soldado da FRELIMO Vai seguindo o seu caminho O caminho do soldado é vasto e longo horizonte O soldado da FRELIMO segue a luz da LIBERDADE Ilundi entra no arco
a lua traz a luz
O soldado da FRELIMO Cruzou um português Ilundi entra no arco A lua traz a luz
O português é um homem triste É um homem explorado O homem triste e explorado É um soldado português Vem servir o se carrasco
Não tem horizonte nem fim Ilundi entra no arco
A lua traz a luz
O português saltou na mina caiu Ficou na emboscada morreu O português triste e explorado Caíu no nosso solo
Uma bala o matou
Já não serve o seu carrasco Ilundi entra no arco Ilundi salta no arco
A TERRA É LIVRE A TERRA É TUA VIVA O SOLDADO FRELIMO.
A UM MENINO DO PAÍS
Menino de pés nus menino do meu país o mundo é verde e amargo com capulanas desesperadas e negro vergado na areia Um menino negro como tu Morreu assassinado quebrado no charco descarnado do ódio racista Era um menino negro como tu
de olhos verdes de sol nascente e assobio roxo
como pássaro de madrugada um menino negro
que corria de pés nus como tu
abrindo os braços ingénuos no arco sonoro da manhã
KALUNGANO*
*KALUNGANO - Pseudónimo literário de Marcelino dos
É PRECISO PLANTAR É preciso plantar mamã é preciso plantar é preciso plantar nas estrelas e sobre o mar nos teus pés nus e pelos caminhos é preciso plantar
nas esperanças proibidas e sobre as nossas mãos abertas na noite presente
e no futuro a criar por toda a parte mamã
é preciso plantar
a razão dos corpos destruídos e da terra ensanguentada da voz que agoniza
por toda a parte por toda a parte por toda a parte mamã por toda a parte é preciso plantar a certeza
do amanhã feliz
nas carícias do te coração onde os olho de cada menino renovam a esperança
sim mamã é preciso é preciso plantar
pelos caminhos da liberdade a nova árvore
da Independência Nacional.
É NESTE MOMENTO
É neste momento
que devemo-nos preparar p’ra enfrentar dificuldades. É neste momento
que devemos decidir unir, lutar e avançar. É neste momento
que devemos estar firmes labutar e defender nossa Pátria. É neste momento
que devemos sentir com mágoa
o sangue derramado pelos nossos heróis. É neste momento
que devemos estar conscientes mais corajosos
p’ra lutar nunca vacilar. É neste momento
que devemos ter em mente
e compreender a causa da nossa luta. É neste momento
que devemos voluntariamente entregarmo-nos à revolução
ONDE TE ENCONTRAR?
Não te encontrei na casa, Mas no rosto de toda a gente, na machamba e na horta, Vi-te viva.
Encontrei-te nas crianças e nos velhos,
nas mulheres,
nos adultos e nos invalidos. Encontrei-te na vida nova que cresce
também
pelo teu exemplo e sangue. Não conheço a tua tribo,
não conheço a tua região
não conheço a escola que frequentaste. Conheço-te
e encontro-te em toda a gente que vive a transformação. Tinha razão de te amar,
que amei-te nas qualidades novas,
os valores que criam a esperança de amanhã. É doloroso assim
perder a mulher
que foi mãe nas crianças, irmã nos camaradas, companheira nas armas e ternura no amor.
É doloroso perdermos a mulher
que soube na revolução emancipar-se. É doloroso perdermos-te
quando ainda somos tão poucos e tanto resta a fazer.
É doloroso perdermos
aquela que combinou a inteligência com o matope para fazer crescer a planata nova.
É doloroso perder
a força da tua juventude que desprezou o sacrifício até à morte.
É doloroso
ver cair a árvore jovem. É doloroso.
Doloroso como o fogo
que torna o ferro maleável para que este seja enxada. Doloroso
como a lâmina da enxada ferindo a terra para que a semente cresça.
Doloros-o porque necessário. Doloroso.
Por isso
seremos mais e melhores e iremos mais longe, dolorosamente estimulados pelo teu exemplo. Como teu marido
para encontrar a tua força e continuar a longa marcha,
até à vitória final. Assim,
na luta,
na revolução,
te encontro continuamente. A minha mulher pertence à revolução.
Tunduru, 9-5-71
EU, TU , NÓS SOMOS O POVO Eu sou o povo! Que canta d’alegria De trabalhar sem relógio Que vigia sem descanso Unidos sem diferença Tu és o povo!
Que passa jubilosos Nos lábios o sorriso Nos braços a força Da união entre todos nós Nós somos o povo!
Que tantos anos foi subjugado Que sofreu todas as humilhações Em coração de muitos
Reinava a esperança De um dia tudo mudar Para o dia como de hoje Como estamos no presente Eu, tu, nós somos o povo
DÉSI MORA
RETALHOS
Foi dos retalhos de ideias de poucos irmãos
que se formou a direção e a maioria do povo. Retalhos
grandes e pequenos poucos e muitos da destruição da exploração
burguesia, egoísmo e racismo Retalhos
de muitos corpos pelo chão a cobrir outros corpos que por eles passava à procura de novos abrigos Retalhos
de tiros dispersos nunca em vão, com um só fim realista
Vitória de um só povo
Povo unido do Rovuma ao Maputo Retalhos
de um Moçambique
com a consolidação de todos os povos africanos Independentes
Retalhos bons e Maus
Uma só causa: Libertação Nacional.
DÉSI MORA
MULHER MOÇAMBICANA
Depois da crise que tanto sofreste Durante longos anos no sistema colonial Que te tinha como objecto de exploração
E meio de produção tanto nas tradições reaccionárias Que tinha privado de iniciar
uma vida na sociedade E te reduziram para o homem como simples instrumento Mulher Moçambicana
Hoje pôs-se termo a tudo isso.
Essa expressão do sistema colonial-capitalista
Onde o teu corpo vendias por vezes como necessidade Inabalável tudo isso findou
Mulher Moçambicana Grita hoje com toda a força Tens direito és ouvida És respeitada e andas a par de tudo o que diz respeito
à tua Pátria. Viva O.M.M. Viva a Mulher Moçambicana Depois de tantos anos de luta
Luta-política-social-económica Pela liberdade da nossa terra
Passados por tantos calores, fome e sede implantou-se por fim a vitória
cantaremos sempre a vitória Por nós pela Frelimo.
Um só povo, do Rovuma ao Maputo Um só poder, o povo
Viva a liberdade, Terra roubada e já nossa Nosso abrigo és t Moçambique que terás sempre a defender-te Teus filhos Moçambicanos depois de dez anos de luta.
NÓS SOMOS A FRELIMO
Acordem! É nosso o dia
O sol brilha mais alto Não perguntem porquê... Irmãos! A terra é nossa a tormenta findou.
A Frelimo veio ter connosco Embora nós com o pensamento E a esperança
Vivêssemos dentro dela
Não olhem para essa núvem escura que já passou. Enquanto a Frelimo viver
Essa Frelimo que somos nós Ninguém nos vai desunir. Trabalhemos
Unamo-nos Vigiemos, irmãos A bem de Moçambique Que é nosso Pai…
ONTEM E HOJE!
Ontem
Moçambique chorou Pelos filhos que tombaram Que preferiram antes morrer Que passarem p’ra escravidão Pelos que tanto em calor Chuva sem alimento continuaram a missão de libertar os irmãos
Que na prisão se encontravam Hoje,
Moçambique está livre Seus filhos com as suas armas Vencendo o colonialista e com seu suor e sangue Implantaram a vitória A vitória de seus filhos É uma causa justa de pureza Hoje, o povo está feliz
Tem realizado o que sempre esperou A terra onde nascemos
Por ela lutamos nossa luta Que é a certeza de um novo País.
O GUERRILHEIRO EM MARCHA
Eu bem contente estou Pois sou militante Cheio de alegria estou pois sei o que via e mal sabia
Sou guerrilheiro Vim do povo Não pelo estrangeiro Sim sempre pelo povo. Missão gloriosa tenho Longa história escrevo
Angústia durante a marcha não tenho Porque um acto sagrado levo
Cinco séculos passaram! Muito camaradas tombaram Resistiram até que as forças Se lhes esgotaram
Pela fadiga não se renderam
antes morrer que viver na escravidão
≪ ≫
JOSINA MACHEL CIDADÃ DO MUNDO
Josina Machel cidadão do mundo, teu coração entendia todas as palavras todos os idiomas e dialectos---nele cabia toda a humanidade. Teu coração de música e aço tão só batia
ao compasso da liberdade e ao ritmo milagroso do amor. Tu trazias a força da verdade e a sua luz ascendia como um sol. Tu nos ensinaste a ver o mundo dum modo limpoe verdadeiro. Teu exemplo nos mostrou que há homens e não raças que em todas as veias do mundo corre o mesmo sangue vermelho. Por ti Josina, sabemos
que entregar-se é salvar-se
que a entrega generosa aos semelhantes é algo formoso, ineludível,
necessário como o pão que comemos e o ar que respiramos.
Josina Machel, irmã e mestra, exemplo, semente e companheira, tu não morreste, nunca morrerás:
o amor e a liberdade não se podem matar.
MEMÓRIA IMORTAL
MONDLANE, inesquecível Mondlane Teu nome verdadeiro é:
Eduardo Chivambo Mondlane
Que belo nome. Um nome de luz e esperança
Libertaste Moçambique inteiro ro Rovuma ao Maputo do domínio colonial-fascista de Salazar e Caetano. Choramos por ti Mondlane
Que para nos libertar das garras: - Da miséria, da fome e da nudez Em que durante quinhentos anos de - Escravidão, opressão e represálias Éramos totalmente submetidos. Para isso, teu precioso sangue deste. Oh Mondlane, o povo chora por ti. Que fulminado pela bomba do inimigo da liberdade, da paz e do povo
Tombaste sem ver o teu sonho realizado. Mas, oh, afirmaste que podias morrer feliz Porque a revolução e a luta continuam
E com firmeza, assim continua e continuará sempre. Oh, Mondlane a tua alma imortal
De geração em geração Jamais será esquecida. Viva Mondlane!
POESIA
Josina tu não morreste O teu sangue até agora Serve como água corrente do mar.
Josina tu não morreste
A tua arma que deixaste em Moçambique para o povo, E a tua força que deixaste em Moçambique para o povo, Não se perderam:
Nós continuaremos com a luta. O que é a luta?
Sangue e suor.
O teu sangue derramado, porque derramado pelo povo dá-nos força p’ra levar a luta até ao fim.
AS TUAS DORES
As tuas dores
mais as minhas dores vão estrangular a opressão Os teus olhos
mais os meus olhos vão falando de revolta A tua cicatriz
mais a minha cicacriz vão lembrando o chicote As minhas mãos
mais as tuas mãos vão pegando em armas A minha força
mais a tua força
vão vencer o imperialismo O meu sangue
mais o teu sangue vão regar a vitória.
UM CANTO DE ESPERANÇA E TODAVIA DE LUTO
Para a Josina uma lágrima
como uma bandeira ao vento
I - Uma flor de sangue assim, de repente,
como a manhã que nasce, violentamente
como a nuvem acontecendo em chuva sobre a terra,
deixaste-nos em herança
uma flor de sangue. E pesa sobre nós
a vermelha mensagem com mais vento que o ciclone, e dolorosamente,
Como a tristeza de uma carícia antiga, a recordação da tua graça,
a flor.
II - Porque canto a vida Porque na terra
antes de se oferecer ao vento ao vento a espiga,
Eu canto na morte a vida
Porque no fogo e no martelo
se forja o informe pedaço de ferro antes de ser na mão
enxada e lança, eu grito a vida
por cima de tua morte.
III - Agora
guardamos o teu sacrifício como uma exigência de ainda mais nos darmos e nos ombros de cada um duas armas
querem criar
o cântico da liberdade. em nós
a força da tua juventude e a coragem de ser.
Na mochila pronta para a marcha que nos legaste,
ficou morta e a morte
porque a marcha prossegue em cada acto novo
de coragem. E hoje também,
continuar a luta é continuar a vida, é viver o teu exemplo.
ESCUTA A VOZ DO POVO, CAMARADA
Escuta camarada, a voz do nosso povo. É uma voz antiga como o tempo, amordaçada
mas fremente de sonhos,
determinada como uma certeza, altiva e cortante como uma dor que acusa.
Ouve-la? É Wyriamu, é Mueda que choram os seus filhos massacrados...
são camponeses que amaldiçoam os colonos que lhes roubaram a terra...
são mães que nos acolhem como heroís no regresso dos combates...
Escuta a voz do povo, camarada. Faz com que ela seja a tua luz,
deixa que ela te envolva como uma manto invisivel mas pesado
imensamente pesado
porque tem o peso de todos os sofrimentos que devem acabar, de todos os sonhos que devem tomar forma.
NO POVO BUSCAMOS A FORÇA
Não basta que seja pura
e justa a nossa causa.
É necessário que a pureza
e a justiça existam dentro de nós.
Dos que vieram e conosco se aliaram
muitos traziam sombras no olhar motivos ocultos
intenções estranhas.
Para alguns deles a razão da luta era só ódio: um ódio antigo centrado e surdo
como uma lança.
Para alguns outros era uma bolsa: bolsa vazia (queriam enchê-la) queriam encê-la com coisas sujas inconfessáveis.
Outros viemos.
que o povo quer realizado.
É ter a terra onde nascemos. É sempre livres p’ra trabalhar. É ter p’ra nós o que criamos. Lutar p’ra nós é um destino - é uma ponte entre descrença e a certeza do mundo novo.
na mesma barca nos encontrámos. Todos concordam - vamos lutar. Lutar p’ra quê?
P’ra dar razão ao ódio antigo? P’ra encher a bolsa
com o suor do povo? Ou p’ra ganharmos a liberdade
e ter p’ra nós o que criamos?
Na mesma barca nos encontrámos. Quem há-de ser o timoeiro?
Ah as tramas que eles teceram! Ah as lutas que ali travamos! Mantivemo-nos firmes: no povo buscávamos a força
Inexoravelmente
como uma onda que ninguém trava vencemos.
O povo tomou a direção da barca.
Mas a lição lá está, foi aprendida: Não basta que seja pura
e justa a nossa causa.
É necessário que a pureza
e a justiça existam dentro de nós.
QUEM SOU EU
Se me perguntares Quem sou eu Com essa cara
Cavada de bexigas de maldade Com sinistro sorriso
Nada te direi Nada te direi
Mostrar-te-ei as cicatrizes de séculos Que sulcam minhas costas negras Olhar-te-ei como olhos de ódio
Vermelhos de sangue vertido durante séculos Mostrar-te-ei minha palhota de capim A cair de reparação
Levar-te-ei às plantações Onde de sol a sol
Me encontro dobrado sobre o solo Enquanto trabalho árduo
Mastiga meu tempo
Levar-te-ei aos campos cheios de gente Onde gente respira miséria toda a hora Nada te direi
Mostrar-te-ei somente isto
E depoisMostro-te os corpos do meu povo Tombados por metralhadoras traiçoeiras
Palhotas queimadas por gente tua Nada te direi
POEMA DE UM MILITANTE
Mãe,
eu tenho uma espingarda de ferro! O teu filho,
aquele a quem um dia tu viste acorrentarem
(e choraste,
como se as correntes prendessem e ferissem
as tuas mãos e os teus pés) o teu filho já é livre, mãe!
O teu filho tem uma espingarda de ferro! A minha espingarda
vai quebrar todas as correntes vai abrir todas as prisões vai matar todos os tiranos
vai restituir a terra ao nosso povo Mãe, é belo lutar pela liberdade!
Há uma mensagem de justiça em cada bala que disparo! Há sonhos antigos que acordam como pássaros
Nas horas de combate, na frente de batalha a tua imagem próxima desce sobre mim É por ti também, que eu luto, Mãe Para que não haja lágrimas nos teus olhos.
IRMÃO DO OCIDENTE
Irmão do Ocidente...
(como explicar-te que és nosso irmão?) O mundo não acaba à porta de tua casa nem no rio que limita o teu país nem no mar
em cuja vastidão às vezes pensas teres descoberto o sentido do infinito
para além da tua porta para além do mar
o grande combate continua homem de olhar quente e mãos duras como a terra
à noite abraçam os seus filhos E partem ao nascer do sol
muitos não voltaram. Que importa! Somos homens cansados das algemas Para nós a liberdade
vale mais do que a vida de ti, irmão, nós esperamos, não a mão caridosa
que humilha e mistifica mas a mão solidária,
cometida, consciente. Como podes recusar,
Irmão do Ocidente?
CANTO DE GUERRILHEIROS
Nós nascemos do sangue dos que morreram, porque o sangue
é terra onde cresce a liberdade. Os nossos músculos
são fardos de algodão amarrados de ódio, o nosso passo
sincronizou-se nas fábricas onde as máquinas nos torturam. Foi na profundidade das minas, onde o ar foge espavorido, que os nossos olhos se abriram. Nó filhos de Moçambique,
pela pátria que nos levou no ventre, Nós braço armado do povo,
pelo ódio que as companhias nos ensinaram, Nós grito de vinganaça das mulheres,
pela viuvez gerada pelo chibalo, Nós vontade de aprender das crianças, pela fome imposta pelo algodão,
Nós juramos que a luta continua, necessária e imperiosa, como o calor que o sol traz a madrugada.
Pelo sangue de Fevereiro,
juramos que as nossas bazookas beberão mais aço,
Pela explosão de Fevereiro, juramos que as nossas minas devorarão mais corpos, Pela ferida de Fevereiro,
juramos que as nossas metralhadoras abrirão clareiras de esperança, Pelo cadáver de Fevereiro, Pela traição de Fevereiro,
Pelo ódio acrescentado em Fevereiro, Nós gritamos a nossa vontade de libertar a pátria.
DEZ ANOS DE LUTA
Dez anos de luta passaram Luta encarniçada e popular Pela Liberdade e Independência Total e completa de Moçambique Dez anos passados são muito Porque permitiram conhecermo-nos Deram-nos experiência de combate Conhecimento profundo do inimigo Varias fases atravessadas
Conflitos e contradições entre nós Consolidaram a unidade
Descamuflando os reaccionários A Linha ideológica da FRELIMO Cresceu e aclarou-se em muitos No combate contra os vícios internos Transformando os homens em novos Muitos anos passaram já
Sob a direcção da FRELIMO Na sagrada missão de Liberdade Incumbida pelo Povo
Muito temos ainda por fazer Implantando a Bandeira Pátria Levar aceso o fogo da Liberdade
A meta desejada o Maputo
Reforcemos e aceleremos a caminhada Iluminados p’la ideologia da FRELIMO Desprezando as nossas vidas
LIBERDADE!!!
O sol que vivia no escuro De repente surgiu
E seu brilho ilumina Do Rovuma ao Maputo. Isso é a Liberdade! A terra que inculta estava Sem tratamentos nem água, O animal que se escondia de tudo Sem casa sem comer
Hoje a terra é remexida Pelas enxadas das nossas mãos Mesmo o cão não foge e come Isto é... Liberdade!
Aquele sorriso irmão que perdeste naquelas grades tão sem luz
E as torturas que em ti deixaram marca Hoje, o sorriso é largo em ti
Grader não te assutam
As torturas são o passado com esperança De que um dia coisa certa viria
CAMARADA INIMIGO
Esteve aqui um inimigo sem fome, muita.
Deixou-me este inimigo uma ração de combate com formigas E 2 pedaços de papel de jornal com excrementos
E 22 latas de cervejas vazias E capim pisado.
Contou-me muita informação preciosa este inimigo Sei que há três meses fazia frio em Lisboa (Portugal)
Caetano está bom na legenda mas só tem meia cabeça na foto E o seu sorriso acaba onde começa mais excremento
Caetano está bom mesmo e o Povo Portugues muito triste Hoje há 3 meses pois Eusébio não alinha por ter menisco E Santo Francisco de Paula é senhorio de Lisboa dos pobres. Sei ainda que este inimigo tem a doença da sede para
[esquecer. Tem pouca fome porque ainda não sabe aprender a esquecer Tem diarreia, tem lombriga tem solidão
E só sabe fumar metade do cigarro.
Este inimigo deixa muita informação e rasto Não pode ser um inimigo tão assim tanto É um camarada trabalhando no campo inimigo É pelo menos um agente duplo.
VENCEREMOS
A ultima coisa que vi foi nada.
Logo a seguir às labaredas foi nada o que vi então Com um grande silêncio espantíssimo por cima de nada E um cheiro queimado de carne
Que vinha de dentro do peito para a boca. Agora estou só nos ouvidos e na língua vagarosa
Eu que só pensava dentro dos olhos penso mal na língua E o mundo inteiro é muito pouco agora
E tudo quanto está chegando aos meus ouvidos é pouco. Não poderei fazer mais a mesma tarefa
Mas a luta continua pois é independente de um homem só E haverá outra tarefa para dois ouvidos e uma língua. Venceremos.
OPERAÇÃO DA GUERRA DE LIBERTAÇÃO
Esta árvore amiga é o inimigo
Destroncar esta árvore é uma operação contra o inimigo. Escolhemos um inimigo, inimigo, à medida de nossa
[grandeza Um inimigo do tamanho da nossa tarefa
Que vai dar muita chatice a cair, e táctica e estatégia E vai servir derrubado melhor que em pé
Pois se que esta terra é boa para uma árvore tão alta Há-de ser muito boa para dar machamba.
Vai ser ataque de serrote ou machada ou enxada na raiz? Vai cair para o lado do vento?
Vai ser de cinto de fogo ou trotil mesmo? Vai ser com as mãos fazendo força, camaradas? Onde há ma árvore maior que a força do Povo?
Se vier o velho, a mulher, o menino, todos um e um e um Riscar com a unha do dedo pequeno, lamber com a língua Nove milhões de pequenas carícias e pouca força
Esta árvore cai mesmo.
Por onde passa o Exército de Libertação
Fica com um rasto verde e cheiroso e o caminho aberto Para passar a Liberdade e o Futuro.
É fácil ver quem passou aqui.
PÉS DA MESA
Um camponês, um operário, um pescador, um estudante Discutiam quem é melhor, quem é mais. Quem é que É. Era um estudante. Era um pescador. Era um operário. Era um
[camponês. Sem Eu camponês não há colheira não há pão de comer Sem Eu pescador não há pesca não há carne de peixe Sem Eu operário não há ferramenta para fazer comer Sem Mim estudante, não há nada disso sem ciência para
[organizar. Estavam os 4 pés da mesa a discutir
Eu Eu Eu Eu é que seguro a Mesa de pé. Xi! Por isso há tampos de mesa pesados Que metem os pés no chão dentro com o peso. Um soldado do Povo veio do calado dizer: Somos todos pés de Mesa da Pátria
Para servir o futuro bem cozinhado aos Continuadores E afinal somos todos fazendo a mesma coisa
Semear, forjar, pescar, estudar, lutar
Cade um trabalha diferentes caras da Natureza Com diferentes maneiras e diferentes utensílios A enxada é anzol é martelo é livro é arma O martelo lavra, cria, estuda a manobra do ferro
A rede faz colheira, molda o mar, aprende do, vence o mar O livro semeia a cabeça, forja a Inteligencia da Mão Pesca o Conhecimento, Luta com a Ignorância.
O guerrilheiro Semeia a Unidade, Edifica o Trabalho
Navega na vigilância, Estuda o Serviço do Povo, Luta com a [Divisão Onde está essa tanta diferença? Que é ser mais ou menos? Há aí alguém tanto assim muito Enorme?
HINO DE MOÇAMBIQUE
Ergue-se um coro neste dia um coro de alegria
de vozes libertadas
que cantam a glória do nasce de um povo. Neste coral
mil vozes confundem
e entoam este cantar de amor a Moçambique. Às vozes que se elevam
milhares de outras se juntam - vozes que não se escutam mas que estão sempre presentes. São vozes do passado
dos que lutaram
contra a ignomínia da opressão, as vozes dos que choram saudades da terra-mãe em terras estrangeiras
para onde acorrentados os levaram para onde prisioneiros os venderam. Escuta-se o clamor dos ofendidos escuta-se, sente-se, vibra a dor das pesadas grilhetas, das machilas das torturas suportadas por nossos irmãos Os escravos estão conosco nessa hora
de libertação os que deram a vida
- os heróis do passado que lutaram contra o colonialismo e a violência Maguiguane, Bonga, Gungunhana Makombe e quantos mais? E os de hoje?
Os que morreram nesta luta os que partiram antes desta hora estão também connosco.
O hino que entoamos Canta suas glórias suas batalhas seus heroísmos sua abnegação.
Josina, Mondlane e quantos mais? Vossos nomes estão em nossas mentes para sempre.
Connosco vivereis eternamente. Esta é a nossa glória, a vossa obra.
Fostes os arquitectos desta independência. Por ela destes a vida.
Eis-nos livres
Senhores dos nossos destinos.
Eis-nos, povo moçambicano libertado. Uma estrada se abre em nossa frente.
e de novo venceremos
essa batalha, agora feita na paz, esta batalha para alcançar progresso, riqueza e bem-estar para o nosso Povo
unido e libertado
ÍNDICE
Prefácio---05
Poema dedicado a Eduardo Mondlane---11
Quero ser tambor---13
Grito negro---15
Sangue da minha Mãe---16
Reza, Maria!---18
Sia-Vuma---20
Sementeira---24
Nessa noite… Não!---27
Canção de amanhecer---28
A um menino do País---30
É preciso plantar---32
É neste momento---34
Onde te encontrar?---35
Eu, tu, nós somos o povo---38
Retalhos---39
Mulher Moçambicana---40
Nós somos a Frelimo---42
Ontem e hoje!---43
Ó guerrilheiro em marcha---44
Josina Machel cidadã do Mundo---45
Memória Imortal---47
Poesia---48
As tuas dores---49
Um canto de esperança e todavia de luto---50
Escuta a voz do Povo, camarada---53
No povo buscamos a força---54
Poema de um militante---59
Irmão do Ocidente---60
Canto de Guerrilheiros---61
Dez anos de luta---63
Liberdade !!!---65
Camarada inimigo---66
Venceremos---67
Operação da guerra de libertação---68
Pés da mesa---69
Composto e impresso na COOPRETIPO S.C.A.R.L.
R. José Falcão, 114 / 122 Telef. 24644 * PORTO