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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE - CCS DANIELLA STUMPF SENTIDO DE VIDA À LUZ DA LOGOTERAPIA

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CURSO DE PSICOLOGIA

DANIELLA STUMPF

SENTIDO DE VIDA À LUZ DA LOGOTERAPIA

Itajaí 2006

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DANIELLA STUMPF

SENTIDO DE VIDA À LUZ DA LOGOTERAPIA

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí.

Orientador: Msc. Aurino Ramos Filho

Itajaí 2006

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente ao Professor Msc. Aurino Ramos Filho, agradeço por ter me acompanhado durante a realização do trabalho e compartilhado da sua sabedoria comigo.

Ao meu companheiro Marcio Zanotto, pelas valiosas contribuições dadas ao meu trabalho e à minha vida. Principalmente por estar ao meu lado não apenas nos momentos bons, mas também por ter me acompanhado nos momentos mais difíceis, em que pensei várias vezes em desistir. Agradeço por ser essa pessoa maravilhosa e especial. Também pelo afetuoso e constante apoio, incentivo, dedicação, companheirismo, sinceridade, paciência, e todo carinho e amor nesses anos todos.

Aos meus pais e irmãos, que mesmo estando longe sempre me apoiaram da melhor forma no que fosse possível. Agradeço por tudo que fizeram por mim, se não fossem vocês eu não teria chego até o fim.

À professora Maria Glória e ao Psicólogo Luciano Estevão por terem aceito fazer parte da minha banca. Principalmente ao Luciano pela força, paciência, amizade, incentivo e “puxões de orelha” tentando me animar. Agradeço por ter me acolhido em momentos em que me senti perdida e cheia de dúvidas, você contribuiu muito para a conclusão não só deste trabalho, mas também na conclusão do Curso de Psicologia.

Aos amigos, pelo carinho, amizade, companheirismo, aprendizagem e compreensão em todos os momentos. Agradeço em especial àqueles que ofereceram a sua sincera amizade e estiveram comigo desde o início desta jornada.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 5

2 EMBASAMENTO TEÓRICO... 9

2.1 Logoterapia... 9

2.1.1 Consciência, Liberdade e Responsabilidade na Logoterapia... 12

2.1.2 O homem em busca do sentido... 16

3 METODOLOGIA... 24

3.1 Delineamento da Pesquisa... 24

3.2 Métodos e técnicas utilizadas... 24

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS... 26

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 32

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SENTIDO DE VIDA À LUZ DA LOGOTERAPIA

Orientador: Msc. Aurino Ramos Filho Defesa: junho de 2006.

Resumo:

O presente trabalho se propõe a investigar na perspectiva da Logoterapia, a descoberta de um sentido para vida. Concentra-se na pesquisa bibliográfica, onde se pretende compreender o ser humano, extrair da literatura logoterapêutica a compreensão de sentido e inter-relacionar com a descoberta de um sentido para vida e os possíveis caminhos, que segundo a Logoterapia possibilitam a sua descoberta. Para este estudo utilizou-se a pesquisa sobre a logoterapia, e principalmente na obra de seu idealizador Viktor Emil Frankl e alguns autores que conviveram com Frankl e continuaram a estudar e a divulgar a Logoterapia. Constatamos que o ser humano é classificado na Logoterapia como um ser físico-psíquico-espiritual, e a dimensão espiritual recebe o nome de noética. Nesta dimensão agem as capacidades da consciência, liberdade, responsabilidade e ainda autodistanciamento e autotranscendência. Estas capacidades levam o homem a ser diferente de qualquer outro ser vivo. Por isso a Logoterapia afirma que a dimensão noética que é onde se encontram estas características, é especificamente humana. E é esta dimensão que faz com que o homem encontre em sua existência um sentido. Sentido que pode ter os caminhos da ação, da contemplação e do sofrimento que não pode ser evitado. Palavras-chave: dimensão noética; sentido de vida.

Abstract:

This study proposes to investigate, in the light of Logotherapy, the discovery of a new sense for life. Concentrates itself in bibliographics research, where it intends to comprehend the humn being, extract of the logotherapeutics Literature the understanding the sense and inter-relacionates with the discovery of a new sense for life and ways possible,that Segundo the Logotherapy they make possible the your discovery. To this study if was used the research aboutLogotherapy and, mostly, the work of its idealizer, Viktor Emil Frankl, ando f some others outhors that lived with Frankl and continued to study and publish the Logotherapy. It was estabilished that the human being is classified in the Logotherapy like a phhisic-psichic-spiritual being, and the phhisic-psichic-spiritual dimension is named distance and self-transcendence. These abilities, wich takes tha man to turn himself different of any other living-being. Because of that, the Logotherapy affiems that the noethics dimension is where is found that features and is specifically human. And is this dimension specifically human that makes the man find is his existence a meaning. Meaning that can have ways of action, comtemplation and suffering, that cannot be avoided.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho investigou na proposta logoterapêutica a possibilidade da descoberta do sentido de vida. A pesquisa se justifica por atingir uma área de conhecimento em Psicologia pouco divulgada no meio acadêmico. Também pela curiosidade e motivação em conhecer essa dimensão do ser humano, essa força que o impulsiona à vida e faz com que ele tenha esperança e atribui a algo ou alguém, incondicionalmente, o “para que” viver independente das situações e condições de sua vida.

Em suas primeiras pesquisas Frankl já apresentava a preocupação em estudar as questões existenciais, bem como a questão do sentido e as alternativas que possibilitam essa descoberta. Através de seus pressupostos teóricos mostra-nos que o homem possui a capacidade de ir além de todos os condicionamentos.

Em meio aos fatos e acontecimentos da atualidade, o homem, principalmente o jovem, se encontra perdido frente às situações que lhe são impostas pela vida. O aumento do desemprego, da violência, das desigualdades sociais, da fome, entre outros, afetam o ser humano e, na maioria dos casos, o impedem de perceber e vivenciar a totalidade do ser.

O ser humano “apesar de” possui a liberdade “para” tomar atitudes frente a tais circunstâncias, podendo vir a ter uma existência cheia de sentido e de propósitos, independente das situações em que se encontra. O sentido pode ser encontrado no dia-a-dia, fazendo algo por alguém, através do amor e inclusive frente ao sofrimento que não pode ser evitado.

A Logoterapia é considerada Escola de Psicoterapia de Viena, sendo posterior a Psicanálise Freudiana e a Psicologia Individual de Adler. É uma abordagem

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considerada fenomenológica, existencialista, humanista e teísta propondo uma visão de homem diferenciada das concepções psicológicas vigentes em sua época. Surge da profunda experiência de Frankl após permanecer três anos nos campos de concentração em Auschwitz e Dachau, vivenciando na pele a dor e o sofrimento com milhares de pessoas na época em que ocorre a Segunda Guerra Mundial.

Viktor Emil Frankl, o criador da Logoterapia, nasceu em Viena no dia 26 de março de 1905 e morreu no dia 2 de setembro de 1997. Foi discípulo de Sigmund Freud e de Alfred Adler. Frankl (apud GOMES, 1987, p.27) afirmava que “era um anão que subira nos ombros destes dois gigantes para enxergar longe”. Não se satisfazendo com as duas correntes, que deram impulso a sua pesquisa, cria a sua própria teoria.

Na corrente histórica do pensamento filosófico era importante formular uma nova concepção do homem, para responder a uma necessidade histórico-cultural, que pedia uma conceituação que fosse não mais profunda, mas que também incluísse uma visão de totalidade, o espiritual (noético) que outras correntes não incluíam. O pensamento frankliano, não se reduz à dimensão somática e psicológica e sim compreende a dimensão do espírito humano (XAUSA, 1986).

A Logoterapia acredita na capacidade que o homem possui de frente a determinadas situações poder transcender a si mesmo e modificar-se diante delas. O homem é responsável pela direção que dá a sua vida.

Ao introduzir o conceito de noética ou dimensão espiritual, Frankl contraria Freud, pois entende que a pessoa humana, além de ter uma sexualidade reprimida, tem também um Deus, uma religiosidade inconsciente. Frankl (apud GOMES, 1987) vê o homem como um ser que integra as dimensões bio-psico-sócio-noética, conduzindo o ser humano na busca de significado para a vida.

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No campo de concentração, Frankl percebeu a capacidade do ser humano em suportar os mais intensos sofrimentos quando a vida possui um sentido, ou mesmo quando se tem uma forte razão para continuar vivendo independente do motivo pelo qual vale a pena sofrer.

Por estar centrada na busca do sentido vital, e através de suas técnicas psicoterápicas, ser uma tentativa de encontrar um sentido para a vida de cada pessoa na sua realidade, em seu sofrimento, em sua existência, a Logoterapia apresenta como possibilidade de experiências constitutivas de sentido três caminhos que podem ser descobertos pelo ser humano.

O ser humano é capaz de descobrir o sentido da vida por meio do trabalho, (com uma ação, fazendo alguma coisa pelo mundo) por meio do amor (se dedicar a alguém) e através do sofrimento (quando o sujeito se pergunta para que esta sofrendo, qual é o sentido daquilo no qual está vivendo sendo capaz de transformar-se frente às questões que a vida lhe impõe).

Dentro da Logoterapia o sentido não só se modifica de um dia para outro e de uma hora para outra, mas também é diferente de pessoa para pessoa. É a direção que o homem pode dar à sua vida através da descoberta do significado que ela possui, da possibilidade de ser livre e responsável. A busca de sentido na vida da pessoa é a principal força motivadora no ser humano que se direciona para fora de si, no mundo.

O trabalho teve como objetivo geral investigar a luz da Logoterapia o que é sentido de vida. Os objetivos específicos foram extrair da literatura logoterapêutica a compreensão de sentido. Também relacionar a compreensão de sentido com sentido de vida e explicitar as alternativas possíveis que segundo a Logoterapia possibilitam a descoberta de sentido.

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Para a realização deste trabalho a metodologia empregada foi a pesquisa bibliográfica, mais especificamente obra de Viktor Emil Frankl e também autores que trabalham com a sua proposta.

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EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1

Logoterapia

A Logoterapia é uma linha existencial-humanista que busca superar o psicologismo reducionista propondo uma visão de homem diferenciada das concepções psicológicas de sua época. Foi criada pelo médico e psiquiatra vienense Viktor Emil Frankl sobre a moderna análise existencial, que se afirma de sua experiência nos campos de concentração. É considerada uma tentativa de humanização das psicoterapias e significa a psicoterapia através do sentido da vida. Logos é uma palavra grega que equivale a sentido, significado ou propósito. A logoterapia se centra no significado da existência humana, assim como na busca de sentido por parte do homem. Está à procura de um sentido para a vida de cada pessoa, na sua realidade, em seu sofrimento, em sua existência.

A logoterapia viu os limites da doutrina e da prática das escolas que a precederam, mas, sobretudo pôde superá-las em vários aspectos, particularmente na conceituação “ideal” do homem, e na presença do homo humanus tanto no terapeuta como no paciente (XAUSA, 1986). Ideal no sentido de abordar a totalidade do ser, integrando a dimensão noética ao entendimento do ser humano.

Frankl se propõe a preencher as lacunas existentes em algumas concepções psicológicas.

A logoterapia diverge da psicanálise na medida em que considera o ser humano um ente cuja preocupação principal consiste em realizar um sentido, e não na mera gratificação e satisfação de impulsos e instintos, ou na mera reconciliação das exigências conflitantes de id, ego e superego, ou na mera adaptação e no ajustamento à sociedade e ao meio ambiente (FRANKL, 2000. p. 95).

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Frankl reconhece em sua trajetória científica as valiosas contribuições destes dois mestres, Sigmund Freud e Alfred Adler, e também de outras contribuições importantes como as de Pötzl, Schwartz, Geslermann, Allers, Watson, Skinner, Pavlov, e outros.

A publicação de um de seus artigos em 1924, na Revista Internacional de Psicanálise por Freud, foi um dos estímulos para dedicar-se ao estudo e aperfeiçoamento da psicologia. Nesta época a tendência do ensino universitário era marcadamente organicista. Frankl discordando do posicionamento reducionista analítico, que descreve o psiquismo com modelos da anatomia, e afirmando um determinismo instintivo carente de uma explicação unitária, vai em busca de uma verdade científica mais condizente, para ele, com a pessoa humana. (XAUSA, 1986).

Por não acreditar que a pessoa humana caminha pelo mundo apenas sob a força dos impulsos nem estar em busca do poder e da conquista da superioridade proposta por Adler, introduz sua própria filosofia logoterapêutica (GOMES, 1987).

Considerando sua experiência pessoal aí, bem como a de seus companheiros de reclusão, ele conclui que as necessidades superiores não necessitam de estar condicionadas às inferiores como afirma Maslow; que o sexo, nestas condições existenciais, não desempenhou o papel que lhe dá Freud; que a maioria dos condicionantes humanos foram superados e que a vontade de poder de Adler não foi a mola mestra do comportamento humano. Sua sobrevivência e dos companheiros que resistiram devia-se ao sentido que lhes dava capacidade de transcender àquelas grades, através do sofrimento, e da atitude intencional e livremente aceita rumo a um valor mais alto (XAUSA, 1986 p. 39).

Frente à vontade de prazer de Freud e a vontade de poder de Adler, Frankl propõe a vontade de sentido. Em 1926, durante uma conferência para psiquiatras que houve em Viena, Frankl usou pela primeira vez a expressão logoterapia. Theresienstadt, Türkhein, Kaufering e Auschwitz foram as etapas de seu experimentum crucis percorridas como prisioneiro comum. E foram os locais em que,

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de forma dolorosa, desenvolveu as reflexões que confirmaram a sua proposta (XAUSA, 1986).

A logoterapia surge como alternativa clínica e busca a compreensão do ser humano não somente como um ser biológico, psicológico e social. Além dessas traz para a compreensão do homem a dimensão noética também chamada por Frankl de dimensão espiritual.

A dimensão espiritual considerada não no sentido religioso, mas no de vida mental ou intelectual supondo um princípio de ação transcendente à materialidade do ser.

É na dimensão noética que a pessoa transcende a si mesma, e faz dos significados e valores uma parte fundamental da sua existência. Frankl fala da “autotranscendência” sendo que cada pessoa é única, vivendo através de momentos únicos e insubstituídos que só pode ser realizado por aquela pessoa como uma missão a cumprir.

Frankl se deparou com o fato de que essa dimensão especificamente humana é inconsciente manifestando-se através da intuição. O homem é constituído de uma intencionalidade que o dirige para algo ou alguém fora de si mesmo capaz de orientá-lo. Frankl fala da relação com a transcendência apreendida pelo sujeito, que algo maior do que o homem o guia em direção a realização do sentido de vida.

A dimensão noética ou espiritual segundo Frankl pode ser definida como a dimensão onde ocorrem fenômenos característicos do ser humano, fenômenos que apenas o ser humano possui de autodistanciamento e autotranscendência, dimensão em que se procura pelo sentido da vida.

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Segundo Frankl (apud GOMES, 1987) a dimensão espiritual é um Deus vivo na intimidade da pessoa humana, uma instância considerada inatingível por nenhuma doença e não deve ser confundida simplesmente com a fé.

Por acreditar nesta dimensão inatingível da pessoa, a psicoterapia existencial de Frankl tem sua raiz numa crença incondicional na pessoa. Na pessoa humana vocacionada para a liberdade e que, por ter consciência de sua responsabilidade para com a vida, deve ser tratada como capaz de ser livre, de pilotar seu destino nas condições mais adversas. Ser único. Espécime raro. Exemplar perfeito, puro e irrepetível na vastidão do mundo Assim é a Logoterapia. (ibid., 1987 p. 39).

É na dimensão noética que agem as capacidades da consciência, liberdade, responsabilidade e ainda autodistanciamento e autotranscendência.

2.1.1 Consciência, Liberdade e Responsabilidade na Logoterapia

A dimensão espiritual apresenta-se como a dimensão da vivência da liberdade e da consciência de sua responsabilidade. Caracteriza-se pela capacidade do ser humano em responder pela liberdade de forma incondicional, pela posição diante das circunstâncias presentes.

Frankl (2000) acredita nas capacidades do ser humano, afirma que viver significa arcar com a responsabilidade de responder de maneira adequada às perguntas da vida, pelo cumprimento das tarefas colocadas pela vida e pelo cumprimento da exigência do momento.

A dimensão humana é a da liberdade provenientes das condições bio-psico-sociais, a liberdade de tomar uma atitude de acordo com as condições humanas. Na dimensão do espírito somos livres e podemos exercer influências sobre a nossa existência.

Frankl (2000) percebe nos campos de concentração a existência da liberdade do espírito humano, de atitude livre do eu frente ao meio ambiente. Afirma que “se

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pode privar a pessoa de tudo, menos da liberdade última de assumir uma atitude alternativa frente às condições dadas” (ibid., 2000, p. 66).

Segundo Frankl, qualquer homem podia, inclusive sob tais circunstâncias, decidir o que seria dele – mental e espiritualmente – pois ainda no campo de concentração se pode conservar a dignidade humana. É esta liberdade espiritual, que não nos podem arrebatar, o que faz que a vida tenha sentido e propósito (XAUSA, 1986, p 37).

Na visão logoterapêutica, toda pessoa independente das circunstâncias em que se encontra possui a liberdade de decidir de alguma maneira no que ela acabará sendo. Independente do sofrimento toda a liberdade espiritual do ser humano permite-lhe configurar a sua vida de modo que tenha sentido (FRANKL, 2000).

A Logoterapia nega que o ser humano é condicionável, “a Logoterapia tem a pessoa humana como livre no sentido mais extremo que seja possível compreender, ou seja, cada indivíduo tem dentro de si uma vocação para a liberdade” (GOMES, 1987, p. 47).

A liberdade oferece ao homem a oportunidade de mudar, de renunciar ao seu eu e inclusive de enfrentá-lo. Segundo Frankl (apud GOMES, 1987, p.52), “cada pessoa está buscando encontrar o sentido de sua vida e precisa de liberdade para deixar marcas na história e sinais de presença no mundo”.

Cada coisa que fazemos neste mundo parece esconder uma intenção, e nada acontece sem que haja um propósito, ainda que dele não tenhamos nítida ”consciência”, pois, afinal, o homem, que é um ser livre, jamais pode fingir que não sabe o que está fazendo, não pode fingir inconsciente (ibid, 1987, p. 51).

Frankl herdou do pensamento de Adler a crença de que todos nós somos pessoas conscientes e temos controle de tudo o que fazemos. O homem, por ser consciente, possui uma intencionalidade em suas atitudes e só as faz por terem sentido (GOMES, 1987).

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Através da consciência o homem se humaniza e passa a dar expressão a sua liberdade pessoal, a tomar atitudes e assumir uma posição responsável frente à vida e ao sentido desta.

As exigências que a vida nos faz sempre são concretas. A Logoterapia é a descoberta e encontro do sentido, pois é através desta que se procura criar nele uma consciência de sua própria responsabilidade.

A responsabilidade nasce da consciência humana de ser livre. Na ótica da Logoterapia, ela deixa de ser uma virtude determinada de fora para dentro e aparece como vocação pessoal do homem. É a capacidade que temos de responder à vida e de assumir aquilo que fazemos no mundo (GOMES, 1987).

Mesmo que a pessoa não assume a sua responsabilidade, o homem possui a liberdade e “tomou uma atitude de não tomar atitude”.

Consciência, liberdade e responsabilidade estão entrelaçadas, nenhuma delas pode ser concebida como entidade suspensa no ar ou conceito filosófico, pois são qualidades do ser humano compreendidas como manifestação do homem no mundo (GOMES, 1987).

Alicerçada na exaltação da consciência da responsabilidade e da liberdade humana podemos afirmar que a Logoterapia é uma forma de análise existencial que, além de ter uma filosofia humanista, elaborou também algumas técnicas clínicas para atuação prática (ibid, 1987). As técnicas desenvolvidas da Logoterapia são cinco: intenção paradoxal, a derreflexão, apelação, diálogo socrático e denominador comum.

A intenção paradoxal pode ser definida como a arte de prescrever ao cliente o sofrimento que ele já possui. É proposto ao cliente que mantenha o sintoma que está incomodando como estratégia para conseguir o contrário. O fato de que um

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sintoma evoca no cliente o medo de que ele possa repetir-se, e o medo de que o sintoma volte a acontecer faz com que ele realmente aconteça. Por exemplo, se o intento é combater a insônia, a proposta ao cliente é que fique sem dormir. O comportamento solicitado ao paciente é de que fuja de sua angústia, para combater o medo, deve enfrentá-lo. “Tão logo o lugar do medo seja ocupado pelo desejo, ter-se-á tirado o vento de toda a angústia. O medo tolo então cederá ao motivo inteligente” (FRANKL, 1990b, p.84).

A derreflexão tem por objetivo deslocar a atenção do cliente de sua condição de sofrimento, para alguma outra coisa mais importante e significativa de sua vida, que esteja no futuro. Procura dar sentido à sua dor e descobrir o sentido maior de sua existência.

Na apelação, busca-se ressaltar os sentimentos que em geral estão comprometidos no universo interior do cliente. Mostra-se o lado forte da pessoa que se encontra enfraquecido e procura reforçar sentimentos que consegue apresentar apesar do sofrimento.

O diálogo socrático é a discussão sobre o autoconhecimento, que permite ao cliente entrar em contato com seu inconsciente noético, seu potencial humano e a direção que ele pretende dar à própria existência. É através do diálogo socrático que o homem analisa suas decisões, intenções e pretensões; explora o passado e projeta o futuro, trazendo a esperança e o sentido da vida. “O logoterapeuta desafia o cliente a dar um passo, por menor que seja, em uma nova direção, afastando-se dos problemas e encontrando um sentido vital, uma razão pela qual tenha gosto pela vida, vontade de continuar vivendo, apesar do sofrimento” (GOMES, 1987, p.67).

A técnica do denominador comum tende a lidar com a capacidade do cliente de tomar decisões responsáveis. Quando o cliente está diante de alguma situação

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irremediável, como qualquer tomada de decisão importante, a técnica constitui-se em uma avaliação minuciosa da situação e os possíveis caminhos.

Segundo Frankl (1989), nenhuma das técnicas e nem a logoterapia em geral é uma panacéia, não existem panacéias no campo da psicoterapia, pois nem sempre elas serão eficazes em todos os casos.

2.1.2 O homem em busca do sentido

Ao contrário dos tempos de Freud e de Adler, não são as questões sexuais que tanto atormentam as pessoas, mas as questões existenciais. Hoje os pacientes não vão aos consultórios psiquiatras com seus sentimentos de inferioridade, mas com uma sensação de falta de sentido, com um sentimento de vazio, chamado por Frankl de “vácuo existencial”. Frankl afirma que em 1946 já havia descrito sobre o “vácuo existencial”, mas que nesse meio tempo havia tornado-se um fenômeno mundial (FRANKL, 1990a).

Dizia ele que a sensação de falta de sentido e vazio estava crescendo e se tornando uma espécie de angústia coletiva, que as pessoas pareciam sentir um mal-estar, quando em ausência de um bom motivo para viver e que este fenômeno se observava em todo o mundo, em todos os regimes políticos dos diversos países do Oriente e do Ocidente, na Europa, na Ásia, na África e no Terceiro Mundo de forma geral (GOMES, 1987, p. 43).

Este sentimento, o vazio existencial, vem crescendo e se difundindo a ponto de poder ser chamado de neurose de massa. O problema existencial de dar um sentido para a vida e a procura existencial de um sentido da vida são coisas que hoje obsessionam os indivíduos (FRANKL, 1989).

Se eu devesse denunciar as causas determinantes do vazio existencial, diria que elas são redutíveis a uma dupla realidade: a perda da capacidade instintiva e a perda da tradição (FRANKL, 1990b. p.15).

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Perguntemos pela etiologia e pela sintomatologia dessa neurose de massa, e encontramos no que se refere à primeira questão, a seguinte explicação: ao contrário dos animais, no Homem nenhum instinto diz o que ele precisa, e ao contrário do Homem em tempos antigos, nenhuma tradição lhe diz o que ele deve – e agora ele parece não mais saber o que propriamente quer. Então ocorre que ele ou apenas quer o que os outros fazem – e aí temos o conformismo –, ou então ele faz apenas o que os outros querem, o que dele querem – e aí temos o totalitarismo (FRANKL, 1990a. p.19).

Na visão de Frankl (1990b), a nossa época é caracterizada pelo vazio existencial ou frustração existencial, o grande mal é a ociosidade, o tédio, a falta de objetivo e de sentido. As conseqüências do vazio existencial não se esgotam do conformismo e no totalitarismo, mas também respondem pelo recrudescimento das neuroses. Ao lado das neuroses psicogênicas, existem as neuroses noogênicas.

Ao contrário da neurose no sentido estrito da palavra, que por definição representa uma doença psicogênica, a neurose noogênica (a nível noético) volta-se para os conflitos da consciência moral, para a colisão de valores e para a sensação de falta de sentido, que às vezes também pode encontrar expressão numa sintomatologia neurótica (FRANKL, 1990a).

Segundo Frankl (1989), na sintomatologia do vazio existencial também estão presentes, a depressão, a agressão e a toxicodependência, conhecidas como a tríade da neurose de massa, que podem ser, ao menos em parte, ligadas ao sentimento de falta de sentido da vida.

Nos Estados Unidos foram desenvolvidos testes, em centro de pesquisas psiquiátricas, mediante os quais é possível diagnosticar e diferenciar as neuroses noogênicas. James C. Crumbaugh utilizou, na pesquisa, o seu Teste-Pill (Pi= Purpose in Life), aplicando-o a 1200 casos. A partir dos dados colhidos e examinados com o auxílio de um computador, foi-lhe possível constatar que a neurose noogênica constitui efetivamente quadro novo de enfermidade, estranho não somente à diagnose, mas também à terapêutica tradicional. Dados estatísticos

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coletados em Connecticut, Massachusetts, Londres, Tübingen, Würzburg, Polônia e Viena levaram à aceitação unânime do fato de 20% das neuroses serem noogênicas (FRANKL, 1990b, p.15).

O nada que o homem teme não é somente exterior, mas se encontra dentro dele. Devido ao temor do nada interior o homem se torna presa de temor de si mesmo que está em fuga da solidão. Trata-se de uma sensação de vazio, vazio de conteúdo e falta de sentido da existência (FRANKL, 1990a).

Frankl (1989) questiona-se sobre como as pessoas que estariam desesperadas pela aparente falta de sentido poderiam ser ajudadas? Os valores vão desaparecendo porque são transmitidos pelas tradições, que hoje estão em declínio. Mesmo assim Frankl acredita que seja possível descobrir significados. A realidade sempre se apresenta na forma de uma particular situação concreta e, uma vez que cada situação de vida é irrepetível, segue-se que o sentido de uma dada situação é único.

Frankl (1989), acrescenta ainda que não haveria possibilidade alguma de os sentidos serem transmitidos pela tradição. Somente os valores, definidos como significados universais, poderiam sofrer a influência do declínio das tradições. Os significados são objetos de descoberta pessoal que devem ser procurados e encontrados por conta própria de cada um. O homem responde ás questões que a vida lhe coloca e por esta via realiza os significados que a vida lhe oferece.

Segundo Frankl (1990b), divergindo dos pensamentos de Freud e Adler, o homem é permeado não pela vontade do poder nem pela vontade de prazer, mas pela vontade de sentido. Em razão dessa vontade de sentido se propõe encontrar e realizar o sentido movendo-se para o encontro com uma causa ou outro ser humano

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na forma de um tu, a quem possa amar. Essa realização e encontro que constituem um motivo para a felicidade e o prazer.

Segundo Frankl (1990a, p.30), a felicidade foge de nós exata e diretamente na medida em que nós pretendemos forçá-la. Mas apresenta-se automaticamente quando nós deixamos agir nossa autotranscendência, seja no trabalho, seja no amor. O homem só pode realizar-se na medida em que ele esquece de si, em que ele como o olho, não se vê. A auto-realização só é possível ao preço da autotranscendência.

Somente na medida em que consegue viver esta autotranscendência da existência humana, alguém é autenticamente homem e autenticamente si próprio. Assim o homem se realiza não se preocupando com o realizar-se, mas esquecendo a si mesmo e dando-se, descuidando de si e concentrando seus pensamentos para além de si (FRANKL, 1989. p.29).

O ser humano chega mais próximo do sentido da vida quanto mais esquece de si mesmo, quando ele autotranscende, entregando-se a uma causa ou a uma pessoa. Quanto mais o homem, absorvido em alguma coisa ou alguém, que não seja ele, mais ele se torna ele mesmo.

O sentido, como a Logoterapia o entende, é algo bem simples, é uma potencialidade latente em cada situação e que pode ser descoberto (XAUSA, 1986).

A palavra sentido refere-se “àquilo que é significativo” para o indivíduo em situações particulares de sua vida. O sentido e a busca de sentido são únicos e pessoais. Nenhum ser humano e nenhum destino podem ser comparados com outro.

A busca do ser humano por um sentido é a motivação primária em sua vida. Esse sentido é exclusivo e específico que deve ser realizado apenas por aquela pessoa. Afirma ainda que o ser humano seja capaz de viver e morrer por seus ideais e valores. Ele precisa de algo pelo qual viver, que Frankl se refere à vontade de

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sentido. “Nem mesmo o aproximar-se da morte priva de sentido a vida” (FRANKL, 2000, p. 42).

O princípio fundamental da Logoterapia é o anseio de sentido do homem que é livre para encontrá-lo. Vê o sentido em dois níveis: como sentido último da existência e como o sentido do momento.

A busca de sentido é a busca da própria identidade, de um propósito, um destino, uma missão. A existência do sentido último, também chamado de supra-sentido que excede e ultrapassa a capacidade finita do ser humano, é algo que não pode se provar, exceto pela experiência de vida. A existência humana está sempre direcionada para um sentido independente da consciência deste sentido.

O sentido do momento é o reconhecimento de que existem sentidos que devem ser descobertos quando se deseja preencher o vazio existencial. A Logoterapia postula que cada ser humano é único e singular que atravessa uma série de situações, únicas, que oferecem em cada caso um sentido específico potencial que deve ser reconhecido e realizado.

Durante sua experiência nos campos de concentração Frankl percebe que na angustia intensa aparece uma fé, uma esperança no futuro que faz brotar o sentido da vida, a crença em Deus, que parecia até então estar oculta em si.

Este Deus oculto não é um Deus mágico no sentido espiritual, mas uma energia que aparece no momento em que todas as outras sumiram. Aparece como um alento, uma luz alentadora que parecia estar escondida no mais íntimo de cada um. Esta é a dimensão noética, uma parte do ser humana que não é atingida por nenhuma patologia, é incorruptível e lúcida ainda que a doença e o sofrer sejam infinitos (GOMES, 1987, p. 30).

O valor de sobrevivência vai ao encontro da vontade de sentido, os mais capazes, inclusive de sobreviver a tais situações-limite, eram os direcionados para o futuro, para algo ou alguém que os esperava. Foi à vontade de sentido que por fim os manteve em vida (Frankl, 1990b).

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Frankl (2000), afirma que o ser humano é capaz de suportar as piores dificuldades quando compreende que “não tem nada a perder senão sua existência tão ridiculamente nua”. A vida é sofrimento, e sobreviver é encontrar sentido na dor. Relata que as circunstâncias nos campos de concentração conspiram para fazer com que os prisioneiros percam o controle. O que lhes sobra é “escolher a atitude pessoal que se assume diante de determinado conjunto de circunstâncias” (Ibid., p. 9).

Segundo Frankl (apud XAUSA, 1986), privar a vida da necessidade e da morte, do destino e do sofrimento, seria como tirar-lhe a configuração, a forma e figura com as marteladas que o destino lhe dá quando o sofrimento a põe ao rubro.

Não são apenas nos momentos de sofrimento, que o ser humano encontra um sentido para sua vida. De acordo com a Logoterapia o sentido da vida sempre se modifica, mas jamais deixa de existir. Podemos descobrir este sentido de vida através de três vias principais: através do trabalho ou fazer uma ação, através do amor e pela atitude que tomamos em frente ao sofrimento.

Segundo Frankl (1990a, p.47), primeiro pode minha vida tornar-se plena de sentido porque eu realizo uma ação, crio uma obra. Em todos os caminhos o homem vai encontrar a sua realização, pois a realização passa pelo sentido. O verdadeiro sentido da vida deve ser descoberto no mundo, no confronto às questões que o mundo nos coloca, e não dentro da pessoa humana ou de sua psique, como se fosse um sistema fechado.

“Sentido também pode-se encontrar através do que eu vivencio – vivencio algo ou alguém, e vivenciar alguém em sua total originalidade e singularidade significa amá-lo” (ibid, 1990a, p. 47).

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Na Logoterapia o amor é a única maneira de captar outro ser humano no íntimo de sua personalidade, não é interpretado como um conjunto de impulsos e instintos. É um fenômeno tão primário quanto o sexo, que é considerado uma modalidade de expressão do amor (FRANKL, 2000).

Não existe nada para nós mais importante do que o amor a alguém, a ponto de ser digno de se viver por ele. O amor é intransmissível. A relação de amor autêntico é uma relação dialógica, na qual o tu exerce papel predominante. Amar significa não somente ocupar-se dela em sua essência, em sua singularidade e unicidade, mas reconhecê-la em seu valor intrínseco. Ver o seu poder-ser e seu dever-ser (FRANKL, 1990b).

A terceira forma de encontrar um sentido na vida é sofrendo, mas não é de modo algum necessário sofrer para encontrar o sentido o que jamais pode ser excluído é a inevitabilidade do sofrimento. A principal preocupação humana não consiste em obter prazer ou evitar a dor, mas antes ver um sentido em sua vida. Esta é a razão por que o ser humano está pronto a sofrer desde que se tenha um sentido (FRANKL, 1990b).

O sofrimento só tem sentido quando quem sofre muda para a melhor. Mudar a si mesmo significa renascer maior que antes, crescer além de si próprio. O sentido é acessível em qualquer condição, mesmo nas piores que se possa imaginar (FRANKL, 1989).

Com base nesta possibilidade de transfigurar o sofrimento pessoal em uma realização humana, a vida é potencialmente plena de sentido até o fim – no geral, contudo, vale só “em último lugar” o realizar a possibilidade de também dar uma forma plena de sentido ao sofrimento e à morte (FRANKL, 1990a p. 48).

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Os únicos aspectos realmente transitórios da vida são as potencialidades que no momento em que são realizadas transformam-se em realidades. De modo algum essa transitoriedade nos tira o sentido, mas sim constituí a nossa responsabilidade das possibilidades essencialmente transitórias. A todo o momento a pessoa precisa decidir qual será o monumento de sua existência (FRANKL, 2000).

É verdade que nada podemos levar conosco quando morremos. Mas aquela totalidade de nossa vida, que completamos no momento definitivo de nossa morte, fica fora da sepultura e fora permanece – e isso é assim não apesar de, mas exatamente porque ela entrou para o passado. Assim, o que tivermos esquecido o que tiver escapado de nossa consciência, não foi eliminado da realidade: passou a fazer parte do passado e permanece como parte da realidade (FRANKL, 1989 p. 97).

A logoterapia afirma que a transitoriedade da vida só se aplica com relação ás possibilidades de dar sentido, às oportunidades de criar, de experienciar, de sofrer com sentido pleno. Quando tais possibilidades se concretizam, elas não são mais transitórias, existem como uma parte do passado. Nada pode mudá-las ou anulá-las. Quando uma possibilidade aconteceu, ela está feita “uma vez e para sempre” (ibid, 1989).

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METODOLOGIA

3.1 Delineamento da Pesquisa

No presente trabalho, utilizamos obras que versam sobre o assunto buscando atender os objetivos propostos na pesquisa. A busca inicial foi por obras do criador da teoria Viktor Emil Frankl, especificamente obras traduzidas, o passo a seguir foi encontrar outras obras que trouxessem dados para a realização deste trabalho. As fontes vieram de pesquisa na biblioteca da Univali, acervo pessoal e sugestões do orientador.

Desse modo, segundo Marconi & Lakatos (2001), a pesquisa bibliográfica é o levantamento da bibliografia publicada que tenha relação com o tema em estudo. Sua finalidade é fazer com que o pesquisador entre em contato direto com aquilo que foi escrito sobre determinado assunto.

3.2 Métodos e técnicas utilizadas

Devido à pesquisa incluir uma extensa revisão bibliográfica, o delineamento considera algumas etapas organizadas no modelo apresentado por Lakatos & Marconi (2001):

• Identificação: esta é a fase de reconhecimento do assunto pertinente ao tema escolhido para realização da pesquisa em questão. Seguindo estes procedimentos, realizamos nossa pesquisa, utilizando livros e artigos da língua portuguesa e que estejam embasados cientificamente.

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• Fichamento: à medida que fomos adquirindo as referências pesquisadas, fomos transcrevendo em fichas para organizar os dados obtidos. Neste trabalho realizamos a ficha do tipo resumo ou de conteúdos, que por sua vez, apresenta uma síntese das idéias principais do autor.

• Análise e interpretação: Reorganizamos um conjunto de idéias mais precisas a partir de uma idéia-chave geral. Analisamos criticamente buscando a validade baseada na objetividade, explicação e justificativa. A análise e interpretação deste trabalho foram realizadas juntamente ao professor orientador/supervisor desta pesquisa.

• Redação do texto: nesta etapa, colocamo-nos em contato direto com o que foi publicado a respeito do sentido de vida na perspectiva da logoterapia permitindo-nos a exploração dos objetivos do presente estudo.

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APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Há milhões de homens que são tentados a perder a própria razão e esperança de viver por estarem privados das condições materiais mínimas de existência, pela fome, pela indigência, impostas pelas condições injustas da vida social, pela falta de trabalho, de recursos indispensáveis da educação, da assistência médica e social. Mas, diante desse quadro, hoje tão freqüente, tanto em nações pobres como ricas, não se pode deixar de reconhecer que ainda mais gravemente pesa sobre a pessoa humana, necessitada não apenas dos bens materiais, o fato de não estar conseguindo encontrar, frequentemente, as razões e o significado da própria existência.

Pode-se verificar, e de fato, várias pesquisas têm comprovado que mais angustiante para o homem moderno, especialmente para os jovens, é a crise provocada pela falta de sentido e de significado da vida, o sentimento de vazio, do que a carência ou dificuldades para a consecução de outros bens.

O vazio existencial mostrou-se evidente em um levantamento feito numa universidade americana com 60 jovens que haviam tentado o suicídio. Esses jovens foram entrevistados e 85% deles afirmaram que a razão daquele gesto era que “a vida parecia vazia de sentido”. As maiorias desses jovens eram ativamente participantes no plano social, tinham boa situação acadêmica e tinham um bom relacionamento com seus familiares (FRANKL, 1989).

Em nossos dias um número cada vez maior de indivíduos dispõe de recursos para viver, mas não de um sentido pelo qual viver. Por outra parte vemos pessoas que são felizes em condições adversas, mesmo se terríveis (ibid, 1989, p. 15).

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A profunda experiência de Frankl nos campos de concentração, levou-o a ter como certo que cada pessoa é um ser único que pode reter uma última reserva de liberdade para tomar uma posição, ao menos, interior, mesmo sob as mais adversas circunstâncias. Na profunda dimensão do seu eu, não apenas o homem é, mas a cada momento deve decidir o que será. Quando o homem é despojado de tudo o que tem (família, amigos, status e bens), ninguém pode tirar a liberdade de tomar a decisão do que ele deve se tornar, porque essa liberdade não é algo que o homem possui, mas algo que ele é.

Segundo Frankl, nos campos de concentração há diferentes maneiras de se lidar com as circunstâncias inevitáveis. Aqueles que tinham um sentido em suas vidas conseguiam superar as dificuldades e lutavam pelos próprios interesses, sejam de alimentação, preservação e salvação da vida nas mais extremas situações. Aquelas que não tinham um sentido em suas vidas acabavam adoecendo e muitas vezes abriam mão do direito de viver (GOMES, 1987).

A concepção que o homem tem de si mesmo e o lugar que ocupa na vida, poderá ajuda-lo a dar sentido às circunstâncias pelas quais irá passar. Além das dimensões físicas e psicológicas, a Logoterapia introduz na prática terapêutica a dimensão noética ou espiritual especificamente humana (espiritual não no sentido religioso, mas no de vida mental ou intelectual que supõe um principio de ação transcendente à materialidade do ser).

A Logoterapia desenvolveu-se se convertendo num amplo movimento mundial. É uma psicologia que introduz a noção de transcendência na ciência do homem, transformando-se numa mensagem libertadora do ser humano, ao libertá-lo dos determinismos, tanto psicológicos como sociais (FRANKL, 2004).

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É a dimensão propriamente humana que permitirá à pessoa transcender a si mesma e fazer dos significados e valores uma parte fundamental da sua existência. Nesse sentido, cada pessoa é um ser único, vivendo através de infinitos momentos únicos e insubstituíveis, cada um deles oferecendo um significado em potencial.

A existência do homem é profundamente marcada pela sua autotranscendência. O que com isso pretendo transmitir é o fato de que ser pessoa invariavelmente implica ir além de algo que não é ele próprio, mas alguma coisa ou alguém; é colocar-se em função de um sentido, ou a serviço de um outro ser humano, com o qual se encontra pelo amor. E somente na medida em que o homem desse modo se ultrapassa a si mesmo se realiza. E, quanto mais se abre para a sua tarefa, quanto mais dedicado for ao seu parceiro, mais homem ele é e mais será ele próprio (FRANKL, 1990b, p. 66).

A dimensão humana é a dimensão da liberdade de tomar atitudes frente a determinadas condições, quer sejam elas biológicas, psicológicas ou sociológicas. Dentro da dimensão noética somos nós quem fazemos a escolha, que exercemos influência sobre a nossa existência.

O sentido para a existência humana pode ser encontrado e plenamente realizado, pois é através da dimensão noética que o homem é conduzido a este caminho. “O sentido não é só algo que nasce na própria existência e sim algo que se faz frente à existência” (XAUSA, 1896. p. 148).

Com base na questão sobre o que é sentido de vida, partindo dos pressupostos da Logoterapia, verifica-se que o homem é movido pelo desejo de sentido e vive constantemente à procura de um significado para sua vida. Diante das situações em que se encontra o homem pode encontrar sentido, mas não cabe a ele perguntar sobre o sentido de sua existência, porque é a vida quem coloca questões e interrogações, quem dirige perguntas. O homem é que tem que responder e dar constantemente respostas à questão da vida, ás “questões vitais” a todo instante. Pois o homem constrói e é dono da sua história dia após dia.

O próprio viver nada mais é que ser interrogado. Todo o nosso ser não é mais que uma resposta – uma responsabilidade da vida. Nesta perspectiva,

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também nada mais pode nos assustar, nenhum futuro, nenhuma aparente falta de futuro. Pois agora o presente é tudo, pois ele contém as perguntas eternamente novas que nos são feitas. Agora tudo depende respectivamente do que se espera de nós (FRANKL, 1990, p.69).

Segundo Frankl (apud GOMES, 1987, p. 41), as pessoas buscam encontrar o sentido. Pode ser que passem a vida tentando achar à razão de ser da missão pessoal, do “para que”, e não a encontrem, mas têm um desejo de busca e lutam até o último instante para encontrá-la.

Ninguém nega que o ser humano, dependendo das circunstâncias, não consegue entender o sentido, mas precisa interpretá-lo. Isto não significa que essa interpretação seja arbitrária. Afinal, para cada pergunta somente existe uma resposta, isto é, a correta; para cada problema há somente uma solução, ou seja, a válida, e assim também para cada situação somente há um sentido, a saber, o verdadeiro [...] (FRANKL, 2004, p.66).

O homem é um ser à procura de sentido. Na busca do sentido só a consciência o ajuda. Assim pode, pois, definir o órgão de sentido nele “embutido”. Ele ilumina a respectiva possibilidade de sentido subjacente à realidade, e torna transparente a realidade em relação à possibilidade de sentido (FRANKL, 1990a. p. 45).

Enquanto que o sentido está vinculado a uma situação única e singular, existem ainda sentidos universais, chamados de valores, que se relacionam com a condição humana como tal. A facilitação que o ser humano experimenta pelos valores de princípios morais e éticos como eles se cristalizaram na sociedade humana ao longo da história, lhe é proporcionada a troco de conflitos inerentes aos próprios valores por serem sentidos universais abstratos. Portanto é a consciência que poderá capacitar o homem a tomar uma decisão livre, mas não arbitrária, e sim responsável (FRANKL, 2004).

O homem tem condições de resolver seus problemas de consciência e conflitos de valores. A função da Logoterapia consistirá em ajudar o paciente a enxergá-los, reconhecendo não ser ele uma vitima indefesa da sua educação, do

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seu meio e dos seus impulsos interiores, mas que é capaz de resistir às suas influências.

Frankl (1989) afirma que o desejo de sentido é, não só uma genuína manifestação da humanidade do homem, mas também um plausível indício de saúde. A falta de significado e de objetivo existencial é indicio de uma incapacidade emotiva de adaptação ao ambiente. Na terminologia da psicologia moderna o desejo de sentido é um “valor de sobrevivência”. A sobrevivência depende da capacidade de transcender o próprio eu (autotranscendência), de orientar a própria vida em direção a um “para que coisa” ou um “para quem”.

Dentro da Logoterapia, o sentido não significa algo abstrato; ao contrário, é um sentido totalmente concreto, o sentido concreto de uma situação com a qual uma pessoa também concreta se vê confrontada. Quanto à percepção deste sentido, podemos dizer que está ligada, por um lado, à percepção de uma gestalt e, por outro, à experiência de insight. Toda situação faz uma exigência a nós, coloca-nos uma pergunta, à qual damos uma resposta através de algo que fazemos, como se fosse um desafio. Assim na percepção de uma gestalt percebemos subitamente uma “figura” num fundo, enquanto que no decorrer da percepção de sentido surge aos nossos olhos, contra um fundo constituído de diversas maneiras (FRANKL, 2004, p.79-80).

A Logoterapia coloca o ser humano sempre como livre para escolher como vai sair das situações. As ferramentas estão ao seu dispor. O valor e a realização do sentido de sua vida são dados pelo caminho que o ser humano vai colocar à sua frente, pode ser pela ação (trabalho); pelo amor (a uma pessoa, a Deus) e através do sofrimento (que não possa ser eliminada sua causa, quer biológica, psicológica

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ou social) quando se distancia aos fatos e sai das circunstâncias em que se encontra.

Sempre que o homem estiver diante de uma situação que não pode modificar, existe ainda a possibilidade de mudar a sua atitude diante desta situação, de mudar a si mesmo, amadurecendo, crescendo para além de si (FRANKL, 2004, p.80).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve fundamental importância na formação acadêmica, pois trouxe o conhecimento de uma teoria que vê o homem de uma maneira diferente das teorias tradicionais que se conhece. Engloba o homem em sua totalidade como um se bio-psico-sócio-noético, incluindo a dimensão espiritual ao entendimento do ser humano. Essa dimensão que move o ser humano na busca de um sentido, sendo, portanto especificamente uma capacidade que somente o homem possui.

A logoterapia acredita que todos têm um sentido na vida, basta descobri-lo no seu dia-a-dia, através de ações, no amor e inclusive nos momentos inevitáveis de sofrimento. O importante é frente a determinadas situações sermos livres e responsáveis para tomar uma atitude de acordo com as condições com as quais nos encontramos.

Frankl acredita que o ser humano está sempre à procura das respostas para suas perguntas sobre as razões e significado da própria existência, de algo que preencha sua vida. Quando não consegue encontrar se deparas com um sentimento de vazio de falta de sentido.

Várias pesquisas têm comprovado que mais angustiante para o homem é a crise provocada pela falta de sentido e de significado da vida, o sentimento de vazio, do que a carência ou dificuldades para a consecução de outros bens. Neste sentido faz-se necessário expandir o conhecimento que a logoterapia nos traz sobre as capacidades do ser humano. Capacidade que o homem possui para que diante dessas circunstâncias encontre e realize um sentido.

Esta pesquisa abre algumas questões a serem pensadas, como: frente à liberdade de decidir sobre a vida, o que faz com que algumas pessoas desistam de

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lutar por ela? Será que o sofrimento impulsiona o homem a lutar pela vida? Como o terapeuta pode contribuir para o encontro de um sentido na vida? Como se manifesta a falta de sentido?

A Logoterapia proporciona uma visão positiva do homem oferecendo técnicas psicoterápicas que podem ser usadas e também mais exploradas, pois apresenta um trabalho diferenciado como profissional em psicologia, pois está centrada na busca do sentido de vida.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FRANKL, Viktor Emil. Um sentido para a vida: Psicoterapia e Humanismo. Tradução: Victor Hugo Silveira Lapenta. Aparecida: Editora Santuário, 1989.160 p., il. Bibliografia: p. 145-148. ISBN 85-7200-074-7. Titulo original: The Unheard Cry for Meaning – Psychotherapy and Humanism.

______. A questão do sentido em Psicoterapia. Tradução: Jorge Mitre; Campinas, SP: Papirus, 1990a. ISBN 85-308-0091-5. Titulo original: Die Sinnfrage der psychotherapie.

______. Psicoterapia para todos: uma psicoterapia coletiva para contrapor-se à neurose coletiva. Petrópolis: Vozes, 1990b. 160 p. ISBN 85-326-0161-8.

______. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 11. ed. rev. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2000. 136 p. ISBN 85-233-0274-3: ISBN 85-326-0626-1.

______. A presença ignorada de Deus. Tradução: Walter O. Schlupp e Helga H. Reinhold. 8. ed. São Leopoldo, Editora Sinodal; Petrópolis, Editora Vozes, 2004. ISBN 85-233-0276-X (Sinodal); 85-326-0769-1 (Vozes). Titulo original: Der unbewusste Gott.

GOMES, José Carlos Vitor. Logoterapia: a psicoterapia existencial-humanista de Viktor Emil Frankl. São Paulo: Loyola, 1987. 80 p.

LAKATOS, E.M.;MARCONI, M.A. Metodologia do trabalho cientifico: procedimentos básicos, pes2quisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2001. 219 p. ISBN 85-268-0221-6.

XAUSA, Izar Aparecida de Moraes. A psicologia do sentido da vida. Petrópolis: Vozes, 1986. 255 p.

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