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MANUAL DE

PSICOPATOLOGIA

Elie Cheniaux Jr.

M é d ic o . D o u to r e m P siq u ia tria p ela U n iv e rs id a d e F ed eral d o R i o de J a n e iro (U F R J). P ro fe ss o r-A d ju n to de P siq u ia tria da F acu ld ad e de C iên cias M éd ica s (F C M ) da U n iv e rs id a d e d o E stad o d o R i o de J a n e iro (U E R J).

P ó s -D o u to r a n d o n a Á re a de N e u ro c iê n c ia C o m p u ta c io n a l d o P ro g ra m a de E n g e n h a ria d e Sistem as e C o m p u ta ç ã o — C O P P E / U F R J .

C a n d id a to d o In s titu to d e E n s in o de P sicanálise da S o cied ad e P sican alítica d o R i o de J a n e iro (S P R J). S u p e rv iso r de E q u ip e C lín ic a d o In s titu to de P siq u ia tria da U n iv e rsid a d e F ed eral d o R i o de J a n e iro (IP U B -U F R J ).

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NOTA DA EDITORA: A área da saúde é um campo em constante mudança. As normas de segurança padronizadas precisam ser obedecidas; contudo, à medida que as novas pesquisas ampliam nossos conhecimentos, tomam-se necessárias e adequadas modificações terapêuticas e medicamentosas. O autor desta obra verificou cuidadosamente os nomes genéricos e comerciais dos medicamentos mencionados, bem como conferiu os dados referentes à posologia, de modo que as informações fossem acuradas e de acordo com os padrões aceitos por ocasião da publicação. Todavia, os leitores devem prestar atenção às inform ações fornecidas pelos fabricantes, a fim de se certificarem de que as doses preconizadas ou as contra-indicações não sofreram modificações. Isso é importante, sobretudo em relação a substâncias novas ou prescritas com pouca freqüência. O autor e a editora não podem ser responsabilizados pelo uso impróprio nem pela aplicação incorreta do produto apresentado nesta obra.

No interesse de difusão da cultura e do conhecimento, o autor e os editores envidaram o máximo esforço para localizar os detentores dos direitos autorais de qualquer material utilizado, dispondo-se a possíveis acertos posteriores caso, inadvertidamente, a identificação de algum deles tenha sido omitida.

Direitos exclusivos para a língua portuguesa Copyright © 2002 by

EDITORA GUANABARA KOOGAN S.A. Travessa do Ouvidor, 11

Rio de Janeiro, RJ — CEP 20040-040 Tel.: 21-2221-9621

Fax: 21-2221-3202

www.editoraguanabara.com.br

Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web, ou outros),

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Agradecimentos

A g ra d e ç o aos P rofessores A d e m ir P acelli F erreira, Iso J o rg e T e ix e ira , J e r s o n Laks, L e o p o ld o H u g o F ro ta, M a rc o A n tô n io A lves Brasil,

M ig u e l C h a lu b e P a u lo R o b e r t o C h av es P avão,

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Prefácio

Observa-se que boa parte dos psiquiatras, hoje em dia, pouco se interessa p o r psicopatologia, apresentando um raciocínio mais ou m enos assim: “E perda de tem po dis- tinguir-se um a idéia delirante de um a idéia deliróide, ou um a alucinação verdadeira de um a pseudo-alucinação, já que os antipsicóticos irão atuar sobre esses sintomas do mesm o je ito .”

Esse espírito parece refletir-se nos critérios diagnósticos dos sistemas classificatórios psiquiátricos atuais — DSM -IV* e C ID -10.** Neles, embora sejam listadas as alterações ca­ racterísticas de cada transtorno mental, não há um a preocu­ pação em definir precisamente os sinais e sintomas, nem em explicar com o eles devem ser reconhecidos na prática.

Todavia esse aparente descaso quanto à semiologia não é exclusivo da psiquiatria, e o desenvolvim ento de m é­ todos com plem entares de investigação diagnostica cada vez mais precisos talvez esteja entre as principais causas disso. M uitos cardiologistas, p o r exem plo, já não auscul­ tam o coração de seus pacientes, pois consideram mais prático solicitar logo u m ecocardiograma.

E m psiquiatria, na grande maioria dos casos, os exames complementares p or enquanto são pouco úteis para a for­ mulação do diagnóstico, que é em inentem ente clínico. Daí a importância fundamental da semiologia psiquiátrica e da psicopatologia. Além disso, para a criação e utilização das escalas de sintomas, e para o em prego adequado dos crité­ rios diagnósticos, é necessário conhecer os conceitos psi- copatológicos e saber identificar as alterações nos pacientes.

P o r outro lado, faltam universalidade e uniform idade aos conceitos e à term inologia em psicopatologia. C o m ­

* Q u a rta edição do sistem a classificatório da A ssociação Psiquiátrica A m ericana. * * D é c im a ed ição da Classificação In te rn a c io n a l d e D o en ças, da O rg an ização M u n d ia l da Saúde.

parando-se os principais textos de psicopatologia, obser­ va-se, p o r exem plo, que: (1) u m m esm o term o é utiliza­ do com diferentes sentidos pelos diversos autores; (2) determ inados conceitos são considerados p o r alguns au­ tores, mas são ignorados p o r outros; e (3) u m m esm o conceito é designado p o r term os diferentes.

Essa falta de consenso, que afeta alguns dos principais tópicos em psicopatologia, irá, inevitavelm ente, refletir- se em qualquer discussão de um caso clínico, prejudicando qualquer argumentação, pela ausência de um a linguagem com um . Isso é bastante nítido em sessões clínicas de ser­ viços de psiquiatria, com o as que tenho freqüentado nos últim os anos: na U nidade Docente-Assistencial de Psi­ quiatria da Universidade do Estado do R io de Janeiro (U ERJ) e no Instituto de Psiquiatria da U niversidade Federal do R io de Janeiro (IPUB).

Este m anual constitui um a proposta de síntese e revi­ são dos conceitos da psicopatologia. Após o estudo dos principais autores, procurou-se produzir u m texto que fosse u m som atório de todos os outros textos, privilegi­ ando-se, nos casos de divergência entre eles, as form ula­ ções mais com uns.

E m cada capítulo, além da apresentação das alterações quantitativas e qualitativas de cada função psíquica, há um a introdução psicológica e um estudo de com o essas alterações se m anifestam nos principais transtornos m en ­ tais e, ainda, u m estudo da técnica de exam e daquela função psíquica. Inclui-se tam bém um a discussão sobre descobertas das neurociéncias e formulações teóricas da psicanálise relacionadas à função psíquica estudada.

Este livro é dirigido a alunos — de graduação e pós- graduação — e a profissionais de m edicina (particular­ m ente psiquiatria), de psicologia e de outras áreas relaci­ onadas à saúde m ental.

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Conteúdo

1 P sico p a to lo g ia : Q u estõ es G erais, 1 Definição de Psicopatologia, 1

O M étodo Fenom enológico, 2 Semiologia Psiquiátrica, 2

2 E n trevista e A n a m n ese P siq u iátrica, 5 A Entrevista Psiquiátrica: Aspectos Gerais, 5 Estrutura e C o nteúdo da Anamnese Psiquiátrica, 5 O Exam e Psíquico, 7

Súmula Psicopatológica, 8 O Exam e Físico, 8

Exames C om plem entares, 8 O Diagnóstico Psiquiátrico, 8 3 A p arên cia, 11

Introdução, 11

Alterações na Aparência, 11

A Aparência nos Principais Transtornos Mentais, 11 4 A titu d e, 13

Introdução, 13

Alterações da A titude, 13 O Exam e da Atitude, 14

A A titude nos Principais Transtornos M entais, 14 5 C o n sciên cia (V igilân cia ), 17

Introdução, 17

Alterações Quantitativas Fisiológicas, 18 Alterações Quantitativas Patológicas, 18 Alterações Qualitativas Fisiológicas, 19 Alterações Qualitativas Patológicas, 19 O Exam e da Consciência (Vigilância), 19 A Consciência (Vigilância) nos Principais

Transtornos M entais, 20 C ontribuições da Psicanálise, 20

C ontribuições das N eurociências e da Psicologia Cognitiva, 21 6 A te n ç ã o , 25 Introdução, 25 Alterações Quantitativas, 25 Alterações Qualitativas, 26 O Exam e da Atenção, 26

A A tenção nos Principais Transtornos M entais, 27 Contribuições da Psicanálise, 28

Contribuições das N eurociências e da Psicologia Cognitiva, 28 7 S e n so p e rce p ç ã o , 29 Introdução, 29 Alterações Quantitativas, 30 Alterações Qualitativas, 30 O Exam e da Sensopercepção, 33

A Sensopercepção nos Principais Transtornos Mentais, 33

Contribuições da Psicanálise, 34

Contribuições das N eurociências e da Psicologia Cognitiva, 34 / 8 M e m ó ria , 37 Introdução, 37 Alterações Quantitativas, 39 Alterações Qualitativas, 41 O Exam e da M em ória, 42

A M em ória nos Principais Transtornos Mentais, 42 C ontribuições da Psicanálise, 44

C ontribuições das N eurociências, 45 9 L in g u a g em , 47 - Introdução, 47 Alterações da Linguagem, 47 Alterações Quantitativas, 48 Alterações Qualitativas, 49 O Exam e da Linguagem, 50

A Linguagem nos Principais Transtornos Mentais, 50 Contribuições da Psicanálise, 51

Contribuições das N eurociências e da Psicologia Cognitiva, 51

10 P en sa m e n to (E x ceto D e lír io ), 53 Introdução, 53

(6)

C o n teú d o x i

Alterações Q uantitativas, 54 Alterações Qualitativas, 54 O Exam e do Pensam ento, 56

O Pensam ento nos Principais Transtornos M entais, 56

C ontribuições da Psicanálise, 56

C ontribuições das N eurociências e da Psicologia Cognitiva, 57

11 D e lír io , 59 Introdução, 59

D elírio Prim ário, D elírio Secundário e Idéia Sobrevalorada, 60

Classificação, 61

O Exam e do D elírio, 62

O D elírio nos Principais Transtornos M entais, 62 C ontribuições da Psicanálise, 63

C ontribuições das N eurociências e da Psicologia Cognitiva, 64

12 In telig ên cia , 65 Introdução, 65

Alterações da Inteligência, 66 O Exam e da Inteligência, 66

A Inteligência nos Principais Transtornos Mentais, 67 C ontribuições das N eurociências, 68

13 Im a g in a çã o , 69 Introdução, 69

Alterações da Imaginação, 69 O Exam e da Imaginação, 69

A Imaginação nos Principais Transtornos Mentais, 70 C ontribuições da Psicanálise, 70 14 V o n ta d e , 71 Introdução, 71 Alterações Q uantitativas, 71 Alterações Qualitativas, 72 O Exam e da V ontade, 74

A V ontade nos Principais Transtornos Mentais, 74 C ontribuições da Psicanálise, 75

C ontribuições das N eurociências, 77 15 P r a g m a tism o , 79

O Exam e da Psicom otricidade, 83

A Psicom otricidade nos Principais Transtornos M entais, 83

C ontribuições das N eurociências, 84 17 A fe tiv id a d e, 87

Introdução, 87

Alterações Q uantitativas, 88 Alterações Qualitativas, 89 O Exam e da Afetividade, 90

A Afetividade nos Principais Transtornos Mentais, 90 C ontribuições da Psicanálise, 90

C ontribuições das N eurociências e da Psicologia Cognitiva, 91

18 O rien taçã o A lo p síq u ica , 95 Introdução, 95

Alterações da O rientação Alopsíquica, 95 Alterações Q uantitativas, 96

Alterações Qualitativas, 96

O Exam e da O rientação Alopsíquica, 97 A O rientação Alopsíquica nos Principais

Transtornos M entais, 97

C ontribuições das N eurociências, 98 19 C o n sciên cia d o E u, 99

Introdução, 99

Alterações da Consciência do Eu, 99 Alterações Quantitativas, 100 Alterações Qualitativas, 100

O Exam e da Consciência do Eu, 101

A Consciência do E u nos Principais Transtornos Mentais, 102

C ontribuições da Psicanálise, 102

C ontribuições das N eurociências e da Psicologia Cognitiva, 103

20 P r o sp e c ç ã o , 105

21 C o n sciên cia de M o rb id ad e, 107 Introdução, 107

Alterações na Consciência de M orbidade, 107 O Exam e da Consciência de M orbidade, 107 A Consciência de M orbidade nos Principais

Transtornos M entais, 107 16 P sic o m o tr ic id a d e , 81

Introdução, 81 B ib lio gra fia, 109

Alterações Q uantitativas, 81

Alterações Qualitativas, 82 ín d ic e A lfa b é tic o , 113

(7)

MANUAL DE

PSICOPATOLOGIA

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CAPÍTULO

PSICOPATO LO G IA: questões gerais

D E F IN IÇ Ã O D E

P S IC O P A T O L O G IA

O term o psicopatologia foi criado p o r Jerem y B enthan, em 1817. Psyché significa alma; páthos, sofrimento ou doen­ ça; e lógos, estudo ou ciência. N o en tan to , E sq u iro l e Griesinger, com seus trabalhos publicados, respectiva­ m ente, na França (em 1837) e na Alem anha (em 1845), é que são considerados os criadores da psicopatologia.

A psicopatologia é um a disciplina científica que estu­ da a doença m ental em seus vários aspectos: suas causas, as alterações estruturais e funcionais relacionadas, os m é­ todos de investigação e suas formas de manitestação (si­ nais e sintomas). C om portam ento, cognição e experiên­ cias subjetivas anormais constituem as formas de m ani­ festação das doenças mentais.

Segundo Jaspers, “o objeto da psicopatologia é o fe­ nôm eno psíquico, mas só os patológicos” . C ontudo, a distinção entre o norm al e o patológico em m edicina é bastante imprecisa. Podem os citar pelo m enos três crité­ rios de norm alidade, todos considerados insuficientes: o T-subj-etiyo^o estatístico e o idealista.

D e acordo com o critério subjetivo de normalidade, está doente quem sofre ou se sente doente. N a síndrom e maníaca, contraditoriam ente, o paciente sente-se m uito bem e, apesar disso, está enferm o. Pelo critério estatísti­ co — ou quantitativo —, norm al é sinônim o de com um , ou significaj>róxim o à média. E m contraposição a isso, no entanto, a cárie representa um a patologia m uito freqüen­ te; e um a pessoa que possui u m quoeficiente intelectual

(QI) m uito alto não é considerada doente. Já segundo o critério idealista — ou qualitativo —, norm al é aquilo ade­ quado a determ inado padrão funcional considerado óti­ m o ou ideal. A crítica que se faz a esse critério é que ele

se baseia em critérios socioculturais arbitrários, os quais p od em variar de u m local para outro e m odificar-se atra­ vés do tem po.

A psicopatologia é um a ciência autônom a, e não m e­ ram ente u m ram o da psicologia. E nquanto esta tem sua origem na filosofia, a psicopatologia nasce com a clínica psiquiátrica. Os fenôm enos mentais patológicos são m ui­ tas vezes qualitativamente diferentes dos normais. Citando novam ente Jaspers, “a psicopatologia investiga m uitos fatos cujos correspondentes ‘norm ais’ ainda não foram estabelecidos pela psicologia” , e “ é muitas vezes a visão do anorm al que ensina a explicar o norm al” .

A psiquiatria não é um a ciência e, sim, um a especiali­ dade m édica, cujo fundam ento é a psicopatologia. A psi­ quiatria representa a aplicação prática da psicopatologia, mas se utiliza tam bém de conhecim entos de outras dis­ ciplinas científicas.

A psicopatologia, de um a form a geral, está relaciona­ da a múltiplas abordagens e referenciais teóricos. Para ser preciso, não há apenas um a psicopatologia: são várias. D i­ daticamente, as psicopatologias p odem ser divididas em dois grupos: as explicativas e as descritivas. As psicopato­ logias explicatiyas_bas_elam -se em m o d elos teóricos ou achados experim entais, e buscam esclarecimentos quan­ to à etiologia dos transtornos mentais. Elas po dem seguir um a orientação psicodinâmica (como a psicanálise), cog­ nitiva, existencial, biológica ou social, entre outras. As psicopatologias descritivas, po r sua vez, consistem na des­ crição e na categorização precisas de experiências anor­ mais, com o informadas pelo paciente e observadas em seu com portam ento. Possuem u m caráter semiológico e p ro ­ pedêutico em relação à psiquiatria clínica. Entre as psi­ cologias descritivas está a psicopatologia fenom enológi- ca. Explicação e descrição não se excluem; na verdade,

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2 Psicopatologia: Q uestões G erais

com plem entam -se. Só é possível explicar o que foi an­ teriorm ente descrito.

O M É T O D O

F E N O M E N O L Ó G IC O

Para Descartes (1596—1650), a apreensão dos objetos percebidos passa necessariam ente pela consciência do sujeito pensante. Im m anuel K ant (1724—1804), p o r sua vez, afirma que experim entam os apenas a superfície das coisas, isto é, os fenôm enos — o que está aparente —, mas não a verdadeira coisa em si. O conhecim ento é, então, o resultado da atividade m ental, que organiza as sensa­ ções de acordo com categorias apriorísticas, tais com o espaço, tem po, etc.

Foi Lam bert, u m m édico francês, quem , em 1764, criou a palavra fenomenologia, que designou com o “des­ crição da aparência” . P araE dm u nd Husserl (1859—1938), o criador da corrente filosófica denom inada feno m eno ­ logia, o m éto d o fen o m en o ló g ico é pu ro , descritivo, apriorístico e baseado na apreensão intuitiva dos fenô­ m enos psíquicos, tais com o se dão na consciência. Tais características m erecem maiores esclarecimentos.

Para a fenom enologia, tudo o que existe é fenôm eno e só existem fenômenos. Fenôm eno é todo objeto apa­ rente, é o que se apresenta à nossa consciência. Esta pos­ sui um a intencionalidade, isto é, ela se m ove em direção aos objetos para apreender o fenôm eno: é sempre cons­ ciência de algo. A consciência é doadora de sentido às coisas, tem o po d er de constituir e criar as essências. A fenom enologia descreve experiências psicológicas subje­ tivas, e seu objeto é o que aparece na consciência; ela centra-se na vivência das coisas pelo sujeito, e não nas coisas em si. O observador deve prestar atenção aos seus próprios pressupostos, deixando de lado todas as teorias, para evitar que distorçam a observação. A intuição, que é o instrum ento p o r excelência da captação fenom eno- lógica, consiste na com preensão empática das vivências; empatia esta que representa a capacidade de sentir-se na situação de outra pessoa.

A fenom enologia contrapõe-se ao em pirism o, que aceita que o espírito assimile passivamente os objetos, ou seja, que estes o im pressionem com o se ele fosse um a tábua rasa. Já o positivismo, tam bém diferentem ente da fenomenologia, negava qualquer importância à introspec­ ção. Ele veio influenciar, mais recentem ente, a reflexo- logia e o behaviorismo.

C o ub e aK arlJaspers (1883—1969), filósofo alemão, a aplicação do m étodo lenom enológico na investigação psi­ quiátrica, a partir de 1913. Segundo ele, a psicopatologia representa um a descrição com preensiva. P or com preen­

são entende-se a intuição do psiquism o do outro alcan­ çada no interior do próprio psiquismo. O m étodo feno­ m enológico utiliza com o instrum ento a m ente do entre­ vistador, sua experiência em ocional e cognitiva. Trata- se de m étodo em pírico que enfoca dados subjetivos. As vivências dos pacientes não p odem ser percebidas dire­ tam ente com o os fenôm enos físicos. Mas, após o relato do paciente (subjetivo), fazemos, p o r m eio da empatia, um a analogia (comparação) com as nossas vivências, e assim podem os com preender a sua experiência subjeti­ va. A m era observação objetiva de seu com portam ento não perm itiria u m m aior aprofundam ento no fenôm eno psicopatológico. O toco da psicopatologia fenom enoló- gica são, portanto, as vivências subjetivas — conscientes — dos pacientes, descritas pelos próprios. O que está incons­ ciente não é objeto da fenom enologia. P or fim, a psico­ patologia fenom enológica não busca explicações teóri­ cas para eventos psicológicos. Através da redução fen o m e- nológica, os fenôm enos são colocados “entre parênteses” : são descritas as vivências em si, sem a preocupação com as suas origens e conseqüências.

S E M IO L O G IA

P S IQ U IÁ T R IC A

D efine-se a semiologia com o a “ciência dos signos” . E ntende-se com o sinal qualquer estímulo em itido pelos objetos do m undo. Já o signo é u m sinal provido de sig­ nificado, representa a ligação de u m significante a u m significado.

H á três tipos de signos: os ícones, os indicadores ou índices e os símbolos. N o caso do ícone, há um a sem e­ lhança entre o significante e o significado; p o r exemplo, o m apa do Brasil representando o nosso País. O indica­ dor caracteriza-se pela existência de um a relação de con - tigüidade; p o r exem plo, fumaça significando fogo. Os sinais e sintomas clínicos são tam bém indicadores: a fe­ bre indica a presença de um a infecção. N o símbolo, no entanto, a relação é convencional e arbitrária. P o r exem ­ plo, o n om e Brasil dado ao nosso País, a utilização do term o alucinação para designar determ inada alteração da sensopercepção.

Sem iótica ou semiologia m édica é o estudo dos sinais e sintomas das enfermidades, estudo este que inclui a iden­ tificação das alterações físicas e mentais, a ordenação dos lenôm enos observados e a formulação de diagnósticos.

Os sinais e sintomas representam os signos da psico­ patologia e da m edicina em geral. Os sintomas são sub­ jetivos e aparecem nas queixas do paciente. D o r, o sen­ tim ento de tristeza e a escuta alucinatória, p o r exemplo, são sintom as. Já os sinais são objetivos, o u seja, são

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Psicopatologia: Q u estões G erais 3

verificáveis pela observação direta. Eles pod em ser de­ tectados p o r outra pessoa, às vezes pelo próprio pacien­ te. A flexibilidade cerácea, um a fácies de tristeza e o so­ lilóquio são sinais.

U m a experiência psíquica anorm al possui tanto for­ ma com o conteúdo. A form a se refere à estrutura em

term os fenom enológicos — p o r exem plo, delírio —, e o conteúdo, ao “colorido” ou “recheio ” da experiência — p o r exem plo, estar sendo perseguido p o r marcianos.

P o r sem iotécnica entendem os os procedim entos es­ pecíficos e sistematizados de observação e coleta dos si­ nais e sintomas, assim com o a interpretação destes.

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CAPÍTULO

E N T R E V IS T A E A N A M N E S E P S IQ U IÁ T R IC A

A E N T R E V IS T A P S IQ U IÁ T R IC A :

A S P E C T O S G E R A IS

A entrevista psiquiátrica possui três objetivos básicos: a form ulação de um diagnóstico, a formulação de um prognóstico e o planejam ento terapêutico. E a partir da entrevista que se começa a estabelecer, ou não, um a ali­ ança terapêutica entre o paciente e o m édico.

A entrevista pode se dar em situações m uito diversas: na internação do paciente, que pode ser voluntária ou involuntária; num a consulta no am bulatório; quando o psiquiatra vai responder a um pedido de parecer em um a enfermaria de hospital geral; no dom icílio do paciente; e, até m esm o, em via pública.

Para a entrevista, deve-se preferir u m am biente fecha­ do, isolado acusticamente e com um a tem peratura agra­ dável. D eve-se evitar o m áxim o possível que haja in ter­ rupções. N o início é essencial que o m édico se apresen­ te, explique o objetivo da entrevista e, se possível, obte­ nha o consentim ento do paciente. Se não há plena cons­ ciência de m orbidade p or parte do paciente, é fundam en­ tal que se entrevistem os familiares — ou outras pessoas que possam prestar informações —, de preferência com a concordância (e a presença) do paciente.

A arte de entrevistar só pode ser adquirida m ediante o treinam ento com um supervisor, e com a prática. Aulas e manuais pouco auxílio trazem. Ensina-se ao aluno como trabalhar com as evidências apuradas, mas é difícil m os­ trar com o obtê-las. D e qualquer m odo, há algumas re­ gras básicas que devem ser seguidas:

— N o com eço, deve-se deixar o paciente falar livrem en­ te, e só depois perguntar de m odo mais específico te­ mas ou pontos duvidosos.

— É preciso saber quando e com o interrom per o paci­ ente: sem cortar o fluxo da com unicação, mas sem deixar que a m inuciosidade ou a prolixidade prejudi­ quem a obtenção da história clínica. Sem pre co n tro ­ lar e dirigir a entrevista.

— As perguntas não devem ser formuladas em um a se­ qüência m onóton a e mecânica. D evem ser tão infor­ mais quanto possível.

— Evitar perguntas m uito sugestivas, fechadas, que p o ­ dem ser respondidas com um simples sim ou não: é m elhor perguntar “C om o você está se sentindo?” do que “Você está ansioso?” .

— N ão aceitar jargões fornecidos pelos pacientes, com o “nervoso” , “deprim ido” , “tenho pânico” : pedir que ele explique o que quer dizer com essas palavras. — Certificar-se de que o paciente com preende as p er­

guntas: utilizar linguagem acessível, sem term os m é­ dicos.

E S T R U T U R A E C O N T E Ú D O D A

A N A M N E S E P S IQ U IÁ T R IC A

Os dois com ponentes da avaliação psiquiátrica são: a anamnese e o exame psíquico. A palavra anamnese origi­ na-se do grego e significa literalm ente rememoração (ana

= novo; mnesis = m em ória). A anamnese psiquiátrica segue, em linhas gerais, o roteiro da anamnese em m ed i­ cina. E preciso ter em m ente u m roteiro de anamnese, mas este não pode perturbar a espontaneidade da entre­ vista.

A redação final de um a observação psiquiátrica preci­ sa ser completa, sem ser sobrecarregada ou repetitiva, mas nunca será totalm ente com pleta e precisa. Dois exam

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i-6 E n trevista e A n a m n e se Psiquiátrica

nadores jamais farão a mesma anamnese do m esm o paci­ ente.

Observa-se, entre os diversos livros de psiquiatria, um a ausência de uniform idade quanto à estrutura da anam ­ nese. Algumas informações podem se adequar a mais de um item da anamnese, cuja divisão é arbitrária, conven­ cional.

Ite n s da A valiação P s iq u iá tric a

A redação da avaliação psiquiátrica - incluindo a ana­ m nese e o exame psíquico — pode ser dividida nos se­ guintes itens: (1) identificação; (2) queixa principal; (3) m otivo do atendim ento; (4) história da doença atual; (5) história patológica pregressa; (6) história fisiológica; (7) história pessoal; (8) história social; (9) história familiar; (10) exame psíquico; (11) súmula psicopatológica; (12) exame físico; (13) exames complementares; (14) diagnós­ tico sindrôm ico; (15) diagnóstico nosológico; (16) con­ duta terapêutica.

Id e n tific a ç ã o

A identificação é composta pelos seguintes itens: nom e, data de nascim ento, sexo, estado civil, naturalidade, ní­ vel de instrução, profissão, etnia, religião, residência, procedência, filiação.

A identificação pode ser de grande auxílio para a for­ m ulação do diagnóstico. P o r exem plo, o alcoolismo é mais com um em homens; esquizofrênicos em geral não são casados; pacientes com retardo m ental costum am apresentar u m baixo nível educacional; etc.

N a apresentação pública de casos — com o em sessões clínicas —, o n om e pode ser representado pelas iniciais, mas é preferível, para preservar o sigilo, usar u m pseu­ dônim o.

Q u e ix a P rin c ip a l (Q P )

A Q P , que constitui o foco da história da doença atu­ al, deve ser sucinta. C onvém relacionar no m áxim o três queixas, de preferência apenas uma.

A Q P é redigida com as palavras do paciente (entre aspas, ou usando sic), devendo ser registrada m esm o que absurda. Caso o paciente não form ule n enhum a queixa, isso tam bém tem que ser apontado.

M o tiv o do A te n d im e n to

O item motivo do atendimento só é necessário quando não há consciência de m orbidade p o r parte do paciente. O seu conteúdo é fornecido p o r outra pessoa: u m fami­

liar, vizinho, bom beiro, policial, outro profissional de saúde, etc. São reproduzidas literalm ente as palavras do inform ante.

H is tó ria d a D o e n ç a A tu a l (H D A )

A H D A consta de u m relato sobre a época e m odo de início da doença, a presença de fatores desencadeantes, tratam entos efetuados e o m od o de evolução, o im pacto sobre a vida do paciente, intercorrência de outros sinto­ mas e as queixas atuais.

Ela é narrada pelo paciente, ou p o r inform antes - no caso de pacientes psicóticos —, ou p o r ambos. Faz-se n e­ cessário identificar sempre, para cada informação, qual foi a fonte. N a redação da H D A , evitam -se term os técni­ cos: são utilizadas as palavras do paciente ou do inform an­ te. Os quadros clínicos são descritos, porém não n o m e­ ados. A redação deve seguir um a ordem cronológica, m esm o que a narrativa, p o r parte do paciente ou dos inform antes, não tenha sido assim.

São ainda incluídas na H D A inform ações (sobre alte­ rações psíquicas e físicas) pesquisadas ativam ente pelo en ­ trevistador, m esm o que não tenham sido trazidas espon­ taneam ente pelo paciente ou inform ante. Fazem parte tam bém da H D A os negativos pertinentes, ou seja, certos sintomas cuja ausência pode ser significativa para a iden­ tificação da doença ou da fase evolutiva em que esta se encontra. Episódios psiquiátricos anteriores devem ser relatados tam bém aqui, já que estes devem estar relacio­ nados ao atual, visto que os transtornos mentais são, em geral, crônicos.

E m casos de transtorno de personalidade ou de retar­ do m ental, será impossível separar H D A e história pes­ soal, que p od em ser fundidas.

H is tó ria P a to ló g ic a P re g ressa (H P P )

A H P P refere-se a estados m órbidos passados, em ge­ ral nâo-psiquiátricos, que não m ostrem possuir relação direta ou indireta de causa e efeito com a moléstia atual. Se existir essa relação, eles são incluídos na H D A .

São investigadas principalm ente as seguintes ocorrên ­ cias: enurese, sonilóquio, pesadelos freqüentes, terro r no turn o, sonam bulismo, asma, tartam udez, fobia esco­ lar, na infância; convulsões ou desmaios; doenças vené­ reas; outras doenças infecciosas, tóxicas ou degenerati­ vas; traumatismos cranianos; alergia; intervenções cirúr­ gicas; hábitos tóxicos (álcool, tabaco, drogas ilícitas); uso de m edicam entos. Faz parte tam bém da H P P a revisão de sistemas, isto é, o questionam ento ju n to ao paciente rela­ tivo a cada aparelho de seu organism o (cardiovascular, respiratório, etc.).

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E n tre v ista e A n a m n e s e Psiquiátrica 7

N a redação da H P P incluem -se todas as doenças im ­ portantes relatadas. N ão se deve listar doenças ausentes, já que não se pode citar todas as que existem, a não ser que tal ausência seja significativa para a formulação do diagnóstico.

H is tó ria F isio ló g ica

São investigados os seguintes elementos relativos à his­ tória fisiológica: gestação (da mãe), nascim ento, aleita­ m ento, desenvolvim ento psicom otor (andar, falar, co n­ trole esfmcteriano), menarca, catamêmos, atividade se­ xual, gestações, partos, abortamentos, menopausa, padrões de sono e de alimentação.

H is tó ria P essoal

Pode-se optar p o r fundir a H P P , a história fisiológica, a história pessoal e a história social, sob a denom inação de história pessoal. Caso se m antenha a história pessoal com o u m item mais restrito, pesquisam-se as seguintes informações:

— Infância: personalidade, socialização, jogos e brincadei­ ras, aproveitamento escolar, ansiedade de separação. — Adolescência: desem penho escolar, uso de álcool e

drogas, delinqüência, relacionam entos interpessoais. — Sexualidade: iniciação, preferência, orientação, n úm e­

ro de parceiros, freqüência.

— Vida profissional: vocações; estabilidade nos em pre­ gos; relacionam ento com chefes, subordinados e co­ legas; desempenho.

— Personalidade pré-m órbida: relacionam entos sociais, interesses, hábitos de lazer e culturais, padrão de h u ­ m or, agressividade, introversão/extroversão, egoísm o/ altruísmo, independência/dependência, atividade/pas- sividade, valores, adaptação ao am biente.

H is tó ria S ocial

Fazem parte da história social informações relativas à moradia — condições sanitárias, pessoas com quem convi­ ve, núm ero de cômodos, privacidade, características socio- demográficas da região —; situação socioeconômica; carac­ terísticas socioculturais; atividade ocupacional atual; situa­ ção previdenciária; vínculo com o sistema da saúde; ativi­ dades religiosas e políticas; antecedentes criminais.

H is tó ria F a m ilia r

A história familiar abrange dados relacionados a d o ­ enças psiquiátricas e nào-psiquiátricas; ter sido a gravi­

dez desejada ou não pelos pais do paciente, separação dos pais, quem criou o paciente; ordem de nascim ento entre os irmãos, diferenças de idade; características de perso­ nalidade dos familiares, o relacionam ento entre estes e destes com o paciente; atitude da família diante da doen­ ça do paciente; relacionam ento com o cônjuge e filhos.

O E X A M E P S ÍQ U IC O

O exame psíquico tam bém é cham ado de exame do estado m ental, exame m ental, exame psicopatológico, exame psiquiátrico. Ele começa no prim eiro contato com o paciente, antes de se obterem os dados de identifica­ ção. O psiquiatra experiente será capaz de realizar a m ai­ or parte do exame do estado m ental ao m esm o tem po em que com pleta a tom ada da história.

N o m odelo m édico, a história é reconhecida com o subjetiva, enquanto o exame físico é considerado a fonte principal de inform ações objetivas. O exame psíquico é comparável ao exame físico na m edicina geral. Assim, na avaliação psiquiátrica, o que é relatado pelo paciente deve ser incluído na anamnese, enquanto o que é observado pelo exam inador representa o exame psíquico. P ortan­ to, expressões com o “o paciente refere” são quase sem ­ pre mais apropriadam ente colocadas na história do que no exame psíquico.

M ackinnon & Yudofsky (1988) questionam a objeti­ vidade do exame psíquico, alertando que não se pode palpar diretam ente a m ente do paciente ou auscultar seus processos de pensam ento da mesm a forma com o se exa­ m ina o abdôm en ou o tórax do paciente; e que o exame físico tam bém teria elem entos subjetivos. Mas, na ver­ dade, apenas os elem entos subjetivos relacionados dire­ tam ente a manobras do exam inador é que são incluídos na descrição do exame físico (por exemplo: dor à palpa­ ção abdominal, a pesquisa da sensibilidade térmica). Além disso, grande parte das vivências internas, subjetivas, dos pacientes são expressas em seu com portam ento, sua m í­ m ica ou sua fala, tornando-se assim passíveis de serem observadas e descritas p o r outras pessoas, isto é, tornan ­ do-se objetivas. Jaspers (1913), p o r sua vez, aponta a fal­ ta de fidedignidade dos relatos de m uitos pacientes: “ ... não só os doentes histéricos não m erecem confiança mas a grande m aioria das autodescrições psicopáticas deve ser considerada de m odo bastante crítico. Os doentes rela­ tam para serem agradáveis, o que deles se espera, ou por sensação quando notam o interesse” .

N o exame psíquico, são descritas apenas as alterações presenciadas durante a entrevista. P ortanto, na redação do exame psíquico, expressões com o no momento ou du ­ rante a entrevista são redundantes. D e u m m om en to para

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8 E ntrevista e A n a m n e se Psiquiátrica

outro, a sintom atologia psiquiátrica pode m udar — com o podem m udar a freqüência cardíaca, a pressão arterial, etc. —, constituindo assim um outro exame psíquico. N os casos em que a sintomatologia é interm itente, o que não é raro com alucinações e com alterações do nível da consciên­ cia, um exame psíquico isolado pode ser pouco revela­ dor. U m a possível solução seria to m ar o exame psíquico mais amplo, com preendendo mais de um a observação, com intervalos de horas ou dias entre um a e outra.

N a redação, é conveniente a descrição das condições nas quais se realizou o exame: se no domicílio do pacien­ te, em consultório ou ambulatório, em quarto de hospi­ tal, ou num a enfermaria; se havia mais alguém presente.

H á um a influência m útua entre as funções mentais. N a verdade, qualquer subdivisão das funções mentais é arti­ ficial, e as diversas funções psíquicas são avaliadas de for­ m a praticam ente simultânea. As funções psíquicas podem alterar-se quantitativa e /o u qualitativamente.

Além do registro das alterações psicopatológicas, faz parte do exame psíquico a descrição das funções mentais preservadas. N ã o devem ser consideradas as possíveis causas dos fenômenos: são apontadas todas as alterações presentes, m esm o que, p o r exemplo, se acredite que elas sejam devidas à medicação em uso. Para a avaliação de algumas funções, com o m em ória, orientação, inteligên­ cia, etc., são necessárias perguntas mais específicas ou m esm o testes. A redação do exame psíquico deve restrin­ gir-se a um a descrição dos fenôm enos observados, sem o uso de term os técnicos.

SÚ M U LA P S IC O P A T O L Ó G IC A

Os itens que com põem a súmula psicopatológica são: (1) aparência; (2) atitude; (3) consciência; (4) atenção; (5) sensopercepção; (6) m em ória; (7) fala e linguagem ; (8) pensam ento; (9) inteligência; (10) imaginação; (11) vo n­ tade; (12) psicom otricidade; (13) pragmatismo; (14) h u ­ m o r e afetividade; (15) orientação; (16) consciência do eu; (17) prospecção; (18) consciência de m orbidade.

Esses mesmos elementos são examinados no exame psí­ quico. A súmula psicopatológica e o exame psíquico pos­ suem o m esm o conteúdo, sendo a súmula u m resum o do exame psíquico: a partir de u m exame psíquico bem feito, qualquer outra pessoa terá que form ular a mesma súmula psicopatológica. Além disso, na súmula tom a-se explícita a subdivisão das funções mentais e são utiliza­ dos term os técnicos.

N ão há uniformidade quanto a uma configuração ideal da súmula, nem quanto ao núm ero ou ordem de apre­ sentação dos itens. É interessante a tentativa de estimar a intensidade das alterações quantitativas com um a m aior

precisão, prática com um no exame físico: p o r exemplo, “pensam ento acelerado (3 + / 4 + ) ” . E válida tam bém a atribuição de graus de certeza quanto à presença de deter­ m inada alteração (por exemplo: “alucinações auditivas?”).

O E X A M E F ÍS IC O

Existe um a falsa crença de que o doente m ental sofre menos freqüentem ente de doenças físicas, que são po r isso subdiagnosticadas. M uitos transtornos mentais possuem etiologia orgânica — com o a depressão no hipotireoidis- m o —, ou levam a complicações físicas — po r exemplo, u m quadro de desnutrição em função de perda do apeti­ te na depressão.

N o exame físico deve ser dada ênfase ao exame n eu ­ rológico e ao do sistema endócrino.

O exame da constituição (morfologia corporal) pode ser incluído no exame físico, na parte da inspeção geral. K retschm er (1921) relacionou os biótipos leptossômico, atlético e displásico à esquizofrenia; o pícnico à psicose maníaco-depressiva; e o atlético à epilepsia. Mas com e­ teu im portantes falhas m etodológicas em seu trabalho, com o a ausência de critérios rígidos e objetivos para a di­ ferenciação entre os biótipos, e a criação de novas teorias para explicar as numerosas exceções à sua teoria principal. Apesar disso, as idéias de Kretschm er são ainda bastante valorizadas po r m uitos psiquiatras, os quais talvez tenham um a tendência a se lem brarem mais dos casos que as con­ firm am do que daqueles que as contradizem .

E X A M E S C O M P L E M E N T A R E S

H em ogram a, bioquím ica sangüínea, sorologia para lues, exame do líquor, neuroim agem cerebral, eletroen- cefalografia, estudos genéticos, dosagens horm onais, tes- tagem neuropsicológica e psicodiagnóstico estão entre os principais exames com plem entares que p o d em ajudar na formulação do diagnóstico psiquiátrico. Todavia, em geral é desnecessária e onerosa a solicitação de u m grande núm ero de exames. Os mais im portantes para cada caso em particular vão ser indicados pelos dados da anamnese e pelos achados dos exames psíquico e físico.

O D IA G N Ó S T IC O P S IQ U IÁ T R IC O

A palavra diagnóstico tem origem grega: significa conhecer

(ou percebei•) dois; distinguir ou reconhecer.doença vem do latim dolentia, e significa dor, sofrimento.

As doenças são apenas conceitos, abstrações criadas pelo hom em , que p o d em ser a qualquer m om en to m odifica­

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E n tre v ista e A n a m n e s e Psiquiátrica 9

das ou descartadas. C onstituem condições relacionadas a desconforto, dor, incapacitação ou m orte, mas que só vão ser consideradas doenças em função de m uitos fatores (sociais, econôm icos, biológicos, etc.).

São levantadas algumas objeções ã formulação de diag­ nósticos. U m a delas está relacionada à idéia de que cada pessoa é um a realidade única e inclassificável: “não exis­ tem doenças, mas doentes” . Afirma-se ainda que o diag­ nóstico é estigmatizante, e que ele apenas serviria para

rotular as pessoas diferentes, perm itindo e legitim ando o

poder médico, o controle social sobre o indivíduo desadapta- do ou questionador.

Mas, entre diagnosticar e reduzir a pessoa que rece­ beu o diagnóstico a u m rótulo, há um a grande diferen­ ça. Em bora possua algumas desvantagens e possa ser usa­ do indevidam ente, o diagnóstico representa um a neces­ sidade prática na m edicina e na ciência. As finalidades principais do diagnóstico são: com unicação — perm itir um a linguagem co m u m — e previsão (“ diagnóstico é prognóstico”). Além disso, o diagnóstico favorece a in ­ vestigação científica e fundam enta as medidas terapêuti­ cas e preventivas.

O D ia g n ó s tic o S in d rô m ic o

A síndrom e constitui um a associação de sinais e sin­ tomas que evoluem em conjunto, provocada p o r m eca­ nismos vários e dependente de causas diversas.

São exemplos de síndromes: pneum onia, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, demência, depressão. A es­ quizofrenia não é um a síndrom e, pois está relacionada a critérios com o curso crônico e ausência de etiologia or­ gânica. Síndrom e de imunodeficiência adquirida (AIDS), sín ­ drome pré-menstrual, síndrome de dependência de drogas psico- ativas, síndrome orgânica da personalidade, apesar das respec­ tivas denom inações, não são síndromes, já que o que as caracteriza não é a sintomatologia, mas a etiologia ou o curso.

U m a mesma entidade nosológica pode, em diferentes m om entos, manifestar-se sob a forma de diferentes sín­ dromes. P or exem plo, a esquizofrenia está associada às síndromes paranóide, catatônica, hebefrênica e apático- abúlica. P or outro lado, um a mesma síndrom e pode es­ tar presente em diferentes entidades nosológicas. P o r exemplo: a depressão pode ser primária, ou associada ao hipotireoidism o, ou associada ao uso de anti-hipertensi- vos, etc.

E m bora não haja um a identidade de opinião entre os diferentes autores quanto à enumeração das síndromes psi­ quiátricas, po dem ser listadas as síndromes: de ansiedade; fóbica; obsessiva; compulsiva; de conversão; dissociati- va; hipocondríaca; de somatizaçào; depressiva; maníaca;

de estado m isto (manifestações maníacas e depressivas associadas); delirante (ou paranóide); alucinatória; hebe- frênica (ou desorganizada); catatônica (hipercinética, hipocinética); apático-abúlica; de retardo mental; dem en- cial; de delirium; amnéstica; anoréxica; bulímica; de des- personalização—desrealização. Algumas com binações sin- drômicas são freqüentes: fóbico-ansiosa; obsessivo-com- p ulsiva; d ep ressiv o -an sio sa; h e b e fre n o -c a ta tô n ic a ; hebefreno-paranóide; delirante-alucinatória.

O diagnóstico sindrôm ico baseia-se na súmula psico- patológica, podendo ser considerado tam bém , desde que haja confiabilidade, o relato incluído na H D A das altera­ ções atuais — não as pretéritas — que não foram detecta­ das no exame psíquico. C o m o sempre é possível realizar um exame psíquico, m esmo que não haja cooperação por p arte do p ac ie n te, a fo rm ulação de u m diagnóstico sindrôm ico é obrigatória.

E m função da larga m argem de desconhecim ento acer­ ca da etiopatogenia das doenças mentais e da inespecifi- c id a d e da ação dos p s ic o fá rm a c o s , o d ia g n ó s tic o sindrôm ico em psiquiatria reveste-se de grande im p or­ tância. N a verdade, basicamente diagnosticamos e trata­ mos síndromes, e não doenças.

O D ia g n ó stic o N o so ló g ic o

X o s o , do g reg o , significa doença. O d iag n ó stico nosológico baseia-se na anamnese e nos exames psíqui­ co, físico e com plem entares.

O diagnóstico de um a doença pode seguir o m odelo categorial ou o dimensional. D e acordo com o prim ei­ ro, adotado pela C ID -1 0 e pelo D SM -IV , as doenças se distinguem da saúde e entre si: a categoria esquizofrenia é

qualitativam ente diferente da categoria transtornos do h u ­ mor e da norm alidade. Já segundo o m odelo dim ensio­ nal, haveria u m continuum entre a saúde e a doença, a diferença entre ambas seria quantitativa.

U m a classificação nosográfica é baseada ou nos sinto­ mas, ou então na etiologia. Esta segunda opção é consi­ derada a ideal, já que, de acordo com o conceito clássi­ co, um a doença possui causas, alterações estruturais e funcionais, e história natural conhecidas. Causa é qual­ quer coisa que aum ente a probabilidade de um a doença; pode ser necessária e suficiente, necessária mas não sufi­ ciente, ou nem necessária nem suficiente.

C o m o o co n h ecim en to a respeito da etiologia das doenças mentais é bastante lim itado, o diagnóstico psi­ quiátrico é baseado na sintom atologia, o que o torna pouco válido e pouco fidedigno. O term o transtorno, en­ contrado na C ID -1 0 e no D S M -IV para designar as en­ tidades nosológicas, é bastante impreciso: é mais especí­ fico que síndrome, mas não representa doença.

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10 E ntrevista e A n a m n e se Psiquiátrica

O D S M -IV caracteriza-se p o r um a abordagem des­ critiva, não baseada em inferências teóricas; p o r critérios operacionais para o diagnóstico; e p o r um a avaliação multiaxial. Esta tenta contem plar as abordagens sintom a- tológica e etiológica: eixo I — transtornos mentais; eixo II — transtornos de personalidade e do desenvolvim ento; eixo III — distúrbios físicos; eixo IV — estressores psicos­

sociais; eixo V — o mais alto nível de funcionam ento adaptativo no ano anterior.

E m 1954, Lem e Lopes já p ropunha o diagnóstico psi­ quiátrico em três dimensões: (1) a síndrom e, (2) a perso­ nalidade pré-m órbida — que corresponderia à predispo­ sição biológica, psicológica ou social — e (3) a constela­ ção etiológica — fatores causais endógenos ou exógenos.

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CAPÍTULO

A P A R Ê N C IA

IN T R O D U Ç Ã O

P ouco foi escrito sobre a aparência nos tratados de psi- copatologia. Encontram -se algumas palavras em Vallejo N ágera (1944), Leme Lopes (1980), Pio A breu (1997), Ey (1988), M ackinnon & Yudofsky (1988) e Sá (1988).

N o exame de paciente psiquiátrico, só podem os o b ­ servar o que está aparente, não oculto. Assim, podería­ mos chamar de aparência todo o conteúdo do exame psíquico. Mas, no exame psíquico e na súmula psicopa- tológica, o term o aparência tem u m significado bem mais restrito, referindo-se basicamente aos cuidados higiêni­ cos e estéticos relativos ao corpo (incluindo cabelos, barba, unhas, dentes),, roupas, m aquiagem e adereços (brincos, colares, pulseiras, etc.).

E m geral, a aparência é o prim eiro elem ento observa­ do no paciente, e o seu exame oferece indicações sobre o estado de diversas funções mentais.

A L T E R A Ç Õ E S N A A P A R Ê N C IA

A aparência de um paciente ou está cuidada, ou então descuidada (desleixada). Neste último caso, ele se apresenta com a hígiènexurporal com prom etida; roupas sujas, ras­ gadas ou desalinhadas; m au cheiro; cabelos despenteados e excessivamente compridos; barba p o r fazer; dentes es­ tragados, ausentes; ou unhas sujas e compridas.

U m a outra forma de classificar a aparência seria em: ade­ quada, bizarra (ou extravagante, ou excêntrica) e exibicio- nista. Denomina-se bizarra a aparência destoante do usual no ambiente do indivíduo, qualitativamente diferente ou apenas exagerada em relação ao padrão da maioria das pes­ soas. Já a aparência exibicionista caracteriza-se pela excessi­ va exposição do corpo, sendo apresentada por pacientes com aumento da libido ou com portamento sedutor.

A A P A R Ê N C IA N O S P R IN C IP A IS

T R A N S T O R N O S M E N T A IS

D ep ressão

N a depressão, o desinteresse ou a falta de energia pode inviabilizar os cuidados pessoais.

M ania

A aparência de mulheres maníacas costuma ser mais ou menos assim: roupas m uito coloridas e chamativas, excesso, de maquiagem, perfume em excesso, muitos enfeites, unhas e cabelo às vezes pintados com várias cores diferentes (apa­ rência bizarra); roupas muito curtas e decotadas (aparência exi­ bicionista) . Alguns pacientes maníacos, contudo, podem apre­ sentar uma aparência descuidada, em função de uma intensa agitação, que impede que eles completem qualquer ativida­ de, inclusive as relativas aos cuidados pessoais.

E sq u iz o fre n ia

N os quadros apático-abúlicos, a aparência é descuida­ da. N os hebefrênicos, costuma ser bizarra, assim com o em muitos quadros paranóides, em que a aparência reflete a atividade delirante. Vallejo Nágera (1944) cita o uso de condecorações de papelão no peito e de tiaras de papelão na cabeça com o expressões de delírios de grandeza.

D e m ê n c ia

N os casos de'dem ência que cursam com apraxia, fre­ qüentem ente a aparência está descuidada.

T ra n s to rn o s D isso c ia tiv o s/C o n v e rsiv o s

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CAPÍTULO 4

A T IT U D E

IN T R O D U Ç Ã O

N os livros de psicopatologia, pouco espaço foi dedi­ cado ao estudo da atitude. H á algumas breves referências ao assunto apenas em Valle-jo N ágera (1944), Pio A breu (1997), Ey (1988), M ackinnon & Yudofsky (1988) e Sá (1988). E alguns desses autores fazem certa confusão en ­ tre psicom otricidade e atitude (ou com portam ento).

N a entrevista psiquiátrica, são considerados o relato do paciente (ou de u m familiar) — a partir do qual é elabora­ da a história — e a observação do com portam ento do paciente — base do exame psíquico. Dessa forma, o com ­ portam ento (ou atitude), n u m sentido amplo — englo­ bando a fala, os gestos, a m ím ica e os demais m ovim en­ tos corporais —, seria tudo no exame psíquico. Todavia, parece mais interessante, na súmula psicopatológica, res­ tringir o term o atitude àquela que está especificamente relacionada ao examinador e à entrevista. Esse, por exem ­ plo, não é o caso da atitude alucinatória, expressão m uito empregada no m eio psiquiátrico. Assim, a atitude alucina­ tória não constituiria um a alteração da atitude, conside­ rando o sentido de atitude aqui adotado.

A L T E R A Ç Õ E S D A A T IT U D E

Quase não há term os técnicos para descrever as for­ mas de atitude, sendo usadas basicamente palavras de uso corriqueiro. Alguns com portam entos p o r parte dos pa­ cientes são considerados desejáveis, no sentido de contri­ buírem positivam ente para a realização da avaliação psi­ quiátrica: atitude cooperante, atitude amistosa, atitude de confiança, atitude interessada. Essas atitudes desejáveis em geral estão relacionadas a um a plena consciência de m o r- bidade.

Seriam basicamente estas as formas de atitude im po r­ tantes do p o n to de vista sem ioló gico : atitu d e n ã o - cooperante, de oposição, hostil, de fuga, suspicaz, que- relante, reivindicativa, arrogante, evasiva, invasiva, de esquiva, inibida, desinibida, jocosa, irônica, lamuriosa, dramática, teatral, sedutora, pueril, gliscróide, sim ulado­ ra, dissimuladora, indiferente, m anipuladora, submissa, expansiva, amaneirada; além da reação de últim o m om en­ to. Essa lista não é fechada e, provavelm ente, não abran­ ge todas as m aneiras de o do en te se p o rtar diante do m édico. A lém disso, na prática um a mesma atitude pode enquadrar-se em mais de um a categoria.

— A titude não-cooperante: dizer que o paciente não é cooperante é m uito vago, já que há diversas formas de não cooperar.

— A titude de oposição (ou negativista): o paciente se recusa a participar da entrevista.

— A titude hostil: o paciente ofende, ameaça ou agride fisicamente o examinador.

— A titude de fuga: reflete o m edo p o r parte do pacien­ te.

— A titude suspicaz (ou de desconfiança): “Você é mes­ m o m édico?” , “H á m icrofones escondidos aqui?” e “P o r que o senhor está perguntando sobre isso?” são perguntas formuladas pelos pacientes que apresentam esse tipo de atitude, a qual costum a estar relacionada a um a atividade delirante.

— A titude querelante: o paciente discute ou briga com o examinador, p o r se sentir prejudicado ou ofendido. — A titude reivindicativa: o paciente exige, de forma in­ sistente, que aquilo que julga ser seu direito seja cum ­ prido. P o r exemplo: ter alta da internação.

— A titude arrogante: o paciente sente-se superior e trata com desdém o m édico.

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14 A titu d e

Atitude evasiva: o paciente evita responder a certas per­ guntas, sem se recusar explicitam ente.

— A titude invasiva: o paciente deseja saber sobre a vida pessoal do examinador; m exe, sem pedir autorização, nos objetos deste no consultório.

— A titude de esquiva: o paciente não deseja o contato social.

— A titude inibida (ou contida): o paciente não encara o exam inador, e dem onstra estar pouco à vontade. — A titude desinibida: o paciente apresenta grande faci­

lidade quanto ao contato social, não se sente constran­ gido ao falar até m esm o de sua vida sexual, podendo violar normas sociais e tornar-se inconveniente. P o r exemplo: pode assediar sexualm ente o entrevistador. — Atitude jocosa: o paciente está freqüentem ente fazendo

piadas, ou brincando com as outras pessoas.

— A titude irônica: as piadas e o to m de voz refletem sua arrogância e agressividade.

— A titude lamuriosa: o paciente queixa-se o tem po todo de seu sofrim ento e dem onstra autopiedade.

— A titude dramática: reflete um a hiperem ocionalidade. — Atitude teatral: o paciente parece estar fingindo ou exa­ gerando, ou querendo chamar a atenção dos outros. — A titude sedutora: o paciente elogia e tenta agradar o

examinador, ou tenta despertar o interesse sexual deste. — A titude pueril: o com portam ento do paciente é com o

o de um a criança (faz pirraça, brinca, chama o m édi­ co de tio, etc.).

— A titude gliscróide (ou viscosa): o paciente égrudento;

é difícil encerrar a conversa com ele.

— A titude simuladora: o paciente tenta parecer que tem u m sintom a (ou doença) na verdade ausente.

— Atitude dissimuladora: o paciente tenta ocultar u m sin­ to m a (ou doença) existente, co m o objetiv o, p o r exemplo, de receber alta da internação.

— A titude indiferente: o paciente não se sente sequer incom odado pela entrevista ou pela presença do m é­ dico.

— A titu d e m anipuladora: o paciente ten ta o brigar o m édico a fazer o que ele, paciente, quer, muitas vezes po r m eio de ameaças ou chantagem emocional. — A titude submissa: o paciente, passivamente, atende a

todas as solicitações do examinador.

— A titude expansiva: o paciente deseja intensam ente o contato social, e trata o m édico com o se fosse íntim o deste.

— A titude amaneirada: o com portam ento é caricatural. P o r exemplo: tratar o m édico de “vossa excelência” , ou curvar-se toda vez em que o vê.

— R eação de últim o m om ento: após intenso negativis­ m o, quando o exam inador já está desistindo do con­ tato, o paciente com eça a cooperar com a entrevista.

O E X A M E D A A T IT U D E

O examinador não deve provocar ativamente qualquer atitude no paciente, a qual deve ser espontânea.

A A T IT U D E N O S P R IN C IP A IS

T R A N S T O R N O S M E N T A IS

M an ia

O paciente m aníaco pode apresentar um a atitude ex­ pansiva, desinibida, jocosa; ou então irônica, arrogante, hostil.

D ep ressão

N a depressão, é com um um a atitude lamuriosa. T o ­ davia, o desinteresse pode levar a um a atitude de indife­ rença.

E sq u iz o fre n ia

N os quadros em que predom inam os sintomas nega­ tivos ou na catatonia, pode haver indiferença em relação ao exame. N a catatonia, encontram -se muitas vezes um a atitude de oposição e a reação de últim o m om ento. N os quadros paranóides, observa-se um a atitude suspicaz, hostil, querelante, ou de fuga. E típica da hebefrenia um a atitude pueril.

Delirium, D e m ê n c ia

N o delirium e em quadros de dem ência avançada, pode haver indiferença em relação ao exame, em função da nâo-com preensão do significado deste.

R e ta rd o M en tal

N o retardo m ental é m uito característico u m com por­ tam ento pueril.

E p ilep sia

N a epilepsia do lobo tem poral, assim com o em o u ­ tros distúrbios cerebrais relacionados a essa região do cérebro, observa-se u m com portam ento gliscróide.

H is te ria

N a histeria sem pre há teatralidade. C ostum am estar presentes tam bém sedução, dramaticidade, simulação, pue­ rilidade e manipulação.

(20)

A titu d e 15

F o b ia S ocial, T ra n s to rn o de

P e rs o n a lid a d e de E v ita ç ã o

A inibição é um elemento fundamental dos quadros de fobia social e do transtorno de personalidade de evitação.

T ra n s to rn o d e P e rs o n a lid a d e

A n ti-so c ia l

O sociopata apresenta u m com portam ento sedutor, m anipulador e hostil.

T ra n s to rn o D e lira n te , T ra n s to rn o de

P e rs o n a lid a d e P a ra n o id e

T ra n s to rn o de P e rs o n a lid a d e

Borderline

N o transtorno delirante e no transtorno de personali- O borderline apresenta um com portam ento m anipula-dade paranoide, a atitude é querelante, reivindicativa ou dor e hostil,

(21)

CAPÍTULO

C O N S C IÊ N C IA (vigilância)

IN T R O D U Ç Ã O

E tim o lo g ia

A palavra consciência vem do latim, cum scientia, que, por sua vez, é um a tradução da palavra grega syneidesis. C um scientia significa literalm ente uma ciência acompanha­ da de outra ciência, ou um a relação cognoscitiva com.

O riginalm ente, a palavra consciência tinha o significa­ do de consciência moral, que equivale no alemão a Q em ssen,

e, no inglês, a conscience. Só posteriorm ente surgiu o con­ ceito de consciência psicológica — mais amplo que o concei­ to de consciência moral, abarcando este —, que correspon­ de a Bewusstsein, no alemão, e a consciousness, no inglês. Nas línguas neolatinas, com o o português, consciência se refere a ambos os conceitos.

C o n sc iê n c ia P sic o ló g ic a

Segundo Jaspers, consciência é_j3 todo m om entâneo da vida psíquica” . E m outras palavras, constitui um a sín­ tese ou integração de todos os processos m entais em de­ term inado m om ento.

As características da consciência psicológica são as se­ guintes:

— tratase de um a vivência interna e atual; -— está relacionada à distinção eu /n âo -eu ;

— é o conhecim ento (o dar-se conta) que o indivíduo tem de suas vivências internas, de seu corpo e do m undo externo — podendo ser didaticam ente dividi­ da em consciência do eu e consciência dos objetos; — segundo a fenom enologia, possui intencionalidade

(“to da consciência é sem pre consciência de alg o” [Husserl]), é doadora de significado às coisas;

— é reflexiva, ou seja, o indivíduo tem consciência de que tem consciência, e assim pode refletir sobre os seus conteúdos psíquicos.

S er C o n sc ie n te c o m o u m a Q u a lid a d e

Talvez a consciência psicológica seja m enos um a fun­ ção psíquica propriam ente dita do que um a qualidade subjetiva que os processos mentais — com o sensopercep- ção, m em ória, imaginação, pensam ento, afeto, vontade — po dem ter, em oposição à qualidade de ser inconsci­ ente (Alves Garcia, 1942; Bleuler, 1985; Pally & Olds, 1998). U m a visão u m pouco diferente seria a de consi­ derar a consciência com o um a função m ental que cons­ titui o palco onde ocorrem as outras funções mentais (Del N ero , 1997).

V ig ilâ n c ia

Vigilância é u m term o criado p o r H ead, em 1923, de­ finido com o “um a capacidade fisiológica que serve de suporte a um a atividade adaptativa, qualquer que seja a m odalidade desta” .

Trata-se de um a acepção de consciência mais particu­ lar, que corresponde ao conceito de ativação ou atenção tô­ nica. Refere-se a um estado de consciência, no sentido neu- rofisiológico. Aqui, estar consciente significa que o indi­ víduo está vígil, desperto, alerta, com o sensório claro.

L u c id e z d e C o n sc iê n c ia

A lucidez constitui um estado de consciência clara, ou de vigilância plena — a consciência teria um a função ilum inadora quanto aos conteúdos mentais. N a lucidez,

(22)

18 Consciência (V igilância)

os processos psíquicos são experimentados com suficiente intensidade; os estímulos são adequadam ente apreendi­ dos; e os conteúdos mentais possuem nitidez e são clara­ m ente delimitados e identificados.

E m oposição à lucidez estão o sono e o coma. E ntre esses extremos, há diversos níveis de clareza da consciên­ cia, o que representa a dimensão vertical da consciência.

C a m p o da C o n sc iê n c ia

O campo (ou am plitude) da consciência refere-se à quantidade de conteúdos que a consciência abarca em de­ term inado m om ento, e representa a dimensão h o rizo n­ tal da consciência.

A L T E R A Ç Õ E S Q U A N T IT A T IV A S

F IS IO L Ó G IC A S

As alterações quantitativas da consciência (vigilância), que p odem ser normais ou patológicas, referem -se à in­ tensidade da clareza das vivências psíquicas.

N o estado norm al, o indivíduo desperto está constan­ tem ente apresentando oscilações na intensidade de sua consciência, em geral pequenas. H á certa dim inuição no nível de consciência quando o indivíduo está cansado ou sonolento, quando se encontra n u m estado de relaxamen­ to ou repouso, e quando os estímulos sensoriais externos e internos e os afetos são pouco intensos. H á tam bém um a redução do nível de consciência na transição da vigília para o sono, e vice-versa.

S o n o

O sono pode ser definido com o u m estado de incons­ ciência do qual a pessoa pode ser despertada p o r estím u­ los sensoriais. O sono profundo (sem sonhos) constitui u m estado fisiológico de abolição da consciência.

A L T E R A Ç Õ E S Q U A N T IT A T IV A S

P A T O L Ó G IC A S

Alguns autores falam em elevação do nível de consci­ ência (ou hiperlucidez, ou hipervigilância). N o entanto, esse é u m c o n c e ito b astan te in a d e q u a d o . S egu n d o A lonso-Fernández (1976), a situação de a consciência adquirir características mais intensas que as da consciên­ cia norm al constitui apenas um a possibilidade teórica, que não tem base empírica. Esse fenôm eno ocorreria na in­ toxicação p o r alucinógenos (LSD, mescalina, etc.) e p or anfetamina, na mania, no início da esquizofrenia e em auras epilépticas. Haveria u m aum ento de intensidade das

percepções, do afeto, da atividade, da m em ória de evo­ cação e da atenção espontânea; todavia, isso se daria com prejuízo na capacidade de concentração e de raciocínio, e na m em ória de fixação, além de incoerência, desorga­ nização e hipopragm atism o.

R e b a ix a m e n to do N ível de

C o n sc iê n c ia

A expressão rebaixamento do nível de consciência refere- se a u m nível de consciência entre a lucidez e o coma. C onstitui um a perda da clareza da consciência: a percep­ ção do m undo externo tom a-se vaga e imprecisa (aumen­ ta o limiar para a captação de estímulos externos), havendo ainda um a dificuldade para a introspecção, para a apre­ ensão do próprio eu.

O rebaixam ento do nível de consciência está relacio­ nado a u m com prom etim ento difuso, generalizado, do funcionam ento cerebral. Sem pre possui um a etiologia orgânica. O co rre u m déficit cognitivo global. Estão es­ pecialm ente afetadas as funções de atenção, orientação alopsíquica, pensam ento, inteligência, sensopercepção, m em ória, afeto e psicom otricidade.

Há, entre os diversos autores, um a grande falta de uni­ form idade quanto à term inologia da classificação dos quadros de rebaixam ento da consciência. U m a opção é dividi-los em: estados confusionais simples e estados con- fuso-oniróides.

E sta d o C o n fu sio n a l S im p les

O estado confusional simples (ou obnubilação* sim­ ples da consciência) caracteriza-se pela ausência de sin­ tom as psicóticos. O paciente apresenta hipoprosexia, desorientação no tem po e no espaço, pensam ento em ­ pobrecido e alentecido (às vezes, m utism o), dificuldades de com preensão e de raciocínio, hipoestesia, hipom nesia de fixação e de evocação, apatia e inibição psicom otora (às vezes, estupor).

E sta d o C o n fu s o -o n iró id e

O estado confuso-oniróide** (ou obnubilação oniróide da consciência) caracteriza-se pela presença de sintomas psi­ cóticos, especialmente ilusões e pseudo-alucinações visu­ ais (menos freqüentem ente, de outras modalidades senso­ riais), além de idéias deliróides (muitas vezes, persecutórias).

* N .A .: Obnubilação v e m d o latim , ob + nubilare, q u e significa “p ô r u m a n u ­ v e m na fre n te ” , " e n e v o a r” .

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