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Ana Rosa 1 Carlos Neto 2

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Desenvolvimento juvenil e rotinas de vida: Culturas e

representações sociais de jovens praticantes de surf e

bodyboard nas regiões do Litoral Sul do País

Ana Rosa1 Carlos Neto2

O surgimento da sociedade pós-industrial (sociedade de informação), arrastou consigo profundas alterações na organização dos modos de vida do jovem, reflectindo-se também na valorização de novas concepções de actividades culturais e artísticas, na qual se inclui o desporto (Neto, 1995). Na opinião deste autor, o aspecto mais evidente desta mudança, assenta na renovação do entendimento que os jovens adolescentes têm vindo a dar ao significado da actividade física, uma vez que está a ser construída uma nova e diferente maneira de ver, de estar e entender a prática desportiva que valoriza os aspectos relacionados com a natureza, o risco e a aventura.

Le Breton (1991) defende que estas práticas relacionadas com a natureza, por romperem com a rotina, são valorizadas particularmente pelos jovens, que na opinião de Neto

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Faculdade de Motricidade Humana. Universidade Técnica de Lisboa.

Resumo

Este trabalho está centrado no desenvolvimento juvenil e rotinas de vida de jovens praticantes de surf e bodyboard das regiões do Algarve e do Baixo Alentejo Litoral.Os dados foram recolhidos através de questionário e de entrevista semi-estruturada, junto de 40 jovens, 10 raparigas e 30 rapazes, com idades compreendidas entre os 15 e os 17 anos.As principais ilações sugerem que está a ser construída uma nova e diferente maneira de ver, de estar e entender a prática desportiva, pelos jovens, que valoriza os aspectos relacionados com a natureza, o risco e a aventura. As práticas físicas realizadas em espaços estáveis e com referências fixas estão a deixar de satisfazer as verdadeiras necessidades dos jovens, dando lugar a práticas estruturadas de exploração do meio natural, em meios instáveis e incertos, onde o risco e a aventura são valorizados. Palavras-chave: culturas juvenis; identidade; socialização; risco; aventura.

Abstract

This work is focused on youth development and life routines of young surfers and bodyboarders from the Algarve and Alentejo’s coast regions. Data were collected through questionnaires and semi-structured interviews with 40 young individuals, 10 girls and 30 boys, aged between 15 and 17 years. The main conclusions suggests that is being built a new and different way of seeing, being, and understanding the sport, by the young people, who value the aspects related to the nature, risk and adventure. The physical activities performed in stable spaces and fixed references, are no longer fulfilling the real needs of young people, giving place to structured activities of exploration of the natural environment, unstable and uncertain grounds, where risk and adventure are appreciated.

Keywords: youth cultures; identity; socialization; risk; adventure.

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(1995), se sentem cada vez mais acorrentados a uma realidade social existencialmente conformista.

Segundo Câmara (1996), este momento crucial de mudança que caracteriza a vida dos jovens adolescentes, está também relacionada com a diferenciação de estatuto (passagem para a idade adulta) que na opinião de (Erikson, 1976), é traduzido na procura de novas sensações e emoções.

Neste contexto Costa (2000) defende que o jovem necessita colocar a sua existência à prova, no sentido de a valorizar. Segundo esta autora, na sua passagem de estatuto, o jovem recorre a rituais de passagem, contextualizados por actividades que incluam risco e aventura, que os irá submergir num mundo imaginário, onde procuram alcançar a excitação e o prazer, que se irá transpor de forma terapêutica para a vida real. Neste tipo de actividades, cada objecto e cada circunstância assume um valor e um significado simbólico, que corresponde aos aspectos mais profundos da realidade (Costa, 2000).

Nesta fase da sua vida, o jovem adolescente sente a necessidade de construir a sua própria identidade e simultaneamente apropriar-se de valores individuais e colectivos (Câmara, 1996). Segundo este autor, estão em jogo um conjunto de processos que não são apenas de identificação corporal própria, mas que se desenvolvem com aproximações e afastamentos relativamente à imagem externa que reflectem dos outros. Na procura dos seus semelhantes, o jovem procura em primeiro lugar as características externas, e só depois, com o desenvolvimento das relações inter-pessoais, tenta encontrar outro tipo de referenciais. Por esta razão, Câmara (1996) defende que a adolescência é, por excelência, o tempo para o corpo. Neste contexto Loret (1995) realça o termo, “corpo colectivo”, no qual o jovem não sente apenas o seu corpo, mas sim muitos corpos, que se misturam e que se incorporam, porque se assim não for, não lhe pertencerão. De facto, para a generalidade dos jovens, os amigos do grupo constituem um espelho da sua própria identidade (Pais, 2003).

No sentido de apoiar esta valorização dos amigos, Hendry et al. (1993) realçam o modelo de análise do desenvolvimento da adolescência de J. Coleman, que sugere que a seguir a um período de identificação heterossexual, existe um estabelecimento de uma forte ligação com os amigos. Estes são normalmente escolhidos entre aqueles onde a partilha de heróis, gostos, sensações, ideias e ideais comuns parece fazer algum sentido (Tolson & Urberg, 1993). Segundo estes autores, a aquisição de um estilo próprio, por indução grupal, ou a consistência de um estilo já incorporado pelo grupo, é facilmente compreensível. As músicas, os símbolos, os ídolos e os rituais praticados por determinados grupos, constituem

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motivos para que os jovens procurem um lugar e um espaço no seio de uma comunidade, apropriando-se de um sentimento de “corpo colectivo” (Tolson & Urberg, 1993).

Pais (2003) salienta que o tempo colectivo de que os jovens desfrutam, em grupo, é sentido como um tempo mais apropriado que qualquer outro à realização dos seus desejos e interesses de marca especificamente mais juvenil.

Segundo Carvalho & Horta (2003), os diferentes grupos juvenis surgem com o objectivo de resolver as necessidades comuns a vários indivíduos, conduzindo-os à união e à criação de mecanismos que respondam a essas necessidades. Na opinião dos autores anteriormente citados, estes grupos juvenis, ou culturas juvenis, regem-se por regras alternativas às normas formais da sociedade. Tal faz surgir o aparecimento de outro conceito - contra-cultura – que acentua a recusa da lógica consumista (Carvalho & Horta, 2003).

Perante tal paradigma, Neto (1995), defende que é de extrema importância perceber que a aderência a este tipo de práticas de risco e aventura, está também directamente relacionada com o surgimento de culturas específicas e formas de socialização muito próprias dos sujeitos que as praticam.

É nossa intenção neste estudo: i) compreender as principais razões que levam os jovens a interessar-se cada vez mais por actividades físicas que valorizem o risco e aventura; ii) perceber de que forma essas novas práticas estão associadas ao surgimento de culturas de grupo específicas dos jovens que as praticam; iii) compreender a importância que essas actividade alternativas assumem na formação da identidade do jovem e na sua diferenciação de estatuto (passagem para a idade adulta).

Métodos

No sentido de concretizar os objectivos a que nos propusemos utilizámos dois instrumentos de avaliação: i) questionário, ii) entrevista semi-estruturada. Basicamente estes dois instrumentos foram construídos a partir dos dados percebidos nos contextos vivenciais dos jovens. Através da nossa observação e incursão participante na realidade dos jovens, conseguimos perceber que elementos se poderiam revelar como significantes para os jovens, quais as suas ideias e ideias. Este processo aproximação aos jovens demorou algum tempo e teve de ser conduzido com muita sensibilidade, para que estes não sentissem o seu espaço invadido. Este foi sem dúvida um processo crucial nesta investigação, já que nos permitiu compreender e por vezes confirmar que alguns dos comportamentos identificados nos jovens, possuem significados muito mais do domínio simbólico do que reais. Sentimos por isso

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conseguirmos compreender e decifrar o conteúdo e o significado real das respostas dadas por estes.

A incursão no contexto vivencial dos jovens foi de certa forma facilitada, uma vez que a autora é também praticante de bodyboard. Assim a sua constante presença na praia em situações de prática partilhadas com os jovens constituiu um dos pontes fortes de aproximação a estes.

O questionário foi construído a partir de duas fontes: i) Questionário de estilos de vida – “Modifiable Activity Questionnaire for Adolescents” – de Aaron e Kriska, adptado por Sobral (1992) a partir de Renson (1990); ii) Questionário construído e validado por Rodrigues (1997) a partir dos dados da sua incursão participante nos contextos vivenciais dos jovens.

Este instrumento de avaliação centrou-se nos seguintes pontos de caracterização: i) Caracterização do sujeito (idade, sexo, localidade);

ii) Caracterização da situação familiar (profissão e habilitações pais, agregado familiar, tipo de habitação em que vive);

iii) Caracterização do tipo de actividades realizadas em casa; iv) Caracterização do tipo de actividades realizadas fora de casa;

v) Caracterização do grupo de amigos e das actividades realizadas com estes; vi) Identificação com o estilo e os ideais de alguns grupos.

A entrevista foi elaborada pela autora e pelo orientador, Prof. Dr. Carlos Neto, e contemplou os seguintes grupos de questões:

i) Razões justificativas da prática de surf e bodyboard.

ii) Significado / Motivação para a prática de surf e bodyboard. iii) Contexto de prática

iv) Aspectos relacionados com a Socialização v) Simbólico e valores culturais.

Para facilitar a análise das questões da entrevista, elaboramos previamente categorias / dimensões de respostas possíveis, consoante a pergunta. A elaboração dessas categorias / dimensões de respostas, só foi possível na medida em que tínhamos um conhecimento profundo da cultura e da realidade do quotidiano destes jovens.

É de referir que os jovens não tiveram acesso a essas categorias, no sentido de não influenciar a sua resposta. Tal método permitiu-nos recorrer a uma análise estatística destes dados, aparentemente qualitativos, permitindo estabelecer relações sobre determinados aspectos, revelando simultaneamente algumas tendências no comportamento dos jovens. Por

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outro lado, o tempo disponível para realizar esta investigação, não era o suficiente para fazer a análise de conteúdo, já que a nossa amostra foi constituída por quarenta sujeitos.

Durante a realização da entrevista, sempre que possível, mantivemos um gravador oculto. Tal procedimento permitiu-nos interpretar e enquadrar as respostas do sujeito nas categorias pré-estabelecidas, bem como de captar e registar algumas marcas e expressões linguísticas características deste grupo de jovens. Não fizemos questão de manter o gravador à vista do sujeito, uma vez que na sua presença, eles ficavam intimidados, e não conseguíamos com isso obter aquilo que pretendíamos. Para chegar onde queríamos, tivemos que em maior parte das situações transformar a entrevista numa conversa informal de ocasião, agindo da forma mais natural possível. Daí a escolha deste tipo de entrevista – semi-estruturada – caracterizada pela sua flexibilidade e adaptabilidade ao entrevistado.

Os dois instrumentos de avaliação foram validados da mesma forma. Dos quarenta sujeitos que constituíram a amostra, seleccionaram-se seis sujeitos. Esses seis sujeitos foram submetidos a duas aplicações de cada instrumento de avaliação, com o intervalo de oito dias entre cada aplicação. A entrevista foi aplicada sempre depois do questionário.

Observou-se que em todos os sujeitos, os resultados obtidos na primeira aplicação, foram exactamente os mesmos obtidos na segunda aplicação, para cada um dos instrumentos de avaliação.

Uma vez que os sujeitos são menores de idade, foi enviada aos respectivos encarregados de educação uma carta de autorização para os seus educandos participarem na investigação.

A amostra foi constituída por 40 sujeitos, com idades compreendidas entre os 15 e os 17 anos (15,9 ± 0,9), divididos entre a região do Algarve (Faro e Lagos) e Baixo Alentejo Litoral (Zambujeira do Mar e Vila Nova de Mil Fontes). Todos os sujeitos seleccionados já possuem uma certa autonomia e um tempo de prática (2,1 ± 0,7 anos) que lhes permite retirar prazer da actividade.

Resultados

Na tabela 1 vêm descritos os parâmetros que constituíram o conteúdo do questionário escrito. Tais parâmetros permitiram-nos conhecer algumas das rotinas e preferências dos jovens da amostra.

ROTINAS E PREFERÊNCIAS DOS JOVENS Sujeitos

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Tabela 1 - Rotinas e preferências dos jovens.

Passando agora aos resultados da entrevista e ao analisar o conjunto de questões relativas às razões justificativas da prática, é claramente notório que as principais causas que levam os jovens a praticar surf e bodyboard, estão centradas no gosto pela natureza e na procura do risco (tabela 2).

Tabela 2 - Principal razão que conduz os sujeitos à prática do surf / bodyboard.

A tabela 3 indica que a maioria dos jovens abandonaram as modalidades convencionais que praticavam optaram pelo surf / bodyboard. Neto (1995) justifica estes resultados baseando-se na renovação dos princípios e valores quanto ao entendimento que os jovens têm vindo a dar ao significado da actividades física.

Tabela 3 - Prática de actividades convencionais antes de praticar surf / bodyboard.

Segundo este autor, está a ser construída uma nova e diferente maneira de ver, de estar e entender a prática desportiva que valoriza acima de tudo os aspectos relacionados com a natureza, o risco e a aventura. Os dados da entrevista apoiam esta ideia de Neto (1995), uma vez que os jovens justificaram que é a “atracção pelo risco” e a “incerteza do meio” as principais razões que os levaram a optar pelo surf / bodyboard e a abandonar a modalidade convencional que praticavam (tab. 4).

- Actividade realizadas fora de casa. Surfar com os amigos 39 98%

- Local preferido nos tempos livres. Praia 27 68%

- Amigos com quem convive mais. Colegas da escola 34 85%

- Actividade mais realizada com o grupo de amigos. Surfar 31 78%

- Identificação com estilo / ideais de grupos específicos.

Surfistas

29 73%

- Género musical mais ouvido Reagge 21 53%

Principal razão que conduz à prática do surf / bodyboard Sujeitos

f %

- Pratica só porque os amigos também praticam. 7 17,5%

- Pratica porque tem um familiar próximo que também pratica. 1 2,5%

- Pratica porque gosta da natureza, do risco e do confronto com o

desconhecido. 32 80%

TOTAL 40 100%

Antes de praticar surf / bodyboard praticavas alguma actividade convencional?

Sujeitos

f %

- SIM 35 87,5%

- NÃO 5 12,5%

TOTAL 40 100%

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Tabela 4 - Principal razão que leva o jovem a optar pelo surf / bodyboard.

Bourdieu (1989) argumenta que a perseguição deliberada do risco por parte do jovem, modifica o sentido da sua vida, marcando a sua identidade. Daí o papel assumido por estas práticas na formação da identidade dos jovens.

Na opinião de Neto (1995) a prática de actividades em que o risco e a aventura corporal estão presentes, permitem percepcionar a noção dos limites de exploração do corpo. Os resultados obtidos no nosso estudo vão de encontro a esta ideia, em que a maioria dos jovens da amostra afirma que a principal expectativa pessoal relativamente à prática do surf e do bodyboard reside na “superação das próprias capacidades e percepção do limite na exploração do corpo” (tab. 5).

Tabela 5 - Principal expectativa pessoal relativamente à prática de surf / bodyboard.

Apesar da atracção pelo desconhecido e pelas situações carregadas de incerteza, os resultados também sugerem que os jovens ao procurarem o risco, gostam de senti-lo até certo ponto. Ao serem questionados acerca da sua preferência pelo estado do mar, a maioria dos sujeitos admitiram preferir surfar num mar mais calmo que proporcione maior segurança (tab. 6).

f %

- Não estar sujeito a horários rígidos. 1 2,5%

- Estar num envolvimento incerto, nunca igual. 15 37,5%

- Os amigos também preferirem este tipo de actividade. 2 5%

- Atracção pelo risco 20 50%

- Influência / Pressão familiar. 2 5%

TOTAL 40 100%

Principal expectativa pessoal relativamente à prática de surf /

bodyboard

Sujeitos

f %

- Melhoria da técnica individual 7 17,5%

- Competição 5 12,5%

- Superação das próprias capacidades e percepção do limite na

exploração do corpo. 22 55%

- Confronto directo com a natureza 6 15%

TOTAL 40 100%

Preferência por um “mar tranquilo” ou por um “mar de risco”.

Sujeitos

f %

- Mar tranquilo (maior segurança) 25 62,5%

- Mar de risco (mais emoção) 15 37,5%

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Le Breton (1991) argumenta que esta dicotomia existente entre o risco e a segurança, revela que embora os jovens gostem de sentir o risco, eles não conseguem abandonar completamente o seu corpo. Trata-se portanto de um risco calculado, escolhido, até ao limite que cada indivíduo julga ser o seu (Le Breton, 1991). Este autor, admite que o risco deliberadamente escolhido é mais aceitável que o imposto pelas circunstâncias. Durante o momento de escolha, o risco merece ser vivido; nos outros momentos da vida, fora do momento escolhido para arriscar, o indivíduo fica atento à sua segurança (Le Breton, 1991).

Todos os sujeitos da amostra foram unânimes em afirmar que perante situações adversas entram no mar, o que lhes proporciona um “mergulho noutra dimensão e uma abstracção completa da realidade” (tab. 7).

Tabela 7 - Caracterização da principal sensação dos sujeitos quando entram no mar.

Este “mergulho noutra dimensão” representa aquilo que as práticas como o surf e o

bodyboard significam para o jovem: um “escape” à rotina. Nesta perspectiva, Costa (2000)

admite que estas actividades proporcionam uma fuga à realidade onde vão buscar forças e energia para continuar a viver o seu dia-a-dia. Este confronto com o risco, que conduz ao limite e ao conhecimento do próprio corpo, proporciona ao jovem uma submersão num mundo imaginário criando neles uma identificação e uma valorização simbólica (Costa, 2000). Segundo Le Breton (1991) através dessa identificação e valorização simbólicas os jovens vão procurando provar a sua possibilidade de estar no meio dos adultos, seguindo formas arriscadas (rituais de passagem) e procurando simultaneamente conferir algum sentido existencial às suas vidas.

Os resultados deste estudo mostram também que no contexto em que o jovem pratica

surf / bodyboard, existe uma significativa valorização do grupo de amigos, uma vez que o

grupo com o qual o jovem costuma surfar, é sempre o mesmo ou raramente varia (tabela 8).

Principal sensação quando se entra no mar Sujeitos

f %

- Mergulho noutra dimensão e abstracção completa da realidade 26 65%

- Sentimento de realização 8 20%

- Não sente nada de especial 3 7,5%

- Sente muito respeito 3 7,5%

- Sente medo 0 0%

TOTAL 40 100%

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Tabela 8 - Variação do grupo com quem o sujeito costuma surfar.

Os amigos são a companhia nas idas à praia e na partilha de todas as sensações que advém da prática. Sem eles a prática perde o seu verdadeiro significado e fica de certa forma descontextualizada. Logo as práticas quotidianas dos jovens não devem ser consideradas de forma isolada, há que as contextualizar (Pais, 2003).

Relativamente à identificação com o grupo de amigos, todos os sujeitos da amostra foram unânimes em afirmar que existe uma identificação total ou parcial relativamente a estes. Esta identificação grupal diz respeito à linguagem, ao vestuário, aos géneros musicais ouvidos, ao corte de cabelo, etc.

Tabela 9 - Identificação com o grupo de amigos.

Sobre este assunto, Pais (2003) reforça que os amigos do grupo constituem um espelho da sua própria identidade, onde se fixam semelhanças e diferenças relativamente a outros grupos.

Conclusões

Para quem faz surf e bodyboard, a experiência não se limita aos breves momentos em que se está dentro de água. Essa experiência é trazida cá para fora, influenciando muitos aspectos das rotinas e das preferências dos jovens que praticam.

Das principais razões que conduzem os jovens a optar por práticas desta natureza, salienta-se a procura do risco e da aventura. A incerteza do meio e o confronto com o desconhecido condicionam cada vez mais os jovens nas suas escolhas. As modalidades convencionais realizadas em espaços estáveis deixaram de satisfazer as verdadeira necessidades dos jovens, que cada vez mais sentem a necessidade de colocar a sua existência à prova no sentido de a valorizar.

f %

- É sempre o mesmo 15 37,5%

- Raramente varia 21 52,5%

- Varia muitas vezes de grupo 4 10%

TOTAL 40 100%

Identificação com o grupo de amigos com o qual pratica surf /

bodyboard

Sujeitos

f %

- Identifica-se completamente com o grupo de amigos 20 50%

- Identifica-se apenas em alguns aspectos 20 50%

- Não se identifica com o grupo de amigos 0 0%

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A prática deste tipo de actividades está associada a formas de socialização muito próprias e consequentemente ao surgimento de culturas específicas do grupo de jovens que praticam. Existe uma significativa valorização e identificação com o grupo de amigos, sem os quais a prática ficaria de certa forma descontextualizada.

Referências

Bourdieu, P. (1989). O poder simbólico. Lisboa: Difel.

Câmara, J. (1996). Surfistas, Freacks e … os Outros. Os Estilos de Vida. In : CAT das Taipas (ed.) (1997). Lisboa: Colectânea de Textos, pp. 160-163.

Carvalho, J. & Horta, H. (2003). Juventude e Diversidade Cultural (on line). Disponível em:

http://web.1asphost.com/.

Costa, V. (2000). Esportes de aventura e risco na montanha: Um mergulho no imaginário. São Paulo: Editora Manole Ltda.

Erikson, E. (1976). Identidade: juventude e crise (2ª ed). Rio de Janeiro: Zahar Editores. Hendry, L.; Shucksmith, J.; Love, J.; Glendinning, A. (1993). Young people’s leisure and

lifestyles. London: Routledge.

Le Breton, D. (1991). Passions du Risque. Paris: Métailié.

Loret, A. (1995) – Génération Glisse, Éditions Autrement, nº 155-156, Avril, Paris. Neto, C. (1995). Desportos Radicais ou Radicalização do Desporto? In: Horizonte, n. 69, pp.83-85.

Pais, J. (2003). Culturas Juvenis(2ª ed). Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda. Tolson, J.; Urberg, K. (1993). Similarity Between Adolescent Best Friends. In: Journal of

Referências

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