• Nenhum resultado encontrado

Comunidade e Aves no Clube Recreativo da SANEAGO em Iporá, Estado de Goiás

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Comunidade e Aves no Clube Recreativo da SANEAGO em Iporá, Estado de Goiás"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

Comunidade e Aves no Clube Recreativo

da SANEAGO em Iporá, Estado de Goiás

Aline Silva Teles PIBIC/CNPq & Daniel Blamires

Universidade Estadual de Goiás, UnU Iporá. Av. R-2, Q. 1, L. 1, Jardim Novo Horizonte II, 76200-000, Iporá, Goiás, Brasil

e-mails: aline_silvateles@hotmail.com, danbla1@yahoo.com.br Palavras-Chave: Aves urbanas, ecologia urbana, comunidades, Estado de Goiás

1 INTRODUÇÃO

Efeitos da urbanização sobre aves têm sido bastante pesquisados nas últimas décadas, e diversos fatores foram considerados para explicar a redução da avifauna em áreas urbanas (MARZLUFF ET AL. 2001). Assim, nos últimos anos vários estudos foram desenvolvidos em localidades urbanizadas brasileiras como jardins públicos, parques e lagos (MONTEIRO & BRANDÃO 1995, ALVES & PEREIRA 1998, MENDONÇA-LIMA & FONTANA 2000 FRANCHIN & MARÇAL-JÚNIOR 2004), os quais de um modo geral enfocam aspectos faunísticos, padrões de riqueza, abundância, diversidade e freqüência de ocorrência. Em geral, estes estudos também abordam os efeitos da ação antrópica sobre a avifauna estudada.

Por outro lado, atualmente poucos estudos foram desenvolvidos com aves no Cerrado brasileiro, principalmente fora das proximidades de Goiânia (SILVA 1995), e nos últimos anos poucos estudos ecológicos foram desenvolvidos com aves no Estado de Goiás (BLAMIRES ET AL. 2001, MOURA ET AL. 2005, CURCINO ET AL. 2007). Sabe-se ainda menos com relação a aspectos ecológicos da avifauna na microrregião do centro-oeste goiano, e recentemente, um trabalho com aves urbanas foi desenvolvido por SILVA & BLAMIRES (2007), abrangendo análises da avifauna do lago municipal em Iporá, onde inexistiam estudos similares até então. Assim, este trabalho objetiva ampliar o conhecimento da avifauna urbana do centro oeste goiano, a partir da análise da estrutura de uma comunidade de aves noutra localidade da periferia da malha urbana de Iporá.

(2)

2. MATERIAL E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO. Este trabalho foi desenvolvido no Clube Recreativo da SANEAGO, na periferia d do município de Iporá (16º25’23’’S, 51º06’30’’W, 610m de altitude), na microrregião centro-oeste de Goiás. A vegetação nos arredores do Clube é composta por pastagens exóticas de capim braquiária (família Graminae), com plantas nativas de Cerrado em crescimento secundário, além de manchas de Cerradão. A ocupação humana nos arredores do Clube é mais escassa, sendo suas proximidades ocupadas por pequenos sítios para atividade pecuária leiteira e lavouras temporárias, conectadas entre si e com o restante do município apenas por estradas vicinais.

A área do clube possui cerca de 4 e um perímetro aproximado de 1000 m. No clube constam um parque aquático com duas piscinas, dois campos gramados de futebol, uma quadra de futebol de salão, além de edificações específicas para festas e recepções, e uma pista de caminhada com aproximadamente 300 m de comprimento, posicionada em parte do perímetro. A vegetação do Clube é constituída por exóticas frutíferas e de sombreamento, tais como eucaliptais (Eucaliptus sp.) e plantações de sibipiruna Caesalpinia pluviosa DC., posicionadas sobre vegetações nativas herbáceo-arbustivas em crescimento secundário. Bananeiras (Musa sp.) e bambuzais (Bambuza sp.) também constituem a flora da área de estudo. O limite oeste do Clube é coberto por uma pequena extensão de Floresta Ciliar que margeia o córrego Tamanduá.

METODOLOGIA. Os dados foram amostrados semanalmente entre Abril de 2009 e Março de 2010, totalizando 48 turnos de amostragem. Cada visita foi iniciada às 6:30h, e concluída aproximadamente às 7:00h. O procedimento de registro das espécies baseou-se em BIBBY ET AL. (2000), com base numa transecção no perímetro da chácara, sendo os registros feitos tanto visualmente, com o uso de binóculos 20x50mm e 10x50mm, quanto pela identificação das vocalizações, tomando-se o cuidado para não registrar um mesmo indivíduo mais de uma vez. A identificação das espécies seguiu RIDGELY & TUDOR (1989, 1994), SICK (1997), e SIGRIST (2006).

(3)

A princípio, foram verificadas as famílias com maiores números de espécies ao longo de todos os turnos de amostragem, e se as espécies foram satisfatoriamente estimadas, com base numa curva de acumulação e no estimador

Chao (CHAO 1984), expresso pela seguinte relação:

+

Sendo S* a riqueza estimada de espécies, Sobs o número observado de

espécies, a o número de espécies registrado somente uma vez, e b o número de espécies registradas apenas duas vezes. O índice de grau de confiança (C), expresso em porcentagem, foi estimado por:

A abundância foi considerada como o total de registros de cada espécie ao longo dos turnos de amostragem. As espécies também foram agrupadas em categorias tróficas, segundo informações sobre hábitos alimentares obtidas em WILLIS (1979), MOTTA-JÚNIOR (1990), SICK (1997), e NASCIMENTO (2000). Foram consideradas as seguintes categorias: insetívoros (INS), onívoros (ONI), frugívoros (FRU), granívoros (GRA), nectarívoros (NEC), carnívoros (CAR) e detritívoros (DET), sendo as análises feitas em dois momentos distintos: inicialmente, considerando o número de espécies registradas em cada categoria trófica; a seguir, considerando o número de indivíduos contatados para cada nível trófico.

Finalmente, foi inspecionada a distribuição da avifauna no gradiente de estratificação vertical da vegetação ao nível de espécies, com base nas seguintes categorias (adaptado de MATTARAZO-NEUBERGER 1995):

Epigeu (E): sobre o solo. Registros em gramados, pavimentos, ou sobre o solo nu;

(4)

Herbáceo (H): consiste no registro de espécies posicionadas a até 0,5 m de altura;

Arbustivo (A): entre 0,51 a 2,0 m de altura, o que envolve, por exemplo, espécies posicionadas tanto na vegetação arbustiva quanto em árvores de médio porte;

Arbóreo (R): espécies pousadas no substrato superior, a mais de 2,0 m de altura.

Aéreo (Ar): envolve o registro de espécies em vôo baixo sobre a cobertura vegetal.

2 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Cento e duas espécies pertencentes a 35 famílias foram registradas no clube. A família Tyrannidae apresentou o maior número de espécies (14 ou 13,7% do total), seguida por Psittacidae (9 ou 8,8%) e Trochilidae (8 ou 7,8%). A curva acumulativa demonstra que a riqueza de espécies foi razoavelmente obtida (figura 1), sendo a estimativa S* de 115,8 espécies, e o grau de confiança do inventário C = 88%.

Figura 1. Curva acumulativa para a riqueza total de espécies registradas ao longo dos turnos de amostragem de dados no Clube Recreativo da SANEAGO em Iporá, no centro-oeste goiano, entre Abril de 2009 e Março de 2010.

(5)

ampla variedade de nichos e fauna entomológica nesta região zoogeográfica, respectivamente (RIDGELY & TUDOR 1994, SICK 1997). Ademais, os tyrannidae são os únicos na região neotropical que distribuem-se em todos os estratos florestais, o que provavelmente favorece sua alta representatividade em domínios como o Cerrado (TRAYLOR & FITZPATRICK 1982).

Com relação à abundância, computou-se um total de 4152 registros de aves no Clube. A inspeção das categorias tróficas demonstrou que, a princípio, predominaram as espécies onívoras, insetívoras e granívoras (tabela 1). De fato, um aumento da onívoria é esperado em áreas antropizadas, as quais podem desempenhar um efeito tampão contra flutuações no estoque de alimentos (WILLIS 1979, MOTTA-JÚNIOR 1990).

Tabela 1. Totais de espécies e indivíduos da avifauna do Clube Recreativo da SANEAGO (Iporá-GO), distintas segundo as categorias tróficas e respectivas proporções.

Categorias Espécies (%) Indivíduos (%)

Insetívoros 31 (31) 815 (19,7) Onívoros 34 (34) 1320 (32) Frugívoros 9 (9) 408 (10) Granívoros 11 (11) 1498 (36,3) Nectarívoros 7 (7) 27 (0,6) Carnívoros 4 (4) 46 (1) Detritívoros 2 (2) 14 (0,4) TOTAL 100 4128

Entretanto, considerar o número de indivíduos em cada nível trófico aparentemente fornece uma representação mais real do uso dos recursos alimentares (MOTTA-JÚNIOR 1990). Assim, houve um predomínio de onívoros e granívoros no Clube, sendo a acentuada granivoria decorrente do predomínio de gramíneas nas circunvizinhanças (ver área de estudo).

A distribuição das espécies nos gradientes de estratificação vertical da vegetação é evidenciada na figura 2, sendo a maioria das espécies concentradas nas categorias arbórea e arbustiva, respectivamente. Mais espécies nestas categorias pode ser uma característica da avifauna do Cerrado, que em geral possui

(6)

hábitos arborícolas, apesar de a maior parte do domínio nativo ser coberto por savanas (SICK 1966).

Figura 2. Distribuição das espécies do Clube Recreativo da SANEAGO (Iporá, Goiás, Brasil) nas categorias de estratificação vertical da vegetação. E: epigeu; H: herbáceo; A: arbustivo; R: arbóreo; Ar: aéreo.

3 CONCLUSÃO

Este estudo demonstrou a importância de uma localidade com vegetação variada e solo pouco pavimentado, próxima a paisagens urbanizadas, para manter a dinâmica de uma comunidade de aves. Futuramente, novos inventários nestes ambientes peculiares, sobretudo nas cidades do Brasil Central, poderão ser importantes para ampliar o conhecimento sobre a estrutura destas comunidades de aves, frente à crescente antropização no domínio do Cerrado.

(7)

REFERÊNCIAS

ALVES, M. A. S.; PEREIRA, E. F. Richness, abundance and seasonality of bird species in a lagoon of an urban área (Lagoa Rodrigo de Freitas) of Rio de Janeiro, Brazil. Ararajuba n. 6, p 110-116, 1998.

BIBBY, C. J; BURGUESS, N. D.; HILL, D. A.; MUSTOE, S. H. 2000. Bird Census

Techniques. 1ª Ed. London, Academic Press.

BLAMIRES, D., VALGAS, A. B. & BISPO, P. C. Estrutura da comunidade de aves da Fazenda Bonsucesso, município de Caldazinha, Goiás, Brasil. Tangara n. 1, p. 101-113, 2001.

CHAO, A.. Nonparametric estimation of the number of classes in a population.

Scandinavian Journal of Statistics n. 11, p. 265-270, 1984.

CURCINO, A.; SANT’ANA, C. E. R.; HEMING, N. M.. Comparação de três comunidades de aves na região de Niquelândia, GO. Revista Brasileira de Ornitologia n. 15, p. 574-584, 2007.

FRANCHIN, A. G.; MARÇAL-JÚNIOR, O. A riqueza da avifauna no Parque municipal do Sabiá, Zona Urbana de Uberlândia (MG). Biotemas n. 17, p. 179-202, 2004.

MARZLUFF, J. M.; BOWMAN, R.; DONNELLY, R. 2001. Worldwide urbanization and its effects on birds. In: MARZLUFF, J. M.; BOWMAN, R.; DONNELLY, R. (Org.). Avian

ecology and conservation in an urbanizing world. Boston: Kluwer Academic Publishers,

p. 1-17.

MATARAZZO-NEUBERGER, W. M. M. Comunidades de aves de cinco parques e praças da grande São Paulo, Estado de São Paulo. Ararajuba n. 3, p. 13-19, 1995.

MENDONÇA-LIMA, A.; FONTANA, C. S. Composição, frequência e aspectos biológicos da avifauna no Porto Alegre Country Clube, Rio Grande do Sul. Ararajuba n. 8, p. 1-8, 2000. MONTEIRO, M. P. & BRANDÃO, D. Estrutura da comunidade de aves do “Campus Samambaia” da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil. Ararajuba n. 3, p. 21-26, 1995

MOTTA-JÚNIOR, J. C. Estrutura trófica e composição das avifaunas de três hábitats terrestres na região central do estado de São Paulo. Ararajuba n. 1, p. 65-71, 1990.

MOURA, N. G.; LARANJEIRAS, T. O.; CARVALHO, A. R.; SANTANA, C. E. R. Composição e diversidade da avifauna em duas áreas de Cerrado dentro do campus da Universidade Estadual de Goiás – Anápolis. Revista Saúde e Ambiente n. 6, p. 34-39, 2005.

NASCIMENTO, J. L. X. 2000. Estudo comparativo da avifauna em duas Estações Ecológicas da caatinga: Aiuaba e Seridó. Melopsittacus n. 3, p. 12-35, 2000.

(8)

RIDGELY, R. S. & TUDOR, G. 1994. The birds of South America, volume 2: the

suboscine passerines. Austin: University of Texas Press, 1994.

SICK, H. 1966. As aves do Cerrado como fauna arborícola. Anais da Academia Brasileira

de Ciências n. 38, p. 355-363.

SICK, H. 1997. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1997. SIGRIST, T. Aves do Brasil: uma visão artística. São Paulo: Editora Avisbrasilis, 2006. SILVA, F. D. S. & BLAMIRES, D. Avifauna urbana no Lago Pôr do Sol, Iporá, Goiás, Brasil.

Lundiana n. 8, p. 17-26, 2007.

TRAYLOR, M. A.; FITZPATRICK, J. W. A survey of the tyrant flycatchers. The Living Bird n. 19, p. 7-50, 1982.

WILLIS, E. O. The composition of avian communities in remanescent woodlots in Southern Brazil. Papéis Avulsos de Zoologia n. 33, p. 1-25, 1979.

Referências

Documentos relacionados

1 CRAL Clube Recreativo Alturense 34,0 CAMPEONATO REGIONAL DE ESTRADA. 2 CRPS Clube Recreativo Praia Salema 84,0 3 CASJ Clube Areias

Assim, este estudo analisou algumas relações ecológicas de cigarras em área urbana do município de Iporá, estado de Goiás, Brasil, através do padrão de emergência e

Euzébio Fernandes de Carvalho, Universidade Estadual de Goiás (UEG), UnU Goiás, Brasil Haroldo Reimer, Universidade Estadual de Goiás (UEG), UnU Iporá, Brasil Josilene Silva

Neste contexto, em qualquer localidade do Cerrado observa-se uma avifauna constituída tanto por espécies de hábitats florestais quanto abertos, devido à intrínseca hete-

FIGURA 2: Curva de riqueza estimada por Jacknife1 e observada (Mao Tau), para a riqueza total de espécies registradas ao longo dos meses de amostragem de dados no Clube Recreativo

Autorizar o afastamento no país de DENISE MARIA DE CARVALHO LOPES, Matrícula 6347805, PROFESSOR DO MAGISTERIO SUPERIOR DO(A) DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS E

Nesse passo, embora o instrumento convocatório mencione sobre a visita técnica facultativa, é evidente que, no atual momento da pandemia decorrente do vírus do covid-19, o

3.2 – Somente o árbitro no local ou comunicado oficial da Diretoria do Clube poderão adiar a realização ou continuação da partida em caso de necessidade comprovada,