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O MOVIMENTO LGBT NO BRASIL: REFLEXÕES SOBRE TRAJETÓRIA E LUTAS ( ) RESUMO

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Academic year: 2021

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O MOVIMENTO LGBT NO BRASIL:

REFLEXÕES SOBRE TRAJETÓRIA E LUTAS (1970 – 2000)

Luciana Xavier Bastos Lacerda1 Cláudio Eduardo Félix dos Santos2

RESUMO

O movimento LGBT vem desenvolvendo uma trajetória histórica de lutas e resistência no mundo e no Brasil contra as diversas discriminações, opressões e repressões producentes da concepção hegemônica cis-heteropatriarcal. Os enfrentamentos conduzidos pelo movimento LGBT brasileiro, em diversos momentos da história, desde o punitivismo inquisitório ao Estado higienista perpassando pela patologização das pessoas com identidade de gênero e orientação sexual não-binários, até a luta contra a AIDS e a busca pela promoção e reconhecimento dos direitos civis e cidadania, demonstram a materialização despatriarcalizadora e descolonizadora da resistência, corroborando, com a ressignificação das normas e da estrutura do poder decodificada nas práticas sociais. O texto abordará, em linhas gerais, aspectos da trajetória das lutas LGBT no Brasil da década de 1970 a 2000, a partir da discussão teórica desenvolvida na pesquisa de dissertação de mestrado, ainda em andamento, intitulada: “A luta contra a homotransfobia em Vitória da Conquista: um estudo sobre a memória histórica da relação movimento LGBT e poder público municipal”.

PALAVRAS-CHAVE: Cis-heteropatriarcado. Movimento. Descolonizar. Luta. Resistência.

1 INTRODUÇÃO

A égide Cis-heteropatriarcal consiste em normalizar e naturalizar a identidade de gênero “cisgênero”, a orientação sexual “heterossexual” e o “patriarcado” como modelo ideal de família. Historicamente, a identificação cultural da sociedade brasileira, apoia-se nessas concepções e são muito valorizadas no sistema político, contudo a luta do Movimento LGBT propiciou o enfrentamento de muitas relações opressoras e repressoras causadas por ideias

1 Mestranda do Programa de Memória, Linguagem e Sociedade na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.

Licenciada em Biologia. Especialista em Gênero e Sexualidade na Educação, pela Universidade Federal da Bahia. E-mail: lubioagro@gmail.com

2 Prof. Dr. na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB); Campus de Vitória da Conquista/BA;

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compulsórias e heterossexistas, ensejando avanços na promoção da cidadania e reconhecimentos dos direitos civis LGBT, peculiarmente no período do Governo do Partido dos Trabalhadores no Brasil.

Contudo, a recuperação dos princípios neoliberais e neoconservadores, reivindicaram a supremacia do “macho” sobre outras identidades de gênero e orientações sexuais. O filósofo e escritor feminista transgênero, Paul B. Preciado (2018, p. 11), observa que o modelo “heteropatriarcal, colonial e neonacionalista, visa desfazer as conquistas de longos processos de emancipação operária, sexual e anticolonial dos últimos séculos”.

O Partido dos Trabalhadores (PT) consagradamente manteve ao longo da história diálogo com muitos segmentos sociais, atinentes não apenas a questão da classe, mas também a raça e gênero. Desta forma, o programa participativo do PT, esteve em sua trajetória política, comprometido com o enfrentamento de desigualdades históricas, destarte, na vigência do seu governo construiu com o Movimento LGBT políticas governamentais de enfrentamento das desigualdades e por paridade social, em favor de pautas que defendiam a discussão sobre aborto, educação sexual e liberdade de gênero, cotas, etc., contudo, a reatividade das “classes dominantes e seus herdeiros”, depositários do poder hegemônico alinhados as ideias das elites, motivaram embates e disputas pautadas no medo das narrativas contra-hegemonias ganharem força na recuperação de narrativas de igualdade, justiça e liberdade para as “classes dominadas e seus herdeiros”.

A confluência da luta de classes com o enfretamento das desigualdades de outros segmentos sociais, foi uma marca significativa na conjuntura do governo Lula (2003 – 2010) e Dilma (2011 a 2016), que se mostraram promissores para o Movimento LGBT. Ademais, o poder judiciário, também atuou promitente, por exemplo, em 2011 a união estável, negada as pessoas LGBT, foi finalmente compreendida como constitucional.

Essa pesquisa buscou recuperar através dos documentos produzidos na relação entre Governo Federal e Movimento LGBT as conquistas e também as disputas que colocaram a história em espaço manifestante da luta de classes, um campo de forças entre as ideias hegemônicas e as contra-hegemônicas. Recorremos uma revisão bibliográfica

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histórico-crítica, com o propósito de refletir sobre a trajetória e lutas do Movimento LGBT no Brasil, suas fases, avanços e embates no período de 1970 até o segundo milênio.

Porquanto a ideologia das classes dominantes, ao decorrer da trajetória histórica, ávidas por manterem seus benefícios propostos pela ordem Cis-heteropatriarcal, esforçaram-se em silenciar as reminiscências dos oprimidos, fazendo ressurgir o obscurantismo sob o vulto de propostas autoritários e antipluralistas, tendo como ápice emblemático dessa disputa o golpe do impeachment de 2016. Episódio que favoreceu a reconstituição de um novo autoritarismo e conservadorismo atuante na contramão do reconhecimento de direitos civis de minorias historicamente discriminadas como é o caso da comunidade LGBT no Brasil. 2 METODOLOGIA

Este estudo corresponde a uma parte da pesquisa de mestrado em andamento, na qual empregamos o levantamento bibliográfico de obras que recuperam as fases do Movimento LGBT no Brasil, a partir de 1970, intitulada: “A luta contra a homotransfobia em Vitória da Conquista: um estudo sobre a memória histórica da relação movimento LGBT e poder público municipal”. Buscamos compreender as relações entre o enfretamento das desigualdades de gênero e orientação sexual da nossa sociedade a partir de um viés marxista.

Por uma análise histórico-crítica, recorremos a Facchini (2005) para compreender as características de cada fase do movimento LGBT, bem como Green (2019), Trevisan (2018), Quinalha (2018) e Preciado (2018), com o propósito de relacionar o avanço da luta com as disputas das ideias patriarcais, coloniais e heterossexistas identificadas na cultura social da sociedade brasileira.

A obra “Problemas de Gênero” de Judith Butler (2018) proporcionou ao estudo a compreensão do gênero é uma coalização aberta, uma assembleia múltipla de convergências e divergências sem obrigações definitivas com a norma. Tal, ponderação dialoga com o entendimento de que a descolonização de mentes precisa estar alinhada com a desconstrução do patriarcado, pois apenas com igualdade, liberdade e reparação das discriminações e opressões que se alcançará a assunção das minorias historicamente estigmatizadas.

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Nosso estudo, buscou relacionar o caráter revolucionário da burguesia, no entendimento Marx e Engels (2008), com as fases do movimento LGBT, sua luta e trajetória, corrobora ainda com as ideias de Walter Benjamim sobre história e memória, considerando que os grupos discriminados e oprimidos por sua classe, raça ou gênero, não podem ser silenciados e é a reconstituição da história e memória de suas lutas e trajetória que lhes dará espaço para reivindicarem seus direitos, a tanto tempo negados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A resistência producente da luta do Movimento LGBT no Brasil tem como berço o estado de São Paulo e Rio de Janeiro, a homossexualidade antes, restrita aos guetos adveio reclamar seu espaço na sociedade brasileira a partir de 1970, sob as influências dos acontecimentos internacionais, como a “Revolta de Stonewall”, a Crise do Petróleo, a Revolução dos Hábitos Sexuais, e a Ditadura militar brasileira, são alguns dos fatores que contribuíram para o aparecimento de um movimento de contracultura e antiautoritário, como foi o Movimento Homossexual em sua primeira fase.

A denominação “Movimento Homossexual” correspondia com o estereótipo de “meninos afeminados” e “meninas masculinizadas”, contudo esta alcunha apresentou-se incongruente, devido a gradativa incorporação de todos aqueles que não correspondiam com o binarismo de gênero, integrando ao movimento diversas orientações e identidades sexuais. Suas atividades foram marcadas pelo espírito libertário, comunitarista, alternativo e antiautoritário, articulados como o movimento feminista, operário e negro, estabeleceram conexões com partidos políticos da esquerda, sua proposta basilar estava relacionada com os movimentos da época em reagir contra o contexto da ditadura e transformar a sociedade por meio da reflexão crítica em torno da sujeição das pessoas a normalização co mpulsória, aspirando espaço para a liberdade e afirmação da Diversidade Sexual.

Além do pioneirismo do Grupo Somos (em São Paulo) destaca-se ainda, a potência do Jornal “Lampião de Esquina” (sede no Rio de Janeiro). É no Jornal alternativo “Lampião da Esquina”, que as atribuições da contracultura se revelam e assumem um cenário de

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contestação e abertura para o movimento homossexual no Brasil, assinalando com intensa performance o delineamento antiautoritário, na qual “a história é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo homogêneo e vazio, mas o preenchido de tempo de agora” (BENJAMIM, 2012, p. 249), e assim foi o Lampião de esquina, transgressor da norma, incitador da reflexão, denunciador dos abusos, violências, opressões, repressões e discriminações, fazendo da história um elemento de construção encorpado pelo presente.

Muita dor e sofrimento acompanharam as pessoas LGBT no curso da história, sujeitados a patologização das suas orientações sexuais, foram por muito tempo tratadas como “pederastas”, “desordenadas sexuais” e submetidas a tratamentos psiquiátricos em Manicômios, como, por exemplo, o caso do índio Febrônio internado por cinquenta anos no Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro devido ao “desvio moral” da pederastia, além de serem estudados pelo Instituto de Criminologia de São Paulo (1930), os homossexuais eram apontados como portadores de “patologia psíquica ou somática”.

Segundo Trevisan (2018), o Brasil colonial possuía um caráter cristocentrista, com punições severas contra os “desviados”. A religião e a classe social na trajetória histórica, foram segmentos que se esforçaram em marcar uma “moral” de combate aos homossexuais através da repressão institucionalizada por mecanismos legais. Com o avanço do tempo o sistema de controle se sofistica e moderniza-se, direcionando o Brasil rumo ao padrão higiênico burguês do Estado.

A ideologia higienista sofisticou os métodos inquisitórios, o controle não mais partia exclusivamente da religião, mas de uma possível “ciência”, supondo uma certa imparcialidade, essa “sofisticação” demonstrada no padrão higiênico burguês, direciona a reflexão realizada por Marx e Engels, no Manifesto Comunista, a burguesia para manter seus benefícios oriundos da exploração do trabalho, procura revolucionar-se e ao assumir uma postura revolucionária no âmbito das relações de produção, consequentemente influencia e interfere nas relações sociais:

Se o padrão higiênico burguês colaborou para extinguir os bestiais castigos do período colonial, também é verdade que cobrou seu preço, ajudando a criar um cidadão autorreprimido, intolerante e bem-comportado, inteiramente disponível ao Estado e à pátria. A nova ordem que a normalização higiênica instaurou utilizava o cientificismo para exercer um

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controle terapêutico que substituísse o antigo controle religioso. Ao se distanciar do universo da lei, a ideologia higienista colocava seus referenciais no terreno da norma científica. Agora os cidadãos deviam menos obediência a Deus do que ao médico. Em lugar do dogma cristão, passou a imperar o padrão de normalidade. Por essa brecha, é que a psiquiatria pôde entrar, para aprimorar o controle da ciência sobre pessoas com práticas sexuais consideradas desviantes (TREVISAN, 2018, p. 171).

Na segunda fase do movimento LGBT, em 1980, Trevisan (2018), relata em sua obra “Devassos no Paraíso”, os episódios de tentativas de “limpeza” e a reconstituição dessa resistência é muito significativa, pois uniu forças com outros segmentos sociais. O momento emblemático foi o 13 de junho de 1980, militantes de várias organizações se reuniram na escadaria do Teatro Municipal de São Paulo protestando contra as “operações de limpeza” comandadas pelo delegado José Wilson Richetti, essa operação consistia em prender e espancar travestis, homossexuais e prostitutas, tais ações eram apoiadas pelo general Milton Tavares e o governador Paulo Maluf. A mobilização contou não apenas com grupos de homossexuais, mas também com grupos negros e feministas, denunciadores dos atos violentos, através de entrevistas coletivas, panfletagem e representação judicial. A manifestação provocou a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa a convocar Richetti e Otávio Gonzaga Júnior, então secretário de segurança pública para prestar explicações.

Este ato público exigia das autoridades a deposição de Richetti, a garantia do direito de ir e vir e o fim da violência policial materializada na discriminação sexual e racial. De acordo com o Memorial da Democracia, as palavras de ordem entoadas no ato público desta época eram: “Amor, feijão, abaixo a repressão!”, “Lutar, vencer, mais amor e mais prazer!”, “A B X, libertem os travestis” e ainda “Abaixo o subemprego, mais trabalho para os negros!”, apesar dessas frases terem sido ecoadas há quarenta anos, neste protesto simbólico, ainda se configuram como reivindicações da agenda LGBT, feminista, negro e da classe trabalhadora, apresentando ainda pertinentes para a contemporaneidade em razão dessas pautas estarem em superação.

Contudo, na segunda fase, o Movimento LGBT, sofre um arrefecimento da militância, “perde-se o fôlego”, há um considerável declínio dos grupos e coletivos, contextualizado no retorno do regime democrático e no aparecimento da AIDS, tratada na época como “peste

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gay” e alocando a comunidade LGBT, como “grupos de risco” da doença, fato este que trouxe uma carga extra de estigmatização a essas pessoas. Seja dito que compreender as pessoas LGBT como “grupo de risco” no processo de infecção pelo vírus HIV é inapropriado, a julgar pela existência de “comportamentos de risco” e não grupos, qualquer pessoa se torna vulnerável a contaminação da AIDS, quando não adquire comportamentos preventivos da doença.

Todavia, os resquícios dessa estigmatização perduraram, vetando homossexuais a doarem sangue por muito tempo. Mas, o distanciamento e isolamento social, necessários a prevenção da Covid 19, responsável pela grave crise sanitária no ano de 2020, causou uma queda significativa de estoque de sangue nos hemocentros. Esse evento, provocou o levante de uma discussão sobre a proibição das pessoas LGBT de doarem sangue, e em uma decisão histórica, em 8 de maio de 2020, o STF (Supremo Tribunal Federal) derruba a restrição de doação de sangue por homossexuais, a maioria dos ministros votou por tornar inconstitucional a proibição e considerou as regras da Anvisa e do Ministério da Saúde discriminatórias.

Um dos problemas mais graves em países controlados com rigidez por suas elites é que, muitas vezes, a História passa sobre eles como a água sobre um leito de plástico. Esse é pelo menos a impressão que se tem do Brasil, dentro de cujas fronteiras a História se contorce em caminhos que parecem acabar no mesmo lugar, até esgotar explosivamente um ciclo e, só então, dar um salto compulsório para o próximo estágio a contragosto de suas elites. Em parte, pelo fato de viver na periferia do Ocidente, em parte devido à reduzida população local que consome cultura, o Brasil parece ter muita dificuldade para digerir temas do seu tempo, preferindo se modernizar apenas quando se encontra diante de fatos consumados. Mesmo porque, acostumada a viver de brilhos importados, sua elite cultural macaqueia as últimas modas vindas de Paris ou Nova York, quase sempre sem disponibilidade para reais mudanças. Já se mencionou como ela de modernizou para não mudar. De modo que, no Brasil, modernidade se reduz facilmente a última moda. (TREVISAN, 2018, p. 313)

O poder público e movimento LGBT se uniram contra um inimigo em comum: a AIDS, a construção desta ponte foi decisiva para o processo de institucionalização da agenda LGBT nos anos 2000. Foi fundado o Grupo Gay da Bahia (1980), por Luiz Mott, o mais antigo grupo em funcionamento interrupto e primeira Organização não Governamental Homossexual a ser registrada (QUINALHA, 2018. p. 211), liderou a campanha exitosa pela despatologização do “homossexualismo” (1985), atuou na prevenção da AIDS, introduziu o

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termo “homofobia” e a referência feminina para travestis e transexuais, denunciou crimes trans-homofóbicos e mantém um considerável banco de dados sobre assassinatos de pessoas LGBT, além das publicações de livros e produção de artigos, cartazes, folders estabelecendo um elo informativo e formativo entre a comunidade LGBT e a sociedade.

O grupo Triângulo Rosa (1985) no Rio de Janeiro, assumiu uma luta simbólica, por confrontar valores religiosos, concepções médicas, normas jurídicas, de construção de identidade, e ainda, pela revisão das concepções sobre feminilidade e masculinidade, separando a anatomia das referências simbólicas que lhes são atribuídas. Defendeu a inclusão do termo “orientação sexual” na Constituinte de 1987, fugindo assim do estigma proposto pela expressão “opção sexual”.

É destacável a atuação de militância e produção intelectual dos ativistas: João Antônio de Sousa Mascarenhas, João Silvério Trevizan, James Green, Luiz Mott e Renan Quinalha, na condição de fundadores, participantes dos grupos e organizações e/ou jornais, oportunizaram a discussão sobre a opressão e repressão causada pelo cis-hetropratiarcardo no espaço acadêmico, contribuindo para a (re) construção da percepção de que não se pode “descolonizar sem despatriarcalizar”. Este processo emerge o anseio pelo reconhecimento dos direitos civis das pessoas LGBT constituindo o liame dessa fase com a próxima.

Em 1990, na terceira fase do movimento LGBT retoma-se a militância. A presença institucional gradativamente se intensifica, contextualizada no anseio pela promoção e reconhecimento dos direitos civis, neste momento o capitalismo se apropria das demandas LGBT, direcionando mercado e publicidade específicos para essa comunidade. Organizações nacionais e de base são criadas, ocorre a primeira Parada do Orgulho LGBT em 28 de junho de 1997 em São Paulo com dois mil participantes. O mote dessa primeira edição da Parada, “Somos muitos, estamos em muitas profissões”, nitidamente preocupado com a visibilidade (BUTTERMAN, 2012, p. 34). É neste momento em que o movimento começa a ramificar-se para o interior do país, além de alcançar visibilidade na mídia.

É evidente que o trabalho de Regina Fachini: “Sopa de letrinhas? Movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 90”, é a pedra basilar do estudo das fases e respectivas características, pois sistematiza didaticamente as fases do movimento

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LGBT no Brasil, compondo uma referência importante para a reconstituição histórica da trajetória de resistência contra a opressão do modelo proposto pelo Cis-heteropatriarcado.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muitos foram (e são) os dilemas vividos pelas pessoas LGBT no Brasil no transcorrer da história: desde do punitivismo inquisitório ao Estado higienista, perpassando pelas “operações de limpeza” e patologização, em 1970 a 1980, a abertura política, a luta contra a AIDS, no período de 1980 a 1990, e finalmente a afirmação do diálogo com o poder público e as instituições até a chegada do segundo milênio.

São cinquenta anos de resistência, de luta, aspirando romper com a opressão, repressão, violência e discriminação. Uma luta pela igualdade e liberdade de gênero, em busca do reconhecimento do direito de “ser e existir”, enfrentando a normalização do passado e seus resquícios coloniais no presente, reconhecendo inclusive a potência política das ações do movimento LGBT para o embate e resistência de uma fase que reacende o machismo, o racismo, o sexismo, o obscurantismo apoiado pela intervenção de “velhos fantasmas” com “novas indumentárias” : neoliberalismo, neofascismo e a imposição normativa do cis-heteropatriarcado.

Em suma, este estudo buscou apresentar de forma preliminar parte da pesquisa de mestrado em andamento, com o propósito de colocar em discussão a luta e a trajetória do movimento LGBT no Brasil, relacionando-o com os fatores políticos e econômicos, em uma perspectiva alinhada com a luta de classes.

REFERÊNCIAS

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FACCHINI, R. Sopa de Letrinhas? movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 90. Rio de Janeiro. Editora Garamond, 2005.

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LACERDA, M. B. O novo conservadorismo brasileiro. Editora Zouk, 2019.

LIMA, A. M. Política Sexual: Os direitos humanos LGBT entre o universal e o particular. Editora Relicário, 2017.

LGBT E PROSTITUTAS DENUNCIAM VIOLÊNCIA. Memorial da Democracia. 2017. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-05-08/em-decisao-historica-stf-derruba-restricao-de-doacao-de-sangue-por-homossexuais.html. Acesso: 28/05/20.

MARX, K; ENGLS, F. Manifesto Do Partido Comunista. São Paulo. Editora Expressão Popular, 2008

PRECIADO, P.B. La isqueierda bajo la piel. Um prólogo para Suely Ronilk. In: ROLNIK, S. Esferas

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TREVISAN, J. S. Devassos no Paraíso: A homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade. 4 ed. Rio de Janeiro. Editora Objetiva, 2018

TREVISAN, J. S, João Silvério. A guerra santa do Dr. Richetti. In: Lampião n. 26. Rio de Janeiro, julho/1980.

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