Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV)
Laboratório de Educação Profissional em Informações e Registros em Saúde
CURSO DE ATUALIZAÇÃO PROFISSIONAL NO USO DE
CLASSIFICAÇÕES UTILIZADAS NOS SISTEMAS DE
INFORMAÇÃO DO SUS
Plano de Curso
Coordenação do Curso de Atualização Profissional no Uso de Classificações Utilizadas nos Sistemas de Informação do SUS
Flavio Astolpho V. S. Rezende Ana Cristina Reis
Coordenação do Laboratório de Educação Profissional em Informações e Registros em Saúde – LIRES/EPSJV
Sergio Munck
2
1. Introdução
Ao se adotar o conceito ampliado de saúde como resultado das condições de vida, Moraes (1994) afirma que as informações em saúde acabam por se referir, por analogia, às informações que permitem conhecer e monitorar essas condições, não se limitando a identificar a presença ou a ausência de doenças.
Dado o caráter estratégico, explicitado nas normas legais, para o cumprimento do dever constitucional do Estado brasileiro para com a saúde, aliado à grande quantidade e complexidade de dados coletados, as ações de informação em saúde devem ser desenvolvidas no âmbito da gestão pública, visando o fortalecimento de uma cultura institucional na área de informação em saúde (ABRASCO, 2006).
Ao longo dos últimos anos, a incorporação e, posteriormente, a capilarização das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação em Saúde) nos diversos órgãos das diferentes esferas administrativas e, consequentemente, a maior disponibilidade de dados vem gerando uma demanda por mais profissionais da área de informação, com um perfil distinto. Se antes esse profissional estava localizado num setor específico dos estabelecimentos de saúde, os Serviços de Arquivo Médico e Estatística (SAME), atualmente, por conta dessas mesmas tecnologias eles podem ser encontrados em vários outros setores nos níveis central, regional ou local. Nas palavras de Moraes (2002), “a informação em saúde vem paulatinamente mudando de ‘imagem’”. Para essa autora, a expressão informação em saúde estava associada aos grandes arquivos vistos “como um espaço monótono, repetitivo, empoeirados” e os prontuários “estavam associados a um emaranhado de papéis riscados”. Hoje, segundo a mesma autora, “a informação é processada em ambientes cada vez mais claros, cleans, refrigerados” configurando, assim, a nova imagem da Informação em Saúde nas unidades assistenciais, embora Moraes chame atenção para o fato de que a realidade, na maioria das unidades, está longe do descrito acima.
Os sistemas tradicionais para registros de procedimentos ambulatoriais, internações hospitalares, de óbitos e de nascidos vivos, sistemas de vigilância de doenças infecciosas de notificação obrigatória, sistemas de atenção básica, entre outros disponíveis, necessitam utilizar as classificações e tabelas que permitam uma uniformidade nas informações obtidas em todos os níveis de atendimento, esferas de governo. Através desses padrões os sistemas informatizados podem trabalhar comparando os dados e produzindo analises de morbidade, de numero de procedimentos realizados, motivos de consulta e então produzir um planejamento.
3
Pensar na atualização técnica dos profissionais que atuam nesses sistemas de informação em saúde, nesse momento de mudança em que se pretende que os dados sejam universalizados através do eSUS, é ação extremamente oportuna e relevante para o Sistema de Saúde.
A classificação de doenças vem do século 18 quando foram criadas em Londres tabuas de mortalidade, que depois foram aprimoradas com listas de doenças, sendo no século 19 criada a primeira Classificação Internacional ainda com o propósito de classificar motivos de mortes. Atualmente a denominação passou a ser Classificação Estatística Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde (CID). Com essa ampliação, além de ser utilizada para classificar a causa básica de óbito da população e ser utilizada para o Sistema de Informação de Mortalidade, possibilitou seu uso para classificar as doenças e agravos de saúde que são atendidos nas unidades de saúde, sejam ambulatoriais ou hospitalares, tornando possível um planejamento na atenção à saúde.
Apesar da CID ser adequada para a maioria de suas aplicações na atenção à saúde, nem sempre permite um detalhamento maior dos motivos que levaram a população a procurar o atendimento nas unidades de saúde, principalmente as ligadas à atenção primária. Por esse motivo o Comitê de Classificação da World Organization of Family Doctors (WONCA), criou a Classificação Internacional de Problemas de Saúde em Atenção Primária (CIPS), em 1975, passando depois a ser denominada Classificação Internacional de Atenção Primária (CIAP). Na CIAP utilizam-se os motivos de consulta, o que permite que esta classificação seja orientada para o paciente, dentro da perspectiva dele e não do médico. A versão mais atual, CIAP2, estabelece uma ligação com a CID 10 e adiciona critérios de exclusão e inclusão de códigos.
Além da classificação de doenças, agravos e motivos de consulta, os Sistemas de Informação Ambulatoriais e Hospitalares do SUS utilizam a codificação de procedimentos realizados durante a ida do paciente a unidade de saúde. Até 2008 existiam duas tabelas separadas, uma para o atendimento ambulatorial e outra para o atendimento hospitalar. A partir de 2008, foi criada então uma tabela unificada, a ser utilizada em ambos os casos. Concomitante a essa nova estrutura, o DATASUS criou um Sistema de Gerenciamento de Tabelas de Procedimento (SIGTAP) que facilitou a pesquisa do código para: os procedimentos realizados, se existe a necessidade de algum serviço habilitado para executá-lo, qual o profissional que pode realizar o procedimento. Na parte de uso de Orteses e Próteses a tabela informa se existe compatibilidade entre o material utilizado e o procedimento executado.
4
2. Justificativa
Considerando as informações de saúde como fonte de conhecimento sobre “a situação de saúde de uma população”, é imprescindível que as informações estejam organizadas. Para tornar isso possível os profissionais que atuam nessa área precisam ser qualificados de modo que as informações produzidas sejam de qualidade e úteis para a gestão, para os usuários do SUS e os profissionais de saúde (LIRES, 2008).
Historicamente, a área de Informação em Saúde dos serviços de saúde foi composta de trabalhadores de nível médio sem qualificação específica para atuar no setor (LIRES, 2008). O déficit de profissionais qualificados para desempenharem as atividades inerentes à referida área é significativa no País, o que acarreta “nós críticos” quanto à qualidade e ao uso dos dados e das informações para a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS).
Assim sendo, a qualificação para os profissionais de nível médio da área de Informações em Saúde, contida nesta proposta, se fundamenta em uma qualificação que considera as práticas, conhecimentos, saberes e habilidades desses profissionais; uma qualificação que possibilite a esses trabalhadores a compreensão, reflexão do seu processo de trabalho e seus contextos de ação como instâncias potencialmente transformadoras da realidade, onde essa transformação da realidade cotidiana será tanto mais viáveis quanto mais comprometidos e conscientes estiverem os profissionais de seus papéis como atores sociais que atuam na área de Informação em Saúde (Deluiz, 2011; Pereira & Lima, 2006).
3. Objetivos
Objetivo Geral
Atualizar os profissionais de nível médio no uso da Classificação Internacional de Doenças (CID), na Classificação Internacional em Atenção Primária (CIAP2) e Tabela Unificada de Procedimentos do SUS, para os Sistemas de Informação em Saúde (SIS), considerando as suas práticas, saberes e habilidades.
Objetivos Específicos
Compreender os conceitos de Informação, Saúde, Informação em Saúde, bem como a relação entre informação e informática em saúde.
5
Contextualizar os Sistemas Nacionais de Informações em Saúde com os princípios e as diretrizes do SUS.
Fornecer elementos teóricos capazes de permitir ao profissional o uso correto da CID, da CIAP2 e da Tabela de Procedimentos.
Fornecer instrumentos e ferramentas que possibilitem ao profissional produzir informações fidedignas para o Sistema Informação do SUS.
Refletir e compreender o seu processo de trabalho a fim de contribuir na construção e implementação dos Sistemas e das Informações em Saúde.
4. Público Alvo
O público alvo do Curso de Atualização é composto por profissionais de saúde que estejam desenvolvendo atividades relacionadas às informações e registros em saúde, ou que tenham interesse em atuar na respectiva área. Cada turma poderá ter até 20 (vinte) vagas.
Os critérios para seleção dos candidatos inscritos levarão em conta: A carta de apresentação da Chefia imediata.
Exposição de motivos do candidato. Currículo.
Caso se faça necessário, poderão ser realizadas entrevistas para realizar desempate.
No ato da matrícula os alunos deverão preencher a Ficha de inscrição da Secretaria Escolar da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/FIOCRUZ; e entregar cópia dos seguintes documentos: Carteira de Identidade, Cadastro de Pessoa Física (CPF), comprovante de residência e comprovante de conclusão do ensino médio.
Só serão aceitas as matrículas dos alunos que apresentarem todas as exigências acima mencionadas.
5. Perfil Profissional de Conclusão
Ao final do Curso, espera-se que o profissional qualificado tenha as seguintes capacidades: Entender o papel estratégico das classificações, enquanto geradora de informação para o processo de gestão do cuidado e do Sistema de Saúde;
6
Compreender a importância da classificação correta na produção de informações para o planejamento em Saúde;
Atuar de forma integrada, refletindo de forma crítica sobre as suas práticas e seu processo de trabalho;
Perceber a importância do seu trabalho na construção das Informações em Saúde;
6. Organização Curricular
6.1 Carga horária, Prazo, Regime e Duração
O curso será realizado no período de 21 de julho a 06 de outubro de 2016, com aulas uma vez por semana, sempre as quinta-feira, em tempo integral contendo uma carga horária de 96 horas-aulas referente às horas-aulas teórico-práticas. O processo de seleção, divulgação dos resultados, matrícula será amplamente anunciado no portal da EPSJV.
6.2 Matrizes dos Componentes Curriculares
O programa do curso é constituído por quatro Módulos, que serão desenvolvidos em aulas teórico-práticas:
Matriz dos Componentes Curriculares
Módulos / Componentes Curriculares Carga Horária (h) Módulo I: Introdução a Informação em Saúde
1. Conceitos básicos e processo de produção das Informações. 2. Principais Sistemas Nacionais de Informações em Saúde. 3. Introdução às diversas classificações em Saúde.
8
Módulo II: Classificação Internacional de Doenças (CID)
1. Histórico da CID. 2. Estrutura da CID. 3. Temas a serem classificados: Causa Externa, Neoplasia, Materno Infantil, Infectologia e Causas Diversas.
40
Módulo III: Classificação Internacional em Atenção Primária (CIAP2) 1. Contextualização da CIAP2. 2. Estrutura Matricial da Classificação 3. Lista de motivos de atendimento mais comuns na Atenção Básica.
24
Módulo IV: Tabela Unificada de Procedimentos
1. Apresentação da Tabela Unificada. 2. Organização Estrutural da tabela de Procedimento. 3. Sistema de Gerenciamento de Tabela de Procedimento (SIGTAP). 4. Principais Compatibilidades.
24
7
7. Módulos da Matriz dos Componentes Curriculares
Módulo I – Introdução a Informação em Saúde
Objetivos
Conhecer as diretrizes e princípios do SUS.
Compreender e distinguir os conceitos básicos em Informações em Saúde.
Compreender a importância das Informações em Saúde na gestão e na avaliação da situação de saúde
Conceituar e caracterizar a abrangência e as aplicações dos Sistemas Nacionais de Informações em Saúde.
Contextualizar os Sistemas Nacionais de Informações com os princípios e as diretrizes do SUS.
MÓDULO I DISCIPLINA COMPONENTE CURRICULAR
Introdução a Informação em Saúde Conceitos básicos e processo de produção das Informações (4 h)
Dado, informação, informação em saúde, sistema de informação.
Principais fontes de dados e de informações em saúde.
Produção e utilização das informações para a gestão do cuidado e a gestão do sistema de saúde
Principais Sistemas Nacionais de Informações em Saúde
(2h)
Uso, instrumentos de registros, limitações e potencialidades, estratégias para integração dos Sistemas de Informação em Saúde, qualidade, segurança e confidencialidade dos dados
Introdução às diversas Classificações em Saúde
(2h)
Classificação Internacional de Doenças (CID), Classificação Internacional em Atenção Primária (CIAP2), Classificação Internacional de Funcionalidade, incapacidade e saúde (CIF), Classificação Internacional das Doenças para Oncologia (CID-O).
8
Módulo II – Classificação Internacional de Doenças (CID)
Objetivos
Conhecer evolução histórica da classificação internacional de doença. Compreender a estrutura da classificação e seus volumes.
Conhecer sistemas informatizados auxiliares para a classificação.
Utilizar os volumes para classificar as doenças ligadas aos principais temas: Causas Externas, Materno Infantil, Neoplasias, Infectologia e Causas Diversas.
MÓDULO II DISCIPLINA COMPONENTE CURRICULAR
Classificação Internacional de
Doenças
Histórico da CID e suas versões (4h)
A construção histórica da Classificação Internacional de Doenças.
A importância da CID nos Sistemas de Informação em Saúde do SUS
Estrutura da CID (4h)
Os volumes da CID, suas características e modo de utilização.
Sistemas Informatizados auxiliares da classificação: Pesqcid, e CID eletrônico
Temas para classificação (32h) Causas diversas Materno Infantil Neoplasias Causa Externa Infectologia
Módulo III: Classificação Internacional em Atenção Primária (CIAP2)
Objetivos
Contextualizar a evolução histórica da classificação internacional em Atenção Primária. Compreender a estrutura matricial da classificação e suas características.
Conhecer sistemas informatizados auxiliares para a classificação.
9
MÓDULO III DISCIPLINA COMPONENTE CURRICULAR
Classificação Internacional em Atenção Primária (CIAP2) Contextualização da CIAP2 (4h)
A construção histórica da Classificação Internacional de Atenção Primária. A importância da CIAP2 nos Sistemas de Informação em Saúde do SUS, principalmente no eSUS AB
Estrutura Matricial da Classificação (8h)
Capítulos e Componentes da CIAP2 Lista de Motivos de
atendimento mais comuns na Atenção Básica (12h)
Utilização dos capítulos e componentes nos motivos mais comuns.
Módulo IV – Tabela Unificada de Procedimentos
Objetivos
Conhecer a origem da Tabela Unificada de Procedimentos. Compreender a estrutura da tabela unificada.
Conhecer o Sistema de Gerenciamento de Tabela de Procedimentos (SIGTAP).
Reconhecer as compatibilidades entre o procedimento e: diagnóstico, profissional de saúde, cadastro nacional de estabelecimento e materiais médicos (orteses e próteses).
MÓDULO IV DISCIPLINA COMPONENTE CURRICULAR
Tabela Unificada de Procedimento Tabela Unificada de Procedimento (4h) Evolução histórica
Legislação que criou a tabela unificada. Importância para os SIS
Organização Estrutural da Tabela de Procedimento (4h)
Grupo, subgrupo, forma organizadora e procedimentos
Sistema de Gerenciamento de Tabela de Procedimento
(SIGTAP) (12h)
Apresentação do Sistema e suas funcionalidades.
Principais Compatibilidades (4h)
Procedimento x CID Procedimento X CBO Procedimento X CNES
Procedimento X Materiais Médicos (Orteses e Próteses)
10
8. Metodologia
A metodologia utilizada terá como referência as singularidades das práticas dos trabalhadores no campo das Informações e Registros em Saúde, bem como as especificidades do trabalho desenvolvido nas diferentes unidades do Sistema Único de Saúde. Considerando que os profissionais possuem experiências distintas de trabalho no setor saúde e a inserção dos mesmos nesse processo de trabalho, a metodologia proposta procura resgatar essas experiências, estabelecendo relações fundamentais entre teoria/prática, ensino/trabalho, de modo a permitir aos profissionais uma reflexão sobre sua atuação. O Curso será desenvolvido em aulas teórico-práticas, em sala de aula e no laboratório de informática.
9. Avaliação dos alunos e Certificação
A avaliação dos alunos será feita ao final de cada módulo, através de avaliação escrita. O certificado de atualização profissional será conferido àqueles alunos que alcançarem um mínimo de 75% de frequência e nota igual ou maior do que 6,0 nas avaliações escritas de cada módulo. Os casos excepcionais serão analisados pelos docentes com a Coordenação. O certificado será expedido pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio / FIOCRUZ.
10. Avaliação do Curso
a) Por parte dos alunos: a avaliação do Curso será realizada através de discussões deles com a Coordenação, e também através de um questionário a ser empregado.
b) Por parte da Coordenação e dos profissionais do LIRES em reunião ao final.
11. Local de realização
O Curso será realizado na sede da EPSJV/FIOCRUZ.