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A Afro América

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Academic year: 2021

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A AFRO-AMÉRICA: A ESCRAVIDÃO NO NOVO MUNDO

UMA HISTÓRIA DO SILÊNCIO

Os escravos permaneceram mudos, exceto raríssimas exceções; fato que se explica pela própria lógica do sistema escravista: a maioria absoluta dos escravos, e muitos dos libertos, não sabiam ler e escrever. A massa dos documentos disponíveis para a história da escravidão, provém da administração metropolitana ou local, dos missionários, dos colonos e administradores, ou de viajantes e outros observadores ocasionais, estranhos à sociedade escravista.

Com isso, há poucas décadas, os historiadores da escravidão, assumiam o ponto de vista dos administradores e dos senhores de escravos. Nos últimos anos, R. Hofstadter fazia o apelo: toda história da escravidão deve ser escrita, em grande parte, do ponto de vista do escravo. A mudança de perspectiva permitiu uma visão muito mais rica, em obras de autores como E. Genovese, G. Rawick, J. Fouchard, J. Casimir, K. de Queirós Mattoso. É verdade que esta orientação também corre o risco de distorção e exagero.

A AFRO-AMÉRICA: SUA FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DO SÉCULO XVI AO XIX

Que razões poderiam explicar o surgimento da escravidão de negros africanos na América? Uma primeira possibilidade, a continuidade histórica da escravidão no continente americano em relação à que existiu, nos últimos séculos da Idade Média, em certas regiões mediterrânicas e, em seguida, nas ilhas africanas do Atlântico. Um dos defensores desta teoria é C. Verlinden.

Outros autores, como Etienne Gisler, mostram um aspecto diferente de continuidade com a Idade Média. Foi a teoria acerca da escravidão codificada pelos teólogos dos séculos XII e XIII que serviu de base à sua primeira justificação nas Américas, imaginavam que o escravo tinha “as marcas da vocação servil”. Todavia, é relevante apresentar a origem da escravidão, como um processo e trabalho compulsório, uma relação de fatores econômicos de produção (os aborígenes e os africanos constituíam estoques inesgotáveis de força de trabalho para as exigências de toda colônia e com pouco custo).

H. J. Nieboer distinguia, em 1900, duas situações, a de “recursos abertos” e a de “recursos fechados”. Assim, a escravidão apareceriam somente na situação de “recursos

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abertos”. A compreensão da racionalidade característica da escravidão americana exige também levar-se em conta o sistema econômico vigente na Europa quando de seu aparecimento.

A trajetória da escravidão africana na América teve três grandes fases: 1) dos primórdios da colonização até meados do século XVII; 2) de meados do século XVII até 1791; 3) de 1791 a 1888. Convém reservar a denominação de Afro-América só para as partes de tal continente onde ela chegou a ser a relação de produção predominante; onde, portanto, a presença africana teve maior importância.

A ECONOMIA ESCRAVISTA

Os escravos negros viveram nas Américas uma diversa gama de situações econômico-sociais, constatável ao serem comparadas diversas regiões escravistas. Em certas colônias menores, maciçamente agrícolas, pode-se encontrar um baixo grau de diversificação de atividades. Já numa colônia maior e mais complexa se pode distinguir cinco grandes situações econômico-sociais: a agroindústria de exportação; as minas; o sertão do gado; os escravos urbanos e; os escravos domésticos.

A imensa maioria dos escravos negros do Novo Mundo viveu, sem dúvida, atada às mais duras formas de labor, nas plantations, nas fazendas, nas minas. A expressão “plantation escravista” evoca uma propriedade rural relativamente extensa, cujas características principais seriam: 1) dedicar-se prioritariamente e em escala importante a atividades agrícolas ou agroindustriais de exportação; 2) possuir uma mão de obra escrava abundante; 3) apresentar um nível importante de investimentos; 4) dispor dos seus produtos no grande comércio oceânico.

Em toda a Afro-América era costume conceder aos escravos parcelas de terra em usofruto e o tempo necessário para cultivá-las. A finalidade deste uso era a diminuição das despesas de manutenção, além da prevenção das fugas.

A SOCIEDADE E SUAS LUTAS

Roger Bastide distinguiu, no âmbito afro-americano, as “sociedades africanas” e as “sociedades negras”, indicando, porém, que de fato o que se encontra é um continuum entre estes tipos polares. As primeira seriam as que conservam traços efetivamente africanos. As

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outras seriam sociedades forjadas pelos escravos nas novas condições em que se acharam nas colônias do Novo Mundo.

As relações entre senhor e escravo caracterizam-se pela tendência à reificação do escravo, e pela alienação do escravo e do senhor. A escravidão esconde o caráter bilateral da relação senhor/escravo. O senhor vê no escravo sua propriedade, e o escravo não está em condições de perceber a verdadeira natureza da relação.

ALGUMAS POLÊMICAS TEÓRICAS E INTERPRETATIVAS

Existem algumas polêmicas teóricas e interpretativas sobre a unidade ou diversidade do escravismo americano. Alguns historiadores começaram a mostrar que a maior benegnidade da escravidão latino-americana era mais um mito do que um fato, sobretudo nas fases de plena integração ao mercado mundial. Eugene Genovese empreendeu em uma obra sua a questão dos senhores de escravos, onde demonstra a existência de diversos sistemas escravagistas nas Américas. Na sua opinião tais sistemas dependeram do grau variável de cristalização social e de consciência de classe pelos grupos de senhores de escravos em diferente partes do continente. Enfim, só havia um sistema escravagista no Novo Mundo.

As colônias surgiram como anexos complementares da economia da Europa e na dependência de sociedades metropolitanas. No contexto da tendência econômica mundial européia, Ciro Flamarin destaca o estudo de Immanuel Wallerstein, que propõe que os Tempos Modernos sejam analizados em função de um sistema econômico mundial, formado a fins do século XV e princípios do seguinte como algo totalmente novo: um sistema social que não tem paralelo em toda a história humana precedente. Em função disso, surgiram diversas formas de produção, todas capitalistas. A opinião de Ciro Flamarion a esse respeito consiste em negar ou esquecer o caráter colonial partilhado pela Afro-América e outras zonas de colonização européia durante séculos. Mesmo aceitando esse fato inegável, é possível e útil tentar construir uma espécie de economia política que explique o funcionamento, por exemplo, das economias escravistas coloniais.

A DESTRUIÇÃO DO ESCRAVISMO AMERICANO

A destruição do escravismo americano teve como fatores os limites da elasticidade do sistema escravista que existia no Novo Mundo. Fernando H Cardoso aponta três limites que define o problema: o trafico negreiro; a sobrevivência do sistema escravocrata que visa

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racionalizar o processo de produção; a concorrência da economia escravista com a produção organizada em bases capitalistas. Pode-se ainda dizer que o capitalismo ao se desenvolver, destrói a escravidão moderna.

A importância das revoltas e outros movimentos e atividades dos escravos para os processos abolicionistas foi extremamente variável no tempo e no espaço. Os principais processos de abolição foram do Haiti, onde a abolição da escravidão resultou de uma revolução social e nacional; o Caribe Britânico, Francês e Holandês, onde a tese tradicional a respeito de por que a Grã-Bretanha foi a primeira potência colonial a abolir o tráfico africano. Depois de abolirem os tráficos africanos os Britânicos iniciaram uma série de pressões sobre as metrópoles européias e o Brasil para que fizesse o mesmo. Em todos os casos a abolição da escravidão foi resultado de uma decisão envolvendo compensação monetária.

Nos EUA a abolição da escravidão, segundo Ciro Flamarion, deu-se em função da Guerra de Sucessão num contexto histórico em que o Norte vitorioso submeteu o Sul durante um período relativamente longo à situação do país ocupado e saqueado. Os negros sulistas foram usados como massa de manobra por políticos aventureiros. Já em Cuba o processo de abolição foi longo e complexo com vários fatores.

Seguindo o pensamento do autor, pode afirmar que, toda a Afro-América partilhara no passado a experiência comum de um sistema econômico-social similar, com as mesmas contradições, possibilidades e limitações. Em todas as regiões, o fim da escravidão foi seguido por uma tendência à expansão de um campesinato negro.

Referências

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